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O ESTADO NOVO E A OBRA DE JORGE AMADO

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Academic year: 2021

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O ESTADO NOVO E A OBRA DE JORGE AMADO

THE NEW STATE AND JORGE AMADO’S WORK

Carolina Rehling Gonçalo Doutorado em Geografia/UFRGS carolrg90@hotmail.com

RESUMO

No período em que o Brasil enfrentava a ditadura do Estado Novo, compreendido entre 1937-1945 sob o regime de Getúlio Vargas, Jorge Amado iniciava sua carreira como escritor romancista, seus primeiros livros datam desta época que não passou despercebida pela sua escrita, muito pelo contrário. Este trabalho pretende explorar a relação da obra de Amado enquanto militância comunista no Estado Novo a fim de servir a causa da anistia aos presos e exilados políticos, toda sua obra publicada neste período sofreu o impacto da ditadura estabelecida, no entanto será dada maior ênfase ao livro: O Cavaleiro da Esperança – Vida de Luiz Carlos Prestes. Esta obra trata-se da biografia de Luiz Carlos Prestes escrita com o intuito de pressionar a libertação de Prestes que estava preso exilado, ao mesmo tempo em que o próprio autor Jorge Amado estava exilado na Argentina onde escreve então o romance. Assim, será exposta a influência de Amado enquanto membro do PCB no Brasil e sua importância para o movimento, como um líder a frente de um determinado grupo.

Palavras-chave: Estado Novo. Jorge Amado. Literatura. Luiz Carlos Prestes.

ABSTRACT

During the period that Brazil was suffering the New State ‘dictatorship, following between 1937-1945 under the control of Getulio Vargas, Jorge Amado was initiating his career as a writer, his first books on that time haven’t pass unnoticed by his writing, on the opposite. This paper intends to explore the relation on Amado’s novel during the communist militancy in the New State with the purpose to support the cause of the amnesty to the arrested and exile politicians. All his work during this period caused a impact from the established dictatorship, although the emphases is going to be the book: O Cavaleiro da Esperança – Vida de Luiz Carlos Prestes. This book is the biography of Luis Carlos Prestes wrote with the purpose of freeing Prestes, who was arrested and exiled, at the same time that Jorge Amado himself was exiled in Argentina where he then wrote the romance. Like this, it’s going the be exposed the influence of Amado while a member of PCB in Brazil and your importance for the movement, as a leader of a determined group.

Keywords: New State. Jorge Amado. Literature. Luiz Carlos Prestes.

Introdução

Este trabalho faz parte de um estudo maior acerca da obra de Jorge Amado (1912 – 2001) explorando diversos aspectos. Aqui a ênfase se dá com base na relação da obra de Amado e o período de Estado Novo (1937 -1945) instituído por Getúlio Vargas (1882 -1954). Conhecido também como Revolução de 30 este período se caracterizou como um período de ditadura e perseguição ao comunismo.

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Jorge Amado, escritor baiano, nesta época estava ainda se constituindo como escritor e são deste período suas primeiras obras, entre elas: O Cavaleiro da Esperança: vida de Luiz

Carlos Prestes. Este livro, escrito em 1941 teve como objetivo principal, servir à causa de

anistia aos presos e exilados políticos. Escrito fora do Brasil, Jorge Amado viajou para o Uruguai e à Argentina onde anos antes Luiz Carlos Prestes esteve exilado, para escrever sua biografia. Antes do lançamento deste livro no país, as versões espanholas já circulavam de forma proibida, e ao ser lançado oficialmente, foi proibido, voltando a aparecer somente quatro anos depois da sua publicação. Em 1964 com a Ditadura Militar do Brasil volta a desaparecer das prateleiras das livrarias retornando somente em 1979.

A relação entre Jorge Amado e o Estado Novo pode ser analisada através da biografia de Prestes (O Cavaleiro da Esperança: vida de Luiz Carlos Prestes), assim, como de outras obras suas que sofreram com a censura da época, com a proibição de circularem no território nacional, devido ao seu conteúdo e crítica de Amado acerca de tudo que pode tolir a liberdade, bem como, a própria perseguição sofrida por Jorge Amado neste período, onde o mesmo, chegou a ser preso e exilado.

Desta forma, pretende-se observar todas essas passagens, inclusive suas contradições e o apoio final de Jorge Amado a Getúlio Vargas no combate ao Nazismo durante a Segunda Guerra Mundial. Ou seja, ainda que Jorge Amado tenha sofrido das mais diversas formas com o período ditatorial da Era Vargas, em determinado momento o comunismo e Jorge Amado enquanto político militante comunista oferece seu apoio ao combate de algo que acreditava ser maior, o Nazismo.

O Estado Novo

O Estado Novo foi um sistema político ditatorial implantado no Brasil por Getúlio Vargas em 1937 quando este era presidente do país. Este período durou de 10 de novembro de 1937 a 29 de outubro de 1945. O golpe de Estado foi implantado por Getúlio Vargas quando este consegue o apoio das Forças Armadas, invalidando o Congresso Nacional, as Assembleias Legislativas, bem como, as Câmaras Municipais. Getúlio impôs aos brasileiros uma nova Constituição conhecida como “Polaca” por ter sido baseada na Constituição da Polônia, nesse período partidária do fascismo.

O golpe teve grande apoio por parte da sociedade, através de propagandas conseguiu que o medo se instaurasse na população, repelindo qualquer tipo de tentativa de instauração

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implantou a censura aos meios de comunicação, tudo para impedir o comunismo, jornais, revistas e rádios, bem como, manifestações artísticas de música cinema, teatro e obras literárias foram censuradas, perseguidas e proibidas. Como se verá ao decorrer deste trabalho, datam deste mês de novembro de 1937 a incineração dos livros de Jorge Amado e outros autores, queimados em praça publica de Salvador, retirados das editoras, para Amado ainda ano de lançamento de Capitães da Areia.

Este trabalho procura explorar as ambiguidades e contradições do período do Estado Novo, fomentando-as a fim de compreender em sua complexidade todos os fatos aqui selecionados, entre eles a relação do escritor baiano Jorge Amado com Getúlio Vargas. Em 1943 Getúlio consolidou as leis trabalhistas, as quais proporcionaram aos trabalhadores direitos trabalhistas e melhores condições de trabalho como jornada de oito horas, descanso semanal remunerado, entre outros. Algumas destas leis vigoram até o dia de hoje, não sendo imutáveis visto que a todo o momento se faz necessária a luta por direitos já adquiridos que podem a vir ser modificados ou extintos.

Em 1939 cria-se o DIP Departamento de Imprensa e Propaganda, que teve como função inspecionar a propaganda nacional tanto interna como externa. Estabelece-se o estado de emergência, ampliando ainda mais os poderes do presidente Getúlio Vargas, com isso, ao Estado foi permitida a entrada a domicílios, prendendo indivíduos que supostamente poderiam ser contrários a forma de governo vigente, podendo fazer com que fossem banidos do país, como é o caso de Jorge Amado que foi preso e exilado nesse período. A ditadura de Vargas usou até mesmo da pena de morte para “crimes políticos”. Houve tortura e assassinatos.

As notícias foram completamente filtradas pela DIP, fazendo com que as informações que chegavam as pessoas fossem a exaltação do Estado e a valorização nacionalista. Vargas lutou fortemente para criar um sentimento uno de nacionalidade no Brasil, uma identidade que fosse capaz de unir os brasileiros de Norte a Sul e de Leste a Oeste.

O que não se consolidou se analisarmos as produções literárias da época que acentuam ainda mais as diferenças regionais aqui existentes, legitimando-as como fez Rachel de Queiróz no Nordeste e Érico Veríssimo no Rio Grande do Sul, Jorge Amado na Bahia, entre outros. Para Carlos Fuentes (2007), a literatura é arte, mas também é função do ser falante onde a política, a filosofia, a informação e a ciência tornam-se possíveis consolidando fatos. Para Fuentes:

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forma a realidade, mas uma realidade que, muitas vezes, não é imediatamente perceptível ou material. Muitas vezes, também a ponta objetiva da estrela da realidade surge, mas não assim as suas duas pontas subjetivas: a individual e a coletiva. Insisto nesta terceira dimensão da literatura, a subjetividade coletiva, porque amiúde é a menos perceptível e, todavia, é a mais dinâmica: a ponta onde a nossa subjetividade porta, encarna a nossa coletividade, ou seja, a nossa cultura. (FUENTES, 2007.p.18-19)

Desta forma, pode-se observar como a literatura é empregada neste trabalho, como objeto social capaz de representar uma dada realidade (LAJOLO, 1989), bem como, como arte, segundo Fuentes, 2007, capaz de legitimar algo. O que se percebe ao analisar as doze obras de Jorge Amado que tratam da cidade de Salvador explorando seu povo com suas crenças costumes e também suas mazelas e problemas sociais. O mesmo se dá com os demais livros do escritor baiano que tratam da temática do ciclo do cacau, são antes de tudo romances políticos engajados na crítica aos problemas da época em que são escritos. E que são responsáveis por legitimarem problemas que na época não estavam sendo pensados por demais instancias da sociedade.

Ainda sobre o Estado Novo, cria-se neste período um novo valor cambial, o cruzeiro e o Brasil toma parte na II Guerra Mundial apoiando a Inglaterra, Estados Unidos da América e a União Soviética. Neste período os comunistas e com eles o próprio Jorge Amado integrante do partido PCB, oferece apoio a Getúlio Vargas com o intuito de combater o Nazismo de Hitler, ou seja, diante de todo período de dicotomia e perseguição, estes se unem para combater algo maior, o Nazismo. Vargas demorou-se a decidir por qual lado se uniria, estava negociando com alemães, assim, foi preciso forte pressão por parte dos Estados Unidos da América e dos comunistas para que Getúlio não apoiasse o Nazismo.

Por Volta do término da II Guerra Mundial, com o exemplo dos países fascistas vencidos, o povo em diversas categorias e grupos de diferentes áreas passa a negar o governo de ditadura de Vargas, artistas e profissionais liberais exigem a liberdade do país e pedem a democracia. Assim, em 29 de outubro de 1945 Getúlio Vargas perde o governo por forças (políticos, militares e civis) descontentes com sua política trabalhista, o acusando de corrupção.

Jorge Amado, escritor, político e comunista

Jorge Amado é um escritor baiano, nascido em Itabuna, próximo a Ilhéus, no ano de 1912. Passou sua infância em Ilhéus e adolescência em Salvador, cidades estas que vão

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inspirar e fundamentar sua obra, servindo de paisagem a quase todos os seus livros. Em sua juventude em Salvador, conviveu com pessoas de diferentes classes sociais, principalmente pessoas das classes sociais mais baixas, como prostitutas, boêmios, meninos de rua, estivadores do cais, mendigos, entre outros. Enquanto adolescente Amado chegou a fugir do colégio interno e viveu alguns dias junto de um grupo de crianças de rua que habitavam as ruas de Salvador, se recolhendo à noite para seu esconderijo no antigo cais da cidade, esta experiência mais tarde deu espaço a seu livro Capitães da Areia, que traz a vida de centenas de crianças abandonadas que sobrevivem de furtos e vivem nas ruas da cidade.

Desde Jovem, Jorge Amado participou de jornais estudantis e produziu diversos textos típicos de seu engajamento político e ideológico. Mais tarde, estudou e formou-se em Direito no Rio de Janeiro, nunca chegando a exercer a advocacia. Foi na faculdade o lugar onde se desenvolveram seus primeiros contatos com o movimento comunista organizado. Na década de 1930 a faculdade era um grande centro de discussões sobre política, centro esse que permitiu a Amado conhecer e fazer parte do movimento comunista organizado.

Jorge Amado sempre utilizou sua literatura como veiculo de informação e tentativa de conscientização das pessoas para os problemas sociais da época, ou seja, seus livros conhecidos como de primeira fase, enquanto membro do Partido Comunista Brasileiro (PCB) trazem grande teor de suas ideias comunistas, são frequentes as tentativas de greves, os jargões, a luta por uma revolução para o povo e feita pelo povo.

Suas obras são antes de tudo, obras de denúncia social, pois, Jorge Amado via no comunismo uma solução para estes problemas, para a solução da exploração da classe mais pobre de trabalhadores de Salvador, que representam também outras cidades brasileiras. Assim sua literatura sempre foi seu veículo de informação e conscientização daquilo que acreditava.

Membro do Partido Comunista Brasileiro (PCB) em 1945 foi eleito deputado federal. Cargo este que Jorge Amado não gostaria de aceitar, mas que diante do número de votos e da confiança depositada nele acaba exercendo. Enquanto deputado foi responsável pela ementa vigente até os dias de hoje que garante a liberdade do culto religioso, sendo esta uma das suas grandes contribuições sociais, pois, motivado pela perseguição ao candomblé na Bahia, antes de ser deputado, Amado em seus livros, já militava a favor da liberdade de culto incluindo em sua narrativa muitas práticas religiosas a critica ao preconceito e a perseguição sofridas.

Jorge Amado viveu quase que exclusivamente dos direitos autorais de seus livros, que foram editados em 55 países e traduzidos para 49 idiomas, sendo o segundo autor brasileiro, com maior número de livros vendidos. Escreveu um total de 36 obras literárias. Em 1961 foi

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eleito para ocupar a 23ª cadeira na Academia Brasileira de Letras, experiência que resulta na obra: Farda, fardão, camisola de dormir, onde critica a formalidade da entidade.

Segundo Machado (2006), Jorge Amado traz à tona a representação ficcional da realidade brasileira com possíveis contribuições positivas a um mundo em crise, como o nosso interculturalismo, a miscigenação, o hibridismo cultural, a sociedade relacional e, ainda segundo a autora, a nossa surpreendente resistência às adversidades, bem como a alegria de viver. Amado, com sua postura despojada e provocativa, nunca esquecera de suas origens, e se autodenominava um romancista de putas e vagabundos, como se vê em O menino

grapiúna:

Que outra coisa tenho sido senão um romancista de putas e vagabundos? Se alguma beleza existe no que escrevi, provém desses despossuídos, dessas mulheres marcadas com ferro em brasa, os que estão na fímbria da morte, no último escalão do abandono. Na literatura e na vida, sinto-me cada vez mais distante dos líderes e dos heróis, mais perto daqueles que todos os regimes e todas as sociedades desprezam, repelem e condenam. (AMADO, 2001, p.56)

Já a escritora e professora Matos (2011) nos diz que Amado sempre foi motivado por uma espécie de utopia, onde as hierarquias pudessem ser abolidas e os contrários convivessem harmoniosamente num cenário idealizado. Desta forma, Amado ultrapassa a proposta dos escritores também chamados “Romancistas de 30”, os quais tinham como meta produzir ficção partindo da observação crítica de diferentes aspectos da realidade regional, onde cada autor focalizou sua região, com perceptível simpatia dos oprimidos e com forte caráter de denúncia às estruturas opressoras, como Raquel de Queiróz, Guimarães Rosa, entre outros.

Ainda para a escritora Matos (2011), Jorge Amado não foi somente um grande captador da alma humana, mas também atento e militante pensador, atento às possibilidades e potencialidades das pequenas proezas do homem tido como comum. Fazendo da narrativa seu veículo de difusão de suas ideias, exercendo assim sabiamente sua função de narrador que utiliza tanto textos longos como curtos, com a finalidade de tecer a história do homem de sua época e de sua região. Esses textos, em suma, trazem fatos corriqueiros que, no entanto, acabam ultrapassando os limites acanhados da vida e da história humana através do poder da ficção. Para o autor, Amado é revolucionário e transformador da realidade, pois é capaz de transformar a vida e a história em espaços de revelação e libertação.

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Jorge Amado e o Estado Novo

No ano de 1937 ano em que se institui o Estado Novo, Jorge Amado estava lançando seu romance, Capitães da Areia, e já havia lançado, O país do carnaval (1931), Cacau (1933), Suor (1934), Jubiabá (1935) e Mar Morto (1936). Sendo estes os primeiros romances de Amado, possuem algo em comum em sua narrativa, ditos por alguns autores como romances da primeira fase amado, correspondente ao período ativo em ideias comunistas, são livros que tratam principalmente da vida em Salvador, com personagens pobres que lutam pela sobrevivência com esperança em dias melhores, e Cacau, dos citados é o primeiro romance que fala do ciclo do cacau, de retirantes e do trabalho em Ilhéus e regiões próximas.

Considerados com grande teor comunista, como observa-se em Capitães da Areia, onde Pedro Bala, líder dos Capitães da Areia, grupo de meninos de rua que vivem num trapiche no antigo cais de Salvador, quando chega a idade adulta torna-se um líder organizador de greves procurado pela polícia como ilustra o último capítulo do romance:

Anos depois os jornais de classe, pequenos jornais, dos quais vários não tinham existência legal e se imprimiam em tipografias clandestinas, jornais que circulavam nas fábricas, passados de mão em mão, e que eram lidos à luz de fifós, publicavam sempre notícias sobre um militante proletário, o camarada Pedro Bala, que estava perseguido pela polícia de cinco estados como organizador de greves, como dirigente de partidos ilegais, como perigoso inimigo da ordem estabelecida. No ano em que todas as bocas foram impedidas de falar, no ano que foi todo ele uma noite de terror, esses jornais (únicas bocas que ainda falavam) clamavam pela liberdade de Pedro Bala, líder de sua classe, que se encontrava preso numa colônia. (AMADO, 2008.p.270)

Pedro Bala, líder dos meninos de rua, é filho de um estivador das docas, que perdeu a vida num protesto, na luta por direitos melhores de trabalho, foi baleado por um policial em confronto de greve. Bala pouco sabe do pai, mas se orgulha do passado heroico do mesmo e quando se fomenta na cidade a greve dos bondes, há a chegada de um estudante que conhece Pedro Bala e que o instruí, despertando neste o desejo da luta pela liberdade, assim se passam alguns capítulos do livro como este último com o destino de Pedro Bala, um preso politico.

Quando Amado lança Capitães da Areia em 1937 este livro é proibido e queimado em praça pública junto de outras obras do autor, no dia 17 de dezembro de 1937 o Jornal do Estado da Bahia, em Salvador noticiou a queima de vários livros considerados propagandistas do credo vermelho, onde os livros de Jorge Amado e José Lins do Rego foram os mais atingidos. A queima ocorreu em local público:

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Fonte: Produção autoral

Não se sabe da existência de um registro da época, no entanto o local da queima dos livros ilustrado na imagem acima, localizado em frente a Escola de Aprendizes Marinheiros em Salvador, precisamente na localidade conhecida como Cidade Baixa, muito próxima ao Mercado Modelo e demais importantes construções do Patrimônio histórico da cidade atualmente. Foram queimados 808 exemplares de Capitães da Areia, 223 de Mar Morto, 89 de Suor, 267 de Jubiabá e 214 de País do Carnaval, todos retirados das editoras, junto de outras obras de José Lins do Rego, sob a presença dos senhores da comissão de buscas e apreensões de livros da comissão executora do estado de guerra. Atualmente o local comporta o monumento da Marinha do Brasil como ilustra a imagem.

Jorge Amado estava retornando de uma viagem ao México quando soube da perseguição aos seus livros, com isso o romancista consegue um visto de turista e se refugia na Colômbia por dois meses. Quando chega ao Brasil em dezembro de 1937 é preso e enviado a Salvador sob vigilância policial.

Em 1941 Jorge Amado decide escrever a biografia de seu amigo e de quem admira muito, Luiz Carlos Prestes (1898-1990), como forma de pressionar a libertação do revolucionário que se encontra preso desde 1936 (5 anos). Amado viaja ao Uruguai e a Argentina para escrever esta obra, onde antes Prestes havia se exilado. Escrito em Buenos Aires teve sua primeira edição em espanhol, que assim como no Brasil foi proibida por Getúlio Vargas, foi proibida e queimada pelo presidente da Argentina Juan Domingo Perón (1898-1974).

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No Brasil teve sua edição lançada para circulação somente em 1945, e em 1964 com o golpe militar voltou a sumir das livrarias voltando somente quinze anos depois, em 1979. Assim, O Cavaleiro da Esperança: vida de Luiz Carlos Prestes, teve como objetivo principal servir a causa da anistia aos presos e exilados políticos, no intuito de popularizar e intensificar a campanha.

Jorge Amado engajado como em todos os seus livros com causas que julgava justas e necessárias a um mundo melhor, narra os momentos da trajetória de Prestes, iniciando por sua família e vida no Rio Grande do Sul, passa pela Coluna Prestes que atravessou o Brasil entre 1924 a 1927, onde possibilitou a Luiz conhecer o estado de miséria que vivia a população, o período de exílio, o levante fracassado contra Getúlio Vargas em 1935, a prisão. A entrega de sua esposa Olga Benário que estava grávida de Anita Leocádia, aos nazistas, a campanha internacional que fez sua mãe pela libertação de Prestes e Olga e a luta pela guarda da neta.

Luiz Carlos Prestes, (MOTTA, 2007), foi uma das grandes figuras políticas do país, para Jorge Amado e para muitos outros foi um líder heroico que dedicou toda a sua vida na luta por um país melhor. Sua incursão ao interior do Brasil, a Coluna Prestes fez com que descobrisse a miséria com que o povo vivia, isto levou-o a adotar uma postura mais radical de mudança.

Em seu livro: Navegação de Cabotagem: Apontamentos para um livro de memórias

que jamais escreverei, escrito em 1992, Jorge Amado cita Luiz Carlos Prestes 24 vezes, em

trechos, pois trata-se de um livro de memórias, Amado escreve em Buenos Aires no ano de 1942 justamente quando o autor chega na cidade para escrever a biografia de Prestes, empenhado em fazer grande pesquisa sobre o mesmo. Assim, se passam muitos trechos inclusive de quando os dois trabalharam juntos, enquanto Jorge Amado foi Deputado. A mesma obra faz menção a Getúlio Vargas 10 vezes, fala da perseguição, do apoio dos comunistas a Getúlio, do período de exílio, entre outras tantas situações que o envolveu.

Conclusões Preliminares

Este trabalho mostrou o grande potencial de pesquisa que pode ser realizada utilizando-se como fonte a obra de Jorge Amado ainda pouco pesquisada pela academia brasileira. Seus livros em unanimidade tratam de demandas sociais urgentes escolhidas por Amado como principal meta de denúncia e possível transformação.

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Seu trabalho enquanto escritor demonstra seu engajamento político construído ao longo de toda vida, não somente enquanto comunista, mas como alguém que sempre acreditou no socialismo até mesmo após sua desilusão como comunista.

Buscou-se aqui mostrar como foi contraditória a relação existente entre Jorge Amado e a figura de Getúlio Vargas, em seu livro de Memórias Amado chega a pensar em possíveis 15 maiores brasileiros e pensa em Getúlio Vargas, acredita-se pela coerência do escritor, devido a grande importância de Getúlio na constituição das leis trabalhistas que de fato modificaram o país. Faz-se interessante mediar a relação observando em pontos divergentes, assim, pode-se ter uma compreensão mais ampla dos fatos se analisando diferentes materiais.

Referências

ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS. Biografia de Jorge Amado. Disponível

em:<http://www.academia.org.br/abl/cqi/cqilua.exe/sys/start.htm?infoid=718&sid=244>Aces so em 20 de outubro de 2016

AMADO, Jorge. Capitães da Areia. São Paulo: Companhia das Letras, 2008. AMADO, Jorge. Navegação de Cabotagem. São Paulo: Círculo do livro, 1992.

AMADO, Jorge. O Cavaleiro da Esperança: vida de Luiz Carlos Prestes. Rio de Janeiro: Record, 1979.

AMADO, Jorge. O menino grapiúna. Rio de Janeiro: Record, 2001. FUENTES, Carlos. Geografia do romance. Rio de Janeiro: Rocco, 2007.

LAJOLO, Marisa. O que é a Literatura. 11ªed. São Paulo: Editora Brasiliense, 1989. MACHADO, Ana Maria. Romântico, sedutor e anarquista: como e por que ler Jorge Amado hoje. Rio de Janeiro: Objetiva, 2006.

MATTOS, Edilene Dias. Do recente Milagre dos Pássaros: um conto de Jorge Amado. In: VEIGA, Benedito. [et al.]. Jorge Amado de todas as cores. Salvador: Fundação Pedro Calmon, Anajé: Casarão do Verbo, 2011.

MOTTA, Rodrigo Patto Sá. O Cavaleiro e o Mito. Revista de História, 2007. Disponível em: <http://www.revistadehistoria.com.br/secao/retrato/o-cavaleiro-e-o-mito>. Acesso em

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