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UniAGES Centro Universitário Bacharelado em Enfermagem. FÉ E SAÚDE MENTAL: Geradores mútuos da qualidade de vida na longevidade

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Academic year: 2021

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UniAGES

Centro Universitário

Bacharelado em Enfermagem

AMENAIDE DE SÃO PAULO NASCIMENTO

FÉ E SAÚDE MENTAL:

Geradores mútuos da qualidade de vida na longevidade

Paripiranga

2021

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AMENAIDE DE SÃO PAULO NASCIMENTO

FÉ E SAÚDE MENTAL:

Geradores mútuos da qualidade de vida na longevidade

Monografia apresentada no curso de graduação do Centro Universitário AGES como um dos pré-requisitos para obtenção do título de bacharel em Enfermagem.

Orientador: Prof. Me. Fabio Luiz Oliveira de Carvalho

Paripiranga

2021

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AMENAIDE DE SÃO PAULO NASCIMENTO

FÉ E SAÚDE MENTAL:

Geradores mútuos da qualidade de vida na longevidade

Monografia apresentada como exigência parcial para obtenção do título de bacharel em Enfermagem à comissão julgadora designada pelo colegiado do curso de graduação do Centro Universitário AGES.

Orientador: Prof. Me. Fabio Luiz Oliveira de Carvalho Paripiranga, 06 de Julho de 2021.

BANCA EXAMINADORA

Prof. Fabio Luiz Oliveira de Carvalho UniAGES

Prof. Dalmo de Mouro Costa UniAGES

Prof. Igor Macedo Brandão UniAGES

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Dedico este trabalho a Deus por toda força e inspiração. Aos meus pais, Edmilson e Amenaide, por cada esforço, sacrifício e dedicação desde

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AGRADECIMENTOS

Falar do quanto sou grata a Deus por ter concluído mais um ciclo, nunca será o suficiente. Deus, meu Pai, foi, tem sido e é um alicerce, refúgio, fortaleza, alegria, descanso, ânimo, sabedoria e esperança. Ele sempre esteve no controle, Ele sempre coopera para meu bem, e é Ele quem me diz: tudo você pode!

Todas as pessoas que passam por nossas vidas detalham em nós ao menos uma singela pincelada. A começar pela minha família: Edmilson, Amenaide, Maiara, Amannda e Ezequiel; vocês não fizeram parte apenas de cinco anos, mas de toda a minha existência. Vocês andaram comigo pelos caminhos bons e maus, me ensinaram que sempre posso crescer mais, confiaram em mim, me motivaram, me ensinaram a nunca desistir, ou a saber desistir na hora certa. Vocês são um tesouro inestimável.

Agradeço a você, papai, por todo cuidado (mesmo às vezes enciumado) que tem comigo. Agradeço por se preocupar com meu dia, por pensar em mim, trabalhar para ver meu crescimento, me incentivar a crescer e mostrar que eu sempre poderei ir mais longe. Obrigada por acordar cedinho sempre que necessário, me levar ao ponto de ônibus, me dar um beijo e me abençoar e, quando tinha mais tempo, ir à padaria e tentar preparar meu café; por acordar no meio da noite para me pegar no ponto de ônibus, no frio ou no calor, e voltar para casa ouvindo cada história do meu dia/semana, sem nunca medir esforços. Sem o senhor isso seria mil milhões de vezes mais difícil. Eu te amo, papai!

Agradeço a você, mamãe, por sempre ser sábia, me orientando e orando por mim, sempre acreditando em quem sou e confiando em mim. Sempre preocupada com meu dia, trabalhando por mim, ajudando meu crescimento, sem nunca duvidar que eu posso ir muito mais longe, sempre. Os melhores conselhos são os seus, e mais hilários também: “Você está cansada hoje minha filha, não vá para a aula”, – e realmente, às vezes, esse poderia ser o melhor conselho. Obrigada por se preocupar com o que vou comer, por facilitar ao máximo meu dia, e por deixar eu me virar sozinha sempre que percebia ser necessário (isso me fez crescer), obrigada pelas idas a Paris/Aracaju só para me fazer companhia. Obrigada por todas as noites que ficou acordada me esperando chegar. Sem você isso seria mil milhões de vezes mais difícil. Eu te amo, mamãe!

Agradeço a vocês, meus irmãos, por passarem por tudo comigo. Por testarem minha paciência e serem testados também. Por fazerem a minha vida mais divertida, calma e, ao mesmo

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tempo, frenética. Obrigada pelo orgulho que não escondem ter de mim, e tenho tanto de vocês. E, é claro, obrigada por cada cafuné, cada coçada nas costas, cada massagem nos pés, cada cama arrumada para quando eu chegasse da faculdade, e até mesmo os ciúmes por “x é o preferido”. Vocês fazem da minha vida um oásis. Agradeço a Deus por ter vocês. Eu amo vocês!

Agradeço ao meu namorado, Gilvan, por toda ajuda que és. Sua companhia, seu carinho, seu cuidado, sua atenção, sua preocupação, seu amor dão ânimo. Obrigada por ser ajuda durante a agitada e desconhecida vida de estágio, TCC e trabalhos. Obrigada por me levar aos hospitais sempre que podia, por correr até Socorro quando eu me atrasei, por lavar a louça para me ajudar, por confiar em mim e acreditar em quem sou. Obrigada por ajudar com esse trabalho, meu humilde, lindo e inteligente corretor. Eu te amo, menino! Obrigada também a minha sogra, Dona Christiane, por sempre perguntar por mim e se preocupar comigo, obrigada pelas comidas gostosas e pelas orações que eu sei que a senhora fez por mim.

Agradeço pela alegria em me ver crescer e pela ajuda do pastor Heráclito e Anaelza, Geni e Joelma, pastor Gilson e Vanete. Aos meus tios que sempre mostraram orgulho e confiança em mim, especialmente, Cacilda e Aristóteles. Vovó Maria, a melhor vó que esse mundo já viu, obrigada por tudo; e ao meu inteligente vovô Arivaldo. Rennan e Samara, vocês são um presente que recebi de Deus, foram indispensáveis para a minha formação, vocês são incríveis; Clécia, Edeildes e Andrea, obrigada pelo afago; João Marcos, parceiro de trabalhos; pela companhia de Rose, Luiz, Palloma, Equipe show (Allana, Jaciele, Adelson e Cris), e a minha turma pequenina e brigona.

Por fim, agradeço ao UniAGES por possibilitar o processo de aprender e ter maior conhecimento quanto à Enfermagem. Não poderia ser Enfermeira sem a contribuição dos meus professores: Ana Paula, Grace Kelly, Fabiana Lopes, Daniel Queissada, Camilo Antônio, Fábio Luiz (meu orientador) e Wendel Fren, obrigada pelo aprendizado e confiança como monitora desde o meu primeiro período, pude aprender demais com isso; Judson Wallace, Evandro Henrique, Estela Nascimento, Kelly Albuquerque, Mayara Nascimento, Humberto, Wellington e Franciele Fraga, vocês são inspiração; Alessandra, você é um exemplo incrível de profissional; Ana Karla e Cristiano Santiago, vocês que, mesmo atarefados, me orientaram e me motivaram na construção desse trabalho, sempre atenciosos e sensacionais. Obrigada!

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Façam tudo com amor.

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RESUMO

Pirâmides etárias de países desenvolvidos e em desenvolvimento mostram como a população mundial tem vivido mais, e chegar à terceira idade tem sido mais comum do que outrora. Assim, é importante perceber como a espiritualidade associada à saúde mental são bases geradoras da longevidade. Dentro dessa perspectiva, é pertinente investigar a saúde biopsicossocioespiritual desses indivíduos, a fim de compreender a sua singularidade e seus desdobramentos nos aspectos convergentes: bem-estar e expectativa de vida. A pesquisa tem como objetivo geral compreender os impactos da fé e da saúde mental para a melhoria da qualidade de vida da pessoa idosa, e como objetivos específicos: entender a anatomofisiologia do sistema nervoso central, a fim de coadunar o mecanismo biológico à saúde mental e prática espiritual; identificar e levantar dados que dialoguem como a influência da fé circunda o âmago da saúde mental, corroborando para o fortalecimento de uma vida saudável na terceira idade; associar fé e saúde mental a práticas que auxiliem na longevidade e promoção à saúde na gerontologia; e incluir a equipe multiprofissional, com foco no profissional de enfermagem, para a implementação de cuidados que impulsionem a prevenção, adaptação e reconstrução da saúde dos idosos. Portanto, o presente trabalho trata-se de uma revisão integrativa, e para a realização deste estudo foram utilizadas as seguintes abordagens: “fé e saúde mental”; “espiritualidade na terceira idade”; “envelhecimento cerebral”; “espiritualidade e sistema nervoso central”. A pesquisa que culmina na presente monografia fora realizada entre os meses de fevereiro a junho de 2021 de maneira sistemática, conforme as normas de pesquisa científica acadêmica. Foram utilizados estudos entre os anos de 2016-2021 como subsídios prioritários, além de exceções de anos anteriores, com busca através das bases de dados: LILACS, MEDLINE/PubMed, SciELO e Google Acadêmico, bem como, livros que permanecem relevantes e meritosos para a pesquisa científica na área da saúde, sendo inclusos ainda, decretos, portarias e leis correlacionadas. Os resultados evidenciam que a saúde mental entra em declínio devido ao processo de envelhecimento (seja por senescência ou senilidade), porém, é possível minimizar os impactos e promover a resiliência e até mesmo a restauração da saúde na terceira idade. Grande parte dos idosos mostra ter fé/espiritualidade em alguma filosofia ou crença, e estas se revelam como fatores importantes para o equilíbrio dos impulsos nervosos, e consequentemente, da saúde mental e disponibilidade para enfrentar a nova fase da vida. Ante a pandemia do novo coronavírus, buscam-se novas alternativas para a promoção da saúde dos idosos, sendo inseridas a teleconsulta e telecomunicação como ferramentas auxiliadoras nas práticas terapêuticas capazes de reduzir o estresse, ansiedade e depressão, e nos demais cuidados diários da saúde. Este trabalho vislumbra um papel multiprofissional que deve ser articulado pela rede de atenção à saúde e conclui que o enfermeiro é um profissional facilitador imprescindível aos cuidados sistematizados da saúde, de maneira a entender particularidades e integrar os envolvidos a novas propostas de vida salutar, incluindo cuidados alternativos e valorização individual de conceitos e crenças.

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RESUMEN

Las pirámides demográficas en países desarrollados y en vías de desarrollo han mostrado como la población mundial tiene una mayor expectativa de vida, y llegar a la tercera edad se ha hecho una realidad más común. Por lo tanto es importante notar como la espiritualidad asociada a la salud es una base generadora de longevidad. Según dicha circunstancia, es importante investigar la salud biopsicosocioespiritual de los individuos, con el fin de comprender la singularidad aplicada a la salud, con la premisa del bienestar, vislumbrando la longevidad asociada a la calidad de vida. La presente investigación tiene como objetivo general comprender como la fe y la salud mental contribuyen para mejorar la calidad de vida del adulto mayor, y como objetivos específicos: entender la anatomofisiología del sistema nervioso central, a fin de incluir su asociación con la salud mental y práctica espiritual; identificar y recolectar datos que discutan como la influencia de la fe en la salud mental auxilian en la mejoría de la calidad de vida del adulto mayor; asociar fe y salud mental a prácticas que ayuden en la longevidad y promoción de la salud asociada al adulto mayor, e incluir un equipo multidisciplinario, con énfasis en el profesional de enfermería, para la implementación de los cuidados. Por lo tanto, el presente trabajo trata de una revisión integradora, y para su realización han sido utilizados los siguientes descriptores: “fe y salud mental”; “espiritualidad en la tercera edad”; “envejecimiento cerebral”; “espiritualidad y sistema nervioso central”. Esta tesis ha sido elaborada entre los meses de febrero y junio del 2021 de forma sistemática, según las normas de investigación científica. Han sido utilizados estudios entre los años del 2016 al 2021 como prioridad, además de excepciones de los años anteriores, con búsqueda hecha a través de las bases de datos: LILACS, MEDLINE/PubMed, SciELO y Google Académico; también han sido incluidos libros con gran relevancia para la investigación científica, leyes, decretos y órdenes ministeriales. Los resultados evidencian que la salud mental entra en decadencia debido al proceso de envejecimiento (sea senectud o senilidad), sin embargo, es posible minimizar los impactos y promover una mejora en la salud y la calidad de vida. Una gran parte de los adultos mayores demuestra tener fe/espiritualidad en alguna creencia y esto es un factor relevante para estimular los impulsos nerviosos, la salud mental y la disponibilidad para enfrentarse a la nueva fase de la vida. Delante del actual escenario pandémico, la telecomunicación o teleconsulta ha sido una gran herramienta para llegar a los adultos mayores sin ofrecerles riesgos a la salud, añadiendo a dicho escenario las prácticas terapéuticas capaces de reducir el estrés, la ansiedad y la depresión. Este estudio pretende reafirmar el rol multidisciplinario que debe ser articulado por la red de atención a la salud y concluye que el enfermero es un profesional indispensable para los cuidados sistematizados de la salud, listo para entender las particularidades e integrar los involucrados a las nuevas propuestas de vida saludable, incluyendo cuidados alternativos y la consideración de conceptos y creencias.

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LISTAS

LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Eixo somatossensorial do sistema nervoso. ... 18

Figura 2: Sistema Nervoso Central e Periférico... 19

Figura 3: Neurônio motor anterior típico exibindo terminações pré-sinápticas no corpo celular e nos dendritos. ... 20

Figura 4: Neurônio típico encontrado no córtex motor cerebral. ... 20

Figura 5: Diferença entre o cérebro normal e o cérebro envelhecido. ... 23

Figura 6: Neurônios em condições normais. ... 28

Figura 7: Necessidades Humanas Básicas de Wanda Horta. ... 41

LISTA DE TABELAS

Tabela 1: Teste de Friedmen descritivo e comparativo em relação ao sentimento, memória e quotidiano da QdV do idoso, com resposta de autoavaliação e cuidador formal e informal... 25

Tabela 2: Esquematização do processo de aquisição do corpus. Lagarto/SE. ... 46

TABELA 3: Analítica para amostragem dos 22 estudos selecionados exclusivamente para os resultados e discussões. ... 60

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LISTA DE ORGANOGRAMA

Organograma 1: Espiritualidade e velhice; espiritualidade e qualidade de vida. ... 32 Organograma 2: Atenção articulada pela RAS ao idoso. Lagarto/SE. ... 39

LISTA DE SIGLAS

AB Atenção Básica

AVD Atividade de Vida Diária

CF Capacidade Funcional

ESF Estratégia Saúde da Família

HPA Hipotálamo-Pituitária-Adrenal

LILACS Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde

OMS Organização Mundial da Saúde

PNH Política Nacional de Humanização

QdV Qualidade de Vida

RAP Rede de Atenção Psicossocial

RAS Redes de Atenção à Saúde

SciELO Scientific Electronic Library Online

SNC Sistema Nervoso Central

SN Sistema Nervoso

SNP Sistema Nervoso Periférico

SUS Sistema Único de Saúde

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ... 13

2 DESENVOLVIMENTO ... 17

2.1 Referencial Teórico...17

2.1.1 Anatomofisiologia do Sistema Nervoso (SN) e o envelhecimento ... 17

2.1.2 Saúde mental relacionada à terceira idade ... 24

2.1.3 A fé e espiritualidade relacionada à terceira idade ... 29

2.1.4 A relação entre fé, saúde mental e a qualidade de vida na terceira idade. ... 34

2.1.5 A pluridisciplinaridade aplicada para a promoção da saúde do idoso ... 38

3 METODOLOGIA ... 44 4 RESULTADOS E DISCUSSÕES ... 47 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 63 REFERÊNCIAS ... 65

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INTRODUÇÃO

O presente trabalho traz como objetivo identificar como a fé, ligada à saúde mental, influencia na Qualidade de Vida (QdV) dos idosos. É pertinente verificar esse aspecto, visto que a faixa etária e a expectativa de vida dessa classe cresceram e têm delineado novos contornos no século XXI. Além disso, faz-se necessária a investigação desses fatores, a fim de compreender que viver muito também deve significar viver bem, em suas diversas singularidades, na essência de cada indivíduo, para a consecução da saúde biopsicossocioespiritual, como promulga a lei orgânica da saúde, e, por isso, é indispensável verificar a influência da fé e saúde mental para o âmbito da qualidade de vida.

Diante do supracitado, será realizado um apanhado por pesquisas que atestem a respeito do tema, com grande relevância para a área, a citar alguns: DSM-5 (2014); Dalgalarrondo (2007); Kaplan e Sadock (2007); Amarante (1995); Eliopoulos (2005), além de artigos científicos, leis e decretos que abordem o assunto. Os referidos estudos contribuem de maneira significativa acerca da saúde mental, saúde do idoso e a fé, que são os três pontos chaves para viabilizar a discussão do tema proposto.

Na área de enfermagem, tratar sobre cuidados prestados aos idosos é de extrema relevância, pois é um fator que envolve qualidade de vida e engloba toda a família, e enquanto profissional da saúde, responsável por promover o cuidado ao ser (MOURA et al., 2020). Para isso, percebe-se que é necessário averiguar as medidas que estão sendo aplicadas para possibilitar atenção à saúde da pessoa na terceira idade. Por isso é necessário questionar-se: por que tamanhos entraves para um envelhecimento com qualidade e respeito ao bem estar psicossocial do idoso? Quais as múltiplas dimensões, representações, religiosidade e escolhas estão sendo valorizadas no processo de envelhecimento humano ou estão apenas cuidando do biológico? Qual a importância de envolver a fé para a saúde mental, e como isso conduz à qualidade de vida? Assim, almejamos a compreensão multifatorial da qualidade de vida, especialmente na velhice, sendo importante abranger e envolver todos os âmbitos dos cuidados, a iniciar da espiritualidade, crenças e dogmas como ferramentas inerentes ao indivíduo (inclusive,

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daqueles que se identificam com o agnosticismo/ateísmo), que figuram como geradores da saúde mental e, consequentemente, do bem-estar.

Tendo em vista o que é saúde, conforme a lei 8.080/90, com abordagem holística e pluridisciplinar, que traga cuidados desde a educação ao lazer, percebe-se que falar sobre a importância da aplicabilidade do cuidado espiritual e psicológico, é fundamental para que possa oferecer ao idoso, além de uma maior expectativa de vida, a experiência pessoal/coletiva do bem-estar, uma vida com qualidade, prazer e satisfação. Desta forma, entendendo tais questões, percebe-se que este é um papel do Estado, profissionais (aqui, em especial, os de enfermagem), familiares e indivíduos, entendendo a singularidade de cada pessoa na terceira idade e a importância da fé para que a saúde mental possa expandir qualitativamente – mesmo em uma idade de fragilidade fisiológica – e refletir nas demais abordagens da vida (DELGALARRONDO, 2007).

Para discorrer com clareza sobre o tema proposto, ele será dividido em alguns capítulos: no primeiro, será apresentado o conceito da anatomofisiologia do Sistema Nervoso associado ao processo de envelhecimento; o segundo capítulo abordará a saúde mental ligada ao bem-estar na terceira idade; o terceiro, tratará a respeito da fé e a espiritualidade na terceira idade; o capítulo seguinte, o quarto, trabalhará o entrelaçamento dessas três perspectivas, mostrando como andam juntas, sendo influenciadoras mútuas da saúde e propagadoras da QdV; o quinto capítulo, evindecia como essas questões podem e devem ser trabalhadas pelos responsáveis pelo idoso (Estado e família), bem como os próprios idosos e, a seguir, no sexto capítulo, a aplicação da enfermagem diante dessa realidade.

Para respaldar a presente pesquisa, serão utilizados estudos relevantes, pois trata-se de uma revisão de literatura integrativa, com caráter descritivo e explicativo-qualitativa. A busca bibliográfica ocorrerá através de livros físicos e virtuais de relevância para a temática e área. Serão incluídos artigos de bases e revistas cientificas, de 2011 até 2021, que tenham relação com a temática de caráter exploratório, associado à pesquisa de campo (GIL, 2008).

O interesse dessa pesquisa será de evidenciar a influência da fé na saúde mental dos idosos para uma melhor perspectiva de qualidade de vida, ora, questiona-se: como esses fatores influenciam a saúde do idoso? O tema fora escolhido com base na questão

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demográfica do aumento da expectativa de vida de idosos na maior parte no mundo, inclusive em território nacional. Visto que, mediante a laicidade do país (Brasil) e a notória baixa qualidade de vida da sua população idosa, o trabalho visa entender o porquê dessas questões, e mostrar um caminho para melhorá-las.

Sendo assim, a pesquisa tem como objetivo geral compreender os impactos da fé e da saúde mental para a melhoria da qualidade de vida da pessoa idosa, e como objetivos específicos: entender a anatomofisiologia do sistema nervoso central, a fim de coadunar o mecanismo biológico à saúde mental e prática espiritual; identificar e levantar dados que dialoguem como a influência da fé circunda o âmago da saúde mental, corroborando para o fortalecimento de uma vida saudável na terceira idade; associar fé e saúde mental a práticas que auxiliem na longevidade e promoção à saúde na gerontologia; e incluir a equipe multiprofissional, com foco no profissional de enfermagem, para a implementação de cuidados que impulsionem a prevenção, adaptação e reconstrução da saúde dos idosos. Para isso, serão levantados dados bibliográficos e questionários com pesquisas outrora realizadas neste sentido. Podendo assim, identificar a relevância do cuidado em saúde mental atrelada à religiosa para fim de melhoria na qualidade de vida da pessoa idosa; caracterizar e relacionar aspectos da fé, saúde mental e qualidade de vida; verificar os benefícios da pluridisciplinaridade para a saúde, aplicada pelo profissional da saúde, família e Estado.

Dá-se essa discussão porque é preciso avançar, as pesquisas e desenvolvimento científico trazem novos patamares para a melhoria desse quadro, evidenciando a necessidade do cuidado psíquico e espiritual para a boa qualidade de vida. É válido ressaltar que, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), saúde não é meramente a ausência da doença, mas um conjunto de fatores que englobem o bem bem-estar, garantindo a cidadania. Isso acontece, sem dúvida, para garantir o que fora estabelecido pela lei 8080/1990 (Lei orgânica da saúde) que objetiva prestar cuidados holísticos de acordo à singularidade de cada indivíduo.

Tendo isso em vista, percebe-se que o cuidado com a fé e a saúde mental, quando aplicado no dia a dia da vida da pessoa, traz inúmeros benefícios à qualidade de vida. E, por fim, nota-se a necessidade dessa pesquisa de caráter exploratório, em que se buscará associar aspectos mentais e espirituais ao campo físico da saúde, obtendo,

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dessa maneira, respaldo que vise corroborar com as influências positivas e amenizar os problemas encontrados.

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DESENVOLVIMENTO

2.1 Referencial Teórico

2.1.1 Anatomofisiologia do Sistema Nervoso (SN) e o envelhecimento

O Sistema Nervoso (SN), formado por neurônios, é responsável por captar, processar, transmitir e armazenar informações, bem como controlar o funcionamento fisiológico e de comportamento do indivíduo, representado na figura 1, a porção somática do sistema sensorial que transmite tais informações ao SNC através dos receptores sensoriais. Esses receptores estão em todo o corpo humano e conduzem as informações através dos nervos periféricos (localizados nas áreas sensoriais: medula espinal; formação reticular do bulbo, ponte e mesencéfalo; cerebelo; tálamo; e córtex cerebral), ou seja, por meio desse processo que é possível responder as incitações vivenciadas, seja ele um toque, uma visão ou mesmo a experiência de ter fé e acreditar. Esse funcionamento se dá por meio das respostas aos estímulos internos e/ou externos, sentidos e gerados por impulsos nervosos, que levam às sinapses (GUYTON E HALL, 2017).

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Figura 1: Eixo somatossensorial do sistema nervoso. Fonte: GUYTON e HALL, 2017.

É válido ressaltar que o SN é dividido em Sistema Nervoso Central (SNC), composto pelo encéfalo e medula espinal, e o Sistema Nervoso Periférico (SNP), composto por nervos e gânglios nervosos. O SNC é responsável pelo comando do organismo. Formado pelo encéfalo (cérebro, diencéfalo, cerebelo e tronco encefálico) e a medula espinal (com suas terminações nervosas), ele processa as informações intrínsecas e extrínsecas no córtex cerebral e gera resposta e, em alguns casos – quando considerado útil –, gera memória. Já o SNP leva e traz informações através de seus nervos (prolongamento de axônios – que transmite as informações) e gânglios nervosos (aglomerado de corpos celulares que interpreta as informações), além de ser dividido em SNP autônomo simpático e parassimpático (principal neurotransmissor é a noradrenalina e a acetilcolina, respectivamente, e são antagonistas), a seguir imagens dos sistemas aqui mensurados (figura 2) (MACHADO; HAERTEL, 2014).

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Figura 2: Sistema Nervoso Central e Periférico. Fonte: VIELA, 2019.

No córtex cerebral, conhecido como massa cinzenta por ter vários corpos celulares responsáveis pelo pensamento, fala, linguagem, memória, aprendizado, está o intelecto, onde são formados os milhares de neurônios (figura 2), responsáveis pela propagação dos impulsos nervosos e, junto às células da glia, manter a homeostase. O neurônio (figura 3) é composto, de maneira simplificada, por dendritos (responsáveis por captar a informação/estímulo), corpo celular (interpreta a informação/estímulo), axônio (propagação das informações/estímulo), bainha de mielina (parte do axônio que o protege e acelera os impulsos nervosos), nodo de ranvier (propagação do impulso nervoso) e terminal do axônio (local onde os impulsos são transmitidos para outros neurônios e/ou estruturas efetuadoras, os impulsos nervosos que geram as chamadas sinapses), como representado na figura 4 (BEAR et al., 2008; JUNQUEIRA, CARNEIRO, 2017).

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Figura 3: Neurônio motor anterior típico exibindo terminações pré-sinápticas no corpo celular e nos dendritos.

Fonte: GUYTON e HALL, 2017.

Figura 4: Neurônio típico encontrado no córtex motor cerebral. Fonte: GUYTON e HALL, 2017.

Para que ocorram os impulsos nervosos o estímulo (interno ou externo) recebido precisa chegar ao terminal do axônio com todos os processos envolvidos para sua

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propagação. É valido destacar algumas células da neuroglia responsáveis por essa manutenção: astrócitos: promovem a proteção, sustentação, nutrição e recuperação de lesões causadas nos neurônios, além de absorver neurotransmissores liberados durante as sinapses que, em excesso, impedem os impulsos nervosos; oligodendrócito: responsável pela produção da bainha de mielina no SNC; micróglia: promovem a fagocitose para a defesa e reparo de informações; célula de schwann: produção da bainha de mielina no SNP e nutrição das fibras nervosas (GUYTON, HALL, 2017).

Os neurônios podem ser classificados em dois grupos: sensitivos/aferentes e motores/eferentes. Para entender melhor, é necessário explicar que um nervo é formado por vários axônios de diversos neurônios. Sendo assim, os nervos sensitivos são os que captarão as informações (levam o impulso sensorial para o SN) e assim enviarão a resposta para o organismo através dos nervos motores (levam o impulso para o organismo). Todos esses processos, conforme Guyton e Hall (2017) envolvem todo o funcionamento fisiológico, separando no tálamo (relacionado ao processamento dos órgãos de sentido para levar ao córtex cerebral e gerar a consciência) e o hipotálamo (que garante a homeostase, regulando a sede, a fome, temperatura, as emoções e coordenando a hipófise, que controla o sistema endócrino). Ressaltando que todo esse processo ocorre em dois tipos de sinapses: a química (liberação de neurotransmissores) e a elétrica (envolve canais iônicos para o potencial de ação).

Estudos atuais, os quais mostram o SNC com uma capacidade pequena de autorreparação associado às células-tronco, chamado de neurogênese, evidenciam que essa capacidade de alteração morfológica é diretamente proporcional às atividades de prazer, ou seja, aquilo que promove prazer e satisfação ao indivíduo, ajudando no desenvolvimento neural (CARRION et al., 2009). Corroborando com a teoria, Kaplan e Sadok (2007) mostram como fatores psicossociais e estresses vivenciados levam ao maior declínio da saúde mental e, consequentemente, do sistema nervoso.

Atrelado a essas questões, sabe-se que o processo de envelhecimento altera diversos desses fatores, pois de forma gradual e progressiva, segundo Eliopoulos (2005), o envelhecimento acontece de maneira cumulativa, sendo determinado pela genética e as mudanças universais (como a idade) – denominado de envelhecimento primário/normal/senescência –, ou o envelhecimento secundário/patológico/senilidade,

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que ocorre com maior brutalidade através de enfermidades, interação com influências externas, estilo de vida e fatores culturais geográficos, além do envelhecimento terciário/terminal que leva o processo de velhice a profundas perdas físicas e cognitivas (MOROGAS, 2010).

Desta maneira, o envelhecimento é representado para Moraes e Lima (2010) pela involução morfofuncional que afeta todos os sistemas dentro do conjunto de alterações vivenciadas pela passagem do tempo. Sendo assim, é comum que na velhice a Capacidade Funcional (CF) seja reduzida, a eficiência do idoso em responder as atividades cotidianas tornem-se mais complexas devido às diminuições dos sistemas osteomuscular, endócrino, digestório, cardiorrespiratório e, em questão, o nervoso (FEITOSA, 2006). Como já mensurado, fatores genéticos, extrínsecos, psicossociais e ambientais levam ao envelhecimento do organismo através de alterações funcionais, celulares e moleculares que reduzem a capacidade de manutenção do equilíbrio homeostático.

Desta forma, no SN, a quantidade de neurotransmissores e receptores é desajustada, seja de forma rápida (senil) ou mais lenta e menos severa (senescência). Com o processo de envelhecimento os compostos bioquímicos realizados pela neuroglia começam a entrar em declínio, assim como a degeneração sináptica, retração axonal e morte neural, que fazem parte da genética programada (denominada de apoptose e necessárias para o desenvolvimento) (FEITOSA, 2006).

Representamos na figura 5, a diferença entre o cérebro normal para o envelhecido. Estudos mostram que o sistema mais comprometido e com maior declínio no que tange o processo de envelhecimento é o sistema nervoso central, devido à redução do número de neurônios na condução dos impulsos elétricos. O prejuízo desse sistema é irreversível, aumentado com a velhice, fatores intrínsecos e extrínsecos, que acarretam danos às diversas funções do indivíduo, desde as funções motoras, sensitivas, mentais e fisiológicas (FOX e ALDER, 2001).

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Figura 5: Diferença entre o cérebro normal e o cérebro envelhecido. Fonte: FOX e ALDER, 2001.

Dessa maneira, Almeida, Mourão e Coelho (2018) deixam claro em sua pesquisa que as alterações neurofisiológicas causadas durante o envelhecimento levam a significativa alteração no sistema nervoso central e, desta maneira, devido às questões de idade (perda de apetite, sentimento de impotência, sensação de abandono, maiores perdas físicas e familiares), levam à redução da disponibilidade de neurotransmissores que auxiliariam nessa reconstrução, tais como a serotonina, dopamina e noradrenalina, assim como as células reguladoras da glia e a desregulação do eixo Hipotálamo-Pituitária-Adrenal (HPA), todos geradores de problemas na saúde mental, assim como no comprometimento do bem-estar.

Mediante o exposto, é notória as alterações provocadas no SN e, consequentemente, no indivíduo durante o processo de envelhecimento. Sabendo que o sistema nervoso está ligado às funções motoras, sensitivas e cognitivas, o declínio de tal durante o envelhecimento debilita a pessoa idosa, deixando-a mais vulnerável aos processos patológicos e provocando a redução da saúde mental, visto que esta está diretamente ligada ao o sistema nervoso central e demais sistemas do organismo humano (FEITOSA, 2006). Por isso, é imprescindível que a equipe multiprofissional entenda os mecanismos anatomofisiológicos, bem como, suas alterações com o processo de envelhecimento, a fim de saber lidar com as necessidades do indivíduo acerca dos cuidados e autocuidado.

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2.1.2 Saúde mental relacionada à terceira idade

Saúde mental é, segundo Saraceno (1999), um conjunto articulado e interligado de ações que promovam, previnam e tratem, buscando o melhoramento, manutenção ou restauração desta. Visando a autonomia e independência dos usuários na reinserção social, articular e desfragmentar os diversos níveis dos serviços públicos das Redes de Atenção à Saúde (RAS) e da Rede de Atenção Psicossocial (RAPS), é de extrema importância para o cuidado integral prestado aos pacientes com transtornos mentais, a fim de alcançar os objetivos supracitados, sabendo que Transtornos Mentais e de Comportamento (TMC) caracterizam-se por uma série de distúrbios e alterações comportamentais e psicológicas, associadas ao comprometimento neurofuncional (VASCONCELOS, 2003; DALGALARRONDO, 2008).

Além disso, saúde mental está relacionada a um estilo de vida com qualidade, o que ultrapassa o “apenas” não ter um transtorno mental. Um estudo realizado pela revista Psicologia, Saúde e Doença (SILVANO et al., 2020) faz uma comparação da Qualidade de Vida (QdV) das pessoas idosas com e sem transtorno mental. Nessa comparação, 27 participantes (idosos), junto aos seus cuidadores formais e informais, respondem a uma escala (escala-Likert) de verificação da QdV analisando os aspectos: sentimento (que inclui alegria, ansiedade, frustração, confiança, disposição, incapacidade), memória (que inclui memória geral, antiga, recente, diferenciar pessoas, esquecer nomes, locais, pensamentos confusos), cotidiano ( que inclui manter a higiene, companhia suficiente, boa aparência, afeto, relacionamento interpessoal, saúde geral, papel ativo) (tabela 1).

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Tabela 1: Teste de Friedmen descritivo e comparativo em relação ao sentimento, memória e quotidiano da QdV do idoso, com resposta de autoavaliação e cuidador formal e informal.

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Deste modo, os resultados nos domínios e do índice global evidenciaram que as correlações apresentadas são fracas e negativas em se tratando das respostas dos idosos (autoavaliação) em comparação a resposta do cuidador (formal ou informal). Ou seja, o défice cognitivo, por menor que seja, está associado ao nível de funcionalidade e Atividade de Vida Diária (AVD) prejudicada. Neste ponto, associa-se com Dalgalarrondo (2008), mostrando que os resultados de uma boa QdV estão diretamente relacionados à saúde mental, o que inclui o sentimento, lazer, memória, fazer o que gosta e promove prazer (SILVANO et al., 2020). Ainda assim, é válido destacar que essas questões estão ligadas ao sistema límbico e paralímbico, responsável pela manifestação de sentimento e emoções, resultando em respostas fisiológicas e comportamentais, vislumbrando a saúde mental para o bem-estar (sistema nervoso autônomo e somático) (MACHADO, 2014).

Esses aspectos demonstram de acordo com Amarante (1995), que na terceira idade existe uma necessidade maior do cuidado mental, isso porque acontece uma série de fatores que alteram seu cotidiano e, frequentemente, decrescem a sua QdV. É comum analisarem a redução da força, equilíbrio e marcha na pessoa idosa, assim como maiores comorbidades digestórias, cardiorrespiratórias e renal e até mesmo, mental. Apesar disso, frequentemente a atenção à saúde mental é voltada apenas para aqueles diagnosticados com um TMC, o que torna mais difícil viver bem e ter uma satisfatória longevidade, visto que a readaptação às mudanças e afastamento da maior parte daquilo que gera conforto e prazer leva ao estresse mental que, junto ao declínio do sistema nervoso, aumentam os riscos de problemas de saúde e redução fisiológica, além da depressão, ansiedade, delirium (AMARANTE, 1995; SILVANO et al., 2020).

Neste ponto é preciso destacar como a saúde mental está intimamente ligada à QdV. O processo do envelhecimento traz, por si só, a redução das funções orgânicas, embora este, se aliado a uma boa saúde mental, proporciona melhoria nessas funções, o que gera qualidade de vida. Assim, é válido ressaltar a importância do cuidado biopsicossocioespiritual, multiprofissional, multissetorial e interdisciplinar que, conforme Amarante (1995) é inerente para promover a saúde mental, especialmente na terceira idade. Para destacar este aspecto, é importante compreender algumas questões inerentes à saúde mental. Para isso, inicia-se citando Freud e Erick Erickson, eles que

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são postuladores das teorias de personalidade com um conjunto de suposições relevantes para o comportamento humano que estão diretamente ligados à saúde mental. Esses pesquisadores trazem, dentro de suas perspectivas, a psicanálise dos aspectos do comportamento humano, evidenciando que sua personalidade é formada desde o ventre, através das sensações e construções sociais, psíquicas e biológicas. Os valores de cada indivíduo são formados pelos aspectos ao seu redor, especialmente pelos pais, escola, sociedade e religião. São esses aspectos formadores que vão diferir a maneira como cada um enfrenta os problemas da vida (que é o principal fator que envolve os transtornos mentais, conforme o DSM-5) (APA, 2015). Com esses valores já definidos, a pessoa idosa se depara com transformações e mudanças em seu cotidiano, afetando seu bem-estar social, biológico e mental, o simples fato de estar longe de parentes ou não ter a possibilidade de exercer sua espiritualidade os deixam cabisbaixos (MOURA et al., 2020).

Tais questões estão voltadas para a formação da personalidade do indivíduo que, conforme Dalgalarrondo (2008), é a estrutura interna do indivíduo, são suas organizações e aspectos que refletem no seu comportamento, são características qualitativas de cada sujeito e que sofrem influências ambientais e hereditárias. Mas por que essas questões são importantes para a terceira idade? A personalidade é intrínseca à saúde mental e as experiências ambientais, sociais, genéticas, religiosas e educacionais contribuem para a sua formação e sua mudança, pois a personalidade é modificável (DALGALARRONDO, 2008). Dentro desse campo, a idade avançada passa a ser um fator de risco, pois estão mais expostos devido à vulnerabilidade decorrente da idade, tais como: envelhecimento funcional e fisiológico, menor estabilidade social, isolamento social e familiar, perda da autonomia, entre outros.

Constata-se que o envelhecimento cerebral também afeta consideravelmente a saúde mental. Isso porque, como afirma Eliopoulos (2005), as diminuições de neurotransmissores, neurônios e reflexos, associados a fatores extrínsecos e intrínsecos, faz com que haja grande perda de axônio e morte neural, o que cria vasos no cérebro, diminuindo a funcionalidade e aumentando as chances de doenças, o que implica não só a saúde mental, mas também a qualidade de vida. É possível observar as terminações nervosas – locais em que ocorrem as sinapses – em uma célula funcional com sua

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normalidade na figura exposta. Contudo, na fase idosa essas transmissões são falhas, e esse deficit se dá devido ao aumento do depósito de lipofuscina, amiloide e atrofias nesses terminais (expostos da figura 6). Além de tais complicações, a baixa produção de hormônios (como a serotonina) favorece ainda mais o declínio da saúde mental, podendo levar o idoso ao delirium, Alzheimer, transtornos mentais, solidão, depressão, entre outros.

Figura 6: Neurônios em condições normais. Fonte: BEAR et al., 2008.

Em síntese, percebe-se que a saúde mental faz parte de um conjunto articulado de ações e fatores que, na terceira idade, encontra-se mais fragilizada devido à própria fisiologia do ser humano e às condições as quais se encontram – na maioria das vezes em instituições para idosos e com extremo afastamento social e familiar. Desta forma, percebe-se que diversas ações precisam ser adotadas, a fim de reduzir os danos e visando promover à saúde mental, que é resultado direto da saúde física e biológica, pois:

De modo geral, os conteúdos dos sintomas estão relacionados aos temas centrais da existência humana, tais como sobrevivência e segurança, sexualidade, temores básicos (morte, doença, miséria, etc.), religiosidade, entre outros. Esses temas representam uma espécie de substrato, que entra como ingrediente fundamental na constituição da experiência psicopatológica (DALGALARRONDO, 2008).

E, por fim, a saúde precisa ser prestada de forma holística, especialmente, na fase idosa. E, de forma sucinta, estar ligada a momentos memoráveis e prazerosos, que

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promovam e “ressuscitem” entusiasmo, alegria e bom-humor, acarretando em uma melhoria da saúde biopsicossocioespiritual.

2.1.3 A fé e espiritualidade relacionada à terceira idade

A longevidade é um alcance tecnológico e científico, excepcionalmente crescente no atual século XXI. Desta forma, o envelhecimento humano é cada vez mais crescente no mundo, especialmente em países desenvolvidos e em desenvolvimento. É sabido que, nesse processo de envelhecimento, as alterações biológicas e psíquicas são imensas e, embora chegar à terceira idade seja o objetivo das pessoas, o processo de envelhecer pode variar de um indivíduo para o outro mediante a sua exposição, podendo partir desde a senescência (normal) até a senilidade (patológico) (ROMMEL; NICOLINO, 2012).

Para isso, salienta-se que pesquisas evidenciam que a dimensão religiosa tem um fator exponencial no processo de envelhecimento normal e que o comportamento religioso é extremamente presente na idade avançada, além de ser um fator benéfico à saúde. A fé que é frisada nesse trabalho, tem base em crenças e filosofias que promovem, sob a ótica de cada idoso envolvido, esperança (seja qual for à fé), e vem se mostrando presente na vida de idosos, não se atendo apenas à religiosidade (ou fanatismo), mas também a convicções pessoais que tragam maior conforto e resiliência mental (BRASIL, 2007). É perceptível que a longevidade traz uma maior necessidade de expressar-se, contar aquilo que foi aprendido durante as experiências e depositar esperança através da fé, especialmente pelo fato de ter a autonomia diminuída no que é visível e aos sentidos dados pelo sistema nervoso central, além da maior consciência da morte, frisando que:

Portanto, a morte, sob ângulo humano, não é apenas a destruição de um estado físico e biológico. Ela também a de um ser em relação, de um ser que interage. O vazio da morte é sentido primeiro como um vazio interacional. Não atinge somente os próximos, mas a globalidade do social em seu princípio mesmo, a imagem da sociedade impressa sobre uma corporeidade cuja ação – dançar, andar, rir, chorar, falar... – não faz mais que tornar expressa (p.20) (RODRIGUES, 2006).

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Compreender que a vida é frágil e efêmera não é algo simples e fácil. Por isso, as diferentes culturas adotam seus próprios rituais diante da morte. De maneira relativista, é claro, cada uma deve buscar naquilo que acredita um refúgio, pois não é tão fácil aceitar que, simplesmente, a vida é findada após a morte e, por isso, procuram o refúgio na fé. Nesse sentido, é importante verificar a etimologia da palavra: fé vem do latim (fide), que é o sentimento de confiança, esperança e que está diretamente relacionada à crença religiosa ou não, na qual é depositada a credibilidade pessoal do indivíduo, a religião cujo prefixo latino Re (novamente, outra vez, de novo) e o ver Ligare (ligar, unir, vincular), torna, assim, o elo ao sagrado. Enquanto espiritualidade vem do latim (spiritus), que quer dizer sopro, essência da alma particular em cada indivíduo: a consciência existente e gerada em cada um.

Conforme escrito na bíblia sagrada, “Ora, a fé é o firme fundamento das coisas que se esperam e a prova das coisas que se não veem” (Hebreus 11. 1), ou seja, há um sentimento de expectativa de vida que traz esperança e refúgio. Para que exista essa representatividade da fé, é indispensável que haja a participação efetiva do que é necessário para que a presença da fé seja sentida, representada e vivida pelo idoso. As maneiras pelas quais a fé pode ser expressa são com símbolos que representem aquilo em que se acredita (cultos, missas, reuniões, oração, terços, esculturas, bíblias etc), o que promove a força sobrenatural que é refletida na saúde biopsicossocial (RODRIGUES, 2006; ROMMEL; NICOLINO, 2012).

Para explicar melhor sobre a extrema diferença da fé e espiritualidade para a religiosidade, a perspectiva espiritual de Deepak mostra que os fatos não substituem a fé, assim como, a fé não anula a ciência, ou a ciência não anula a fé, por isso vale destacar que:

[...] religião não é o mesmo que espiritualidade – longe disso. Nem Deus é a mesma coisa que espiritualidade. As religiões organizadas podem ter perdido o crédito, mas a espiritualidade não sofreu essa derrota. Milhares de anos atrás, em culturas que se espalhavam por todo o planeta, mestres espirituais inspirados, como Buda, Jesus e Lao-Tsé, propuseram profundas visões sobre a vida. Eles ensinaram que existe um domínio transcendente além do mundo cotidiano de dor e luta. Ainda que os olhos contemplem rochas, montanhas, árvores e céu, isso é apenas o véu que encobre uma realidade mais vasta, misteriosa e invisível. Além do alcance dos cinco sentidos, há um domínio imperceptível de infinitas possibilidades; e a chave para desenvolver esse potencial é a consciência. Olhe para dentro, declararam os sábios e videntes, e você encontrará a verdadeira fonte de tudo: sua própria consciência (CHOPRA e MLODINOW, 2012).

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Ou seja, a sua própria consciência é capaz de ultrapassar os sentidos, promovendo prazer, esperança, fé, amor, liberando e melhorando impulsos nervosos e, consequentemente, ocasionando a melhoria de vida.

Sendo assim, não se pode negar o valor da experiência subjetiva: as sensações, prazeres e boas experiências causadas pela fé, pela espiritualidade, pela própria mente, pelo amor, pela arte, pela compaixão (CHOPRA e MLODINOW, 2012). Uma antiga escritura indiana (Isha Upanixade) mostra que a realidade tangente é tão completa quanto a não tangente, que o estado de pura consciência é tão importante quanto à realidade, sendo assim geradora de sensações que promove, por sua vez, Qualidade de Vida (QdV). A pessoa idosa passa por perdas incontáveis (familiares, motoras e em seus próprios órgãos de sentido), nas quais as sensações geradas pela fé são capazes de promover bem-estar, assim como as boas sensações causadas pelos órgãos de sentido pelo SNC e SNP, a fé e espiritualidade cumprem esse papel e auxiliam desde a saúde mental até a espiritual (SILVANO et al., 2020).

Corroborando com isso, diversos autores mostram como a espiritualidade, e os aspectos ligados a ela (fé, dogmas, religião), fazem com que a busca pelo sentido da vida seja alcançada e, da mesma forma, junto à ciência, traz o aumento na qualidade de vida, tanto que a espiritualidade passou a ser um domínio de inclusão para a aplicação de avaliação e promoção à saúde. Desta forma, tal questão precisa ser analisada de maneira singular, pois velhice, qualidade de vida, saúde e espiritualidade estão interligados de maneira holística e única a cada indivíduo. Com base nisso, Chaves e Gil (2015) realizaram um estudo (que será evidenciado abaixo no organograma 1) com 12 idosos > 60 anos de idade, os quais professavam alguma fé.

Nos resultados encontrados dentro da pesquisa realizada por Chaves e Gil (2015) tem-se a espiritualidade como fator para melhoria da qualidade de vida através dos argumentos de “significado da vida, força espiritual”, além de interagir com autores já citados, tais como Dalgalarrondo (2008), que mostra a influência positiva da fé, saúde mental e bem-estar. Dentro da análise, saúde física e psicológica, relações sociais e meio ambiente, conexão com um ser superior, admiração, força espiritual, paz interior, esperança e fé foram analisados, mostrando correlação positiva entre saúde física, psicológica e significado da vida, ou seja, a espiritualidade favorece sentimentos e

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emoções que auxiliam na promoção da saúde, bem-estar e qualidade de vida diante da nova rotina diária de desafios encontrados na velhice.

Assim, a espiritualidade mostra-se como algo transcendente, caracterizando-se como auxiliadora para enfrentar a dificuldades inerentes ao processo de envelhecimento, e até mesmo poder amenizá-las, especialmente na questão psicológica (como foi visto nesse estudo, que desemboca num processo fisiológico de saúde física).

Nesta relação, conforme Souza (2011) fica evidente que a gerontologia precisa estar aliada as questões espirituais para melhoria e qualidade do bem-estar. O organograma esclarece a relação entre a fé/espiritualidade para a longevidade em suas diversas áreas – nas categorias: espiritualidade e velhice; espiritualidade e qualidade de vida. Mediante tal concepção, percebe-se que a experiência espiritual precisa ser valorizada e vista como uma intervenção e aplicação de saúde.

Percebemos que a experiência espiritual se torna algo extremamente significativo na vida da pessoa idosa. E, desta forma, estudos (especialmente em relação ao tratamento do câncer) mostram que a fé tem grande influência nos fatores psicossociais

Categoria de assuntos

Espiritualidade e velhice Espiritualidade e Qualidade de Vida

Limitações Perdas Limitações Fisiológicas Dificuldades gerais da velhice Relações de afeto Experiência de espiritualidade na velhice Continuidade Sabedoria Satisfação Significado da vida Física Energia Saúde Psicológico Forças Enfrentamento Bem-estar Controle de pensamentos e sentimentos negativo Relações sociais Interrelações Relação Familiar

Influentes na saúde mental

Organograma 1: Espiritualidade e velhice; espiritualidade e qualidade de vida. Fonte: CHAVES e GIL, 2015 (adaptado pelo autor, 2021).

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do idoso, e influenciam diretamente na saúde física. A prática da fé tem influência na QdV da pessoa idosa, pois causa estímulos de hormônios e neurotransmissores benéficos à saúde e funcionamento do SNC, além de incentivar a adoção de práticas saudáveis, tais como: maior interação social, afastamento do álcool e tabaco, estímulos cerebrais, entre outros. Ademais, Eliopoulos (2005), mostra que estar inserido em um grupo social (especialmente os grupos religiosos) retarda o processo de envelhecimento.

Então, pode-se concluir que:

A espiritualidade faz parte do comportamento do indivíduo durante todo o ciclo existencial, uma vez que envolve entre outras atividades, o perceber, o pensar, o conceber, o sentir, a fé e o acreditar. O envelhecimento é um processo dinâmico, e não passivo, que exige transformações emocionais e afetivas para o desenvolvimento de uma visão mais madura e compensadora sobre o mundo. Num permanente processo de evolução, oportuniza o aprofundamento das questões espirituais, uma vez que a proximidade da finitude é mais presente (BALBINOTTI, 2017).

Ou seja, conforme a autora (BALBINOTTI, 2017), o envelhecimento do corpo está totalmente associado às emoções, ao afeto. Dados estatísticos do IBGE (2020) mostram que a população está mais idosa e, para se alcançar a longevidade, é preciso que haja saúde, motivação e qualidade de vida, que conforme vimos, são impuslionadas pela fé – que traz esperança. Kaplan; Berkman (2019) realizaram um estudo que ratificam tal entendimento, mostrando que a fé, religião e espiritualidade, mesmo não tendo sentidos idênticos, fazem com que a pessoa idosa tenha melhor saúde mental e física, uma vez que esta população demonstra como a crença/espiritualidade ajudam a enfrentar os estresses da vida. E, por fim, em sua análise clínica, deixam claro que o aumento da expectativa de vida condiz com a importância da fé, religião e espiritualidade dos próprios idosos, evidenciada pela forma de como essas questões interagem no sistema límbico e impulsos nervosos para projeção da qualidade de vida (MOREIRA; KOENIG;

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2.1.4 A relação entre fé, saúde mental e a qualidade de vida na terceira idade

Na terceira idade, a eficiência em corresponder às demandas físicas diárias, desde as atividades básicas que geram independência até às consideradas mais complexas, é diminuída e, muitas vezes, anulada de maneira a causar espanto, desespero e total dependência da pessoa que passa pelo envelhecimento. Tais questões se dão pelo processo de diminuição das funções dos sistemas osteomuscular, cardiorrespiratório, digestório, nervoso, motor (ELIOPOULOS, 2005).

Diversos estudos científicos, dentre os quais, os referenciais bibliográficos da presente pesquisa, vêm elucidando como a pessoa idosa começa a questionar-se sobre sua existência e como a sua Capacidade Funcional (CF) entra em declínio constante, sendo este, potencializado conforme os fatores extrínsecos, ambientais, genéticos e psicossociais; reduzindo a capacidade de manutenção do equilíbrio homeostático, levando a maior predisposição a doenças e perda da autonomia. Desta forma, é importante destacar que o envelhecimento é um processo para chegar a uma fase da vida (a velhice), gerando o resultado final (o idoso), ou seja, permeia todos os aspectos da existência humana e exige cuidados holísticos (DALGALARRONDO, 2008; ELIOPOULOS, 2005).

Vale salientar que a saúde mental (sendo um conjunto articulado de ações) está totalmente conectada ao que é estereotipado pelas alterações moleculares, celulares e funcionais, através dos genótipos e fenótipos. Assim, devido a esse processo constante de mudanças bruscas na gerontologia – especialmente em se tratando de idosos senis, essa comunidade se depara com fatores de riscos psíquicos que os predispõe a patologias mentais prevalentes nessa fase – como delirium, Alzheimer, depressão e outras síndromes geriátricas, fazendo com que sua capacidade funcional entre em uma reta negativa no quesito qualidade de vida (ELIOPOULOS, 2005; ROMMEL; NICOLINO, 2012).

Atrelado ao fator saúde mental, é evidente que a pessoa idosa gosta (e precisa) de encontrar o sentido da vida, a felicidade que alcançara, relembrar momentos vividos que tornem o processo de envelhecimento mais leve. Junto a isso, encontram-se como

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base sustentadoras da almejada calmaria, paz e aconchego: a fé/espiritualidade. Assim, é preciso verificar que não basta apenas viverem vários anos de vida, o maior desafio está em viver mais, e melhor. Para isso, tendo em vista o que já fora discutido, percebe-se que viabilizar a prática da espiritualidade ao idoso o leva à melhor saúde mental, que por sua vez, fortalece sua capacidade funcional e, portanto, resulta na melhor qualidade de vida (BALBINOTTI, 2017).

Através da espiritualidade urge a essência da vida, o encontro pelo sentido da existência, da “vida que vale a pena ser vivida”, relatado por Barros Filho (2012), que esclarece: “Eudaimonia é, como dissemos, bem supremo. Soberano. A finalidade última. Aquilo que não é meio para nada porque já é o máximo que se pode pretender. É vida que vale por ela mesma. Que esgota nela mesma sua razão de ser” (p. 27). É através da oração, da participação em encontros de fé, filosóficos e de auto-ajuda ou, até mesmo, a espiritualidade na sua singularidade, leitura da bíblia, de livros que abordam aspectos de superação e motivacionais, encontros em grupos de caridade, shows musicais ou a música no próprio seio familiar, que o mecanismo biopsíquico se auto regula e ajuda a inibição/redução do estresse diário e preocupações da vida, vistos como suportes intrínsecos à espiritualidade, promovendo maiores momentos de felicidade e gerando a Eudaimonia, que traz hormônios produtores de sinapses e a consequente melhoria no sistema nervoso, fortalecendo os demais sistemas e a saúde como um todo.

Corroborando com os argumentos, Dadswell e Malone (2018), em seu estudo acerca do papel da religião, espiritualidade e/ou crença no envelhecimento positivo para idosos, discutem como a “espiritualidade positiva” tem influência para o bem-estar e envelhecimento senescente, pois oferece apoio social, participação social e bem-estar pessoal. Como já mensurado, o processo de envelhecimento é uma via árdua, devido às perdas naturais (ou não) enfrentadas no decorrer da vida. À vista disso, a espiritualidade positiva permite a relação interna e transcendente, sem limitações físicas, culturais ou econômicas. É afirmado que os sentimentos de perda, desamparo, estresse, solidão são reduzidos pela presença e prática da fé/crença/filosofia, fazendo com que a saúde mental seja potencializada, melhorando o estilo e a qualidade de vida através de uma perspectiva capaz de enfrentar os processos do envelhecimento e ter independência

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mais ativa: a espiritualidade como ferramenta de resiliência (DADSWELL e MALONE, 2018; KRISTELLER et al., 2011).

Diversos estudos apontam que a espiritualidade, fé, religião e/ou crença são considerados como diferenciais e componentes-chave para enfrentar o processo de saúde-doença, especialmente frente às doenças crônicas, mentais e terminais (MANUTI, 2016). Igualmente, Manuti (2016) ainda sugere que a religião “pode ser considerada como um domínio de vida significativo para a experiência do envelhecimento”, proporcionando identidade e positividade frente às rotineiras mudanças da velhice.

Além do notório sentimento de conforto capaz de ser gerado pela fé/espiritualidade e melhoria da saúde mental, participar de um grupo ao qual se professa determinada fé, promove integração social, desenvolve autonomia, conduz à participação ativa em um grupo e coletividade, o que gera melhor inserção para a senescência, ou seja, qualidade de vida (ABDALA, 2013). Uma pesquisa sobre o tema que correlaciona a espiritualidade na velhice à qualidade de vida, desenvolvida por Chaves; Gil (2015) evidenciou que todos os idosos que participaram do estudo sobre o tema, reconheceram que a fé e a espiritualidade são importantes para suportar suas perdas (familiares e pessoais), limitações da sua Capacidade Funcional, afastamento familiar, sendo ainda indispensável para evidenciar o sentido da vida e da qualidade de vida.

Assim, através das bases de dados levantadas aqui, a fé é impulsionadora de força, potencializando as boas emoções, trazendo alegria e boa saúde mental, gerando esperança, convicção de amparo e auto-estima. Além disso, esses aspectos resultam em uma boa saúde mental, melhoria na qualidade do sono e redução do estresse, colocados em patamares gráficos (vide estudo supracitado) e scores mais altos quando as experiências proporcionadas pela espiritualidade e saúde mental estão em níveis mais elevados (CHAVES; GIL, 2015).

É válido ainda, frisar que as funções, já mencionadas nos capítulos anteriores, do sistema nervoso central, são reduzidas no processo da velhice. As questões sensoriais e o conjunto do sistema nervoso central e periférico são indispensáveis para a promoção de ações que gerem bem-estar. Mediante tal fato, cita-se o sistema límbico, que é um conjunto de estruturas corticais e subcorticais, interligados de maneira anatômica e funcional, relacionado ao controle das emoções e da memória, como medo, raiva,

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ansiedade, estresse. Apesar de sua complexidade desde o chamado circuito de Papez, é certo que o sistema límbico é responsável pelo controle do mecanismo das emoções (MACHADO, 2014).

O córtex cingular anterior (parte do sistema límbico) tem como função o processamento das emoções, por isso estudos atuais procuram a relação da depressão maior com o córtex cingular anterior, que se mostra como o principal responsável pelo sentimento de tristeza. Já o córtex cingular posterior tem relação com a empatia, sensação de nojo, autoconhecimento do reflexo e percepção da subjetividade das emoções. O hipotálamo, dentro do sistema límbico, tem papel fundamental para a regulação dos processos emocionais relacionados ao sistema nervoso autônomo e suas sensações periféricas. O núcleo accumbens, junto à área septal e bulbo olfatório, também faz parte do sistema límbico e é visto como o “centro do prazer”, além de regular as atividades viscerais pois faz parte do sistema mesolímbico. Enquanto isso, a habênula regula os níveis de dopamina com ação antagonista. A amígdala é reguladora do medo e expressões faciais relacionadas às emoções e comportamento sexual.

Avaliando o sistema biológico e mental, especialmente do idoso, a espiritualidade ativa o sistema límbico, liberando emoções e ações capazes de aumentar a disposição, o conforto e o alívio, e reduzir a ansiedade e controlar o estresse, além de combater a depressão [que é a maior incidência na terceira idade, mais de 50% dos idosos apresentam a sintomatologia, conforme Faísca et al. (2019)]. Isso se dá porque uma série de fatores é ativada pelo sistema nervoso autônomo ao ter contato com aquilo que causa prazer e satisfação: a espiritualidade, em questão.

Desta forma, é possível concluir que a fé estabelece relação direta com a qualidade de vida, permeando a saúde física e mental. A espiritualidade na velhice favorece a qualidade de vida pois gera pensamentos de esperança, interação social, aceitação das dificuldades, das perdas e dos sentidos corpóreos e psíquicos. Chegando a essa conclusão, esses sentimentos causados pela fé são combustíveis para um grande potencial de ação fisiológica: serotonina e noradrenalina, os quais alavancam a saúde mental; refletindo na melhoria da predisposição, causando exacerbantes benefícios ao sistema imunológico, acarretando na melhoria da senescência e redução da senilidade, desencadeando o objetivo principal: viver muito e viver bem (qualidade de vida)b.

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2.1.5 A pluridisciplinaridade aplicada para a promoção da saúde do idoso

Analisando os aspectos que envolvem a saúde do idoso, de maneira geral, é perceptível o descaso em relação aos seus interesses. Com um aumento notável na sua expectativa de vida, se tornou mais visível a evolução dos cuidados dispensados ao bem-estar e à saúde, seja no campo social (saneamento básico), seja no campo específico da medicina e enfermagem. Por outro lado, vemos lares de idosos lotados e idosos abandonados por seus familiares como evidências do descaso físico e emocional na senilidade. É notória a preocupação apenas com as necessidades básicas, sendo essas consideradas as aplicações de fármacos, alimentação, higiene e sono, e isso vem sendo a vida diária desse grupo, quando as tem. O cuidado com o lazer e recreação é esquecido, o que não é diferente relacionado à sua fé. Assim, nota-se que é preciso ajudar a pessoa da terceira idade a realizar o que gosta e sente vontade. Aqui, a fé é vista como motivadora para essa questão, auxiliadora da saúde mental, o que vai refletir em uma boa qualidade de vida (MOURA et al., 2020).

Tendo isso em vista, é válido destacar que saúde é – conforme estabelecido pela lei 8.080/1990, lei orgânica da saúde, que dispõe sobre a organização, planejamento, assistência e articulações Interfederativas para o bom funcionamento do Sistema Único de Saúde (SUS) – um conjunto de ações articuladas e integrais, que vão desde as necessidades de educação e lazer, até os cuidados e serviços de alta complexidade. Com uma discrepância enorme entre a burguesia e o proletariado, a saúde pública no Brasil estivera um caos, na qual pouquíssimas pessoas tinham o acesso a tal, prejudicando o bem-estar em massa da sociedade. Com a luta de classes e com a reforma sanitarista, a lei supracitada, fora implementada com diversos decretos e portarias e, assim, melhorou significativamente a saúde da população.

Atrelado a isso, a Política Nacional da Pessoa Idosa (PNPI), regulamentada pelo SUS, estabelece o direito universal e integral à saúde por meio da lei orgânica da saúde.

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Desta forma, o SUS estabelece princípios que reorganizam os setores da saúde para os cuidados da pessoa idosa (BRASIL, 2003).

A Atenção Básica (AB) é caracterizada por um conjunto de ações expostas tanto para o individual, quanto para o coletivo, promovendo a prevenção, diagnóstico, tratamento, reabilitação e a manutenção da saúde através de estratégias criadas pelo Ministério da Saúde para melhorar a prática de atenção e a qualidade de vida da população. Diante do supracitado, percebe-se que a saúde do idoso, conforme o estatuto do idoso, precisa ser integral e holística para refletir na qualidade de vida, estabelecida pelo capitulo um, dos direitos fundamentais, que:

Art. 8.º O envelhecimento é um direito personalíssimo e a sua proteção um direito social, nos termos desta Lei e da legislação vigente. Art. 9.º É obrigação do Estado, garantir à pessoa idosa a proteção à vida e à saúde, mediante efetivação de políticas sociais públicas que permitam um envelhecimento saudável e em condições de dignidade (BRASIL, 2003).

A Rede de Atenção à Saúde (RAS) garante o cuidado de maneira pluridisciplinar para a saúde do idoso, aplicada pelo profissional da saúde, família e Estado. Para isso, todos os setores devem estar interligados e desfragmentados. Abaixo segue o diagrama de como essa ação deve ser realizada, ressalvando que em cada um desses setores, deve haver uma equipe multiprofissional e interdisciplinar.

Organograma 2: Atenção articulada pela RAS ao idoso. Lagarto/SE. Fonte: Autor, 2021.

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Tudo o que foi exposto destaca a importância do Estado e da família para estabelecer medidas para o cuidado da população idosa.

Conforme Brasil (2007), os cuidados devem ser dados de forma humanizada, com participação desfragmentada em conjunto com a Política Nacional de Humanização (PNH). Tal política visa prestar o acolhimento coletivo e individual para a promoção da saúde. E, sendo assim, o que pode ser realizado em conjunto é a criação de grupos e oficinas de idosos com orações, musicoterapia e ações que promovam a fé e a esperança em espaços da Estratégia de Saúde da Família e Atenção Básica. Além disso, os idosos institucionalizados precisam de ações de grupos religiosos que fazem visitas e promovem momentos interativos no lar de idosos.

O cuidado espiritual deve ser instrumento de promoção à saúde, integrado por toda a equipe e cuidadores. O enfermeiro é responsável por conduzir a equipe e incentivar o olhar espiritual para esse cuidado, identificando e atendendo às necessidades e, dentro desse domínio, é preciso habilitar os profissionais para entender a singularidade conforme o aspecto espiritual do indivíduo, a fim de que se possam aplicar intervenções satisfatórias. Para que isso ocorra, a comunicação precisa ser bidirecional, com olhar atento e holístico, pois:

Para tanto, é preciso estar atento aos sinais de comunicação verbal e não verbais emitidos por ele e por você durante a internação. [...] A comunicação adequada é aquela que tenta diminuir conflitos, mal-entendidos e atingir objetivos definidos para a solução de problemas detectados na internação com os pacientes (SILVA, 2010. p. 14).

Ou seja, é através da aptidão com a comunicação que se fará entender o que é inerente ao cuidar. É preciso ter essa habilidade na comunicação para que se possa aplicar o cuidado, pois existem inúmeras particularidades na espiritualidade/fé, bem como distinções na maneira como cada um age com essas crenças. A espiritualidade é um mecanismo de enfrentamento que se pode querer para vivenciar a sós, ou em grupo. Todas essas questões são indispensáveis para entender o processo de cuidar, que deve ser aplicado de maneira multiprofissional e multidimensional, a fim de que se tenha um envelhecimento bem-sucedido, além de estabelecer o direito do idoso, que é previsto pelo SUS (DESMET et al., 2020).

Referências

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