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DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL

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Thiago Magno Alves da Silva

Assessoria de Imprensa no Futebol:

A importância do planejamento estratégico no desenvolvimento

da imagem do jogador à opinião pública

RIO DE JANEIRO 2016

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Assessoria de Imprensa no Futebol:

A importância do planejamento estratégico no desenvolvimento

da imagem do jogador à opinião pública

Trabalho de conclusão de curso apresentado às Universidade Cândido Mendes e AVM Faculdade Integrada, como requisito parcial para obtenção do título de Pós-Graduação em Comunicação Empresarial. Orientador: Prof. Doutor Jorge Vieira.

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Thiago Magno Alves da Silva. Professor Doutor Jorge Vieira. Universidade Cândido Mendes – AVM. Turma K276. 2016.1. 25 de janeiro 2016. Comunicação Empresarial. Palavras-chave: 1) Futebol; 2) Jogador de Futebol; 3) Imprensa Esportiva; 4) Assessoria de Imprensa;

5) Imagem do Atleta; 6) Juninho Pernambucano.

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Assessoria de Imprensa no Futebol:

A importância do planejamento estratégico no desenvolvimento

da imagem do jogador à opinião pública

Monografia de Pós-graduação apresentada às Faculdades Cândido Mendes – AVM, como requisito parcial para obtenção da Pós-graduação em Comunicação Empresarial.

Rio de Janeiro 2016 IV

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RESUMO

Este trabalho busca trazer reflexões acerca da importância da assessoria de imprensa na construção da imagem do jogador de futebol e na sua manutenção positiva na mídia. Analisa-se a dimensão do impacto gerado pelo trabalho da asAnalisa-sessoria de imprensa na carreira de um atleta de sucesso, verificando-se até que ponto a imagem do esportista influência diretamente nas suas conquistas. O estudo de caso com o jogador Juninho Pernambucano busca ilustrar melhor o tema em questão. Juninho traçou uma trajetória vitoriosa, dentro e fora dos gramados, despertando a admiração e o respeito de todos aqueles que acompanham o futebol, inclusive torcedores adversários. Diante desse contexto, a presente monografia procura valorizar o trabalho do assessor de imprensa na consolidação da imagem do atleta.

Palavras-chave: Futebol; Jogador de Futebol; Imprensa Esportiva; Assessoria de Imprensa;

Imagem do Atleta; Juninho Pernambucano.

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INTRODUÇÃO ---7

CAPÍTULO 1 – O FUTEBOL NO PAÍS DO FUTEBOL--- 8

1.1 Do apito inicial às primeiras vaias --- 8

1.2 A implantação do futebol profissional --- 11

1.3 O surgimento da imprensa esportiva no Brasil --- 14

CAPÍTULO 2 – ASSESSORIA DE IMPRENSA --- 19

2.1 A assessoria de imprensa e suas funções --- 21

2.2 A assessoria de imprensa no futebol --- 23

2.3 O relacionamento do jogador com a mídia --- 24

CAPÍTULO 3 –ESTUDO DE CASO DO ATLETA JUNINHO PERNAMBUCANO--- 27

3.1 A construção de um ídolo --- 27

3.2 Lapidando o caráter --- 29

3.3 Assessoria de imprensa na prática --- 33

3.4 Assessoria de Imprensa e as redes sociais --- 35

3.5 A imagem do atleta perante a opinião pública --- 36

CONCLUSÃO --- 41

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS --- 43

ANEXO 1 – ENTREVISTA ASSESSOR DE IMPRENSA --- 47

ANEXO 2 – ENTREVISTA TORCEDORES --- 49

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INTRODUÇÃO

A modernização da sociedade trouxe ao ser humano a necessidade de obter cada vez mais informações, o que, em larga escala, levou ao desenvolvimento dos meios de comunicação de massa. Essa situação fez com que alguns jornais esportivos passassem a ganhar muito dinheiro com a revelação de aspectos privados dos jogadores de futebol que, por sua vez, sofrem com a bisbilhotice e o sensacionalismo vendido por grande parte da imprensa. Para construir, preservar e transformar a imagem desses atletas é preciso contar com a ajuda de um profissional capacitado, que atue como um mediador entre o jogador e os formadores de opinião, que, agora, não mais podem deixar de informar e responder às demandas da sociedade.

A relevância desta pesquisa, inicialmente, justifica-se pela importância em entender a dimensão do trabalho desenvolvido pelo profissional de assessoria de imprensa e analisar até que ponto a imagem de um jogador de futebol influência diretamente na sua carreira. Com o levantamento bibliográfico de autores como Marcos Guterman, Waldenyr Caldas, André Ribeiro, Rivaldo Chinem, Elisa Kopplin, Patrícia Rangel, Mauro Betti, Rodrigo Motta e Wagner Castropil, o tema foi divido em três partes.

No primeiro capítulo, uma breve abordagem sobre a história do futebol brasileiro - desde a sua introdução no país, passando pela implantação do profissionalismo, até o surgimento da imprensa esportiva – é apresentada para evidenciar a importância desse esporte nos veículos de comunicação. A partir do momento em que conquista definitivamente a sociedade, o futebol vira tema garantido nas páginas dos principais jornais do país.

No segundo capítulo, Assessoria de Imprensa, define-se o papel do assessor, delineando as suas funções na arquitetura da ponte entre o jornalista e o seu assessorado. Apresenta-se a velocidade das mudanças na sociedade atual, em meio ao processo de comunicação. Além disso, verifica-se que o assessor de imprensa precisa ser um profissional responsável, que tenha um bom relacionamento perante seus colegas jornalistas e que sempre se mantenha atualizado.

A fundamentação da presente monografia ocorre no terceiro capítulo, através da análise de caso do jogador Juninho Pernambucano, um esportista de destaque no cenário mundial e de imagem exemplar. Nessa parte, o assessor de imprensa Flávio Dias é entrevistado para que o leitor entenda os detalhes da estratégia usada no trabalho desenvolvido com o atleta.

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CAPÍTULO 1

O FUTEBOL NO PAÍS DO FUTEBOL

Antes de se analisar a importância da assessoria de imprensa no sucesso da carreira do jogador de futebol Juninho Pernambucano, deve-se, para um melhor entendimento do assunto, contextualizar o leitor através de uma breve história do futebol brasileiro - desde o seu início, passando pela sua trajetória da fase amadora à profissional, até o surgimento da imprensa esportiva.

1.1 Do apito inicial às primeiras vaias

A introdução do futebol no Brasil se deu em 1894, quando o paulistano Charles Miller, filho de um engenheiro escocês com uma brasileira, filha de ingleses, retornou da Inglaterra à sua terra natal com uma bola na bagagem, além de um aglomerado de regras. Naquela época, era comum que filhos de famílias ricas estudassem na Europa.

De acordo com Guterman (2009), embora já existissem bons colégios no Rio de Janeiro e em São Paulo no final do Império e no começo da República, havia uma cultura, entre os imigrantes mais ricos e a aristocracia local, de mandar os filhos cursarem o ginásio na Europa. Foi o que aconteceu com Charles, enviado à Inglaterra, por seus pais, em 1884, quando tinha nove anos de idade, para estudar no Banister Court School, em Southampton. A família Miller tinha a esperança de que o garoto se formasse para entrar na administração dos negócios ingleses em São Paulo. Entretanto, o interesse do jovem não estava no mundo acadêmico britânico, e o que ele realmente aprendeu na escola inglesa, foi a arte de jogar futebol.

Para Caldas (1990, p. 23), Charles Miller não foi somente o principal responsável pelo surgimento do futebol no Brasil. “Mais do que isso, ele tinha o perfeito domínio das regras do futebol naquela época, apitava jogos, além de ser jogador de extrema habilidade técnica”. Habilidade essa que Guterman define como fundamental para que, um dia, o futebol brasileiro pudesse conquistar o planeta:

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O futebol brasileiro deu uma sorte danada assim que nasceu. Embora tenha sido introduzido por aqui no final do século XIX com um inconfundível sotaque britânico, o tipo de jogo adotado possuía em seu DNA características que logo o distinguiram do futebol então praticado na Europa. Charles Miller, um dos principais introdutores do futebol no Brasil, era adepto do “dribbling”, ou do drible, maneira insinuante de superar os zagueiros para chegar ao gol. Miller poderia gostar do passing, isto é, da troca de passes, que desde aquela época faz do futebol europeu essencialmente técnico e eficiente – e monótono. Se nosso pioneiro não tivesse em seu próprio código genético o traço brasileiro, talvez tivéssemos sido somente súditos do jogo em que apenas a vitória interessa, e provavelmente não faríamos história como o país que encantou o mundo com seus malabarismos e sua arte imprevisível (2009, p. 13 -14).

Deve-se destacar que o início da trajetória do futebol brasileiro possui um caráter aristocrático. Os ingleses, pioneiros desse esporte no Brasil, pertenciam à elite da sociedade paulista e carioca. De acordo com Caldas (1990), além deles, apenas os brasileiros ricos tinham acesso ao esporte bretão. Diferentemente do que acontecera na Inglaterra, onde esse esporte era proibido pelo Estado até a primeira década do século XIX, nada disso ocorreu por aqui.

O fato de o início do futebol no Brasil caber aos endinheirados era um paradoxo e tanto, uma vez que o futebol inglês nascera em meio ao crescimento da massa operária. “Era um jogo que trazia para locais públicos toda a raiva das classes baixas do país, atulhadas nas cidades cada vez mais hostis” (GUTERMAN, 2009, p. 16). A coibição do futebol jogado na rua, normal na Inglaterra, no começo do século XIX, é um indício de que esse esporte era considerado coisa da escória, até porque, na maioria das vezes, acabava em confusão.

Por outro lado, no Brasil, os traços elitistas estavam presentes em tudo que cercava o futebol, até mesmo onde era praticado:

O primeiro campo oficial do país foi o terreno da Chácara Dulley, no Bom Retiro, onde já se jogava críquete, então o esporte preferido dos ingleses no Brasil. A chácara pertencia à família de Charles D. Dulley, engenheiro americano que chefiou a construção da ferrovia entre São Paulo e Rio, aberta em 1877. O terreno ficava a poucos metros da Estação da Luz, onde hoje está um quartel da Polícia Militar, e a avenida Tiradentes, o final da rua Três Rios – que, na época, chamava-se rua Marquês de Três Rios, porque fora aberta pelo tal marquês, que lá também tinha uma propriedade. Na mesma Chácara Dulley, como a confirmar esse traço de nobreza, houve a introdução do golfe no país. Mas o futebol, por razões diversas, acabou predominando (GUTERMAN, 2009, p. 17).

Na Chácara Dulley, o campo não tinha as dimensões adequadas, tampouco a bandeira para marcar o corner. A baliza era de bambus, amarrados com barbante. O autor revela ainda que, nos primeiros momentos do futebol no Brasil, todo o material necessário para a prática do esporte tinha de ser importado da Europa. Para complicar, o governo mantinha os impostos

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sobre importação de equipamentos de futebol, como bolas, chuteiras e redes para gol, em valores exorbitantes.

As condições precárias na prática do futebol corroboram o caráter lúdico do esporte em seu início no Brasil, ao contrário do profissionalismo que já ganhava forças na Europa. Havia, entre os fundadores do futebol brasileiro, a ideia de o esporte, pelo menos, parecer amador. Para o autor Guterman esse desejo soava de forma estranha, já que se tratava de gente da elite européia e da nascente aristocracia carioca e paulistana.

[...] afinal, eles poderiam muito bem ter usado seu dinheiro para melhorar as condições do jogo e mesmo de torná-lo financeiramente viável como competição. Não foi isso o que se viu nos primeiros anos, em parte justamente porque os pioneiros viam no amadorismo o maior charme do jogo, uma maneira de acentuar o cavalheirismo e a noção de “fair play” dos atletas, distinguindo-os daquilo que eles viam como costumes rasteiros da massa de imigrantes iletrados e de ex-escravos – e dos próprios operários e desocupados ingleses que haviam criado o futebol (2009, p. 19 - 20).

Tudo isso só contribuiria para a elitização do futebol e, consequentemente, para a demora em sua disseminação nas camadas abaixo. Classes desfavorecidas monetariamente, operários, negros e mulatos eram excluídos dessa distinta prática esportiva. Essas pessoas só teriam oportunidade nos campos de várzea ou quando passaram a ser decisivas para que os times de brancos ricos ganhassem títulos. A massificação do futebol no Brasil levaria um tempo.

A partir de 1903, operários das empresas inglesas, que moravam em bairros próximos às linhas ferroviárias, montaram seus times e clubes, e começaram a jogar futebol. Paralelamente aos jogos das elites, passaram a existir competições organizadas por classes menos assalariadas da população, embora esses grupos de pessoas sofressem exclusão por parte dos ricos.

O novo esporte também passou a ganhar força e propagação graças aos colégios e à Igreja Católica, cruciais no estímulo à prática do futebol no nosso país.

[...] no Brasil foram justamente os colégios que muito cedo se tornaram as forjas de futebolistas: em escolas como os colégios militares, o Ginásio Nacional, o Alfredo Gomes, o Abílio, o Anglo-Brasileiro, o futebol era quase uma matéria obrigatória. A Igreja Católica, fator de enorme importância, parece não ter levantado nenhuma objeção. Deve-se até salientar o fato de que numerosos padres deram impulso decisivo para a difusão do novo jogo. Uma certa notoriedade conseguiu o padre Manuel Gonzáles, que deve ter fabricado a primeira bola brasileira de couro cru, para que seus alunos do Colégio Vicente de Paula (Petrópolis) pudessem dedicar-se ao esporte (ROSENFELD, 1993, p. 78).

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Ainda na primeira década do século XX, nasceram os torcedores. Era uma torcida fina e educada. Em São Paulo, o público presente nas arquibancadas do Velódromo - onde ocorreram os primeiros jogos oficiais da cidade - era composto por cavalheiros, senhoras e senhoritas. Guterman (2009) conta que em 1902, no primeiro campeonato paulista, as mulheres se destacavam entre os torcedores, ostentando “riquíssimas toilettes” (grifo do autor), formando o “adorno da festa”(grifo do autor). No Rio de Janeiro não foi diferente. Ao jogo de abertura do primeiro campeonato de futebol da cidade, entre Fluminense e Paissandu, em maio de 1906, as mulheres compareceram em grande número.

Ao menos nos primeiros anos, o glamour e o cavalheirismo das arquibancadas ratificavam a intenção dos pioneiros do futebol de fazer desse esporte uma expressão de sua educação e de seu fair play, uma disputa em clima de respeito e camaradagem (GUTERMAN, 2009).

É nessa época que os estádios começam a lotar de torcedores; surgem as primeiras saudações dos jogadores para a torcida. Era o que podemos chamar de “grito de guerra”. Perfilados de frente para o público, todos eles levantavam o braço direito e, com o punho cerrado, esmurravam o ar gritando: “hip, hip, hurrah, hip, hip, hurrah, hip, hip, hurrah! Três vezes era o convencional. Esta expressão não tinha a função apenas de saudar os torcedores; ela subentendia também uma espécie de compromisso verbal dos jogadores com o público, no sentido de lutarem muito pela vitória do seu time. Cabia aos torcedores retribuírem a saudação com o grito de “aleguá-guá-guá”; repetindo-o também por três vezes. A partir daí, criava-se a empatia e a cumplicidade entre os times e a torcida, bem ao estilo de que presenciamos hoje. (CALDAS, 1990, p.131)

Pouco depois, a massa de torcedores viria a ser uma realidade no futebol brasileiro. Conseguir um lugar nas arquibancadas se tornaria algo difícil, até mesmo antes das partidas começarem. “O jogo atraiu um público refinado, mas também torcedores comuns, que disputavam espaço com as famílias da classe alta, acotovelando-se até mesmo sobre telhados ou em cima de árvores” (GUTERMAN, 2009, p. 25). Como se percebe, o futebol no Brasil tinha uma forte tendência a se popularizar desde seu início.

A tranquilidade nas arquibancadas logo chegaria ao fim, com a presença das classes inferiores – gente que, já havia entendido as regras do jogo, já havia escolhido um time para o qual torcer e, portanto, exigia uma boa atuação dos jogadores. Eis que surge a arma mais eficiente usada pelos torcedores como forma de protesto: a vaia.

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O fim da fase de amadorismo do futebol brasileiro não demorou a chegar. Conforme lembra Guterman (2009), no momento da criação da Liga de Futebol de São Paulo, em 1901, estipulou-se a venda de ingressos para a torcida, dividindo o lucro em 50% para a liga e 50% para os clubes. “Em pouco tempo, a capitalização do futebol, em paralelo à sua expansão, esvaziou o caráter amador de que se orgulhavam clubes como o Paulistano” (GUTERMAN, 2009, p. 36).

O período de transição do futebol coincidiu com a da própria sociedade brasileira. A primeira década do século XX acabaria ainda na dúvida entre o amadorismo e o profissionalismo, entre o elitismo e a inclusão da massa no futebol e entre jogadores brancos e a inserção do negro, que mudaria decisivamente o panorama do esporte no país.1

A introdução dos operários no futebol também contribuiu precisamente para a mudança do cenário na época:

[...] o amadorismo, que serviu para deixar de fora do futebol quem não fosse da aristocracia, estava virando uma intenção apenas de fachada. Vários jogadores já atuavam sob contrato em São Paulo, como Mac Lean no Americano de Santos e o zagueiro Asbury no Paulistano, entre vários outros. O Corinthians não tinha dinheiro para dar a seus jogadores, mas operários eram convidados a jogar por diversos clubes em troca de dinheiro, porque o ‘espírito esportivo’ dos primeiros anos já cedia lugar à obsessão pela vitória e por títulos (GUTERMAN, 2009, p. 50).

Fundado no ano de 1904 e formado pelos trabalhadores da fábrica de tecidos localizada no bairro de Bangu, The Bangu Athletic Club foi um ótimo exemplo da importância do futebol entre os operários. O time ganhou destaque por ser o primeiro a apresentar aspectos de profissionalismo fora do universo da elite do futebol.

Como faltassem jogadores para compor dois times, a solução foi convidar os operários brasileiros da fábrica a aderir ao jogo. Os que aceitaram tiveram alguns privilégios, como tarefas mais leves, para não gastar as energias que seriam usadas no jogo, e jornada de trabalho mais curta, para poder atuar pelo time e treinar. Além disso, a inclusão de operários brasileiros no time fez uma propaganda da Companhia Progresso. Ao fim e ao cabo, os jogadores do Bangu ganhavam promoções e garantias de que continuariam empregados. Tudo isso pode ser considerado uma espécie de compensação que, hoje, seria o equivalente ao salário pago aos jogadores (GUTERMAN, 2009, p. 52).

1

Arthur Friedenreich, primeiro grande herói do futebol brasileiro, ilustra perfeitamente as transformações do futebol no Brasil. Filho de um comerciante alemão com uma lavadeira negra, ex-escrava, o mulato jogava bola como ninguém naquela época, enquanto que os seus olhos verdes e a sua ascendência européia lhes deram acesso ao território do esporte britânico. Atuou pela seleção brasileira de 1919, no Campeonato Sul-Americano, e marcou o gol do primeiro título internacional do Brasil. O feito de Friedenreich foi um marco do futebol brasileiro como unificador democrático de classes sociais e de raças.

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Era dado o pontapé inicial para a democratização do futebol brasileiro. Com o passar do tempo, os operários das fábricas tornaram-se profissionais do futebol. O critério classista dos técnicos ingleses perdeu a sua força. “Operário ‘bom de bola, o AZ da pelota’, com era chamado o bom jogador, tinha assegurado o seu lugar no time. Os próprios ingleses, agora, tinham interesse nisso” (CALDAS, 1990, p. 31).

Nessa nova etapa, ter um plantel composto por jogadores que se identificassem, de alguma maneira, com as raízes ou as características dos times ficou para segundo plano. A essa altura do campeonato, o objetivo maior era vencer. Entretanto, para que isso acontecesse, era necessário contar com os melhores jogadores – que mesmo pertencendo a classes sociais inferiores, acabaram atraídos por propostas de vantagens financeiras e sociais feitas pelos clubes.

A partir daí, escancarou-se o que é chamado por Guterman (2009) de “falso amadorismo”. Para participar de campeonatos, os jogadores tinham de estar empregados. E, para não abrir mão de determinados atletas desempregados, os clubes criavam empregos fictícios para eles. Alguns jogadores já recebiam nessa época uma retribuição em pagamento de prêmios – chamado atualmente de bicho – como forma de incentivo às vitórias.2 A prática era proibida pelos regulamentos, porém, os clubes deram um jeito de fintar as regras no intuito de agregar maiores talentos às equipes, tornando os times cada vez mais fortes.

Com a cobrança de ingressos para os jogos e a ampliação no número de fãs do esporte, o semiprofissionalismo fazia com que os clubes faturassem cada vez mais dinheiro, enquanto os jogadores eram explorados. E, conforme definição de Guterman, esse “falso amadorismo” somado a falta de organização dos clubes, os atletas passaram a trocar de clubes em busca de melhores recompensas.

A relação entre os jogadores e as agremiações esportivas foi se abalando. Com o passar do tempo, os atletas sentiam-se cada vez mais prejudicados, e os clubes, por sua vez, não moviam uma farpa em direção à profissionalização do futebol.

A insatisfação dos jogadores gerou uma grande debandada rumo a mercados mais atraentes, como Portugal, Espanha, Itália e França. E, assim como ainda ocorre nos dias de hoje, com a migração dos jogadores mais talentosos, os campeonatos perderam a sua qualidade; as torcidas perderam seus ídolos e os estádios, seu público.

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Os jogadores eram atraídos pelos clubes com a promessa de remuneração por vitória – às vezes em dinheiro, às vezes em troca de animais, razão pela qual a prática viria a ser conhecida como o “bicho”.

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Em uma histórica declaração à imprensa, o jogador Amílcar Barbuy expressou todo o seu descontentamento com a estrutura vigente do futebol na época:

Vou para a Itália. Cansei de ser amador no futebol onde essa condição há muito deixou de existir, maculada pelo regime hipócrita da gorjeta que os clubes dão aos seus jogadores, reservando-se para si o grosso das rendas. Durante 20 anos prestei desinteressadamente ao futebol nacional os meus modestos serviços. Que aconteceu? Os clubes enriqueceram e eu não tenho nada. Vou para o país onde sabem remunerar a capacidade do jogador (CALDAS, 1990, p.62).

Outro caso rememorável de migração de atletas foi o de Fausto, jogador do Clube de Regatas Vasco da Gama. Conforme destaca Caldas (1990), durante uma excursão do clube pela Europa, Fausto abandonou o time carioca para se tornar profissional do Barcelona Futebol Clube, na Espanha.

Devido a essa fuga dos atletas para o exterior, cada vez mais crescente, os clubes brasileiros passaram a enxergar a formalização do profissionalismo com outros olhos. Na visão deles, essa era a única forma de evitar o êxodo, segurando os jogadores famosos por aqui. “Não deu certo, é claro, mas foi bom para os atletas como um todo. Acelerou a implantação do profissionalismo, mas não evitou a migração. Não havia como concorrer com os clubes europeus, exatamente como ocorre hoje” (CALDAS, 1990, p.190).

O embate dos jogadores para serem reconhecidos como categoria profissional chegaria ao fim no ano de 1933. O então presidente do Brasil, Getúlio Dorneles Vargas, decidiu intervir na legislação esportiva, outorgando a lei que reconhecia o jogador de futebol como profissional. Como benefícios, esses atletas passaram a ter vínculo com os clubes, além de receber salários fixos. “Assim, os jogadores de futebol tornavam-se trabalhadores, o que abriu uma nova era para esse esporte no Brasil e deu às classes pobres uma nova e imensa possibilidade de ascensão” (GUTERMAN, 2009, p. 80).

O desejo de se tornar futebolista aumentou, sobretudo, nas classes inferiores da sociedade, que viam, nesse desporto, uma oportunidade ímpar de emergirem. A transformação de esporte amador em esporte profissional fez do futebol um trampolim social para negros mulatos e brancos pobres. Neste momento, o futebol no Brasil romperia definitivamente com o elitismo para virar, de uma vez por todas, popular e democrático.

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Quando retornou ao Brasil, Charles Miller trouxe em sua mala o futebol, esporte pelo qual se encantou durante o período em que esteve na Inglaterra. Imediatamente, associou-se ao São Paulo Athletic Club (SPAC), um clube de ingleses localizado na cidade de São Paulo, onde os seus pais moravam. A ideia de Miller era ter um local onde pudesse jogar futebol. No entanto, se surpreendeu ao saber que o esporte bretão não era conhecido em terras brasileiras.

Naquela época, ainda não havia jogos oficiais, tampouco notícias sobre o futebol. Críquete, ciclismo, remo e turfe eram os únicos esportes que repercutiam na imprensa paulistana. Algo tinha de ser feito para que os jornalistas passassem a se interessar pelo novo esporte. Coube a Miller também mais essa missão. O jovem resolveu organizar treinos entre funcionários de algumas empresas de São Paulo e foi aí que o jornalista Celso de Araújo descobriu o futebol.

Celso de Araújo, importante cronista, que escrevia para um dos jornais da cidade, estava lá apenas como curioso, e sua surpresa com o que viu foi tão grande que decidiu escrever a um amigo do Rio de Janeiro, Alcino Guanabara, outro influente jornalista: ‘Lá pelos lados da Luz, do Bom Retiro, um grupo de britânicos, maníacos como eles só, punham-se, de vez em quando, mais propriamente aos sábados, dia de descanso laboral, a dar pontapés numa coisa parecida com bexiga de boi, dando-lhe grande satisfação e pesar, quando essa espécie de bexiga amarelada entrava num retângulo formado por paus’ (RIBEIRO, 2007, p. 20-21).

Poucos meses depois, São Paulo Railway Team e Gas Work Team fariam o primeiro jogo oficial. Apesar de a partida, organizada por Miller, não ter contado com a presença de nenhum jornalista, o futebol já começava a ganhar espaço entre os jovens ricos da sociedade paulistana.

A moda se espalhou rapidamente. Seis anos após a volta de Miller, São Paulo já contava com quatro equipes, além do SPAC, time em que ele jogava. A última equipe a ser formada entre essas cinco foi a do Paulistano, clube fundado em 1900 por Mário Cardim, repórter do jornal O Estado de S. Paulo. O jovem jornalista se transformaria na figura mais importante da imprensa esportiva brasileira, nas duas próximas décadas.

Embora a febre do futebol estivesse contagiando a todos no início do século XX, não havia lugar para a publicação desse esporte. Os jornais de São Paulo só estavam interessados em noticiar fatos relacionados à política e em divulgar o constante crescimento da cidade. “Emplacar pautas relacionadas ao futebol naquele cenário de São Paulo era muito difícil. Mas fechar os olhos para o crescimento do futebol nas várzeas parecia um grave erro de avaliação dos responsáveis pelos principais jornais da época” (RIBEIRO, 2007, p. 23). Somente no ano

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de 1901, com a criação da primeira Liga do Futebol Paulista, composta por cinco clubes da elite, o esporte viraria notícia.

No Rio de Janeiro não era diferente. A imprensa ainda não se interessava muito por futebol. Para informar sobre o primeiro jogo, realizado entre o Paysandu Cricket Club e o Rio

Cricket and Athletic Association em setembro de 1901, o jornal Correio da Manhã publicou

apenas uma notinha.

O mais curioso dessa partida não foi o fato de haver menos público do que jogadores, mas a forma como o jornalista escalado para o assunto tratou o assunto. Apesar da manchete – ‘Pela primeira vez, no Rio de Janeiro, uma partida de foot-ball’ -, a pequena nota mostrava a decepção do repórter com o resultado da partida, que terminou empatada em 1 a 1. Acostumados à cobertura como remo e turfe, que sempre tinham um vencedor, o jeito foi escrever que “o placar esteve indeciso” (RIBEIRO, 2007, p. 23-24).

Não demorou muito para esse cenário mudar. No mês seguinte, no O Estado de S.

Paulo, Mário Cardim escreveria sobre o primeiro confronto interestadual entre São Paulo e

Rio de Janeiro, destacando a presença do público e a qualidade da equipe carioca, formada em sua maioria por brasileiros e não por ingleses.

De acordo com Ribeiro (2007), todos os detalhes dessa partida foram enviados por Cardim aos seus colegas jornalistas do Rio de Janeiro e, em poucos dias, jornais como o

Correio da Manhã e o Jornal do Brasil divulgavam com empolgação a atuação dos jogadores

cariocas. “Era o que faltava para o futebol ganhar novo impulso também no Rio de Janeiro” (RIBEIRO, 2007, p. 25). Graças ao sucesso desse jogo e à sua repercussão nos principais jornais das duas metrópoles, o processo de criação da primeira Liga de Futebol de São Paulo, em 1902, foi acelerado. Neste momento histórico para a imprensa esportiva, o futebol virava notícia de destaque nos principais jornais de São Paulo.

O primeiro jogo do Campeonato Paulista, disputado no dia 3 de maio de 1902, no campo do Parque Antártica, na zona oeste da cidade, terminou com a vitória apertada do Germânia sobre o Mackenzie pelo placar de 2 a 1. O acontecimento repercutiu em importantes jornais da cidade, mesmo que de maneira acanhada. Mário Cardim, com sua reportagem mais elaborada no O Estado de S. Paulo, foi uma exceção.

De acordo com Ribeiro (2007), os jornalistas ainda estavam descobrindo o novo esporte. Nos estádios, tudo era novidade para os repórteres que cobriam os jogos. A dificuldade que a imprensa tinha para falar do novo tema era evidente. Todavia, o futebol estava, cada vez mais, presente nas redações, sem contar que novos periódicos e revista surgiam a todo o momento.

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A várzea paulistana também passou a ser notícia em 1903. O jornal A Fanfulla, embora não tivesse um grande número de leitores, passou a destacar as partidas entre clubes varzeanos em suas capas, dando um largo passo contra o preconceito.

Em 1904, os times de futebol multiplicavam-se sem parar pelos bairros de São Paulo. Segundo Ribeiro, somente na capital paulista, já havia cerca de setenta clubes. Enquanto isso, no Rio de Janeiro, o futebol também crescia incessantemente. “Os redatores dos jornais não paravam de receber informações, ofícios, releases e comunicados dos sócios e os transformavam em pequenas notas publicadas nos diários cariocas” (RIBEIRO, 2007, p. 29).

A maioria dos jornalistas esportivos não costumava frequentar treinos de futebol e, muito menos, entrevistar jogadores. Aqueles que se deslocavam até os estádios para analisar as partidas in loco tinham a tendência de serem mais críticos em seus textos.

Percebendo o desconhecimento e as dificuldades que os jornalistas tinham para tratar do novo esporte, aliado ao seu crescimento descomunal no eixo Rio-São Paulo, Mário Cardim teve a brilhante ideia de criar o Guia de Foot-ball.

Fez um resumo biográfico dos principais craques; apresentou os times existentes em São Paulo e no Rio de Janeiro; fez um roteiro dos jogos do Campeonato Paulista, as populares tabelas; e para os que estavam iniciando detalhou medidas, dimensões e marcações oficiais de um campo de futebol, além de toda a descrição das principais jogadas executadas durante um bom jogo (RIBEIRO, 2007, p. 31).

Além de vender muito, o manual de Cardim passou a ser obra obrigatória e de referência para os apreciadores do esporte bretão. Seu estilo transformou-se em padrão e, durante anos, serviu como fonte para os jornalistas nas redações.

Ao contrário de São Paulo, no Rio de Janeiro não havia uma figura como Mário Cardim, que influenciasse os demais jornalistas da cidade. No entanto, o jornal a Gazeta de

Notícias, percebendo todo o sucesso do esporte e o seu potencial, resolveu tornar-se o

principal canal de informações do futebol do Rio. O jornal, que era de grande circulação, passou a trazer diariamente, em uma seção fixa, duas colunas com o nome de Gazeta dos

Sports.

Para Ribeiro (2007), dar notícias sobre futebol era obrigação, uma vez que gente como o escritor Arthur de Azevedo, o barão do Rio Branco, Pereira Passos, o prefeito da cidade e até mesmo o presidente da República, Afonso Pena, passaram a serem vistos frequentemente nos jogos realizados no estádio do Fluminense, nas Laranjeiras.

Ao conquistar definitivamente a sociedade, o futebol virou tema garantido nas páginas dos principais jornais cariocas. No país, novos jornais e revistas entravam em circulação a

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todo instante. Notícias de críquete, ciclismo, remo e turfe davam lugar a assuntos relacionados ao novo esporte.

O futebol, de uma forma geral, estava em franca expansão. Não tardou para que clubes de massa, que se tornariam paixão popular, como Flamengo, Corinthians, Palestra Itália (Palmeiras) e Santos, começassem a surgir e, com eles, os grandes ídolos. Os jornalistas deixavam de noticiar apenas as partidas realizadas, para destacar os novos craques que nasciam.

Os anos se passaram e, com o crescimento da imprensa esportiva brasileira e de jornais específicos, bem como o surgimento de novos nomes do jornalismo esportivo, o foco da notícia também se expandiu. Comentários dos bastidores, trazendo a vida pessoal dos atletas a público, viraram rotina. “Jogadores tratados como ídolos de suas torcidas passaram a ter suas vidas investigadas. No Rio de Janeiro, alguns jogadores que eram vistos ‘paquerando’ moças pelas esquinas viravam assunto nas páginas esportivas do dia seguinte” (RIBEIRO, 2007, p. 35).

Alguns jornais esportivos passaram a ganhar muito dinheiro com a revelação de aspectos privados dessas estrelas que, por sua vez, sofreram, e até hoje sofrem, com a bisbilhotice e o sensacionalismo vendido por grande parte da imprensa.

Para garantir e, em alguns casos, recuperar a boa imagem desses jogadores junto à opinião pública, entram em campo os assessores de imprensa. Com o surgimento desse mercado, muitos jornalistas da área esportiva, por temerem o anonimato, comum na carreira, aventuraram-se na nova profissão. Vários ficaram pelo caminho, porém muitos se consagraram, colaborando substancialmente com o sucesso da carreira de inúmeros jogadores.

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CAPÍTULO 2

ASSESSORIA DE IMPRENSA

Neste capítulo, será traçado um panorama sobre a intensidade e a velocidade das mudanças na parte indissociável e essencial da comunicação, a qual se moderniza e se modifica ao longo do tempo.

Modificam-se, de um lado, os veículos, os processos, as rotinas de trabalho e a realidade de mercado relativa aos meios de comunicação. Alteram-se de outro as necessidades de diálogo entre empresas, órgãos públicos, instituições, personalidades e seus diferentes públicos, ou seja, a grupos de pessoas que possuem interesses em comuns. Dependendo da natureza e do ramo de atuação da instituição, os públicos variam. No entanto, as linhas gerais daqueles que fazem parte da organização, constituem o público interno, enquanto aqueles que não fazem parte da instituição mais estão de alguma forma vinculadas a ela, que são os consumidores, clientes ou usuários, fornecedores, autoridades governamentais, entidades de classe de veículos de comunicação formam o público externo.

A assessoria de imprensa, sendo uma esfera da comunicação, está em constante mudança, não só devido ao ininterrupto avanço tecnológico, como também em razão do contínuo surgimento de novos veículos de informação, e que por ela necessariamente passam as notícias que precisam ser transmitidas à sociedade. Uma organização bem-sucedida necessita, portanto, dos serviços de profissionais competentes e aptos a se mover com eficácia nesse mundo cujas transformações ocorrem em um ritmo assustador.

Sendo assim, não poderia ficar imune a tantos avanços a atividade que possui justamente a atribuição de aproximar as fontes, que têm algo a informar, comunicar e que se dedicam a levar noticias ao público.

É preciso estar atento o tempo todo. O maior mercado de trabalho para os jornalistas brasileiros, a Assessoria de Imprensa, longe de executar uma tarefa rotineira, enfadonha e repetitiva, exige conhecimentos técnicos e uma consciência ética de suas influências na opinião publica. Incluída recentemente em currículos de algumas universidades, é uma área que exige muito – ao contrario do que muitos possam pensar -, pois requer do profissional de comunicação uma sistematização que lhe possibilite exercer a função com segurança e correção (CHINEM, 2003, p. 11).

De fato, a função de assessoria de imprensa tem sofrido relevantes modificações ao longo dos últimos anos. A modernização da sociedade trouxe ao ser humano a necessidade de

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obter cada vez mais informação, o que, em larga escala, levou ao desenvolvimento dos meios de comunicação de massa. Essa situação fez também com que os indivíduos e as organizações passassem a vislumbrar no noticiário transmitido por jornais, revistas, emissoras de rádio, de televisão e na rede mundial da internet a sua grande possibilidade de divulgar fatos e opiniões para a sociedade.

Em certo período do pais, tornou-se comum estender ao mundo das revistas a possibilidade de trabalho além das redações de jornais, as grandes empregadoras. O cenário também correspondia à expectativa por mais trabalho, e o ambiente era de certa forma turbulento, as máquinas de escrever eram barulhentas e havia muita movimentação, com entra-e-sai de editores, repórteres, fotógrafos, diagramadores, paginadores, revisores, designers, pessoal da produção, secretarias, contínuos, enfim, todo um corpo que se concentrava e se resumia em uma só palavra: redação de revista. O tempo passou e o que hoje se vê é somente um profissional trabalhando em uma sala apertada; quando não, apenas alguns minguados jornalistas exercendo mil tarefas ao mesmo tempo,com a incumbência de contratar o trabalho de outros colegas freelancers, ou seja, sem vínculo empregatício com a editora (CHINEM, 2003, p. 12).

Além disso, nasciam e circulavam por algum tempo, inúmeros títulos de revistas, com periodicidade semanal, quinzenal ou mensal, abordando assuntos focados nas várias áreas de conhecimento. Consequentemente, era mais uma área a ser explorada, expandida, justo em um momento em que cada profissão dentro do jornalismo começaria a tomar seus rumos. A autora Elisa Kopplin destaca outras mudanças:

Uma delas diz respeito à alteração do perfil do assessor, que, cada vez mais, deixa de ser alguém que entulha as redações com incontáveis e insípidos relises, movido apenas pela ânsia de ver noticias de se assessorado divulgadas, para se transformar em mediador e facilitador da circulação de noticias relevantes e interessantes, beneficiando dessa forma tanto os assessorados, que passam a contar com melhores resultados, quanto os jornalistas, com apoio efetivo e eficaz (KOPPLIN, 2009, p. 7).

O mercado, como um todo, tem sido outra instância de grandes mudanças. As inovações tecnológicas e a diversificação dos veículos de comunicação não têm correspondido com o aumento desse segmento, “... o que leva cada vez mais jornalistas – do acadêmico que procura seu primeiro estágio ao profissional experiente em busca de novas oportunidades – a encontrar na assessoria de imprensa uma alternativa de trabalho” (KOPPLIN, 2009, p. 8).

Uma grande verdade é que, cada vez mais, aumenta a cobrança por profissionais mais especializados dentro de cada segmento de trabalho. Na parte de assessoria, não é diferente. As exigências técnicas, logísticas e éticas do processo de comunicação, são reconhecidas como importantes e necessárias para a obtenção de bons resultados. Esses requisitos fazem

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com que empresas, instituições e personalidades dos mais diversos segmentos não abram mão de serviços de profissionais capacitados a conduzir o trabalho.

Pensando em termos mais amplos, conclui-se que o profissional de assessoria de imprensa é um intermediário entre as informações disponíveis em uma organização e os diversos públicos que ela atinge.

2.1 A assessoria de imprensa e suas funções

A função do assessor de imprensa se encontra consolidada na sociedade em que vivemos. A assessoria pode ser desenvolvida em qualquer ramo da atividade profissional, bastando apenas que haja o interesse e a necessidade de divulgar informações. No que diz respeito às notícias, cabe ao assessor de imprensa tomar todas as providências necessárias para que obtenham os melhores resultados possíveis. Isso não só aumentará as possibilidades de divulgação das informações fornecidas pelo cliente, como também fará com que os colegas de profissão (jornalistas) o considerem uma fonte a ser consultada em novas ocasiões.

Atualmente, profissionais de grandes jornais, de grandes revistas de circulação nacional, de emissoras de rádio, de estações de TV, de porte significativo, e de portais informativos de ampla cobertura da internet recorrem com frequência às assessorias para obter as informações e contato com as fontes. O conceito de assessoria de imprensa está relacionado a dois aspectos: “... a necessidade de divulgar opiniões e realizações de um indivíduo ou grupo de pessoas e a existência das instituições conhecidas como meios de comunicação de massa” (KOPPLIN, 2009, p. 21).

Para aprimorar o fluxo de informações entre elas e esses públicos, as organizações utilizam os serviços de uma assessoria de comunicação, que podem ser realizados por um departamento interno, “... contratados com terceiros (empresas prestadoras de serviços ou profissionais autônomos) ou, resultantes de uma modalidade mista, combinado as duas anteriores” (KOPPLIN, 2009, p. 11).

Segundo a Federação Nacional dos Jornalistas Profissionais (2007), a função do assessor de imprensa é “facilitar a relação entre seu cliente – empresa, pessoa física, entidades e instituições – e os formadores de opinião”, cabendo a esse profissional orientar o assessorado quanto ao que pode ou não interessar aos veículos de comunicação e, portanto, vir a ser notícia.

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Ao longo dos anos, com a evolução da atividade e a ampliação das demandas de comunicação por parte daqueles que contratam seus serviços, diversas outras atividades foram sendo incorporadas ao dia a dia das assessorias. Conforme foi colocado por Kopplin (2009), o profissional da área tem que estar atento ao ambiente ao qual situa a empresa assessorada.

O relacionamento do assessor de imprensa com os veículos de comunicação consiste em abastecer a mídia com informações relativas do assessorado, por meio de releases, press

kits (conjunto informativo composto de textos, fotografias e outros materiais destinados à

divulgação de fato jornalístico), sugestões de pautas e outros elementos, atendendo às solicitações dos jornalistas de quaisquer órgãos de imprensa.

Realização de clipagem ou taxação, controlando e arquivando informações sobre o assessorado, divulgadas nos meios de comunicação, bem como a análise de dados externos, que possam interessar aos seus clientes, também são funções que competem ao assessor de imprensa. Além disso, deve haver a preocupação em organizar e atualizar constantemente os seus contatos, através de um mailing list. Manter organizada a relação de veículos de comunicação, com nomes de diretores, editores, pauteiros, repórteres, colunistas, produtores, apresentadores, bem como as formas de contato com eles (endereço, telefones, fax, e-mail, rede social e site), é algo imprescindível.

Outras funções do assessor são: a edição de house organs, periódicos destinados aos públicos externo e interno (boletins, revistas ou jornais), sejam eles impressos ou eletrônicos; a elaboração de diversos produtos jornalísticos, como fotografias, vídeos, programas de rádio ou televisão e material para divulgação no site da organização e produção de impressos variados, tais como folders, folhetos, manuais ou relatórios anuais, podendo facilitar a comunicação com determinados públicos.

Em muitas situações, o assessor de imprensa acaba assumindo outras funções. Em algumas organizações ele é o responsável pela redação de discursos de dirigentes. Isso ocorre, geralmente porque o jornalista é identificado, dentro da instituição como um profissional com grande domínio das técnicas de redação, podendo contribuir, com seus textos para uma melhor comunicação com o público.

O conceito de assessoria de imprensa está relacionado com a maneira que ela se especializa na aproximação dos clientes com os mais diversos meios de comunicação, podendo agir, visando à grande imprensa, identificando espaços e explorando-os jornalisticamente, realizando contatos, divulgando opiniões e fatos de interesse do assessorado, informando seus públicos e atraindo sua visibilidade.

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Vale ressaltar que o responsável pela assessoria de imprensa merece total respeito e consideração por parte de seu assessorado. Ele é um profissional especializado na área e, portanto, o mais apto para cuidar da comunicação organizacional no que se refere às práticas jornalísticas. “O relacionamento entre o assessor e assessorado deve estabelecer-se num nível extremamente profissional, com respeito à capacidade e às áreas de domínio de cada um” (KOPLLIN, 2009, p. 63).

2.2 A assessoria de imprensa no futebol

No futebol, a assessoria não poderia ter um papel diferente em fazer a ponte entre o jornalista e o seu assessorado, seja uma equipe ou um atleta. Segundo a autora Patrícia Rangel, o assessor:

Precisa conhecer muito bem o dia-a-dia do time que o contratou e manter o contato diário com o diretor do clube para que nenhum fato passe despercebido. Tudo que for de interesse do público, do torcedor, será de interesse também da imprensa (RANGEL, 2006, p. 90).

O assessor deve encaminhar às redações todas as informações. Em um início de campeonato, ele envia a todos os veículos de seu mailing a história do clube na competição; estatísticas como resultados; vitórias; gols marcados e sofridos; renda e cartões; ficha completa de todos os jogadores; novos contratados; nome e cargo dos dirigentes do clube, dos integrantes da comissão técnica e também seus telefones de contato.

De acordo com Rangel (2006), esse profissional deve manter um arquivo com dados históricos do clube, estatísticas dos jogos do time, participação em campeonatos, históricos dos atletas e cadastro dos veículos de comunicação.

O anúncio de grandes acontecimentos da agremiação, como a apresentação de um novo jogador, deverá ser feito em uma coletiva de imprensa organizada pelo assessor. Para esses eventos, o assessor prepara press realeses aos jornalistas, contendo as informações necessárias. É muito importante que o local tenha o tamanho adequado para que os profissionais de comunicação possam trabalhar sem aglomerações, evitando dificuldades na hora de buscar a informação. Existem alguns maus assessores que protegem tanto seus clubes

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da imprensa que acabam até amontoando os repórteres em uma área afastada do campo em que o time treina.

Além dos cuidados no tratamento com a imprensa, o assessor deve investir também em um relacionamento cordial:

Atualmente em alguns clubes os assessores de imprensa têm tanto ou mais poder que alguns membros da diretoria. Mas infelizmente alguns profissionais não sabem como lidar com esse poder e acabam fazendo imensas lambanças. Dignidade, educação e competência são palavras fundamentais para esse profissional da comunicação (RANGEL, 2006, p. 91).

Alguns assessores de grandes clubes de futebol adotam posturas tão agressivas e pouco profissionais em relação aos colegas de imprensa que, até certo ponto, cria-se uma grande dificuldade em conseguir a informação. Esses profissionais esquecem que são jornalistas e acabam atrapalhando a mídia e, indiretamente, o seu assessorado.

Algumas vezes, muitos profissionais ultrapassam os seus limites e confundem bom relacionamento profissional com amizade “... assessorar um jogador não quer dizer bajular” (RANGEL, 2006, p. 91).

Portanto, a rotina de um bom assessor de imprensa no futebol consiste em informar a imprensa sobre horários de treinos e jogos, organizar e coordenar entrevistas especiais com jogadores, preparar adequadamente a sala de imprensa do clube e procurar atender às solicitações dos profissionais, sem privilegiar nenhum veículo de comunicação. Enfim, facilitar o trabalho de jornalistas interessados nos clubes e em seus respectivos atletas.

2.3 O relacionamento do jogador com a mídia

Tratando-se de futebol, jogador e mídia, todos procuram estabelecer um relacionamento benéfico para o atendimento dos objetivos organizacionais, sendo simultaneamente responsáveis pela produção do espetáculo esportivo, cujos objetivos atendem aos seus interesses.

O autor Mauro Betti (1998), em “A Janela de Vidro”, explica que a mídia atua na concepção e no fenômeno da visão do esporte, que é passada às sociedades, não somente como espetáculo, mas, sobretudo como possibilidade de ascensão sócio-econômica. Assim,

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ela opera de forma decisiva e importante como as principais fontes de produção, reprodução e transmissão de formas simbólicas, além da construção de sentidos no mundo de hoje.

Para os atletas, o papel da mídia é fundamental. Graças a ela, eles podem conseguir grandes patrocínios e até mesmo grandes contratos com clubes de amplo poder econômico. Ser destaque em matérias jornalísticas rende: dinheiro, fama e status. Também para os veículos de comunicação, o sucesso dos jogadores é importante, pois, se eles são ídolos, seus fãs irão consumir notícias para ficar sabendo de tudo o que acontece com eles.

Hoje em dia, já é comum a transformação de pessoas públicas em mitos através da mídia, pessoas consideradas pela imprensa como possíveis celebridades, seja por meios de fotos, matérias em jornais e revistas, ou de entrevistas em programas de TV e rádio.

As celebridades esportivas têm sua vida exposta, tornando-se assim mais famosas e reconhecidas pelo público. Isto ocorre porque as pessoas estão muito suscetíveis a terem ídolos, figuras que façam o que elas julgam incapazes de fazer.

Esses ídolos, os quais chamamos de olimpianos, são modificados pelos meios de comunicação e acabam, se tornando modelos de cultura no sentido etnográfico do termo, Isto é, modelos de vida. São heróis modelos. Encarnam os mitos de auto-realização da vida privada. São admirados por todas as pessoas e possuem uma empatia muito grande com o público (MORIN, 2005, p. 107).

A mídia precisa dos mitos tanto quanto os candidatos a mitos precisam da mídia. Essa é uma troca valorosa para ambas as partes. Quando se tem manchete, vende-se mais, e quanto mais aparece na mídia, mais famosa a celebridade fica.

Nessa mitificação, os jogadores de futebol são, sem dúvida, personagens ativos e, cada vez mais, anônimos viram celebridades da noite para o dia, passando a serem vistos como pessoas extraordinárias, capazes de fazer coisas que ninguém mais fará.

O ídolo precisa ter habilidades diferenciadas, ser capaz de fazer coisas que os demais jogadores de futebol não fazem. O mesmo, quando ser torna diferente dos outros atletas, acaba chamando mais atenção da mídia.

No país como o Brasil, onde existem milhares de jogadores e a paixão pelo futebol é imensa, ser um destaque é uma tarefa complicada. Pode-se dizer que a relação do jogador com a mídia é um casamento com bons e maus momentos. Os positivos são aqueles em que o jogador está com a sua imagem em perfeitas condições, vive um bom momento no futebol, quando seu rosto está estampado nas revistas, jornais, comerciais publicitários e, principalmente, quando estão bem financeiramente. Já os negativos, ocorrem quando o jogador está em má fase, envolve-se em confusões, as notícias sobre seus relacionamentos

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pessoais e profissionais escapam, criando assim um ambiente totalmente desfavorável para conseguir emplacar algum tipo de acordo comercial ou publicitário.

O profissional de assessoria de imprensa é responsável por construir e manter a boa imagem do jogador de futebol. Cabe ao assessor cuidar sempre de seu cliente, buscando um ambiente favorável e confortável para transformar a atividade de divulgar notícias positivas sobre o mesmo em uma rotina. Assim, é importante que o assessor de imprensa esteja sempre atualizado e focado em alcançar seu público de forma prática e eficaz. Para isso, é essencial que ele saiba estrategicamente como construir, preservar e transformar a imagem do jogador de futebol.

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CAPÍTULO 3

ESTUDO DE CASO DO ATLETA JUNINHO PERNAMBUCANO

Os capítulos anteriores narram o surgimento do futebol no Brasil e a relação da assessoria de imprensa no meio esportivo. A maioria dos atletas possui uma equipe preparada para manter a sua imagem na mídia. É possível perceber grandes mudanças com o passar dos anos. Em algumas áreas, o esporte passou a ser mais profissional. Algumas situações ocorridas no século passado permanecem inalteradas. O país obteve um avanço econômico e encontra-se estável, mas continua a pecar em vários setores.

Em pesquisa da conceituada Pearson Internacional, a nação brasileira ocupa a antepenúltima posição em um índice comparativo de desempenho educacional feito com 40 países, ficando à frente, do México e da Indonésia, penúltimo e último lugar, respectivamente. Com isso, muitas famílias ainda vislumbram o futebol como porta de entrada para um futuro melhor. Os jogadores continuam a ser tratados como mercadorias e acreditam que para vencer na profissão, basta entrar em campo, fazer gols e pronto, todos os seus problemas estarão resolvidos.

O esporte evoluiu em vários segmentos. O atleta passou a ter um cuidado com a imagem que será transmitida ao seu público. Na construção de um ídolo, é necessário agregar vários fatores: o jogador deve ter uma vida regrada, preservar sua família, treinar, tratar bem os fãs, lidar com os momentos de pressão, jogar bem e conquistar títulos. O assessor de imprensa, por sua vez, deve orientar seu assessorado para que tenha essa noção de construir uma figura positiva ao seu receptor.

3.1 A construção de um ídolo

Qualquer menino brasileiro sonha em jogar futebol profissionalmente. Poucos conseguem realizar esse sonho. Uma parcela ínfima conquista o carinho de uma grande torcida, passa a ser reconhecido pelos seus feitos como homenagens entoadas em cada canto de milhões de apaixonados. Poucos ganham títulos em todos os clubes que defenderam, até chegarem ao ápice de um atleta profissional: seleção brasileira; ser campeão e participar de

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uma Copa do Mundo. Em 19 anos de carreira, o atleta Juninho Pernambuco conseguiu alcançar todos esses feitos.

Antônio Augusto Ribeiro Reis Júnior, mais conhecido como Juninho Pernambucano, nasceu na cidade de Olinda, carrega seu Estado no nome artístico. Filho de Maria Helena e Antônio, caçula de uma família de quatro irmãos e é o único filho homem do casal. Desde pequeno demonstrava vocação ao esporte bretão. Tinha uma ideia fixa de ser jogador profissional. Em seu condomínio ajudou a montar um time, o “Albatroz”. Os meninos conseguiram participar de diversos campeonatos, sendo o craque, um dos destaques. Apesar do talento visto nos jogos de futsal e, posteriormente, no campo, Juninho tinha dificuldades dentro da sala de aula. Notas baixas faziam parte do seu boletim, principalmente em Matemática. Não prestava tanta atenção nas aulas como nas quadras. Provavelmente, possuía algum tipo de déficit. Como todo jovem precoce, casou ainda adolescente, aos 16 anos. Da união com Renata, nasceram três meninas, Giovana, Maria Clara e Rafaela.

O meio-campista iniciou sua carreira nas divisões de base do clube Sport Recife, até chegar ao profissional, onde ficou por três anos. Logo suas atuações despertaram o interesse de outros clubes. Acabou acertando sua transferência para o Vasco da Gama, em 1995. O clube carioca estava atrás do atacante Leonardo e, por uma obra do destino, levou no pacote o meia para São Januário. Depois de passar por um difícil processo de adaptação, o jogador passou a ser uma das peças importantes da história recente do cruzmaltino.

O jogador participou de uma das mais vitoriosas gerações do Gigante da Colina. Conquistou diversos títulos importantes, escrevendo o seu nome na galeria de ídolos do Vasco. Mas Juninho queria mais. Alimentava o sonho de jogar na Europa. Seu contrato com o Vasco venceria no dia 20 de janeiro de 2001. Após mais um título, o então presidente Eurico Miranda forçou uma renovação automática de seu contrato.

Contrariado, o atleta foi o primeiro a entrar na justiça, após o fim da Lei do Passe. Esse imbróglio judicial durou seis meses. Com isso, Juninho perdeu espaço na seleção que viria ser campeã do mundo. Em entrevista ao Jornal Estadão, o jogador mantinha uma posição firme na época: “Temos de brigar por nossos direitos e não temos de temer nenhum tipo de represália” (JUNINHO PERNAMBUCANO, 2001). Esse ato foi de suma importância para o futebol brasileiro, já que demonstrou aos demais que era possível lutarem pelos seus direitos, podendo escolher onde gostariam de trabalhar, direito estabelecido em nossa Constituição.

Pessoas visionárias possuem o dom de renovar as coisas. Atitude simular ocorreu dentro do judô nacional. Depois das Olimpíadas de Seul, os judocas brasileiros participaram de um movimento para derrubar do poder a família Mamede, que comandava a Confederação

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Brasileira de Judô, por mais de 20 anos. O estopim para este ato foi o corte, em torneios futuros, de Aurélio Miguel, medalhista de ouro naquela competição. Mesmo sabendo que isso poderia refletir em suas carreiras, tiveram coragem e, depois de muito lutar, os Mamedes saíram da presidência da entidade. Talvez Juninho não saiba dessa história. As semelhanças mostram que atos de coragem e uma visão abrangente podem trazer benefícios à sociedade. O inconformismo com as injustiças trazem mudanças positivas à vida.

Terminado o imbróglio judicial, envolvendo atleta e seu ex-clube, Juninho acertou sua transferência para o clube francês Olympique Lyonnais, popularmente chamado de Lyon. Em diversas entrevistas, reconhece que na França viveu o seu auge técnico como jogador. Liderou uma equipe modesta para os padrões europeus, conseguindo, um feito difícil de ser batido por qualquer clube do mundo: ser heptacampeão nacional consecutivamente. Apesar da idolatria da torcida, o atleta era constantemente perseguido pelos jornalistas parisienses. Depois de não conseguir o octacampeonato, decidiu respirar novos ares e partiu para o Qatar.

No mundo árabe, defendeu o Al-Gharafa, do Qatar, onde colecionou mais títulos em sua carreira. Passados dois anos, volta ao Vasco, assinando um contrato de seis meses, com um diferencial, receberia um salário mínimo. Juninho tinha receio de não render o esperado. Pretendia com isso preservar a instituição de arcar com uma alta remuneração, no caso de não render o esperado. Estabeleceu algumas cláusulas contratuais, caso tudo corresse da melhor forma possível. Assim, ficava resguardado e com a consciência tranquila.

A chegada do ídolo cruzmaltino coincidiu com a inédita conquista da Copa do Brasil. Uma recepção de gala foi feita em São Januário, com quase 18 mil torcedores presentes, que cantaram em sua homenagem. A emoção em seu rosto era visível. O craque respondeu dentro de campo. Trouxe resultados e o time chegou ao vice-campeonato brasileiro de 2011. No ano seguinte, o Vasco da Gama repetiu a boa temporada, porém, não conquistou títulos. Acostumado a erguer troféus, esse foi um ano raro em sua carreira, no qual não teve o gosto de soltar o grito “é campeão”.

3.2 Lapidando o caráter

Juninho alcançou voos em sua carreira que muitos atletas não conseguiram. No Lyon e no retorno ao Vasco, passou de coadjuvante a estrela. Não teria conseguido conquistar tantos títulos sem possuir uma boa equipe ao seu lado. Os grandes astros aparecem nos momentos

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decisivos, mas sem uma base sólida para auxiliá-los, é impossível qualquer um chegar a este patamar. Esse pensamento é compartilhado pelo ex-prefeito de Nova Iorque, Rudolph Giuliani. Através das suas experiências políticas, o norte-americano relata a importância desse suporte:

Por exemplo, o conceito de trabalho em equipe e o equilíbrio dele resultante sempre estiveram comigo como procurador dos Estados Unidos, durante minhas campanhas políticas e, depois, como prefeito. As equipes esportivas bem-sucedidas nunca dependem de uma única pessoa. Até mesmo estrelas da magnitude de Michael Jordan ou Babe Ruth precisam de poderosos elencos de apoio (GIULIANI, 2002, p. 102).

O político estadunidense procura valorizar o trabalho em equipe. Relembra dois jogadores americanos considerados os melhores em cada esporte representado, Michael Jordan no basquete e Babe Ruth no beisebol. Uma expressão utilizada no Brasil corrobora essa afirmação “ninguém conquista nada sozinho” (grifo meu). Todo grande profissional possui uma junção de talentos próximos para que ele possa aparecer. Juninho soube explorar seu talento. Aprendeu com os mais experientes, soube ouvir e sempre esteve cercado de jogadores talentosos. Fora de campo, procura estar cercado de pessoas com diferentes formações, auxiliando sua carreira. Todas essas atribuições contribuem para seu desenvolvimento profissional. Sua personalidade vencedora atrelada ao grupo de apoio ratifica essa afirmação.

A firmeza emocional vem do descobrir-se a si próprio e do autodomínio. É a base das habilidades das pessoas. Bons líderes aprendem quais os seus pontos fortes e fracos específicos, principalmente no que diz respeito a lidar com as pessoas. Então, melhoram ainda mais os pontos fortes e corrigem os fracos. Conseguem sua liderança quando seus seguidores vêem sua força e sua confiança interiores e a habilidade em ajudar os membros da equipe a produzir resultados ao mesmo tempo em que ampliam suas próprias habilidades (BOSSIDY; CHARAN, 2004, p. 83).

Os autores Larry Bossidy e Ram Charam (2004) trazem uma reflexão interessante. Um grande líder precisa saber controlar seus impulsos, pois o ser humano tende a evoluir com o passar dos anos. Muitos não conseguem chegar ao autocontrole. Nos momentos de pressão, sucumbem, entregam os pontos, não conseguindo ter essa capacidade de discernimento em momentos críticos, influenciando negativamente seu ambiente de trabalho. Esse comportamento torna insustentável o convívio, já que seus subordinados passam a desconfiar da capacidade de quem está no comando. Quando há jovens na equipe, gera-se uma

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insegurança maior. São iniciantes em uma profissão, assustados com um cenário desconhecido. Sem essa referência tendem à inibição e deixam de evoluir seu potencial.

No meio esportivo, cada vez mais, os adolescentes chegam à fama, principalmente no futebol. Com isso, surgem amizades falsas, mulheres, festas, dinheiro. Todo jovem está numa fase de transição à maturidade. Um atleta profissional precisa entender quais são os riscos que uma vida desregrada pode acarretar em sua carreira. Muitos não conseguem despertar a tempo. Perdem tudo. Os clubes preocupados com suas joias buscam atletas experientes que possam servir de referência e nortear o caminho dos mais novos.

O Clube de Regatas Vasco da Gama tentou repatriar Juninho diversas vezes. Na época, o então presidente do clube, Roberto Dinamite, apresentou por repetidas vezes o projeto, querendo contar com o retorno do ídolo. Quando acertou sua volta, o jogador tinha vontade de ser o capitão da equipe, pois acreditava que seria de grande ajuda. No entanto, respeitou os atletas mais antigos do elenco e que alternavam essa responsabilidade na época: O goleiro Fernando Prass e o meia Felipe.

Essa troca de valores, envolvendo um jogador vitorioso com os mais inexperientes, é de extrema importância para o desenvolvimento profissional. Um jovem está mais propenso a cometer deslizes, natural da idade, então deve receber uma atenção especial.

Na época, o Vasco tinha na figura de seu presidente, seu maior ídolo da história, que construiu uma carreira vitoriosa como jogador e conseguiu conquistar como mandatário do clube, um título nacional, a Copa do Brasil de 2011. Entretanto, notou-se a necessidade de ter vozes ativas e diferentes estilos de liderança dentro do vestiário.

Pude observar que a principal lição de sabedoria que uma pessoa pode dar não está na forma como ela fala, mas na maneira como escuta o que os outros dizem. Um processo de busca do autoconhecimento e da construção de uma autoestima diferente daquela que experimentei quando me tornei bom de briga. Pude notar, por exemplo, que a simples decisão de passar a cumprimentar pessoas cuja presença eu não notava nos corredores da empresa tornou meus dias mais tranqüilos (DINIZ, 2004, p. 43).

O empresário Abílio Diniz, em sua autobiografia, procura mostrar através de suas experiências de vida, como conseguiu conquistar o sucesso, tornando-se um dos homens mais ricos do mundo. No cotidiano, há cobrança, agitação e, muitas vezes, as pessoas esquecem de ouvir. Sabendo escutar diversas opiniões, o ouvinte fica abastecido de informações, chegando a uma conclusão mais objetiva. Um dos segredos para chegar a um patamar mais elevado é prestar atenção aos detalhes, já que pode ser este o diferencial para uma carreira vitoriosa.

Referências

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