PORTUGUÊS - 1
o
ANO
MÓDULO 26
PRODUÇÃO DE TEXTO
— PARTE 5
Como pode cair no enem
O senhor
Carta a uma jovem que, estando em uma
roda em que dava aos presentes o tratamento
de você, se dirigiu ao autor chamando-o “o
senhor”:
Senhora:
Aquele a quem chamastes senhor aqui
está, de peito magoado e cara triste, para
vos dizer que senhor ele não é, de nada, nem
de ninguém. Bem o sabeis, por certo, que a
única nobreza do plebeu está em não querer
esconder sua condição, e esta nobreza tenho
eu. Assim, se entre tantos senhores ricos e
nobres a quem chamáveis você escolhestes
a mim para tratar de senhor, e bem de ver que
só poderíeis ter encontrado essa senhoria nas
rugas de minha testa e na prata de meus
cabe-los. Senhor de muitos anos, eis aí; o território
onde eu mando é no país do tempo que foi.
Essa palavra “senhor”, no meio de uma frase,
ergueu entre nós um muro frio e triste.
Vi o muro e calei: não é de muito, eu juro,
que me acontece essa tristeza; mas também
não era a vez primeira.
(BRAGA, R. A borboleta amarela. Rio de Janeiro: Record,
1991.)
A escolha do tratamento que se queira
atribuir a alguém geralmente considera as
situações especificas de uso social. A
viola-ção desse princípio causou um mal-estar no
autor da carta. O trecho que descreve essa
violação é:
a) “Essa palavra, ‘senhor’, no meio de uma
frase, ergueu entre nós um muro frio e triste.”
b) “A única nobreza do plebeu está em não
querer esconder a sua condição.”
c) “Só poderíeis ter encontrado essa senhoria
nas rugas de minha testa.”
d) “O território onde eu mando é no país do
tempo que foi.”
e) “Não é de muito, eu juro, que acontece essa
tristeza; mas também não era a vez primeira.”
Proposta de redação
1) (UERJ) Em entrevista ao Terramérica, o escritor português José Saramago afirmou:
As tragédias ecológicas são importantíssimas, mas as humanas talvez sejam mais. Uma árvore pode, mais ou menos, ressuscitar, uma floresta, um bosque, se cuidarmos deles. Mas os mortos não ressuscitam, não há maneira de devolvê-los à vida. Se é verdade que devemos nos preocupar com a catástrofe ecológica, não é menos certo que se deve pensar, sobretudo, na catástrofe que será a morte de uma quantidade de seres humanos, que nem podemos imaginar. (...) O meio ambiente é muito importante, mas vamos nos preocupar com algo mais. Tenho um jardim e cuido muito de minhas árvores. Entretanto, estou mais preocupado com as pessoas que vivem dentro de minha casa.
(www.tierramerica.net)
Quarto dos badulaques (XVI)
Terminando a minha crônica do último domingo eu me referi a Ravel que, ao final da vida, dizia, como um lamento: “Mas há tantas músicas esperando ser escritas!” E acrescentei um comentário meu: “Com certeza o tempo não se detém para esperar que a beleza aconteça...” (...) A vida é como a vela: para iluminar é preciso queimar. A vela que ilumina é uma vela alegre. A luz é alegre. Mas a vela que ilumina é uma vela que morre. É preciso morrer para iluminar. Há uma tristeza na luz da vela. Razão por que ela, a vela, ao iluminar, chora. Chora lágrimas quentes que escorrem da sua chama. Há velas felizes cuja chama só se apaga quando toda a cera foi derretida. Mas há velas cuja chama é subitamente apagada por um golpe de vento... (...)
Mais que a minha própria morte e a morte das pessoas que amo, o que me dói é a possibilidade da morte prematura da nossa terra. Porque é certo que ela vai morrer. Tudo o que nasce, morre. O trágico será se ela morrer antes da hora, assassinada por nós mesmos, os seus filhos. (...) Entrei no livro O universo: seu início e seu fim (...) e comecei a viajar pelo tempo. O livro me levou para bilhões de anos atrás. A temperatura era da ordem de um bilhão de graus. Foi então que aconteceu a grande explosão, o Big Bang, com a qual o Universo
não era a vez primeira.
(BRAGA, R. A borboleta amarela. Rio de Janeiro: Record,
1991.)
A escolha do tratamento que se queira
atribuir a alguém geralmente considera as
situações especificas de uso social. A
viola-ção desse princípio causou um mal-estar no
autor da carta. O trecho que descreve essa
violação é:
a) “Essa palavra, ‘senhor’, no meio de uma
frase, ergueu entre nós um muro frio e triste.”
b) “A única nobreza do plebeu está em não
querer esconder a sua condição.”
c) “Só poderíeis ter encontrado essa senhoria
nas rugas de minha testa.”
d) “O território onde eu mando é no país do
tempo que foi.”
e) “Não é de muito, eu juro, que acontece essa
tristeza; mas também não era a vez primeira.”
Proposta de redação
1) (UERJ) Em entrevista ao Terramérica, o escritor português José Saramago afirmou:
As tragédias ecológicas são importantíssimas, mas as humanas talvez sejam mais. Uma árvore pode, mais ou menos, ressuscitar, uma floresta, um bosque, se cuidarmos deles. Mas os mortos não ressuscitam, não há maneira de devolvê-los à vida. Se é verdade que devemos nos preocupar com a catástrofe ecológica, não é menos certo que se deve pensar, sobretudo, na catástrofe que será a morte de uma quantidade de seres humanos, que nem podemos imaginar. (...) O meio ambiente é muito importante, mas vamos nos preocupar com algo mais. Tenho um jardim e cuido muito de minhas árvores. Entretanto, estou mais preocupado com as pessoas que vivem dentro de minha casa.
(www.tierramerica.net)
Quarto dos badulaques (XVI)
Terminando a minha crônica do último domingo eu me referi a Ravel que, ao final da vida, dizia, como um lamento: “Mas há tantas músicas esperando ser escritas!” E acrescentei um comentário meu: “Com certeza o tempo não se detém para esperar que a beleza aconteça...” (...) A vida é como a vela: para iluminar é preciso queimar. A vela que ilumina é uma vela alegre. A luz é alegre. Mas a vela que ilumina é uma vela que morre. É preciso morrer para iluminar. Há uma tristeza na luz da vela. Razão por que ela, a vela, ao iluminar, chora. Chora lágrimas quentes que escorrem da sua chama. Há velas felizes cuja chama só se apaga quando toda a cera foi derretida. Mas há velas cuja chama é subitamente apagada por um golpe de vento... (...)
Mais que a minha própria morte e a morte das pessoas que amo, o que me dói é a possibilidade da morte prematura da nossa terra. Porque é certo que ela vai morrer. Tudo o que nasce, morre. O trágico será se ela morrer antes da hora, assassinada por nós mesmos, os seus filhos. (...) Entrei no livro O universo: seu início e seu fim (...) e comecei a viajar pelo tempo. O livro me levou para bilhões de anos atrás. A temperatura era da ordem de um bilhão de graus. Foi então que aconteceu a grande explosão, o Big Bang, com a qual o Universo
se iniciou. E pensando sobre esse evento fantástico enquanto caminhava – é preciso cuidar do coração – meus pensamentos foram interrompidos pelas sibipirunas1 floridas, o amarelo contra o verde das folhas e o azul do céu... E me
assombrei de que coisas tão lindas e mansas tivessem nascido de uma explosão há 15 bilhões de anos... Do caos nasceram ordem, vida e beleza, da mesma forma como uma bolha de sabão sai, perfeita, do canudinho que o menino sopra... Aí fiquei com medo que a bolha estourasse antes da hora. Porque é isso, precisamente, que essa coisa a que damos o nome de progresso está fazendo. Todos os candidatos a presidente, todos, indistintamente, de direita e de esquerda, prometem “progresso”. Mas nenhum deles promete preservar a natureza. Qualquer menino sabe que a bolha de sabão é frágil. Não pode crescer sempre. Se crescer além do limite ela estoura. E nossa terra é precisamente uma bolha frágil que navega pelos espaços vazios, bolha onde apareceram, miraculosamente, as condições para que a vida viesse a existir. Mas, se essas condições desaparecerem, a vida deixará de existir. Muitas críticas justas já se fizeram ao capitalismo, de um ponto de vista ético, em virtude de sua tendência de produzir pobreza e concentrar riqueza. Mas raramente se fala sobre o capitalismo como um sistema autodestrutivo que, para existir e gozar saúde, tem de estar num processo de crescimento constante: mais empregos, mais trabalho, mais devastação da natureza, mais monóxido de carbono no ar, mais lixo – seis bilhões de quilos por dia! –, mais exploração dos recursos naturais, mais florestas cortadas, mais poluição dos mananciais... Até quando a frágil bolha suportará?...
(Rubem Alves - www.rubemalves.com.br)
Glossário:
• sibipirunas: árvores com flores amarelas e vistosas.
Os textos problematizam dois focos de exploração do sistema capitalista: o homem e a natureza.
Lembre-se, porém, de que o objetivo da apresentação desses textos é oferecer a você subsídios para o desenvolvimento de suas ideias. Sua redação, portanto, deverá demonstrar elaboração própria.
Redija uma carta a José Saramago ou a Rubem Alves, desenvolvendo com clareza argumentos que:
• no caso de José Saramago, procurem convencê-lo de que a vida do planeta é mais importante do que a vida humana;
• no caso de Rubem Alves, busquem convencê-lo de que nada se compara à vida humana, nem mesmo a preservação do planeta.
Para o cumprimento dessa tarefa, seu texto − de, no mínimo, 20 e, no máximo, 30 linhas − deve:
• ter estrutura argumentativa completa; • seguir o padrão de carta; • ser redigido em língua culta padrão;
Proposta de redação
2) (ENEM) Com base na leitura dos textos
motivadores seguintes e nos conhecimentos
construídos ao longo de sua formação, redija
texto dissertativo-argumentativo em norma
culta escrita da língua portuguesa sobre o
tema “O indivíduo frente à ética nacional”,
apresentando proposta de ação social, que
respeite os direitos humanos. Selecione,
orga-nize e relacione coerentemente argumentos e
fatos para defesa de seu ponto de vista.
Andamos demais acomodados, todo
mundo reclamando em voz baixa como se
fosse errado indignar-se.
Sem ufanismo, porque dele estou
cansada, sem dizer que este é um pais
rico, de gente boa e cordata, com natureza
(a que sobrou) belíssima e generosa, sem
fantasiar nem botar óculos cor-de-rosa, que
o momento não permite, eu me pergunto o
que anda acontecendo com a gente.
Tenho medo disso que nos tornamos
ou em que estamos nos transformando,
achando bonita a ignorância eloquente,
engraçado o cinismo bem-vestido,
interessante o banditismo arrojado, normal
o abismo em cuja beira nos equilibramos —
não malabaristas, mas palhaços.
(LUFT, L. Ponto de Vista. Veja. Ed. 1988, 27 dez. 2006
[adaptado].)
Qual é o efeito em nós do “eles são
todos corruptos”?
As denúncias que assolam nosso
cotidiano podem dar lugar a uma vontade
de transformar o mundo só se nossa
indignação não afetar o mundo inteiro.
“Eles são TODOS corruptos” é um
pensamento que serve apenas para
“confirmar” a “integridade” de quem
se indigna.
O lugar-comum sobre a corrupção
generalizada não é uma armadilha para os
corruptos: eles continuam iguais e livres,
enquanto, fechados em casa, festejamos
nossa esplendorosa retidão.
O dito lugar-comum é uma armadilha
que amarra e imobiliza os mesmos que
denunciam a imperfeição do mundo inteiro.
(CALLIGARIS, C. A armadilha da corrupção. Disponível em
http://www1.folha.uol.com.br [adaptado].)
o abismo em cuja beira nos equilibramos —
não malabaristas, mas palhaços.
(LUFT, L. Ponto de Vista. Veja. Ed. 1988, 27 dez. 2006
[adaptado].)
Qual é o efeito em nós do “eles são
todos corruptos”?
As denúncias que assolam nosso
cotidiano podem dar lugar a uma vontade
de transformar o mundo só se nossa
indignação não afetar o mundo inteiro.
“Eles são TODOS corruptos” é um
pensamento que serve apenas para
“confirmar” a “integridade” de quem
se indigna.
O lugar-comum sobre a corrupção
generalizada não é uma armadilha para os
corruptos: eles continuam iguais e livres,
enquanto, fechados em casa, festejamos
nossa esplendorosa retidão.
O dito lugar-comum é uma armadilha
que amarra e imobiliza os mesmos que
denunciam a imperfeição do mundo inteiro.
(CALLIGARIS, C. A armadilha da corrupção. Disponível em
http://www1.folha.uol.com.br [adaptado].)
Proposta de redação
3) (UNICAMP) Faça de conta que você tem um amigo em Portugal que confia muito em você e que estava
pensando em passar uma temporada no Brasil e talvez até em migrar.
Suponha também que, recentemente, ele lhe tenha escrito uma carta dizendo que está pensando em
abandonar tal projeto, em consequência das notícias sobre o Brasil que tem lido ultimamente. Para
justificar-se, ele incluiu na carta a seguinte amostra de manchetes, que o impressionaram, publicadas com destaque
em menos de um mês, em um único jornal:
FALTAM ÁGUA, LUZ E TELEFONE NAS ESCOLAS, DIZ PESQUISA DO MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO
(Folha de S.Paulo, 16 set. 1998)
METADE DOS ELEITORES NÃO TÊM 1
oGRAU
(Folha de S.Paulo, 20 out. 1998)
BRASIL É CAMPEÃO DE CASOS DE DENGUE,
LEPRA E LEPTOSPIROSE NAS ÁMERICAS
(Folha de S.Paulo, 21 set. 1998)
MISERÁVEIS SÃO 25 MILHÕES
(Folha de S.Paulo, 26 set. 1998)
83% SÃO ANALFABETOS FUNCIONAIS
(Folha de S.Paulo, 26 set. 1998)
PARTOS DE MENINAS AUMENTARAM 81% NO RIO
(Folha de S.Paulo, 29 set. 1998)
SP DESPEJA NA RUA UM TERÇO DE SEU LIXO
(Folha de S.Paulo, 4 out. 1998)