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CAPÍTULO 1: INTRODUÇÃO

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Academic year: 2021

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CAPÍTULO 1: INTRODUÇÃO

O mundo, segundo a ONU, abriga cerca de 500 milhões de pessoas com deficiências das quais 80% vivem em países em desenvolvimento. Os dados do Censo de 2000 informam que 24,5 milhões de brasileiros possuem algum tipo de deficiência, 14,5% da população, número bastante superior aos levantamentos anteriores, menos de 2%. Isto não decorre do aumento da incidência de deficiências, mas da mudança dos instrumentos de coleta de informações, em obediência às últimas recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS). Esse expressivo contingente populacional vem aumentar a necessidade de promover um amplo diagnóstico deste segmento da população brasileira, a fim de contribuir para o desenho e implementação de ações de inclusão social.

O objet ivo desta monografia é elaborar um mapa de conhecimento sobre o universo das pessoas portadoras de deficiência (PPDs), de forma a subsidiar políticas e ações dos setores público, privado e da sociedade civil. Identificamos o perfil sócio-econômico-demográfico desse universo, através do processamento e consolidação de um vasto acervo de informações estatísticas de diversos órgãos públicos, aí incluindo: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), Ministério da Previdência e Assistência Social (MPAS), Ministério da Saúde (MS) e Ministério da Educação e da Criança (MEC), dentre outros. Avaliamos questionamentos contemplados nos instrumentos de coleta de informações e descrevemos o conjunto de políticas que visam proporcionar a inserção social das pessoas com deficiência nas áreas de saúde, educação, transferência de renda, acessibilidade e de inserção trabalhista das PPDs, avaliando as políticas implementadas e discutindo ações complementares.

Em termos de base estatísticas usamos dados secundários mais antigos, como os inquéritos de 1872 e de 1900, os censos de 1920 e de 1940 e mais recentes como o Cadastro de Acidentes de Trabalho (CAT) do MPAS, e o Censo Escolar do MEC. A ênfase está no processamento de microdados a nível individual entre os quais listamos os suplementos de saúde da Pesquisa Nacional de Amostras de Domicílios (PNAD) de 1981 e de 1998 do IBGE, a Pesquisa de Condições de Vida (PCV) da Fundação Seade, a Relação Anual de Informações Sociais (RAIS) e o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (CAGED) ambos do MTE e a Autorização de Internações Hospitalares (AIH) do Ministério

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da Saúde. A ênfase da análise e processamento recai sobre os microdados censitários de 1991 e de 2000 que passaram por força legal a cobrir o universo de PPDs. A nova estrutura do questionário do Censo 2000 dedica cinco questões ao tema da deficiência, e não apenas uma como no Censo de 1991, seguindo modernos e adequados preceitos de preservar a liberdade de expressão dos sujeitos entrevistados sobre sua situação e do meio em que está inserido. A resposta não cabe ao recenseador mas ao entrevistado baseado na sua subjetividade. Ele é demandado a levar em conta em sua resposta o efeito do acesso a instrumentos para lidar com deficiências como óculos, próteses, aparelhos de audição etc.

Os temas explorados são diversificados, permitindo responder quantos são, quem são, onde moram, o que fazem, em que setores trabalham, onde estudam, se recebem benefícios sociais, que tipo de ativos dispõe, se tem acesso a serviços de saúde e outras. Buscamos seguir uma linha mais positiva do que normativa. O banco de dados divulgado junto com esta publicação contém informações estatísticas e bibliográficas mais abrangentes que possibilitarão ao leitor elaborar seus próprios retratos da deficiência.

Organização

A estrutura da monografia se divide nesta introdução e mais cinco capítulos que compõem, de modo geral, as diversas fases de um programa de inclusão social, quais sejam, o diagnóstico, a construção de um arcabouço integrado de políticas e a identificação dos alvos das ações, a análise de políticas setoriais e a avaliação de impacto de ações específicas. No Capítulo 2 traçamos um retrato das deficiências por vários ângulos, o que nos permitiu conhecer o universo em questão e aprender a lidar com algumas das múltiplas facetas do tema. Os diferentes tipos de deficiências possuem características das mais variadas, requerendo cuidados e políticas também diferenciadas. Em especial, utilizamos os dados do Censo Demográfico de 2000, avaliando como essas características se distribuem entre os grupos das pessoas com deficiência em geral, incluindo indivíduos com alguma ou grande dificuldade de andar, enxergar ou ouvir. E mais especificamente, entre o grupo de pessoas com percepção de incapacidades (PPIs), aqui convencionados como aqueles que se declararam incapazes de ouvir, andar ou enxergar, os indivíduos com deficiência mental e aqueles com algum tipo de deficiência física ou motora. O termo incapaz aparece no Censo Demográfico de 2000 representando um grau mais alto de um dado tipo de deficiência em

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relação às categorias grande dificuldade, ou alguma dificuldade, tal como percebido pelo entrevistado e levando em conta o ambiente externo.

O resultado de maior relevância do capítulo 2 se refere ao papel desempenhado pela questão etária, que contribui mais para o aparecimento de deficiências do que de incapacidades. Comprovamos a robustez desse diagnóstico através de metodologias empíricas distintas. Em uma delas, a análise de correspondência, foi possível resumir informações relativas a um amplo acervo de atributos sócio-demográficos em gráficos de dimensões reduzidas, constituindo um verdadeiro retrato panorâmico dos diferentes tipos e graus de deficiências e de atributos associados. Os resultados sugerem que o Censo Demográfico de 2000, ao incorporar no universo das deficiências aquelas do tipo “alguma ou grande dificuldade” acabou por classificar grande parte da população idosa como tal, pois, de modo geral, o perfil etário encontrado para os indivíduos sem deficiências e para aqueles com percepção de incapacidade estão mais presentes nas fases iniciais e intermediárias do ciclo de vida, respectivamente, o mesmo não acontecendo para o perfil daqueles com “alguma ou grande dificuldade”, que se associa com indivíduos de idade mais avançada.

No capítulo 3 elaboramos mapas da deficiência que permitem identificar espacialmente o público-alvo das ações de políticas de acordo com suas diferentes necessidades e potencialidades. O mapa das deficiências, além de nos indicar os estados, municípios e em alguns casos subdistritos onde há maior incidência de deficiência, avalia também as condições de rendimento, acesso à educação, ativos físicos (moradia, bens duráveis, automóvel, etc) e serviços públicos (telefonia, luz, água, etc), permitindo checar as necessidades, estabelecer prioridades e traçar políticas específicas para uma determinada população de PPDs. Constatamos nesse capítulo diversos acervos de informações a saber: mapa social, mapa de rendas, mapa de ativos e mapa da pobreza. Por fim, discutimos ainda a desigualdade de renda brasileira, com destaque ao papel desempenhado pelas pessoas com deficiência e os diferenciais de salário entre elas e as demais pessoas ocupadas no país.

No capitulo 4 tratamos de analisar áreas específicas de atuação de ações inclusivas. Construímos inicialmente um arcabouço unificado de políticas, revisitamos a literatura relativa às principais barreiras sociais à inclusão das pessoas com deficiência e os meios de transpô- las. As soluções destacadas assumem uma visão setorial, indo à literatura e aos

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dados das salas de aula, dos postos de saúde, dos meios de transporte, das quadras de esporte entre outros. Por fim, dedicamos a última seção do capítulo para discutir brevemente o papel de políticas integradas de inserção social e algumas políticas assistenciais adotadas, como, por exemplo, o Benefício de Prestação Continuada (BPC). Somando-se a isso, o capítulo apresenta uma revisão da literatura de PPDs, uma vez que reunimos diversos estudos nacional e internacional sobre inclusão social das pessoas com deficiência, combinando um conjunto amplo de informações primárias e secundárias extraídas de diferentes registros administrativos e pesquisas domiciliares.

No capítulo 5 damos seqüência à análise de políticas com um tema relevante e atual, a inclusão trabalhista das PPDs, lá entendida como aquelas que conseguem um posto no mercado de trabalho formal. O foco da análise é a política de cotas, implementada em 1999, que constitui hoje o principal mecanismo de inserção social das PPDs. A legislação brasileira obriga as empresas com 100 empregados a contratarem formalmente pelo menos 2% de PPDs no seu quadro de funcionários. Essa proporção sobe paulatinamente até atingir 5% para empresas com mais de 1000 empregados.

Como no Brasil a lei é freqüentemente descumprida, é importante saber em que medida este é o caso, e os fatores associados. Avaliamos a política de cotas praticada no Brasil desde 1999, pois existem dados disponíveis para tanto. Esse tipo de análise pode gerar lições para outros grupos tradicionalmente discriminados, como os afro-brasileiros que começam a ter ouvidas as suas demandas pela implementação de cotas. Adicionalmente, discutimos a adoção de outras medidas complementares e substitutas às políticas de cotas, procurando estabelecer um elo com as políticas compensatórias, tradicionalmente implementadas, e aquelas estruturais, que têm impacto mais persistente na sociedade.

Finalmente, o capítulo 6 pode ser usado alternativamente como conclusão, ou como sumário executivo. Nele avaliamos a importância da formulação de políticas públicas e a fixação de prioridades privadas orientadas à inclusão social.

Ressaltamos que o material mais detalhado da análise e mais específico do texto começam com o símbolo de um livro (&) e são identificados na seção em detalhe por tipografia em itálico, indicando que podem ser omitidos sem perda de continuidade. Ou

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seja, o leitor que desejar aprofundar a análise poderá estender sua leitura ao texto em questão, embora a omissão deste não comprometa as conclusões substantivas levantadas.

Referências

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