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Passado, Presente e futuro: das escolhas aos resultados

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Academic year: 2020

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FRAGMENTOS DE CULTURA, Goiânia, v. 18, n. 1/2, p. 11-17, jan./fev. 2008. 1111111111

Andréa Freire de Lucena

PASSADO, PRESENTE

E FUTURO: DAS ESCOLHAS

Resumo: o trabalho busca discutir certas questões que têm sido apontadas nos últimos tempos, enfatizando, sobremaneira, as trans-formações da política, da economia, do direito. Neste contexto, o conceito de globalização e o de regime internacional são usados para embasar a análise. Este ensaio é dividido em três partes: passado (es-colhas), presente (conseqüências) e futuro (resultados).

Palavras-chave: globalização, economia, política, direito, re-gime internacional, institucionalização

Artigos

AOS RESULTADOS

filosofia moral e os preceitos religiosos já não eram mais suficientes para controlar as paixões desequilibradas dos homens no século XVII.

Con-A

ceberam-se, então, algumas saídas: coerção e repressão; mobilização das paixões, fazendo que elas trabalhassem para o bem; comparação de um gru-po de paixões inócuas com outro de paixões destrutivas. No entanto, a con-frontação entre interesse (totalidade das aspirações humanas) e paixão tornou-se a alternativa mais eficiente, ou seja, o interesse domou as paixões (HIRSCHMAN, 1979).

Dessa forma, o enriquecimento passou a ser visto como interesse e a previsibilidade e a constância a serem observadas como conquistas de um mun-do governamun-do pelo interesse. Neste contexto, o enriquecimento e o comércio foram identificados como atividades doces (HIRSCHMAN, 1979). Vale lem-brar que Aristóteles condenava o uso do dinheiro, aceitando-o apenas como um instrumento a ser usado para facilitar a troca (BLOCH; PARRY, 1989). PASSADO

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As sociedades tradicionais, de um lado, defendiam que as relações entre os homens eram mais importantes do que as relações entre homens e coisas, diziam que o mais importante era o bem imóvel (terra) e não esta-beleciam distinção entre economia e política. A sociedade moderna, de outro lado, destacava que as relações entre os homens deviam estar subordi-nadas às relações entre os homens e as coisas, afirmava que o bem móvel (dinheiro) era mais relevante e distinguia a economia da política. Na ver-dade, a mudança da sociedade tradicional à moderna causou uma grande revolução nos valores.

Os mercantilistas emanciparam a economia da política e a econo-mia da moral. Para Quesnay, a econoecono-mia é vista como um todo organizado e a política estrutura a sociedade. Segundo Locke, a moralidade e a econo-mia transformam-se na base sobre a qual a sociedade política deve ser erguida. A emancipação da moralidade aconteceu com o reconhecimento de que a ação econômica é orientada para o bem e de que o progresso econômico, de acordo com Adam Smith, pode acontecer independentemente de qualquer mudança no ambiente político (DUMONT, 1973).

Maquiavel, ademais, defendeu uma nova forma de experiência po-lítica, a qual se caracteriza pela rejeição da moralidade tradicional como condição indispensável à ação política, que, portanto, pode substituir os valores e as virtudes tradicionais (CASTRO, 1998). As idéias, os valores (moral), portanto, foram substituídos para tornar justificável algumas prá-ticas anteriormente tidas como repugnantes (a busca do lucro, por exem-plo). Uma das grandes características desses períodos foi a criação do mito do mercado e da eficiência econômica sem intervenção estatal.

PRESENTE

A globalização, de uma maneira geral, pode ser definida não só como a rápida disseminação das normas, das práticas políticas e dos aspectos culturais e sociais, como também o crescimento da integração das economias nacio-nais. Os cidadãos, dessa maneira, são afetados nos aspectos econômicos, políti-cos, sociais e culturais. O medo de perder o emprego e a submissão aos baixos salários, o distanciamento das arenas de decisão política, o enfraquecimento dos laços familiares e a interiorização de padrões de consumo estrangeiros podem ser destacados como alguns dos efeitos da globalização (SCHECHTER, 2000). Ademais, Castro (2000) lembra que, na cultura do lucro, as pessoas só agem pensando no retorno financeiro, e o valor de todas as coisas é dado pelo preço calculado em dinheiro.

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A globalização, todavia, não pode ser compreendida apenas como o movimento livre de bens, de serviços e de capital. Além disso, as soluções homo-gêneas propostas por ela – um só caminho para todos – acabam esmigalhan-do as diversidades culturais e deixanesmigalhan-do de levar em consideração que cada Estaesmigalhan-do tem estrutura e história diferentes e, portanto, merece ser tratado como distin-to e único. O aumendistin-to da integração das economias nacionais ao mercado global, ademais, resultou na diminuição da autonomia dos Estados, já que estes, ao competirem por capitais estrangeiros, passaram a aceitar as condições impostas pelos centros financeiros internacionais, o que resultou em maior vulnerabilidade às oscilações do mercado externo (STRANGE, 1995).

Epstein (1996) assevera que os cidadãos procuram emprego, cresci-mento igualitário e desenvolvicresci-mento sustentável, mas suas aspirações são congeladas pela possibilidade de que algumas políticas domésticas usadas para alcançar tais objetivos possam afetar a taxa de juros e causar uma fuga de capital. Na verdade, a percepção de que o mundo está todo “encaixotado” acaba por gerar uma paralisia nos Estados. Webb (1995) observa que a integração do mercado de capital internacional diminuiu a capacidade de os Estados adotarem políticas macroeconômicas que sejam distintas daquelas estipuladas pelos grandes centros financeiros.

O papel principal do sistema monetário internacional tem sido o de proporcionar ordem e estabilidade aos mercados estrangeiros, de permitir a resolução dos problemas de balanço de pagamentos e de garantir acesso ao crédito internacional quando há crises financeiras. Antes da Primeira Guer-ra Mundial, não havia controle sobre as tGuer-ransações financeiGuer-ras internacio-nais. Durante o período entre guerras, assistiu-se ao colapso do sistema e à diminuição do movimento de capitais. Após o término da Segunda Guerra Mundial foi institucionalizada a disciplina das trocas econômicas interna-cionais (EICHENGREEN, 1996).

O Sistema de Bretton Woods, todavia, entrou em crise no início dos anos 1970 e a reconstituição do sistema financeiro internacional passou a postular a liberalização do comércio e a inexistência de controle sobre os movimentos de capitais (EICHENGREEN, 1996). A justificativa para a manutenção de uma ordem monetária, desde então, enfatiza dois aspectos. Em primeiro lugar, a ordem monetária deve ser criada por Estados que bus-cam objetivos, que têm poder e que podem afetar os movimentos no siste-ma. Em segundo lugar, a ordem monetária deve ser resultado da eficiência econômica (GERMAN, 1997).

Strange (1995) afirma que a crise da dívida externa dos anos 1980 foi um bom exemplo de como os eventos econômicos podem ser fruto de

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cisões políticas que causam graves conseqüências. No entanto, alguns eco-nomistas continuam insistindo que a eficiência na maximização de benefí-cios e na minimização de custos acaba sendo ainda um critério essencial para se afirmar se uma política é boa ou não.

O modelo único para possibilitar cada vez mais a abertura do comér-cio e para atrair capital e crédito internacomér-cionais não é funcomér-cional, pois não leva em consideração o papel da política e das instituições domésticas no desenvolvimento de ações que possam integrar de maneira justa os países à economia internacional. No plano externo, alguns países têm demonstrado maior fragilidade e dependência em relação aos rumos postulados pelo mercado estrangeiro. No plano interno, as distorções sociais fazem que os países tentem buscar alternativas de curto prazo.

No entanto, a solução para esse impasse exige também a articulação das dimensões internas e internacionais, ou seja, as conseqüências da globalização nos países são claramente perceptíveis, mas a diminuição dos impactos negati-vos desse modelo ocorrerá por meio de ações externas conjuntas dos Estados. Rodrik (1999), ademais, assinala que se devem melhorar algumas instituições domésticas como meio de fortalecer internamente os países. De um lado, existe a necessidade de aperfeiçoar a qualidade do judiciário e das burocracias públicas e, de outro, devem-se abrir os canais para a participação de outros atores até então excluídos do processo decisório (trabalhadores, por exemplo).

FUTURO

Schechter (2000) divide os movimentos de resistência à globalização em três tipos. O primeiro é o movimento de resistência estatal, que abrange ações como resistência aos empréstimos de ajuste estrutural, como busca do desenvolvimento capitalista financiado pelo Estado. O segundo é o movi-mento westphaliano modificado, que, dentre outros aspectos, defende o desenvolvimentismo e os direitos territoriais de segmentos sociais excluídos. Por fim, o movimento de resistência pós-westphaliano luta pelas identida-des religiosas, pela ênfase às culturas originais, pela autonomia dos povos indígenas e pela defesa das questões ambientais.

Deacon (1999) sugere que as políticas sociais realizadas internamen-te pelos Estados devem ser percebidas também como globais. Nesse coninternamen-tex- contex-to, as organizações internacionais desempenhariam um papel de agentes ativos no processo, redistribuindo recursos entre os governos, oferecendo instru-mentos e assistências técnicas, incentivando a criação de uma regulamenta-ção mínima para as questões sociais.

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Archibugi (1992) descreve alguns modelos de organização internaci-onal em projetos de paz perpétua, que podem servir como proposta de dis-cutir uma organização internacional que realmente leve em consideração a questão da desigualdade social. O modelo cosmopolita, por exemplo, adota critérios de representação igualitária e é contra a intervenção de um Estado nos assuntos domésticos de um outro.

Finnemore e Sikkink (1998) destacam a relevância das normas interna-cionais na mudança política. Na verdade, os fatores normativos, como morali-dade e regras internacionais, podem limitar o exercício do poder dos Estados. De um lado, as normas reguladoras limitam o comportamento dos atores, de outro, as normas constitutivas criam novos interesses ou objetivos para ação. Teubner (1997) defende um pluralismo legal na sociedade mundial. De acor-do com essa concepção, os regimes legais aacor-dotaacor-dos pelas empresas multina-cionais nos diversos países constituem exemplos de um sistema legal sem Estado.

Os impactos causados pela globalização são frutos das opções de polí-ticas estabelecidas no passado, mantidas no presente e prolongadas no futuro. A separação entre economia e política centrou a sorte da humanidade na eco-nomia. A crença de que a eficiência econômica seria capaz de garantir bene-fícios para todos concentraram as ações de muitos Estados em uma só direção: a busca por resultados econômicos eficientes. Assim, a ênfase aos objetivos econômicos tornou a economia uma entidade autônoma e, portanto, isolada de outros aspectos da vida do Estado. A realidade, no entanto, revela que a economia é uma parceira bastante exigente: quanto mais os Estados buscam agradá-la mais ela exige atenção. Dessa forma, depois de diversas tentativas para alcançar a eficiência, alguns países perceberam que não saíram do lugar, pois diminuíram sua capacidade de tomar decisões sobre políticas domésticas e ainda aumentaram as distorções sociais internas.

O ajuste de rumos do Estado passa essencialmente pela questão da inserção internacional. Na verdade, não se pode deixar de concordar que há países no sistema internacional com os mais variados graus de poder: uns influenciam mais, outros, menos. No entanto, a criação e/ou manutenção da ordem internacional pressupõe a existência de princípios, de normas e de regras capazes de garantir um nível satisfatório de previsibilidade aos países. Assim, a existência de regimes internacionais acaba abrindo espaço para a criação de uma importante arena de negociação.

Os países ricos, de um lado, desejam manter o statu quo do sistema ou aceitam modificá-lo para benefícios próprios. Os países em desenvolvi-mento, de outro, não estão satisfeitos com suas posições, mas costumam

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aceitar o regime internacional como algo determinado pelos países ricos. No entanto, o processo de criação de regimes tem mostrado que há espaço para manobras e barganhas, ou seja, os países em desenvolvimento podem obter maiores vantagens das normas internacionais.

A discussão sobre as distorções econômicas e sociais entre países tem permanecido concentrada muito em questões estruturais. De fato, não se pode negar que a conquista do desenvolvimento econômico exige a resolu-ção de dificuldades históricas e estruturais dos países. No entanto, em curto prazo, pode-se buscar uma maior influência nos principais centros de deci-são internacionais.

Enfim, economia (mercado), política (Estado) e direito (normas), em consonância, oferecem não só uma grande lição, como também possibili-tam a elaboração de uma alternativa viável para os Estados. Na verdade, a busca incessante pelo lucro, a síndrome do crescimento econômico a qual-quer preço, a perda da autonomia na elaboração e na execução de políticas domésticas e a existência de normas internacionais que não atendem aos interesses coletivos são algumas lições que devem ser aprendidas do passado e evitadas no futuro. Dito de outra forma, a busca do desenvolvimento econômico sustentável compartilhado, a criação de políticas domésticas que levem em consideração à realidade interna de cada país, a participação ativa na elaboração e na implementação de regimes internacionais são caminhos que podem ser buscados pelos países.

Referências

ARCHIBUGI, D. Models of international organization in perpetual peace project. Review of International Studies, Cambridge, v. 18, p. 295-317, 1992.

BLOCH, M.; PARRY, J. Money and the morality of exchange. Cambridge: Cambridge University Press, 1989.

CASTRO, M. F. Democracia, políticas sistêmicas e política pós-internacional. In: I CONGRESSO BRASILEIRO DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS, 24-26 de março de 1998, Brasília. Mimeografado.

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DEACON, Bob. Social policy in a global context. In: HURREL, A.; WOODS, N. (Orgs.). Inequality, globalization and world politics. Oxford: Oxford University Press, 1999. p. 211-247.

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STRANGE, S. Political economy and international relations. In: BOOTH, K.; SMITH, S. International relations today. Pennsylvania: The Pennsylvania State University Press, 1995, p. 154 – 174. TEUBNER, G. Global law without a state. Aldershot: Dartmouth Publishing, 1997.

WEBB, M. C. The political economy of policy coordination: international adjustment since 1945. New York: Cornell University Press, 1995.

Abstract: the aim of this article is to analyze issues like global economy and international institutionalization. Preceded by ideas that articulate politics, economics and law, this essay offers some reflections about choices and consequences and argues that institutions influence choices.

Key words: globalization, economics, politics, law, international regime, institutionalization

ANDRÉA FREIRE DE LUCENA

Doutora em Relações Internacionais pela Universidade de Brasília. Professora no curso de graduação em Relações Internacionais e no Mestrado em Direito, Relações Internacionais e Desenvolvimento da Universidade Católica de Goiás e no curso de Ciências Econômicas da Universidade Estadual de Goiás.

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