• Nenhum resultado encontrado

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU INSTITUTO A VEZ DO MESTRE"

Copied!
41
0
0

Texto

(1)

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

A NECESSIDADE DA FORMAÇÃO DE PROFESSORES NOS CURSOS DE LICENCIATURA PARA LIDAR COM O BULLYING ESCOLAR

Por: Geórgia Célia de Oliveira Carvalho

Orientador: Prof. Vilson Sérgio de Carvalho Co-orientadora: Profª. Fernanda Sansão Ramos

Coronel Fabriciano

(2)

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

A NECESSIDADE DA FORMAÇÃO DE PROFESSORES NOS CURSOS DE LICENCIATURA PARA LIDAR COM O BULLYING ESCOLAR

Apresentação de monografia ao Instituto A Vez do Mestre – Universidade Candido Mendes como requisito parcial para obtenção do grau de especialista em Docência do Ensino Superior.

(3)

AGRADECIMENTOS

Agradeço aos professores orientadores pela ajuda e suporte oferecidos.

(4)

DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho à minha mãe Laila e ao meu esposo Murilo.

(5)

RESUMO

A presente monografia visa esclarecer o tema bullying, pouco conhecido, mas muito recorrente nas escolas do mundo todo.

O bullying acontece entre jovens e crianças de todas as classes sociais, e não está restrito a nenhum tipo determinado de escola. Por violência entre pares entende-se maus-tratos, opressão, intimidação e ameaças que ocorrem de forma intencional e repetida. Isso inclui gozações, apelidos maldosos e xingamentos que magoam profundamente a pessoa e podem causar sérios prejuízos emocionais, como perda de autoestima e exclusão social. Mas precisamos tomar cuidado para não patologizarmos os casos de violência entre pares.

Este trabalho também pretende mostrar o despreparo para lidar com tal situação, realidade de muitos professores brasileiros quando, por exemplo, esporadicamente, algumas crianças fazem brincadeiras inofensivas e se utilizam de palavras e de comportamentos não adequados durante suas brincadeiras; e isso nem sempre pode ser caracterizado como bullying. É preciso avaliar a intensidade e o significado dessas atitudes para que não se confunda uma brincadeira de mau gosto com o fenômeno bullying. Daí surge a necessidade de que os estudantes de cursos de licenciatura estudem sobre o fenômeno e sejam preparados para lidar com o mesmo em sua rotina de trabalho.

A observação constante e a parceria entre escola e família são cruciais para a possível eliminação de tais comportamentos.

(6)

METODOLOGIA

O trabalho foi realizado com base em leituras de artigos, livros e pesquisas na internet e investigação em instituições de ensino superior e escolas de ensino regular, a fim de saber se os professores estão preparados para lidar com o bullying e se são instruídos durante sua formação para lidar com tal fenômeno.

A principal autora que serve de referência para este estudo é a educadora Cleo Fante.

(7)

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ... 8

CAPÍTULO I - A PRÁTICA DA VIOLÊNCIA ENTRE PARES: O BULLYING NAS ESCOLAS ... 10

CAPÍTULO II - COMO IDENTIFICAR OS CASOS DE BULLYING E OS ENVOLVIDOS ... 15

II.1 Consequências e efeitos...20

CAPÍTULO III - O PAPEL DO EDUCADOR DIANTE DE UMA SITUAÇÃO DE BULLYING E O PREPARO DOS FUTUROS EDUCADORES. ... 23

III.1 Iniciativas antibullying...25

III.2 O professor em uma situação de bullying...30

III.3 A formação de professores...31

CONCLUSÃO ... 39

BIBLIOGRAFIA ... 41

(8)

8

INTRODUÇÃO

O tema desta monografia é “A necessidade da formação de professores dos cursos de licenciatura para lidar com o bullying escolar.

O assunto central deste trabalho é como formar os professores nos cursos de licenciatura de modo que eles estejam preparados para identificar e lidar com alunos agressores e com as vítimas do bullying.

O tema abordado é de grande importância, pois o termo bullying compreende todas as formas de maneiras agressivas, intencionais e repetitivas que ocorrem sem motivo evidente e são tomadas por um ou mais estudantes contra outro, causando traumas e são executadas dentro de uma relação desigual de poder. A prática de atos agressivos humilhantes de um grupo de estudantes contra um colega, sem motivo aparente é conhecida mundialmente como bullying. Bully é uma palavra da língua inglesa e significa brigão, valentão.

Esse é um problema mundial, sendo percebido em toda e qualquer escola.

Os que praticam o bullying têm grande perspectiva de se tornarem adultos anti-sociais e violentos, podendo vir a adotar, inclusive, atitudes delituosas ou delinquentes.

Por outro lado, as vítimas do bullying também podem ser tomadas de uma revolta muito grande e também vir a cometer atos de violência contra outros.

Por se tratar de um tema atual e corriqueiro nas escolas, é assunto de interesse dos graduandos em cursos de licenciatura, portanto, seria muito conveniente que fosse tratado como um ponto a ser estudado na universidade. Para tanto, é de suma importância que os professores universitários estejam preparados para orientar os formandos sobre o que é o bullying, como ele se manifesta, além de instruí-los a identificar as vítimas e os agressores de modo a minimizar o máximo possível esta prática tão comum nas escolas, mas pouco conhecida por pais e educadores.

Esta monografia tem por objetivo observar qual orientação é dada pelos professores aos universitários, de modo a prepará-los para lidar com o problema e analisar as práticas de bullying nas escolas, identificando vítima e

(9)

9 agressor, além de divulgar a prática do bullying, a fim de que as pessoas tomem conhecimento deste ato tão comum em nossas escolas, porém pouco discutido. Também espera-se que este trabalho possa esclarecer não só educadores, mas qualquer pessoa que se interesse pelo tema.

(10)

10

CAPÍTULO I

A PRÁTICA DA VIOLÊNCIA ENTRE PARES: O

BULLYING NAS ESCOLAS

Todos os dias, alunos no mundo todo sofrem com um tipo de violência que vem mascarada na forma de “brincadeira”. Estudos recentes revelam que esse comportamento, que até há bem pouco tempo era considerado inofensivo e que recebe o nome de bullying, pode acarretar sérias consequências ao desenvolvimento psíquico dos alunos, gerando desde queda na autoestima até, em casos mais extremos, o suicídio e outras tragédias.

Quem nunca foi zoado ou zoou alguém na escola? Risadinhas, empurrões, fofocas, apelidos como “bola”, “rolha de poço”, “quatro-olhos”. Todo mundo já testemunhou uma dessas “brincadeirinhas” ou foi vítima delas. Mas esse comportamento, considerado normal por muitos pais, alunos e até professores, está longe de ser inocente. Ele é tão comum entre crianças e adolescentes que recebe até um nome especial: bullying. Trata-se de um termo em inglês utilizado para designar a prática de atos agressivos entre estudantes. Traduzido ao pé da letra, seria algo como intimidação. Trocando em miúdos: quem sofre com o bullying é aquele aluno perseguido, humilhado, intimidado. E isso não deve ser encarado como brincadeira de criança. Especialistas revelam que esse fenômeno, que acontece no mundo todo, pode provocar nas vítimas desde diminuição na autoestima até o suicídio. “bullying diz respeito a atitudes agressivas, intencionais e repetidas praticadas por um ou mais alunos contra outro. Portanto, não se trata de brincadeiras ou desentendimentos eventuais. Os estudantes que são alvos de bullying sofrem esse tipo de agressão sistematicamente”, explica o médico Aramis Lopes Neto, coordenador do primeiro estudo feito no Brasil a respeito desse assunto — “Diga não ao bullying: Programa de Redução do Comportamento Agressivo entre Estudantes”, realizado pela Associação Brasileira Multiprofissional de Proteção à Infância e Adolescência (ABRAPIA). Segundo Aramis, “para os alvos de bullying, as consequências podem ser depressão, angústia, baixa autoestima, estresse, absentismo ou evasão escolar, atitudes de autoflagelação e suicídio, enquanto os autores dessa prática podem adotar

(11)

11 comportamentos de risco, atitudes delinquentes ou criminosas e acabar tornando-se adultos violentos”.

A pesquisa da ABRAPIA, que foi realizada com alunos de escolas de Ensino Fundamental do Rio de Janeiro, apresenta dados como o número de crianças e adolescentes que já foram vítimas de alguma modalidade de

bullying, que inclui, além das condutas descritas anteriormente, discriminação,

difamação e isolamento. O objetivo do estudo é ensinar e debater com professores, pais e alunos formas de evitar que essas situações aconteçam. “A pesquisa que realizamos revela que 40,5% dos 5.870 alunos entrevistados estão diretamente envolvidos nesse tipo de violência, como autores ou vítimas dele”, explica Aramis.

A denominação dessa prática como bullying, talvez até por ser um termo estrangeiro, ainda causa certa polêmica entre estudiosos do assunto. Para a socióloga e vice-coordenadora do Observatório de Violências nas Escolas — Brasil, Miriam Abramovay, a prática do bullying não é o que existe no país. “O que temos aqui é a violência escolar. Se nós substituirmos a questão da violência na escola apenas pela palavra bullying, que trata apenas de intimidação, estaremos importando um termo e esvaziando uma discussão de dois anos sobre a violência nas escolas”, opina a coordenadora.

Mas, tenha o nome que tiver, não é difícil encontrar exemplos de casos em que esse tipo de violência tenha acarretado consequências graves no Brasil.

Em janeiro de 2003, Edimar Aparecido Freitas, de 18 anos, invadiu a escola onde havia estudado, no município de Taiúva, em São Paulo, com um revólver na mão. Ele feriu gravemente cinco alunos e, em seguida, matou-se. Obeso na infância e adolescência, ele era motivo de piada entre os colegas.

Na Bahia, em fevereiro de 2004, um adolescente de 17 anos, armado com um revólver, matou um colega e a secretária da escola de informática onde estudou. O adolescente foi preso. O delegado que investigou o caso disse que o menino sofria algumas brincadeiras que ocasionavam certo rebaixamento de sua personalidade.

Vale lembrar que os episódios que terminam em homicídio ou suicídio são raros e que não são poucas as vítimas do bullying que, por medo ou vergonha, sofrem em silêncio.

(12)

12 Além de haver alguns casos com desfechos trágicos, como os citados, esse tipo de prática também está preocupando por atingir faixas etárias cada vez mais baixas, como crianças dos primeiros anos da escolarização. Dados recentes mostram sua disseminação por todas as classes sociais e apontam uma tendência para o aumento rápido desse comportamento com o avanço da idade dos alunos. “Diversos trabalhos internacionais têm demonstrado que a prática de bullying pode ocorrer a partir dos três anos de idade, quando a intencionalidade desses atos já pode ser observada”, afirma o coordenador da ABRAPIA.

Segundo Aramis, os motivos que levam a esse tipo de violência são extremamente variados e estão relacionados com as experiências que cada aluno tem em sua família e/ou comunidade: “Famílias desestruturadas, com relações afetivas de baixa qualidade, em que a violência doméstica é real ou em que a criança representa o papel de bode expiatório para todas as dificuldades e mazelas são as fontes mais comuns de autores ou alvos de

bullying”.

Das onze escolas avaliadas na pesquisa da ABRAPIA, nove eram públicas e duas particulares. Não houve diferenças quanto à incidência de

bullying. O que se observou foi que a forma como ele é praticado varia de uma

escola para outra. Nas particulares, por exemplo, valorizam-se muito os bens materiais, como carro, tênis importado, etc. Nessas instituições, não possuir algum desses bens pode ser motivo para perseguições. Já nas escolas públicas, a principal razão é a própria violência vivenciada cotidianamente pela comunidade.

Para a socióloga, essa é uma comparação difícil de ser feita. “Se você me perguntar onde existe mais intimidação, ou bullying, se na escola pública ou privada, responderei que não tenho idéia. No entanto, com relação à violência, é evidente que ela ocorre com mais força no lugar onde há menos condições de controle. E, na verdade, a escola privada tem muito mais condições de controlar aquilo que está acontecendo dentro de seus muros, com ela mesma ou com seus alunos. E os pais que têm filhos em escolas privadas podem entrar lá e intervir. Os alunos podem voltar para casa e discutir o problema com eles, e os pais, por sua vez, têm a possibilidade de ir à escola reclamar, mudar o filho de horário, de colégio, etc. Já em uma escola pública

(13)

13 isso jamais vai acontecer! Se uma mãe for reclamar, os diretores e os professores nem vão dar bola”, afirma.

Atualmente, a violência escolar é um dos temas que mais exigem a atenção dos profissionais da educação. Todavia, quando pensamos em violência escolar, logo nos vem em mente cenas de alunos trocando xingamentos, socos e chutes. Ou então, grupos de alunos ou ex-alunos depredando o patrimônio, munidos de armas ou drogas, comprometendo a integridade física de alunos e funcionários. Nesse contexto, é interessante chamar a atenção para um outro modo de violência – não menos cruel, nem menos incidente – e que está presente em todas as escolas, sejam elas públicas ou particulares e que envolve um número significante de alunos. Trata-se do fenômeno bullying.

Bullying: palavra de origem inglesa, adotada em muitos países para

definir o desejo consciente e deliberado de maltratar uma outra pessoa e colocá-la sob tensão; termo que conceitua os comportamentos agressivos e anti-sociais, utilizado pela literatura psicológica anglo-saxônica nos estudos sobre a violência escolar. Portanto, de acordo com Fante (2005), bullying é um conjunto de atitudes agressivas, intencionais e repetitivas que ocorrem sem motivação evidente, adotado por um ou mais alunos contra outro(s), causando dor, angústia e sofrimento. Insultos, intimidações, apelidos cruéis, gozações que magoam profundamente, acusações injustas, atuação de grupos que hostilizam, ridicularizam e infernizam a vida de outros alunos levando-os à exclusão, além de danos físicos, morais e materiais são algumas das manifestações do comportamento bullying.

Segundo Costantini (2004), o bullying tem origem na irrupção e falta de controle do sentimento de intolerância nos primeiros anos de vida, cujas consequências nas faixas etárias seguintes (estando ausentes reações educativas duras) são atitudes de transgressão e de falta de respeito ao outro, as quais tendem a consolidar-se, transformando-se em esquemas mentais e ações de intimidação sistemática contra aqueles que são mais fracos. Lopes Neto (2005) afirma que os motivos que levam a esse tipo de violência são extremamente variados e estão relacionados com as experiências que cada aluno tem em sua família ou comunidade e se dá perante o uso do poder para intimidar o outro. Podemos também classificar como assédio moral.

(14)

14 Esse assédio moral refere-se a um comportamento ofensivo, humilhante, que desqualifica ou desmoraliza, repetido e em excesso, através de ataques vingativos, cruéis e maliciosos que objetivam rebaixar um indivíduo.

Sabe-se que o bullying atinge principalmente os indivíduos que estão na adolescência, que é a fase mais difícil de serem educados, segundo alguns profissionais da área da educação. A adolescência é o período da vida que se caracteriza entre a infância e a idade adulta. Tem início na puberdade com o surgimento das características sexuais secundárias e termina com o fim do crescimento.

Dreyer (2005) reflete que além de causar danos cruéis, o bullying está disseminado em todas as escolas, tanto públicas como particulares, e seus comportamentos tendem a aumentar rapidamente com o avanço da idade dos alunos.

Há especialistas que afirmam ser o bullying a forma de violência mais cruel, pois tal nível de agressividade torna suas vítimas reféns de ansiedade e de emoções que interferem negativamente nos seus processos de aprendizagem e convívio social, devido à excessiva mobilização de emoções de medo, de angústia e de raiva reprimida; o que pode ser decisivo no incentivo à evasão escolar e ao ingresso desses alunos no mundo das drogas e do crime; ou então à geração de pessoas psicologicamente desestruturadas, que poderão vir a cometer violência doméstica e adotar características anti-sociais.

(15)

15

CAPÍTULO II

COMO IDENTIFICAR OS CASOS DE BULLYING E OS

ENVOLVIDOS

A pesquisa realizada pela ABRAPIA no município do Rio de Janeiro revelou que a comunidade em geral, além de não conhecer o problema pelo nome: bullying, muitas vezes é quem motiva comportamentos agressivos. Por exemplo, grande número de jovens que na escola são populares, de grande influência e autores de bullying, em casa, junto à família, são vítimas de assédio, chacotas etc. As situações de bullying estão diretamente ligadas a casos de vitimização, explica Seixas (2005). Qualquer comportamento de

bullying é manifestado por alguém e tem como alvo outro indivíduo. Sendo

assim, encontra-se sempre subjacente o envolvimento de dois sujeitos: um autor que agride e aquele que é alvo de tal agressão. Nesta perspectiva, quando ocorre um episódio de bullying, ocorre simultaneamente uma situação de vitimização.

É comum entre os alunos de uma classe a existência de diversos tipos de conflitos e tensões. há ainda inúmeras outras interações agresssivas, às vezes como diversão ou como forma de autoafirmação e para se comprovarem as relações de força que os alunos estabelecem entre si. Caso exista na classe um agressor em potencial ou vários deles, seu comportamento seu comportamento agressivo influenciará nas atividades dos alunos, promovendo interações ásperas, veementes e violentas. Devido ao temperamento irritadiço do agressor e à sua acentuada necessidade de ameaçar, dominar e subjugar os outros de forma impositiva pelo uso da força, as adversidades e as frustrações menores que surgem acabam por provocar reações intensas. Às vezes, essas reações assumem caráter agressivo em razão da tendência do agressor a empregar meios violentos nas situações de conflitos. Em virtude de sua força física, seus ataques violentos mostram-se desagradáveis e dolorosos para os demais. Geralmente o agressor prefere atacar os mais frágeis, pois tem certeza de poder dominá-los, porém não teme brigar com outros alunos da classe: sente-se forte e confiante.

(16)

16 Se há na classe um aluno que apresenta características psicológicas como ansiedade, insegurança, passividade, timidez, dificuldade de impor-se e de ser agressivo e com frequência se mostra fisicamente indefeso, do tipo bode expiatórioZ ele logo será descoberto pelo agressor. Esse tipo de aluno representa o elo frágil da cadeia, uma vez que o agressor sabe que ele não vai revidar se atacado e que se atemorizará, vindo talvez a chorar, não se defenderá e ninguém o protegerá dos ataques que receber.

O bode expiatório constitui-se, para um aluno agressor, num alvo ideal. Sua ansiedade, ausência de defesa e seu choro produzem um forte sentimento de superioridade e de supremacia no agressor, que pode então satisfazer alguns impulsos de vingança. Em geral, o agressor consegue fazer com que outros alunos se unam a ele, formando grupos. Consegue também induzir aqueles que lhe são mais íntimos a escolherem um bode expiatório, que tem em sua aparência, sua forma de vestir ou em suas maneiras e trejeitos algo que demonstre que é presa fácil para os seus ataques. Ao que parece, o agressor sente a mesma satisfação quando ataca ou quando são outros que atacam a vítima. Caso seus atos produzam alguma consequência, o agressor sempre tem alguma estratégia inteligente para sair-se bem.

Na maioria das vezes, entretanto, os professores ou outros profissionais da escola não percebem a agitação ou não se encontram presentes no local quando acontecem os ataques à vítima; assim, os próprios alunos ficam entregues a si mesmos para resolver seus conflitos.

Não há dúvida de que a maioria dos casos de bullying aconteça no interior da escola. Entretanto, para que um comportamento seja caracterizado como bullying, é necessário distinguir os maus-tratos ocasionais e não graves dos maus-tratos habituais e graves.

Segundo Fante (2005), os comportamentos bullying podem ocorrer de duas formas: direta e indireta, ambas aversivas e prejudiciais ao psiquismo da vítima. A direta inclui agressões físicas, como chutar, bater, tomar pertences e verbais, com apelidos pejorativos e discriminatórios, insultos e constrangimento. A maneira indireta talvez seja a que mais prejuízo provoque, uma vez que pode criar traumas irreversíveis. Esta última acontece através de disseminação de rumores desagradáveis e desqualificantes, visando à discriminação da vítima de seu grupo social.

(17)

17 É possível identificar e classificar os tipos de papéis desempenhados entre os envolvidos no fenômeno, que são:

• vítima típica: aquela que serve de “bode expiatório” para um grupo. É geralmente pouco sociável, e sofre repetidamente as consequências dos comportamentos agressivos de outros e que não dispõe de recursos, ou habilidades para reagir ou fazer cessar essas condutas prejudiciais. Em muitos casos, relaciona-se melhor com pessoas adultas do que com seus companheiros. A vítima típica sente dificuldades de impor-se ao grupo, tanto física quanto verbalmente e tem uma conduta habitual não agressiva, motivo pelo qual parece denunciar ao agressor que não irá revidar se atacada e que é “presa fácil” para seus abusos.

• vítima provocadora: aquela que provoca e atrai reações agressivas contra as quais não consegue lidar com eficiência. A vítima provocadora possui um “gênio ruim”, tenta brigar ou responder quando é atacada ou insultada, mas geralmente de maneira ineficaz. Pode ser hiperativa, inquieta, dispersiva e ofensora. É, de modo geral, imatura, tola, de costumes irritantes e quase sempre é responsável por causar tensões no ambiente em que se encontra.

• vítima agressora: aquela que reproduz os maus-tratos sofridos. A vítima agressora é aquele aluno(a) que, tendo passado por situações de sofrimento na escola, tende a buscar indivíduos mais frágeis que ele, na tentativa de transferir os maus-tratos sofridos. • agressor: aquele que vitimiza os mais fracos.O agressor, de ambos

os sexos, costuma ser um indivíduo que manifesta pouca empatia.Frequentemente, é membro de família desestruturada, onde há pouco ou nenhum relacionamento afetivo. O agressor normalmente se apresenta mais forte que seus companheiros de classe e que sua vítima em particular. Ele sente uma necessidade imperiosa de dominar e subjugar os outros, de se impor mediante o poder e a ameaça e de conseguir aquilo a que se propõe. Pode vangloriar-se de sua superioridade real ou imaginária sobre outros alunos.

(18)

18 • espectador: é o aluno que presencia o bullying, porém não o sofre nem o pratica. Representa a grande maioria dos alunos que convive com o problema e adota a lei do silêncio por temer se transformar em novo alvo para o agressor.

O bullying tem como característica principal a violência oculta. Considerando o mutismo da vítima, qualquer mudança que ocorra no comportamento da criança deve ser observada, por mais insignificante que pareça.

Segundo o pediatra e psiquiatra infantil Christian Gauderer, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro, a maioria dos professores não está atenta para as situações de intimidação. Estas podem infernizar a vida do aluno, afetar seu relacionamento familiar e causar entraves ao seu aprendizado; além disso, ele pode passar por sérios problemas por não conseguir fazer parte de um grupo.

Estudiosos do fenômeno concordam que o problema maior dos professores se deve à dificuldade de identificar a ocorrência dessas pressões, já que a maioria das crianças reluta em falar abertamente sobre o assunto. O motivo principal é o sentimento de vergonha que a vítima experimenta por estar sofrendo por ter que está apanhando ou sofrendo gozações na escola, ou ainda por temer represálias do agressor.

Para que um aluno possa ser identificado como vítima, os professores devem observar se ele apresenta alguns destes comportamentos:

• durante o recreio está frequentemente isolado e separado do grupo, ou procura ficar próximo do professor ou de algum adulto?

• na sala de aula tem dificuldade em falar diante dos demais, mostrando-se inseguro ou ansioso?

• nos jogos em equipe é o último a ser escolhido?

• apresenta-se comumente com aspecto contrariado, triste, deprimido ou aflito?

• apresenta desleixo gradual nas tarefas escolares?

• apresenta ocasionalmente contusões, feridas, cortes, arranhões ou a roupa rasgada, de forma não-natural?

(19)

19 • falta às aulas com certa frequência?

• perde constantemente os seus pertences?.

Os mesmos procedimentos interrogativos devem ocorrer em relação ao agressor. Entre seus comportamentos habituais:

• faz brincadeiras ou gozações, além de rir de modo desdenhoso e hostil?

• coloca apelidos ou chama pelo nome ou sobrenome dos colegas, de forma malsoante; insulta, menospreza, ridiculariza, difama?

• faz ameaças, dá ordens, domina e subjuga? Incomoda, intimida, empurra, picha, bate, dá socos, pontapés, beliscões, puxa os cabelos, envolve-se em discussões e desentendimentos?

• pega dos outros colegas materiais escolares, dinheiro, lanches e outros pertences, sem o seu consentimento?.

Como dito anteriormente, é comum que a vítima não conte para os professores e para os pais o que lhe acontece na escola. Também é comum que os outros alunos participem dos maus-tratos ao bode expiatório, já que todos sabem, por um lado, que ele é frágil e não se atreve a revidar e, por outro, que nenhum dos alunos mais fortes da classe sairão em sua defesa. A partir do momento em que os valentões da classe o atacam, o aluno agredido chega até a estranhar quando pouco hostilizado, pois, no fundo, acredita que não tem valor e que é merecedor dos ataques. Aos poucos vai se isolando do grupo-classe, uma vez que sua reputação se torna cada vez pior entre seus companheiros por causa das constantes gozações e dos ataques abertos, ficando evidente para todos que não serve para nada.

Não raro alguns alunos são tomados pelo medo de que sua reputação seja ameaçada ou de provocarem o desdém ou a desaprovação dos agressores se alguém os vir em companhia do aluno alvo das gozações. Alguns temem se tornar a próxima vítima, e, dessa forma, o isolamento do aluno, alvo do bullying, é fato consumado.

(20)

20

II.1 Consequências e efeitos

A autora e educadora Cleo Fante (2005) em seu livro "Fenômeno

Bullying" deixa claro que as consequências desse fenômeno afeta todos os

envolvidos e em todos os níveis, porém especialmente a vítima, que pode continuar a sofrer seus efeitos negativos muito além do período escolar. Pode trazer prejuízos em suas relações de trabalho, em sua futura constituição familiar e criação de filhos, além de acarretar prejuízo para a sua saúde física e mental.

A vítima pode ou não superar os traumas causados pelo bullying, e essa superação vai depender das suas características individuais, do seu relacionamento consigo mesmo e com a sociedade, principalmente com a sua família.

Caso essa superação não aconteça, o trauma que foi estabelecido prejudicará o seu comportamento e a sua inteligência, gerando sentimentos negativos e pensamentos de vingança, baixa autoestima, dificuldades de aprendizagem, queda do rendimento escolar, podendo desenvolver transtornos mentais e psicopatologias graves, além de sintomatologia e doenças de fundo psicossomático, transformando-a em um adulto com dificuldades de relacionamentos e com outros graves problemas.

Pereira (2002) divide os efeitos do bullying para as vítimas, em efeitos imediatos e efeitos ao longo da vida. O efeito imediato mais evidente é a fraca autoestima que terá o aluno vitimizado. Isso ocorre porque ele vivencia pouca aceitação, sendo assim "menos escolhido como melhor amigo e apresenta fracas competências sociais tais como cooperação, partilha e ser capaz de ajudar os outros.

Sobre os efeitos a longo prazo, Olweus (1993) diz que "a frequência de ser vítima decresce com a idade". As vítimas deixam de o ser, mudados os contextos, parecendo normalizar quando jovens adultos. Há, contudo, uma relação entre o ter sido vítima na escola e certa depressão na vida adulta.

O mesmo autor descreve que a consequência mais severa do

bullying é o suicídio, sendo esse o resultado da vitimização constante a que se

(21)

21 Assim, essas situações estão associadas a uma série de comportamentos ou atitudes que se vão agravando e mantendo por toda a vida e que arrastam consigo consequências negativas, na maior parte dos casos de alguma gravidade, que estarão sempre presentes, influenciando todas as decisões, imagens, atitudes, comportamentos que a pessoa constrói em relação a si, aos outros, ao mundo e até a própria vida.

Os agressores, segundo Fante (2005), normalmente se distanciam e não se adaptam aos objetivos da escola, supervalorizando a violência como forma de obter poder, e desenvolvendo habilidades para condutas delituosas, as quais, futuramente os levarão ao mundo do crime.

Assim, ele poderá adotar comportamentos delinquentes como: agressão, drogas, furtos, porte ilegal de armas, entre outros. O agressor acredita que fazendo uso da violência conseguirá tudo o que deseja, pois foi assim no período escolar.

Aqueles alunos que não são nem vítimas, nem agressores, apesar de não se envolverem diretamente ao bullying, acabam sofrendo também as suas consequências. Isso acontece porque o direito que eles tinham a uma escola segura e saudável foi se dissipando, a medida que o bullying corrompeu suas relações interpessoais, prejudicando o seu desenvolvimento sócio educacional.

Ainda nesse sentido, Pereira (2002) apresenta resumidamente as consequências do bullying para as vítimas e agressores:

Consequências para a(s) Vítima(s):

• vidas infelizes, destruídas, sempre sob a sombra do medo;

• perda de autoconfiança e confiança nos outros, falta de

autoestima e autoconceito negativo e depreciativo;

• vadiagem;

• falta de concentração;

• morte (muitas vezes suicídio ou vítima de homicídio);

• dificuldades de ajustamento na adolescência e vida adulta,

nomeadamente problemas nas relações íntimas. Consequências para o(s) Agressor(es):

(22)

22

• crença na força para a solução dos problemas;

• dificuldade em respeitar a lei e os problemas que daí advém,

compreendendo as dificuldades na inserção social;

• problemas de relacionamento afetivo e social;

• incapacidade ou dificuldade de autocontrole e comportamentos

antissociais.

Portanto, com todas as consequências apresentadas, pode-se dizer que o fenômeno bullying passou a ser considerado um problema de saúde pública. Esse problema deve ser reconhecido não só pelos professores como também pelos profissionais de saúde.

(23)

23

CAPÍTULO III

O PAPEL DO EDUCADOR DIANTE DE UMA SITUAÇÃO

DE BULLYING E O PREPARO DOS FUTUROS

EDUCADORES.

Na nossa sociedade, temos três documentos legais que formam a base do entendimento com relação ao desenvolvimento e educação de crianças e adolescentes, afirma Lopes Neto (2005). São eles: a Constituição da República Federativa, o Estatuto da Criança e do Adolescente e a Convenção sobre os Direitos da Criança da Organização das Nações Unidas. Em todos esses documentos estão previstos os direitos ao respeito e à dignidade, sendo a educação entendida como um meio de prover o pleno desenvolvimento da pessoa e seu preparo para o exercício da cidadania.

Durante o exercício de sua profissão, professores e funcionários têm percebido que os estudantes estão cada vez mais agressivos.

Observa-se que a agressividade dos estudantes para com os colegas e professores tem crescido de modo alarmante, preocupando professores e responsáveis.

Fenômenos como desemprego e má distribuição de renda consolidam a desigualdade entre os cidadãos. A agressividade escolar nasce nesse contexto: estimula-se a cultura da violência e alimenta-se as inconsistências de um sistema educacional seriamente comprometido. A educação não é encarada como fator relevante para a formação do cidadão.

A escola e a forma com que ela se relaciona com os estudantes patrocinam a paz ou fomentam a marginalização.

O processo de marginalidade começa na família e prossegue na escola, até atingir a rua. A escola pode servir como barreira para conter este ciclo vicioso da marginalidade à rua e, no limite, à delinquência.

É de suma importância que o corpo docente saiba lidar com as diferentes situações de agressividade presentes no cotidiano escolar, pois, como tem sido noticiado constantemente, a agressividade não contornada de modo adequado, pode tomar proporções maiores do que as esperadas.

(24)

24 Segundo Costantini (2004), o fenômeno bullying trata-se de um comportamento ligado à agressividade física, verbal ou psicológica. Não são conflitos normais ou brigas que ocorrem entre estudantes, mas verdadeiros atos de intimidação preconcebidos, ameaças, que, sistematicamente, com violência física e psicológica, são repetidamente impostos a indivíduos particularmente mais vulneráveis e incapazes de se defenderem.

É impressionante a pouca conscientização da realidade do fenômeno nos meios educacionais e com o despreparo dos profissionais desse setor para lidarem com a violência, especialmente a velada.

Em uma pesquisa realizada pela autora Fante (2005), ela relata que ouviu de alguns educadores que esse tipo de relação baseada na submissão sempre existiu, sendo normal encontrar nas escolas os grupos que dominam e os que se deixam dominar, e que isso faz parte da vida, devendo os alunos aprender sozinhos a conviver e a lidar com essas situações impostas por seus agressores, pois, afinal, experiências assim os tornarão fortes para enfrentarem os desafios futuros.

Sobre esses comportamentos, às vezes considerados irrelevantes, pesa de maneira decisiva a ausência de intervenção por parte dos adultos. É essa falta de respostas que facilita a formação e a consolidação de modelos de comportamento, os quais, de fato, rotulam quem é vítima e quem é agressor.

Portanto o adulto, no papel de educador, tem grande responsabilidade na ação de combate a esse fenômeno. Sua função seria, de um lado, chamar a atenção do agressor com firmeza em relação ao respeito ao outro, à convivência social e às regras ligadas a esta; de outro, desenvolver todas as práticas e estratégias pedagógicas que favoreçam a educação voltada para as relações e para os enfrentamentos entre os membros do mesmo grupo-classe.

Além disso, ocupar-se desse fenômeno é importante para uma ação preventiva acerca do possível desenvolvimento de comportamentos anti-sociais no futuro. Estudos e pesquisas demonstram como os alunos agressivos e desordeiros correm mais facilmente o risco de assumir comportamentos problemáticos ligados à criminalidade e ao abuso do álcool; ao passo que para a vítima trata-se de experimentar uma opressão extrema que provoca um estado de profundo crescimento, de grave desvalorização de si próprio e uma

(25)

25 cruel marginalização do grupo, a qual pode agravar, no futuro, a ansiedade e o mal-estar comportamental, explica Costantini (2004).

De acordo com Fante (2005), é dever de todos, especialmente dos educadores, encontrar soluções que visem à prevenção do bullying e à intervenção nesse fenômeno, a fim de conter sua disseminação.

Para que se possam desenvolver estratégias de intervenção e prevenção ao bullying nas escolas, é necessário que a comunidade escolar esteja consciente da existência do fenômeno e, sobretudo, das consequências advindas desse tipo de comportamento.

A conscientização e a aceitação de que o bullying é um fenômeno que ocorre, com maior ou menor incidência, em todas as escolas de todo o mundo, independentemente das características culturais, econômicas e sociais dos alunos, e que deve ser encarado como fonte geradora de inúmeras outras formas de violências são fatores decisivos para iniciativas bem-sucedidas no combate à violência entre escolares.

Dessa forma, sensibilizar e envolver toda a comunidade escolar na luta pela redução do comportamento bullying torna-se tarefa imprescindível, uma vez que o fenômeno é complexo e de difícil identificação, principalmente por manifestar-se de maneira sutil e velada e por garantir sua propagação através da imposição da lei do silêncio.

Bem sabemos que nem todos os conflitos sociais ou interpessoais, mesmo quando se adotam comportamentos agressivos, conduzem à violência e à vitimização. Muitas vezes, certas brincadeiras entre pares têm significado violento. Outras vezes, a expressão da agressividade é recíproca e não se consegue identificar quem é vítima e quem é agressor. Portanto, a prevenção ao bullying deve começar pela capacitação dos profissionais de educação, a fim de que saibam identificar, distinguir e diagnosticar o fenômeno, bem como conhecer as respectivas estratégias de intervenção e de prevenção hoje disponíveis.

III.1 Iniciativas antibullying.

O bullying começou a ser pesquisado na Europa, durante a década de 90, quando na Noruega descobriram o que estava resultando nas inúmeras

(26)

26 tentativas de suicídio entre os adolescentes. A partir de então, foram realizadas inúmeras pesquisas e campanhas para reduzir os casos de comportamentos agressivos nas escolas.

Fante (2005), ao descrever o histórico do fenômeno, diz que foi o professor Dan Olweus, pesquisador da Universidade de Bergen, na Noruega, que relatou os primeiros critérios para detectar o problema de forma específica, permitindo diferenciá-lo de outras possíveis interpretações, como incidentes e gozações ou relações de brincadeiras entre iguais, próprias do processo de amadurecimento do indivíduo.

Seguindo a mesma linha trazida por Fante (2005), a ABRAPIA concorda que tudo teve início com os trabalhos do Professor Dan Olweus, na Universidade de Bergen – Noruega (1978 a 1993) e com a Campanha Nacional

Antibullying nas escolas norueguesas (1993).

No início dos anos 70, Dan Olweus iniciava investigações nas escolas sobre o problema dos agressores e suas vítimas, embora não se verificasse um interesse das instituições sobre o assunto. Já na década de 80, três rapazes entre 10 e 14 anos, cometeram suicídio. Esses incidentes pareciam ter sido provocados por situações graves de bullying, despertando, então, a atenção das instituições de ensino para o problema.

Olweus pesquisou inicialmente cerca de 84.000 estudantes, 300 a 400 professores e 1.000 pais entre os vários períodos de ensino. Um fator fundamental para a pesquisa sobre a prevenção do bullying foi avaliar a sua natureza e ocorrência. Como os estudos de observação direta ou indireta são demorados, o procedimento adotado foi o uso de questionários, o que serviu para fazer a verificação das características e extensão do fenômeno, bem como avaliar o impacto das intervenções que já vinham sendo adotadas.

Nos estudos noruegueses utilizou-se um questionário proposto por Olweus, consistindo um total de 25 questões com respostas de múltipla escolha, onde se verificava a frequência, tipos de agressões, locais de maior risco, tipos de agressores e percepções individuais quanto ao número de agressores. Esse instrumento destinava-se a apurar as situações de vitimização/agressão segundo o ponto de vista da própria criança. Ele foi adaptado e utilizado em diversos estudos em vários países, inclusive no Brasil,

(27)

27 pela ABRAPIA, como já foi citado, possibilitando assim, o estabelecimento de comparações interculturais.

Os primeiros resultados sobre o diagnóstico de bullying foram informados por Olweus (1989) e por Roland (1989), e por eles se verificou que 1 em cada 7 estudantes estava envolvido em caso de bullying. Em 1993, Olweus publicou o livro "Bullying at School" apresentando e discutindo o problema, os resultados de seu estudo, projetos de intervenção e uma relação de sinais ou sintomas que poderiam ajudar a identificar possíveis agressores e vítimas. Essa obra deu origem a uma Campanha Nacional, com o apoio do Governo Norueguês, que reduziu em cerca de 50% os casos de bullying nas escolas. Sua repercussão em outros países, como o Reino Unido, Canadá e Portugal, incentivou essas nações a desenvolverem suas próprias ações.

O programa de intervenção proposto por Olweus tinha como características principais desenvolver regras claras contra o bullying nas escolas, alcançar um envolvimento ativo por parte de professores e pais; aumentar a conscientização do problema, avançando no sentido de eliminar alguns mitos sobre o fenômeno e prover apoio e proteção para as vítimas.

Segundo Olweus, os dados de outros países indicam que as condutas bullying existem com relevância similar ou superior às da Noruega, como é o caso da Suécia, Finlândia, Inglaterra, Estados Unidos, Canadá, Países Baixos, Japão, Irlanda, Espanha e Austrália.

Fante (2005) acrescenta que o bullying cresceu muito entre os alunos das escolas americanas. Os pesquisadores já estão classificando o

bullying como "um conflito global", e destacam que se essa tendência

permanecer, haverá muitos jovens que "se tornarão adultos abusadores e delinquentes.

Percebemos então que o fenômeno bullying está ocorrendo nas escolas do mundo inteiro, inclusive no Brasil, apesar de não termos muitas pesquisas e estudos referentes a esse assunto. Alguns estudos da Associação Brasileira de Proteção à Infância e Adolescência (ABRAPIA), nos mostram que nas escolas brasileiras o bullying apresenta índices superiores aos países europeus.

Esses estudos apontam uma diferença em relação aos dados internacionais, pelo fato de que no Brasil os estudantes identificaram a sala de

(28)

28 aula como o local de maior incidência desse tipo de violência, enquanto em outros países ele ocorre principalmente fora da sala de aula, no horário do recreio.

Assim, inúmeras iniciativas antibullying vêm sendo desenvolvidas nas mais diversas partes do mundo, visando sempre à melhoria da competência dos profissionais e da capacidade de interação social nas relações interpessoais, além da estimulação de comportamentos positivos, cooperativos e solidários. Tais iniciativas veem as escolas como sistemas dinâmicos e complexos, possuidoras de suas próprias peculiaridades, devendo-se respeitar as características culturais e sociais de seus componentes. Assim, cada escola possui sua realidade e a partir dela é que se devem desenvolver estratégias e ações cotidianas e contínuas. Dessa forma, todas as iniciativas escolares empreendidas têm, como ponto comum, a ideia de que a violência pode ser evitada e, consequentemente, minimizado o seu impacto.

Baseada nessa premissa, durante as últimas décadas, uma grande parte da reflexão pedagógica centrou-se na temática dos valores humanos – a ética, a moral e a cidadania -, visando à redução da violência. Tradicionalmente, considerava-se que os valores estavam implícitos na tarefa educativa e acreditava-se que os professores, ao transmitirem os conteúdos das diferentes matérias, formavam novos valores. Assim, os “temas transversais” seriam a oportunidade ideal para se educar em valores; entretanto, os problemas metodológicos que os professores enfrentam para trabalhá-los acabam inviabilizando a tarefa por não saberem como abordá-los no cotidiano, resultando na deficiência de modelos educativos capazes de sensibilizar, estimular e orientar as atitudes individuais ou coletivas dos alunos.

Consideramos que os valores que indiscutivelmente nossa sociedade mais clama são a tolerância e a solidariedade. Os documentos da ONU reafirmam frequentemente que esses valores são elementos essenciais para a construção da paz. Nesse sentido, se a violência é um comportamento que se aprende nas interações sociais, também existem maneiras de ensinar comportamentos não violentos para que possa lidar com as frustrações e com a raiva, e ensinar habilidades para que os conflitos interpessoais possam ser

(29)

29 solucionados por meios pacíficos. Portanto, a violência pode ser desaprendida e a tolerância e a solidariedade ensinadas.

Ensinar a criança desde a mais tenra idade a desenvolver essas atitudes é medida que a auxiliará a conviver pacificamente e a reconstruir um mundo melhor. Portanto, a escola deve estimular o ensino e o desenvolvimento de atitudes que valorizem a prática da tolerância e da solidariedade entre os alunos. O diálogo, o respeito e as relações de cooperação precisam ser valorizados e assumidos por todos os envolvidos no processo educacional.

A educadora Cleo Fante (2005) elaborou uma proposta psicopedagógica de intervenção e prevenção do fenômeno bullying, de fácil adaptação às diversas realidades escolares, chamado Programa Educar para a Paz.

A elaboração desse programa tem como objetivo possibilitar aos responsáveis pelo desenvolvimento socioeducacional a conscientização e a identificação do fenômeno por meio do conhecimento da realidade escolar, obtido pelos instrumentos de investigação utilizados; e as estratégias psicopedagógicas de intervenção e prevenção, de fácil aplicabilidade entre os alunos, que podem ser adaptadas conforme as necessidades de cada escola.

Filosoficamente, foi adotado como sustentáculo do programa os valores humanos da tolerância e da solidariedade, a fim de que os alunos nele envolvidos desenvolvam habilidades para resolver seus conflitos de maneira não-violenta.

Os objetivos propostos pelo programa Educar para a Paz são conscientizar os alunos do fenômeno bullying e suas consequências, a partir da análise das próprias experiências vivenciadas no cotidiano, a fim de que percebam quais os pensamentos e as emoções despertadas por ele, bem como os motivos norteadores desse tipo de conduta; que por meio da interiorização de valores humanos os alunos desenvolvam a capacidade de empatia, a fim de que percebam as implicações e os sofrimentos gerados por esse tipo de comportamento e desenvolvam habilidades para sua erradicação; que os alunos se comprometam com o bem-comum e se tornem agentes de transformação da violência na construção de uma realidade de paz nas escolas.

(30)

30

III.2 O professor em uma situação de bullying.

Quando nos referimos a problemas que ocorrem no âmbito escolar, em especial na sala de aula, fica evidente o papel do professor, ainda mais se esse problema envolver seus alunos e seu desempenho escolar.

O bullying está presente na maioria das salas de aula e casos de agressões físicas e verbais, como já foi discutido anteriormente, ocorrem nas salas de aula, muitas vezes na presença do professor, muitas vezes porque este não interferiu ou sua atitude perante a sala não bastou para que os alunos entendessem que deve haver respeito em um ambiente escolar.

O professor que critica constantemente o seu aluno, o compara com outros ou o ignora, está expondo esse aluno a ser mais uma das vítimas do

bullying e de certa forma está agindo com desrespeito ao espaço pedagógico.

Segundo Lobo (1997), a crítica injusta é uma das formas de má comunicação, que provoca ressentimento, hostilidade e deterioração de desempenho, seja em que idade for.

Atitudes indiretamente relacionadas ao aluno, também o influenciam, como por exemplo, quando o professor se remete a alguém de forma desrespeitosa. O aluno que tem a tendência a desrespeitar o próximo certamente se baseará nas atitudes desse docente.

É necessário muito cuidado por parte dos professores para que “sem querer” ou de propósito, elejam uma vítima em sua classe, ao ridicularizar um aluno que não lê com fluência, ou que tira notas baixas, ou que não assimilou rapidamente determinado conteúdo e por aí vai.

Não podemos, no entanto, atribuir ao professor toda responsabilidade da ocorrência de bullying na sala de aula. Os alunos podem certamente cometer o bullying sem se basear nas atitudes do professor. Porém, atitudes do professor para com os alunos, assim como foi dito anteriormente, podem sim, gerar chances para que estes cometam bullying na sala de aula.

No entanto, se o professor transmitir aos alunos a importância do respeito e ser o mediador de um ambiente de amizade e companheirismo, e interferir de maneira coesa nas chamadas brincadeiras de mal gosto, poderá evitar casos de bullying no interior da sala de aula.

(31)

31 Para que o bullying não aconteça no cotidiano escolar é necessário tanto a participação do professor quanto dos alunos. O professor, de um lado, tem o dever de transmitir o papel ético, que envolve a importância do respeito mútuo, do diálogo, da justiça e da solidariedade e os alunos o papel de entender e cooperar com as ações do professor.

O profissional da educação é um educador, não um fomentador de violência, explícita ou velada.

De acordo com Cury (2003) “Bons professores possuem metodologia, professores fascinantes possuem sensibilidade”. Outra habilidade importantíssima que o professor deve desenvolver é o ouvir ativo, conseguir compreender, captar o que há atrás da fala do aluno em análise da forma pela qual o corpo exterioriza esta fala. Segundo Souza (2002), o processo de decodificação dos sentimentos na fala do aluno é crítico no processo de ouvir ativo. O ouvir ativo não é uma mágica, algo que o professor tira do chapéu – é um método específico para colocar em prática um conjunto de atitudes em relação ao aluno, a seus problemas e a seu papel como facilitador.

Ao ouvir ativamente o aluno, o professor poderá perceber situações que, quando diagnosticadas a tempo, tendem a diminuir a agressividade e ou depressão do estudante, assim deverá contactar a família do jovem e, caso necessário, encaminhá-lo ao profissional adequado para resolver o assunto. de acordo com Cury (2003), “Este hábito de professores fascinantes contribui para desenvolver: autoestima, tranquilidade, capacidade de contemplação do belo, de perdoar, de fazer amigos, de socializar-se”.

Prevenir o bullying é uma forma de diminuir a violência dentro das escolas que acaba refletindo em toda a sociedade.

III.3 A formação de professores

Dados norte-americanos e europeus indicam com toda a clareza que a violência nas escolas aumentou ao longo dos últimos vinte anos. Sabemos bastante bem como os comportamentos agressivos e violentos se desenvolvem entre os jovens: comportamentos dos pais caracterizados por punições, inconsistência e falta de supervisão; vizinhanças que oferecem a oportunidade de associação com grupos transgressores sem oferecer a contrapartida de modelos pró-sociais e escolas que privilegiam abordagens

(32)

32 disciplinares de natureza punitiva, cujas regras são vagas, cujas expectativas são baixas e que apresentam altos níveis de repetência são fatores que contribuem para o aumento da frequência dos comportamentos agressivos nas escolas.

Desse modo, nosso conhecimento sobre as raízes da violência entre os jovens é relativamente bom. O que é urgente é intervir: formar melhor nossos educadores para evitar a violência na escola e lidar melhor com ela.

Vemo-nos confrontados com um problema que vem apresentando aumento constante, embora não tenha havido um aumento paralelo da capacidade dos professores de ajudar esses jovens. Em seminários de formação ministrados na América e na Europa, observou-se que os professores, diretores e outros profissionais que trabalham nas escolas receberam pouquíssima formação sobre como propiciar uma boa educação aos jovens que demonstram comportamento agressivo e, menos ainda, sobre como evitar a ocorrência de bullying nas escolas.

As seguintes perguntas têm que ser formuladas: como esses educadores devem ser formados? Qual deve ser a política de formação nessa área? Como é possível oferecer aos atuais e aos futuros professores a oportunidade de desenvolver capacidades que correspondam aos progressos recentes das pesquisas sobre o assunto? Até que ponto os formuladores de políticas, profissionais praticantes e pesquisadores, podem considerar que um programa de formação voltado para a violência nas escolas atingiu seus objetivos?

A política para formação em violência escolar tem que oferecer aos professores uma compreensão de como a violência se desenvolve. As conclusões dos muitos programas de pesquisa realizados nas últimas três décadas traçam um mapa bastante preciso do desenvolvimento dos comportamentos agressivos nos jovens. Entre outros, os trabalhos de estudiosos sobre essa questão foram notáveis. Sabemos que a presença de fatores de stress familiar (pobreza, uso de álcool e drogas), um grito histórico de negligência parental e de abusos físicos, sexuais ou psicológicos, a presença de depressão e frustração, o sentimento de impotência e a exposição a modelos violentos são, todos eles, partes integrantes do desenvolvimento da violência e do comportamento agressivo nos jovens.

(33)

33 Sabemos também que a capacidade dos pais de educar seus filhos pequenos, independentemente desses fatores de risco, é uma variável importante. É muito comum encontrar pais desesperados, batalhando com uma criança de quatro, cinco ou seis anos, que virtualmente assumiu o controle do ambiente familiar com seus ataques de raiva e outras técnicas de coerção.

Um programa de formação corretamente construído permitirá rapidamente que os educadores se dêem conta de que a violência não está na criança, senão nos meios que a criança adotou para lidar com seu ambiente, algo que ela aprendeu. Para facilitar a compreensão desse aspecto, usarei uma metáfora. Imagine a seguinte cena: Uma formiga abre caminho ao longo de uma praia que foi formada pelas ondas e pelo vento. Você a observa. Ela vai em frente, dobra à direita para tomar o caminho mais fácil para escalar uma pequena duna, depois vira à esquerda para evitar uma fenda. Ela, assim, vai abrindo caminho até o formigueiro. A rota da formiga, o caminho que ela usa para voltar para casa é irregular, complexo, difícil de prever. Mas essa complexidade, na verdade, é a complexidade da praia, não a complexidade da formiga.

À luz de sua compreensão do desenvolvimento da violência e dos comportamentos agressivos, como o bullying,os professores bem-formados concordarão que eles terão que levar em conta a praia, e não apenas a formiga, e que é necessária uma análise funcional do contexto onde esses comportamentos ocorrem.

A política de formação de professores deve fazer com que os mesmos se convençam de que a educação e, mais especificamente as escolas, podem contribuir para evitar o desenvolvimento do fenômeno bullying.

Num artigo publicado há alguns anos sobre a adaptação escolar na Europa e sobre as perspectivas de desenvolvimento dos serviços educacionais nos países-membros da Comunidade Europeia, Seamus Hegarthy (1996) afirmou que os estudos sobre as escolas eficientes confirmavam a crença intuitiva de que as escolas podiam fazer diferença, e que as crianças recebiam uma educação melhor em algumas escolas que em outras, tendo menos dificuldades de aprendizagem. O mesmo pode ser dito sobre a prevenção da violência nas escolas e sobre a intervenção junto a jovens que demonstram comportamento agressivo, não se esquecendo que o fenômeno bullying é

(34)

34 também uma manifestação de violência. Há escolas que punem e tentam controlar a violência e há outras que educam visando a evitá-la e substituí-la. A escolha entre essas duas filosofias não deve caber ao aluno.

Sua política de formação deve, portanto, capacitar os educadores a integrar às suas práticas tudo aquilo que sabe sobre escolas de alta qualidade. Torna-se claro que essas escolas exemplares vislumbram a todos os seus alunos expectativas coerentes e precisas, estabeleceram modos de intervir em situações de crise e preocupam-se tanto com o aprendizado acadêmico quanto com os comportamentos agressivos. Este último ponto é da maior relevância. Atenção particular deve ser dada à aprendizagem, oferecendo apoio ao mesmo tempo em que as expectativas são mantidas altas.

O modelo de referência que orienta as intervenções nesse tipo de escola é um modelo que privilegia de forma resoluta o aprendizado, como parte de uma relação de alta qualidade entre o professor e o aluno. Uma escola não é nem uma clínica nem um centro de readaptação. Uma escola é um lugar onde os jovens podem desenvolver e manter relações significativas, inclusive com adultos que se preocupam com seu bem-estar. Uma escola é, também, um lugar de educação, um lugar onde os alunos se preparam para a vida social. Para alguns dos jovens que talvez tenham deficiências em termos de socialização, a escola pode representar uma segunda oportunidade, ou mesmo uma última oportunidade de desenvolver as capacidades necessárias para se integrar à comunidade, para que eles venham a ser capazes de viver uma vida rica, tanto ao nível profissional quanto ao nível pessoal.

A política de formação de professores deve levar os educadores a intervir de forma ativa, mais do que reativa, com respeito à violência e aos comportamentos agressivos em sua escola. Essa abordagem ativa deve, antes de mais nada, ser examinada no contexto da prevenção, da intervenção precoce. Essa, sem dúvida, é uma missão que deve mobilizar o centro nevrálgico da escola, assumir uma posição estratégica e reconhecer, desde muito cedo, as crianças que apresentam tendências de vir a desenvolver comportamentos agressivos, ou que são vítimas de ambientes marcados por violência. Nos primeiros anos de vida dessas crianças, as escolas podem oferecer serviços para atender a suas necessidades. Intervenções desse tipo devem se basear no reconhecimento precoce das crianças de risco e na

(35)

35 intervenção junto a esses alunos, a seus pais e a seus pares. Na vida cotidiana da escola, essa postura preventiva significa também intervir a montante (nos primórdios), e não à jusante. Ela significa reconhecer que há pelo menos dois níveis de intervenção, quando se trata de educar sobre a questão da violência: o universal e o específico.

As ações universais, de linha-de-frente, afetam a totalidade da escola: as regras ou códigos de conduta da escola, a comunicação das expectativas e das normas, o ensino das capacidades sociais a todos os alunos de uma turma são exemplos desse tipo de intervenção. As medidas específicas, de segunda linha, destinam-se a determinados alunos que necessitam de ajuda especial. Consultas individuais e formação sobre como controlar ou substituir os comportamentos agressivos são exemplos dessas medidas. Essas ações específicas tornam necessária a intervenção precoce em três áreas: na sala de aula, na casa da família e no pátio de recreio, por meio de três agentes sociais decisivos: os pais, os professores e os pares.

A política para formação de professores também deve fazer justiça à diversidade dos problemas e reconhecer as necessidades de intervenção individualizada. Como na alta moda, ou na alta costura, sua política tem que ser formulada sob medida.

Há muitos anos fala-se de individualização na educação. No entanto, ainda sofremos do que os ingleses chamam de a “síndrome do tamanho único”. Os professores e os diretores possuem um longo histórico de usar soluções simples e gerais para os graves problemas experimentados por alguns alunos em suas escolas. Tudo isso já deu origem a muita insatisfação e desapontamento, em razão dos fracassos resultantes de intervenções desse tipo. É muito frequente que a gravidade do problema encontre um correspondente menos que perfeito no poder de intervenção e no nível dos recursos disponíveis, que muitas vezes estão aquém do patamar exigido para que efeitos duradouros sejam alcançados.

Um desses problemas está associado às avaliações: elas devem ajudar as intervenções. Hoje, já está claro que os diagnósticos, pelo menos no que concerne à violência escolar ou aos comportamentos agressivos, não representam intervenção suficiente. Os avanços no campo da avaliação funcional, como demonstram as exigências da nova lei americana sobre

(36)

36 educação especial, confirmam a necessidade de avaliar a situação de um jovem ou de uma escola usando a perspectiva que empregamos para explicar o comportamento da formiga na praia. Esses dados têm que ser empregados na formulação de intervenções sob medida, tanto no tocante às escolas, em sua luta contra os problemas do bullying escolar, quanto em relação aos jovens que são os causadores ou as vítimas dessa violência.

Para esclarecer as coisas: um professor que tenha sido devidamente preparado para evitar e lidar com a essa violência, não pensará jamais que quando a única ferramenta de que você dispõe é um martelo, todos os problemas têm que ser vistos como pregos.

A simples experiência não é suficiente para lidar com alunos que mostram comportamentos agressivos. Como já foi ressaltado, a maioria dos professores não recebeu e ainda não está recebendo formação adequada sobre como educar os jovens que mostram conduta violenta ou agressiva, ou sobre como intervir de forma preventiva em relação a esses alunos.

Nos casos em que os professores tiveram a sorte de participar de sessões de formação, essa formação sempre acontecia numa perspectiva de “forme-se e tenha esperança”. Mas essa é uma das situações da vida nas quais ter esperança não basta. Já ficou provado que as sessões formadoras tradicionais, baseadas na transmissão formal de informações aos professores, são incapazes de provocar mudanças na prática de sala de aula. Mas se os professores corretamente formados forem observados em ação, percebe-se que eles são capazes de estabelecer, frente a seus alunos, regras e expectativas claras com relação a comportamento e ao aprendizado, de gerar efeitos corretivos e retrospectivos de natureza positiva, quando necessário, de usar repreensões quando preciso e de incentivar o desenvolvimento das capacidades sociais e do autocontrole entre seus alunos.

Para desenvolver essas capacidades nos professores, é necessário demonstrar que mudar algumas das suas maneiras não apenas irá beneficiar os alunos, mas também melhorar sua qualidade de vida.

Da mesma forma que o aluno, que precisa sentir que alcança sucesso quando muda seu comportamento, o professor também precisa ver os resultados positivos dessa mudança de método. Essa relação esforço-benefício é importante para os professores, uma vez que sempre se pede a eles que

(37)

37 mudem sua maneira de agir. Se o esforço que eles destinam a uma criança ou a um projeto escolar voltado para evitar a violência na escola de fato melhora o comportamento do aluno, dando aos professores um senso de orgulho e de êxito, além de melhorar a atmosfera da escola e da sala de aula, há grandes probabilidades de que essa prática venha a ser mantida. Também é bastante provável que os professores venham a compartilhar essa prática com seus colegas, e tornem-se mais abertos a sugestões e a intervenções que sejam semelhantes às que eles acabaram de aplicar. Ou seja, tanto os professores quanto os alunos têm que se sentir incentivados, quando se pede que eles mudem determinados métodos ou adotem métodos novos.

Os professores devem integrar às suas práticas de ensino algumas das práticas exemplares e dos conhecimentos originados nas pesquisas recentes sobre a violência escolar. As intervenções relativas à violência escolar devem ter como base as atividades das pesquisas fundamentais e aplicadas, que façam sentido para os professores e diretores de equipe. Um professor devidamente formado não recomendaria como intervenção única o desenvolvimento de autocontrole numa criança agressiva de cinco anos de idade que morde seus colegas, ou o ensino de valores morais a um jovem delinquente de quinze anos. Intervenções desse tipo não produzem o efeito desejado. Elas talvez sejam necessárias, mas, geralmente, nem de longe serão suficientes.

Uma política para formação de professores deverá, portanto, incluir conhecimentos baseados nos resultados de pesquisas, de modo a fornecer real apoio aos educadores que trabalham na prevenção e no trato com a violência escolar. Os professores devem ser auxiliados a desenvolverem capacidades sólidas de estabelecer parcerias com os pais, sabendo que a participação dos mesmos tem influência considerável sobre a eficácia das intervenções dos professores. Não se trata apenas de uma afirmação politicamente correta, mas sim de um fato inequívoco: a parceria com os pais é um ingrediente de extrema importância em qualquer intervenção que tente evitar ou lidar com a prática do bullying. Uma intervenção, para ter eficácia, tem que levar em conta o ambiente onde vivem os alunos e, em primeiríssimo lugar, seu ambiente familiar. Dentre outras coisas, é preciso trabalhar a capacidade dos pais, e não apenas a dos alunos e dos professores. O

Referências

Documentos relacionados

Estou ciente e de acordo, firmo a presente dos ítens acima que recebi todas as explicações e li toda a proposta por inteiro e estou indo pela própria espontânea vontade, sem

Suporte para USB Power Delivery 2.0 para carregar até 60 W (necessário transformador USB-C PD adicional) Suporta resoluções 4K - até 3840 x 2160 a 30 Hz. Suporte para modo Samsung

Não são as roupas elegantes que determinam a qualidade de vida de uma pessoa, muito menos os bens materiais, o sorriso no rosto pode ser falso, a história pode ser uma mentira, o

O ano de 2003 marca a primeira década do grupo, e para comemorar este marco monta Muito Barulho por Quase Nada, com direção conjunta de Fernando Yamamoto, um dos

vigilância recomendados Se este produto contiver ingredientes com limites de exposição, pode ser requerido o monitoramento biológico ou da atmosfera do local de trabalho e do

O HP Sure Run de 3.ª geração está disponível em determinados PC HP Pro, Elite e Estações de Trabalho com Windows 10 com determinados processadores Intel® ou AMD. Miracast é

“A brigada ainda continua a trabalhar neste distrito, onde vai escalar todos os 3 postos administrativos, de forma a motivar a população local, bem como os membros e

De 1998 a 2002, o Projeto Anajás, englobando um projeto de salvamento e duas pesquisas acadêmicas 3 coordena- das pela primeira autora, tornou possí- vel o estudo de duas áreas