I am reading to you!
–
Ler + e
mais Além
Promoção de leitura junto de idosos em colaboração com a
Biblioteca Municipal
02 /
08 /2017
Agrupamento de Escolas de Macedo de Cavaleiros
Prof. Luísa Félix Turma 10.º C
Celebrar o Dia dos Namorados
Namoro
De Viriato da Cruz (poeta angolano)
Mandei-lhe uma carta em papel perfumado e com a letra bonita eu disse ela tinha um sorrir luminoso tão quente e gaiato como o sol de Novembro brincando de artista nas acácias floridas espalhando diamantes na fímbria do mar e dando calor ao sumo das mangas. sua pele macia - era sumaúma... Sua pele macia, da cor do jambo, cheirando a rosas tão rijo e tão doce - como o maboque... Seu seios laranjas - laranjas do Loge seus dentes... - marfim... Mandei-lhe uma carta e ela disse que não.
Mandei-lhe um cartão que o Maninjo tipografou: "Por ti sofre o meu coração"
Num canto - SIM, noutro canto - NÃO E ela o canto do NÃO dobrou.
Mandei-lhe um recado pela Zefa do Sete pedindo rogando de joelhos no chão pela Senhora do Cabo, pela Santa Ifigénia, me desse a ventura do seu namoro... E ela disse que não.
Levei à avó Chica, quimbanda de fama a areia da marca que o seu pé deixou para que fizesse um feitiço forte e seguro que nela nascesse um amor como o meu... E o feitiço falhou.
Esperei-a de tarde, à porta da fábrica, ofertei-lhe um colar e um anel e um broche, paguei-lhe doces na calçada da Missão, ficamos num banco do largo da Estátua, afaguei-lhe as mãos... falei-lhe de amor... e ela disse que não. Andei barbado, sujo, e descalço, como um mona-ngamba. Procuraram por mim
" - Não viu...(ai, não viu...?) Não viu
Benjamim?" E perdido me deram no morro da Samba. E para me distrair
levaram-me ao baile do sô Januário mas ela lá estava num canto a rir
contando o meu caso às moças mais lindas do Bairro Operário
Tocaram uma rumba dancei com ela e num passo maluco voamos na sala qual uma estrela riscando o céu! E a malta gritou: "Aí Benjamim!" Olhei-a nos olhos - sorriu para mim pedi-lhe um beijo - e ela disse que sim.
Presságio
De Fernando Pessoa
O AMOR, quando se revela, Não se sabe revelar. Sabe bem olhar p'ra ela, Mas não lhe sabe falar.
Quem quer dizer o que sente Não sabe o que há de dizer. Fala: parece que mente... Cala: parece esquecer...
Ah, mas se ela adivinhasse, Se pudesse ouvir o olhar, E se um olhar lhe bastasse P'ra saber que a estão a amar!
Mas quem sente muito, cala; Quem quer dizer quanto sente Fica sem alma nem fala, Fica só, inteiramente!
Mas se isto puder contar-lhe O que não lhe ouso contar, Já não terei que falar-lhe Porque lhe estou a falar...
Amor é fogo que arde sem se ver
De Luís de Camões
Amor é fogo que arde sem se ver; É ferida que dói e não se sente; É um contentamento descontente; É dor que desatina sem doer;
É um não querer mais que bem querer; É solitário andar por entre a gente; É nunca contentar-se de contente; É cuidar que se ganha em se perder;
É querer estar preso por vontade; É servir a quem vence, o vencedor; É ter com quem nos mata lealdade.
Mas como causar pode seu favor Nos corações humanos amizade, Se tão contrário a si é o mesmo Amor?
Talvez houvesse uma flor
De David Mourão Ferreira
Talvez houvesse uma flor aberta na tua mão. Podia ter sido amor, e foi apenas traição.
É tão negro o labirinto que vai dar à tua rua. . .
Ai de mim, que nem pressinto a cor dos ombros da Lua!
Talvez houvesse a passagem de uma estrela no teu rosto. Era quase uma viagem: foi apenas um desgosto.
É tão negro o labirinto que vai dar à tua rua... Só o fantasma do instinto na cinza do céu flutua.
Tens agora a mão fechada; no rosto, nenhum fulgor. Não foi nada, não foi nada: podia ter sido amor.
Cantiga partindo-se
De Joan Roiz de Castelo-Branco
Senhora, partem tão tristes meus olhos por vós, meu bem, que nunca tão tristes vistes outros nenhuns por ninguém.
Tão tristes, tão saudosos, tão doentes da partida, tão cansados, tão chorosos da morte mais desejosos cem mil vezes que da vida.
Partem tão tristes os tristes, tão fora d'esperar bem, que nunca tão tristes vistes outros nenhuns por ninguém.
Canção
De Eugénio de Andrade
Tinha um cravo no meu balcão; Veio um rapaz e pediu-mo - mãe, dou-lho ou não?
Sentada, bordava um lenço de mão; Veio um rapaz e pediu-mo - mãe, dou-lho ou não?
Dei um cravo e dei um lenço, Só não dei o coração;
Mas se o rapaz mo pedir - mãe, dou-lho ou não?
Amar!
De Florbela Espanca
Eu quero amar, amar perdidamente! Amar só por amar: Aqui... além...
Mais Este e Aquele, o Outro e toda a gente… Amar! Amar! E não amar ninguém!
Recordar? Esquecer? Indiferente!... Prender ou desprender? É mal? É bem? Quem disser que se pode amar alguém Durante a vida inteira é porque mente!
O Amor é uma companhia
De Fernando Pessoa
O amor é uma companhia.
Já não sei andar só pelos caminhos, Porque já não posso andar só. [...]
Se a não vejo, imagino-a e sou forte como as árvores altas.
Mas se a vejo tremo, não sei o que é feito do que sinto na ausência dela. Todo eu sou qualquer força que me abandona.
Toda a realidade olha para mim como um girassol com a cara dela no meio.
Todas as cartas de amor são ridículas
De Fernando Pessoa
Todas as cartas de amor são Ridículas.
Não seriam cartas de amor se não fossem Ridículas.
Também escrevi em meu tempo cartas de amor, Como as outras, Ridículas.
As cartas de amor, se há amor, Têm de ser Ridículas.
Mas, afinal,
Só as criaturas que nunca escreveram Cartas de amor
É que são Ridículas. [...]
Quadras para os assistentes lerem
Quadras ao gosto popular, de Fernando Pessoa
Levas uma rosa ao peito E tens um andar que é teu ... Antes tivesses o jeito
De amar alguém, que sou eu.
Dá-me um sorriso ao domingo, Para à segunda eu lembrar. Bem sabes: sempre te sigo E não é preciso andar.
Todos os dias que passam Sem passares por aqui São dias que me desgraçam Por me privarem de ti.
Não sei que grande tristeza Me fez só gostar de ti Quando já tinha a certeza De te amar porque te vi.
Vem cá dizer-me que sim. Ou vem dizer-me que não. Porque sempre vens assim P'ra ao pé do meu coração.
Quadras populares
Costumei tanto os meus olhos A namorarem os teus
Que, de tanto confundi-los, Nem já sei quais são os meus. Ó meu amor, se te fores, Leva-me, podendo ser, Que eu quero ir acabar Onde tu fores morrer.
No alto daquela serra Está um sobreiro ao vento Muito enganado anda Quem comigo perde tempo
Tenho dentro do meu peito Uma laranja partida
Para dar ao meu amor Que anda de beiça caída
As estrelas miudinhas Fazem o céu bem composto Assim são esses teus olhos Na flor desse teu rosto
S'eu tivesse não pedia Coisa nenhuma a ninguém Como não tenho eu peço Um amor a quem dois tem.
Celebrar o Carnaval
Provérbios
Carnaval na eira, Páscoa na lareira.
Do Natal ao Entrudo é um mês que nem um burro e, quem bem contar, sete semanas lhe há de achar.
No Entrudo come-se tudo.
No Natal semeia o alhal, mas se o quiseres cabeçudo, fá-lo no Entrudo.
No Natal, fiar; no Entrudo, dobar; na Quaresma, tecer; e na Páscoa, coser.
Quer no começo, quer no fundo, em Fevereiro vem o Entrudo.