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PRÍNCIPES E BOBOS DA CORTE: CONFIGURAÇÕES GAYS DAS TELENOVELAS GLOBAIS Olinson Coutinho Miranda¹

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III SEMINÁRIO INTERNACIONAL ENLAÇANDO SEXUALIDADES 15 a 17 de Maio de 2013

Universidade do Estado da Bahia – Campus I Salvador - BA

PRÍNCIPES E BOBOS DA CORTE: CONFIGURAÇÕES GAYS DAS

TELENOVELAS GLOBAIS

Olinson Coutinho Miranda¹

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Resumo:Este artigo tem como temática as configurações dos gays nas telenovelas brasileiras, os quais são

representados enquanto príncipes e bobos da corte. Serão utilizados teóricos como Adorno e Debord para justificar o fato da rede globo ser grande representante da indústria cultural e da sociedade do espetáculo. Os gays são representados enquanto príncipes (gays ricos, fortes, bonitos, heterossexualizados) e bobos da corte (gays pobres, palhaços, caricaturados), os quais fortalecem o preconceito e heterossexualização dos homossexuais. Diante da ideia de discussão sobre os gays nas telenovelas, detecta-se a importância de análise diante dos estudos queer, uma vez que as configurações homoeróticas representam personagens nomeados como bichas, travestis, drags, enquanto multiplicidade queer e os gays heterossexualizados, enquanto ratificação dos ideais da heteronormatividade dominante na sociedade centralizadora e excludente.

Palavras-chave: Bobos da corte; Príncipes; Gays; Queer. Introdução

Neste artigo, destacam-se as configurações dos personagens gays nas telenovelas brasileiras da rede globo entre os anos de 2010 e 2012. Telenovelas que representam ativamente a indústria cultural e a sociedade do espetáculo, conceitos importantes discutidos por Adorno e Debord. Os personagens gays analisados perpassam pelas novelas Tititi (2010/11), Insensato Coração (2010/11), Fina Estampa (2011/12), Aquele Beijo (2011/12) e Morde e Assopra (2011/12), os quais configuram as concepções de sujeitos equivalentes metaforicamente aos príncipes e bobos da corte devido ao fato deles serem representados dentro da duplicidade dos homens galãs e cômicos.

É importante perceber os estudos queer diante dessas analises de personagens gays, uma vez que os estudos queer englobam tudo aquilo que é visto como diferente, raro, anormal, excêntrico e que rompe com as normas e regras determinadas pelo heterocentrismo dominante e controlador. Esta análise esclarece a presença de sujeitos ditos queer como os travestis, as bichas, porém representadas através de forte presença de preconceitos, e, além disso, há a presença de personagens gays que são heterosexualizados por seguirem as normas estabelecidas pela sociedade heterossexual.

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Professor de Língua Portuguesa e Inglês do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Baiano, Campus Governador Mangabeira e mestrando em Crítica Cultural pela UNEB.

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Indústria cultural e sociedade do espetáculo

Diante dos estudos e análises das configurações e representações dos personagens gays em telenovelas globais brasileiras, é indispensável retratar dois conceitos fundamentais a ideia de indústria cultural trazida por Adorno e a concepção de sociedade do espetáculo trazida por Debord.

A telenovela, uma cultura de massa, engloba o conceito de indústria cultural em relação ao fato do único objetivo da produção é a amplitude de comércio e consumo dos produtos apresentados e utilizados pelos personagens. Dessa forma, a concepção crítica e formação do sujeito são esquecidas diante desse objetivo principal. Adorno (2002) afirma que:

Os interessados adoram explicar a indústria cultural em termos tecnológicos. A participação de milhões em tal indústria imporia métodos de reprodução que, por seu turno, fazem com que inevitavelmente, em numerosos locais, necessidades iguais sejam satisfeitas com produtos estandardizados. O contraste técnico entre poucos centros de produção e uma recepção difusa exigiria, por força das coisas, organização e planificação da parte dos detentores. Os clichês seriam causados pelas necessidades dos consumidores: por isso seriam aceitos sem oposição. Na realidade, é por causa desse círculo de manipulações e necessidades derivadas que a unidade do sistema torna-se cada vez mais impermeável. O que não se diz é que o ambiente em que a técnica adquire tanto poder sobre a sociedade encarna o próprio poder dos economicamente mais fortes sobre a mesma sociedade. A racionalidade técnica hoje é a racionalidade da própria dominação, é o caráter repressivo da sociedade que se auto-aliena. O mundo inteiro é forçado a passar pelo crivo da indústria cultural. (ADORNO, 2002).

Segundo Daniel Ribeiro Silva (2002), Adorno declara que na Indústria Cultural, tudo se torna negócio. Enquanto negócios, seus fins comerciais são realizados por meio de sistemática e programada exploração de bens considerados culturais. Portanto, podemos dizer que a Indústria

Cultural traz consigo todos os elementos característicos do mundo industrial moderno e nele exerce

um papel especifico, qual seja o de portadora da ideologia dominante, a qual outorga sentido a todo o sistema.

De acordo com Silva (2002), é importante salientar que, para Adorno, o homem, nessa Indústria Cultural, não passa de mero instrumento de trabalho e de consumo, ou seja, objeto. O homem é tão bem manipulado e ideologizado que até mesmo o seu lazer se torna uma extensão do trabalho. A Indústria Cultura, que tem com guia a racionalidade técnica esclarecida, prepara as mentes para um esquematismo que é oferecido pela indústria da cultura – que aparece para os seus

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usuários como um “conselho de quem entende”. O consumidor não precisa se dar ao trabalho de pensar, é só escolher.

Analisando a realidade da televisão, pode-se perceber que sua intenção está voltada para o consumo, levando em consideração a cultura enquanto indústria produtora de pessoas consumidoras. Dessa forma, Adorno esclarece:

Sob o poder do monopólio, toda cultura de massas é idêntica, e seu esqueleto, a ossatura conceitual fabricada por aquele, começa a se delinear. Os dirigentes não estão mais sequer muito interessados em encobri-lo, seu poder se fortalece quanto mais brutalmente ele se confessa de público. O cinema e o rádio não precisam mais se apresentar como arte. A verdade de que não passam de um negócio, eles a utilizam como uma ideologia destinada a legitimar o lixo que propositadamente produzem. Eles se definem a si mesmos como indústrias, e as cifras publicadas dos rendimentos de seus diretores gerais suprimem toda dúvida quanto à necessidade social de seus produtos. (ADORNO, 2002,114).

Outro conceito indispensável a ser analisado quando se estuda a cultura de massas é a sociedade do espetáculo representada por Debord, o qual define a representação feita nas telenovelas como uma pseudo-realidade vivida pelos personagens nas telenovelas e que através de sua situação enquanto espetáculo faz com que os telespectadores se vejam como tal e se posicionem dentro dessa falsa sociedade. Debord (2003) descreve essa sociedade do espetáculo em seus diversos conceitos:

Toda a vida das sociedades nas quais reinam as condições modernas de produção se anuncia como uma imensa acumulação de espetáculos. Tudo o que era diretamente vivido se esvai na fumaça da representação. As imagens fluem desligadas de cada aspecto da vida e fundem-se num curso comum, de forma que a

unidade da vida não mais pode ser restabelecida. A realidade

considerada parcialmente reflete em sua própria unidade geral um pseudo mundo à

parte, objeto de pura contemplação. A especialização das imagens do mundo acaba

numa imagem autonomizada, onde o mentiroso mente a si próprio. O espetáculo em geral, como inversão concreta da vida, é o movimento autônomo do não-vivo. O espetáculo é ao mesmo tempo parte da sociedade, a própria sociedade e seu instrumento de unificação. Enquanto parte da sociedade, o espetáculo concentra todo o olhar e toda a consciência. Por ser algo separado, ele é o foco do olhar iludido e da falsa consciência; a unificação que realiza não é outra coisa senão a linguagem oficial da separação generalizada. O espetáculo não é um conjunto de imagens, mas uma relação social entre pessoas, mediatizada por imagens. O espetáculo, compreendido na sua totalidade, é simultaneamente o resultado e o projeto do modo de produção existente. Ele não é um complemento ao mundo real, um adereço decorativo. É o coração da irrealidade da sociedade real. Sob todas as suas formas particulares de informação ou propaganda, publicidade ou consumo direto do entretenimento, o espetáculo constitui o

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escolha já feita na produção, e no seu corolário — o consumo. No mundo realmente invertido, o verdadeiro é um momento do falso. (DEBORD, 2003, 13-15).

Debord em seus conceitos deixa claro que a sociedade é feita de espetáculos e que esses espetáculos representam uma pseudo-realidade, a qual é representada de forma tão verdadeira que as pessoas não percebem essa falsa realidade e determina como verdade absoluta em suas vidas. Diante deste espetáculo a sociedade vira mercadoria e o que rege é poder do dinheiro, do consumo, e isso é visto na televisão enquanto meio de comunicação de massa que representa uma pseudo-vida aos espectadores consumidores. Diante disso, Debord (2003) afirma:

É pelo princípio do fetichismo da mercadoria, a sociedade sendo dominada por «coisas supra-sensíveis embora sensíveis», que o espetáculo se realiza absolutamente. O mundo sensível é substituído por uma seleção de imagens que existem acima dele, ao mesmo tempo em que se faz reconhecer como o sensível por excelência. O mundo ao mesmo tempo presente e ausente que o espetáculo

apresenta é o mundo da mercadoria dominando tudo o que é vivido. O mundo da

mercadoria é mostrado como ele é, com seu movimento idêntico

ao afastamento dos homens entre si, diante de seu produto global. O espetáculo é a outra face do dinheiro: o equivalente geral abstrato de todas as mercadorias. Mas se o dinheiro dominou a sociedade enquanto representação da equivalência central, isto é, do carácter permutável dos bens múltiplos cujo uso permanecia incomparável, o espetáculo é o seu complemento moderno desenvolvido, onde a totalidade do mundo mercantil aparece em bloco como uma equivalência geral ao que o conjunto da sociedade pode ser e fazer. O espetáculo é o dinheiro que se olha

somente, pois nele é já a totalidade do uso que se trocou com a totalidade da

representação abstrata. O espetáculo não é somente o servidor do pseudo-uso, é já, em si próprio, o pseudo-uso da vida. (DEBORD, 2003).

Configurações dos príncipes gays globais

Quanto às configurações gays representadas nas telenovelas globais brasileiras, percebe-se que alguns personagens são equivalentes as representações dos príncipes, figuras da corte real que sempre era homem branco, grande, belo, forte, guerreiro e rico. Fazendo parte de uma família tradicional em que reis, rainhas, príncipes e princesas são superiores e estão sempre em destaque pela sua riqueza, beleza e poderio.

Diante da ideia das configurações de homens gays príncipes, destacam-se os personagens Osmar (Gustavo Leão), Julinho (Andre Arteche) e Thales (Armando Babaioff) da novela Tititi; Eduardo (Rodrigo Andrade) e Hugo (Marcos Damigo) de Insensato Coração.

Osmar é um dos personagens gays da novela tititi, esposo de Julinho, porém ele morre no meio da trama e Julinho ficando viúvo e um grande apaixonado pelo seu ex-namorado falecido

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passa quase toda novela sem outro companheiro até que encontra Thales, no final da novela, pelo qual se apaixona, porém representam um romance de tormentos e duvidas por parte de Thales que ainda se assume como homossexual. Os personagens Osmar, Julinho e Thales são príncipes representados na trama, pois eles são galãs, bonitos, fortes, ricos e sempre se apresenta em destaque dentro da sociedade, porém ainda sofrem como o preconceito e exclusão principalmente da família, apesar de ganharem seu espaço no desenrolar dos capítulos.

Hugo de Insensato Coração é um rapaz bonito e esportista, sério e competente. Professor de Direito, sendo amigo dos alunos. Joga futevôlei na praia em frente ao quiosque de Sueli. Percebe que Eduardo é homossexual e o incentiva a assumir sua verdadeira sexualidade. Enfrenta com ele o preconceito de todos, mas oficializam a união como apoio de Sueli. Eduardo seu namorado, é filho de Sueli, muito amigo da mãe. Bonito, sensível, mas contido e reservado. Formado em marketing, sofre com o desemprego. Inteligente, responsável e competente, consegue uma vaga no Grupo Drumond e logo vira homem de confiança de Carol. Durante suas idas a novos ambientes começa a namorar com Paula, mas o romance é frio e não dura muito. Descobre ser homossexual e com ajuda de Hugo, assume sua homossexualidade. Enfrenta o choque inicial da mãe, mas logo depois ganha seu apoio e se casa com seu namorado Hugo. Através dessas informações, percebe-se o quanto estes personagens são vistos como príncipes por representarem personagens belos. Inteligentes, fortes e que sempre vencem na vida apesar dos problemas contra o preconceito pela questão da homossexualidade.

Estes personagens confirmam a ideia de configurações homoeróticas de príncipes que acabam superando seus problemas como o preconceito, porém vistos como pessoas que merecem o respeito por representar pessoas que estão no ápice da sociedade, pois são de classe média e alta que se destaca na vida. Porem, estes personagens gays são heterossexualizados pela Rede Globo pelo fato de apresentarem características e atitudes dentro das normas heterossexuais.

Configurações dos bobos da corte gays globais

No outro lado da corte, existem as configurações dos bobos que são figuras de aparência estranha, sendo engraçados, bobos e deficientes. Sendo colocado à parte da sociedade e sempre de classe baixa dependentes dos seus superiores, reis, rainhas, príncipes e princesas.

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Segundo Juliana Dorneles (2003), quanto aos bobos da corte, eram loucos de rua, anões, gagos, deficientes físicos ou mentais. Alguns eram criaturas simplórias que eram motivos de riso e chacota, assim obtendo a condescendência do Rei. Towsen coloca que o “sucesso desses bobos estava ligado à sua aparência grotesca, sua loucura, ou sua habilidade de utilizar a simplicidade mental para efeitos cômicos”. (TOWSEN, 1976, 25).

Em relação aos personagens gays configuradas bobos da corte, destacam-se Ana Girafa (Luis Salém) de Aquele Beijo, Crodoaldo Valério, Crò (Marcelo Serrado) de Fina Estampa e Áureo (André Gonçalves) de Morde Assopra.

Ana Girafa, um travesti, é uma pessoa de bom coração, porém “mal” vista, pois algumas pessoas da sociedade, inclusive sua mãe Maruschka que sempre a abandonou e desprezou pelo sua homossexualidade e ainda mais por ser travesti. É uma pessoa bondosa, engraçada que gosta de ajudar os amigos.

Áureo é filho de Minerva e Isaías, foi noivo de Celeste, mas desapareceu misteriosamente poucos dias antes do casamento. Voltou para Preciosa depois de morar anos em São Paulo e surpreendeu os pais com seu novo estilo de vida, um gay afeminado que adora se transvesti e altamente engraçado. Após uma recaída, teve um filho com Celeste e chegou a ficar noivo da morena. Porem, acabou abandonando-a no altar para fugir com o caipira Josué.

Crô é personagem gay começou até que razoavelmente discreto dentro de sua exuberância, mas logo foi ganhando mais e mais espaço. Claramente voltado para o humor, a criação de Aguinaldo Silva chega até a ser criticada por parte da comunidade gay porque seria caricato demais, a qual acaba por denegrir a imagem dos homossexuais. Aliás, não seria nada surpreendente encontrar pessoas que passaram a ver Fina Estampa exclusivamente por causa do mordomo de Tereza Cristina. Crô fez todo mundo dar risada com seus trejeitos, suas frases ótimas e suas divertidas brigas com Baltazar.

Dessa forma, é perceptível a configuração dos gays bobos da corte nas novelas globais uma vez que os gays são representados de forma cômica, engraçada, boba, submissa, estereotipada, caricaturada, exclusiva, estranha. E diante dessas representações acabam por fortalecer o preconceito, a exclusão e a forma errônea como os homossexuais, principalmente os travestis, as bichas, as drags são apresentados.

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Os personagens gays das telenovelas globais e os estudos queer

Diante das descrições e análises feitas com os personagens gays das telenovelas globais dos anos 2010 a 2012, percebe-se a necessidade de análise por meio dos ideais dos estudos queer, uma vez que os personagens gays bobos da corte acima citados são considerados estranhos, excêntricos e raros e os príncipes são heterossexualizados por seguirem normas ditas pela sociedade heterossexual centralizadora.

Ao iniciar a análise queer dentro dos personagens gays é importante conceituá-la e situá-la dentro do contexto a qual esta sendo utilizada. Os estudos queer surgiram enquanto teoria nos Estados Unidos na década de 90 do século XX com a relação entre os Estudos Culturais e o Pós-estruturalismo francês, no intuito de questionar, problematizar, transformar, radicalizar e ativar uma minoria excluída da sociedade centralizadora e heteronormativa. Portanto, representa as minorias sexuais em sua diversidade e multiplicidade, levando em consideração todos os tipos e concepções de sexualidade.

É importante destacar, que a palavra queer, utilizada pelos teóricos, não tem uma tradução exata para a Língua Portuguesa. Portanto, a expressão queer é traduzida como estranho, talvez ridículo, raro, excêntrico, extraordinário. Retratando assim, uma situação de dúvida, questionamento, novidade, rebeldia e diversidade.

E como Louro também afirma:

Queer é tudo isso: é estranho, raro, esquisito. Queer é, também, o sujeito da exualidade desviante- homossexuais, bissexuais, transexuais, travestis, drags. É o excêntrico que não deseja ser integrado e muito menos tolerado. Queer é um jeito de pensar e de ser que não aspira ao centro e nem o quer como referencias; um jeito de pensar que desafia as normas regulatórias da sociedade, que assume o desconforto da ambiguidade, do entre lugares, do indecidível. Queer é um corpo estranho que incomoda perturba, provoca e fascina. (LOURO, 2004, p 57).

A ideia dos teóricos usarem o termo queer, representando raro, excêntrico, vem da situação de positivar a repulsa, a humilhação, de forma pejorativa, que os homossexuais são agredidos e insultados pela sociedade heteronormativa e centralizadora. Segundo Butler (2002), a cultura queer adquire todo o seu poder precisamente através da invocação reiterada que o relaciona com acusações, patologias e insulto).

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Louro também deixa claro que personagens como os bissexuais, travestis, bichas, drags representam tipos queer, pois se apresentam enquanto seres raros, excêntricos, estranhos, desviante que contrariam uma norma dita pela sociedade heterossexual centralizadora. Diante desses representantes queer, detecta-se a presença dos personagens gays Bobos da Corte Áureo (bicha e drag), Ana Girafa (tavesti) e Crô (bicha), pois são taxados como estranhos, diferentes, desviantes pela sociedade excludente e preconceituosa representadas nas novelas.

Os personagens gays Príncipes são representações contrárias aos ideais queer, no momento em que eles são configurados enquanto gays ditos “normais” que seguem as regras e normas ditas pela sociedade heterossexual. Dessa forma, os príncipes Julinho, Osmar, são heterossexualizados por serem homossexuais que não apresentam características que os distinguem dos heterossexuais apesar dos preconceitos e descriminação sofridos pelos personagens.

Considerações finais

Diante do que foi exposto, pode-se perceber que as telenovelas globais representam os gays enquanto configurações de príncipes (homens centrados, bonitos, ricos, inteligentes, bem sucedidos) e bobos da corte (estranhos, excêntricos, bobos, submissos, estereotipados, caricaturados), os quais caracterizam os gays enquanto pertencentes a uma sociedade preconceituosa e excludente que dita regras e normas dentro da heterossexualidade. As telenovelas acima citadas apresentam uma variedade de tipos homossexuais encontrados na sociedade, gays heterossexualizados, bichas, travestis e drags, os quais representam características e ideais dos estudos queer, pois ser queer é ser diferente, excêntrico, raro, extravagante, estereotipado, caricaturado, é quebrar as regras ditas pela sociedade heterossexual centralizadora e normatizante.

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Referências

ADORNO, Theodor. Industrial cultural e a sociedade. Traduzido por Juba Elisabeth Levy. São Paulo: Paz e terra, 2002.

BUTLER, Judith. Críticamente subversiva. In: JIMÉNEZ, Rafael M. Mérida. Sexualidades

transgresoras. Una antología de estudios queer. Barcelona: Icária editorial, 2002.

DEBORD, Guy. A sociedade do espetáculo. São Paulo: Coletivo Periferia, 2003.

DORNELES, Juliana Leal. Clown, o avesso de si: uma análise do clownesco na pós-modernidade. Porto Alegre, 2003.

LOURO, Guacira Lopes. O corpo estranho. Ensaios sobre sexualidade e teoria queer. Belo Horizonte: Autêntica, 2004.

SILVA, Daniel Ribeiro da. Adorno e a indústria cultural. Revista Urutágua, ano I, nº 04, maio de 2002, UEM, Maringá, Paraná.

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