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Os Ideais Iluministas na Obra de Vicente Seabra Telles

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Academic year: 2021

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Os Ideais Iluministas na Obra de Vicente Seabra Telles

José Ilton Pinheiro Jornada1* (PQ), Maria de Fátima Teixeira Gomes2 (PQ) Maria Renilda

Nery Barreto3 (PQ)

jornada@uerj.br

1,2 Departamento de Química Geral e Inorgânica, Instituto de Química, UERJ 3 Programa de Pós-Graduação em Ciência, Tecnologia e Educação do CEFET-RJ

Palavras-Chave: Vicente Seabra Telles, Ilustração, Química no século XVIII

RESUMO:

RELATAMOS RESULTADOS PARCIAIS DA PESQUISA QUE, NO PRIMEIRO MOMENTO, TENDO COMO PANO DE FUNDO O CONTEXTO SOCIAL, CULTURAL E ECONÔMICO EM QUE VICENTE SEABRA TELLES NASCEU E TEVE SUA INSTRUÇÃO ESCOLAR, BUSCOU INDÍCIOS DE POSSÍVEIS INFLUÊNCIAS DAS LUZES EM SUA FORMAÇÃO INTELECTUAL, AINDA NO BRASIL E, EM UM SEGUNDO MOMENTO, INVESTIGOU ASPECTOS DE SUA VIDA ACADÊMICA E PROFISSIONAL NA UNIVERSIDADE DE COIMBRA.ARGUMENTAMOS QUE A VISÃO DE MUNDO DE SEABRA TELLES AO DEIXAR O PAÍS INFLUENCIOU SUA TRAJETÓRIA ACADÊMICA CONDUZINDO-O PARA UM CONHECIMENTO CIENTÍFICO COM FINS UTILITÁRIOS. COMO FONTE PRIMÁRIA UTILIZAMOS A MEMÓRIA SOBRE OS PREJUÍZOS

CAUSADOS PELAS SEPULTURAS DOS CADÁVERES NOS TEMPLOS E MÉTODOS DE OS PREVENIR, NA QUAL SEABRA TELLES REVELA PREOCUPAÇÃO COM UMA QUESTÃO CULTURAL QUE SE TORNARA UM GRAVE PROBLEMA DE SAÚDE PÚBLICA, PARA O QUAL PROPÕE SOLUÇÕES COM BASE EM CONHECIMENTOS DA FILOSOFIA NATURAL.

INTRODUÇÃO

O tempo apagou muitos registros da vida de Vicente Seabra Telles, partícipe do desenvolvimento da Química na portuguesa e que, pertencendo à sociedade dos homens das Letras, compôs a malha de intelectuais do mundo luso-brasileiro em fins do século XVIII e início do XIX.

No Brazil, em Vila Rica na freguesia de Congonhas do Campo, entre minhas fazendas do Sandes e Antônio Dias, e também na fazenda do Caldeirão, contígua, há montes que não constam senão de mina de antimônio da Espécie III, de Kirwan (antimônio mineralisado pelo enxofre), de que fiz ensaio e me deu 70 partes de régulo por 100 de mina, e 20 e tantas de enxofre. É das minas mais ricas de que tenho notícia (TELLES, 1790, p. 244).

Estas afirmações constam da segunda parte de sua obra Elementos de Química onde o autor registra sua nacionalidade brasileira, destacando a riqueza da região de onde provinha. O relato brasileiro mais antigo, de que se tem conhecimento, sobre Vicente Coelho de Seabra Silva e Telles é a comunicação que Francisco Adolfo de Varnhagen fez na Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB), em 1847, na seção Biografia dos Brasileiros distintos por letras, armas, virtudes, etc. Refere-se o autor ao “filho de Minas, aí senhor das fazendas do Sandes e Antônio Dias [....]. e portanto nascido provavelmente em Congonhas do Campo” (VARNHAGEN, 1847, p. 261).

Varnhagen destaca que Elementos de Química, a primeira obra desta ciência escrita na língua portuguesa, é fruto do entusiasmo de seu autor com a ciência que, no fim do século XVIII, “fazia progressos espantosos pelos estudos de Macquer, Morveau e Bertholet, pelas descobertas de Lavoisier e lições profundas de Fourcroy”. Relata

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que, em março de 1804, antes de completar quarenta anos, Vicente Seabra Telles faleceu devido à sua “compleição pouco robusta”. Ressaltou ainda que, não fosse a morte prematura, poderia ter deixado um nome e uma reputação ainda mais brilhantes que teriam contribuído para maior “glória do Brasil e honra da humanidade” (VARNHAGEN, 1847, p. 264).

O breve relato histórico de Varnhagen, apresentado trinta e três anos após o falecimento de Vicente Seabra Telles, embora registrando a “ingratidão que se tem olhado para seus trabalhos” (p. 261), não despertou, `a época, maior interesse da comunidade científica pela investigação de sua trajetória. No Brasil, seu nome saiu do ostracismo em que se encontrava por mais de um século com a divulgação das pesquisas de Carlos Alberto L. Filgueiras, a partir de 1985. Para este pesquisador, Seabra Telles lhe parece “uma figura algo trágica”, talvez com problemas pessoais na Universidade de Coimbra, recebendo salários baixíssimos e tendo suas obras ignoradas “apesar de seu caráter abrangente, inovador e moderno” (FILGUEIRAS, 2007, p.183).

Neste trabalho relatamos resultados parciais da pesquisa historiográfica que, no primeiro momento, tendo como pano de fundo o contexto social, cultural e econômico em que Vicente Seabra Telles nasceu e teve sua instrução escolar, buscou identificar possíveis influências das Luzes em sua formação intelectual, ainda no Brasil e, em um segundo momento, investigou aspectos de sua vida acadêmica e profissional na Universidade de Coimbra. Argumentamos que a visão de mundo de Vicente Seabra Telles ao deixar o país influenciou a sua trajetória acadêmica conduzido-o para um conhecimento prático, apanágio da Ilustração, para o qual contribuiu o ecletismo científico de seu mestre Domingos Vandelli. A fim de corroborar nossos argumentos analisamos sua Memória sobre os prejuízos causados pelas sepulturas dos cadáveres nos templos e métodos de os prevenir, na qual o autor revela preocupação com uma questão cultural que se tornara um grave problema ambiental e de saúde pública.

ASOCIEDADE LUSO-MINEIRA

A sociedade mineira começou a se constituir a partir da década de 1730 quando a mineração do ouro atingiu o auge. Até então a busca por riqueza atraíra muitos aventureiros à região e fora origem de muitos conflitos como a Guerra dos Emboabas e a Revolta de Vila Rica. A distribuição de sesmarias pelo Governador da Província, o General Gomes Freire de Andrade, deu aos mais abastados a posse de fazendas de mineração e agricultura e hierarquizou a população, privilegiando a posição do homem bom. Com o fortalecimento da administração real na nova província e a afirmação de uma classe de proprietários e comerciantes paulistas (descendentes de lusitanos) ou portugueses recém-chegados (reinóis), as tensões se acomodaram e a sociedade urbana se organizou (CARRATO, 1968). Será nesta época de apogeu do garimpo e relativa calma que a família de Vicente Seabra Telles se afirmará economicamente. A nacionalidade portuguesa, com posterior reconhecimento de grau de nobreza, a posse de lavras e terras e as patentes militares alcançadas por pai e filhos situam a família Coelho de Seabra em posição de destaque na sociedade mineira da comarca de Ouro Preto, na segunda metade do século XVIII. A partir dos anos 1760 a escassez do ouro levou ao empobrecimento da região. Aos mais abonados restava voltar-se para a agricultura e para a pecuária. Esta necessidade de melhor

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aproveitamento da terra, além da exploração mineradora, talvez tenha influenciado os estudos que Vicente Seabra Telles viria empreender como Filósofo Naturalista.

A data de nascimento de Vicente Seabra Telles é incerta, uma vez que estão desaparecidos os livros de batismos do período de 1744 a 1775, das vilas de Congonhas do Campo, de Soledade e Cachoeira do Campo, pertencentes à Comarca de Vila Rica, onde poderia ter sido feito este registro. Segundo os documentos de matrícula na Universidade de Coimbra consta que teria nascido em 1764.

De seus pais, Manoel Coelho Rodrigues e Josefa de Ávila e Figueiredo, são conhecidos um processo matrimonial e a certidão de casamento. Em nove de maio de 1742, o Vigário de Cachoeira do Campo, na Comarca de Vila Rica, iniciou o processo matrimonial, concluído em dez de junho do mesmo ano, para averiguar se havia parentesco por consanguinidade entre Manoel e Josefa. Após ficar comprovada a ligação 4º grau misto com segundo grau de consanguinidade (seus bisavós eram irmãos), o casamento foi autorizado após o pagamento, pelos nubentes, da quantia de cem mil réis destinados a obras pias. Manoel Coelho Rodrigues, natural de Santa Eulália de Sobrosa, Porto, Portugal e Josefa d’Ávila de Figueiredo, nascida e batizada em Cabrobó, Pernambuco, casaram em Cachoeira do Campo no dia trinta de agosto de 1742. O casal teve nove filhos, cinco homens: Pedro, Francisco, Vicente, José e Nicolau e quatro mulheres: Maria Josefa, Francisca, Anna e Mariana (REZENDE, 1937). Maria Josefa de Ávila Figueiredo, a primogênita do casal, foi batizada em vinte e um de agosto de 1743, na capela da Soledade (hoje Lobo Leite), filial da matriz de Cachoeira do Campo. Os três registros, encontrados no Arquivo Eclesiástico da Arquidiocese de Mariana (AEAM) nos levam a concluir que a família Coelho Seabra vivia em Cachoeira do Campo, Comarca de Vila Rica, mais precisamente em Soledade, provável local de nascimento de Vicente Seabra Telles.

Manoel Coelho Rodrigues faleceu em 1777 e o inventário de seus bens foi feito por sua viúva Josefa, que viria a falecer em 1811. Por sua vez o inventário de Josefa, disponível no Museu da Inconfidência em Ouro Preto, foi feito por seu filho, o Capitão Mor José Coelho Seabra, no qual este registrou possuir um documento que comprovava que Vicente Seabra Telles recebera de sua mãe, provavelmente quando de sua viagem para Portugal, a quantia de 1:286$515 (hum conto, duzentos e oitenta seis mil e quinhentos e quinze réis). Para efeito de comparação, anotamos do mesmo documento os valores de uma junta de bois (14 mil réis), de uma vaca (2 mil réis), de uma novilha (3 mil réis) e de escravos (considerados “coisa” à época): uma escrava com sessenta anos foi avaliada em 30 mil réis e a um escravo de 28 anos foi estabelecido o valor de 130 mil réis. Para se ter ideia do valor recebido por Vicente Seabra Telles, esta quantia era suficiente para se adquirir 56 juntas de boi ou 402 novilhas. O alto valor dos bens arrolados no inventário denota a situação abastada da família.

Dos irmãos, consta no inventário que três tinham a patente de Capitão Mór (Pedro, Nicolau e José) e um era Sargento Mór (Francisco), todos residentes em Soledade, no Sande, local onde Vicente Seabra Telles aponta a existência de uma de suas fazendas. À época as patentes militares mais elevadas eram geralmente atribuídas a portugueses e seus descendentes. Das irmãs, depreende-se pelo mesmo documento que se casaram com membros de famílias abastadas e nobres, Lobo Leite Pereira e Parada e Souza, perfazendo um histórico de uniões entrecruzadas. Pedro e José se casaram com suas sobrinhas, filhas de Maria Josefa (REZENDE, 1937).

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O pai e o irmão de Vicente, Manoel Coelho Rodrigues e Pedro Coelho de Seabra, viriam receber carta de Brasão de Armas de Nobreza e Fidalguia mandada passar pela Rainha D. Maria I, em 23 de novembro de 1782. A estirpe nobre deve-se ao fato de serem descentes de João da Sylva Tello e Menezes, nomeado conde de Aveiras por carta de 24 de fevereiro de 1640 (REZENDE, 1937). Vicente tem seu grau de nobreza reconhecido através dos Autos de Justificação emitidos em 1789. Na sua Dissertação sobre a fermentação em geral (TELLES, 1787), registra seu nome com o Silva e o Telles entremeados com os sobrenomes originais.

No inventário de sua mãe, José Seabra relata que Vicente era casado e que falecera em Coimbra, sem indicar datas. Afirma ignorar o nome da esposa e se o irmão tinha herdeiros. Após três anos (1813), escreve no processo que “segundo minha lembrança” o irmão fora casado com D. Francisca Pimentel. Na Memória sobre o método de curar a ferrugem das oliveiras, de 1792, Vicente refere-se às “Oliveiras de meu Sogro” (p. 31) tornando evidente seu estado civil. Em sua Genealogia Mineira, Arthur Rezende relata a existência de uma neta de Vicente Seabra, Augusta Seabra, que seria filha de Francisco de Paula Coelho Seabra, filho de Vicente, casado com D. Maria José Seabra Lobo. Aqui, mais uma vez, ocorre a união matrimonial entre pessoas do mesmo clã, pois Maria José era neta materna de Pedro Coelho e por parte de pai, de Anna Francisca Lobo Leite Pereira. Os avós de Maria José, portanto, eram irmãos de Vicente, seu sogro. Este ramo das famílias Seabra e Lobo Leite, há muito entrecruzadas, estabeleceu-se em Santo Antônio do Rio Bonito, atual Conservatória, distrito de Valença, no estado do Rio de Janeiro (REZENDE, 1937).

OS ESTUDOS DE VICENTE SEABRA TELLES NO BRASIL

Foi no Colégio dos Osórios em Sumidouro, distrito de Mariana, que Vicente Seabra Telles estudou, provavelmente entre onze e quinze anos, no curso correspondente ao ensino médio (TRINDADE, 1951). O colégio de Sumidouro teve, ao longo do tempo, oito professores padres, todos da família Cunha Osório. Oferecia duas únicas aulas régias: Língua Latina e Poética. Era um internato com 250 alunos provavelmente marcado pela pedagogia jesuíta, uma vez que seu professor mais antigo, Padre Francisco da Cunha Osório, estudara com os inacianos no Seminário de Mariana (CARRATO, 1968).

Em Mariana, Vicente Seabra Telles continuou seus estudos no Seminário de Nossa Senhora da Boa Morte, o primeiro a ser instalado em Minas e que, além da formação de religiosos, preparava jovens estudantes leigos para o ingresso nos cursos de Coimbra. Fundado em 1750, por Frei Manuel da Cruz, monge cisterciense, o Seminário de Mariana contou inicialmente com os sacerdotes jesuítas para formar o seu corpo docente. A expulsão dos inacianos, em 1759, legou aos padres diocesanos (seculares) a tarefa de manter o Seminário funcionando (CARRATO, 1968). Como muitos destes religiosos eram oriundos da instituição, a pedagogia jesuíta provavelmente continuou a ser praticada.

Dentre os sacerdotes que se tornaram professores do Seminário destacaram-se o Padre José Lopes de Oliveira e o Cônego Luís Vieira da Silva. Estiveram ambos envolvidos na Inconfidência Mineira. Do Cônego Vieira, possível mestre de Vicente Seabra Telles, ficou registrado nos Autos da Devassa o sequestro de seus livros judiciosamente relacionados. Eduardo Frieiro em seu ensaio “O diabo na livraria do

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cônego” considera que Vieira, como tantos católicos à época, “fundia em uma síntese feliz as verdades da fé ou do coração com as verdades da razão e da ciência” (FRIEIRO, 1957, p. 70). Os mais de seiscentos livros que possuía, versavam sobre assuntos os mais diversos: teologia, oratória, doenças venéreas, história, filosofia, matemática, geometria, história natural, física, astronomia, agricultura e literatura em prosa e verso. Além dos tradicionais autores latinos Júlio César, Sêneca e Virgílio, a biblioteca continha obras de autores modernos como Descartes, Hume, Milton, Gravesand, Voltaire, Condillac, Camões, Sá de Miranda e Verney. Clássicos como dois tomos da Encyclopédie de D’Alembert e Diderot, a Summa Theologica de Tomás de Aquino e grande número de dicionários de português, francês, inglês, alemão, italiano e latim, compunham a eclética “livraria” (FRIEIRO, 1957).

O Seminário de Mariana fora criado para instruir os filhos das famílias de Minas Gerais, evitando que estes tivessem que se deslocar para a Bahia ou para o Rio de Janeiro. Após a abertura do Seminário tornou-se mais fácil às famílias mineiras abastadas enviar seus filhos à Universidade de Coimbra. “Era o supremo luxo que se davam, era como que uma conferição de título nobre ter uma família das Minas um filho doutor” (CARRATO, 1968, p. 179). Entre 1772 e 1790 frequentaram os cursos de Coimbra trezentos e sessenta e quatro estudantes de todo o Brasil, dos quais noventa e sete eram filhos de província de Minas Gerais, sendo treze de Ouro Preto, sete de Mariana e quatro de Congonhas do Campo (FONSECA, 1999). No Seminário de Mariana ensinava-se Gramática, Filosofia e Teologia Moral (CARRATO, 1968). Tendo entre os professores o Cônego Vieira, dono de vasta biblioteca, é provável que Vicente Seabra Telles entrasse em contato com a Ilustração ainda no Brasil.

A formação inicial, no Colégio de Sumidouro e no Seminário de Mariana, a sua condição de filho de família abastada e nobre, proprietária de fazendas mineradoras e agrícolas, possivelmente influenciaram a visão de mundo de Vicente Seabra Telles, predispondo-o para os estudos voltados para a química, mineralogia e agricultura em sua vida acadêmica na Universidade de Coimbra.

VICENTE SEABRA TELES NA UNIVERSIDADE DE COIMBRA REFORMADA

O século XVIII português foi marcado pela necessidade de reformulação econômica, a partir da circulação das ideias iluministas. Durante o reinado de D. José I (1750-1777), o diplomata Sebastião de Carvalho e Melo, futuro marquês de Pombal, ganhou destaque por seu projeto econômico e reformador que advogava pelo aproveitamento racional da riqueza propiciada pelo ouro do Brasil, pela instalação de indústrias e dinamização do comércio, pelo desenvolvimento da cultura, o progresso das artes, das letras, da ciência, a paz política e a elevação do nível de riqueza e bem-estar (SCHWARCZ, 2002).

Dentre as inúmeras medidas tomadas pelo Marques de Pombal na reforma do Estado português vamos destacar a reforma da Universidade de Coimbra. Pensada como parte do aparelho do estado, coube à universidade formar quadros com conhecimentos técnicos e científicos para conduzir o processo de melhor aproveitamento dos recursos agrícolas e minerais do Império. A elite intelectual assim formada concorreria para a desejada superação do passado econômico português (PEREIRA & CRUZ, 2009). Alguns membros desta elite alcançaram altos postos na estrutura do governo, representando uma integração entre o saber e o fazer,

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característica da Ilustração. Aos Filósofos Naturalistas cabia investigar a realidade com o uso da Razão, concorrendo para o progresso do estado e da sociedade (NOVAIS, 1994). É neste contexto político, econômico, cultural e científico que se desenvolve a trajetória acadêmica de Vicente Seabra Telles na Universidade de Coimbra.

Na documentação da Universidade de consta que as primeiras matrículas de Seabra Telles foram feitas em 16 de outubro 1783, no primeiro ano de Matemática e no segundo ano de Filosofia. A formação de Vicente Seabra Telles no Seminário de Mariana provavelmente foi a razão de este ter sido dispensado de estudar o primeiro ano do Curso de Filosofia, em que se ensinava Moral e Filosofia Racional. Antes de formar-se como Filósofo Naturalista, o que ocorreu em 25 de junho de 1787, iniciou o curso de Medicina em 19 de outubro 1786, concluindo-o em 30 de julho de 1791. Reconhecendo seus méritos acadêmicos, a Rainha D. Maria I, em Carta Régia de 24 de janeiro de 1791, outorgou-lhe o título de Doutor com dispensa da defesa de tese e da prestação de exames.

Dois outros brasileiros ilustres foram contemporâneos de Vicente Seabra Telles em Coimbra: José Bonifácio de Andrada e Silva (1763-1834) e José Álvares Maciel (ca 1760-ca 1805). José Bonifácio matriculou-se no Curso de Leis em Coimbra, no dia 08 de outubro de 1783, oito dias antes que Seabra Telles fizesse suas matrículas em Matemática e Filosofia. Acredita-se que tenham viajado juntos desde o Brasil, considerando que, na ocasião, uma viagem pelo Atlântico do Rio de Janeiro a Lisboa era feita em dois meses e de Lisboa a Coimbra eram necessários dois dias (SOUZA, 1972). Ambos se formaram em Filosofia Natural, em 1787. Seabra Telles dedicara a sua obra Dissertação sobre o calor, publicada em 1788, a José Bonifácio de Andrada e Silva, em sinal de amizade.

Retornando a Portugal, em 1800, após dez anos de viagem de estudos pela Europa, José Bonifácio seria nomeado, no ano seguinte, professor de Metalurgia no curso de Filosofia Natural, data em que Vicente Seabra Telles também fora nomeado 2º substituto de Química. As duas Cadeiras originaram-se da cisão da Cadeira de Química e Metalurgia, que pertencera inicialmente a Seabra Telles. Foi mais uma oportunidade de convivência acadêmica entre eles que possivelmente se estreitou pela presença de mais dois Andradas em Coimbra. Os irmãos de José Bonifácio, Antônio Carlos Ribeiro de Andrada (1773-1845) e Martim Francisco Ribeiro de Andrada (1775-1844), que se formaram Filósofos Naturalistas em, respectivamente, 1796 e 1798.

José Álvares Maciel, natural de Vila Rica, iniciou seu curso de Filosofia Natural em 1782. Participou com Seabra Telles e com outros dois acadêmicos de uma experiência encomendada pelo mestre, Domingos Vandelli, a seus estudantes de Química. A Gazeta de Lisboa de 17 de junho de 1784 noticiou a construção de máquinas aerostáticas (balões de hidrogênio) pelos estudantes Naturalistas de Coimbra (CRUZ, 2004). De volta ao Brasil, Álvares Maciel envolveu-se na trama da Inconfidência, foi condenado ao degredo em Luanda aonde veio a trabalhar para o governo, investigando os recursos minerais da colônia africana. Faleceu no exílio em 1792 com cerca de 40 anos.

Seabra Telles, José Bonifácio e Álvares Maciel foram discípulos do italiano Domingos Vandelli (1730-1816), primeiro professor de Química e de História Natural da Universidade de Coimbra reformada. A decisão de Pombal em incorporar ilustrados italianos à missão de reformar a Universidade de Coimbra trouxe para Portugal este

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paduano formado em Medicina e História Natural. Entretanto, foi como filósofo naturalista que Domingos Vandelli alcançou maior projeção. Correspondente de Lineu, responsável pela criação dos Museus e Jardins Botânicos de Coimbra e da Ajuda (Lisboa), preparou detalhadamente expedições científicas de seus discípulos coimbrãos. Nestas viagens filosóficas no reino português, os pesquisadores recolhiam informações e coletavam materiais que serviam para avaliar as possibilidades de exploração racional dos recursos naturais do império lusitano. O conhecimento prático, apanágio da Ilustração, evidencia-se nas múltiplas atividades de Vandelli: exploração mineralógica, fabricação de louça e análise de águas minerais (CASALEIRO, 2006).

Domingos Vandelli foi também responsável pelo Gabinete de História Natural e pelo Laboratório Químico cuja construção supervisionara. Era adepto do flogístico embora a teoria de Sthal já estivesse sendo ultrapassada pela química lavoiseriana. Não se opunha, entretanto, aos que aderiam à química do oxigênio, caso de Tomé Rodrigues Sobral (1759-1829) e Vicente Seabra Telles, que com ele estudaram e trabalharam no Laboratório. Segundo Ferraz (1997), Domingos Vandelli adotava o livro Institutiones Chemiae Praelectionibus Academicis adcommodatae de J. R. Spilmann, mas também indicava outros autores como Boerhaave, Hoffmann, Geofroy, Maquer e Baumé. A Carta Régia, de 1791, que outorgou o título de Doutor a Vicente Seabra Telles também o nomeou Demonstrador de Química e Metalurgia do Curso Filosófico da Universidade de Coimbra. Nesta função, que cumpriu até 1795, foi antecedido por Tomé Rodrigues Sobral que deixou o cargo para assumir a direção do Laboratório Químico, que ficara vaga pela jubilação de Domingos Vandelli. Entre 1795 e 1801 Seabra Telles foi Lente Substituto de Zoologia, Mineralogia, Botânica e Agricultura. Na cadeira de Química tornou-se o 2º Lente Substituto em 1801, cargo que exerceu até o falecimento, em março de 1804 (PITA, 1996).

Para Amorim da Costa, a nomeação de Rodrigues Sobral e Vicente Seabra Telles como responsáveis pelo Laboratório Químico, leva “Portugal a enveredar pelos caminhos apontados pela metodologia consignada pelos Estatutos da Reforma Pombalina, acertando o passo com a revolução química que então se processava na Europa pela mão de Lavoisier” (AMORIM da COSTA, 1984, p. 50).

Entre 1787 e 1802 Seabra Telles escreveu duas dissertações e seis “memórias”: Também traduziu a obra do italiano Francisco Toggia “História e Cura das enfermidades mais usuais do boi e do cavalo” em dois volumes. Elementos de Chimica offerecidos a sociedade Litteraria do Rio de Janeiro para usos do seu curso de Chimica, em dois volumes (1788 e 1790), é a primeira obra impressa de um químico brasileiro, pioneira também na abordagem da Química Moderna. Publicada um ano antes do Traité Élementaire de Chimie de Lavoisier, Elementos de Chimica foi escrito de acordo com os princípios que levaram à Revolução Química. A descrição precisa dos procedimentos de laboratório reveste a obra de um caráter inédito. Em 1801, Vicente Seabra, seguindo as propostas de Lavoisier e seus colaboradores, expressas no Méthode de Nomenclature Chimique, de 1787, publicou sua obra A Nomenclatura Chimica, portugueza, franceza e latina, elaborada na base de palavras gregas e latinas com terminações características para diferentes funções químicas. Com pequenas modificações esta nomenclatura é usada atualmente (AMORIM da COSTA, 1984). O valor destas duas obras de Vicente Seabra não foi reconhecido e seus livros foram pouco difundidos e sequer adotados em Coimbra ou no Brasil. O curso de Química da Sociedade Literária do Rio de Janeiro jamais existiu (FILGUEIRAS, 1985). Partícipe da ilustrada rede de informações do mundo-luso brasileiro, Seabra Telles permaneceu ignorado por mais de cem anos em sua terra natal.

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OS IDEAIS ILUMINISTAS NA OBRA DE VICENTE SEABRA TELLES

A Ilustração - interpretação portuguesa do Iluminismo - caracterizou-se pela implantação de reformas no sistema de ensino visando superar o descompasso econômico e cultural em relação aos países europeus, principalmente França, Holanda e Inglaterra. A urgência na superação do “atraso” exigia a aplicação prática dos conhecimentos adquiridos, sendo um dos seus reflexos as Memórias escritas pelos homens das Letras, de Coimbra e da Academia das Ciências de Lisboa (NOVAIS, 1994). Para Carlota Boto, o Iluminismo português tinha como uma de suas marcas a dimensão religiosa convivendo com a ideia de um Estado que administrava as questões temporais, situando-se entre a laicidade e a secularização (BOTO, 2010). A subordinação dos padres seculares ao governo se estendia aos espaços religiosos. Assim, questões envolvendo os sepultamentos, que deveriam ser feitos nas igrejas mediante pagamento, eram submetidas à apreciação das autoridades civis (CARRATO, 1968).

A obra de Vicente Seabra Telles, Memória sobre os prejuízos causados pelas sepulturas nos templos e métodos de os prevenir, publicada em 1800, situa-se entre esses aspectos da Ilustração, como veremos a seguir. Seabra Telles deixa claro o ideário ilustrado da época, ao oferecer a obra ao Príncipe Regente, exaltando-o por possuir as “qualidades sublimes, e sómente proprias dos verdadeiros Soberanos, dos verdadeiros Pays da Patria...” quais sejam a de promover a saúde pública, a agricultura, o comércio, as artes e educar a nação.

Figura 1: Página de rosto da Memória de Vicente Seabra Telles publicada em 1800.

Na introdução à obra, Seabra Telles argumenta contra o sepultamento de cadáveres nas igrejas expondo que, enquanto os povos “antigos” destinavam os corpos ao embalsamamento, ao sepultamento em lugares arejados ou a cremação, preservando os templos, como deveria ser, “lugar das oblações divinas”, [...] “nós os

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Catholicos Romanos, professando a mais pura, e a mais santa Religião, não sei porque fatalidade fazemos com a sepultura dos cadáveres, que os santos edifícios em vez de serem attractivos puros, e saudáveis, sejam pavorosos, impuros, e a origem de innumeraveis doenças”. Este costume, segundo Vicente Seabra Telles é próprio dos abastados pois “ ..o luxo penetrando até o Santuario quiz também acompanhar os homens depois de mortos. Os grandes quizerão prerrogativas até no lugar da sepultura; passárão a ser enterrados nas Igrejas: e finalmente a pureza dos templos foi manchada pelo dinheiro dos outros” (pp.1 e 2).

Vicente Seabra Telles assinala que sua Memória seria desnecessária se “as luzes das Sciencias Naturaes estivessem assás espalhadas entre nós”, e que, como isto infelizmente não acontece, ele deseja concorrer para o bem público, alertando sobre o problema e ensinando os meios de remediá-lo (p. 3). Como naturalista, o autor situa as causas do problema, caracterizando-o como de saúde pública; analisa as motivações sociais do mesmo (privilégios de uma classe dominante) e se propõe a esclarecer a população divulgando os resultados de seus estudos.

De início, Seabra Telles discorre sobre a composição química dos corpos dos “Três Reinos da Natureza” (animal, vegetal e mineral) citando autores contemporâneos, como Buffon e Berthollet, e usando a nomenclatura química proposta por Lavoisier. Explica que nos corpos organizados, a vida (nascimento, crescimento e nutrição) depende da união de elementos ou princípios, segundo proporções pré-definidas levando a uma “conservação equilibrada”, “de maneira que, faltando qualquer destas circunstâncias, ha perturbação na máquina animal, ou vegetal e ha, por conseguinte, doença” (p. 6). A perda desse equilíbrio levaria a novas combinações, decorrentes de processos de fermentação e putrefação dos corpos. Conhecedor da presença de fósforo nos organismos vivos, Seabra Telles explica que os “espectros e luzeiros” que são observados à noite nas sepulturas se devem às emanações de “combinações phosphorosas”1 oriundas da matéria em decomposição (p.10). É uma abordagem característica das Luzes: a Razão sendo usada para iluminar o senso comum. O fogo-fátuo, animista e fantasmagórico, é explicado como uma decorrência da decomposição dos corpos.

Vicente Seabra Telles se refere a uma “emanação pútrida”2 venenosa, de natureza desconhecida, cuja atividade era moderada somente “pelo ar puro, pela água e pelos gases ácidos e ácidos líquidos” (pp. 10 e 11). Para ilustrar os perigos da “podridão”, o autor relata três epidemias ocorridas em Portugal: a grande epidemia acontecida na cidade do Porto, e causada pela “emanação podre da Igreja de Santo Ildefonso”, uma segunda ocorrida na mesma cidade, em 1779, “na Igreja dos Órfãos e a que ocorreu em 1800, na margem esquerda do rio Mondego” (pp. 12 e 13). Desta última, da qual se encarregou de investigar e quase foi vítima, segundo relata, descobriu que teve início na Igreja de Alfarellos, onde apareceram os primeiros infeccionados. Atribui as febres às emanações podres e a propagação da epidemia à temperatura ambiente, pois constatara que essas se alastravam com mais intensidade no verão. Em uma época em que vírus e moléculas eram desconhecidos, as doenças endêmicas eram frequentemente atribuídas a miasmas de diversas origens.

1 A decomposição da matéria orgânica animal por microrganismos produz metano, fosfina, sulfeto de

hidrogênio, dióxido de carbono, cadaverina e putrescina. O metano e a fosfina, em contato com o oxigênio do ar, entram em combustão espontânea com liberação de uma chama azulada, o fogo-fátuo.

2 As aminas, cadaverina (C

5H14N2) e putrescina (C4H12N2), responsáveis pelo odor de carne podre, só

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Entre os procedimentos para desinfetar as igrejas e moderar os efeitos das emanações, Seabra Telles sugere a ventilação dos lugares, a lavagem com água e a borrifação com ácidos, entre eles o vinagre por ser mais barato. Condena o uso corrente de “queimar lenhas e corpos alcatroados, resinosos, etc...”, pois esta ação, além de ineficaz, serve apenas para moderar o odor e produzir grande quantidade de “gaz acido carbônico” (dióxido de carbono), que é “igualmente nocivo” e aumenta a “malignidade do lugar” (p.14). Passa, então, a descrever as propriedades desse gás e alerta para o perigo de intoxicação ou mortes quando fogareiros são acesos em ambientes com pouca ventilação. Vale-se assim, da Química, da Medicina e da Filosofia Natural para difundir conhecimentos úteis ao tratamento da saúde e aos cuidados com o ambiente.

Na última parte da obra, Vicente Seabra Telles apresenta propostas para resolver o problema causado pelas sepulturas nas igrejas e mesmo nos cemitérios. A primeira sugestão é a de que os cadáveres sejam cremados. Segundo o autor, este seria o meio mais eficaz para evitar as emanações pútridas, pois assim as partes voláteis seriam eliminadas restando a “parte fixa” em forma de cinzas que poderiam ser enterradas nas igrejas ou nos cemitérios evitando a contaminação do terreno. Outra providência seria a de construir cemitérios afastados dos aglomerados urbanos em locais altos por serem secos e ventilados, onde os corpos seriam colocados em covas, envoltos por uma camada de cal viva e recobertos com terra ou embalsamados e guardados em mausoléus. O autor considera que talvez estas duas propostas não sejam levadas em conta devido ao antigo costume “entre nós” de sepultamento nas igrejas e da “tão mal entendida piedade e reverencia para com os mortos” (p. 25). “Será possível, que o orgulho favorecido pelo fanatismo se deixe vencer pelas vozes da singela razão?” (p. 24).

Para o caso de não serem aceitas essas propostas anteriores, mantendo-se os sepultamentos nas igrejas, apresenta duas outras soluções. Na primeira sugere a substituição das terras das sepulturas já existentes, onde avalia estejam enterrados trinta cadáveres em cada uma. Para este cálculo recorre à obra de Fr. Nicoláo de Oliveira, Grandezas de Lisboa, de 1620 (p. 26). As terras removidas seriam depositadas em um cemitério geral para que as “emanações venenosas” fossem dissipadas e anuladas pela ação do ar, da umidade e do calor. Para as novas sepulturas, Seabra Telles descreve alguns cuidados a serem tomados (profundidade da cova, intervalo de tempo para novo sepultamento, números de corpos, etc.), e detalha o uso da cal para evitar as dissipações do “gaz acido carbonico” e do vinagre para destruir a “emanação pútrida” (p. 29).

Vicente Seabra Telles concebe suas propostas para evitar os males descritos como ensinamentos que advém dos “progressos da Philophia Natural, que tantos recursos tem prestado às necessidades sociaes! Esta Sciencia, Mãi fecunda, e inexhaurivel de todas as artes, e descobrimentos uteis” (p.25). Para os reformadores da Universidade de Coimbra a ciência deveria concorrer para a solução dos problemas humanos e transformar a história da civilização portuguesa, respondendo o que a sociedade deveria fazer e como deveria viver (GAUER, 1996). Formado na universidade coimbrã e nela trabalhando, Seabra Telles personifica seus ideais ilustrados.

Em Carta Régia de 14 de janeiro de 1801, D. João proíbe o sepultamento nas igrejas e ordena a construção de cemitérios afastados das cidades, repercutindo assim,

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a Memória que Vicente Seabra Telles lançara no ano anterior (CARRATO, 1968). Ao tomar providências relativas à saúde pública, o Príncipe Regente correspondia à exaltação que autor fizera ao dedicar-lhe a obra.

ÀGUISA DE CONCLUSÃO

Ao longo deste trabalho analisamos a trajetória do estudante Vicente Coelho Seabra da Silva e Telles, e em seguida, uma de suas obras, escrita quando já estava estabelecido como naturalista. Os estudos em Minas Gerais e, principalmente em Coimbra onde, como discípulo do ilustrado naturalista italiano Domingos Vandelli, graduou-se em Filosofia Natural e Medicina, atestam a formação de Seabra Telles como homem das Letras. A sua carreira na Universidade de Coimbra Reformada, onde ocupou os cargos de Demonstrador do Laboratório Químico, Lente de Zoologia, Mineralogia, Botânica e Agricultura e de Química e a condição de sócio da Academia das Ciências de Lisboa, são evidências de uma vida laboral imersa no universo das Luzes.

Concluímos que a obra de Seabra Telles, Memória sobre os prejuízos causados pelas sepulturas nos templos e métodos de os prevenir, reflete a formação ilustrada de seu autor, evidenciada no uso do conhecimento científico para propor solução a uma questão ambiental e de saúde pública. Ao lançar mão de argumentos baseados na Filosofia Natural, Seabra Telles se posiciona contra arraigados costumes religiosos e privilégios de classe. O uso da Razão para promover o bem estar dos indivíduos e o progresso da pátria eram os principais esteios do ideário iluminista.

AGRADECIMENTOS

Ao senhor Manoel Monteiro de Castro Seabra e família, de Congonhas, pela solidariedade em dividir informações e partilhar interesses na pesquisa, ao Arquivo Eclesiástico da Arquidiocese de Mariana AEAM) e ao IBRAM – Casa do Pilar, Ouro Preto.

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