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Irmão de Cilon Cunha Brum ainda tem esperança de achar corpo de guerrilheiro morto em 1974

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Lino Brum Filho, irmão de Cilon, defende que responsáveis sejam punidos Foto: Diego Vara / Agencia RBS

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Diário de Santa Maria

Sombras da ditadura 08/11/2015 | 12h05

Irmão de Cilon Cunha Brum ainda tem esperança

de achar corpo de guerrilheiro morto em 1974

Agora, major Curió confessou ter matado guerrilheiro sepeense durante a Guerrilha do Araguaia

No cemitério de São Sepé, um tumulto tem a lápide com o nome e a foto de Cilon Cunha Brum, mas está vazio, pois seu corpo nunca foi localizado. Nos últimos anos, a família Brum começou a descobrir mais detalhes do que aconteceu com Cilon e na Guerrilha do Araguaia – entre Pará e atual Tocantins –, onde o militante do PCdoB atuou, nos anos 70. De 2008 a 2012, revelações de um dos líderes do Exército no Araguaia confirmaram o que todos tinham quase certeza. O Exército matou e ocultou os corpos de pelo menos 67 guerrilheiros ligados ao PC do B e cerca de 30 camponeses que se uniram ao movimento. Agora em outubro, o próprio major do Exército Sebastião de Moura, 77 anos, o Curió, durante depoimento à Justiça Federal, em Brasília, confessou ter matado Cilon, cujo codinome era Simão, e outros três guerrilheiros em janeiro de 1974. É mais um capítulo dessa história, que dá mais esperanças à família de achar os restos mortais e de punir o autor das mortes.

O procurador do Ministério Público Federal (MPF), Ivan Marx, que já atuou em Santa Maria e está em Brasília, participou da audiência e fez perguntas a Curió. Como o processo corre em segredo, Marx diz que não pode dar detalhes do que foi dito, mas nega que o militar tenha detalhado onde estariam os corpos, como chegou a ser publicado por alguns sites. Curió teria só confirmado a versão de que matou guerrilheiros porque eles tentaram fugir.

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D Deni Zolin

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– Acredito que, nesse caso, ele tenha falado a verdade, mas é preciso ter cuidado, pois nem tudo o que o Curió diz é verdade. É preciso confirmar, pois ele costuma dar versões contraditórias. Sempre fez isso para confundir – diz Marx.

O procurador integra uma força-tarefa do MPF que trata do caso do Araguaia e participa das buscas pelas restos mortais dos desaparecidos (veja quadro abaixo).

Após a confissão de Curió, a Justiça Federal de Brasília determinou novas buscas para

tentar achar os corpos de Cilon e de outros guerrilheiros, porém segue atrás de mais

detalhes sobre a provável localização. Uma agenda com anotações de Curió, que o

militar entregou a um jornalista, deve ser pedida pela Justiça. Mas não se sabe se

nessa agenda existem mais pistas do local onde os corpos teriam sido ocultados. Há

relatos de que, após as execuções, os corpos eram queimados para dificultar a

identificação.

Segundo Marx, as expedições devem ser retomadas em 2016, pois devido ao período

de chuvas, só é possível fazer escavações no Araguaia de maio a outubro. O procurador

não diz o que fará em relação à confissão de Curió, mas é provável que o major da

reserva seja processado criminalmente pelas mortes.

– Enquanto houver um corpo insepulto, o Estado terá essa dívida. Acho que o

processo tem de ser aberto, pois todos têm de pagar por seus atos criminosos.

Execução é um crime imprescritível – diz o jornalista Lino Brum Filho, 72 anos, um

dos sete irmãos de Cilon.

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Em 1996, o governo federal reconheceu que os desaparecidos estavam mortos e

indenizou parentes. Só então a família colocou esta lápide no túmulo, que segue

vazio

Mortos vivos?

Uma novidade do depoimento de Curió é que ele negou a lenda dos mortos vivos, de que cinco guerrilheiros teriam sido poupados e mudado de nome. Todos foram mortos, teria dito.

O professor de História da UFSM, Diorge Konrad, não considera que os movimentos de resistência, como no Araguaia, eram românticos, mas que havia uma tentativa real de repetir a revolução feita na China e em Cuba, só que aqui ela foi impedido pelas Forças Armadas.

– Ao executar pessoas, os militares ultrapassaram até as leis da própria ditadura, que previa pena de morte, mas não condenou ninguém à morte. Houve tortura e execuções, que são crimes bárbaros. É preciso divulgar isso para que não se repita. Esses jovens que protestam hoje a favor da volta da ditadura não sabem que temos de evoluir, mas não voltar ao passado. Houve erros inclusive das organizações de esquerda, mas o direito de enterrar um filho é superior a isso – diz.

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Cilon (codinome Simão) ao lado da mãe Lóia (esq) e da madrinha Elza

Nascido em 1946, em São Sepé, Cilon Cunha Brum foi morar em Porto Alegre aos 17

anos. Na Capital, trabalhou em uma agência de propaganda, que o convidou para se

transferir para uma filial em São Paulo. Além de trabalhar na capital paulista, Cilon

começa a estudar Economia na PUC-SP e, em 1970, decidiu largar o emprego para se

dedicar à militância no PC do B. Era um dos períodos mais violentos da ditadura, e o

partido era monitorado pelas forças de repressão, tendo vários integrantes torturados.

Segundo o irmão, Lino, na época, a família ficou sabendo que Cilon era um

doutrinador do partido, que tentava cooptar mais universitários para a sigla.

– A última vez que ele viu a família foi em 9 de junho de 1971, quando veio a Porto

Alegre para batizar a minha filha Liniane. Ele foi embora e, dois meses depois, enviou

bilhete dizendo só “vou viajar para fora, depois mandarei notícias”, mas nunca mais

voltou nem deu notícia – conta Lino.

Desesperada, a família fez tudo o que foi possível para descobrir o paradeiro de Cilon.

De 71 a 79, procurava os órgãos de segurança pedindo informações sobre Cilon e só

obtinham uma resposta: “Nada consta.” Com terceiros, só obteve pistas.

– Só então, em 1979, é que a OAB do Rio divulgou uma lista de desaparecidos e

mortos na ditadura. Constava o nome Cilon da Costa Brum, citando que era gaúcho e

que desapareceu no Araguaia. Eles erravam na grafia, mas a gente teve certeza de que

se tratava dele – diz Lino.

O irmão conta que Cilon sabia dos riscos que estava correndo. Nessa última visita à

família, o próprio Lino o alertou que seria arriscado e tentou demovê-lo da ideia de

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DIÁRIO DE SANTA MARIA

seguir atuando na militância, em função do momento conturbado da ditadura.

– Ele sabia que estava correndo riscos e disse que se fosse morrer assim, morreria

feliz. Se ele estava lá, lutando por uma sociedade mais justa e igualitária, acho que ele

estava feliz.

Tanto o pai quanto a mãe de Cilon morreram sem ter certeza do paradeiro do filho.

Seu Lino faleceu em 1976, e dona Lóia foi descansar ao lado do marido em 1989. No

jazigo da família, em São Sepé, traz a inscrição: “Esta sepultura aguarda o corpo de

Cilon Cunha Brum”.

– Nos últimos anos de vida, todos os dias, a mãe pedia para sentar na porta e dizia:

“Acho que hoje meu filho vem” – diz Lino.

Lino e a filha Liniane, que escreveram um livro sobre o padrinho, foram ao Araguaia,

a partir de 2009, e conversaram com moradores que conviveram com Simão (Cilon).

Nessas andanças, eles descobriram que Simão havia sido capturado e, como

prisioneiro, trabalhou por um tempo na base militar no Araguaia:

– Uma moradora nos contou que conviveu com o Cilon, mas que, num dia, os

militares chegaram de helicóptero, desceram e levaram Cilon e outro guerrilheiro ao

mato e voltaram sem eles.

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