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Nas asas do pavão

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Academic year: 2019

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(1)

Prá tic a s d e Le itura e Esc rita

Na s a sa s d o p a vã o : o te m a d o c o rd e l

e m ve rso s, c o re s, m úsic a e fo rm a s

7ª e 8ª sé rie s d o Ensino Fund a m e nta l

1

J

u st ifica t iva s

A defesa da leitura literária na escola tem sido feita por pensadores das mais diversas áreas. Entretanto,  ainda permanecem desafiadoras as questões: O que é a leitura literária? Como promovê‐la na escola?  

Buscando refletir‐agir sobre elas, nos limites dessas práticas, partiremos da ideia de que a leitura  literária só existe na relação direta do aluno com o texto. Trata‐se de uma relação básica, mas tantas  vezes desprezada “pelos usos e abusos da literatura na escola” 2. 

Falar sobre a literatura, tomar fragmentos dela para trabalhar atividades linguísticas, ou tomá‐la como 

ponto de partida para produções “avaliativas” (resumo, ficha de leitura, prova) são exemplos, já 

bastante condenados, de como fazer da literatura pretexto para outras aprendizagens que, além de às 

vezes serem pouco significativas, podem implicar resistência e aversão dos alunos a novas experiências 

de leitura. 

Então basta que o professor ofereça ao aluno a oportunidade de ler literatura na escola? Esse é outro 

equívoco igualmente perigoso. Não podemos ignorar que o grau de letramento literário da maior parte 

dos alunos ainda é pequeno, faltam‐lhes experiências de leitura literária, que lhes permitam “jogar” com 

o pacto ficcional que todo texto literário propõe, repetindo ou renovando um gênero. Além disso, a 

operacionalização das capacidades de leitura3, essenciais para a leitura de todo e qualquer texto, 

literário ou não, não tem sido garantida pela escolarização básica4. 

A leitura compartilhada, com foco nesses conhecimentos, parece‐nos ser um caminho, para que, com a 

mediação docente, os alunos possam descobrir o prazer diferenciado5, que a entrada no universo 

literário pode oferecer. Nada disso, pois, deve ser desarticulado da leitura do aluno. Pelo contrário, é em 

função dela que esses conteúdos merecem ser trabalhados. 

Nessa mediação, precisamos nos lembrar também de que a leitura do texto literário não pode encerrá‐

lo em si mesmo. Por sua própria natureza, o texto literário promove trânsitos para outros textos, 

inclusive os não verbais, convidando o leitor a avançar para além das linhas escritas. 

1 

Elaborado por Marisa Balthasar Soares. 

2 

A expressão foi emprestada do ensaio homônimo, de Marisa Lajolo (Globo. RJ/Porto Alegre, 1982). 

3 

Sobre capacidades de leitura, consultar: ROJO, Roxane. Letramento e capacidades de leitura para a cidadania. CD‐ROOM. Programa 

Ensino Médio em Rede, SEE‐SP/CENP, 2004. 

4 

Ver a leitura crítica de Roxane Rojo dos dados divulgados pelas avaliações oficiais de leitura (SAEB, PISA, ENEM) em “O insucesso escolar no Brasil 

do século XX – um processo de exclusão social” in Letramentos múltiplos, escola e inclusão social, da mesma autora. São Paulo: Parábola, 2009. 

5 

Acreditamos, com Jauss, que a fruição estética não nasce de um contato gratuito com o texto, mas na ação interessada do leitor sobre 

(2)

No caso de nossa escolha, a literatura de cordel, são ainda mais explícitos esses trânsitos: A “matemática” 

perfeita das sextilhas, os versos em redondilha maior e as rimas bem cuidadas do cordel remontam à 

literatura oral da Idade Média, com fortes vinculações com a linguagem musical; não sem razão, a viola 

ainda é a companheira preferida dos cantadores nordestinos, na declamação dos versos. Os temas e 

enredos dos romances têm muito do colorido e da dinâmica da cultura popular nordestina, com tal força 

que a recriação desses elementos pelo desenho levou a uma arte irmã: a xilogravura. Felizmente, muitos 

artistas e pesquisadores têm se voltado para a riqueza dessa tradição, em si multissemiótica, e têm 

procurado dialogar com ela por meio de canções, vídeos e documentários, resultando em materiais 

prenhes de possibilidades didáticas e de fácil acesso, o que os torna ainda mais interessantes. 

Para o aluno contemporâneo, cercado por signos de múltiplas linguagens, a exploração, bem mediada, 

desses textos pode favorecer, e muito, o gosto pela leitura literária, ao passo mesmo em que também  pode ser aprofundado seu grau de letramentos multissemióticos6.

O

bj e t ivos

– Favorecer leituras significativas de textos da literatura de cordel, por meio de atividades de leitura  compartilhada e de leitura individual, com foco no aprimoramento de capacidades de leitura; 

– Favorecer leituras significativas de textos  de diferentes linguagens, respeitando seus códigos e 

procedimentos específicos, que sejam interessantes para a compreensão da tradição do cordel; 

– Propiciar a experiência de criação artística, em linguagens verbal e não verbal, por meio de recriação  de versos e da produção de desenhos com técnicas da xilogravura aplicadas a material alternativo. 

P

r oce dim e n t os m e t odológicos

O  projeto  sugere  a  organização  do  trabalho  em  cinco  aulas  (sequenciais  ou  não,  conforme  a 

disponibilidade do professor), com momentos de leitura oral, pausas para questões que acionem 

capacidades de leitura e propostas de criação, em grupo e individual. Nessa dinâmica, é importante que 

o trabalho com as questões facilitadoras da compreensão e da crítica leitoras seja oral, em caráter 

colaborativo.  Igualmente  relevante  é  garantir  a  releitura,  que  certos  momentos  do  projeto  irão 

requerer. Lembramos, com Vincent Jouve, que desde que um texto seja minimamente construído, “a 

releitura não é apenas desejável: é necessária”7, para que o aluno possa exercitar conscientemente 

“diferentes passos” da ação complexa que é a leitura. 

Q

u a dr o sín t e se da s a u la s

(Professor: Avalie se a quantidade de aulas previstas está adequada ao seu ritmo de trabalho com os 

alunos. Caso haja necessidade, sugerimos que as aulas 1 e 4 sejam divididas em duas.) 

 

6 

A esse respeito, ROJO defende letramentos multissemióticos: “exigidos pelos textos contemporâneos, ampliando a noção de letramentos 

(3)

AULA 1  AULA 2  AULA 3  AULA 4  AULA 5 

O tema do cordel 

revisitado pela 

MPB. 

 

Primeira 

apreciação do 

cordel: animação  

A moça que  dançou depois de 

morta. 

(Re)conhecendo 

a literatura de  cordel: 

 

O documentário 

A saga do cordel  na terra do 

cacau.  

Os gêneros da 

literatura de  cordel: 

 

a peleja,  o ABC,  o cordel de 

circunstâncias. 

O gênero 

romance na 

literatura de  cordel: leitura e 

apreciação do 

folheto 

 

O Pavão  misterioso, de  José Camelo de 

Melo Rezende. 

Produção de 

gravuras a  partir do 

romance  

 

O pavão  misterioso. 

R

e cu r sos n e ce ssá r ios

QUANTIDADE  MATERIAL  VALOR 

ESTIMADO 

01  DVD (para gravação dos vídeos sugeridos)  R$2,50 

01  CD (para gravação da canção sugerida)  R$1,50 

01  CD Pavão misterioso, Vários Artistas. Bandeirantes, 2008  R$24,90 

(um exemplar 

por aluno) 

Folheto de Cordel: O pavão misterioso, de José Camelo de Melo 

Rezende. Editora Luzeiro. (http://www.editoraluzeiro.com.br/)  R$2,80 

(cerca de 4 

fls. por aluno)  Papel sulfite A4 (para a produção das gravuras) 

R$ 12,00 

(pacote com 

100 fls.) 

(quantidade 

de aluno x 10)  Fotocópias (dos textos)  R$0,12 (a cópia) 

02 

Cartuchos de tinta para impressora (um colorido e um preto, para a  impressão dos textos a serem fotocopiados e das 12 capas de folhetos  de cordel) 

 

 

Bandejas de isopor (podem ser reutilizadas ou compradas), 3 potes de 

tinta guache de diferentes cores, 10 rolinhos de pintura, palitos de 

diferentes tipos 

 

P

r ovidê n cia s n e ce ssá r ia s

– Reservar aparelhos para a exibição dos vídeos e para a audição da canção. 

– Baixar e/ou gravar com antecedência a canção e os vídeos sugeridos: 

(4)

*Canção: “Pavão mysterioso”: 

http://b.radio.musica.uol.com.br/radio/index.php?ad=on&ref=Musica&busca=pav%E3o&param1=home busca&q=pav%E3o&check=musica&x=50&y=6   

* Documentário: A saga do cordel na terra do cacau (7’32): 

http://www.youtube.com/watch?v=YzwIKkg4BJY   

*Duelo entre Ivanildo Vilanova e Raimundo Caetano (5’30): 

http://www.youtube.com/watch?v=zkcBZtcVgVA&NR=1 

* Características do ABC, segundo o cantador Leandro Tranquilino Pereira (3’07): 

http://www.youtube.com/watch?v=tB6bPwG6LhA 

* Cena do documentário Nordeste: cordel, repente e canção (1’08): 

http://www.youtube.com/watch?v=vlhpltN12DU 

* Animação: A moça que dançou depois de morta, de Ítalo Cajueiro (11’00): 

http://www.portacurtas.com.br/pop_160.asp?Cod=3144&Exib=1  

A arte do poeta cordelista e gravador J. Borges (7’03): 

http://www.youtube.com/watch?v=dQOtg_aV‐I4  

– Imprimir as seguintes capas de folhetos de cordel: 

O advogado, o diabo e a bengala encantada – Marcos Mairton; Reclamações do além – José Ribamar  Alves; A resistência do povo de Mossoró ao cangaço – José Ribamar Alves; Che, um guerrilheiro chamado  Guevara – J. Victtor; Pedro Malazartes e o urubu adivinhão – Klévisson Viana; O homem que pôs um ovo  – Evaristo Geraldo; História da donzela Teodora – Leandro Gomes de Barros; A defesa de Lampião – José  Augusto; Casamento e divórcio da lagartixa – Leandro Gomes de Barros; Proezas de João Grillo – João  Ferreira Lima; O batizado do gato – Arievaldo Viana; Santos padroeiros da Diocese de Santa Luzia – 

Manoel Tavares. 

(todas disponíveis em http://www.queimabucha.com/?pagina=cordeis&p=2)8.  

 

– Imprimir e fotocopiar os seguintes textos: 

* Letra da canção “Pavão mysterioso”; 

Excerto da reportagem de Janaína Rocha (transcrito adiante);  

8 

Quando esta atividade foi elaborada, o site estava disponível. Em 10/09/2009, o site estava fora do ar e a seguinte mensagem foi exibida: 

"Em breve novo site". Caso o site não esteja disponível por ocasião do desenvolvimento desta atividade, você pode adaptá‐la fornecendo 

(5)

*  Estrofes  finais  do  folheto  Morte,  saudade  lembrança  de  Severino  Ferreira 

(http://adercego.blogsome.com/2007/05/23/acrosticos/);  

ABC da saudade 

 (disponível em http://www.arteducacao.pro.br/Cultura/cordel/cordel8.htm); 

Michael Jackson para sempre 

(disponível em http://recantodasletras.uol.com.br/cordel/1668970); 

* Acordo ortográfico e as mudanças no português do Brasil  

(disponível em http://mundocordel.blogspot.com/search?q=acordo+ortogr%C3%A1fico). 

A

çõe s

Au la 1

O t em a do cordel revisit ado pela MPB: audição da canção

e apreciações com part ilhadas em roda de conversa

(Professor: A dissociação da leitura da canção em três etapas é uma organização didática, que busca 

auxiliar os alunos a tomar consciência da complexidade que há na leitura, especialmente quando há 

mais de uma linguagem no texto, e de como os sentidos são processualmente construídos.) 

1º PASSO – A linguagem musical e a construção dos sentidos 

Ouça com os alunos a canção “Pavão mysterioso”, de Ednardo. Você pode optar pela interpretação do 

próprio compositor (álbum O romance do pavão mysteriozo, 1974) ou pela de Fernanda Takai (Álbum 

Um barzinho, um violão, 2008), que é mais conhecida do público jovem.  

• Converse com os alunos sobre a música, cuidando para que o foco, nesse primeiro momento, seja 

especificamente sobre a linguagem musical: Quais são os instrumentos percebidos? Em que 

gêneros  musicais  eles  são  comumente  usados?  Ela  é  mais  harmônica  (os  sons  das  notas 

combinam‐se com regularidade, permitindo o acompanhamento da melodia) ou desarmônica 

(maior complexidade na combinação  dos sons, sendo  difícil acompanhá‐la  com assobios ou 

palmas, por exemplo)? Que sensações ela despertou: alegria, tranquilidade, angústia, suspense? 

(Professor: Em sua mediação, procure garantir que os alunos construam a percepção da presença dos 

instrumentos típicos da música nordestina: o triângulo e a zabumba, na interpretação de Ednardo, e a 

sanfona, ou acordeão, na de Fernanda Takai. É importante também que eles percebam que a música é 

predominantemente  harmônica,  permitindo  nosso  acompanhamento,  mas  tem  momentos  de 

“extensão” de um mesmo som, o que dá a sensação de ruptura da harmonia e da tranquilidade e sugere 

a sensação de suspense.) 

 

(6)

2º PASSO – Os versos e a construção dos sentidos 

• Distribua  a  letra  da  canção  e  faça  mais  uma  audição  com  os  alunos,  pedindo  que  eles 

acompanhem silenciosamente, observando a integração entre os versos e os sons musicais. 

• Promova uma nova conversa: Que sentimentos eles tiveram ao prestar atenção também nos 

versos? Qual momento da música eles consideram mais dramático? O conteúdo dos versos desse 

momento também é dramático? 

• Peça aos alunos que leiam oralmente a primeira estrofe da canção. Faça sua leitura, dando ênfase 

aos sons representados pelas letras s e z. Peça que os alunos façam o mesmo. Questione: Vocês 

percebem as aliterações (repetições de um mesmo som consonantal)? Considerando o conteúdo 

dos versos, o que esses sons tentam imitar? Que ideias a palavra voar inspira: liberdade, medo, 

cautela? 

• Ainda em conversa, proponha questões que permitam o exercício de capacidades leitoras de 

compreensão textual: 

– Que palavras da canção rimam com voar? Todas essas palavras estão relacionadas ao eu lírico?  

– Quando as palavras fazem rimas, seus sentidos também ficam modificados, como se elas se 

completassem entre si. Que sentidos as ações do eu lírico podem ganhar, por fazerem rima com o  voar do pavão? 

– Que versos permitem inferir que o eu lírico corre perigo de vida? 

– Que tipos de pessoas podem estar implícitos no pronome “eles”, na terceira estrofe? Amigos ou  inimigos do eu lírico? 

(Professor: A partir das contribuições dos alunos, faça uma fala de sistematização, explicitando que há  na canção uma oposição de forças: de um lado, a ideia de liberdade no voar do pavão; de outro, a de  violência do conde raivoso e as pessoas referidas em “eles”. O eu lírico corre risco de vida e pede  proteção ao pavão: “Me poupa do vexame/ De morrer tão moço”. A maior dramaticidade desse pedido  acontece no momento em que o eu lírico pede ao pavão que tome ações mais drásticas, capazes de  destruir o que está errado: “Derrama essas faíscas/ Despeja esse trovão/ Desmancha isso tudo, oh!/  Que não é certo não...”. Ressalte também a beleza com que os versos imitam sonoramente o voar do  pavão; graças à aliteração dos sons representados pelas letras s e z, há a sensação de que as asas do 

pavão cortam o ar, em pleno voo. Por fim, destaque a identidade entre as ações desejadas pelo eu lírico 

– contar histórias, brincar, olhar – e o voar do pavão, por meio das rimas.) 

3º PASSO – A canção em seu tempo  

• Levante o que os alunos sabem sobre a música “Pavão mysterioso” e sobre o momento em que ela  foi produzida: Quem é o compositor? Em que ano a canção tornou‐se pública? O que acontecia na 

política  brasileira  de  então?  Que  relações  havia  entre  os  acontecimentos  políticos  e  as 

manifestações artísticas? (Se necessário, informe o ano em que o álbum foi lançado e, com  questões de mediação, contribua para que os alunos resgatem o que já sabem sobre o regime de  exceção, imposto pela ditadura militar, com o Golpe de 64.) 

• Distribua aos alunos cópia do seguinte excerto da reportagem de Janaína Rocha, publicada no 

(7)

“O álbum mais importante da carreira de Ednardo, O romance do pavão mysteriozo, foi lançado em 

1974. O disco foi impulsionado pelo sucesso da novela Saramandaia, que incluiu na sua trilha a canção 

“Pavão mysteriozo”, baseada no cordel de mesmo nome. "É um cordel que conheço desde criança, por 

intermédio de meu pai, um professor do interior do Ceará que tinha mania de contar muitas histórias 

para a gente. Por causa dessa lembrança, fui atrás do cordel, no Mercado Central, em Fortaleza", 

conta. "Inspirado nele, fiz um paralelo metafórico com a situação do Brasil na época, com a violência 

da ditadura. Foi um cordel moderno que contou muito sobre a história da nossa saída de Fortaleza até 

a chegada ao eixo Rio‐São Paulo." 

(reportagem integral disponível em http://www.ednardo.art.br/materi17.htm) 

• Peça que leiam silenciosamente, identificando a “fala” da jornalista e a do compositor Ednardo. 

• Oralmente, explore  com  os  alunos  as  relações  entre  a  canção e  sua  época:  Que  sentidos 

metafóricos, isto é, figurados, pode ter o voo do pavão da canção? E os versos “Um conde raivoso/ 

Não tarda a chegar”? 

• Coloque em debate: por que a canção escapou à censura? 

(Professor: É importante que os alunos percebam na canção o discurso de resistência e protesto contra 

a  ditadura  militar.  A  ideia  de  liberdade  defendida  metaforicamente  nela  escapou  à  censura, 

provavelmente, por ser representada por um pássaro misterioso, imaginário, recriado a partir do cordel. 

Assim, o discurso ganha a ambiguidade de tanto pertencer à fantasia artística quanto ao apelo da 

sociedade civil pelo fim da opressão e da censura. Não deixe de observar a provocação do poeta, certo 

de que os censores não compreenderiam essa pluralidade de significados: Eles são muitos, mas não 

sabem voar, isto é, olhar, brincar, contar histórias, experimentar a liberdade da criação.) 

4º PASSO – Apreciação livre da animação A moça que dançou depois de morta, de Ítalo Cajueiro,  

a partir da narrativa de J. Borges 

(disponível em http://www.portacurtas.com.br/pop_160.asp?Cod=3144&Exib=1) 

Crie expectativas pela continuidade do projeto: Vocês conhecem o cordel O pavão misterioso, que 

serviu  de  inspiração  ao  compositor?  Conhecem  literatura  de  cordel?  Informe  que  eles  terão 

oportunidade de saber mais sobre essa tradição e, inclusive, ler o folheto com a história do pavão, ao 

longo do projeto. Anuncie que, para iniciar a “viagem” pelo mundo do cordel, eles assistirão a uma 

animação cinematográfica feita a partir da história de cordel A moça que dançou depois de morta, de J.  Borges. Oriente‐os para que, além de aproveitarem bem essa história de arrepiar, tentem perceber que  elementos do cordel estão presentes nessa animação. Com isso você vai poder saber um pouco sobre os 

conhecimentos prévios que seus alunos já possuem sobre o gênero. Veja se eles percebem que a 

história é contada em versos, com acompanhamento de viola, e por meio de desenhos feitos em 

(8)

Au la 2

( Re) conhecendo a lit erat ura de cordel

1º PASSO – Levantamento de informações sobre as condições de produção e recepção da literatura de 

cordel, com base no documentário A saga do cordel na terra do cacau 

(disponível em http://www.youtube.com/watch?v=YzwIKkg4BJY) 

• Explique aos alunos que eles assistirão a cenas de um documentário sobre a literatura de cordel. 

Antecipe características desse gênero cinematográfico, que geralmente é pouco conhecido dos 

alunos: explique que, em vez de cenários e atores, a câmera focará espaços e pessoas, no caso, 

poetas baianos, que falarão da experiência de produzir cordel e declamarão textos. Alternando‐se 

aos  depoimentos,  haverá  telas  de  “chamadas”  e  animações,  que  permitem  organizar  o 

documentário em partes. 

• Reproduza a parte 1 do documentário e deixe que os alunos a assistam livremente. A seguir, em 

conversa, promova a manifestação das impressões deles: 

– É possível perceber em que partes o documentário se organiza? 

– As cores usadas nas animações e a trilha sonora combinam com o tema do documentário? 

– O que acharam de ouvir os próprios poetas falarem sobre o cordel? 

• A  seguir,  diga  que  eles  assistirão  mais  uma  vez  ao  documentário,  e  peça  que  observem, 

especialmente, os seguintes pontos (registre as questões orientadoras na lousa, mas é importante 

que os alunos não tenham a preocupação de anotá‐las; basta que acompanhem o documentário, 

focando a atenção e o interesse nessas informações): 

– Por que o cordel é considerado manifestação da cultura popular? 

– Quais as características do suporte folheto? 

– O que são versos em sextilhas? E rimas em xaxaxa? 

– Como são as ilustrações da literatura de cordel? 

– O que são versos acrósticos? 

– O que há de comum entre o cordelista e o repentista? 

• Ouça  o  que  os  alunos  apreenderam  do  documentário  e  faça  uma  fala  de  sistematização, 

valorizando as colocações deles e relacionado‐as. Garanta que eles percebam que o caráter 

popular do cordel tem a ver não apenas com os temas da cultura nordestina, mas com a 

organização das histórias em uma quantidade regular de versos, com rimas e métrica (cada verso 

tem o mesmo número de sílabas poéticas), que facilitam e tornam prazerosa a divulgação oral 

delas. Observe que, quando passou a ser impressa, a literatura de cordel manteve a estrutura em 

versos em um suporte simples (o folheto), feito de modo artesanal, até mesmo no processo de 

ilustrações em xilogravura, com baixo custo de produção e distribuição. Acrescente a informação 

de que os versos acrósticos, além de mostrarem a criatividade dos poetas mais “fecundos”, são 

também um modo de marcar a autoria dos versos. É como se o poeta cifrasse seu nome para seu 

(9)

• Transcreva na lousa a fala do poeta Gilton Thomaz: “Cordel é o gênero de cultura popular na região 

onde os poetas continuam na escrita a tradição dos cantadores repentistas com as mais belas 

histórias do cotidiano político‐social ou de sua imaginação”. A seguir, organize a sala em quatro 

grupos de trabalho e ofereça a cada um deles três das seguintes cópias de capas de folhetos de 

cordel: O advogado, o diabo e a bengala encantada – Marcos Mairton; Reclamações do além – 

José Ribamar Alves; A resistência do povo de Mossoró ao cangaço – José Ribamar Alves; Che, um 

guerrilheiro chamado Guevara – J Victtor; Pedro Malazartes e o urubu adivinhão – Klévisson Viana; 

O homem que pôs um ovo – Evaristo Geraldo; História da donzela Teodora – Leandro Gomes de 

Barros; A defesa de Lampião – José Augusto; Casamento e divórcio da lagartixa – Leandro Gomes 

de Barros; Proezas de João Grillo – João Ferreira Lima; O batizado do gato – Arievaldo Viana; 

Santos  padroeiros  da  Diocese  de  Santa  Luzia  –  Manoel  Tavares.  (todas  disponíveis  em 

http://www.queimabucha.com/?pagina=cordeis&p=2)9  

Ofereça tempo suficiente para que os grupos leiam as capas e busquem inferir do que tratará cada  história e, com base na fala do poeta, percebam qual deve ser o conteúdo predominante em cada uma  dessas histórias: cotidiano sociopolítico ou imaginário? Peça que cada grupo eleja um relator, que  deverá apresentar as capas, as inferências e análises feitas pela equipe.  

(Professor: Durante as apresentações, observe se os alunos fizeram inferências coerentes com os títulos  e as ilustrações das capas. Chame a atenção deles para a grande quantidade de temas que as narrativas 

de  cordel  exploram:  religião,  personalidades  e  eventos  históricos,  humor,  anedotas,  costumes  e 

tradições locais. Aproveite também para ouvi‐los sobre o que acharam dos títulos que os poetas deram  a suas histórias.) 

2º PASSO – Análise de recursos expressivos: versos acrósticos e rimas 

Distribua aos alunos cópia com as estrofes finais do folheto Morte, saudade e lembrança de Severino 

Ferreira  (disponível  em  http://adercego.blogsome.com/2007/05/23/acrosticos/),  de  Zé  Saldanha. 

Auxilie‐os a formular hipóteses sobre o texto: Com base no título, qual deve ser o tema do texto? Que  sentimentos o eu lírico deve ter por Severino Ferreira? A seguir faça uma leitura bem expressiva dos  versos e questione: Essas estrofes confirmam as expectativas levantadas? Peça que os alunos observem  as iniciais de cada verso: que mensagem está cifrada ali? Por quê, em vez de assinar o próprio nome,  como é comum na literatura de cordel, o poeta preferiu escrever o do amigo?  

• Explique aos alunos que a métrica do verso é a quantidade de sílabas poéticas que ele tem.  Diferentemente da divisão silábica tradicional, a poética considera a enunciação dos versos, por  isso a contagem é até a sílaba tônica da última palavra. Às vezes o poeta junta sons vocálicos em  uma mesma sílaba poética, às vezes os mantém separados, tudo depende do tipo de verso que ele  quer conseguir. 

• Explore a escansão da primeira estrofe, com o apoio da lousa: 

S o  brea   dí  vi  da   da   mor  (te) 

 1      2      3         4      5       6       7 

9 

(10)

A         no     ssa     vi       dae    quem    pa   (ga), 

U m    bom    a      mi      go    da      gen    (te) 

D a       que     les    quea    gen    tea    fa      (ga) 

A        mor    te      du      rae    mal       va     (da) 

D á‐    lhe   uma   boa     bor    do        a       (da) 

E      le    de       prés     sa    sea     pa       (ga) 

• Aproveite a transcrição feita na lousa para identificar as rimas. Para cada som diferente no fim dos 

versos, indique uma letra do alfabeto: ababccb (não se preocupe com os nomes desses tipos de 

rimas, lembre‐se de que o sentido desse passo é perceber os recursos poéticos e não classificá‐

los). Peça que os alunos identifiquem as rimas da segunda estrofe. 

 

3º PASSO – Recriando os versos: breves exercícios de autoria e apreciação 

Divida a sala em grupos e lance o desafio de que promovam duas alterações no texto (em qualquer das 

duas estrofes), sem que sejam desrespeitados a métrica (cada verso deve continuar com sete sílabas 

poéticas), a rima entre os versos (ababccb), o efeito acróstico (as iniciais dos versos devem continuar 

compondo a mensagem “Saudade de Severino”) e os sentidos que os versos originais sugerem. Os 

desafios são:  

1) A substituição de uma palavra em qualquer posição de um verso, por exemplo: 

D á‐   lhe    uma   boa    bor     do        a       (da)   

D á‐   lhe    uma   boa    ta        ba        ca       (da)   

D á‐   lhe    uma   só     bor      do      a       (da)   

2) A proposição de um verso novo, como nos  exemplos abaixo, em que a ação da morte sobre a vida é 

apontada de diferentes maneiras: 

A       mor    te        du       rae    mal     va     (da) 

De     se     nhao    fim      da      es     tra     (da) 

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• Após o término dos trabalhos, peça que os grupos declamem as novas versões e promova 

apreciações sobre elas: Atendem ou não ao desafio? Qual proposta é mais fiel aos sentidos 

originais do texto?  

(Professor: Valorize as propostas dos alunos, mesmo que elas estejam falhas em algum aspecto e, nesse 

caso, promova, em caráter colaborativo, a reescrita. O mais importante é que os alunos possam 

vivenciar regras da criação poética e a associação delas com intenções de sentidos.) 

Au la 3

Os gêneros da lit erat ura de cordel

1º PASSO – Características da peleja ou desafio, com base na audição do duelo  

entre Ivanildo Vilanova e Raimundo Caetano 

(disponível em http://www.youtube.com/watch?v=zkcBZtcVgVA&NR=1) 

• Inicie aula comentando a atividade anterior: observe que, além de seu caráter lúdico, a proposta 

trazia o desafio de manter a criação verbal dentro de uma estrutura prévia, que não poderia ser 

desrespeitada, e o de manter os sentidos sugeridos pelos versos originais, no caso a lamentação da 

morte do poeta Severino Ferreira e a celebração, por meio da própria poesia, de sua memória. 

Acrescente a informação de que há um gênero de cordel chamado desafio ou peleja. Nele, os 

poetas “duelam” com palavras, isto é, precisam criar, a partir de um tema ou de um mote, versos, 

dentro  de  um  esquema  de  métricas  e  rimas  predefinido.  Não  deixe  de  valorizar,  nessa 

apresentação, o mais surpreendente desse duelo: o fato de os poetas criarem seus versos de 

improviso! 

• Anuncie aos alunos que eles ouvirão a disputa entre Ivanildo Vila Nova e Raimundo Caetano, 

vencedores do 8º Desafio Nordestino de Poetas Cantadores. Informe que, além do áudio, haverá a 

exibição dos versos escritos.  

• Após a audição, converse com os alunos sobre suas primeiras impressões e observações: Qual dos  poetas canta seus versos com entonação mais “desafiadora”? O que eles acharam dos acordes de  viola acompanhando os versos? Quais são os versos que servem de mote? De que os poetas 

querem convencer o público ouvinte? 

(Professor:  Dentre  as  sugestões dos alunos, observe  se está  clara a ideia de que cada  cantador  argumenta em favor de si mesmo, a fim de provar que não há quem assuma o lugar dele.) 

Exiba mais uma vez a declamação da primeira estrofe e pause o vídeo, para que o texto verbal fique  exposto. Pergunte aos alunos quantos versos há, se percebem qual é a métrica seguida e como é o 

esquema de rimas; faça mediações caso haja compreensões diferentes desses aspectos. Registre o 

esquema de rimas na lousa, aproveitando para relembrar que cada terminação de verso deve ser 

indicada por uma letra do alfabeto (abbaaccddc). Exiba a segunda estrofe e promova a mesma análise. A 

essa altura, os alunos já devem ter percebido que há a mesma quantidade de versos (dez versos), a 

mesma métrica (cada verso tem dez sílabas poéticas) e o mesmo esquema de rima (abbaaccddc). 

Acrescente a informação de que, ao longo de todo o duelo, os poetas manterão esse “jogo” formal, para 

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• Faça mais uma exibição e peça aos alunos que observem como, apesar desse rigor da forma 

poética, os cantadores apresentam argumentos coerentes, criativos e muito bem‐humorados e 

como o público reage a eles. Abra mais uma rodada de conversa, perguntando pelos argumentos 

dos quais eles mais gostaram. Com base nas colocações dos alunos, faça observações sobre a 

originalidade dos argumentos empregados, aproveitando para destacar a mescla de tradição local 

com assuntos de interesse universal, como a sugestão de Ivanildo de que a clonagem seja usada 

para “copiar” seu perfil de campeão. 

2º PASSO – Características do ABC, segundo o cantador Leandro Tranquilino Pereira 

(disponível em http://www.youtube.com/watch?v=tB6bPwG6LhA) 

• Informe aos alunos que eles assistirão a um vídeo em que o poeta Leandro Tranquilino Pereira 

falará de outro gênero do cordel: o ABC. Após a exibição do vídeo, pergunte o que acharam do 

jogo de palavras e sentidos que o poeta faz com a palavra “cantador”. Depois pergunte o que 

aprenderam sobre o gênero ABC. Distribua cópia do texto ABC da saudade, de Luiz da Costa 

Pinheiro (disponível em http://www.arteducacao.pro.br/Cultura/cordel/cordel8.htm). Peça que os 

alunos localizem o verso que inicia cada estrofe e que observem como a primeira palavra de cada 

um deles vai compondo a sequência alfabética do texto. Coloque em questão a solução poética 

que o autor encontrou para suprir a ausência de palavras do português iniciadas com as letras K e 

Y (lembrar que, com a nova Reforma Ortográfica, essas letras agora fazem parte do alfabeto 

português). 

• Peça colaboração do alunos para uma leitura coletiva: diga que você precisará de vinte e cinco 

intérpretes  (procure  dar  ludicidade  à  divisão  dessa  tarefa,  sorteando  as  letras  entre  os 

colaboradores, por  exemplo). Oriente‐os para  que observem a métrica  e,  principalmente,  a 

entonação saudosa que os versos sugerem. Se quiser, você pode sugerir a mesma atividade, 

explorando apenas as estrofes iniciadas com as vogais; o importante é garantir que os alunos 

ouçam leituras do texto e “brinquem” com sua sequência alfabética. 

 

3º PASSO – O cordel de circunstância, características da temática 

 com base em textos do cordel contemporâneo  

(disponíveis em http://recantodasletras.uol.com.br/cordel/1668970 e 

http://mundocordel.blogspot.com/search?q=acordo+ortogr%C3%A1fico)   

Distribua cópia dos textos Michael Jackson para sempre e Acordo ortográfico e as mudanças no 

português do Brasil. Faça uma leitura bem expressiva de cada um dos textos e depois discuta com a 

turma: Quais são os temas de cada um dos textos? Quais as possíveis razões que teriam levado os 

poetas a escolher esses temas? Quais são as diferenças entre o tratamento que o poeta dá a esses 

temas e o que os gêneros jornalísticos dão? A partir das colocações dos alunos, faça uma fala de síntese, 

procurando  explicitar  a  ideia  de  que  o  cordel  de  circunstância,  apesar  de  tratar  de  temas 

contemporâneos  e  de  grande  interesse, não  perde o compromisso  de  trabalhar  poeticamente  a 

(13)

Au la 4

O gênero rom ance na lit erat ura de cordel: leit ura e apreciação do

rom ance O pavão m ist er ioso, de José Cam elo de Melo Rezende

1º PASSO – Relações intertextuais: a canção e a cena de um documentário,  

como facilitadores da compreensão inicial do romance 

(disponível em http://www.youtube.com/watch?v=vlhpltN12DU) 

• Inicie a aula recordando a canção “Pavão mysterioso”. Pergunte se os alunos se recordam em que 

texto  de  cordel  o  compositor  se  inspirou  para  criar  sua  canção.  Pergunte  também  pelas 

personagens que são citadas nela. Anote essas informações na lousa. 

• Diga que eles assistirão à cena de um documentário, Nordeste: cordel, repente e canção (produção 

de Tânia Quaresma, 1975), em que um cantador nordestino declamará as primeiras estrofes do 

romance O pavão misterioso. Aproveite para esclarecer que o gênero romance não tem como 

conteúdo apenas histórias de amor. Na verdade, o romance pode ter diferentes tramas narrativas: 

aventura, humor, mistério e, claro, também amor. 

• Oriente os alunos para que, nessa primeira exibição, procurem prestar atenção ao movimento que 

a câmera faz para focar o cantador. Após a exibição, proponha questões que permitam relacionar 

o movimento da câmera com intenções narrativas: Que movimentos a câmera faz? Que intenções 

deve haver nesse movimento de isolar o foco sobre o cantador e depois abrir lentamente? E, no 

segundo momento, por que a câmera isola novamente o cantador, faz um corte, e foca a cena de 

cima? A partir das colocações deles, faça mediações que os auxiliem a perceber como a câmera 

quer mostrar a integração do cantador na coletividade: é como se, na medida em que ela 

ampliasse o foco, fosse seguindo os movimentos dos versos, que do texto impresso se torna canto 

e  se espalha  pelos ouvintes/leitores.  Tanto  no primeiro  movimento, como  no segundo, ela 

mantém o cantador e o cordel no centro, como uma espécie de força atrativa, para, a partir dele, 

focar a participação silenciosa, mas muito interessada, do público. 

• Faça uma nova exibição do vídeo, pedindo que a atenção seja maior sobre a declamação e o 

conteúdo dos versos.  

• Permita que os alunos construam hipóteses sobre o texto a partir das primeiras “pistas” ouvidas: 

Quais personagens aparecem nesse início de texto? (Faça as anotações ao lado dos registros de 

personagens citadas na canção.) Pela entonação do cantador e pelo conteúdo dos versos, é 

possível  perceber  maior simpatia por algumas  personagens do  que  por outras? Retome  as 

anotações feitas na lousa e peça que os alunos identifiquem quais personagens a canção retirou  do cordel. Peça que falem das relações que perceberam ou inferiram haver entre as personagens  do romance. Faça mais uma exibição, para que os alunos possam checar essas hipóteses.  

• Faça uma fala de síntese, explicitando como esses versos iniciais já trazem vários elementos que  incitam nossa curiosidade para prosseguir na história: há um pavão misterioso que foi usado pelo  rapaz corajoso (provavelmente um dos filhos do turco capitalista: João Evangelista, o mais moço;  ou João Batista, o mais velho), para raptar uma condessa grega. Se o pai dos rapazes é generoso  com os filhos, o da moça é um conde severo e orgulhoso: não permite que ninguém converse com 

ela, a ponto de ser “morto o criado que dela ouvir a fala”. Como o rapaz corajoso conseguirá raptar 

(14)

aproveite as expectativas por elas geradas, para anunciar aos alunos que agora eles receberão a 

história inteira, na forma de folheto de cordel! 

2º PASSO – Leitura compartilhada do romance O pavão misterioso 

• Distribua  os  folhetos  e  incentive  os  alunos  a  reconhecer  o  que  já  aprenderam  sobre  as 

características do suporte, sua ilustração e os aspectos formais dos versos: peça que observem o 

tamanho, o formato do folheto e a qualidade do papel. Lembre‐os de como essas características 

permitem o baixo custo de produção do folheto. Observe que, diferentemente dos folhetos vistos 

nos documentários, esse não tem a ilustração da capa em xilogravura. Explique que isso se deve ao 

fato de essa edição ser feita por uma editora, com tiragem bem maior que as feitas, de modo 

artesanal, pelos próprios artistas. Peça que passem as páginas do folheto e que observem a 

quantidade de versos que se repetem em cada estrofe (são sempre seis versos ou sextilhas), a 

métrica desses versos (são todos em sete sílabas poéticas, os chamados versos em redondilha 

maior) e o esquema de rimas (resgate a fala da poetisa Janete Lainha, sobre o esquema xaxaxa, 

isto é, os versos 2, 4 e 6 rimam entre si; os versos 1, 3 e 5 não são rimados). Solicite que eles leiam 

a última estrofe do folheto. Pergunte quais hipóteses eles têm para o fato de essa estrofe não 

seguir formalmente as outras. Depois de ouvi‐los, acrescente que, segundo pesquisadores, o texto 

original foi criado por José Camelo de Melo Rezende, por volta de 1920, e era divulgado oralmente 

pelo próprio autor. João Melchíades Ferreira, aproveitando a necessidade de José Camelo em ficar 

fora do Estado da Paraíba por algum tempo, teria publicado o texto como seu. Quando retornou, 

José  Camelo  reclamou  a  autoria  do  texto  e  publicou  sua  história  em  versão  impressa, 

acrescentando a estrofe de dez versos, que pede a justiça de Deus e, por efeito acróstico, marca 

seu nome na história. 

• Anuncie que você contará a história e peça que todos a acompanhem pelo folheto. Leia com 

tranquilidade (não se preocupe em declamar como os cantadores, mas dê entonação significativa  ao texto) até a última estrofe da página quatro. Crie expectativas em torno do objeto que o irmão  viajante trará de presente ao outro, questionando: Que presentes as pessoas comumente trazem  quando voltam de viagens? E João Batista, o que poderia comprar para o irmão mais novo?  Prossiga até a página 9, penúltima estrofe, e discuta com os alunos: O que está implícito no verso  “Precipício não convém!”? Articule as colocações dos alunos, garantindo que se lembrem de que o  pai esconde a filha em um sobrado e proíbe qualquer contato com ela, ameaçando de morte até 

mesmo os criados da casa que ousarem falar com ela. Prossiga até a página 12, última estrofe.  Promova novas expectativas: O que o engenheiro pode criar para ajudar João a falar com a 

condessa? Problematize as hipóteses que aparecerem à luz da coerência do texto (um telefone, 

por exemplo, não ajudaria o rapaz, pois não haveria como deixar um aparelho no quarto da moça; 

promova, assim, a percepção da dificuldade do obstáculo que o rapaz precisa vencer com o apoio 

do engenheiro, daí a disposição em pagar o que o engenheiro quiser). Retome a leitura do texto 

até a página 21, até a segunda estrofe, e abra novamente uma discussão para construção de 

hipóteses e antecipação de conteúdos: Vocês acham que Creusa, finalmente, fugirá com João 

Evangelista ou obedecerá, mais uma vez, ao pai? 

 

 

 

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3º PASSO – Leitura silenciosa do romance O pavão misterioso e compartilhamento de questões de 

apreciação 

• Aproveite essa suspensão da narrativa para trocar a dinâmica de leitura. Peça que os alunos leiam  silenciosamente a continuidade da narrativa e coloque‐se à disposição deles, caso precisem de  apoio em alguma passagem do texto. 

• Após a conclusão das leituras, promova questões de apreciação: O que mais os surpreendeu na 

história e por quê? Qual das personagens tem seus valores transformados? Que relações pode 

haver entre o modo como Creusa foi criada pelo conde e o modo como a maior parte das 

mulheres era educada no Nordeste brasileiro do início do século XX?  

• Que aproximações podem ser feitas entre o “Pavão mysterioso” da canção de Ednardo e o pavão 

feito pelo engenheiro?  

(Professor: Os alunos deverão ter notado como, tanto no cordel quanto na canção, o pássaro não é um 

pavão comum. No romance, ele é uma criação tecnológica, mas revestida da fantasia da ave simbólica. 

Na canção, apesar de haver mais referências a uma ave comum, o aspecto mágico é garantido pela 

ligação que há entre o eu lírico e o voo da ave. O traço mais comum entre o pavão do cordel e o da MPB 

é a função libertária que eles têm: em ambos os textos, os pássaros servem de instrumento para 

enfrentar a opressão e a tirania. Entretanto, no cordel essa função é explorada e leva à libertação da 

condessa; já na canção, o voo libertário do pavão é ainda um desejo a ser conquistado pelo eu lírico, 

uma inspiração, e nem poderia ser diferente, dada a intenção do compositor em se posicionar no seu 

momento histórico.) 

Au la 5

Produção de gravuras a part ir do rom ance O pav ão m ist erioso

1º PASSO – A valorização do imaginário no cordel e na xilogravura, questões de apreciação do vídeo A 

arte do poeta cordelista e gravador J. Borges, de Laurita Caldas  

(disponível em http://www.youtube.com/watch?v=dQOtg_aV‐I4) 

• Pergunte aos alunos se eles se recordam do nome do poeta que escreveu o romance A moça que 

dançou depois de morta, que eles conheceram pela animação de Ítalo Cajueiro. Diga que eles 

assistirão a um vídeo com o depoimento desse artista, J. Borges, considerado o nome mais 

importante na tradição da xilogravura brasileira. Peça que observem os espaços que a câmera 

percorre até chegar ao espaço de trabalho de J. Borges e seus filhos. Oriente‐os também para que 

procurem compreender a concepção de cordel de J. Borges, o que ele mais valoriza em sua arte. 

• Promova a apreciação dos alunos: Pergunte o que acharam do vídeo, do percurso que a câmera 

faz, dos espaços que ela integra? E sobre o depoimento de Borges: O que ele quer dizer com a fala 

“O cordel bom mesmo é o cordel mentiroso. O cordel que se consagra, que o povo gosta, é a 

mentira. O cordel real ele não dá nem oito dias de sucesso, o povo já sabe da história e acaba com 

aquilo, não quer saber mais. Agora a mentira mesmo é que continua durante séculos”. E vocês, o 

que  pensam:  qual  história  de cordel  é  melhor: a  de  circunstância  ou  a  imaginada?  E  das 

xilogravuras vistas: alguma chamou mais a atenção de  vocês? Pergunte se  reconheceram  o 

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próximo de nós? Por quê? Na representação do pavão misterioso, quais os traços que lembram 

uma ave e quais lembram  uma  máquina de  voar? Quais  outros  aspectos dessa  xilogravura 

permitem dizer que ela tem mais compromisso com a “mentira” do que com a “verdade”? 

2º Passo – Produção de gravuras na escola: a exploração de materiais alternativos 

(Para esta atividade, seria muito interessante o apoio do professor de Artes. No blog publicado em  http://conectmar.blogspot.com/2008/07/carimbo‐de‐isopor.html,  você  encontrará  orientações 

didáticas para a realização da “isoporgravura”.) 

• Converse com os alunos sobre as dificuldades na produção da xilogravura: Pergunte se deve ser 

fácil conseguir madeira, se o artista pode trabalhar com madeira de origem desconhecida, quais 

problemas podem ser encontrados se a madeira for de extração ilegal. Questione também as 

especificidades da técnica: Deve ser fácil talhar traços tão delicados em material duro como a 

madeira? A seguir, anuncie que, dadas  essas dificuldades, próprias da xilogravura, eles irão 

trabalhar com outra modalidade de gravura, própria para experimentar a técnica de desenho em 

baixo relevo para impressão com contraste, mas com material alternativo: bandeja de isopor.  

(Professor:  Você  pode  sugerir que  os  alunos  façam  a reutilização de bandejas  que condicionam 

alimentos. Nesse caso, seria necessário combinar com antecedência a providência e a higienização do 

material, que não pode conter ranhuras profundas, para que não haja interferência na qualidade da 

impressão. Se você considerar mais conveniente trabalhar com bandejas novas, procure‐as em casas de 

embalagens.) 

• Peça que escolham uma personagem ou uma cena do romance, que releiam versos que tratam 

dela e imaginem como seria possível “falar” desse mesmo conteúdo por meio do desenho. 

Combine com os alunos: os desenhos serão expostos e comentados pela classe. 

• Organize  a  sala  de  modo  adequado  para  o  manuseio  do  material  e  inicie  a  oficina  de 

“isoporgravura”, conforme as orientações que estão no site acima indicado. Você pode deixar 

como trilha sonora para o processo de criação dos alunos o CD Pavão misterioso (Gravadora 

Bandeirantes, 2008), em que vários artistas, com destaque para Antonio Nóbrega, interpretam 

canções feitas (dentre elas, a belíssima “Cantiga da moça cativa”) para uma adaptação teatral do  romance de cordel.  

• Após os términos dos trabalhos, promova uma conversa final, para que os alunos avaliem o que 

acharam da experiência, contem em que passagem do romance eles se inspiraram e como foi 

“falar” disso por meio do desenho. Se for o caso, aproveite para sugerir que eles combinem uma 

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