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2 RADIOJORNALISMO E NOVAS MÍDIAS

2.3 Rádio expandido

Kischinhevsky (2012a, p. 6) sugere que o rádio, com novos serviços e canais de distribuição “transborda as mídias sociais e microblogs, que potencializam o seu alcance e a circulação de seus conteúdos”. Deste modo a modalidade extrapola os limites do som das ondas sonoras para apropriar-se de outras linguagens e suportes.

Circunscrever o rádio às ondas eletromagnéticas é condená-lo a um papel cada vez mais secundário diante do crescimento da internet comercial e do processo de convergência de mídias. No início do século 21, escuta-se rádio em ondas médias, tropicais e curtas ou em frequência modulada, mas

também na TV por assinatura, via cabo, micro-ondas ou satélite, em serviços digitais abertos e por assinatura, e via internet, de múltiplas formas. (KISCHINHEVSKY, 2012a, p. 48)

Nesta modalidade, assim como no rádio hipermidiático a linguagem sonora passa a ser complementada por outras linguagens, seja texto, foto ou vídeo. Este conteúdo pode ser consumido na internet, redes sociais ou aplicativos de celular. De acordo com Lopez e Quadros (2015, p; 4-5), este conteúdo vai além da multimidialidade, ele se estrutura como uma narrativa complexa, pensada para buscar complementação, assim como o aprofundamento da informação. Desse modo, a instantaneidade se fortalece à medida em que a informação apurada pelo rádio ganha novos canais para transmissão imediata.

[...] por outro lado, a fugacidade é minimizada com a disponibilização de arquivos em podcast e pela possibilidade de consumo do conteúdo radiofônico multimídia sob demanda, quebrando a lógica estruturada da programação que até então caracterizava o meio. A abrangência ou penetração ganham novos contornos, a partir da inserção do rádio na internet, possibilitando a transmissão via streaming para qualquer parte do mundo. Nesse sentido, também a interatividade se modifica, oferecendo novas possibilidades para que o ouvinte participe da programação. (LOPEZ; QUADROS, 2015, p. 6)

Quanto ao conceito de rádio expandido, devemos categorizar as vastas modalidades radiofônicas atuais objetivando buscar suas especificidades desenvolvidas ao longo dos anos. O conceito de remediação organiza o pensamento sobre a interação entre o rádio e a infinidade de novos canais que surgiram com as plataformas digitais (BOLTER; GRUSIN, 1999). Se pode destacar também a compreensão deste posicionamento do rádio a partir das diversas dimensões geradas pela convergência no âmbito tecnológico, empresarial, profissional e de conteúdo (FERRARETTO; KISCHINHEVSKY, 2010).

Este conceito de remediação deve ser analisado em uma lógica dupla: a imediação transparente e a hipermediação. O primeiro salienta que o objetivo é apagar o meio com a simulação de uma experiência direta, e, o segundo abre a possibilidade de muitas janelas, de uma representação de outra forma, porém, respeitosa, que procura transparência direta em áudios ou qualquer que seja o recurso utilizado, ou de forma agressiva, remodelando os conteúdos de forma integral. De acordo com Bolter e Grusin(1999), essa ideia pode ser uma chave de compreensão

para o conceito de rádio expandido para além das caracterizações já estabelecidas para a sonoridade (CHAGAS, 2017, p.3).

Fidler (1998) apresenta o conceito de midiamorfose, em que o pressuposto destaca que o surgimento dos novos meios não se dá de maneira independente ou espontânea. O autor acredita que os novos meios são uma mutação dos antigos, ou seja, eles vão agregando novas experiências de forma gradual em antigos meios, coexistindo com os que já estão em desenvolvimento. Ferraretto e Kischinhevsky (2010, p. 175-176) aplicam no rádio os seis princípios de midiamorfose pelos quais o meio passa desde o surgimento da TV até os dispositivos digitais proporcionados pela internet: A coevolução e a coexistência, que deixam em evidência a televisão e suas diferentes formas; a metamorfose, que é o resultado da incorporação de diferentes percepções sensoriais, como áudio mais imagem, ou todos eles na internet como multimídia, desta forma, o rádio busca a segmentação, fugindo da concorrência com a televisão e inserindo-se na internet; a propagação, da forma em que transpõe para a televisão, portais, webrádios e canais de podcasting o áudio para transmissão via internet; A sobrevivência, que significa a inserção do rádio na internet, celular, dispositivos móveis e um conjunto de aparatos que fazem parte desse processo de adaptação; a oportunidade e necessidade, que caracteriza as novas possibilidades proporcionadas pela banda larga, transmissão de dados na terceira e quarta geração e a migração da amplitude modulada para a frequência modulada; e, por fim, a adoção postergada, que, para os autores, são as novas tecnologias que sempre tardam mais que o esperado para se converterem em êxitos comerciais (FERRARETTO e KISCHINHEVSKY, 2010, p. 6-7)

Desta forma, as modalidades radiofônicas são divididas pelas suas formas de distribuição, recepção e circulação. As características que provocam a entrada de novos atores no mercado e a desintermediação também provocam situações destacadas pelos autores (FERRARETTO e KISCHINHEVSKY, 2010) como parte de realidade vivida pela indústria de radiodifusão. São eles:

(a) processos de digitalização de forma assimétrica, concentração empresarial e desigualdade nas formas de acesso; (b) ampliação dos canais de distribuição de conteúdo radiofônico com a maior velocidade de tráfego; (c) formação de grandes players no mercado com a possibilidade de redes de transmissão; (d) novas cadeias de valor na produção de bens simbólicos, permanecendo a relevância dada a grandes grupos empresariais; (e) novos serviços que proporcionam interação com ouvinte, aplicativos e ações de

(g) novos modelos de negócios e formatos desenvolvidos no exterior (FERRARETTO; KISCHINHEVSKY, 2010, p. 11-12).

Kischinhevsky (2012a) elenca uma cartografia com várias modalidades divididas entre distribuição, recepção e circulação. Sobre distribuição, ele afirma que é possível pensar o rádio de forma aberta, com transmissão em ondas hertzianas, digital ou via internet (dessa forma, sem custo). O autor ainda cita o rádio por assinatura com a decodificação via satélite ou na web quando se tem um pagamento pelo acesso. E os “serviços radiofônicos de acesso misto”, onde se pode navegar por uma infinidade de materiais, mas somente em um espaço para assinantes. A recepção disso se dá de forma sincrônica e assincrônica. A primeira se caracteriza pela transmissão em broadcasting no analógico, digital ou streaming online. A segunda é acessada sob demanda, disponibilizado para escuta momentânea ou para download (podcasting e outros conteúdos) via internet.

O autor também sugere que essas características do processo podem ocorrer de forma aberta ou restrita. A aberta é prevista por transmissões analógicas, digitais, com ou sem streaming, onde os portais de mídia não cobram pelo acesso aos serviços. A restrita, por sua vez, contempla os serviços de microblogging, diretórios de podcasting, as mídias sociais de uma base radiofônica e as webrádios que exigem um cadastro para acesso de conteúdo.

Para complexificar ainda mais nosso objeto, é preciso definir o rádio como um meio de comunicação expandido, que extrapola as transmissões em ondas hertzianas e transborda para as mídias sociais, o celular, a TV por assinatura, os sites de jornais, os portais de música. A escuta se dá em AM/FM, ondas curtas e tropicais, mas também em telefones celulares, tocadores multimídia, computadores, notebooks, tablets; pode ocorrer ao vivo (no dial ou via streaming) ou sob demanda (podcasting ou através de busca de arquivos em diretórios). A escuta se dá em múltiplos ambientes e temporalidades, graças a tecnologias digitais que franqueiam também a produção, a edição e a veiculação de áudios a atores sociais antes privados do acesso a meios próprios de comunicação. (KISCHINHEVSKY, 2016, p. 279)

A partir disso, Kischinhevsky (2012a) sugere uma nova possibilidade para o rádio, de acordo com Cebrián Herreros (2008), este modelo reconfigura a escuta radiofônica em diversas áreas, onde, a interatividade é diferente do processo de interação, quando a participação passa por seleções das emissoras e se converte em diálogo e intercâmbio de informações.

3 RADIOJORNALISMO NA RÁDIO COLONIAL DE TRÊS DE MAIO/RS –

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