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CAPÍTULO 3 –ESTUDO DE CASO DO ATLETA JUNINHO PERNAMBUCANO

3.2 Lapidando o caráter

Juninho alcançou voos em sua carreira que muitos atletas não conseguiram. No Lyon e no retorno ao Vasco, passou de coadjuvante a estrela. Não teria conseguido conquistar tantos títulos sem possuir uma boa equipe ao seu lado. Os grandes astros aparecem nos momentos

decisivos, mas sem uma base sólida para auxiliá-los, é impossível qualquer um chegar a este patamar. Esse pensamento é compartilhado pelo ex-prefeito de Nova Iorque, Rudolph Giuliani. Através das suas experiências políticas, o norte-americano relata a importância desse suporte:

Por exemplo, o conceito de trabalho em equipe e o equilíbrio dele resultante sempre estiveram comigo como procurador dos Estados Unidos, durante minhas campanhas políticas e, depois, como prefeito. As equipes esportivas bem-sucedidas nunca dependem de uma única pessoa. Até mesmo estrelas da magnitude de Michael Jordan ou Babe Ruth precisam de poderosos elencos de apoio (GIULIANI, 2002, p. 102).

O político estadunidense procura valorizar o trabalho em equipe. Relembra dois jogadores americanos considerados os melhores em cada esporte representado, Michael Jordan no basquete e Babe Ruth no beisebol. Uma expressão utilizada no Brasil corrobora essa afirmação “ninguém conquista nada sozinho” (grifo meu). Todo grande profissional possui uma junção de talentos próximos para que ele possa aparecer. Juninho soube explorar seu talento. Aprendeu com os mais experientes, soube ouvir e sempre esteve cercado de jogadores talentosos. Fora de campo, procura estar cercado de pessoas com diferentes formações, auxiliando sua carreira. Todas essas atribuições contribuem para seu desenvolvimento profissional. Sua personalidade vencedora atrelada ao grupo de apoio ratifica essa afirmação.

A firmeza emocional vem do descobrir-se a si próprio e do autodomínio. É a base das habilidades das pessoas. Bons líderes aprendem quais os seus pontos fortes e fracos específicos, principalmente no que diz respeito a lidar com as pessoas. Então, melhoram ainda mais os pontos fortes e corrigem os fracos. Conseguem sua liderança quando seus seguidores vêem sua força e sua confiança interiores e a habilidade em ajudar os membros da equipe a produzir resultados ao mesmo tempo em que ampliam suas próprias habilidades (BOSSIDY; CHARAN, 2004, p. 83).

Os autores Larry Bossidy e Ram Charam (2004) trazem uma reflexão interessante. Um grande líder precisa saber controlar seus impulsos, pois o ser humano tende a evoluir com o passar dos anos. Muitos não conseguem chegar ao autocontrole. Nos momentos de pressão, sucumbem, entregam os pontos, não conseguindo ter essa capacidade de discernimento em momentos críticos, influenciando negativamente seu ambiente de trabalho. Esse comportamento torna insustentável o convívio, já que seus subordinados passam a desconfiar da capacidade de quem está no comando. Quando há jovens na equipe, gera-se uma

insegurança maior. São iniciantes em uma profissão, assustados com um cenário desconhecido. Sem essa referência tendem à inibição e deixam de evoluir seu potencial.

No meio esportivo, cada vez mais, os adolescentes chegam à fama, principalmente no futebol. Com isso, surgem amizades falsas, mulheres, festas, dinheiro. Todo jovem está numa fase de transição à maturidade. Um atleta profissional precisa entender quais são os riscos que uma vida desregrada pode acarretar em sua carreira. Muitos não conseguem despertar a tempo. Perdem tudo. Os clubes preocupados com suas joias buscam atletas experientes que possam servir de referência e nortear o caminho dos mais novos.

O Clube de Regatas Vasco da Gama tentou repatriar Juninho diversas vezes. Na época, o então presidente do clube, Roberto Dinamite, apresentou por repetidas vezes o projeto, querendo contar com o retorno do ídolo. Quando acertou sua volta, o jogador tinha vontade de ser o capitão da equipe, pois acreditava que seria de grande ajuda. No entanto, respeitou os atletas mais antigos do elenco e que alternavam essa responsabilidade na época: O goleiro Fernando Prass e o meia Felipe.

Essa troca de valores, envolvendo um jogador vitorioso com os mais inexperientes, é de extrema importância para o desenvolvimento profissional. Um jovem está mais propenso a cometer deslizes, natural da idade, então deve receber uma atenção especial.

Na época, o Vasco tinha na figura de seu presidente, seu maior ídolo da história, que construiu uma carreira vitoriosa como jogador e conseguiu conquistar como mandatário do clube, um título nacional, a Copa do Brasil de 2011. Entretanto, notou-se a necessidade de ter vozes ativas e diferentes estilos de liderança dentro do vestiário.

Pude observar que a principal lição de sabedoria que uma pessoa pode dar não está na forma como ela fala, mas na maneira como escuta o que os outros dizem. Um processo de busca do autoconhecimento e da construção de uma autoestima diferente daquela que experimentei quando me tornei bom de briga. Pude notar, por exemplo, que a simples decisão de passar a cumprimentar pessoas cuja presença eu não notava nos corredores da empresa tornou meus dias mais tranqüilos (DINIZ, 2004, p. 43).

O empresário Abílio Diniz, em sua autobiografia, procura mostrar através de suas experiências de vida, como conseguiu conquistar o sucesso, tornando-se um dos homens mais ricos do mundo. No cotidiano, há cobrança, agitação e, muitas vezes, as pessoas esquecem de ouvir. Sabendo escutar diversas opiniões, o ouvinte fica abastecido de informações, chegando a uma conclusão mais objetiva. Um dos segredos para chegar a um patamar mais elevado é prestar atenção aos detalhes, já que pode ser este o diferencial para uma carreira vitoriosa.

Quando relata em sua autobiografia que um simples cumprimento traz um bem para o espírito, o empresário pode ter esquecido, em algum momento, qual importância um ato tão simples pode influenciar no cotidiano, dentro do ambiente de trabalho. Percebeu que todos que o cercam são importantes dentro do organograma da empresa, seja qual for sua função, merecendo respeito. Tratar todos da mesma maneira é sinal de amadurecimento, educação e humildade.

Ao retornar ao Vasco, Juninho Pernambucano participou de diversas entrevistas. Uma emblemática foi realizada no programa Jogo Aberto Rio, da TV Bandeirantes, exibido no dia 1° de julho de 2011. O apresentador José Carlos Araújo, conhecido como Garotinho, convidou o repórter esportivo Sandro Gama a entrar no estúdio e prestar um depoimento emocionado:

Vim do Espírito Santo. Não tinha lugar para ficar. Morei na rua. Fui em São Januário, perto de onde ficava. Fui com um gravador fingindo ser repórter. Nem na faculdade tinha começado. Avistei um repórter da Rádio Globo, fiquei encantado. Perguntei a um outro jornalista se aquele sujeito era mesmo da Rádio Globo. Com a confirmação, expressei minha vontade de trabalhar naquele veículo. O jornalista disse que lá era uma panela e gritou aos demais companheiros sobre minha pretensão. Todos riram e debocharam do meu sonho. Na hora, tive vontade de desistir. Estava longe da família há um mês e não queria ser mais humilhado daquela forma. Com a cabeça baixa, senti uma mão no meu ombro e logo veio uma voz: ‘eu vi o que o rapaz fez. Você vai conseguir trabalhar na Rádio Globo’. Essa pessoa era o Juninho. Oito meses depois iniciei na Rádio Globo (GAMA, 2011).

Esse fato ocorreu em 1996, Juninho Pernambucano e Sandro Gama estavam iniciando suas carreiras. O jogador, que ainda tentava se firmar no Vasco como titular, e o então futuro jornalista não podiam imaginar quais caminhos suas carreiras seguiriam. A palavra tem uma força tanto positiva quanto negativa. Deve-se ter uma cautela ao expressar suas opiniões. O atleta teve o cuidado de encorajar um jovem como ele, que queria vencer na vida. Essa preocupação com o ser humano vira um diferencial no trato com as pessoas. Aquelas palavras mexeram de tal forma com Sandro, que ele insistiu, acreditou e conseguiu provar aos demais jornalistas que era possível ingressar na Rádio Globo, sem participar da tal panela.

Os depoimentos apresentados provam que devemos ter cuidado com nossas palavras. Uma vírgula mal posicionada na frase muda completamente o sentido da mesma, deixando o receptor desconfortável com essa situação. Todo indivíduo merece ser tratado com respeito. Juninho poderia ter virado as costas e não se importar com o fato presenciado, mas preferiu incentivar um desconhecido com esse gesto, e ganhou um fã. Poucos possuem essa percepção. Desde pequeno, Juninho já apresentava um caráter forte, buscando sempre encorajar e orientar todos ao seu redor. A família do jogador foi muito importante na sua formação. Com

o apoio de uma estrutura sólida e de uma boa educação, conseguiu manter os seus pés no chão.

O relato de Sandro Gama mostra como a imprensa pode ser cruel. Se não tivesse uma palavra de conforto, uma vontade de superar as dificuldades e vencer na vida, poderia ter frustrado seus sonhos. Em qualquer área, temos bons e maus jornalistas. Por serem formadores de opiniões, devem ter cuidado redobrado nas suas apurações. Muitos costumam fazer críticas severas. Muitos jogadores temem conversar com repórteres, outros encaram com naturalidade. Como dito no capítulo anterior, o assessor de imprensa orienta seu assessorado para que possa agir com naturalidade ao ser questionado pelos mais variados assuntos.

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