• Nenhum resultado encontrado

QUANTO CUSTA SER IMIGRANTE? EDITE ROSÁRIO TIAGO SANTOS

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "QUANTO CUSTA SER IMIGRANTE? EDITE ROSÁRIO TIAGO SANTOS"

Copied!
61
0
0

Texto

(1)

QUANTO CUSTA SER IMIGRANTE?

EDITE ROSÁRIO TIAGO SANTOS

(2)

ÍNDICE GERAL

NOTA DE ABERTURA 7

NOTA DO COORDENADOR 9

QUANTO CUSTA SER IMIGRANTE?

13

AGRADECIMENTOS 14

INTRODUÇÃO 15

METODOLOGIA 19

CABAZ COMPARATIVO DE PRODUTOS E SERVIÇOS 23

Passaporte 24

Certidão de nascimento 26

Certidão de casamento 29

Carta de condução 32

Documentos de Identificação 34

Documentação necessária para ter a presença no país regularizada 37

Multas por atraso 48

Cartão de Contribuinte 50

Cartão da Segurança Social 52

Cartão de Utente do Serviço Nacional de Saúde 53

Certificado do Registo Criminal 55

Diploma do Ensino Superior 57

Transferências Internacionais/Remessas 67

CONCLUSÕES: AFINAL, QUANTO CUSTA SER IMIGRANTE? 75

Uma visão micro 75

Uma visão macro 91

Recomendações 95

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 101

ANEXOS

Anexo I – Guião dos focus groups 105

Anexo II – Cursos ministrados pelas universidades 109

Anexo III – Remessas 113

Anexo IV – Preços de transferências 114

Anexo V – Comportamento financeiro dos imigrantes brasileiros em Portugal 118

Biblioteca Nacional – Catalogação na Publicação

ROSÁRIO, Edite, e outro

Quanto custa ser imigrante?/ Edite Rosário, Tiago Santos. – (Estudos OI; 26) ISBN 978-989-8000-44-6 I – SANTOS, Tiago, 1973-CDU 314 316 338 PROMOTOR

ALTO-COMISSARIADO PARA A IMIGRAÇÃO E DIÁLOGO INTERCULTURAL (ACIDI, I.P.)

COORDENADOR DA COLECÇÃO

PROF. ROBERTO CARNEIRO rc@cepcep.ucp.pt

AUTORES

EDITE ROSÁRIO TIAGO SANTOS

EDIÇÃO

ALTO-COMISSARIADO PARA A IMIGRAÇÃO E DIÁLOGO INTERCULTURAL (ACIDI, I.P.)

Rua Álvaro Coutinho, n.º14, 1150-025 Lisboa Telefone: (+351) 218106100 Fax: (+351) 218106117

E-mail: acidi@acidi.gov.pt

EXECUÇÃO GRÁFICA

PAULINAS EDITORA

IMPRESSÃO E ACABAMENTOS

ARTIPOL – ARTES TIPOGRÁFICAS, LDA. – ÁGUEDA

PRIMEIRA EDIÇÃO 1500 EXEMPLARES ISBN 978-989-8000-44-6 DEPÓSITO LEGAL 275 654/08 LISBOA, ABRIL 2008

(3)

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Diferenças das médias das remunerações base 15

Tabela 2 – Cabaz comparativo de produtos e serviços 21

Tabela 3 – Custos de um passaporte português 22

Tabela 4 – Custos associados aos passaportes 24

Tabela 5 – Custos associados às certidões de nascimento 25

Tabela 6 – Custos indirectos associados às certidões de nascimento 27

Tabela 7 – Custos associados às certidões de casamento por fim 28

Tabela 8 – Custos associados às certidões de casamento por nacionalidade 29

Tabela 9 – Custos associados às cartas de condução 32

Tabela 10 – Custos associados aos Bilhetes de Identidade portugueses 34

Tabela 11 – Custos associados aos documentos de identificação 35

Tabela 12 – Custos associados aos vistos de estudo 37

Tabela 13 – Custos associados aos vistos de trabalho 39

Tabela 14 – Custos associados aos vistos de residência 40

Tabela 15 – Custos associados às autorizações de residência 45

Tabela 16 – Custos associados ao Cartão de Contribuinte 50

Tabela 17 – Custos associados ao Cartão da Segurança Social 51

Tabela 18 – Custos associados ao Cartão de Utente do SNS 52

Tabela 19 – Custos associados ao Certificado de Registo Criminal 54

Tabela 20 – Custos associados aos diplomas universitários 55

Tabela 21 – Custos associados aos diplomas de institutos e escolas superiores 56

Tabela 22 – Custos associados ao reconhecimento e equivalência de diplomas estrangeiros

em universidades portuguesas 59

Tabela 23 – Custos associados ao reconhecimento e equivalência de diplomas estrangeiros

em institutos e escolas superiores 60

Tabela 24 – Custos associados aos diplomas de institutos e escolas superiores 64

Tabela 25 – Custos associados às transferências/remessas 72

Tabela 26 – Pergunta & Resposta 1 74

Tabela 27 – Pergunta & Resposta 2 75

Tabela 28 – Pergunta & Resposta 3 76

Tabela 29 – Pergunta & Resposta 4 77

Tabela 30 – Pergunta & Resposta 5 78

Tabela 31 – Pergunta & Resposta 6 79

Tabela 32 – Pergunta & Resposta 7 80

(4)

NOTA DE ABERTURA

Em torno da imigração é comum identificarem-se «verdades feitas» que tendem a per-petuar-se. O Observatório da Imigração do ACIDI, I.P. tem, desde 2003, assumido como prioridade a desconstrução de mitos, de representações e/ou de estereótipos acerca dos imigrantes ou da imigração em geral, que teimam em ser veiculados na sociedade portu guesa. Nesse trabalho, o Observatório tem regido a sua intervenção pelo rigor, objectivi -dade e permanente procura da ver-dade.

Dando continuidade ao trabalho empenhado do meu antecessor, o Dr. Rui Marques, no desenho de pontes fundamentais entre a comunidade científica, decisores políticos e representantes da sociedade civil, surge este novo livro da colecção de Estudos do Observatório de Imigração.

Através duma análise inédita em Portugal, os investigadores Edite Rosário e Tiago Santos desenvolveram uma comparação fina entre as despesas administrativas dos imigrantes e dos portugueses na sua vida na sociedade portuguesa.

Deste trabalho surgem algumas conclusões e recomendações importantes. Entre umas das primeiras conclusões preocupantes está a verificação de que muito embora os imi-grantes aufiram em média rendimentos inferiores aos nacionais, têm encargos superiores. Os resultados desta investigação apontam, em particular, para um evidente desfa vore ci mento dos imigrantes face aos portugueses em relação a despesas referentes a documen -tação pessoal que confere aos seus titulares direitos. Assim, se, por um lado, se verifica que para alguns serviços os imigrantes acedem com custos iguais aos nacionais (e.g., cartão de contribuinte, inscrição na segurança social, cartão de utente do Serviço Nacional de Saúde e o Certificado de Registo Criminal); já para outros foram identificadas modali -dades de acesso distintas que criam assimetrias nas despesas (e.g., Bilhete de Identidade por comparação à Autorização de Residência, coimas relativas ao desrespeito de deveres relacionados com a documentação pessoal).

Tabela 34 – Pergunta & Resposta 9 82

Tabela 35 – Pergunta & Resposta 10 83

Tabela 36 – Top 10 das remessas de imigrantes 111

Tabela 37 – Transferência de 150,00 € para Cabo Verde 112

Tabela 38 – Transferência de 750,00 € para Cabo Verde 113

Tabela 39 – Taxas de Câmbio 10 de Fevereiro de 2006 115

Tabela 40 – Taxa de Transferências – Principais instituições 115

(5)

Os imigrantes têm ainda custos económicos acrescidos associados à sua própria condição de imigrante em Portugal (e.g., passaporte, vistos, trâmites necessários para entrar e per-manecer em Portugal). A maior burocratização no tratamento de documentos que enqua-dram o seu estatuto de residente em Portugal, bem como a menor validade desses documentos (quando comparado com os títulos de identificação dos cidadãos nacionais) e, consequentemente, a sua necessidade de renovação recorrente, tendem a reforçar os custos que os imigrantes têm de suportar.

Este estudo surge, pois, como mais um importante passo para um melhor conhecimento acerca da condição dos imigrantes em Portugal, avançando como uma reflexão inovadora acerca de quanto custa ser imigrante no nosso País. Num contexto em que foi demons-trado em estudos anteriores do Observatório de Imigração o importante papel dos imi-grantes para Portugal – e.g., para a economia nacional, para as contas do estado, para a segurança social, para a demografia portuguesa –, não deixa de ser inquietante verificar que os imigrantes estão expostos a maiores despesas que os nacionais na sua vida em socie dade. Temos assim que agradecer a reflexão e as recomendações que estes inves tiga -dores nos trazem no sentido de minorar os encargos dos imigrantes e favorecer as suas condições em igualdade de acesso a um conjunto de bens e serviços fundamentais em Portugal.

ROSÁRIO FARMHOUSE

ALTA COMISSÁRIA PARA A IMIGRAÇÃO E O DIÁLOGO INTERCULTURAL

NOTA DO COORDENADOR

O 1.º volume da Colecção Estudos e Documentos do Observatório da Imigração foi publi -cado em Maio de 2003 e «desbravou» o importante tema do Impacto da Imigração em Portugal nas Contas do Estado.

Desde então, ao longo de quatro anos e meio de intenso labor, conheceram a luz do dia, no âmbito da mesma Colecção, 25 volumes correspondentes a outros tantos projectos originais de investigação concluídos com sucesso e levando a resultados muito relevantes para a formulação da política pública de imigração. A esta actividade editorial soma-se a edição de outros 10 importantes volumes distribuídos pelas Colecções «Comunidades», «Teses» e «Portugal Intercultural», além da publicação do número 1 da Revista Migrações dedicado ao tema «Imigração e Saúde».

Neste final de 2007, nasce o 26.º volume da Colecção Estudos e Documentos com o qual se fecha um ciclo de estudos ao procederse à divulgação de uma temática «inversa» da -quela com que abriu a Colecção em apreço. Na realidade, ao versar sobre a questão «Quan to Custa Ser Imigrante?» o Observatório da Imigração debruçase sobre a neces si -dade de quantificar os custos acrescidos resultantes da condição imigrante em Portugal por comparação com os custos homólogos suportados por um qualquer cidadão da Re -pública Portuguesa.

Nas palavras dos autores do presente estudo, que passamos a citar, a estimativa dos cus -tos diferenciais que incidem em exclusivo sobre a população imigrante permite evidenciar uma métrica da dimensão de acolhimento e de integração da sociedade portuguesa:

«Aos custos inerentes ao processo de imigração (e.g., pedidos e renovações de vistos, cer tifi ca ções de competências, reconhecimento de habilitações, compro va tivos de parentesco, etc.) acres cem ainda as necessidades comuns a qualquer cida -dão (e.g., saúde, habitação, edu ca ção). Deste modo, o desempenho da sociedade de acolhimento condiciona uma série de exi gên cias que acarretam para os imigran -tes não apenas um investimento em tempo, como tam bém um custo pecuniário, ou

(6)

manente apresenta variações muito significativas, cifrando-se em 223,20 € para os Ucranianos e em 21,10 € para os Cabo-verdianos e Brasileiros.»

Os investigadores-autores, Edite Rosário e Tiago Santos, que são credores do nosso maior respeito e reconhecimento pelo empenhamento e saberes colocados ao serviço do estudo, concluem o trabalho enun cian do um relevante elenco de recomendações de política pú-blica que se oferecem como matéria incon tornável de reflexão por parte das instâncias decisórias competentes.

Ainda no dizer dos autores, essas recomendações têm como beneficiários um amplo leque de destinatários:

«Julgamos que as recomendações entretanto apresentadas beneficiariam não ape nas os imigrantes como a própria sociedade de acolhimento. As barreiras burocrá -ticas ou económicas podem inviabilizar a integração social do imigrante, pois se os procedimentos para a regularização forem demasiado complexos e os custos dema -sia do elevados o sistema acaba por arrastar o imigrante para a situação de irregular.»

Numa sociedade que se diz reger por critérios de justiça social e económica os custos devem ser proporcionais aos benefícios.

Ao longo de vários estudos publicados pelo Observatório da Imigração ficaram claros os ga nhos para Por tu gal decorrentes da boa integração de fluxos migratórios recentes que tomaram por destino o nosso país: be ne fícios financeiros, económicos, demográficos, cul -tu rais e para a sustentabilidade da segurança social.

Abre-se, pois, com a publicação deste estudo, a oportunidade de uma reflexão aturada sobre os custos impostos às mesmas populações imigrantes que são responsáveis pela gera ção de muitos dos benefícios colectivos para Portugal.

Numa altura em que a União Europeia conclui com sucesso um novo Tratado Europeu e caminha para uma harmonização das políticas de imigração, proclamando 2008 como o

seja, determinam em parte o que se passa na dimensão socio e conómica do pro ces -so de integração.

(...) Optámos por delimitar a nossa pesquisa aos custos suportados pelos Portu gue -ses, Brasileiros, Cabo-verdianos e Ucranianos no acesso a determinados produtos e serviços inerentes à permanência e residência em Portugal. Tratase de uma meto -do logia de cabaz, logo procuramos perceber as semelhanças ou diferenças encon-tradas no custo do mesmo produto (ou similar) para os diferentes grupos.»

Os resultados deste estudo são elucidativos quanto ao grau de discriminação que impende negativamente sobre grupos populacionais que demandam Portugal em busca de soluções de vida para si e para os seus agregados familiares. Tomemos apenas dois exemplos ex-traídos das conclusões fundamentadas que os autores nos oferecem e que servem para patentear manifestas discriminações dos imigrantes relati va mente aos nacionais bem como desigualdades graves de tratamento entre grupos de imigrantes:

«Se entendermos que o Bilhete de Identidade cumpre funções similares às de uma AR e compararmos os custos do primeiro, para os cidadãos nacionais, com os do segundo, para os cidadãos de países terceiros, verificamos que os Brasileiros e os Cabo-verdianos pagam três vezes mais pelo documento de identificação e residência do que um cidadão nacional. Os Ucranianos, por sua vez, pagam dezasseis vezes mais pelo mesmo documento.

(...) Dos grupos de imigrantes visados no presente trabalho – Caboverdianos, Bra -silei ros e Ucranianos – os Ucranianos encontram-se geralmente em desvantagem em virtude de não serem originários de um país com o qual Portugal tenha acordos bila terais em matéria de imigração. Para além de apresentaram o cabaz mais dis -pen dio so, são também os mais -penalizados em termos de procedimentos exigidos para ace derem a certos produtos e serviços. Vejamos como se processa essa desi -gual da de, a título de exemplo, para aceder a uma autorização de residência per-manente: em termos processuais os tempos de residência em Portugal necessários à obtenção de uma AR permanente variam entre oito ou cinco anos, conforme se trate de um cidadão ucraniano ou de um cidadão oriundo de um país da CPLP. Em termos de custos verificam-se também condições desiguais. A obtenção da AR

(7)

per-QUANTO CUSTA SER IMIGRANTE?

Ano Europeu do Diálogo Inter cultural, é necessário que Portugal realize um aturado balan -ço da relação custo-benefício que impõe aos imigrantes e se possa apresentar como uma consciência portadora de um olhar justo sobre a condição humana que se acolhe no seu seio em circunstâncias de especial vulnerabilidade.

ROBERTO CARNEIRO

COORDENADOR DO OBSERVATÓRIO DA IMIGRAÇÃO DO ACIDI

(8)

AGRADECIMENTOS

A realização desta investigação não teria sido possível sem a colaboração de um conjunto de pessoas e instituições às quais cabe aos autores mostrar o seu apreço e gratidão. Temos pois a agradecer: ao Me. Rui Marques, o desafio; ao Dr. Ricardo Felner, a partilha do seu tempo e conhecimento da matéria; à Me. Catarina Oliveira, o apoio dado ao longo da rea -li zação deste projecto; ao Serviço Jesuíta aos Refugiados, nas pessoas da Dr.ª Rosário Farm house e da Dr.ª Susana Figueirinha, a mediação com os imigrantes que viriam a constituir os focus groups; às duas dezenas de pessoas, nacionais de outros países que par tici pa ram nos focus groups, o terem concordado em partilhar connosco as experiências vi vi das no seu quotidiano; e ao Eng.º Roberto Carneiro, a crítica construtiva que informou a ver são do trabalho que ora se publica.

No que ao acesso a dados diz respeito, cabe-nos agradecer as informações diligentemente cedidas pelas embaixadas de Cabo Verde e da Ucrânia, bem como pelo Consulado Geral do Brasil em Lisboa e pelo Serviço de Estrangeiros e Fronteiras. Este agradecimento é exten sível a todas as outras instituições que nos disponibilizaram os dados solicitados e que vamos enumerando ao longo do trabalho.

INTRODUÇÃO

Isto está mau para todos, para os Portugueses também. Mas, no fundo daquela escada, chama-se uma pirâmide, no fundo estamos nós, os menos protegidos de todos. Nós é que estamos por baixo de todos, o último da fila, costumamos dizer: os últimos por baixo do sol. (Ucraniano, 37 anos, em Portugal há 7)

A integração dos imigrantes é um processo de aproximação e harmonização mútua entre os recémchegados e a sociedade que os acolhe. Cada um destes dois actores colectivos é par -cial mente condicionado no seu desempenho por condições estruturais de base e, por sua vez, afecta ou recria essas mesmas condições estruturais por meio das suas escolhas e acções. O desempenho dos imigrantes decorre das suas características e esforço de adaptação. O desempenho da sociedade de acolhimento materializa-se nas interacções que estabelece entre os recém-chegados e as suas instituições, o que revela tanto de condições objectivas como de vontade política. É nesta interacção entre imigrantes e sociedade de acolhimento que se joga o resultado do processo de integração. Contudo o jogo é desigual. A sociedade de acolhimento dispõe de recursos muito superiores aos dos imigrantes. Esta desproporção de poder implica também uma desproporção de responsabilidade. A sociedade de acolhimento é, pois, o actor dominante na modulação da integração (Penninx, 2006, p. 33). As normas, de carácter mais ou menos formal, que vigoram nos países receptores podem dificultar o acesso em condições de igualdade ou mesmo excluir os imigrantes de um conjunto de direitos fundamentais, tais como o emprego, a habitação, a saúde ou a educação, entre outros. Em Portugal, a Cons ti tui -ção da República Portuguesa (CRP) estabelece que todos os cidadãos têm a mesma dignidade social e são iguais perante a lei. Para mais, todos os estrangeiros e apátridas residentes no país gozam de direitos iguais aos do cidadão português (CRP, art. 13.º e 15.º), ou seja, os direitos cívicos, sociais e económicos são universais e concedidos em condições de igualdade a na cio nais e imigrantes. Ainda assim, não há como ignorar o hiato existente entre o conteúdo norma -tivo das constituições e as sociedades tal como são vividas por aqueles que nelas par ticipam.

Desde logo, os quadros legais concedem direitos distintos às pessoas conforme se tratem de cidadãos nacionais, de cidadãos de outros estados membros da UE ou de cidadãos de países

(9)

Com efeito, embora a decisão de imigrar tenha na sua origem, a maior parte das vezes, uma procura de melhores condições de vida – seja no plano económico, social, político, ecológico, etc. ou até mesmo no seu conjunto –, essa decisão acarreta cus tos, quer sociais – como a discriminação, abandono da família e do país de origem, recomeço de vida num ambiente estranho, adaptações culturais e linguísticas, entre outros – quer económicos – como os investimentos feitos à partida do país de origem, por exemplo no que envolve a viagem, o pas -sa porte, os vistos, etc., e à chegada ao país de acolhimento, de que são exemplo os trâmites necessários para entrar e per-manecer num país diferente3. Daí a questão que dá título a

esta investigação: quanto custa ser imigrante?

Neste trabalho pretendemos pois analisar os custos eco nó mi -cos associados à condição de imigrante em Portugal,

in-1 ...dos trabalhadores por conta de outrem

estrangeiros a trabalhar no continente face às médias gerais dos respectivos níveis de qualificação em 2002 e 2003

2 Diferença entre o que os trabalhadores

por conta de outrem (TCO) estrangeiros efectivamente ganham (média ponderada com base nos números absolutos de TCO estrangeiros em cada escalão de qualificação e na respectiva remuneração) e o que ganhariam se em cada nível de qualificação recebessem o mesmo que os TCO em geral (estimativa baseada na estrutura de qualificação dos TCO estrangeiros e nos valores base da remuneração da totalidade dos TCO).

3 Estamos obviamente a referir-nos à

imi-gração que se processa com respeito às normas de circulação de pessoas vigentes nos diferentes Estados, habitualmente chamada de imigração legal: aquela cujos trâmites e custos envolvidos podem ser contabilizados porque se baseia num conjunto de regulamentações e especificações legais.

terceiros. No que respeita a estes últimos, há ainda a considerar se as pessoas em causa são ou não imigrantes documentados e, em caso afirmativo, se são ou não originárias de países com que Portugal tenha acordos bilaterais ou regime de reciprocidade. É que a garantia dos direitos sociais e económicos, embora dissociada do factor nacionalidade, depende do estatuto de residência legal (Baganha & Marques, 2001, p. 32). Ora, a diversidade de estatutos legais e os privilégios que lhe surgem associados são susceptíveis de se repercutir em numerosos aspectos da existência quotidiana, inclusive nas condições de acesso a um conjunto de bens e serviços fundamentais. Aos custos inerentes ao processo de imigração (e.g., pedidos e renovações de vistos, certificações de competências, reconhecimento de habilitações, com-provativos de parentesco, etc.) acrescem ainda as necessidades comuns a qualquer cidadão (e.g., saúde, habitação, educação). Deste modo, o desempenho da sociedade de acolhimento condiciona uma série de exigências que acarretam para os imigrantes não apenas um in-vestimento em tempo, como também um custo pecuniário, ou seja, determinam em parte o que se passa na dimensão socioeconómica do processo de integração. Ora, esta é, na opinião de vários autores, preponderante no processo de integração, quer no contexto nacional quer no da UE (Entzinger & Biezeveld, 2003; Marques, 2005).

A economia familiar dos imigrantes tem, como qualquer outro sistema aberto, inputs e outputs, proventos e custos. Estando já minimamente documentada a iniquidade – na verdade, dupla iniquidade, visto que assume sinais opostos na base e no topo da hierarquia de qualificações – existente entre cidadãos portugueses e imigrantes ao nível dos rendimentos dos respectivos trabalhos em fontes como, por exemplo, os Quadros de Pessoal usualmente publicados pela agora extinta Direcção-Geral de Estudos, Estatística e Planeamento (DGEEP) do Ministério do Trabalho e da Solidariedade Social (MTSS), que tratamos na Tabela 1, assume particular relevância trabalhar do lado dos outputs, das despesas.

(10)

METODOLOGIA

Convém talvez começarmos por explicitar que não nos pareceu avisado proceder a esta análise numa lógica dicotómica e linear entre «cidadão nacional» e «cidadão imigrante». Em virtude da globalização e da criação política de entidades supranacionais (e.g., União Europeia [UE]), os direitos cívicos sofrem hoje outras modulações para além das que têm origem nas referidas categorias e na noção de fronteira. Quanto maior é a cooperação entre os Estados, maior é o âmbito dos assuntos que devem ser regulados conjuntamente e, consequentemente, menor é o âmbito de uma soberania exclusiva (Gonçalves, 2006, p. 6). Os quadros legais vigentes em Por tugal reflectem estas mudanças e concedem direitos distintos às pessoas conforme estas se -jam cidadãos nacionais, de outros Estados membros da UE, de países com os quais se estabelece acordos bilaterais ou baseados em regime de reciprocidade ou de países terceiros. A multiplicidade de estatutos levounos a delimitar o presente estudo à análise dos pro ce di men tos e dos custos envolvidos no acesso a documentação e outras necessidades do quoti -diano de ci da dãos nacionais por comparação àquelas com que se deparam os nacionais de Cabo Verde, Brasil e Ucrânia. A escolha destes três grupos deve-se ao facto de serem os mais repre sen ta ti vos na imigração portuguesa.

Havendo intenção de adoptar uma metodologia de cabaz, que permitisse comparar pro ce di -mentos e custos no acesso a documentação e na satisfação de um conjunto de necessidades sentidas no dia-a-dia por cidadãos nacionais e dos principais países de origem dos imigrantes residentes em Portugal, começámos por definir os produtos constantes no cabaz e que viriam a ser objecto de análise. Face a este objectivo, optámos por uma metodologia em três etapas. A primeira foi exploratória e qualitativa, consistindo nomeadamente em duas entrevistas pes -soais não estruturadas com informadores privilegiados que nos ajudaram a conceber melhor o problema e a redigir o guião (ver anexo I) que viria a ser empregue na segunda etapa. Esta, tam bém qualitativa e exploratória, envolveu a realização de dois focus groups com um total de dezasseis imigrantes com características diversas em termos de origem (PALOP, Leste e Brasil), idade, género (masculino e feminino), situação familiar (solteiros, casados/em união de facto, com e sem filhos), formação académica e profissional e – por último mas não com menor rele -vância – estatuto legal (documentados e indocumentados). Nestes focus groups foram ex-ventariando as despesas administrativas decorrentes dos requisitos legais para entrar e

per-manecer no país como residente, o que encontra claro precedente no trabalho jornalístico de Felner (2005, 10 de Novembro), que analisou alguns custos associados à legalização dos imi-grantes e concluiu que os valores gastos pelos mesmos nesse processo são geralmente superiores ao salário mensal médio recebido por esta população.

O PÚBLICO fez as contas – com base em casos concretos – e concluiu que para se legalizar cada imigrante gasta, no total, entre cerca de 600 e 700 euros. Este valor é superior à média salarial mensal desta população, fixada entre 500 e 600 euros.

(Felner, 2005, 10 de Novembro)

São resultados que apontam para um claro desfavorecimento dos imigrantes face à população nacional no que diz respeito ao acesso a documentação pessoal que confere direitos sociais e económicos. Basearemos a presente análise sobretudo em despesas referentes a documentação pessoal que confere aos seus titulares direitos cívicos e tentaremos, sempre que possível, comparálas com aquelas em que incorre um cidadão nacional, avaliando se a univer -salidade dos mesmos direitos se processa nas condições de igualdade constitucionalmente definidas.

(11)

ploradas as concepções dos imigrantes acerca do tipo de documentação necessária para viver em Portugal, bem como outras necessidades sentidas no diaadia que pudessem ser im pu -tadas à condição de imigrante. No curso da nossa exposição, interpolaremos frequentemente o discurso directo dos imigrantes, a título ilustrativo. Tal como planeado, estas duas primeiras etapas resultaram numa inventariação e quantificação dos tipos de custos suportados pelos diversos tipos de imigrantes em resultado de o serem. Com base nesta foi possível elaborar um cabaz e iniciar a terceira etapa metodológica, esta de pesquisa documental, que consistiu no apuramento sistemático do valor exacto de todos os custos inventariados, procurando fazer corresponder o melhor possível os que iriam integrar a cesta dos nacionais portugueses e os que, por sua vez, integrariam a cesta dos estrangeiros.

Esta fase da pesquisa veio a revelar-se bem mais morosa do que havíamos previsto, sobretudo pela renitência de algumas das instituições às quais foi solicitada, por via de contacto directo, (visita presencial, telefone, fax ou e-mail) informação não publicada4. A maioria das orga ni za

-ções públicas parece não ter ainda perdido a memória física do autoritarismo, encontrando-se claramente entranhadas nas práticas quotidianas dos seus agentes uma assunção de secre tis -mo relativamente a informação paradoxalmente pública e uma aversão à responsabilidade que os leva a exigir sempre um pedido por escrito endereçado à cúpula institucional. Encontrandose a probabilidade e o tempo de resposta a tais solicitações, por sua vez, muito aquém do dese -já vel, o trabalho do cientista social resulta frequentemente prejudicado. Superámos a situação, na maioria dos casos, através de contactos em que simulámos ser cidadãos interessados no esclarecimento de certas dúvidas quanto aos procedimentos e custos associados à obtenção de certos produtos ou acesso a determinados serviços.

Esta postura das instituições revela também algum receio em assumir a formalização de procedimentos através de infor -mações oficiais. É que, por vezes, os procedimentos e custos regulamentados nem sempre conferem com a prática das instituições. A título ilustrativo, vejase alguns exemplos: o Ser viço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF) do Ministério da Admi -nis tra ção Interna tem tabelados os custos dos impressos para

tra tar de documentação (obtenção de Autorização de Resi dên cia [AR], prorrogação de vistos, etc.), mas, na prática, os impressos não são, geralmente, cobrados. Outro exemplo é o de apli -ca ção de coimas em -caso de incumprimento dos cidadãos estrangeiros de aspectos vários relacionados com a entrada e permanência no país. Existe um regulamento que estabelece os montantes mínimos e máximos das referidas coimas. Contudo, de acordo com o princípio das contra-ordenações, é comum que a coima a pagar seja estabelecida em 50% do mínimo estipulado por lei. Outro exemplo é o do pedido de um Certificado de Registo Criminal. De acordo com a legislação em vigor existe uma vasta gama de situações em que não cabe ao cidadão o requerimento do mesmo à Direcção de Serviços de Identificação Criminal, mas sim à instituição que exige a apresentação desse mesmo certificado. No entanto, na prática, o assunto continua a ser geralmente tratado pelo cidadão interessado. Poderemos ver estes exemplos em pormenor mais adiante, nas respectivas rubricas.

4 As instituições contactadas para a

reco-lha de informação e realização do trabalho foram as seguintes: o Consulado do Brasil em Lisboa, a Direcção de Serviços de Identificação Criminal, a Direcção de Serviços de Vistos e Circulação de Pessoas do Ministério dos Negócios Estrangeiros, a Direcção Geral de Contribuições e Impostos, a Direcção Regional de Saúde de Lisboa, a Direcção Geral de Viação, a Direcção Geral do Ensino Superior, a Embaixada da Ucrânia em Portugal, a Linha SOS Imigrante do ACIDI, a Loja do Cidadão, a Segurança Social Directa, o Serviço de Estrangeiros e Fronteiras, o Serviço de Jesuítas e Refugiados e os Serviços Consulares da Embaixada de Cabo Verde em Portugal.

(12)

CABAZ COMPARATIVO DE PRODUTOS

E SERVIÇOS

Tal como já foi referido, atendendo aos cambiantes do estatuto de imigrante face ao de cidadão nacional, optámos por delimitar a nossa pesquisa aos custos suportados pelos Portugueses, Brasileiros, Caboverdianos e Ucranianos no acesso a determinados produtos e serviços ine -rentes à permanência e residência em Portugal. Tratando-se de uma metodologia de cabaz, procurámos perceber as semelhanças ou diferenças encontradas no custo do mesmo produto (ou similar) para os diferentes grupos.

(13)

uma validade superior em três meses ao período de estadia previsto. O pagamento dos passaportes dos cidadãos estrangeiros é, obviamente, feito em e a favor do país de origem. Tra -ta-se, à partida, do primeiro investimento de um imigrante que quer vir para Portugal. A posse de um passaporte válido e, como princípio genérico, de um visto passado pelas autoridades consulares do país onde se pretende entrar são mecanismos clássicos utilizados mundialmente para controlar, conhecer e, em certas circunstâncias, dificultar e mesmo impedir a entrada de es tran geiros num certo país (RochaTrindade, 2004, p.7). Contudo, o passaporte não é unica -mente imprescindível à entrada, mas também à permanência no país. O estrangeiro deve fazer--se sempre acompanhar desse documento que lhe é solicitado em diversas situações.

O passaporte é extremamente importante, dános o direito de entrar e é o do cumen -to de identificação que nos au-toriza a viver aqui. (Ucraniana, 35 anos, em Portugal há 7)

Para um simples passe, para ir ao banco levantar dinheiro, pedem passaporte. (Mu -lher são-tomense, 39 anos, em Portugal há 9)

Para abrir conta no banco tem que ter passaporte.(Mulher são-tomense, 34 anos, em Portugal há 2)

Assim, os cidadãos estrangeiros, para entrarem no país, devem tratar do passaporte no seu país de origem. Se entretanto estiverem em Portugal à data da caducidade do documento podem renová-lo nas Embaixadas ou postos consulares dos respectivos países. Para os grupos visados neste estudo, os procedimentos são os seguintes: de acordo com a Embaixada de Cabo Verde em Portugal o custo do primeiro passaporte caboverdiano é de 3.520,00 ECV – o que, con -ver tendo mediante a taxa de câmbio publicada pela Secção Consular da Embaixada de Portugal em Cabo Verde (s.d.a) – dá 31,92 €. O prazo previsto de entrega do documento é de cinco dias úteis. Para a renovação do passaporte, quando solicitado na Embaixada cabo-verdiana em Portugal, o valor a pagar é de 31,76 € e o prazo de entrega é de 10 dias úteis. O passaporte brasileiro emitido no Brasil tem o custo de 156,07 BRL – o

que, convertendo de acordo com a taxa de câmbio publicada pela Embaixada de Portugal no Brasil – dá 56,81 € e a sua emissão ocorre no prazo de seis dias úteis. Para a renovação

Agosto de 2006, data em que começaram a ser emitidos os Passaportes electrónicos. Até então o custo do documento era de 43,00 €.

PASSAPORTE

O passaporte é, na definição da Secretaria de Estado das Comunidades Portuguesas do Minis -té rio dos Negócios Estrangeiros (MNE) (s.d.), um documento de viagem individual, que per-mite ao seu titular a entrada e saída do território nacional, bem como do território de outros Estados que o reconheçam para esse efeito. Os passaportes, geralmente, contêm, com o in-tuito de identificar o seu portador, alguns elementos em comum, a saber: fotografia, assinatura, data de nascimento, nacionalidade e, algumas vezes, outras informações.

Aos cidadãos portugueses que desejem sair de Portugal com destino a países que não perten -çam ao Espaço Schengen5é exigida a posse de um passaporte. O documento é requerido nos

Gover nos Civis e Lojas do Cidadão e o custo associado varia em função da idade do requerente. Em território português, as taxas a cobrar relativamente ao passaporte comum são estabe leci das por portaria conjunta dos Ministros das Finanças e da Administração Interna. No estran -geiro, as taxas devidas são as previstas na tabela de emolumentos consulares. O período médio para a emissão do passaporte português é de seis dias úteis, embora seja possível solicitar um serviço expresso acrescido de uma taxa de urgência.

Também a transposição das fronteiras nacionais por parte de cidadãos estrangeiros – à excepção dos oriundos de países ade rentes ao Tratado de Schengen, conforme referido ante rior -mente – pressupõe a titularidade de um passaporte. Assim, aquando da sua entrada em Portugal, os cidadãos de países ter ceiros necessitam de ser portadores de um passaporte com

5 Segundo a Comissão Europeia (s.d.)

o Espaço Schengen é caracterizado pela supressão de controlos de identidade nas suas fronteiras comuns, sendo constituído por todos os países da UE, a Islândia e a Noruega. Contudo, à data de redacção deste texto, os 10 países que aderiram à UE em 2004 ainda não participam plenamente em Schengen e a Irlanda e o Reino Unido não participam nos acordos sobre os controlos fronteiriços e os vistos.

(14)

Para os cidadãos estrangeiros existem também diversas situações em que, para tratar de documentação que lhes é solicitada em Portugal, terão que fazer prova de factos relacionados com o nascimento através da apresentação de uma certidão. É disso exemplo o requerimento de uma AR, quando se trata de cidadãos estrangeiros com filhos menores em Portugal (com dispensa de visto) ou de familiares titulares de visto de Escala ou equiparado. Nestes casos os interessados devem requerer a certidão de nascimento nos serviços de Registo Civil dos respectivos países de origem. Os custos envolvidos são desconhecidos e variam certamente de país para país e de serviço para serviço. Contudo, há um aspecto uniforme. A apresentação da referida certidão em Portugal carece quase sempre da autenticação da Embaixada do país de origem do cidadão estrangeiro. E, adicionalmente, se a língua em que está escrita a certidão de nascimento for outra que não o Português, também a tradução do documento deve ser certificada pelos serviços consulares ou pela embaixada. Qualquer um dos últimos requisitos envolve, geralmente, custos para o cidadão estrangeiro.

Ou trazemos os documentos connosco ou temos que pedir a um familiar e depois pedir tradução na Embaixada. (Ucraniano, 35 anos, em Portugal há 7)

Os preços dependem da Embaixada. A nossa Embaixada [a da Ucrânia] é muito cara. A tradução de qualquer documento custa 15

euros, para carimbar fica 30 euros. A tradução não se faz na Em bai xa da. São as mulheres ucranianas, que casaram com por tu gueses, que criaram uma

7 Para além do custo da certidão, são

ainda cobrados 2,50 € por cada lauda que compõe a mesma.

do documento num posto con sular ou na Embaixada do Brasil em Portugal a taxa cobrada é de 30,00 € (Consulado do Brasil em Lisboa, s.d.). O custo do primeiro passaporte ucraniano pode variar entre 31,00 € e 78,00 € (Embaixada da Ucrânia em Portugal), comunicação pessoal, 28 de Abril de 2007). Não hou ve, no entanto, especificação das variáveis que in-terferem no preço do referido documento. A prorrogação do documento tem o valor de 11,00 € e o prazo de entrega é de uma semana.

Em síntese, de acordo com o anteriormente exposto, e assumindo o euro como moeda de refe -rên cia, verificamos que é na Ucrânia que o passaporte pode assumir simultaneamente os custos mais reduzidos e os mais elevados, relativamente aos outros países analisados. No entanto, devemos sublinhar que a comparação destes valores deve atender à diferença do custo de vida em cada um dos países.

CERTIDÃO DE NASCIMENTO

A certidão de nascimento é um documento onde se certifica e se faz prova sobre factos rela -cio nados com o nascimento de um indivíduo (local, filiação, etc.). Em Portugal as entidades que registam os nascimentos e podem emitir as referidas certidões são a Conservatória do Registo Civil ou a Conservatória dos Registos Centrais. A Loja do Cidadão disponibiliza este serviço através de representantes destas instituições no espaço de atendimento. As situações em que pode ser requerida a cidadãos portugueses a apresentação de uma certidão de nas -cimento são várias e o custo depende do fim a que se destina, variando entre atribuição gratuita e 23,00 €, o custo regulamentado para a emissão de uma certidão negativa. O prazo geral -men te associado à emissão da certidão de nasci-mento é de três dias.

(15)

Em suma, de acordo com o anteriormente exposto, sempre que é necessário apresentar uma certidão de nascimento para tratar de um determinado assunto em Portugal, entre os cidadãos portugueses, cabo-verdianos, brasileiros e ucranianos, são os últimos os mais penalizados no que diz respeito ao custo relacionado com a obtenção do documento. Para além das despesas inerentes ao pedido e emissão da certidão junto dos serviços competentes no país de origem, devem ainda pagar a tradução do documento para português, assim como a sua autenticação junto da Embaixada. O Estado português é totalmente alheio à cobrança destas taxas que são, obviamente, devidas aos serviços consulares ucranianos.

CERTIDÃO DE CASAMENTO

Uma certidão de casamento é um documento onde se certifica e se faz prova sobre factos rela -cio nados com o casamento (data, local, cônjuge, etc.). Em Portugal, tal como os nascimentos, os casamentos são registados nas Conservatórias do Registo Civil ou dos Registos Centrais e a emissão da respectiva certidão pode ser pedida nestas entidades e ainda na Loja do Cidadão. As situações em que pode ser requerida a apresentação de uma certidão de casamento a cida -dãos portugueses são várias e o custo depende do fim a que a mesma se destina, variando en-tre 8,00 € e 16,50 €. O prazo geralmente associado à emissão da certidão de casamento é de três dias.

empresa de tradução que têm acordo com a nossa Embaixada. Elas fazem a tradução e paga-se 15 euros para a tradução e 15 para carimbar. (Ucraniana, 35 anos, em Portugal há 7)

Assim, cada vez que é solicitada uma certidão de nascimento a um cidadão estrangeiro, nem o Estado nem outros serviços portugueses têm qualquer intervenção no processo de facilitação da mesma. Os pagamentos daí decorrentes são imputados a instituições do país de origem (Registos Notariais, Conservatórias, Embaixadas, etc.). No entanto, e porque fazem parte das necessidades apontadas pelos imigrantes para a resolução de certos assuntos em Portugal, procurámos sumariar algumas despesas relativas à obtenção da mesma certidão com vista a incluí-las nos custos inerentes à condição de imigrante.

Um cidadão cabo-verdiano a quem seja solicitada uma certidão de nascimento tem os custos relativos ao seu pedido junto da Conservatória dos Registos Centrais de Cabo Verde, valores que não conseguimos apurar. Para além disso, deve ainda pedir a autenticação da certidão na Embaixada de Cabo Verde em Portugal, o que lhe custa 7,12 € (Secção Consular da Embaixa -da de Cabo Verde em Lisboa, comunicação pessoal, 3 de Maio de 2007). Dado que se trata de um país de língua oficial portuguesa, uma certidão cabo-verdiana não carece de tradução. No caso dos cidadãos brasileiros o documento é solicitado pelo interessado junto do Cartório do local de nascimento, no Brasil. A certidão de nascimento não precisa, obviamente, de ser traduzida, embora deva ser autenticada pelo Consulado ou Embaixada do Brasil, que cobra 5,00 € pelo referido serviço (Consulado do Brasil em Lisboa, comunicação pessoal, 17 de Abril de 2007). No caso dos cidadãos ucranianos, as certidões de nascimento são requeridas no país de origem, na respectiva Conservatória dos Registos Civis. Para além da autenticação do do -cumento pela Embaixada da Ucrânia, no valor de 17,00 € por página, o requerente tem ainda que suportar o custo da tradução para português. De acordo com a Embaixada da Ucrânia, não são disponibilizados serviços de tradução. Existem tradutores reconhecidos pela Embaixada, mas as tabelas de preços por estes praticadas são alheias à mesma. Segundo os imigrantes que constituíram os focus groups, a tradução de documentos de Ucraniano para Português ronda os 15,00 € por página.

(16)

Em suma, tal como nas certidões de nascimento, o requerimento de uma certidão de casa men to é mais dispendioso para os cidadãos ucranianos do que para os portugueses, cabover dia -nos e brasileiros. Sobretudo porque, para além dos emolumentos da Embaixada ucraniana serem superiores aos praticados pelas restantes, os interessados na obtenção do documento devem ainda custear as despesas de tradução. O Estado português é alheio aos custos envol -vi dos neste processo. Contudo, não podemos deixar de os considerar no conjunto de despesas que um imigrante tem de suportar com alguma sistematicidade. De acordo com alguns partici -pan tes nos focus groups, sempre que tiveram de renovar a AR ou a já extinta autorização de permanência (AP), revelou-se imprescindível a apresentação de nova certidão de casamento, implicando isso o pagamento da tradução e do respectivo reconhecimento por parte da Embai xa da. Esta obrigatoriedade prendese com o facto de as autoridades portuguesas, nomea da -mente o SEF, pretenderem assegurar que os laços matrimoniais que garantem a extensão do título ao cônjuge se mantêm válidos. Contudo, outras alternativas poderiam ser pensadas, tais como uma declaração de honra dos interessados, cuja violação desse direito à perda dos títulos concedidos, ou uma declaração da Embaixada autenticando o teor da certidão de casamento, mas dispensando, pelo menos, o custo da tradução.

Precisamos da certidão de casamento, a minha esposa tem AR baseada na minha. Se nos divorciássemos ela perdia direito, por isso todos os anos tem que se pedir. E pa go sempre 30 euros. Já está traduzido, mas todos os anos tem que pagar nova tradução e certificação. (Ucraniano, 37 anos, em Portugal há 7)

Tenho que apresentar a minha certidão de casamento, pago 50 euros por ano, tenho que carimbar na Embaixada. Pago na Embaixada da Ucrânia. Tetenho que apre

Para os cidadãos estrangeiros existem também diversas situações em que, para tratar de do -cumentação que lhes é solicitada em Portugal, terão que fazer prova de factos relacionados com o casamento, através da apresentação de uma certidão. É o caso do requerimento de AR para os cônjuges. Nestas situações os interessados devem requerer a referida certidão nos serviços de Registo Civil do país onde o casamento foi registado. Os custos envolvidos são por isso desconhecidos, embora, à semelhança da certidão de nascimento, a sua apresentação em Portugal deva ser reconhecida pela Embaixada ou Consulado dos referidos países. E, caso a língua em que se encontra a certidão seja outra que não o português, é exigida a tradução do documento e o seu reconhecimento pelos serviços consulares ou pela Embaixada. Qualquer um dos últimos requisitos normalmente envolve custos para o cidadão estrangeiro, sendo que podemos apenas calcular os que se prendem com a autenticação dos documentos.

Para um cidadão cabo-verdiano solicitar uma certidão de casamento ocorrido em Cabo Verde, o pedido e respectivo pagamento deve ser feito à Conservatória dos Registos Centrais de Cabo Verde. A mesma certidão deve ser autenticada pela Embaixada de Cabo Verde e o custo deste serviço é de 7,12 €. No caso dos cidadãos brasileiros o documento é solicitado pelo inte res -sado junto do Cartório do local do casamento, no Brasil. Se o casamento ocorrer no estrangeiro, o registo pode ser feito no Consulado brasileiro pelo custo de 20,00 €. A certidão de casamento brasileira dispensa tradução, naturalmente, sendo que o cidadão brasileiro deverá apenas pagar a autenticação do documento ao Consulado ou Embaixada, no valor de 5,00 €. Na Ucrâ nia, as certi dões de casamento são requeridas nas Conservatórias dos Registos Civis com -petentes para o efeito. Os procedimentos são semelhantes aos da certidão de nascimento. Assim, para além do custo de tradução para Português, o ci -da dão ucraniano deve pagar a autenticação do documento feita pela Embaixada, no valor de 17,00 € por página.

8 Para além do custo da certidão, são

ainda cobrados 2,50 € por cada lauda que compõe a mesma.

(17)

tradução do título de condução, autenticada pelo serviço consular de Portugal – quando o seu conteúdo não estiver em língua portuguesa, francesa, inglesa ou espanhola –, e a declaração do serviço emissor, ou da Embaixada, comprovativa de autenticidade do documento, que in-clui a data de emissão, validade, categorias de veículos e respectivas datas e restrições. O custo associado a este processo corresponde a uma taxa de 24,00 €, valor idêntico ao cobrado para as cartas de condução tiradas em Portugal.

Cabo Verde não integra a lista de países que assinaram as Convenções Internacionais de Ge -ne bra e ou Viena, bem como -nenhum outro dos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa. Até aqui, os cidadãos com título de condução cabo-verdiano podiam trocar o documento pela carta portuguesa, embora, para o efeito, devessem apresentar na Direcção Geral de Viação um certificado de autenticidade da sua carta de condução passado pela Embaixada ou Consulado do país, bem como sujeitarse a novo exame de condução, cujo custo cifrava os 50,00 €. Con -tudo, em 29 de Março de 2007, foi assinado um Acordo entre Cabo Verde e Portugal que per-mitirá que os portadores de carta de condução cabo-verdiana passem a conduzir em Portugal sem ser necessária a troca. De acordo com a Embaixada de Cabo Verde em Portugal, a entrada em vigor do referido acordo será 30 dias depois da publicação do acordo em ambos os países.

No caso dos cidadãos brasileiros há acordo de aceitação dos títulos de condução instruídos no Brasil. Para trocar o documento pela carta portuguesa, os cidadãos devem apresentar uma de-claração emitida pela autoridade consular brasileira certificando que a sua «carteira nacional de habilitação» é autêntica. O custo desta declaração é de 15,00 €. Para além disso, são ainda devidos à Direcção Geral de Viação 24,00 €, correspondentes à taxa de troca de títulos de con -dução. Há ainda a acrescentar os custos não estimados de despesas residuais (fotocópias, foto-grafias, impressos, etc.).

À semelhança do Brasil, a Ucrânia é também um dos países aderentes à Convenção sobre Trânsito Rodoviário de Viena. Os procedimentos para a troca de títulos pela carta nacional são idênticos, embora para os cidadãos ucranianos acresça uma vez mais o ónus da tradução do conteúdo da carta para Português. Assim, pagam a tradução (cujos custos podem variar em função do tradutor. De acordo com informações de Ucranianos entrevistados, o valor ronda os 15,00 € por página), a certidão de autenticidade da carta emitida pela Embaixada da Ucrânia

sen tar todos os anos uma prova em como não estou divorciado. O meu embaixador é que sabe com quem durmo. (Ucraniano, 38 anos, em Portugal há 6)

CARTA DE CONDUÇÃO

A carta de condução é um documento que habilita o seu titular à condução de determinados tipos de veículos em função da instrução recebida e do título atribuído. Corresponde ao reco-nhecimento de uma qualificação e a sua posse pode facilitar a obtenção de alguns empregos, razão pela qual optámos por considerar este documento no presente cabaz. Qualquer carta do modelo comunitário é válida para conduzir em cada país da UE, mesmo que o seu titular passe a residir num Estado membro diferente daquele que a emitiu. Assim, com a carta portuguesa pode conduzir-se num outro Estado membro, mesmo que nele se tenha passado a residir. A sua troca por uma carta desse Estado é facultativa, dependendo da vontade do condutor. Da mesma forma, os titulares de cartas de modelo comunitário emitidas noutros países, que passem a residir em Portugal, podem continuar a conduzir com elas, sem necessidade de as trocar por cartas de condução portuguesas. No entanto, se o titular o desejar, poderá fazê-lo desde que o documento ainda seja válido (UMIC, s.d.). A taxa a pagar para o efeito (excluindo obviamente os custos relacionados com a aprendizagem e exames) é de 24,00 €, valor igual para alterações de elementos constantes no documento (Direcção Geral de Viação [DGV] do Ministério da Administração Interna [MAI], comunicação pessoal, 23 de Abril de 2007).

Para além dos titulares de cartas de modelo comunitário (Estados membros da UE ou do espa -ço económico europeu, no total de 29 países), estão habilitados para conduzir em Portugal os portadores de cartas de condução dos países que aderiram às Convenções Internacionais de Genebra e/ou de Viena ou outros com que Portugal tenha acordos bilaterais9. Os títulos de

condução originários destes países podem ser usados em Portugal durante 185 dias. Findo esse período, têm obrigatoriamente que ser trocados por carta de condução nacional (DGV do MAI, comunicação pessoal, 23 de Abril de 2007). O processo de troca requer o pedido na DGV, acompanhado por um conjunto de documentos – im-pressos modelo 1403 e 1403-A, fotocópia do documento legal de identificação e exibição do original, duas fotos a cores, actuais e de fundo liso, e atestado médico –, entre os quais a

9 Aderiram às Convenções Internacionais

sobre trânsito rodoviário 89 países. Acessí -vel em http://www.unece.org/trans/con-ventn/legalinst.html

(18)

den do o primeiro pedido e as respectivas renovações. Para além do Bilhete de Identidade (e do passaporte, visto anteriormente), incluímos a documentação necessária para ter a presença regularizada em Portugal, uma vez que para os cidadãos de nacionalidade estrangeira resi den -tes no país (imigran-tes) o acesso a um conjunto de direitos sociais e económicos depen de do es tatuto de residência legal e é frequente terem de fazer prova da sua situação. São assim do -cumentos complementares aos de identificação que se tornam de uso pessoal e impres cindível.

Para os cidadãos portugueses o documento de identificação que prova a identidade civil peran te quaisquer autoridades, públicas ou privadas (UMIC, s.d.), é o Bilhete de Identidade. A utili -za ção deste documento é extensiva aos restantes Estados membros da UE. O pedido de emissão do Bilhete de Identidade é feito nos serviços de Identificação Civil em Lisboa ou nas dele ga ções destes serviços existentes em Coimbra e no Porto, nos balcões das Lojas do Cida -dão ou, nas restantes localidades, através da Conservatória do Registo Civil competente para o efeito. Os Portugueses residentes no estrangeiro podem solicitar o Bilhete de Identidade nos consulados. O pedido deve ser feito exclusivamente pelo interessado, uma vez que para a sua emissão são necessárias a assinatura e as impressões digitais10. Os custos associados à emis

são do Bilhete de Identidade variam de acordo com a idade do requerente. A renovação do do -cumento deve ser pedida sempre que expire o seu prazo de validade ou durante os seis meses que antecedem o seu termo, quando se verifiquem alterações nos elementos de identificação nele constantes (como o nome, filiação, estado civil ou residência), ou por motivos de mau estado de conservação, extravio, furto ou roubo. Os custos variam em função dos mo ti vos para a renovação. De acordo com informações cedidas pela Loja do Cidadão, não são aplicadas coimas quando a renovação do Bilhete de Identidade é feita em data posterior à da sua caducidade.

10 Assim como o preenchimento dos

impressos Modelo 1 DGRN/DSIC e Modelo 11 DGRN/DSIC; apresentar uma certidão de nascimento actualizada; duas fotos iguais a cores, fundo liso, tipo passe, obtidas há menos de um ano e com boas condições de identificação (o rosto e o cabelo descobertos); e um documento complementar de identificação – a exibir, preferencialmente com fotografia (e.g., carta de condução, passaporte), pelos cidadãos maiores de idade.

em Portugal, no valor de 17,00 € por página, a taxa de 24,00 € cobrada pela Direcção Geral de Viação e, obviamente, os custos residuais associados ao processo (fotocópias, fotografias, impressos, etc.).

Em conclusão, para obtenção da carta de condução portuguesa através do processo de troca pela obtida no país de origem, uma vez mais os cidadãos ucranianos são os que suportam maiores despesas. Contudo, antes do acordo recentemente assinado entre Portugal e Cabo-Verde, para os Cabo-verdianos a troca de carta era um processo mais complicado do que para qualquer outro dos aqui visados, pois obrigava à realização de novo exame e ao pagamento de 50,00 €.

Tinha a carta de condução de lá e tinha que trazer uma certificação para a Direcção Ge ral de Viação. Trouxe uma declaração e traduzi na Embaixada. (Ucraniano, 37 anos, em Portugal há 7)

A carta de condução só se consegue com AR ou AP. Isso complica a vida, porque com carta de condução é mais fácil arranjar certos empregos. (Brasileiro, 40 anos, em Portugal há 4)

DOCUMENTOS DE IDENTIFICAÇÃO

Consideramos nesta rubrica os documentos necessários à identificação de um indivíduo en quan to cidadão a residir em Portugal, independentemente da sua nacionalidade, compreen

(19)

-Em suma, o Bilhete de Identidade é o documento que identifica os cidadãos portugueses. No en tanto, na sequência do Tratado de Amizade, Cooperação e Consulta celebrado entre a Repú -bli ca Portuguesa e a Repú-blica Federativa do Brasil, em Porto Seguro, a 22 de Abril de 2000, tor nou-se possível aos cidadãos brasileiros residentes em Portugal, que sejam portadores de uma AR, solicitarem estatuto de igualdade de deveres e direitos, beneficiando igualmente de Bilhete de Identidade. Os custos e os procedimentos na obtenção do documento são similares aos aplicados para os cidadãos nacionais.

DOCUMENTAÇÃO NECESSÁRIA PARA TER

A PRESENÇA NO PAÍS REGULARIZADA

Para além dos documentos de identificação, nomeadamente o Bilhete de Identidade e o passa -porte, considerámos a documentação necessária para ter a presença no país regularizada, uma vez que são documentos que atestam a condição legal do imigrante e por isso se tornam com-plementares à sua identificação. Existe um conjunto de direitos que depende da condição de imigrante documentado e com residência regularizada, pelo que optámos por analisar os do -cumentos que conferem ao seu titular uma estada de longa duração, nomeadamente os vistos de estudo, de trabalho, de residência e a AR.

Para entrar em Portugal em situação regular, é exigido um conjunto de requisitos aos cidadãos de países terceiros – tal como referimos anteriormente, a circulação de cidadãos do e no Espaço Schengen isenta o uso de vistos e passaportes –, nomeadamente a posse de passaporte com validade superior à duração da estada pretendida, de visto adequado à finalidade da estada, Os estrangeiros naturais de outros Estados membros da UE podem usar em Portugal o do

-cumento de identificação emitido no seu país de origem. Já para nacionais de países terceiros o documento de identificação é, em princípio, o passaporte. É esse o caso para os cidadãos ca bo-verdianos e ucranianos, cujo passaporte constitui elemento de identificação perante autoridades públicas e privadas. Também os Brasileiros residentes em Portugal podem usar, a título de identificação, o passaporte, embora os beneficiários do estatuto de igualdade – que incluem a residência habitual em território português, comprovada através de AR –, previsto ao abrigo do Tratado Luso-Brasileiro, tenham direito a Bilhete de Identidade de modelo idêntico ao emitido para os cidadãos nacionais, contendo a menção da nacionalidade do titular e a refe -rência ao Tratado de Porto Seguro, de 22 de Abril de 2000. Para o efeito, o pedido de Bilhete de Identidade é instruído com certidão de cópia integral do assento da atribuição do estatuto de igualdade (Decreto-Lei n.º 154/2003, de 15 de Julho). O pedido do documento é também feito nos Serviços de Identificação Civil, nos balcões das Lojas do Cidadão ou através da Con -ser va tória do Registo Civil competente para o efeito. Os custos e procedimentos asso cia dos são idên ticos àqueles praticados para os cidadãos nacionais (vide supra) e a documen tação é a mesma acrescentando à lista a certidão de cópia integral do assento da atribuição do estatuto de igual dade, obtida na Conservatória dos Registos Centrais (emitida há menos de 12 meses).

11 Incluindo impressos, requisição e taxa

(20)

Visto de estudo

O visto de estudo permite ao titular a entrada em território português para prosseguir um programa de estudos, realizar trabalhos de investigação científica, fazer estágio em esta bele ci men -to de ensino ou empresas ou serviços públicos. Tem validade até um ano e permite múltiplas entradas (MNE, s.d.). Os vistos de estudo devem ser requeridos junto da representação diplo -mática portuguesa no Estrangeiro e, para além do exigido em qualquer pedido de entrada no país, os requerentes devem apresentar documentos probatórios do programa de estudos ou tra -balho científico em causa, nomeadamente o comprovativo de matrícula ou carta de aceitação do estabelecimento de ensino que em Portugal irá acolher o cidadão estrangeiro.

O custo do visto de estudo é comum a todos os cidadãos de países terceiros e é de 35,00 €. Em caso de indeferimento do pedido, não há lugar a reembolso ao requerente. A atribuição do visto demora cerca de 30 dias (DirecçãoGeral dos Assuntos Consulares e Comunidades Por -tu guesas [DGACCP] do Ministério dos Negócios Estrangeiros [MNE], comunicação pessoal, 10 de Maio de 2007). Os cidadãos estrangeiros que pretendam manter-se em Portugal ao abrigo de um visto de estudo devem proceder ao pedido de renovação no SEF e pagar, para o efeito, uma taxa de 39,20 €.

Somos pois levados a concluir que os procedimentos e custos associados ao pedido de um visto de estudo são, por norma, similares para qualquer requerente. O mesmo se passa rela tivamente ao pedido para renovação do referido visto. De acor -do com da-dos forneci-dos pelo SEF, em 2005, cerca de 16% das prorrogações de permanência ocorridas ao abrigo de vistos

válido para todos os Estados Schengen, sendo a cobertura mínima de 30 000 euros. O seguro de saúde é documento também exigido para a instrução de pedidos de visto de longa duração sempre que a estada seja superior a 90 dias. Mas, também em relação a estes vistos, prevê-se a possibilidade de o seguro ser subscrito após entrada em território nacional desde que fique provada a impossibilidade da sua obtenção no país de origem.

de meios de subsistência suficientes para o período previsto de estada e, naturalmente, não estar inscrito na lista de pessoas não admissíveis. No que respeita aos meios de subsistência, convém talvez especificar que se tratam de:

Os comprovativos dos meios financeiros para suportar a estada equivalentes a 75,00 € por cada entrada em território nacional acrescidos de 40,00 € por cada dia de permanência. A comprovação do valor diário (40,00 € em dinheiro, Travelers

cheques, ou cartões de crédito internacionalmente aceites) poderá ser dispensada,

caso seja apresentada uma carta convite ou termo de responsabilidade emitido por cidadão português ou por estrangeiro habilitado com título de residência, autorização de permanência, visto de trabalho, estudo, estada temporária, válidos, que garanta a ali men tação e o alojamento do interessado durante a sua estada, sem prejuízo da possibilidade de recurso a outros meios de prova. (Secção Consular da Embaixada de Portugal no Brasil, s.d.b)

Os documentos necessários à instrução de qualquer tipo de visto, sem prejuízo dos exigíveis para cada tipo de visto, são vários, nomeadamente: a) formu lá rio devidamente preenchido e assinado pelo requerente; b) duas fotografias tipo passe, a cores e fundo liso; c) do cumen to de viagem válido; d) do cumento probatório da fina li dade da viagem; e) comprovativo das condições de aloja men to; f) comprovativo dos meios de subsistência12;

g) Cer tificado de Regis to Criminal13; h) ates tado médico14;

i) seguro de saú de15e, no caso de se tratar de um menor de

18 anos, j) auto rização para viajar por parte de quem exerce o poder paternal (Ministério dos Negócios Es tran geiros, s.d.). Arranjar este tipo de do cumen tação representa, neces saria mente, custos para os ci da dãos estrangeiros que solicitem vis -tos para entrar e per ma necer em Portugal. Contudo, e uma vez que se referem a questões tratadas no país de origem, não vamos quantificar estas despesas. Vamos, sim, analisar os custos administrativos do tratamento de vistos nacionais, quer se trate de vistos de estudo, de trabalho ou de residência.

12 Ou apresentação de termo de

responsabilidade por cidadão português ou estrangeiro residente em território nacional que garanta a alimentação e alojamento do interessado durante a sua estada, emitido em impresso próprio e autenticado pelo SEF.

13 Para estada superior a 90 dias. 14 Idem.

15 No estrito cumprimento das regras da

UE – Decisão do Conselho de 22.12.03 – é exigido a qualquer cidadão estrangeiro sujeito a visto de curta duração um seguro de saúde, individual ou colectivo, que per-mita cobrir as despesas eventualmente decorrentes de um repatriamento por razões médicas, de assistência médica urgente e/ou cuidados hospitalares urgentes. O seguro deverá ser subscrito no Estado de residência; na impossibilidade de tal ser feito, poderá ser subscrito pela pessoa que convida o requerente, no seu próprio local de residência, devendo ser

(21)

cedida AR a um cidadão estrangeiro desde que este tenha contrato de trabalho, esteja inscrito na Segurança Social e tenha entrado e permanecido legalmente em Portugal, por exemplo ao abrigo de um visto de turista.

O custo dos vistos de trabalho é, de acordo com a tabela de emolumentos consulares, de 65,00 €, independentemente da nacionalidade do requerente. O prazo para concessão dos vistos tipo I e II é de 30 dias e para os vistos tipo III e IV é de 45 dias21. Se os cidadãos

es-trangeiros pretenderem permanecer em Portugal ao abrigo de um visto de trabalho podem fazê--lo por três anos. Para o efeito devem solicitar a renovação junto do SEF, comprovando a permanência de vínculo laboral e a situação regularizada perante a Segurança Social e con-tribuições fiscais. A primeira prorrogação corresponde a uma taxa de 83,80 €, a segunda, a uma taxa de 111,80 €, a terceira e última, ao pagamento de 139,80 €22.

Em suma, os procedimentos e os custos associados ao pedido de um visto de trabalho são similares para qualquer requerente. O mesmo se passa rela ti vamente ao pedido para renovação do visto de trabalho. De acordo com as estatísticas do SEF, cerca de 35% das pror ro gações de permanência concedidas em 2005 corres ponderam a renovações de vistos de trabalho. Sendo que estes títulos são renováveis até três anos, e a taxa cobrada

vai crescendo com a extensão do período de permanência em Portugal, podemos calcular que com as 16 137 renovações de vistos de trabalho o Estado português recebeu, pelo menos, 1 352 281,00 €.

21 Fonte: Ministério dos Negócios

Estrangeiros. Direcção de Serviços de Vistos e Circulação de Pessoas. Informação confirmada através de contacto directo com a Direcção Geral dos Assuntos Consulares e Comunidades Portuguesas.

22 Fonte: Serviço de Estrangeiros e

Fronteiras. Acessível em: http://www.sef.pt/

de longa duração corresponderam a Vistos de Estudo. Foram 7 331 os indivíduos que viram prorrogada a sua permanência através deste tipo de visto16. Se cada um deles pagou o valor

de 39,20 €, correspondente à taxa para renovação do visto, o Estado Português arrecadou com este processo cerca de 287 375,20 €.

Visto de trabalho

Permite a entrada em território português ao seu titular para o exercício de actividade profis sio -nal temporária. Depende do tipo de trabalho a exercer em Portugal, pelo que pode assumir diver sos tipos: a) Visto tipo I – desporto ou espectáculos; b) Visto tipo II – investigação cien tífica; c) Visto tipo III – prestação de serviços; d) Visto tipo IV – exercício de actividade pro -fissional subordinada. Os vistos de trabalho são válidos até um ano, por um máximo de três anos, e permitem múltiplas entradas no país. À semelhança do visto de estudo, o visto de trabalho deve ser solicitado no estrangeiro e o requerimento deve ser acompanhado de documentos probatórios do fim a que se destina17, conforme se tratem de vistos tipo I ou II18,

III19ou IV20. O cidadão estrangeiro deve vir ocupar um trabalho constante nos sectores de

actividade de fini dos pelo Estado português e ter parecer prévio do IEFP e da IGT (art. 36.º e 43.º do Decreto-Lei 244/98 e art. 14.º do Decreto Regulamentar 6/2004). Para muitos imi-grantes que entram no país através de outros regi mes que não a titularidade de um visto de trabalho, torna-se problemático solicitarem este tipo de visto já em Portugal, uma vez que o

mesmo deve ser emitido no seu país de origem.

Não retornei ao Brasil infelizmente porque ainda não consegui um visto de trabalho cá em Portugal e se for lá depois não nho como voltar. (...) Para conseguir um visto de trabalho te-nho de retornar ao Brasil, dar entrada lá no Consulado português, esperar de 3 a 6 meses o visto vir, para poder re -tor nar para Portugal e ainda corro o risco de não con se guir o visto de trabalho.(Brasileiro, 40 anos, em Portugal há 4)

Com vista a superar situações deste género, a nova Lei da Imi gra ção, aprovada em Agosto de 2006, permite que seja con

-16 Fonte: Estatísticas do Serviço de

Estrangeiros e Fronteiras. Acessível em http://www.sef.pt/

17 Acessível em

http://www.min-nes-trangeiros.pt/mne/vistos/principal.html

18 Promessa de contrato de trabalho

assinada por ambas as partes.

19 Contrato de prestação de serviços e

comprovativo em como se encontra habilitado a exercer a actividade a que se refere a prestação de serviços.

20 Contrato de trabalho precedido de

comunicação pelo empregador, ao IEFP, da existência da oferta de emprego e parecer favorável da Inspecção Geral do Trabalho (IGT).

Referências

Documentos relacionados

Verificou-se a ocorrência de nove famílias e onze gêneros, todas pertencentes à ordem Filicales, sendo observadas as famílias Polypodiaceae e Pteridaceae, com dois gêneros cada, e

O município de São João da Barra, na região Norte do Estado do Rio de Janeiro, Brasil, passa atualmente por um processo de apropriação do seu espaço por um ator que, seja pelo

A apixaba- na reduziu o risco de AVE e embolismo sistêmico em mais de 50%: houve 51 eventos entre os pacientes do grupo apixabana versus 113 no grupo do AAS

Tendo como parâmetros para análise dos dados, a comparação entre monta natural (MN) e inseminação artificial (IA) em relação ao número de concepções e

(2019) Pretendemos continuar a estudar esses dados com a coordenação de área de matemática da Secretaria Municipal de Educação e, estender a pesquisa aos estudantes do Ensino Médio

Quando contratados, conforme valores dispostos no Anexo I, converter dados para uso pelos aplicativos, instalar os aplicativos objeto deste contrato, treinar os servidores

São considerados custos e despesas ambientais, o valor dos insumos, mão- de-obra, amortização de equipamentos e instalações necessários ao processo de preservação, proteção

Mesmo com suas ativas participações na luta política, as mulheres militantes carregavam consigo o signo do preconceito existente para com elas por parte não somente dos militares,