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A utilização da internet e novas mídias nas rotinas radiojornalísticas da Rádio Colonial AM de Três de Maio

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Academic year: 2021

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UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL - UNIJUÍ

JOÃO VITOR TABORDA SALLA

A UTILIZAÇÃO DA INTERNET E NOVAS MÍDIAS NAS ROTINAS RADIOJORNALÍSTICAS DA RÁDIO COLONIAL AM DE TRÊS DE MAIO

IJUÍ/RS 2017

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DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS ADMINISTRATIVAS, CONTÁBEIS, ECONÔMICAS E DA COMUNICAÇÃO – DACEC

CURSO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL – HABILITAÇÃO JORNALISMO

JOÃO VITOR TABORDA SALLA

A UTILIZAÇÃO DA INTERNET E DAS NOVAS MÍDIAS NAS ROTINAS

RADIOJORNALÍSTICAS DA RÁDIO COLONIAL AM DE TRÊS DE

MAIO

Monografia apresentada ao curso de Comunicação Social – Habilitação Jornalismo do Departamento de Ciências Administrativas, Contábeis, Econômicas e

da Comunicação – DACEC da

Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul – UNIJUÍ, como requisito parcial à obtenção do grau de bacharel em Comunicação Social.

Profª. Orientadora: Drª. Vera Lucia Spacil Raddatz

IJUÍ/RS 2017

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A UTILIZAÇÃO DA INTERNET E DAS NOVAS MÍDIAS NAS ROTINAS RADIOJORNALÍSTICAS DA RÁDIO COLONIAL AM DE TRÊS DE MAIO

Elaborada por:

JOÃO VITOR TABORDA SALLA

Como requisito parcial para a obtenção do título de Bacharel em Comunicação Social.

COMISSÃO EXAMINADORA:

___________________________________________________________ Profª. Drª. Vera Lucia Spacil Raddatz (Orientadora) – UNIJUÍ

___________________________________________________________ Prof. Ms. Celestino Perin (Banca Titular) - UNIJUÍ

___________________________________________________________ (Banca Suplente) – UNIJUÍ

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RESUMO

Esta pesquisa visa a compreender a utilização da internet e as novas mídias em uma rotina radiojornalística. Toma-se como objeto de estudo os programas Radiojornalismo e Jornal do Meio-dia, da Rádio Colonial, de Três de Maio/RS. Quase centenário, o rádio segue com muito espaço na vida das pessoas. Isso se deve a sua capacidade de reinventar-se, que o torna diferente de outros meios considerados tradicionais. O fator local e regional também é uma das peculiaridades do rádio, uma vez que o veículo aborda assuntos da comunidade e utilidade pública. Isso, ajuda o rádio se firmar cada vez mais, principalmente no interior, onde o veículo é o principal canal de informação da população, justamente por esse fator local. Com o surgimento da internet e as novas mídias, a proposta é realizar uma reflexão sobre como se dá essa adaptação do veículo quanto ao surgimento destas ferramentas. A reflexão se dá principalmente com as mudanças propostas pela internet e novas mídias em relação a interatividade, o que norteia o debate. Diante disso, não se tem apenas um rádio unilateral, apenas enviando informação para todo lado, mas também temos um rádio interativo, onde seus ouvintes se tornam únicos e têm liberdade de trocar experiências com o meio através da interação.

Palavras-chave: Rádio. Comunicação. Radiojornalismo. Interatividade. Novas

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ABSTRACT

This research aims to understand the use of the internet and the new media in a radiojournalistic routine. The programns Radiojornalismo, Jornal do Meio-dia and Radio Colonial, from Três de Maio/RS, are taken as an object of study. Almost centenarian, radio goes on with a lot of space in people's lives. This is due to its ability to reinvent itself, which makes it different from other means considered traditional. The local and regional factors are also one of the peculiarities of the radio, since the vehicle addresses issues of community and public utility. This helps radio establish itself more and more, especially in the interior, where the vehicle is the main information channel of the population, precisely because of this local factor. With the emergence of the internet and the new media, the proposal is to reflect on how this adaptation of the vehicle to the emergence of these tools. The reflection is mainly with the changes proposed by the internet and the new media in relation to interactivity, which guides the debate. Faced with this, we do not just have a one-way radio, just sending information everywhere, but we also have an interactive radio, where its listeners become unique and are free to exchange experiences with the medium through interaction.

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 – Enquete Colégio Militar ... 41

Figura 2 - Página da emissora gera pouca interação do ouvinte-internauta ... 42

Figura 3 - Exemplo de interação com o ouvinte-internauta ... 43

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LISTA DE TABELAS

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SUMÁRIO

CONSIDERAÇÕES INICIAIS ... 10

1 RÁDIO E JORNALISMO ... 13

1.1 Características da comunicação radiofônica ... 14

1.2 Radiojornalismo no Brasil: aspectos históricos ... 15

1.3 O papel do jornalismo radiofônico ... 21

2 RADIOJORNALISMO E NOVAS MÍDIAS ... 23

2.1 A comunicação na era digital ... 25

2.2 Rádio hipermidiático ... 27

2.3 Rádio expandido ... 29

3 RADIOJORNALISMO NA RÁDIO COLONIAL DE TRÊS DE MAIO/RS – ESTUDO DE CASO ... 33

3.1 Proposta, estrutura e programação ... 33

3.2 A história da emissora e o radiojornalismo ... 37

3.3 A utilização da internet e novas mídias nas rotinas radiojornalísticas da rádio colonial ... 39

CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 47

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CONSIDERAÇÕES INICIAIS

O radiojornalismo esteve presente em todos os eventos da história brasileira. O surgimento de noticiários como o Repórter Esso e o Grande Jornal Falado Tupi, foi apenas o início de uma série de adaptações realizadas a partir destes modelos de jornalismo radiofônico, que não só sobrevivem, mas são a base de radiojornalismo até hoje. Apesar do rádio no Brasil ter seus altos e baixos, o jornalismo não só o acompanhou, mas também foi um instrumento explorado para suas adaptações e readaptações, conforme a comunicação exigia.

Este trabalho sobre a utilização da internet e as novas mídias nas rotinas radiofônicas da Rádio Colonial AM de Três de Maio nasceu, principalmente, de uma curiosidade em saber como os veículos estão utilizando esta tecnologia em prol de uma melhor comunicação com seu ouvinte, deixando essa não só restrita ao programa em si, mas também analisando a pré-produção e pós-produção dos programas radiojornalísticos da emissora. Para esta pesquisa, buscou-se entender o rádio não como um meio estático, mas como um meio de comunicação em constante desenvolvimento desde as primeiras experiências, há quase cem anos.

Dessa forma, o trabalho busca compreender o uso da internet nas rotinas radiojornalísticas da Rádio Colonial de Três de Maio. Realizando uma pesquisa de natureza qualitativa, observando, não só como a internet se destaca durante os

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programas, mas também avaliando o feedback1 estabelecido entre veículo e ouvinte fora do ar. O trabalho foi estruturado em três capítulos gerais, subdivididos de acordo com as necessidades requeridas para se realizar uma abordagem adequada ao tema proposto.

No primeiro capítulo, para desenvolver a análise do rádio que se tem hoje, como objeto de pesquisa, foi realizada uma revisão bibliográfica sobre a trajetória entre o surgimento deste meio e sua relação com o jornalismo. No Brasil, tudo começou com a inauguração da Rádio Clube de Pernambuco, em 6 de abril de 1919, que em sua inauguração já transmitia conteúdo jornalístico, essa evolução se segue com Roquette-Pinto, e o surgimento da Rádio Sociedade do Rio de Janeiro, em 20 de abril de 1923, até chegar no seu auge, com o Repórter Esso (1941 a 1968 - durante a era de ouro do rádio) e suas adaptações a partir do surgimento da televisão e da internet. Além disso, ainda buscou-se embasamento sobre qual é o real papel do jornalismo radiofônico e o objetivo da informação no contexto radiofônico, iniciando a discussão através de Brecht (1981) e Esch (1997) procurando identificar seu principal conteúdo e a função do jornalismo no rádio.

No segundo capítulo, abordamos como o jornalismo se relaciona com as novas mídias, identificando o que é a convergência midiática, bem como isso se aplica no rádio. Também destacamos a diferença entre interatividade e participação, esmiuçando estes conceitos e trazendo seus variados significados, através de um debate, em busca do conceito mais adequado para aplicação nesta análise, partindo dos conceitos de convergência midiática de Jenkins (2008) e de cibercultura, evidenciada por Castells (2000).

Na era digital, buscamos aprofundar o conceito de convergência de mídias, idealizado por Jenkins (2008) e como a comunicação se configura neste formato, criando uma ênfase sobre as ferramentas e instrumentos utilizados para esta facilidade na comunicação que vivemos hoje. Além disso, neste capítulo também é ressaltado os conceitos de interatividade, que é o que conduz os resultados da pesquisa.

1 Feedback é uma palavra de origem inglesa que significa dar resposta a uma determinado pedido ou

acontecimento. No jornalismo é utilizado para conceituar a resposta dada pelo público-alvo frente às informações veiculadas.

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A abordagem também foi realizada sobre os métodos de adaptação do rádio de hoje, como estes veículos se adaptam nesta era, considerando a convergência midiática, buscando exemplos de sites, streaming e web rádios. Contudo, a pesquisa teve um foco específico em dois conceitos: rádio hipermidiático (LOPEZ, 2010) e rádio expandido (KISCHINHEVSKY, 2012), trazendo estes como possibilidade de análise no cenário da convergência.

O capítulo 3 inicia discutindo a proposta, estrutura e programação dos programas analisados. Trazendo uma proposta etnográfica para desenvolvimento de pesquisa, que também contempla a estruturação e formato dos programas em análise. Durante o capítulo há algumas observações sutis que identificam algumas ocorrências e variações realizadas pelo apresentador, no decorrer dos programas, que servem de parâmetro para os resultados do trabalho.

Como suporte metodológico, foi realizada uma entrevista com o apresentador dos programas, esta, relatada no capítulo 3, embasando, tanto a preparação quanto a veiculação dos programas pelo apresentador. Esta análise surgiu da curiosidade em descobrir a forma como o jornalista se prepara para realizar as entrevistas.

Sendo um veículo regional e o mais antigo da cidade de Três de Maio, e parte de um vasto quotidiano de pessoas, não só da cidade de Três de Maio, mas também da região, se faz necessário conhecer mais profundamente a realidade da emissora, uma vez que esta também está em processo de migração para o FM. Vale destacar a importância das pautas regionais neste tipo de rádio, pois, no interior, o jornalista é, em grande maioria das vezes, o faz-tudo. É ele quem produz, apresenta, entrevista, e interage com o público em seus programas, buscando uma formatação de programa voltada para uma audiência local/regional. Vale salientar, que, este aspecto comunitário está enraizado desde os primórdios do veículo, embora com algumas diferenças sutis comparado a veículos maiores.

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1 RÁDIO E JORNALISMO

O jornalismo esteve presente no rádio desde as primeiras experiências com a radiodifusão. As emissoras são inauguradas, geralmente, transmitindo algum evento ou informando de sua existência. O rádio, no Brasil, surgiu fazendo vibrar as agulhas que arranhavam pedrinhas de galena, informando. Isso ocorreu exatamente no dia 6 de abril de 1919, no Recife, quando foi fundada a Rádio Clube de Pernambuco. (SAMPAIO, 1971, p. 19).

Na inauguração oficial da radiodifusão brasileira, a 7 de setembro de 1922, como parte das comemorações do Centenário da Independência, o jornalismo cumpriu seu papel. O discurso de abertura da Exposição Internacional do Rio de Janeiro, feito pelo presidente da República Epitácio Pessoa, foi transmitido pelos 80 receptores especialmente importados para a ocasião (a Westinghouse havia instalado uma emissora, cujo transmissor, de 500 watts, estava localizado no Alto do Corcovado). (ORTRIWANO, 2002, p. 2-3)

Para Sampaio (1984), Roquette-Pinto acompanhou as transmissões do dia 7 de setembro e incorporou-se àqueles que se encantaram com o novo meio de difusão. Juntamente com o cientista Henrique Morize, montou um pequeno transmissor experimental, em 1922 e pôs-se a irradiar, pela sua voz, notícias do dia e música erudita destacada de sua coleção de discos. E, de acordo com Ortriwano (2002, p. 68) o rádio participou de todos os movimentos da vida brasileira. Ajudou derrubar a República Velha, participou da Revolução de 32, fez vários noticiosos sobre a Segunda Guerra Mundial. Também teve destaque no Golpe Militar de 64, participou ativamente durante a redemocratização e ecoou país afora o impeachment de Collor, em 92.

O rádio informativo fala de coisas que, anteriormente, não eram notícia (a hora certa, por exemplo) e revoluciona a ideia da reportagem com transmissão ao vivo. Aprofunda e contrapõem ideias e opiniões com facilidade e orienta as massas urbanas como o cão de um cego. Põem em contato os mais remotos pontos do interior e concede espaço para o receptor se manifestar como nenhum outro meio. É um serviço quase sempre gratuito que não toma o tempo nem monopoliza a atenção do público. (MEDITSCH, 2007, p. 31)

Desde o surgimento do rádio, passando pela era de ouro, e também pela sua decadência e consequente renovação e ressurgimento, pode-se destacar a

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informação como principal aliada para que o veículo não sucumbisse, tanto com a chegada televisão quantoda internet e novas mídias. O veículo soube se reinventar, soube identificar seu público e mantê-lo. De certo modo, hoje, o rádio não é mais ameaçado pelas novas tecnologias, mas se une a elas, se adapta a elas, graças à sua capacidade de mobilidade no trato da informação, do jornalismo e de todas as formas de produção sonora.

1.1 Características da comunicação radiofônica

Meditsch (2009) ressalta que pela ausência da imagem, o rádio acaba deixando o ouvinte mais ativo e alerta, por meio de sua imaginação, pela sequência do discurso, deixando claro que o som é o grande responsável para que o receptor crie imagens para entender a mensagem transmitida. Ele tem suas próprias características para comunicação, e isto é oque o diferencia dos outros meios.

A linguagem no rádio pode ser elencada em quatro tópicos, de acordo com Ferraretto (2000), eles podem ser classificados em: voz, música, efeitos sonoros e silêncio. Além disso, o rádio se destaca de outros veículos pelo discurso proposto. Para Souza (2005, p. 27), “no âmbito do radiojornalismo, o discurso deve ter as seguintes características: precisão, clareza, concisão e repertório adequado. Para que haja eficiência na comunicação radiofônica”.

Intrinsecamente coloca o ouvinte dentro daquela história que passa, no momento exato em que está passando e, extrinsecamente, abre-lhe a alternativa de acompanhá-lo. (...). Não importa sequer, que essas notícias, pela sua instantaneidade, sejam, caracteristicamente, matéria de rápido consumo (MEDITSCH; ZUCULOTO, 2008, p. 37).

O rádio, além do imediatismo característico, que possibilita ter acesso rápido às informações e nos privilegia com a imensa mobilidade que possui. Pode ser no desembarque do avião, partida de futebol, ônibus, metrô, na rua, e até mesmo em aparelhos celulares, o rádio está em todo lugar. Não apenas por isso, mas também é responsável por criar as imagens na nossa mente, estimulando autilizar a imaginação para entender o que está acontecendo, tudo isso sendo o mais simples possível em questão de linguagem, como afirma Sampaio apud Ferranti (2009, p. 4), que

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“linguagem coloquial no radiojornalismo nada mais é do que a linguagem do cotidiano, isto é, a linguagem oral em oposição a escrita”.

De acordo com Jung (2004, p. 62), não se pode confundir a simplicidade da linguagem do rádio com discurso pobre, frágil e rasteiro. “Ser simples, claro e objetivo é utilizar linguagem coloquial. É falar e escrever de forma que o ouvinte entenda de imediato”. Haja vista também que a informação será captada pelo público somente uma vez, e não fica retida, como o caso do impresso. Esta observação se faz certeira, ressalta a pluralidade do rádio, que é para todos, fazendo com que seja compreendido por todos os ouvintes. Como afirma Ferranti(2009):

Está aí mais um ponto importante a ser considerado: o ouvinte não precisa ser alfabetizado e bem instruído sobre algum assunto para apreciar do repertório musical e as informações oriundas do rádio. Essa é uma vantagem do rádio que os veículos impressos não possuem. (FERRANTI, 2009, p. 5)

O rádio tem um repertório de características, estas, basicamente próprias do veículo, uma vez que este desenvolveu-se através do tempo, não foi algo formulado, apenas adaptações. Embora não se tenha muitos estudossobre isso, é considerável, amaneira como este meioevolui quanto a este aspecto. Comparado com o rádio, por exemplo, osmeios impressos não mudaram muito seu modo de comunicar desde que o primeiro jornal brasileiro foi criado, tendo, como impacto principal a chegada da internet.

1.2 Radiojornalismo no Brasil: aspectos históricos

Pode-se destacar que no início do rádio, as transmissões não eram regulares. As primeiras irradiações da Rádio Sociedade do Rio de Janeiro não apresentavam programação regular. Só em 1925 e 26 é que a programação da Rádio Sociedade do Rio de Janeiro se firmou, começando pela manhã com o Jornal da Manhã, a cargo do presidente da entidade, Dr. Roquette-Pinto. Seguiam-se mais três noticiosos: o do meio dia, o da tarde e o da noite. Os demais horários eram tomados com números musicais e matéria instrutiva (SAMPAIO, 1984).

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De acordo com Ortriwano (2002), naquela época ainda tinham programas jornalísticos que mereciam o título de “jornais falados”, no sentido literal, onde as notícias eram lidas no rádio sem qualquer tipo de elaboração diretamente do jornal, dando origem a um anedotário próprio, onde o locutor, distraído, relia para o ouvinte coisas como “continua na página x”, ou então, “como se vê na foto ao lado”. Buscando evitar os riscos que representava o procedimento, a solução foi realizar recortes nas notícias e ordená-lasde uma forma mais lógica e coerente. Este procedimento ficou conhecido como gillette-press ou tesoura-press. Apesar dessa prática ter nascido nos anos 20, ela continua presente em muitas de nossas emissoras, apenas com um novo nome, gillette-press virtual, que é resultado do “copiar e colar” de informações obtidas em sites na internet.

Durante a Revolução Constitucionalista, há o surgimento do radiojornalismo em São Paulo. Este, nasce com fortes conotações parciais. César Ladeira, que ficou conhecido como “Locutor da Revolução”, conclamava o povo pela Rádio Record a pegar armas por uma carta constitucional. De acordo com TAVARES (1997) “a Record de São Paulo foi transformada em “A Voz da Revolução”, durante aquele período, por ser a primeira vez que o rádio era utilizado no Brasil como instrumento de mobilização popular.”

A Rádio Nacional do Rio de janeiro, foi uma das mais importantes rádios da história do Brasil. Fundada em 12 de setembro de 1936, viveu em crise até meados de 1939, mas não deixou de funcionar porque três de seus fundadores – Celso Guimarães, Oduvaldo Cozzi e Ismênia dos Santos – traduziam peças de rádio-teatro, sendo atores, locutores e até trabalhadores braçais. Em março de 1940, Getúlio Vargas encampou a Estrada de Ferro São Paulo-Rio Grande e a empresa “A Noite”, que era do mesmo grupo empresarial que possuía a Rádio Nacional. Com a iniciativa do dinheiro do poder público, a emissora passou a ser uma das empresas patrimônio da União e tornou-se a maior e melhor emissora do Brasil (ORTRIWANO, 2002, p. 71). A própria Nacional foi pioneira na exploração radiofônica organizada empresarialmente. Dentre uma série de programas de destaque, como Hora do Brasil – hoje, chamado A Voz do Brasil – a Rádio também oferecia, de acordo com Ortriwano (2002), o maior mito do radiojornalismo brasileiro, o Repórter Esso.

Se durante a Primeira Guerra Mundial o rádio era um artifício usado quase que apenas por militares, porém, a partir da Segunda Guerra as coisas mudaram. Usado

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como uma arma estratégica, onde orientações ideológicas e notícias do front precisavam ser divulgadas com a maior rapidez possível – de forma que os jornais impressos demoravam muito para dar a informação, o rádio tornou-se o principal meio de informação dos brasileiros. O aperfeiçoamento dos equipamentos, desenvolvimento de sistemas de transmissão de maior alcance, são consequências que destacam o papel do jornalismo no rádio. Diante deste cenário, surgem os dois programas que deram sustentação para a origem do radiojornalismo praticado até hoje: o Repórter Esso e o Grande Jornal Falado Tupi.

O repórter Esso foi o noticiário de maior importância naquele tempo. (...) Ele interrompia qualquer programa para dar uma notícia que fosse considerada alta necessidade. Interrompia-se qualquer coisa: programa de música, programa de teatro, o que fosse. Se a notícia merece realmente isso, ele interrompia. Daí o fato de o Repórter Esso ter criado uma credencial tão grande que, quando a guerra acabou – a Rádio Tupi inclusive foi ao ar, anunciando que a guerra tinha acabado – ninguém acreditou por que o Repórter Esso não deu. (FERRARETTO, 2001, p.128)

Heron Domingues, um dos mais conhecidos locutores do programa, desempenhou um papel extremamente importante para o radiojornalismo brasileiro. No ano de 1948, implanta e passa a dirigir a Seção de Jornais Falados e Reportagens da Nacional, este, que seria o primeiro departamento de uma emissora no país inteiramente dedicado ao jornalismo.

O Repórter Esso ficou até 1962 na Rádio Nacional do Rio de Janeiro, depois, foi transferido para a Rádio Globo, emissora de Roberto Marinho. Ele fica na Globo até o dia 31 de dezembro de 1968, de onde sai do ar para nunca mais voltar às ondas sonoras do rádio, após quase três décadas de transmissões.

Na visão de De Felicie(1981), o Repórter Esso foi o programa radiojornalístico que conseguiu obter os maiores índices de credibilidade até hoje no Brasil. De certo modo, a moderna história do jornalismo de rádio está associada de forma ao programa que deu, também, alguns dos maiores profissionais do jornalismo brasileiro. Porém, Ferraretto (2001) salienta que a maior contribuição do programa foi a introdução no Brasil de um modelo de texto linear, direto, corrido e sem adjetivações, apresentando um jornal ágil e estruturado.

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O pacote cultural-ideológico dos Estados Unidos incluía várias edições diárias de O Repórter Esso, uma síntese noticiosa de cinco minutos rigidamente cronometrados, a primeira de caráter global, que transformou o radiojornalismo brasileiro. Com o noticioso, foi implantado o lide; a objetividade; a exatidão; o texto sucinto, direto, vibrante; a pontualidade; a noção do tempo exato de cada notícia; aparentando imparcialidade e contrapondo-se aos longos jornais falados da época. Porém, o formato inovador do noticiário não influiu somente na área profissional, mas, também, nas disputas políticas, ideológicas e culturais da época. (KLÖCKNER, 2001. p.1)

No dia 3 de abril de 1942, a Rádio Tupi de São Paulo começa a transmitir outro icônico programa de radiojornalismo brasileiro, o Grande Jornal Falado Tupi. Criado por Coripheu de Azevedo Marques e Armando Bertoni, o Grande Jornal Falado Tupi pode ser considerado o primeiro “jornal de integração nacional”, pois era ouvido em todo o interior do país. O Grande Jornal Falado Tupi, que ia ao ar as 22h, era reproduzido com uma estrutura similar a imprensa escrita. Havia, no início, uma identificação do noticiário, como uma espécie de cabeçalho, no jornal impresso. Depois, com a marcação da sonoplastia, as manchetes a reproduzir a capa de um jornal. Seguiam-se as notícias agrupadas em blocos – política, economia, esportes – simulando as editorias dos impressos (FERRARETTO, 2001).

O fato é que os dois programas foram os primeiros no Brasil a demonstrar preocupação quanto a linguagem própria para o veículo, onde a proposta era elaborar a notícia de forma que atendesse às características do meio radiofônico e não do jornalismo impresso. De acordo com Sampaio (1971), o Repórter Esso abria fronteiras, e o Grande Jornal Falado Tupi buscava todas as fronteiras, ambos, levando informações, reportagens e comentários até então inacessíveis a grande parte da população brasileira.

A partir de 1947, seguindo o exemplo da Rádio Panamericana de São Paulo, que se transformou em uma “emissora de esportes”, várias outras emissoras começaram a se especializar. Isso acabou introduzindo muitas inovações nas transmissões, o que contribuía na rápida evolução da linguagem radiofônica, ao mesmo tempo em que isso gerava soluções técnicas muito criativas. Nesta fase, o radiojornalismo começa a surgir como atividade mais estruturada, lançando jornais que marcavam o gênero especializado da emissora.

Já na década de 50 a forte concorrência com a televisão é sentida pelo rádio. Isso faz com que o rádio vivencie um grande período de incerteza e busque por

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alternativas para que possa sobreviver. A televisão, inaugurada no Brasil em 1950, ocupou o primeiro plano entre os meios de comunicação, e levou consigo verbas publicitárias, os profissionais e a audiência. Buscando outros espaços, o rádio descobre em seu período matutino o seu horário nobre. Das grandes produções e muitos contratados o rádio vira uma espécie de vitrolão, que apenas reproduz música, deixando de produzir programas adequados às suas características como meio de comunicação (ORTRIWANO, 2002, p. 76).

Terminada a sua era de ouro, o rádio busca na tecnologia eletrônica um aliado para ressurgir. Aproveitou a chegada do gravador magnético, transistor e frequência modulada (FM) para fazer renascer o veículo e a transmissão jornalística, especialmente com unidades móveis de transmissão. Com a chegada destes equipamentos ficou muito melhor de produzir programas radiofônicos. Com o gravador se ganhava agilidade, versatilidade e manipulação; com o transistor ganhava-se alcance; e com a banda FM ganhava-se um canal para desenvolvimento local de informação. Com uma qualidade sonora muito superior que a amplitude modulada (AM), explorada até então, a FM também teria um custo de transmissão inferior. Isso tornaria possível o emprego de unidades móveis de transmissão, valorizando a agilidade, imediatismo, simultaneidade e mobilidade.

Diante dos avanços tecnológicos, o rádio via nascer um novo caminho: a especialização das emissoras e a segmentação de públicos, isso era uma tendência manifestada nos Estados Unidos desde a década de 60, e se impôs no Brasil na década de 80. Surgia ali uma programação baseada no tripé música-esportes-notícias. Com a segmentação do mercado e a especialização das emissoras em diferentes tipos de programação surge o disc-jóquei e o desenvolvimento de programações de interesse a limitado a determinadas faixas de público. Em algumas emissoras, as mudanças foram tão radicais que parecia existir apenas um programa 24 horas por dia, com conteúdo direcionado para apenas uma faixa de público. Perante a essas experimentações, no jornalismo, surgiram as rádios all news, que apresentavam apenas notícias e as talk & news, em que o espectro de formatos jornalísticos é mais amplo, comportando notícias, entrevistas, comentários, etc.

A Bandeirantes foi um símbolo da evolução do rádio a partir dos anos 50. Em 1955, em uma inovação de programação noticiosa, a Bandeirantes fez-se pioneira no sistema intensivo de noticiário, em que as notícias com um minuto de duração

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entravam a cada 15 minutos e, nas horas cheias, em boletins de três minutos. Além disso, a Rádio Bandeirantes também foi quem realizou o primeiro jornal no horário das 6h da manhã no rádio brasileiro. Assim como o jornalismo opinativo nas rádios, o Jornal Bandeirantes Gente, no ar desde 1978.

A CBN – Central Brasileira de Notícias - foi a primeira rádio brasileira considerada all news, tendo jornalismo 24 horas por dia. Ela trazia a cobertura dos principais fatos do país e do exterior. Criada em 1991, a CBN se viu forçada a transmitir por FM, pelo menos nas praças em que não possuía uma AM. Porém, o resultado foi tão promissor que a estratégia, antes focada na amplitude modulada, agora era na frequência modulada. De acordo com Ortriwano:

Trabalhando com informações locais na prestação de serviços (trânsito, enchentes, acidentes), não importa que a emissora tenha um grande alcance territorial se, como no caso de muitas AMs, elas apresentam problemas de recepção na cidade em que estão instaladas. Programação local transmitida para outras cidades deixa de ter sentido. Com emissoras FM, de alcance local e boa qualidade sonora, é possível atingir o público-alvo com muito mais eficiência e até desdobrar a transmissão, dependendo do momento. (ORTRIWANO, 2001. p. 82)

Parada (2000) cita o impacto que teve o celular em uma participação mais efetiva na audiência radiofônica, em uma cobertura na Rádio Eldorado, de São Paulo, sobre o trânsito no início das férias de verão de 1993. Parada, na época conduzindo a cobertura, colocou um ouvinte no ar e pediu para este descrever a situação do trânsito onde estava. “Foi um êxito absoluto! No final da jornada, percebemos que tínhamos um instrumento poderoso nas mãos, mas ninguém havia se dado conta do que aquilo significava” (PARADA, 2000, p. 118). Ali, nascia o ouvinte-repórter.

O celular passou a agregar mobilidade ao rádio. Permitia a repórteres transmitir informações com mais facilidade, e a contribuição do ouvinte não só na audiência, mas podendo participar da programação em qualquer lugar com sinal de telefonia móvel.

Hoje, no rádio moderno e com a convergência midiática, se tem um rádio simultâneo, ágil, próximo do ouvinte e ouvido de diversas maneiras, ou seja, rádio expandido (KISCHINHEVSKY, 2012). Contudo, ainda temos um jornalismo que acompanha essas possibilidades, porém, sempre reaprendendo a dominar sua linguagem. Comportando um equilíbrio entre voz, música, efeitos sonoros e silêncio.

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1.3 O papel do jornalismo radiofônico

Brecht (1981) deixa em evidência uma possível conversão do rádio para um aparelho de comunicação (efetivo), e não um “distribuidor de conteúdo”. Da maneira em que este, aposta em um rádio onde o público também possa falar, não mais isolado, mas, relacionado.

O rádio seria o mais fabuloso meio de comunicação imaginável na vida pública, um fantástico sistema de canalização. Isto é, seria se não somente fosse capaz de emitir, como também de receber; portanto, se conseguisse não apenas se fazer escutar pelo ouvinte, mas também pôr-se em comunicação com ele. A radiodifusão deveria, consequentemente, afastar-se dos que a abastecem e constituir os radiouvintes como abastecedores. Portanto, todos os esforços da radiodifusão em realmente conferir, aos assuntos públicos, o caráter de coisa pública são totalmente positivos.” (BRECHT, 1981, 56 e 57)

Esch (1997) revela que o rádio já se aproxima de seu ouvinte, principalmente no jornalismo, por um esforço social e solidário, o que atribui ao jornalismo sua função no meio radiofônico hoje:

Atualmente, o rádio é multifacetário. Ele é prestação de serviço, é informação, é entretenimento, é companhia para os solitários e é música. Contudo, ao buscar se aproximar do ouvinte, de seu cotidiano e de estabelecer uma comunicação direta, o rádio foi levado a incorporar em suas ações um forte sentido social, condensado no termo "Radio Social" que foi, nos anos 80, e que continua a ser na década atual, a marca que recompôs uma "personalidade" que caracteriza o rádio AM perante seus ouvintes. Uma personalidade formada sob o signo maior da solidariedade. (ESCH, 1997, p. 8)

Com esta evolução do rádio como veículo de comunicação, podemos perceber uma reação disso no jornalismo. Essas mudanças não refletem apenas no conceito geral, uma vez que o jornalismo se apropria dessas novas ferramentas disponibilizadas com a convergência midiática. Isso acaba favorecendo, tanto o jornalismo quanto o veículo. Confirmando a habilidade de reinvenção do rádio.

Com a chegada da televisão o rádio teve a missão de se reinventar, aderindo então a uma programação mais voltada ao radiojornalismo e ao serviço de utilidade pública. Os ouvintes passaram a interagir e participar de forma mais continua das emissoras, informando as mesmas do que estava acontecendo

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em determinados locais, instituindo assim um diálogo maior entre ouvinte e emissora. (LORCA; ALMEIDA, 2017, p. 3)

Com esta reinvenção de conceitos, pode-se dizer que o radiojornalismo ainda tem como base de informação as pautas locais, que possui maior abrangência de público, com informações comunitárias mais relevantes, que outros meios não conseguem dar conta, justamente por ter uma área de abrangência maior. Esta, que é a grande estratégia do rádio, é como transmitir informações de utilidade pública da cidade do Rio de Janeiro na Rádio Gaúcha de Porto Alegre, não faria sentido algum.

Impulsionado principalmente pelos serviços de utilidade pública, o rádio tem agregado esta parte da população principalmente pela sua mobilidade e baixo custo. O fato de poder ajudar as pessoas é estimado no meio. De certo modo, o jornalismo no rádio pode ser usado para denúncias, avisos, achados e perdidos, comunicados, enfim, diversos fatores, porém, com grande maioria no âmbito social.

Outro fator importante que pode ser ressaltado como vantagem para o rádio é a forma em que este permite o consumo individual dos conteúdos, ou seja, seu público não necessita mais sentar na sala de estar da casa para ouvir o rádio. Pode simplesmente ir trabalhar ouvindo rádio, executar qualquer outra tarefa e se informando ao mesmo tempo.

Para Ortriwano, o objetivo da informação – no contexto radiofônico – é manter o ouvinte a par de tudo o que está ocorrendo no mundo. Diante disso, podemos considerar informativo, “todos os programas regulares de notícias, ocasionais originados pela aparição de uma notícia excepcional e outros que têm como finalidade levar ao público um conjunto de conteúdos que estão presentes na atualidade sem serem atuais” (ORTRIWANO,1985, p. 89). Assim, a informação aparece de forma flexível e fluida, sendo este, o principal foco do radiojornalismo.

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2 RADIOJORNALISMO E NOVAS MÍDIAS

No jornalismo, o segmento da internet representa um incremento aos meios de comunicação “tradicionais”. A internet possui a capacidade de incorporar todas as formas de repassar informações presentes no rádio, na televisão e nos impressos. Atualmente, é possível perceber que na cibercultura as mídias não simplesmente convivem, mas convergem (SANTAELLA, 2003).

O rádio sempre foi um veículo de comunicação interativo. Apesar de no jornal e, posteriormente na TV, os leitores e espectadores pudessem opinar, essa opinião sobre o produtor só podia ser externada ao público na publicação do dia seguinte (no caso do jornal). Na TV, poucas vezes, em programas jornalísticos, o público tem a liberdade de entrar ao vivo e dar sua opinião sobre o que está passando naquele exato momento, ou mesmo passar notícias factuais. (D’AQUINO, 2004, p. 2)

A utilização do aparelho celular nas rotinas radiofônicas foi um grande marco no que se diz respeito a interatividade veículo-ouvinte. Essa interação era realizada principalmente por ligações, mas o processo também ocorria através do envio de SMS e MMS. Após o rádio, surgiu a internet, que prometia agregar ainda mais em participação dos ouvintes nos programas radiofônicos. De acordo com Lopez (2010), a internet vinha como uma potencialização da interação no rádio, abrindo novos caminhos de participação.

O rádio, considerado um meio interativo desde seu surgimento, possui em seu histórico principalmente a interação direta com seus ouvintes. Porém, essa interatividade pode ser confundida com o ato de participar, ou vice-versa. Klöckner (2011) justifica a utilização do termo interativo nos estudos de rádio ao analisar o ponto de vista do ouvinte, indicando sua possibilidade de interferência na comunicação radiofônica. Sendo assim, para o autor, a interatividade é mais efetiva que uma participação, pois esta exige que o ouvinte tenha vontade de participar e interagir no mesmo espaço-tempo da discussão. Para o autor, a participação não demanda a intenção de interagir. Porém, o autor ressalta que esta interatividade estaria limitada a um espaço de tempo. Este espaço se deve à sincronia dos ouvintes, ou seja, para o autor só há interação se o ouvinte der o feedback ao mesmo tempo da emissão. Porém, com as novas tecnologias, um email recebido pode ser respondido horas mais

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tarde, portanto, a sincronicidade não pode ser um atributo para determinar se há ou não interatividade (LOPEZ; QUADROS, 2015, p.6-7)

De acordo com Primo (2011), os autores Max Weber e Georg Simmel apontavam, no início do século XX, para a necessidade de manutenção de ações recíprocas entre indivíduos como condições para existência de interações sociais. Deste modo, pode-se dizer que o conceito de interatividade tem por raiz a noção de reciprocidade, ou seja, podemos definir a interatividade não como algo instantâneo, mas algo que se inter-relaciona, uma troca comunicacional em que as respostas dependam do seu conteúdo anterior. Dessa forma, Santaella (2004, p. 160) defende que uma comunicação interativa contém um “intercâmbio e mútua influência do emissor e receptor na produção das mensagens”.

Para Ortriwano (2011), são justamente essas novas ferramentas que, ao serem incorporadas pelo rádio, aproximam-no do ideal interativo idealizado por Brecht: “Com os recursos tecnológicos atuais, a ideia de Brecht poderá, teoricamente, vir a ser plenamente cumprida”. Já Lopez (2010) afirma que a internet estaria potencializando a interação no rádio, ao criar novos canais para a participação do ouvinte. A autora faz referência à nova lógica de consumo de conteúdo estabelecida, como o podcast por exemplo. Esta nova lógica implica que a web atue como um arquivo de produções radiofônicas, onde se tem entrevistas, programas, programetes, boletins, etc.

Este público que confere os conteúdos radiofônicos pela rede mundial de computadores é mais abrangente, sendo que a ele é, inclusive, permitido fazer a própria programação de rádio, voltada exclusivamente para os seus interesses. Aproveitando esta tendência, muitas emissoras exploram recursos como newsletters, que atendem às escolhas do usuário. (SANTOS; GOMES, 2015, p 3)

Zuculoto (2012), sugere que a atual convergência provoca o surgimento de dois tipos de rádio o rádio na internet e as webemissoras. Este primeiro se remete ao rádio convencional, que retransmite sua programação via internet. E o segundo se refere ao rádio produzido exclusivamente via rede mundial de computadores, denominadas de webradios. Cebrián Herreros (2001) prefere relatar um rádio plural, este, que teoricamente amplia o alcance do rádio e pode ser ouvido através de canais de tv por assinatura, satélite, cabo, além dos dispositivos móveis.

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As emissoras de rádio nos anos 90 mantinham equipes maiores na redação, maior número de repórteres na rua e nas coberturas externas. As AM, sempre enfrentando o problema da qualidade de som, foram presenciando o bolo publicitário ser dividido pelas FM enfileiradas no dial. Nos anos 2000, com as câmeras nos estúdios, os locutores passam a transmitir em tempo real voz e imagem via streaming e as webradios somam-se potencialmente ao mercado do rádio, engrossando a lista das novas possibilidades de audiência, que se expande em sites, blogs e podcasting. Todas essas novidades geram burburinho na academia em torno do que é ou não rádio. (RADDATZ, 2016, p.1)

De acordo com Lopez (2010), a inserção do rádio na internet e a apropriação de características refletem uma necessidade do veículo se adequar ao ouvinte. Gradativamente, a interatividade se consolidou como um dos elementos centrais do rádio na internet, onde começou a conquistar seu espaço através de sites, possibilidade e avaliar e comentar conteúdo. Pode colocar como pontoa favor também as redes sociais, e-mail, e aplicativos de mensagens instantâneas.

2.1 A comunicação na era digital

A mídia digital, surge como um instrumento facilitador de acesso a informação. As ferramentas dispostas pela internet nos fornecem novas maneiras de socialização e de busca por novas identificações, não somente para indivíduos, como também para empresas e instituições, como cita Levy(1996):

O centro de gravidade da organização não é mais um conjunto de departamentos, de postos de trabalho e de livros ponto, mas um processo de coordenação que redistribui sempre diferentemente as coordenadas espaço-temporais da coletividade de trabalho e de cada um de seus membros em função de diversas exigências (LEVY, 1996, p.7).

Na era digital, percebemos, de acordo com Jenkins (2008), uma convergência de mídias, onde, as velhas colidem com as novas, a mídia corporativa e a mídia alternativa se cruzam, o produtor e consumidor de mídias interagem de forma imprevisível.

Num conceito mais amplo, a convergência se refira a uma situação em que múltiplos sistemas de mídia coexistem e em que o conteúdo passa por eles fluidamente. Convergência é entendida aqui como um processo contínuo ou uma série contínua de interstícios entre diferentes sistemas de mídia, não uma relação fixa. (JENKINS, 2008, p. 386)

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Embora a convergência envolva os sistemas de mídia, Jenkins (2008, p. 30) diz que a convergência em si não ocorre nos aparelhos, por mais sofisticados que eles sejam, para o autor, eles são um meio para o fim. Para o autor, a convergência ocorre dentro do cérebro dos consumidores individuais e em suas interações sociais com outros. “Cada um de nós constrói a própria mitologia pessoal, a partir de pedaços e fragmentos de informações extraídos do fluxo midiático e transformados em recursos através dos quais compreendemos nossa vida cotidiana” (JENKINS, 2008).

De acordo com Rodrigues (2013, p. 3), cada nova tecnologia inserida no cotidiano organizacional irá causar reflexos no modo de trabalho dos veículos. Isso “incide diretamente no resultado econômico, na ação profissional, nos sentidos das linguagens e das estéticas dos meios. E, sobretudo, repercute na maneira do público receber, interpretar e interagir com as mensagens recebidas”.

O rádio, assim como vem fazendo desde o princípio, precisou se adaptar às novas tecnologias para sobreviver (ORTRIWANO, 1987). A adaptação do rádio se dá por diversos meios, seja pela criação de sites com a programação sendo passada integralmente, ou com a utilização de mais mídias como forma de agregar conteúdo à mídia regente. E ainda nessa perspectiva, também podem ser mencionadas as

webradios, criações tipicamente híbridas resultantes da utilização da internet com a

linguagem radiofônica.

A circulação de informação no ciberespaço ocorre sob diversas circunstâncias, de acordo com Tavares Jr (2012): a) notificação de rumores, fatos ocorridos não apurados ou confirmados por usuários de redes sociais não especializados em jornalismo; b) diferentes formas de compartilhamento de uma mesma notícia já publicada. Ainda de acordo com o autor:

A primeira descrição se refere a informações descritas na ordem em que foram expressas por usuários interessados na difusão de informação, porém, sem existir de fato um tratamento jornalístico, enquanto a seguinte tentará considerar as formas de expressividade ocasionadas por uma radiorreportagem em redes sociais, buscando-se um cenário característico para o desenvolvimento de diálogos decorrentes, por meio de ferramentas cibernéticas que atuam no desenvolvimento da interatividade relacionada ao rádio. (TAVARES JR, 2012, p. 2)

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Na convergência, a velocidade tem um papel importante sobre os usuários, Meditsch (2001, p. 5) destaca que o rádio possui características próprias que continuam a se enquadrar em necessidades presentes no cotidiano. O autor destaca que “cada vez mais, as pessoas vão precisar ser informadas em tempo real sobre o que está acontecendo, no lugar em que se encontrem, sem paralisar as suas demais atividades ou monopolizar a sua atenção para receber esta informação”.

Existem sites de rádios que utilizam da convergência, utilizam do conteúdo multimídia para agregar a informação, logo, não há mais rádio somente com áudio, claro, continua sendo o principal elemento, porém, não está mais sozinho. Cebrián Herreros (2008, p. 25), acrescenta outro ponto de vista para a questão. Em sua opinião, este rádio transmitido via web é diferente daquele que chega ao ouvinte por ondas hertzianas. Em sua concepção, há uma ampliação do rádio (em conceito), pois passa a dispor de conteúdos para serem vistos, permitindo intervenções de seu público. Diante disso, na convergência, o rádio agrega linguagens produzidas para redes sociais, sites, aplicativos, fotos, vídeos, etc.

Castells (2000) indica que as mudanças oriundas desta nova tecnologia, evidenciada por Jenkins (2008), na contemporaneidade, facilita a comunicação via rede; as mudanças no setor produtivo também são derivadas destas tecnologias de informação, assim como novas formas de relacionamento no ciberespaço. Isso gera alterações na cultura de uma sociedade, de acordo com Castells (2000, p. 354). “O surgimento de um novo sistema eletrônico de comunicação caracterizado pelo seu alcance global, integração de todos os meios de comunicação e interatividade potencial está mudando e mudará pra sempre nossa cultura”.

2.2 Rádio hipermidiático

O rádio hipermidiático continua tendo um foco, o som. De acordo com Lopez (2010), este rádio hipermidiático é um rádio que vai além das ondas sonoras, que explora essas novas plataformas de comunicação. Além disso, ele oferece ao ouvinte uma maior interatividade, maior alcance geográfico, conteúdos multimídia, podcast, etc.

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[...] Vai além da transmissão em antena, ampliando sua produção através da internet e dos dispositivos de rádio digital, mas que ainda mantém sua raiz no conteúdo sonoro. [...] O conteúdo multiplataforma, embora importante, não se apresenta como fundamental para a compreensão da mensagem. Trata-se de uma produção complementar, de aprofundamento, detalhamento, memória ou utilidade pública (LOPEZ, 2010, p. 140).

O aparelho celular, televisão e computador com acesso à internet, seguidos do rádio são os aparelhos mais importantes para os brasileiros. Graças à convergência, hoje podemos consumir rádio por todos esses dispositivos. Hoje, não consumimos apenas a informação radiofônica em áudio, o ouvinte tem a opção de ouvir, assistir vídeo e ver imagem, como complemento, tudo isso no site de uma emissora de rádio. Todas essas formas de potencialização se encaixam na essência de rádio hipermidiático.

De acordo com Lopez (2011), com a convergência, o radiojornalismo também sofreu mutações. O rádio, que sempre foi interativo, agora passa a ser muito mais ativo, este consegue falar e contribuir. O ouvinte, agora chamado ouvinte-internauta, busca outras fontes de informação, para que consiga contestar, discutir, corrigir, atualizar e inclusive conversar com o jornalista no ar. A autora constata que o jornalista, em muitos casos, se ausenta do palco dos acontecimentos com a utilização do telefone, computador e redes sociais na busca por fontes. Com isso, surge um número amplo de assessorias e agências especializadas como novos atores com poder de barganha nas decisões internas do que pode ou não se tornar notícia em uma emissora.

O jornalista é compelido a integrar e se adaptar a novas dinâmicas, além de compreender e utilizar as ferramentas com agilidade. Essas seriam estratégias para acompanhar o ouvinte e a diversidade de plataformas de consumo da informação radiofônica na atualidade. Por outro lado, a autora deixa claro que o meio não perde sua essência, porém está adequando suas rotinas e narrativas de modo a integrar as possibilidades que surgiram em diferentes espaços. Assim, as alterações estão percebidas tanto na veiculação, como também na apuração da notícia e no acesso a fontes informativas. (CHAGAS, 2017, p.9)

No rádio hipermidiático, o jornalista fala em diversas linguagens, em vários suportes, porém, sempre mantendo o áudio como foco. Isso não significaria um desleixo pela narrativa multimídia, mas uma certa preocupação com seu caráter complementar e fundamental para atender o agora ouvinte-internauta. Para Lopez (2011):

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O áudio precisa ser independente e, ao mesmo tempo, complementar. Isso porque o aprofundamento de informações e a multiplicidade de linguagens – característico desta fase contemporânea do rádio – deve se apresentar como uma oferta e não como uma imposição ao ouvinte. (LOPEZ, 2011, p. 129).

Essa mudança começa a configurar uma nova estrutura, que complementa e amplia as informações com a ajuda de imagens (seja essa estática ou em movimento), áudio, textos complementares, infografia e infografia multimídia, exploração da hipertextualidade em links internos e externos, adota um jornalismo de fonte aberta e se demonstra preocupado com a navegabilidade dos sites, assim como seu consumo de conteúdo em rádio digital (LOPEZ, 2011).

Podemos ficar atentos também quanto às formas de consumo e fruição da informação no rádio. O ouvinte, ao consumir o rádio pelo celular, começa a ter uma experiência individual de consumo de informação, porém, potencializando sua interação através de SMS, imagem, áudio ou vídeo, através de conexões 3G/4G ou

wireless.

O rádio agora é multimídia e o profissional é multitarefa. Mas é importante compreender que, por mais que a narrativa radiofônica seja multimídia, ela segue um eixo fundamental: o sonoro. Este rádio, de base sonora e complementação multimídia, tem força para extrapolar os limites da programação radiofônica, complementando e ampliando conteúdos, explorando as possibilidades geradas pelo rádio digital e pela Internet. (LOPEZ, 2011, p. 133)

2.3 Rádio expandido

Kischinhevsky (2012a, p. 6) sugere que o rádio, com novos serviços e canais de distribuição “transborda as mídias sociais e microblogs, que potencializam o seu alcance e a circulação de seus conteúdos”. Deste modo a modalidade extrapola os limites do som das ondas sonoras para apropriar-se de outras linguagens e suportes.

Circunscrever o rádio às ondas eletromagnéticas é condená-lo a um papel cada vez mais secundário diante do crescimento da internet comercial e do processo de convergência de mídias. No início do século 21, escuta-se rádio em ondas médias, tropicais e curtas ou em frequência modulada, mas

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também na TV por assinatura, via cabo, micro-ondas ou satélite, em serviços digitais abertos e por assinatura, e via internet, de múltiplas formas. (KISCHINHEVSKY, 2012a, p. 48)

Nesta modalidade, assim como no rádio hipermidiático a linguagem sonora passa a ser complementada por outras linguagens, seja texto, foto ou vídeo. Este conteúdo pode ser consumido na internet, redes sociais ou aplicativos de celular. De acordo com Lopez e Quadros (2015, p; 4-5), este conteúdo vai além da multimidialidade, ele se estrutura como uma narrativa complexa, pensada para buscar complementação, assim como o aprofundamento da informação. Desse modo, a instantaneidade se fortalece à medida em que a informação apurada pelo rádio ganha novos canais para transmissão imediata.

[...] por outro lado, a fugacidade é minimizada com a disponibilização de arquivos em podcast e pela possibilidade de consumo do conteúdo radiofônico multimídia sob demanda, quebrando a lógica estruturada da programação que até então caracterizava o meio. A abrangência ou penetração ganham novos contornos, a partir da inserção do rádio na internet, possibilitando a transmissão via streaming para qualquer parte do mundo. Nesse sentido, também a interatividade se modifica, oferecendo novas possibilidades para que o ouvinte participe da programação. (LOPEZ; QUADROS, 2015, p. 6)

Quanto ao conceito de rádio expandido, devemos categorizar as vastas modalidades radiofônicas atuais objetivando buscar suas especificidades desenvolvidas ao longo dos anos. O conceito de remediação organiza o pensamento sobre a interação entre o rádio e a infinidade de novos canais que surgiram com as plataformas digitais (BOLTER; GRUSIN, 1999). Se pode destacar também a compreensão deste posicionamento do rádio a partir das diversas dimensões geradas pela convergência no âmbito tecnológico, empresarial, profissional e de conteúdo (FERRARETTO; KISCHINHEVSKY, 2010).

Este conceito de remediação deve ser analisado em uma lógica dupla: a imediação transparente e a hipermediação. O primeiro salienta que o objetivo é apagar o meio com a simulação de uma experiência direta, e, o segundo abre a possibilidade de muitas janelas, de uma representação de outra forma, porém, respeitosa, que procura transparência direta em áudios ou qualquer que seja o recurso utilizado, ou de forma agressiva, remodelando os conteúdos de forma integral. De acordo com Bolter e Grusin(1999), essa ideia pode ser uma chave de compreensão

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para o conceito de rádio expandido para além das caracterizações já estabelecidas para a sonoridade (CHAGAS, 2017, p.3).

Fidler (1998) apresenta o conceito de midiamorfose, em que o pressuposto destaca que o surgimento dos novos meios não se dá de maneira independente ou espontânea. O autor acredita que os novos meios são uma mutação dos antigos, ou seja, eles vão agregando novas experiências de forma gradual em antigos meios, coexistindo com os que já estão em desenvolvimento. Ferraretto e Kischinhevsky (2010, p. 175-176) aplicam no rádio os seis princípios de midiamorfose pelos quais o meio passa desde o surgimento da TV até os dispositivos digitais proporcionados pela internet: A coevolução e a coexistência, que deixam em evidência a televisão e suas diferentes formas; a metamorfose, que é o resultado da incorporação de diferentes percepções sensoriais, como áudio mais imagem, ou todos eles na internet como multimídia, desta forma, o rádio busca a segmentação, fugindo da concorrência com a televisão e inserindo-se na internet; a propagação, da forma em que transpõe para a televisão, portais, webrádios e canais de podcasting o áudio para transmissão via internet; A sobrevivência, que significa a inserção do rádio na internet, celular, dispositivos móveis e um conjunto de aparatos que fazem parte desse processo de adaptação; a oportunidade e necessidade, que caracteriza as novas possibilidades proporcionadas pela banda larga, transmissão de dados na terceira e quarta geração e a migração da amplitude modulada para a frequência modulada; e, por fim, a adoção postergada, que, para os autores, são as novas tecnologias que sempre tardam mais que o esperado para se converterem em êxitos comerciais (FERRARETTO e KISCHINHEVSKY, 2010, p. 6-7)

Desta forma, as modalidades radiofônicas são divididas pelas suas formas de distribuição, recepção e circulação. As características que provocam a entrada de novos atores no mercado e a desintermediação também provocam situações destacadas pelos autores (FERRARETTO e KISCHINHEVSKY, 2010) como parte de realidade vivida pela indústria de radiodifusão. São eles:

(a) processos de digitalização de forma assimétrica, concentração empresarial e desigualdade nas formas de acesso; (b) ampliação dos canais de distribuição de conteúdo radiofônico com a maior velocidade de tráfego; (c) formação de grandes players no mercado com a possibilidade de redes de transmissão; (d) novas cadeias de valor na produção de bens simbólicos, permanecendo a relevância dada a grandes grupos empresariais; (e) novos serviços que proporcionam interação com ouvinte, aplicativos e ações de

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(g) novos modelos de negócios e formatos desenvolvidos no exterior (FERRARETTO; KISCHINHEVSKY, 2010, p. 11-12).

Kischinhevsky (2012a) elenca uma cartografia com várias modalidades divididas entre distribuição, recepção e circulação. Sobre distribuição, ele afirma que é possível pensar o rádio de forma aberta, com transmissão em ondas hertzianas, digital ou via internet (dessa forma, sem custo). O autor ainda cita o rádio por assinatura com a decodificação via satélite ou na web quando se tem um pagamento pelo acesso. E os “serviços radiofônicos de acesso misto”, onde se pode navegar por uma infinidade de materiais, mas somente em um espaço para assinantes. A recepção disso se dá de forma sincrônica e assincrônica. A primeira se caracteriza pela transmissão em broadcasting no analógico, digital ou streaming online. A segunda é acessada sob demanda, disponibilizado para escuta momentânea ou para download (podcasting e outros conteúdos) via internet.

O autor também sugere que essas características do processo podem ocorrer de forma aberta ou restrita. A aberta é prevista por transmissões analógicas, digitais, com ou sem streaming, onde os portais de mídia não cobram pelo acesso aos serviços. A restrita, por sua vez, contempla os serviços de microblogging, diretórios de podcasting, as mídias sociais de uma base radiofônica e as webrádios que exigem um cadastro para acesso de conteúdo.

Para complexificar ainda mais nosso objeto, é preciso definir o rádio como um meio de comunicação expandido, que extrapola as transmissões em ondas hertzianas e transborda para as mídias sociais, o celular, a TV por assinatura, os sites de jornais, os portais de música. A escuta se dá em AM/FM, ondas curtas e tropicais, mas também em telefones celulares, tocadores multimídia, computadores, notebooks, tablets; pode ocorrer ao vivo (no dial ou via streaming) ou sob demanda (podcasting ou através de busca de arquivos em diretórios). A escuta se dá em múltiplos ambientes e temporalidades, graças a tecnologias digitais que franqueiam também a produção, a edição e a veiculação de áudios a atores sociais antes privados do acesso a meios próprios de comunicação. (KISCHINHEVSKY, 2016, p. 279)

A partir disso, Kischinhevsky (2012a) sugere uma nova possibilidade para o rádio, de acordo com Cebrián Herreros (2008), este modelo reconfigura a escuta radiofônica em diversas áreas, onde, a interatividade é diferente do processo de interação, quando a participação passa por seleções das emissoras e se converte em diálogo e intercâmbio de informações.

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3 RADIOJORNALISMO NA RÁDIO COLONIAL DE TRÊS DE MAIO/RS – ESTUDO DE CASO

3.1 Proposta, estrutura e programação

A proposta de pesquisa surgiu diante a necessidade de refletir o papel que a internet e as redes sociais têm no radiojornalismo, levando em conta o cenário da convergência. O objeto de pesquisa são os programas Radiojornalismo e Jornal do

Meio-dia, da Rádio Colonial de Três de Maio/RS, há 23 anos com produção e

apresentação do jornalista Alexandre de Souza.

Por ser uma das principais emissoras do noroeste do estado, pioneira no jornalismo radiofônico, a Rádio Colonial de Três de Maio/RS, foi a escolhida, justamente por estar trabalhando com jornalismo radiofônico por mais de 50 anos, e agora está em processo de migração, da amplitude modulada para a frequência modulada.

Em virtude da interação da emissora nesse espaço local/regional com seu ouvinte, sua cobertura jornalística está diretamente associada com as rotinas e temas que são do interesse comum dos habitantes. Este fato está diretamente ligado ao objetivo de pesquisa, uma vez que este é compreender como o veículo gera interatividade através das novas ferramentas disponibilizadas com a internet e as novas mídias.

A pesquisa aplicada é de natureza qualitativa, onde a investigação buscará compreender a utilização da internet e as novas mídias nas rotinas da emissora citada. E como técnica de pesquisa, foi utilizada a etnografia. Esta, que é um método de pesquisa no qual o antropólogo observa, registra e empenha-se na vida cotidiana de outra cultura, escrevendo relatos, enfatizando e descrevendo, como afirmam Marcus e Fischer apud Bonetti (2003).

Como base de informações, a pesquisa foi realizada nos dias 16, 17 e 20 de novembro de 2017, das 8h até 13h cada dia. Foi realizado um acompanhamento in

loco, além da gravação de todos os programas em áudio, utilizando o gravador de voz smartphone, seja este em sua totalidade ou apenas alguns momentos, sem intervalos

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comerciais. Também se utilizou de gravações de vídeo para base de pesquisa - principalmente nos momentos em que o âncora utilizava a internet para leitura ao vivo, e produção de um diário de campo. E, no final do período de pesquisa, foi realizada uma entrevista com o apresentador dos programas citados.

As gravações dos programas foram realizadas exclusivamente durante a transmissão original, no estúdio da emissora, durante os dias de pesquisa. Finalizada a pesquisa, houve análise de todo conteúdo coletado, iniciando o debate em contraponto as referências citadas nos capítulos anteriores, como rádio hipermidiático (LOPEZ, 2010) e rádio expandido (KISCHINHEVSKY, 2012) buscando identificar a fase atual do veículo de acordo com a convergência.

O programa Radiojornalismo, é um programa de jornalismo radiofônico, que traz de duas a três entrevistas diárias, durante uma hora (das 8h10 até as 9h10), todos os dias da semana. Ele trabalha pautas do município e da região (Três de Maio/RS e região noroeste). Sustentado por entrevistas longas, o programa faz parte da grade da emissora por mais de cinquenta anos. De acordo com o produtor e apresentador do programa, Alexandre de Souza, sua produção é realizada no mínimo 24h antes da veiculação, agendando entrevistas ao vivo, e suas pautas são geradas pela experiência do jornalista que conduz o programa. “Praticamente o trabalho é feito sozinho, mas sempre, claro, com uma espécie de ‘radar’ que a experiência nos dá. Permitindo que a gente esteja ‘antenado’ em tudo aquilo que acontece de importante para nossos ouvintes” (SOUZA, 2017, informação verbal2).

As pautas regionais prevalecem neste programa, claro, quando esta é motivo de debates no âmbitonacional. No dia 16 de novembro, o programa discutiu o novo texto da reforma da Previdência, com a participação do Deputado Federal Henrique Fontana (PT-RS), para trazer um contraponto à entrevista com o Deputado Federal Darcísio Perondi (PMDB-RS), realizada no dia anterior, o que revela uma maior imparcialidade do programa, algo tão almejado pelos jornalistas. De acordo com Traquina, o jornalista deve procurar a verdade e seu papel é definido como o de “um observador que relata com honestidade e equilíbrio o que acontece, cauteloso em não emitir opiniões pessoais” (TRAQUINA, 2001, p. 147). Por outro lado, de acordo com

2 Entrevista concedida por SOUZA, Alexandre de. Entrevista I. [nov. 2017]. Entrevistador: João Vitor Taborda

Salla. Três de Maio, 2017. 1 arquivo .mp3 (11 min). A entrevista na íntegra encontra-se transcrita no Apêndice A desta monografia.

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Miguel e Biroli, a objetividade/imparcialidade é entendida como uma conquista da comunicação democrática, mas não é “simplesmente algum tipo de soma de seus pontos de vista diferenciados” (MIGUEL e BIROLI, 2008, p. 114). Ou seja, nessa perspectiva se trabalham com pontos de vista, e não mais com verdades ou inverdades.

No programa, o cumprimento inicial ao público com um “bom dia” se torna algo recorrente, uma vez que em dois dos três dias de acompanhamento o jornalista iniciou o programa com este cumprimento, e apenas um dia não realizou esta saudação. Porém, em todos os programas há uma pequena interação com o ouvinte no início do programa, seja esta realizada pelo próprio cumprimento, ou trazendo algumas informações, anunciando datas históricas, por exemplo.

Durante os dias de acompanhamento, observou-se que a grande maioria das entrevistas realizadas pela manhã, que é o principal conteúdo do programa, são de enfoque local e regional. Os assuntos abordados seguiram na seguinte ordem: no dia 16 de novembro, as pautas do programa foram a mudança no texto da reforma da Previdência e vestibular de verão da Unijuí; no dia 17 de novembro o programa iniciou com uma entrevista com Pedro Ernesto Denardin sobre produção orgânica (este iria se fazer presente a noite na cidade para palestra), seguindo de entrevista com o prefeito da cidade sobre um incêndio na estrutura do antigo Cigres – Consórcio Intermunicipal de Gestão de Resíduos Sólidos – de Três de Maio, e encerrou com uma entrevista com a coordenadora dos agentes de saúde do município alertando sobre os altos índices do mosquito Aedes Aegypti, na cidade de Três de Maio; e no dia 20 de novembro, as entrevistas foram sobre a importação do leite do Uruguai, com a secretária do Sindicato dos Trabalhadores Rurais do município e com o secretário de Desenvolvimento Econômico e Turismo sobre a licença ambiental do Parque Empresarial do município. Através disso, podemos perceber uma boa quantidade de pautas locais, como o incêndio no Cigres e os índices do mosquito Aedes Aegypti na cidade. Isso garante um maior relacionamento com a comunidade. Porém, em contraponto, algumas entrevistas servem apenas como espaço de patrocinadores, como é o caso do vestibular de verão da Unijuí. Embora esta última se apresente como uma pauta normal, sem diferenciação das outras, pois trouxe informações sobre o vestibular, porém, sua natureza é publicitária, uma vez que a empresa é anunciante do veículo, logo, pode ter matérias direcionadas para si, não como assessoria de

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imprensa, mas buscando uma visibilidade para a patrocinadora. Isso deve ser levado em conta, pois o veículo precisa destes patrocínios para se manter no ar.

Quadro-resumo de pautas que fomentaram a interação durante os dias de pesquisa Programa: Radiojornalismo Dias 16/11/2017 17/11/2017 20/11/2017 Pautas do programa Reforma da Previdência; Vestibular de verão da Unijuí. Produção orgânica; Incêndio no Cigres; Altos índices do mosquito Aedes Aegypti em Três de Maio/RS. Importação de leite do Uruguai; Colégio Militar em Três de Maio/RS; Falta de licença ambiental no Parque Empresarial de Três de Maio/RS. Tabela 1 - Quadro de pautas

Fonte: SALLA, 2017

O programa segue um roteiro bem desenhado, com poucas mudanças em sua estrutura, normalmente seguindo o padrão: início-entrevista ao vivo-comerciais-entrevista ao vivo-comerciais-informação (temperatura ou hora)-comerciais-segurança pública-encerramento. Mesmo seguindo um modelo informativo, em alguns momentos o jornalista acaba trazendo sua opinião para o debate, momentos esses que caracterizam seu envolvimento e defesa para com a comunidade três-maiense.

O lado opinativo do apresentador predomina, tornado-se a atração principal, secundada por comentaristas e mesmo repórteres. Constitui-se por si só em uma visão quase pessoal da realidade, cujo sucesso está vinculado às polêmicas geradas pelo condutor do programa. (FERRARETO, 2001, p. 56) Já o Jornal do Meio-dia, que vai ao ar das 12h até as 12h40, um horário tradicional do jornalismo, apresenta pautas do nacional e do regional. O programa baseia-se nas entrevistas realizadas pela manhã (boletins com sonoras de aproximadamente cinco minutos) somadas a um apanhado de notícias buscadas na internet e postadas no site da rádio, em que são lidas diretamente do site, porém, com a adaptação de linguagem sendo realizada no improviso.

De acordo com Alexandre de Souza, o jornal segue um modelo informativo, que tem como objetivo atualizar, informar e destacar as principais notícias do dia até o

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