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Enquadramento na política florestal nacional da valorização da biomassa florestal como energia alternativa

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Enquadramento na política florestal nacional da valorização da biomassa florestal como energia alternativa

Dina Anastácio Cristina Santos António Leite

DGRF – Direcção-Geral dos Recursos Florestais. Av. João Crisóstomo 28. 1069-040 Lisboa Resumo

Com esta apresentação pretende-se equacionar o papel da floresta Portuguesa como produtora de “Biomassa” como fonte de energia renovável (FER), e o seu contributo para a produção de energia eléctrica no enquadramento estratégico dos compromissos internacionais assumidos, dos quais se destacam pela sua importância em termos de política energética renovável:

O protocolo de Quioto relativo às emissões de gases com efeito de estufa; Directiva comunitária relativa às energias renováveis;

Estratégias e planos nacionais destinados ao cumprimento dos objectivos propostos.

Deste conjunto de compromissos resultou a publicação do Conselho de Ministros nº 63/2003 de 28 de Abril onde se prevê o crescimento da produção de electricidade a partir de FER de 14% em 1997 para 22% em 2010, no qual se enquadra a biomassa florestal e em particular os resíduos florestais.

Esta avaliação passará numa primeira fase pela caracterização da situação actual, nomeadamente pela apreciação dos aspectos positivos e negativos inerentes à utilização da biomassa florestal, com especial enfoque para os aspectos sociais, económicos, risco de incêndio, exploração florestal, etc..

Por fim pretendemos analisar os instrumentos de política adoptadas pelo sector florestal no apoio à utilização de biomassa florestal, e em particular focar o desenvolvimento do sector energético no caso da Central de Mortágua.

Como conclusão, é nosso objectivo apontar soluções, e medidas de política, de modo a promover a utilização de biomassa florestal, assegurando a sustentabilidade da floresta portuguesa em todas as suas vertentes.

Palavras-chave: Biomassa florestal; energias renováveis; política florestal

Introdução

O aproveitamento dos resíduos florestais, está desde sempre ligado à necessidade em madeira para energia, nomeadamente para utilização doméstica. Com o desenvolvimento industrial muitos destes resíduos foram canalizados, desde cedo, para o abastecimento de unidades industriais como fonte de energia.

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Os compromissos internacionais assumidos por Portugal no que se refere à emissão de gases com efeito de estufa (GEE) e a definição de uma estratégia para responder às alterações climáticas, reforçaram a necessidade de se considerar a eficiência energética e a promoção de energias endógenas, diminuindo a aquisição de combustíveis fosseis ao exterior, com destaque para as energias renováveis.

O aproveitamento de resíduos florestais, na generalidade dos casos, é realizado manualmente, recorrendo-se, de modo complementar, após as operações de podas, desrama, limpezas, ou abate de árvores à recolha e transporte das ramagens, bicadas, pinhas etc., para o local de transformação. A tradicional limpeza de matos para obtenção de biomassa para a cama do gado e para fins energéticos caiu praticamente em desuso.

As lenhas e o carvão vegetal em Portugal, que se continuam a comercializar, têm hoje origens tão distintas como a oliveira, o eucalipto, o sobreiro e a azinheira.

Sobre o aproveitamento de biomassa florestal para fins energéticos, estudos concluíram pela abundância do recurso (38% do território nacional é coberto pela floresta), e pela dificuldade em concretizar o seu aproveitamento, fundamentalmente por razões sociais, económicas e técnicas.

Enquadramento da política energética nacional nos compromissos internacionais

No enquadramento estratégico dos compromissos internacionais assumidos, dos quais salientamos pela sua importância, em termos de política energética renováveis, o protocolo de Quioto, relativo às emissões de gases com efeito de estufa e a Directiva comunitária relativa à promoção da electricidade produzida a partir de fontes de energia renováveis no mercado interno da electricidade (Directiva 2001/77/CE, de 27 de Setembro de 2001) resultaram as estratégias e planos nacionais destinados ao cumprimento dos objectivos propostos, dos quais salientamos a publicação da RCM nº 63/2003 de 28 de Abril, onde se prevê o crescimento da produção de electricidade a partir de FER de 14%, em 1997, para 22%, em 2010, no qual se enquadra a biomassa florestal e em particular os resíduos das indústrias florestais.

Neste contexto, um dos grandes objectivos é a diversificação das fontes e aproveitamento dos recursos endógenos, que obviamente passam pelo aumento da participação das energias renováveis, na produção energética total. Uma das medidas a adoptar é redução da dependência externa de energia primária, nomeadamente através do incentivo às energias renováveis, cuja finalidade passa pela redução da dependência de Portugal face ao petróleo.

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A quantidade de biomassa florestal residual disponível é de aproximadamente 2.2 milhões de ton./ano, que incluem os resíduos resultantes da indústria da madeira de 1ª e 2ª transformação e da indústria de celulose, sem grandes alternativas de valorização. A biomassa florestal surge neste âmbito como um dos recursos endógenos a considerar para a produção de energia eléctrica, estando previsto um aumento de 10 MWe, em 2001, para 150 MWe, em 2010 (metas estabelecidas na RCM n.º 63/2003). Mais recentemente pela RCM n.º 171/2004, de 29 de Novembro, o Governo aprovou um “Programa de Actuação para reduzir a dependência de Portugal face ao petróleo”, onde está previsto um aumento significativo da produção de energia de fontes renováveis, no qual a medida E3 – Estímulo à utilização da biomassa residual florestal, estabelece medidas para a criação de incentivos à existência de circuitos de recolha e transporte, aumentando a fiabilidade, reduzindo o custo da biomassa e promovendo a prevenção de fogos florestais. Foi ainda neste contexto, estabelecida uma medida de desenvolvimento de um processo eficiente de recolha sistémica da biomassa proveniente da limpeza de matas e florestas, assim como a actualização da tarifa de MWe, da energia a partir da biomassa florestal.

Breve caracterização do sector das energias renováveis, e o papel da biomassa florestal O aproveitamento de biomassa florestal para energia eléctrica, ou simultaneamente para produção de energia eléctrica e calor (cogeração), enquadra-se na organização do Sistema Eléctrico Nacional, que se baseia na existência de dois sistemas complementares: o Sistema Eléctrico Público e o Sistema Eléctrico Independente – Produção em Regime Especial, de sistemas de menor dimensão, por ex., a Central Termoeléctrica de Mortágua, e instalações de cogeração, ambas não totalmente integradas nas grandes fileiras energéticas, mas relacionando-se com elas. A construção e exploração deste tipo de centros produtores dependem da livre iniciativa dos promotores, e estão dependentes da autorização da Administração Pública, dos incentivos públicos, e acesso à rede e tarifas de venda à rede pública.

Com o objectivo da produção de energia eléctrica a partir de fontes renováveis atingir o valor de 39% do total do consumo energético nacional, o Governo estabeleceu através do. RCM 63/2003 uma meta para cada grupo de energia renovável no sentido de atingir no global o valor de 9 680 MW em 2010, registando-se como valor referencial a capacidade instalada de 4603 MWe, em 2001. No seu conjunto destacam-se a energia eólica (40%) e a hidroeléctrica (51%) com maior contribuição para o total, competindo à biomassa florestal, um aumento de 10 MWe para 150 MWe (1,5%), apontando-se níveis semelhantes para a energia solar, entre outras.

Em 2004 existiam apenas 3 pequenas centrais em operação e estima-se ser necessário construir pelo menos 16 novas centrais, destinadas ao para o aproveitamento de biomassa florestal, até 2010 (da mesma ordem de grandeza), de forma a cumprir os objectivos estabelecidos.

No quadro de aproveitamento da biomassa florestal, como fonte de calor, temos que distinguir a produção doméstica, da produção de calor ao nível das indústrias da fileira florestal, com particular relevo para a indústria do papel madeira e mobiliário.

Na última década a utilização da biomassa, como fonte energética de calor e electricidade, aumentou ao nível industrial, diminuindo o nível da utilização doméstica. É de realçar o contributo das indústrias da fileira florestal, que através do Programa Energia, (actualmente PRIME), concretizaram projectos de aproveitamento energético, utilizando os resíduos florestais associados à produção deste sector.

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Análise dos principais constrangimentos ao aproveitamento da biomassa residual florestal para produção de energia

Numa primeira fase, far-se-á a análise dos principais constrangimentos à utilização da biomassa florestal, com especial enfoque para os aspectos sociais, económicos e tecnológicos de conversão energética e, ainda os inerentes à gestão florestal.

Existe alguma relutância por parte da sociedade Portuguesa, em aceitar o recurso à biomassa florestal como fonte de energia renovável. Esta situação pode explicar-se a dois níveis, por um lado a identificação do recurso a lenhas e outros resíduos florestais, numa sociedade rural, pobre e pouco desenvolvida, que perdurou até perto dos anos 80, cujas actividades eram praticamente dependentes da utilização desta energia, por outro lado ao nível industrial a substituição desta energia por gás natural e outras, mais limpas e fiáveis. De notar a falta de divulgação da importância das políticas nacionais, cuja justificação é muitas vezes demasiado técnica para o entendimento da população em geral.

É de realçar o papel que podem desempenhar os projectos-piloto nesta área da divulgação, como formas de demonstração de tecnologias e de ligação ao tecido social e económico, factores determinantes no sucesso destes projectos.

A criação de emprego inerente a aproveitamentos energéticos com utilização de biomassa, e a necessidade de conexão com dinâmicas de desenvolvimento regional, que estes implicam, traduzem-se numa primeira fase na adesão imediata a estes investimentos, de municípios dominantemente florestais e com fraco desenvolvimento industrial. No entanto, é comum no seu seguimento a desistência, dado a multiplicidade de actores intervenientes no processo, que a par com outros constrangimentos, se verifica na desmotivação e na não concretização dos investimentos (compare-se o nº de estudos realizados no país com o nº de projectos concretizados).

A floresta produz aproximadamente 12 milhões m3 de madeira, destinada às indústrias de serração, e de trituração, abastecendo ainda uma importante indústria de postes e outra madeira industrial, que satisfazem ainda consumos directos dos produtores, especialmente de lenhas. De salientar, que a indústria dos painéis consome grandes quantidades resíduos e controla o mercado das indústrias da madeira e do mobiliário, o que gera conflitos de interesses, com a possível valorização energética desta matéria-prima. Por outro lado, as indústrias de pasta para papel possuem e fazem a gestão por arrendamento de uma área significativa de eucaliptal, para além de orientarem as empresas de exploração e abastecimento nesta área. As indústrias das serrações, consumindo aproximadamente 6 milhões de m3 (cc), não detêm nem exploram áreas de pinhal directamente. Em termos práticos as celuloses avançaram recentemente para a certificação da gestão florestal sustentável, que no caso da Stora-Enso (Celbi) exclui liminarmente a recolha dos resíduos florestais após o corte, o que constitui alguns obstáculos ao desenvolvimento de projectos na área da biomassa. Este requisito poderá não vir a ser seguido pelas restantes empresas que se interessarem pela área energética, onde poderão integrar no processo da exploração florestal o aproveitamento de resíduos, garantindo o fluxo contínuo do abastecimento e uma consequente valorização económica na exploração florestal.

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Por outro lado o pinhal apresenta ao nível nacional, valores baixos de volume por hectare (existência/ha), o que se justifica pelo abandono destas áreas e pelo tipo de gestão praticada, que na maioria das situações corresponde a uma selecção pela negativa, cortando-se as melhores arvores ficando o povoamento remanescente constituído por material de fraca qualidade. É pois de esperar volumes de resíduos florestais após o corte do pinhal muito inferiores em área e por ha, aos resultantes dos cortes dos povoamentos de Eucalipto. Pelas suas características, de uma maneira geral a floresta portuguesa encontra-se frequentemente bastante aberta e sub-lotada do ponto de vista produtivo.

Recentemente a publicação da actualização das tarifas referentes às energias renováveis, desceram cerca de 18% na eólica e aumentaram quase 39% na biomassa e 28% no biogás. Este aumento da tarifa para a biomassa ao passar de 67 euros para valores entre os 100 a 105 euros por MWh, tem como objectivos simultaneamente contribuir para a limpeza das florestas, reduzir o risco de incêndios, e finalmente conseguir atingir a meta de 150MW.

Tendo como referência o ano de 2003, à porta da Central Termoeléctrica de Mortágua, as remunerações que resultam da venda de resíduos da exploração florestal ou das limpezas de arvoredo, sem valor comercial da matéria-prima, variam entre os 12.05€/ton até 31.42 €/ton, de acordo com a % de humidade de para material estilhaçado. Presentemente estes resíduos poderão vir a ser remunerados a um nível muito superior, que compense os custos inerentes à rechega, recolha, transporte e tratamento (vários estudos apontam para valores que dependentes das condições do terreno, e do modo de exploração, atribuem custos de exploração superiores à remuneração praticada pela Central).

Quanto à casca de pinheiro e eucalipto, é actualmente remunerada pela central a preços muito inferiores aos anteriores, aproximadamente de 12 €/ton.

Na indústria de madeira de 1ª transformação o aproveitamento de resíduos, nomeadamente da casca de pinheiro, poderá ser em grande parte absorvido ao nível industrial como fonte energética, dado que a alternativa da sua valorização é pequena (existem algumas unidades de transformação de casca em composto orgânico), no entanto o seu destino é obrigatoriamente para aterro, no caso de não existir outra alternativa de valorização, cujos custos são imputados ao produtor de resíduos. A fracção utilizada como combustível em Mortágua e noutras centrais não é significativa.

Como consequência do previsível aumento do preço da biomassa, poderá ser a arborização com espécies dedicadas à biomassa, exploração que a lei não prevê ao proibir cortes com diâmetros inferiores a 7,5cm (pinheiro-bravo e eucalipto, as espécies mais representativas do coberto florestal português).

Estudos na área de “Sistemas de recolha de resíduos resultantes das operações de exploração florestal”, concluíram que:

ƒ “o aproveitamento de resíduos resultantes das operações florestais para a produção de energia não deve ser encarada separadamente da exploração de material lenhoso”;

ƒ “resultados dos ensaios estabelecidos evidenciaram, em todas as situações, ser possível conciliar o aproveitamento dos resíduos com a exploração do material lenhoso a custos inferiores aos obtidos para os sistemas tradicionais”.

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Com uma área de 1,2 milhões de hectares, os sistemas agro-silvo-pastoris, constituídos pelos montados de sobro e azinho e ainda pelos soutos, predominam nas regiões mediterrâneas e de maior continentalidade. A produção lenhosa é secundária obtendo-se cerca de 250 mil m3/anuais proveniente de podas e desbastes que se destinam à queima doméstica ou industrial.

A politica florestal e o aproveitamento de biomassa florestal

A valorização energética da biomassa, resultante dos resíduos da exploração florestal, matos, madeira sem valor comercial, etc., tem a vantagem de poder contribuir para a diminuição da probabilidade de ocorrência de incêndios florestais, através da limpeza das florestas, objectivo que recentemente veio a ser reforçado justificando o aumento da tarifa.

Neste sentido, a integração dos aspectos da valorização energética na definição da política florestal do país passa pelas estruturas de prevenção e combate aos fogos, e pela concretização territorial das várias funções do espaço florestal, utilizações ou actividades dominantes, devendo ter sempre presente a definição das “áreas criticas” do ponto de vista do risco de incêndio da sensibilidade á erosão etc., assim como o conceito de uso múltiplo florestal.

A utilização do território no âmbito do planeamento florestal regional deve fundamentar as práticas de gestão a aplicar aos espaços florestais, permitindo a aplicação regional das directrizes estratégias nacionais e a monitorização da gestão florestal sustentável, que devem ser perfeitamente articuladas com outras politicas ambientais, nomeadamente a das energias renováveis, e mais concretamente, a promoção de biomassa.

A organização dos espaços florestais faz-se em cada região através dos 21 PROF, numa óptica de uso múltiplo, tendo sempre por base a satisfação das necessidades sociais em bens e serviços, presentes e futuras. Neste contexto, a análise funcional dos espaços florestais implica o agrupamento de subfunções em 5 funções principais, produção, protecção, recreio e paisagem, conservação de habitats, silvopastorícia caça e pesca, que constituíram a base fundamental de análise, da macrozonagem funcional de Portugal.

É no âmbito das políticas florestais nacionais e regionais (PROF), que deverá ficar expressa uma estratégia de promoção e consequente valorização que vise a utilização da biomassa para fins energéticos. Até à data, não existem objectivos específicos, devidamente quantificados, que nos permitam enquadrar a utilização da biomassa para a produção de energia.

Tendo em consideração a análise funcional dos espaços florestais, a produção de biomassa para a energia está definida no âmbito da função principal de produção. Este aproveitamento está associado aos principais sistemas silvo-lenhosos sobretudo representados pelo alto fuste de pinheiro-bravo e pelas talhadias de eucalipto. Considera-se ainda que este aproveitamento se pode efectuar nos sistemas agro-silvo-pastoris, constituídos por montados de sobro e azinho e ainda pelos soutos.

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No entanto, tendo em atenção a necessidade de definição de modelos de intervenção nas áreas de elevado risco de incêndio, que terão que ter em consideração os factores determinantes na diminuição desse risco; e delinear uma politica estratégica especifica para estas zonas no que se refere à reflorestação, beneficiação de áreas florestais, arborização de áreas agrícolas, manutenção de pastagens e áreas agrícolas etc., estes modelos poderão contribuir para o aproveitamento da biomassa, quer através do incentivo ao corte de matos quer de povoamentos muito densos, no sentido de criar descontinuidades no coberto florestal.

Apesar da regulamentação na maioria das situações, estipular a obrigatoriedade de repor a espécie ardida nem sempre isto é desejável. Considerando o risco inerente a qualquer investimento florestal nestas zonas, será de rever a prioridade da arborização, neste espaços florestais. Em áreas ardidas, de pinheiro bravo, mesmo em povoamentos relativamente jovens, verifica-se uma abundante regeneração natural, constituindo-se povoamentos excessivamente densos, que se não forem tratados dificilmente se reconstituem em povoamentos produtivos, e que constituem por si mesmos um factor de aumento do risco de incêndio. Uma das medidas a implementar no sentido de diminuir o risco de incêndio será o aproveitamento destas áreas de regeneração, como fonte de biomassa florestal com valorização energética, prevendo-se os cortes (intervenções culturais ou finais) entre os 5 e os 15 anos. Relativamente ao eucaliptal, após os incêndios verifica-se em muitos casos o abandono dos povoamentos (ausência de intervenções), dando origem a altas densidades de rebentos de toiça, cujo aproveitamento económico também poderá ser a valorização energética. Acresce que desde que as espécies se encontre desadequada ecologicamente, podem-se verificar conversões ao nível do coberto florestal, cabendo aos PROF a sua justificação.

Quanto à decisão relativamente à instalação de arborizações dedicadas à biomassa, terá igualmente que ter em consideração a alta inflamabilidade e combustibilidade das (re)arborizações, e se entendermos que os povoamentos instalados com fins de valorização energética potenciam essas características, a ponderação da sua instalação, terá que se integrar em zonas em que coexiste um mosaico de equilíbrio entre a ocupação agrícola e florestal, de baixo risco de incêndio ou justificando-se economicamente a sua instalação observar a inserção de faixas de protecção contra fogos, assim como distâncias mínimas a observar das plantações relativamente às estradas, caminhos, construções etc.

Acresce que grandes contributos para a valorização da biomassa florestal, podem ser dadas nas regiões onde o Conselho Nacional de Reflorestação intervém, nomeadamente através da definição de uma adequada rede de infra-estruturação ao nível da paisagem, que passa pela implementação de faixas de redução de combustível, que necessariamente terão, numa 1.ª fase de ser implementadas e no futuro de se garantir a sua manutenção.

Aproveitamento da biomassa florestal para energia – Considerações finais

Tendo em consideração a integração de aproveitamento da biomassa florestal no objectivo de protecção da floresta contra os incêndios, as medidas de promoção de biomassa florestal deverão ser articuladas com as de redução do risco de incêndio, nomeadamente nas que dizem respeito à diminuição do fitovolume. Esta estratégia só poderá ser eficiente se for complementar ao aproveitamento dos outros produtos florestais, sempre na perspectiva da maximização do rendimento da exploração florestal e na óptica de modelos de gestão florestal sustentável.

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Pontos fortes:

• O potencial do País para a produção florestal, e a existência de uma fileira industrial do papel, mobiliário, paletes etc.

• Alguma experiência adquirida com a Central termoeléctrica de Mortágua, na área do abastecimento e seu relacionamento com os agentes do sector; experiência adquirida pelo Centro da Biomassa para energia através de estudos desenvolvidos nestas matérias;

• Existência de alguma experiência na área da comercialização dedicada de lenhas e estilha, com os respectivos parques de tratamento e equipamento específico, financiados pela PO-AGRO , que poderão servir de projectos piloto;

• A disponibilidade de recursos para manter programas públicos no próximo quadro comunitário de apoio no plano da valorização energética da biomassa.

Pontos fracos

• Inexistência de um plano conjunto, para a biomassa florestal e agrícola residual;

• Fraco conhecimento e experiência de diferentes tecnologias de aproveitamento energético de biomassa;

• Possibilidade de ocorrência de conflitos entre as indústrias de trituração e o aproveitamento da biomassa para fins energéticos;

• Dificuldades no abastecimento pela existência de diferentes fontes e agentes intervenientes na fileira florestal, que não se dedicam exclusivamente ao negócio da biomassa; • Inexistência de equipamentos específicos de recolha de resíduos, com as inerentes dificuldades de recolha e comercialização e limitações inerentes ao tipo de propriedade: dimensão, dispersão e regime e orografia;

• Ausência de mercado para os resíduos florestais, não criou a tradição de recolha de resíduos em grande escala;

• O aproveitamento de resíduos resultantes da exploração florestal não pode ser encarada separadamente da exploração de material lenhoso;

• Incêndios florestais. Oportunidades

• Política energética favorável às fontes de energia renováveis, quanto ao aumento da tarifa da venda de energia MWe, que poderá viabilizar a exploração de resíduos florestais, assim como as arborizações dedicadas;

• O facto de terem sido entregues projectos nesta área que excede o objectivo esperado, poderá ser um indicador da concretização até 2010 dos objectivos previstos;

• A publicação dos instrumentos regionais de ordenamento do florestal – PROF, e a definição de modelos de organização do território e dos modelos gerais de silvicultura, em particular para as “zonas críticas”, poderão contribuir para um maior aproveitamento da biomassa, e claramente para a diminuição do risco de incêndio;

• A criação de emprego e as mais valias na exploração poderão beneficiar os proprietários e empresários impulsionando a gestão florestal em áreas florestais hoje sujeitas ao abandono; • A consciência crescente da importância das energias renováveis, reforçada presentemente com a crise do aumento do petróleo e os imperativos de ordem ambiental da nova politica energética;

• A melhoria da organização dos proprietários florestais, com um numero crescente de organizações do sector;

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• Necessidade da participação da investigação florestal na monitorização das áreas florestais sujeitas a recolha de resíduos, com o objectivo de não comprometer a sustentabilidade do ecossistema florestal.

Ameaças

• Falta de entendimento entre os agentes com interesse no sector, nomeadamente, no que se refere ao sector das indústrias trituradoras que consomem os resíduos oriundos da serração; • A recolha indiscriminada e sem regras de resíduos, pode levar à diminuição do fundo de fertilidade dos solos e diminuir o potencial de regeneração natural do meio florestal;

• Concorrência ao nível do mercado das diversas fontes de energias alternativas. Objectivos estratégicos

Destacam-se os principais objectivos estratégicos resultantes da análise estratégica:

Integração clara da exploração de biomassa residual florestal ao nível dos objectivos estratégicos da política florestal, quer sob a forma de biomassa residual florestal quer de arborizações dedicadas, e definição de acções que são apoiadas, e forma como são concedidos os apoios.

Monitorização das acções de exploração de biomassa residual florestal no sentido de compatibilizar a redução do risco de incêndio e a manutenção do fundo de fertilidade dos solos.

Definição de uma estratégia conjunta de aproveitamento de resíduos florestais, agrícolas e outros, com o objectivo de compatibilizar o seu aproveitamento energético com as diferentes tecnologias.

Promover o apoio técnico no sentido da ligação entre a produção de resíduos e o consumidor final.

Conclusão

A promoção da biomassa florestal é de interesse estratégico, tanto ao nível do sector florestal como também ao nível do sector energético, encontrando-se esta na política energética nacional.

Ao nível do sector florestal a valorização da biomassa passa necessariamente por uma integração deste vector na política florestal nacional, como foi referido.

O aproveitamento da biomassa florestal como fonte energia renovável, pode-se revelar numa oportunidade de valorização do mundo rural através da melhoria da gestão das explorações florestais, na criação de empreendimentos e de emprego, numa óptica de fileira florestal. O potencial produtivo do país relacionado com a diversidade dos sistemas florestais existentes, conduz a uma disponibilidade de recursos que devem merecer um adequado aproveitamento, num contexto socio-económico e ambiental.

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É pois neste contexto, que devem ser feitos todos os esforços para ultrapassar todos os estrangulamentos, referidos ao nível da análise estratégica.

Referências

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