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Mestiçagem, linhagem e sexo nos romances de Rudolfo Anaya

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Academic year: 2021

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João de Mancelos

(Universidade Católica Portuguesa, Viseu)

Palavras-chave: Mestiçagem, literatura mexicano-americana, Rudolfo Anaya Keywords: Mongrelism, Mexican American literature, Rudolfo Anaya

1. Cruzamentos e paralelos

O que representa ser-se mestiço no Novo México, entre tantas encruzilhadas étnicas, linguísticas, culturais e históricas? Será a mestiçagem um fator de desidentidade? Ou, pelo contrário, um motivo de orgulho e coesão? Quais as atitudes perante o hibridismo cultural e a identidade de fronteira? Rudolfo Anaya, um dos mais célebres romancistas mexicano-americanos dos nossos dias, medita sobre estas questões:

We are split by ethnic boundaries (…). We are a border people, half in love with Mexico and half suspicious, half in love with the United States and half wondering if we belong. We have been rejected by our Spanish father, forgotten by our Indian mother, and feel unwanted by a stepmother who passes English-only laws, lights up the border, and proposes laws denying education and health care principally to the children of our Mexican people who come here seeking work. (Anaya, 1995: XVI, XVII)

Interessado em equacionar estes dilemas socioculturais, Anaya coloca a problemática da mestiçagem e da estirpe em diversos dos seus romances, particularmente em Heart of Aztlán (1976), Alburquerque (1992), Rio Grande Fall (1996) e Shaman Winter (1999). Neste ensaio, tenciono mostrar que o universo ficcional deste autor ecoa os preconceitos e valores ligados ao fenómeno do hibridismo, revelando contradições e apontando mudanças na mentalidade. Para tanto, refiro determinados passos destas obras; interpreto-os à luz da Sociologia e do Feminismo chicano; e solicito a opinião de pensadores como Angel Vigil, Rafael Pérez-Torres e Gloria Anzaldúa, entre outros.

1 Mancelos, João de. “Mestiçagem, Linhagem e Sexo nos Romances de Rudolfo Anaya”. Estudos em Homenagem a Margarida Losa. Org. Ana Luísa Amaral, e Gualter Cunha. Porto: Faculdade de Letras da

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2. O processo de miscigenação do chicano

O chicano resulta de um cruzamento em massa entre uma grande variedade de grupos étnicos. Da miscigenação entre ameríndios e hispânicos resultaram os mestizos; entre negros e hispânicos, os mulatos; entre negros e ameríndios, os zambos. Ao longo dos tempos, essa variedade foi hierarquizada com base no tom da pele (os de tez mais clara eram tidos como superiores aos de pele escura), na ascendência (ter uma linhagem europeia é uma fonte de prestígio; ignorá-la ou ter ascendência africana, um motivo de chacota), e no sexo (as mulheres são consideradas inferiores aos homens, e as mulheres casadas superiores às solteiras) (Vigil, 1998: 3).

O processo de miscigenação foi moroso e decorreu em diversas etapas. Num primeiro momento, que se inicia em 1521 com a queda do império asteca, a mestiçagem é ainda rara e apenas fruto de encontros ocasionais entre os europeus e os indígenas. Com o passar dos anos e a constatação de que não havia mulheres hispânicas em número suficiente no Novo Mundo, os colonizadores começam a casar-se com ameríndias. Preferem, em primeiro lugar, as princesas astecas; depois, as damas nobres; e, finalmente, as plebeias. Encorajados pela Igreja e pela corte, estes cruzamentos multiplicam-se e tornam-se comuns.

Um segundo momento ocorre três séculos mais tarde, a partir de 1848, com o fim da guerra entre os Estados Unidos e o México. A nova colonização proporcionou o contacto entre os habitantes locais e os recém-chegados euro-americanos e negros, daqui resultando diversas mestiçagens.

Graças às sucessivas migrações de outras etnias para o território do Novo México — asiáticos, por exemplo —, e à facilidade de deslocação, passa-se a uma terceira etapa, ainda em curso, e da qual resulta uma miscigenação variada (Pérez-Torres, 1998: 154).

O resultado destes três momentos é uma múltipla combinação de sangues, como explica o narrador do romance Zia Summer (1995):

La Nueva Mexico was becoming the crossroads of the southern belly of the continent, the womb. Here all could mix, produce the mestizaje, and here all could make war against each other. To the northern Rio Grande came the Comanches, Navajos, Utes, Apaches, Mexicanos, farmers and hunters, Catholics and converted Jews, peninsular Spaniards and criollos, mestizos and genizaros, all came to the land of the Pueblos. Then arrived the Americanos, the Anglos, the gringos, gringos salados, gabachos, gueros. (…) This mixed bag began to call themselves New Mexicans. (Anaya, 1999: 227)

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do Novo México, embora o termo chicano e a condição a ele inerente possam ser rejeitados, aceites, ou ignorados. Na sociedade mexicana-americana, algumas pessoas proclamam-se “chicanos hasta los huesotes”, e têm orgulho na sua etnia, enquanto outras, sobretudo as pertencentes às gerações mais novas, rejeitam a sua herança. Anaya encontra-se entre os primeiros, elogiando pari passu a mestiçagem de sangues e de culturas. Numa entrevista concedida a Feroza Jussawalla e Reed Dasenbrock, o romancista afirma:

The New World person is a person of synthesis, a person who is able to draw, in our case, on our Spanish roots and our native indigenous roots and become a new person, become the Mestizo with a unique perspective. That’s who we are and how we define ourselves. (Jussawalla/Dasenbrock, 1992: 247)

3. A (re)criação

Este orgulho étnico é bem visível e transparece em inúmeros passos da obra de Anaya. Em Shaman Winter, por exemplo, o autor inspira-se na parábola de Adão e Eva para descrever poeticamente o nascimento da raza: o conquistador espanhol Andres Vaca, um antepassado de Sonny Baca, apaixona-se pela ameríndia Owl Woman (Anaya, 1999: 10). Andres sente que não a conheceu por mero acaso, mas sim devido à intervenção da Virgem Maria, que lhe aparecera em sonhos, vestida de azul, e lhe ordenara que fosse para norte, ao encontro do seu destino (Anaya, 1999: 6). Vaca viaja nessa direção com os seus companheiros de armas e aguarda ansiosamente o momento da revelação, que tem lugar junto a um lago, onde Owl Woman se refrescava, nua. Andres observa-a, maravilhado, sentindo-se como Adão a contemplar Eva no paraíso — um momento descrito com palavras de sortilégio, a atestar toda a capacidade que Anaya tem para criar ambientes oníricos:

Andres stood transfixed by her beauty. The woman had seen him bathing, which meant they had chosen to be there. She was coming to him, her full beauty revealed in her nakedness, holding in her hands the black bowl he had seen. Instinctively he covered himself. He felt like Adam looking at Eve in the Garden of Eden. Yes this was truly Eden. This great river that flowed from el norte was the holy river that flowed through the garden. This pristine desert around them was still warm with the heat of the day. Birds warbled in the mesquite bushes and sang joyously in the cottonwoods along the riverbank. Eden, Andres Vaca thought, I have come to the gate of Eden. (Anaya, 1999: 10)

A jovem Owl surpreende-o no seu fascínio, aproxima-se dele, e aspergindo-o, determina: “Con esta agua bendita, tu eres mi esposo” (Anaya, 1999: 11). Este gesto simbólico

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não constitui apenas um ritual de batismo e de casamento, como explica o narrador, mas também uma cerimónia de imersão cultural e de aceitação do outro. Por um lado, o conquistador Andres mergulha no mundo asteca; por outro, a ameríndia usa o castelhano, a língua do invasor, para com ele comunicar, aceitando, deste modo, a sua cultura. Do encontro resultará a paixão entre ambos os jovens, e do ato amoroso nascerá, segundo o mito criado por Anaya, a etnia chicana.

4. Sonny Baca: chicano hasta los huesotes

O herói da tetralogia policial de Anaya, o detetive Sonny Baca, é um descendente desses amantes, o Adão e a Eva chicanos, e também do célebre Elfego Baca, nascido em 1865, que se notabilizou na luta contra os fora-da-lei de Socorro County. Conta-se que aos dezanove anos conseguiu repelir oitenta cowboys, e que desarmara até o revolucionário Pancho Villa (Olmos, 1999: 104).

Sonny é descrito como um “Nuevo Mexicano, a mestizo from the earth and blood of the Hispano homeland, which was also the Pueblo Indian homeland” (Anaya, 1999: 128). Anaya condensa numa só personagem várias das características vulgarmente associadas ao mexicano-americano, ao apresentar ao leitor o detetive como um homem bem-humorado e folião, amante dos prazeres da vida e da boa cozinha, com mais coragem do que juízo, e que resolve os casos não isoladamente, mas sim com a ajuda da comunidade. A decisão de seguir a carreira de detetive, após ter concluído um curso superior, deve-se à sua sede de ação, e à capacidade de imaginar histórias em que ele próprio é o protagonista.

Na âmbito do tema predominante em Anaya (a busca da identidade pessoal e étnica), Sonny assume-se como um acérrimo defensor da cultura e da raza. Como tal, no romance Rio Grande Fall (1996), o detetive celebra, a um tempo, o orgulho étnico, a mestiçagem e a beleza morna da mulher chicana:

He looked at the two women [Rita e Lorenza], both daughters of the Albuquerque Rio Grande valley. Daughters of the old Hispanos, Mexicanos, and Indians of the valley, a blend of genes that over two centuries had produced what Sonny thought were the most beautiful women on earth. The full-bodied, brown skinned Nueva Mexicana woman, a mestiza with the beauty of the earth and sky in her soul. (Anaya, 1996: 5)

5. Inventar uma linhagem

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dentro da etnia continua a ser visível nos dias de hoje (Vigil, 1998: 3). Anaya não deixa de refletir e denunciar estas situações no universo romanesco. Em Alburquerque, por exemplo, explora o preconceito em relação aos filhos de chicanos e de Anglos, também conhecidos por coyotes. Como descende de uma euro-americana, Cynthia Johnson, e de um mexicano-americano, Benjamín Chávez, Abrán apresenta feições diferentes das dos seus colegas. Por esse motivo, na escola e na rua, os companheiros não hesitam em questionar a sua identidade, ridicularizando-o: “You are not Mexican, güero, they teased, and that hurt more than anything” (Anaya, 1994: 21).

A revelação da etnia da mãe e da identidade do pai leva Abrán a verificar que é, de facto, um “half Anglo, half Mexican” (Anaya, 1994, 30). Fora esta a razão principal que levara o seu avô, Walter Johnson, a ocultar a gravidez não planeada de Cynthia, e a tentar convencê-la a abortar. Quando verifica que a neta pretende ter a criança, envia-a para o campo, bem longe dos olhares curiosos e dos possíveis comentários da comunidade.

Ironicamente, o mesmo Johnson que despreza o neto mestiço, casara com Elvira (Vera), uma descendente de marranos, judeus da Península Ibérica que se tinham convertido ou fingido converter. Em dado momento, Johnson sente necessidade de libertar a mulher de todo e qualquer traço de judaísmo, dado que tal o prejudicava nos negócios e o impedia de se misturar com a fina nata dos Anglos de Albuquerque. Nesse sentido, encontra uma estratégia para limpar o sangue de Vera: manda publicar um artigo num jornal de grande tiragem, louvando as fictícias origens aristocráticas da esposa. Para dar credibilidade a estas afirmações, obtém uma nova certidão de batismo para Vera e uma carta genealógica falseada. O expediente resulta em pleno, e a comunidade recebe-os no seu seio, permitindo que vivam na zona nobre da cidade e que se socializem com as famílias mais antigas e conceituadas (Anaya, 1994: 231).

Um outro caso elucidativo de invenção do sangue e da linhagem é o de Frank Dominic, um político local, candidato à presidência do município. Este conhece a importância que os chicanos dão a uma boa ascendência:

The Spanish legacy was a vision that many grasped for, and many a nut in New Mexico had spent his life’s earnings trying to find his link to a Spanish family crest. Dreams of blue blood, visions of the Alhambra, and Spanish conquistadores. (Anaya, 1994: 72)

No entanto, Dominic é um mestiço, descendente de uma italiana e de um homem provavelmente mexicano. Com o intuito de melhorar a sua linhagem, recorre ao subterfúgio de casar com Gloria, supostamente ainda da família do duque de Alburquerque. A estratégia permite que sobre ele recaia o prestígio genealógico da mulher, e Dominic tira daí todos os

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dividendos possíveis, assumindo-se, não sem arrogância, como um novo duque: “The myth of the Spanish blood had come full circle” (Anaya, 1994: 273).

Johnson protagoniza uma terceira situação de fabricação da ascendência. Consciente da falta de prestígio da sua linhagem, decide abandonar a terra natal, esquecer o passado, e reinventar-se: “Walter Johnson identified with that Jewish sailor sailing from the port of Cádiz four hundred years earlier. The only difference was that Johnson arrived from the dregs of Chicago. Each had given up his past to create a new life, each had given up his heritage” (Anaya, 1994: 43). Johnson leva o projeto tanto a sério que até adota um novo nome próprio (Walter) inspirado na marca de tabaco Walter Raleigh, que vira alguém fumar no comboio (Anaya, 1994: 43). Livre da vida anterior, parte à conquista do que sempre desejara e nunca tivera: o poder.

Nenhum destes três casos ficcionais surpreende, e todos eles ecoam o que se passa no universo real: mesmo num meio geográfico como a cidade de Albuquerque, um verdadeiro caleidoscópio multicultural, a discriminação intra e extrarracial continua a existir. Alguns chicanos assumem a sua condição de mestiços com orgulho ou naturalidade, enquanto outros a sentem como uma impureza de sangue e procuram ocultar a sua linhagem.

6. O sexo no Novo México

A questão da mestiçagem torna-se mais interessante quando cruzada com a do sexo. O que significa ser-se mulher e mestiça no Novo México? Quantas diferenças cabem na diferença? E de que forma se concretizam? Nos romances de Anaya, a par de mulheres como Ultima, Lorenza ou Doña Tules, que granjearam o respeito e / ou o temor da sociedade, há personagens que são sexualmente discriminadas e até desumanizadas.

O romance Heart of Aztlán apresenta vários exemplos deste fenómeno, e foca situações comuns na sociedade patriarcal chicana. Clemente Chávez, o protagonista, foi despedido do emprego no caminho-de-ferro e, como tal, já não consegue sustentar os seus. Este facto é ultrajante para si, já que na cultura chicana cabe ao homem ser o ganha-pão da família. Despojado da sua autoridade masculina, Clemente volta-se para o álcool e para a violência, dirigida sobretudo contra as mulheres: bate na esposa Adelita, e ameaça as filhas.

Uma delas, Juanita, arranjou emprego à revelia do pai e passou a usufruir de alguma independência económica e pessoal. Tal leva-a a questionar o domínio de Clemente, e a enfrentá-lo com uma coragem e determinação antipatriarcal que raras vezes Anaya põe na boca das suas personagens femininas:

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around here! I work too! I have my own money! So I will come and go as I want, and nobody will rule me!’ She dared everyone with her glare and when her challenge was not disputed she marched triumphantly from the room. (Anaya, 1990: 38)

Também os jovens da comunidade (Chelo, Pato, Pete, Dickie, Willie e Jason, este último um dos filhos de Clemente) se sentem frustrados, num mundo em que a autoridade dos mais velhos é um peso, e o domínio WASP uma humilhação constante. Os rapazes desfecham a sua raiva sobre as golondrinas ou prostitutas, que vêm não como seres humanos, mas sim como meros objetos. Neste contexto, competem entre si para ver quem obtém mais favores sexuais das meretrizes e juram que nunca se casarão, para não terem de assumir as responsabilidades perante as esposas e a sociedade (Anaya, 1990: 47).

Claramente, nem sequer reconhecem às mulheres a mesma liberdade sexual, quando afirmam: “It’s all right for the man to screw around, but not the woman. That’s the way it’s always been” (Anaya, 1990: 46); “My old man says, keep the women home and keep them busy with children, and they’re happy” (Anaya, 1990: 47). Qualquer uma destas situações ficcionais é sintomática do poder patriarcal na cultura chicana, da forma como o sexismo é transmitido de pais para filhos, e da dupla discriminação que as mestiças enfrentam.

Na mesma linha, no ensaio Borderlands/La Frontera, a escritora Gloria Anzaldúa constata que na cultura chicana a mulher é vista como o outro, a Shadow-Beast do homem, e é sempre desprezada (Anzaldúa, 1997: 17). Anzaldúa enumera de forma dramática as humilhações sofridas pela mestiça, ao longo de três séculos:

The dark-skinned woman has been silenced, gagged, caged, bound unto servitude with marriage, bludgeoned for 300 years, sterilized and castrated in the twentieth century. For 300 years she has been a slave, a force of cheap labor, colonized by the Spaniard, the Anglo, by her own people (…). For 300 hundred years she was invisible, she was not heard. Many times she wished to speak, to act, to protest, to challenge. The odds were heavily against her. (Anaya, 1990: 22, 23)

Esta discriminação é motivada por todo um contexto cultural: a religião católica incita a mulher à obediência, instituindo como modelo a figura da Virgem Maria, pura, dócil, e submissa. Por seu turno, as próprias mães encorajam os filhos a baterem nas mulheres se estas forem rebeldes, fracas donas de casa ou callajeras (linguarudas). Finalmente, sobretudo nos meios rurais, a tradição diz que a menina se deve manter virgem até ao casamento, e aprender uma grande variedade de tarefas domésticas para melhor servir os futuros marido e filhos (Anzaldúa, 1997: 16, 17). Qualquer desvio a esta norma e a mulher pode ser publicamente envergonhada, insultada, e excluída da comunidade.

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Anzaldúa nota que a situação das mestiças lésbicas é ainda mais complicada que a das restantes mulheres, pois representam uma terceira margem: “The queer are the mirror reflecting the heterosexual tribe’s fear: being different, being other and therefore being lesser, therefore sub-human, in-human, non-human” (Anzaldúa, 1997: 18). Esta atitude discriminatória baseia-se no medo: a mestiça lésbica é vista como uma ameaça tanto para os homens como para as mulheres, porque põe em causa os pilares da ordem patriarcal, e desafia os binarismos sexuais da sociedade e da cultura hegemónica.

Contudo, Anzaldúa afirma que esta situação se pode transformar e que em boa parte tal cabe à mulher. Se não existir espaço para ela na cultura chicana, então deverá inventar a sua própria cultura, originando “a new mestiza consciousness, una consciencia de mujer, (…) a consciousness of the Borderlands” (Anzaldúa, 1997: 76). Para tanto, Anzaldúa propõe que a nova mestiça esteja em ambas as margens, isto é, que adote uma perspetiva e um pensamento inclusivista ao invés de um pensamento exclusivista, dito patriarcal:

The new mestiza copes by developing a tolerance for contradictions, a tolerance for ambiguity. She learns to be an Indian in Mexican culture, to be Mexican from an Anglo point of view. She learns to juggle cultures. She has a plural personality, she operates in a pluralistic mode — nothing is thrust out, the good and the bad and the ugly, nothing rejected, nothing abandoned. (Anzaldúa, 1997: 79)

Nesta linha, a mestiça vê-se na sua perspetiva e na perspetiva dos outros, e desenvolve um conhecimento profundo de si e do outro. É importante sublinhar este desejo de transcender os opostos, de tudo abarcar e compreender, de incluir ao invés de excluir. Tanto para Anaya como para Anzaldúa, só através da constatação da sua identidade e, ao mesmo tempo, da aceitação da diferença, o indivíduo se completa e existe como ele próprio na etnia, na linhagem, no sexo e opções sexuais. Trata-se, afinal, do reconhecimento das margens como parte íntegra do caleidoscópico terreno da identidade, na nação de nações feita.

Bibliografia

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Anzaldúa, Gloria. Borderlands/La Frontera: The New Mestiza. San Francisco: Aunt Lute, 1997. Jussawalla, Feroza, and Reed Way Dasenbrock. “Rudolfo Anaya”. Interviews with Writers:

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Pérez-Torres, Rafael. “Chicano Ethnicity, Cultural Hibridity and the Mestizo Voice”. American Literature: A Journal of Literary History, Criticism and Bibliography 70.1 (1998): 153-176. Olmos, Margarite Fernández. Rudolfo A. Anaya: A Critical Companion. Westport: Greenwood,

1999.

Vigil, Angel. Una Linda Raza: Cultural and Artistic Traditions of the Spanish Southwest. Golden: Fulcrum, 1998.

Resumo

o escritor mexicano-americano Rudolfo Anaya coloca a problemática da mestiçagem, estirpe e género em diversos dos seus romances, entre os quais Heart of Aztlán (1976), Alburquerque (1992), Rio Grande Fall (1996) e Shaman Winter (1999). Neste artigo, analiso como o universo ficcional deste autor ecoa os preconceitos e valores ligados ao fenómeno do hibridismo, revelando contradições e apontando mudanças na mentalidade. Para tanto, refiro determinados passos destas obras; interpreto-os à luz da Sociologia e do Feminismo chicano; invoco a opinião de pensadores como Angel Vigil, Rafael Pérez-Torres e Gloria Anzaldúa, entre outros.

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