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REDUÇÃO DA CONTAMINAÇÃO ATMOSFÉRICA DE FONTES FIXAS, POR BIOLIXIVAÇÃO DE CARVÕES MINERAIS

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REDUÇÃO DA CONTAMINAÇÃO ATMOSFÉRICA DE FONTES

FIXAS, POR BIOLIXIVAÇÃO DE CARVÕES MINERAIS

Sérgio João de Luca(1)

Prof. Titular - IPH / UFRGS. Pesquisador CNPq 1A. Orientador de Mestrado e Doutorado, IPH e C. Ecologia / UFRGS.

Luis Fernando Cybis

Prof. Adjunto - IPH / UFRGS, CNPq 2B.

Endereço(1): Instituto de Pesquisas Hidráulicas / UFRGS - Av. Bento Gonçalves, 9500 Agronomia Porto Alegre RS CEP: 91501970 -Brasil - Tel: (051) 316-6680 - Fax: (051) 316-6565 - e-mail.

deluca@if1.if.ufrgs.br

RESUMO

O trabalho apresenta resultados de testes de biolixiviação de carvões comerciais, em pilhas a céu aberto, sob condições sazonais. O melhor potencial redox de controle operacional ficou em 450 mV, após aclimatação ácida microbiana em cerca de 40 dias úteis.

Das quatro pilhas testadas duas, com teores de enxofre de 2,92% e de 1,51%, apresentaram os melhores resultados, podendo ser atingido níveis comerciais a partir de 75 dias úteis de biolixiviação. Pela eficiência de remoção obtida e pelos custos avaliados, o processo mostrou-se viável técnica e economicamente, competindo com os sistemas clássicos de controle da poluição atmosférica.

PALAVRAS-CHAVE: Poluição do Ar, Biolixiviação de Carvões, Custos de Controle.

INTRODUÇÃO

Este trabalho apresenta resultados de um teste piloto de demonstração da utilização da técnica da biolixiviação para remoção de enxofre pirítico de dois distintos carvões minerais gaúchos, ambos produzidos por uma empresa consorciada a um projeto de pesquisa financiado pela FAPERGS.

O mercado necessita de carvões comerciais com teores médios de enxofre total, pirítico mais orgânico, menores que 1,2 %. As minas gaúchas e catarinenses nem sempre produzem “ run off mines” dentro daquele limite, podendo-se encontrar carvões com teores de enxofre total de até 3,5% ou mais. O processo de biolixiviação pode ser usado para preparar os carvões “run of mine” para consumo direto ou para o aumento da eficiência do lavador. Este processo biológico utiliza cepas bacterianas indígenas, sendo de baixo custo operacional ( TMR,1998). Ultimamente, tem-se tentado concentrar estas populações bacterianas, principalmente para biolixiviar carvões bastante granulares com diâmetro médio de partícula acima de 0,5 cm, mas sem muito sucesso. No uso desta

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técnica para a extração de minerais nobres, existem muitas empresas utilizando cepas modificadas pela engenharia genética para aumentar a eficiência do processo.

Partículas de carvão com diâmetro médio menor que 0,5 mm são dessulfuradas em reatores de leito suspenso, enquanto carvões com diâmetros médios maiores que 0,5 mm serão dessulfurados em pilhas. Há uma tendência mundial em usar biolixiviação para pequenas termelétricas, devido ao alto custo de remoção de SO2 dos gases emitidos.

Tem-se conTem-seguido remoções de 80 a 92% entre 8 e 28 dias, em processos em leito suspenso, em lamas.

Para culturas mistas de Thiobacillus mesófilos, a taxa de oxidação da pirita pode variar entre 100 e 800 g S/ m3 dia, em leito suspenso. O uso de espécies termofílicas, por exemplo, Sulfolobolus acidocaldarius não aumenta a taxa de reação, apesar de saber-se que a cinética deva melhorar a maiores temperaturas.

Tem-se utilizado tanques pachuca e lagoas em série para a biodegradação. Nestas condições havendo nutrientes, oxigênio e CO2 suficientes, conseguiu-se 90% de remoção

de S pirítico em 4 dias; a densidade pode ser de até 40% ( peso por volume), acima dos 20% normalmente utilizados; a coexistência de T. Ferrooxidans e Leptospirillum ferrooxidans favorece o aumento da cinética de reação.

A operação em pilhas pode levar de dias a meses para remover 50% do enxofre pirítico segundo experiências na Alemanha. Pesquisas realizadas no IPH mostraram que para carvões com 3,7% de S total, se conseguiu baixar 65% do S em oito meses, em pilhas de 100 ton. de carvão 0 x 10 mm semi-antracitoso.

Uma planta para 8000 ton/d de carvão dessulfurizado ocuparia 320 m2, por exemplo, uma lagoa de 6 m de profundidade. Os custos operacionais para tal reator, mantendo pH, OD, CO2, nutrientes e mistura apropriados seria de US$ 14,2 / ton produzida. Na Holanda, a

mesma configuração, teria um custo operacional variável entre US$ 21 e 32 / ton. Foi estimado um custo entre US$ 48 e 70 / ton para uma planta na Suécia, utilizando Sulfolobolus acidocaldarius a 70o C.

Para uma planta com capacidade de 150 000 t/ano, 422 ton/dia, na Alemanha, os custos operacionais para lixiviação em pilha foram estimados em cerca de US$ 32 / ton. Em Porto Torres, Itália, uma planta de leito suspenso de 100 000 ton/ano e tempo de detenção de 5 dias teria um custo operacional de US$ 48 / ton produzida.

Pelos trabalhos publicados, deve-se esperar menores custos de investimento e operacionais para sistemas de pilhas pela não necessidade de se moer o carvão a granulometrias muito baixas.

A biolixiviação tem baixo custo de investimento podendo ser operada com o conhecimento biológico e técnicos já existentes no mercado brasileiro. O processo pode ser modulado para atender diferentes necessidades de produção não havendo necessidade de compra de tecnologia estrangeira para utilizá-lo. Neste trabalho são apresentados resultados da demonstração do uso da biolixiviação em pilhas de 50 toneladas, em escala piloto real, em uma mina de carvão. Com isto, se observou o efeito das condições atmosféricas (precipitações, temperatura do ar da água, vento, etc.) nas variáveis operacionais.

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ASPECTOS EXPERIMENTAIS

A biolixiviação foi realizada na Mina do Recreio, da COPELMI (Companhia de Pesquisa e Lavra Mineral), ao ar livre, para poder se testar condições operacionais reais. Entre a instalação e o térmico dos ensaios, transcorreram cerca de 14 meses.

Os carvões ensaiados na pilha 1 tinham granulometria 0 x 20 mm, na pilha 2 granulometria 0 x 50 mm, na pilha 3 granulometria 20 x 40 e na pilha 4 granulometria 0 x 40 mm, que seria o carvão comercial a ser entregue na futura Usina Termoelétrica do Jacuí 1, em Eldorado do Sul, quando esta entrar em operação. O teor máximo de enxofre admissível para uso comercial seria de 1%.

Cada pilha ocupou uma área de 45 m2, aproximadamente, com um altura de 1,2 m. O terreno foi nivelado por motoniveladora e a declividade do terreno foi de 10% para as laterais e de 5% no sentido longitudinal. As pilhas repousavam sobre uma manta de PEAD 4 mm da ENGEPOL, para evitar a contaminação ambiental e para evitar a fuga da lixívia do sistema de biolixiviação. Funcionava no horário da mineração, de segunda a sexta feira, das 9h00 às 17h00, parando a operação aos sábados, domingos e feriados. As pilhas foram operadas ao ar livre, sofrendo grande influência do vento, e por conseqüência, grande taxa de evaporação. Gastava-se cerca de 200 l por dia, por pilha, nos dias mais quentes e ventosos. Isto gerava uma reposição diária de 4 l / ton de carvão de água para os reatores de lixiviação. A operação ao ar livre enfrentou as piores condições de temperatura e chuvas de inverno, havendo dias de congelamento da solução lixiviante pela manhã. Cada decréscimo de 10o C na temperatura provoca um decréscimo de uma unidade log na taxa das reações bioquímicas.

As pilhas foram impregnadas com solução lixiviante, corrigidas inicialmente para pH 2,0 com ácido sulfúrico comercial, 60% de concentração. O processo era controlado pelo pH, o qual se mantinha em média em torno de 2,2, e pelo redox, o qual desejava-se chegar a 550 mV. Uma vez estabilizado o pH e o redox, a solução lixiviante não necessitava mais da adição de ácido prosseguindo a biolixiviação por conta própria. A taxa de aplicação da solução biolixiviante era de 120 l/m2 / dia. A vazão de retorno era medida através de um vertedor triangular, gerando em média 5,4 m3/dia de bombeamento para cada pilha. As pilhas tinham operação intermitente, pois pesquisas anteriores (De Luca, 1992) mostraram que a operação contínua não apresentava vantagens técnicas ou econômicas. Todo o sistema funcionava em circuito fechado, não havendo risco de contaminação do meio ambiente.

Os carvões eram amostrados mensalmente para análise dos diferentes tipos de enxofre. A tabela 1 abaixo apresenta as principais características dos carvões utilizados nas pilhas, notando-se o alto teor de cinzas e a grande granulometria, que exemplificam os carvões comerciais da COPELMI.

Tabela 1. Características ( % ) do Carvões Utilizados. Carvão Poder Calorífico Granulometria Cinza s S total S pirítico S sulfático S orgânico P1 3 100 0x20 mm 40,5 0,46 0,11 N.D. 0,35 P2 4 700 0x50 mm 42,5 2,92 2,72 0,04 0,16 P3 4 700 20x40 mm 55,0 0,97 0,57 0,16 0,24 P4(*) 3 700 0x40 mm 40,2 1,51 0,39 0,26 0,24

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Os carvões foram analisados na CIENTEC/RS, pelas normas NBR 8292,NBR 8293, NBR 8289, NBR 8290, NBR 8299 e NBR 8297 e ASTM D 4239.

Os carvões P2 e P4 não atenderiam às especificações ambientais se fossem utilizados diretamente, pelo alto teor de enxofre, necessitando de remoção de enxofre total e pirítico para atingir o teor comerciável de 1,20% de enxofre total.

O processo de biolixiviação foi controlado pelo pH da lixívia, o qual deve ficar em torno de 2,2. A temperatura não pode ser controlada por se tratar de pilha ao ar livre. O potencial redox da lixívia, ideal para os carvões ensaiados, fica na faixa de 400 a 550 mV. O redox depende da atividade bacteriana, sendo apenas um indicador que está havendo oxidação de Fe2+ a Fe3+. Quanto mais positivo o redox, mais biolixiviação estará ocorrendo, mostrando que o processo está funcionando e tornando bem simples o controle e a operação da técnica.

Era realizado o controle da lixívia, quatro vezes por dia, para pH, temperatura da água e para potencial redox. Mensalmente, analisava-se para condutividade, acidez, cloretos, sulfatos, nitratos, fosfato total e orto, cálcio, magnésio, sódio, potássio, ferro total, manganês, cobre, chumbo, alumínio, cromo, mercúrio, selênio, arsênio e Thiobacillus ferrooxidans. Esse gênero bacteriano foi caracterizado quantitativamente em meio 9K, segundo o Standard Methods, 19th ed., 1995, sendo a contagem realizada após 21 dias de incubação. Foram realizadas análises granulométricas no início e no final dos testes para ver se havia modificação da granulometria original. As diferenças não foram significativamente importantes a 5%.

ANÁLISE DOS RESULTADOS

Neste trabalho serão apresentados os resultados da pesquisa com os carvões das pilhas 2 e 4. As demais pilhas serão apresentadas na exposição oral.

A pilha 2 era constituída de carvão “run off mine”, saído diretamente do britador, na faixa granulométrica comercial de 0 x 50 mm, ou seja, 5% do carvão era fino, menor que 1 mm e 5% poderia ser maior que 50 mm. O carvão apresentava teor inicial de enxofre total de 2,92% e de enxofre pirítico de 2,72%, com teor de cinzas de 42%. A relação S pirítico / S total era de 0,93, ou seja, 93% do enxofre total era pirítico com os restantes 7% sendo enxofre orgânico. A relação teor de cinzas / sobre S pirítico era de 15,4, mostrando uma melhor tendência para a biolixiviação.

A tabela 2 apresenta os teores médios da concentração das diferentes formas de S obtidas ao longo do teste.

Tabela 2: Biolixiviação da Pilha 2 (Concentração bacteriana: 105 - 107 / g de Carvão). 0 (dias) 16 (dias ) 41 ( dias ) 54 ( dias ) 71 ( dias ) S pirítico(%) 2,72 1,72 1,70 1,55 1.43 S Orgânico(%) 0,16 0,19 0,37 0,19 0,19 S total (%) 2,92 1,91 2,07 1,73 1,31(*) (*) Análise da COPELMI

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Os dados mostram que, para esta pilha de 50 toneladas, foram removidos 80,5 Kg de S total em 71 dias. A percentagem de remoção obtida para o enxofre pirítico chegou a 52,5% de remoção em 71 dias úteis, sob condições médias de temperaturas do ar em torno de 15o C.

A remoção média de enxofre total ao final de 71 dias úteis foi de 55,1%, mostrando que a técnica de biolixiviação, para esta pilha, foi bastante eficiente. Comparando-se os dados obtidos com os dados da literatura, verifica-se que este resultado é surpreendente para granulometria tão grosseira e tão alto teor de cinzas.

Estudos anteriores, Cybis, 1987, Deluca, 1992, apontavam que remoções como estas aconteceriam apenas com 120 dias, para granulometrias menores de 0 x 5 mm e teores de cinzas até 35%. Naqueles estudos, a constante da taxa de remoção para uma pseudo primeira ordem foi de 0,0019 dia-1 com meia vida de 180 dias. A pilha 2 em análise apresentou taxa de remoção de pseudo cinética de 1ª ordem no valor de 0,075 dia-1, o que dá uma meia vida de 95 dias.

A pilha 4 foi operada sob condições constantes de acidificação até o equilíbrio. Não foi adicionado CO2. Foi adicionado aos reatores um volume semanal de concentrado

bacteriano de 2 litros.. A temperatura média diária da lixívia era de 26o C. O carvão lixiviado tinha 41,3% de cinzas, 1,51% de enxofre total e 0,48% de enxofre pirítico. A granulometria era de 0 x 40 mm, típico do fornecimento para termelétrica.

Esta pilha foi também operada para pH 2,2 e potencial redox na faixa de 450 a 550 mV, desde o início. Utilizava-se 10 Kg de ácido sulfúrico por dia / por pilha, para manter a lixívia, desde o início da operação em pHs baixos. Ao final de 40 dias a pilha começou a funcionar, ou seja, não houve mais necessidade de adição de ácido para mantê-la operando, pois o redox estabilizou-se em torno de 450 mV. Este redox, bem como o da pilha 2, mostra que os carvões gaúchos tem comportamento distinto dos carvões catarinenses, os quais requerem um redox mais alto, de 550 mV (Cybis,1987, De Luca, 1992). Os dados mostraram que para uma pilha de 50 ton, foram removidos 38,4 Kg de enxofre total em 60 dias. A tabela 3 apresenta a percentagem final de remoção dos compostos sulfetados.

Tabela 3: % de Remoção de Enxofre Pilha 4. Remoção ( % )

S pirítico 50,0

S total 50,9

Pelos resultados mostrados acima, houve remoção final do enxofre pirítico de 50 % e remoção de enxofre total de 51 %.

A tabela 4 apresenta a condição da lixívia ao longo do teste, a qual foi analisada para controle de qualidade operacional.

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Tabela 4: Composição da Biolixívia da Pilha 4. Contaminante 07/01/98 29/01/98 12/02/98 Cr 0,327 0,843 0,453 Pb O,398 0,171 0,150 Ca 322 319 303 Mg 121 134 75 Fe 364 1017 562 Na 49 0.735 24 Cu 0,673 0,845 0,494 K 33,8 2954 2036 Hg 0,00014 0,000121 0,000319 Al 101 211 136 Mn 10,1 13,7 8,71

Verifica-se a alta concentração de K, Ca e Mg provenientes das cinzas, e de alumínio, provavelmente um contaminante do ácido sulfúrico. O grande teor de ferro total mostra que os sulfetos metálicos estavam sendo oxidados e que havia Fe3+ suficiente para a catálise bacteriana.

Comparação entre as Pilhas 2 e 4

Ambas as pilhas possuíam teores de enxofre maiores que 1% e teores de cinzas semelhantes.

A pilha 2, “run off mine”, foi operada com acidulação inicial, isto é, adicionava-se apenas 1 Kg/dia de ácido concentrado aos reatores, nos primeiros 40 dias, deixando o pH flutuar para que se iniciasse a ecologia bacteriana da pilha com vários outros gêneros bacterianos além do Thiobacillus. Nestas condições, sob baixa temperatura ambiente, necessitou-se de 40 dias para estabilizar o potencial redox e de 68 dias para reduzir em 50% o teor de enxofre total.

A pilha 4, pré-lavado blendado, sem o alto teor de enxofre da pilha 2, foi fortemente acidificada desde o início com cerca de 10 Kg / dia de ácido sulfúrico comercial 60%, levando 40 dias para atingir redox de 450 mV e 60 dias para obter-se 50% de remoção de enxofre total.

Enquanto as pilhas 1 e 3 tinham granulometrias bem selecionadas, 0 x20 e 20 x 40, as pilhas 2 e 4 tinham uma curva granulométrica mais suave, com maior teor de finos e médios. Obviamente, o teor de enxofre total das pilhas 2 e 4 eram maiores, exercendo forte influência sobre a biolixiviação.

Como resultado final, as condições operacionais da pilha 4 implicam em maior custo de acidificação que as condições da pilha 2, uma vez que os tempos para estabilizar o redox são aproximadamente os mesmos.

Apesar da percentagem de remoção ser praticamente idêntica em termos de biolixiviação da mesma ordem de grandeza, foi removido 80,5 Kg de S total da pilha 2 e 38,4 Kg de S total da pilha 4. O teor final de S total atendia ao padrão comercial na pilha 4 e haveria

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necessidade de continuar a biolixiviar por mais 15 dias a pilha 2 para atender ao padrão comercial de 1,20% de S total.

Estimativa de Custos de Instalação e de Operação

Em termos ambientais, considerando-se um custo total de R$ 200,00 / ton para a remoção de S total através de lavador de gases ou por precipitador eletrostático, em um sistema de controle da poluição atmosférica, haveria um benefício ambiental de R$ 3,22/ton pelo procedimento da pilha 2 e de R$ 1,54 / ton pelo procedimento da pilha 4. Se o custo total de instalação, de operação e manutenção de um sistema de biolixiviação exceder aqueles valores, se tornaria mais barato utilizar a dessulfurização pós-queima convencional para o mesmo benefício ambiental, pois de ambas as maneiras o S total removido irá ser oxidado a sulfatos. Um benefício não computado da biolixiviação seria ainda a não geração de chuva ácida, pois os sistemas convencionais removem apenas 60% do SO2.

Considerando-se as condições operacionais da pilha 2, apresenta-se abaixo um exercício do custo de instalação e de operação de um sistema de biolixivação para 422 ton/dia, utilizando-se um carvão de 2,92% de enxofre total, o qual para este teor de S não tem mercado pelas restrições ambientais. Não será feita aquisição de área ou se pagamento pela água utilizada para compor a lixívia. Como reservatório da lixívia poder-se-á utilizar parte da lagoa de finos de lavadores. Também considera-se a existência de argila na área. Estima-se uma vida útil das bombas e equipamentos auxiliares de tancagem, dosagem e de coleta e distribuição da lixívia de 5 anos. A taxa de juros adotada foi de 12% a.a. (BNDES)

Principais itens Considerados Para Orçamento

Listam-se a seguir os principais itens componentes do orçamento de um sistema de biolixiviação:

- Capacidade produtiva do sistema: 422 ton/dia; - Tempo de Detenção: 75 dias;

- Taxa de aplicação da lixívia: 80 l / m2. dia; - Consumo específico de energia: 1 H.P. / ton;

- Consumo específico de ácido sulfúrico comercial: 1 Kg/ton. dia; - Mão de Obra de Operação: 1 hidrotécnico/dia;

- Mão de Obra de Manutenção: 0,20 técnico / dia; - Dias Úteis no Ano: 250 dias;

- Área Necessária a céu aberto: ( 75 dias x 422 ton/dia ) / ( 1,3 ton/m3 x 1,5 m ) = 16 230 m2. + Circulação = 20 288 m2

- Impermeabilização e Preparo da Área com argila compactada: 20 288 m2 (3 leiras x 25 x 270,5 m);

- Bombas Hidráulicas e Instalações: 3 x 40 H.P.( 63,3 H.P. );

- Canalizações de Distribuição, registros, aspersor, instalações elétricas de iluminação e segurança;

- Reservatório da Lixívia Impermeabilizado: 3 lagoas de 600 m3 ( 3m x 200 m2 ). Baseando-se nestes itens se compôs a seguinte tabela 5 com os respectivos custos.

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Pela tabela, tem-se um custo anual estimado de R$ 197.465,80, para produzir 422 ton/dia x 245 dias úteis / ano, ou seja para produzir 103 390 ton / ano com teor de S total menor que 1,2%, “run off mine”, blendado.

O custo unitário será de R$ 1,91 / ton, menor que o custo de R$ 3,22 / ton de um sistema de dessulfurização convencional.

Portanto, mesmo sob as condições de baixas temperaturas do inverno utilizadas nesta pesquisa, com suas implicações microbiológicas, utilizando cepas bacterianas indígenas, sem perigo ambiental, estima-se que o custo final para a taxa de juros adotada seja compatível com tecnologias concorrentes, para carvões de médios a altos trotes de enxofre total e pirítico.

Tabela 5: Estimativa de Custos para um Sistema de Biolixiviação de Carvão.

Item Unidade Custo Unitário ( R$ ) Custo Total

Investimentos

Impermeabilização e preparo da área 20 288 m2 m2 3,20 64 921,60 Instalações hidráulicas 3 000 m Canalizações, 100 Registros, 400 Aspersores m Unid. Unid. 3,80 15,00 12,00 11.400,00 1.500,00 4.800,00 2 Tanques de Ácido Sulfúrico

5 000 Kg c/ fundações

Unid 16.500,00 33.000,00

4 Bombas 40 H.P. Unid 4.500,00 18.000,00

1 Bomba Dosadora Ácido Sulfúrico Unid 4.200,00 4.200,00

Sistema Segurança Ácido Sulfúrico vb 12.500,00 12.500,00

3 Tanques de Aço Aquecidos p/ Culturas Microbiológicas c/ fundações

Unid 18.200,00 54.600,00

4 Bombas Dosadoras de Cultura. Microbiológica

Unid 2.750,00 11.000,00

Instalações elétricas das Bombas vb - 25.000,00

Custo Total de Investimento 240.921,60

a)Valor Presente Anual (5 anos, 12% a. a.) 0,56743

Prestação Anual 136.706,80

Operação e Manutenção Anual

Aspersores 200 / ano Unid. 12,00 2.400,00

Ácido Sulfúrico 60% - 105, 500 ton/ano

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Item Unidade Custo Unitário ( R$ ) Custo Total

Mão-de-obra de Operação (R$ 1300/mês, inclui L. Sociais)

Hidrot. 15.600,00 15.600,00

Mão de Obra de Manutenção (400/mês, inclui L. Sociais)

Técnico 4.800,00 4.800,00

Energia elétrica ( R$ 1800/mês) 21.600,00 21.600,00

Manut. Sistema Segurança Ácido Sulfúrico (R$ 500 / mês)

6.000,00 6.000,00

b)Custo Total Anual de O&M 60.760,00

Custo Total Anual ( a + b ) 197.465,80

CONCLUSÕES

Foi demonstrado que a biolixiviação de carvões comerciais, em pilhas a céu aberto, sob condições de inverno, verão e de intempéries é viável.

Notou-se um grande efeito do vento sobre a operação das pilhas aumentando a evaporação. Este efeito foi maior no verão. Não se notou efeito da diluição provocada pelas chuvas, uma vez que nenhuma chuva excedeu 24 horas de duração no período. O melhor potencial redox ficou em 450 mV e o pH em torno de 2,2 para as pilhas testadas. Não houve vantagens na adição de CO2 pois as pilhas eram bastante permeáveis aos gases

atmosféricos. O teor de OD na lixívia tinha valores sempre maiores que 80% da saturação, garantindo a aerobiose necessária para as bactérias quimiolitotróficas.

A taxa de aplicação de 120 l /m2 dia mostrou-se eficiente para os objetivos pretendidos. A intermitência na operação diária e nos sábados, domingos e feriados não comprometeu a biolixiviação bacteriana como já tinha sido demostrado em outros estudos. Os carvões se mostraram mais friáveis após os testes, indicando que as intempéries ajudam a expor a ganga às bactérias.

A eficiência de remoção de S total da pilha 2 foi de 55,1% em 71 dias. A eficiência de remoção de enxofre pirítico foi de 52,5% nos mesmos 71 dias. Neste tempo de teste a concentração de enxofre total baixou de 2,92% para 1,31%.

A eficiência de remoção de S total e pirítico da pilha 4 foi de 50,0% e de 50,9%, respectivamente. A concentração de enxofre total foi reduzida de 1,51 a 0,74% e a de enxofre pirítico foi reduzida de 0,48 a 0,24%, em 60 dias úteis.

A biolixívia tem alta concentração de sais, sulfatos, metais, acidez e baixo pH, devendo sofrer tratamento se descartada. A concentração salina de sulfatos e de cátions metálicos não atingiu concentrações preocupantes em termos do processo de biolixiviação.

Pelos custos unitários envolvidos, esta técnica pode ser bastante competitiva com técnicas clássicas de dessulfurização no controle da poluição do ar.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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3. CYBIS, L. F. Dessulfurização Microbiana de Carvões e Rejeitos. Dissertação de Mestrado IPH/UFRGS,1987

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6. and Wastewaters, 19th. Ed., Washington, DC, 1995.

7. DE LUCA, S. J. Controle da Contaminação Atmosférica por Biolixiviação 8. de Carvões Minerais, Relatório de Pesquisa para a FAPERGS, 1998.

Referências

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