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A NEGLIGÊNCIA DO ARTIGO 45 DA LEI 8.213/91: Diferenciação de Aposentados na mesma condição? | Anais do Congresso Acadêmico de Direito Constitucional - ISSN 2594-7710

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Academic year: 2021

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Anais do I Congresso Acadêmico de Direito Constitucional da FCR Porto Velho/RO 23 de junho de 2017 P. 266 a 280 Letícia Palácio Eller1 Denivaldo S. Paes Júnior2

RESUMO

Restringir o benefício na aposentadoria a uma parcela específica de aposentados, atenta contra princípios importantes previstos na Constituição Federal, pois estaria concedendo privilégios a um grupo específico, aumentando, dessa forma, a desigualdade entre os iguais. Mesmo com uma estrutura de leis, códigos e todo o cenário da justiça, há falhas que atentam contra princípios do direito, tais como, da isonomia e dignidade da pessoa humana, considerados fundamentais previstos pela nossa Magna Carta. Ao analisar a Lei nº 8.213/91 e observar casos concretos, é possível que o benefício previsto na lei alcance as demais modalidades de aposentadorias em que o aposentado demonstre a necessidade do auxílio acompanhante, tanto quanto os aposentados por invalidez. Diminuindo, dessa forma, drasticamente as desigualdades entre os necessitados do benefício, passando a observar o requisito principal que é a incapacidade e a necessidade de ser assistido por terceiro, e não mais um ponto específico, que é ser aposentado por invalidez ou doença grave.

Palavras-chave: Aposentados. Espécie de Aposentadoria. Princípios Fundamentais. Previdência Social.

ABSTRACT

To restrict the retirement benefit to a specific portion of retirees, violates important principles set forth in the Federal Constitution, since it would be granting privileges to a specific group, thus increasing inequality among equals. Even with a structure of laws, codes and the whole scene of justice, there are flaws that violate principles of law, such as the isonomy and dignity of the human person, considered fundamental

1

Acadêmica do Curso de Direito da Faculdade Católica de Rondônia. E-mail: leti_eller@hotmail.com

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Docente da Disciplina de Direito Previdenciário do Curso de Direito da Faculdade Católica de Rondônia. E-mail: juniorpaes@hotmail.com

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foreseen by our Magna Carta. When analyzing Law nº 8.213 / 91 and observing specific cases, it is possible that the benefit provided by law will reach the other modalities of retirement in the retiree demonstrates the need for accompanying assistance, as well as retirees due to disability. Thus, it would drastically reduce the inequalities between those in need of the benefit, observing the main requirement is the incapacity and the need to be assisted by a third party, and no longer a specific point, which is to be retired due to disability or serious illness.

Keywords: Retired. Kind of Retirement. Fundamental Principles. Social Security .

INTRODUÇÃO

O aposentado tem direito a um adicional de 25% (vinte e cinco por cento) do salário-de-benefício, ficando restrito aos casos de aposentados por invalidez ou por doença grave. Porém, não estaria a Lei ferindo um direito do ser humano, seja ele aposentado por idade ou por tempo de contribuição, que venham a precisar do benefício?

Diante disso, o presente estudo tem a finalidade de buscar uma melhor interpretação no que diz respeito ao acréscimo assistencial de 25% (vinte e cinco por cento) para os aposentados por invalidez ou doença grave, com base no artigo 45, da Lei n. 8.213/91. Os aposentados destas espécies que necessitem da assistência permanente de outra pessoa estão amparados pela lei já mencionada, no entanto, sem extensão as demais modalidades de aposentadorias.

O adicional de 25% (vinte e cinco por cento) não deve ser limitado aqueles aposentados por invalidez, pois viola o princípio da isonomia (igualdade) e, como conseqüência, à dignidade da pessoa humana, visto que faz distinção entre os cidadãos em situações semelhantes, restringindo, muitas vezes, que os segurados aposentados em modalidade diversa da aposentadoria por invalidez tenham uma boa qualidade de vida.

É muito comum que o cidadão aposente por idade ou tempo de contribuição pelo INSS, e a doença ou a invalidez o acomete após o evento da aposentadoria, logo, não se pode anular o fato da invalidez ou doença ocorrer posteriormente, restringindo o direito ao benefício, por não ter sido aposentado por invalidez.

Com isso, é preciso que ocorra a inclusão do aposentado por idade ou tempo de contribuição pelo INSS ao benefício de auxílio-acompanhante, previsto na Lei nº

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8.213/91, que ateste a necessidade de um cuidador permanente quando passar a ser inválido e dependente de terceiro.

Ressalta-se que quando o benefício é negado, pode ser conquistado na justiça, mediante comprovação da necessidade de acompanhamento permanente, pois não cabe a justiça fazer diferenciação de modalidades de aposentadorias, deve, portanto, considerar a doença que torne o aposentado incapaz de se cuidar sozinho.

Porém tal direito deve ser previsto na legislação, poupando desgaste emocional e físico do aposentado e seus familiares, tendo que recorrer à justiça, que apesar de ter que ser obrigatoriamente célere, conforme o princípio da Celeridade Processual há a morosidade, devido à vasta demanda do judiciário, que está abarrotado de processos.

Logo, restringir o benefício a uma parcela específica de aposentados, fere princípios importantes do direito, e o que deveria ser algo prático e seguro, torna-se um problema para o segurado, e com isso, abarrotando ainda mais o judiciário.

1 PREVIDÊNCIA SOCIAL NO BRASIL: DEFINIÇÃO E HISTÓRICO

Neste primeiro momento farei uma breve contextualização histórica e conceituando o que vem a ser previdência social no Brasil, a qual garante aos seus contribuintes inúmeros benefícios, dentre eles o que trata este trabalho, ou seja, referente ao artigo 45 (quarenta e cinco) da Lei n. 8.213/91.

1.1 DEFINIÇÃO DE PREVIDÊNCIA SOCIAL

A Previdência Social é um direito Social, previsto no art. 6º da Constituição Federal de 1988, com a seguinte redação: “São direitos sociais a educação, a saúde, o trabalho, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta constituição.” (grifo nosso).

Ao lado de outros direitos fundamentais, como educação, trabalho, saúde, está a Previdência Social, que vem acompanhada de outro importante direito, que é a Assistência Social, com a finalidade de proteção a criança e assistência aos desamparados.

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Segundo José Afonso da Silva os direitos sociais consistem em:

Prestações positivas proporcionadas pelo Estado direta ou indiretamente, enunciadas em normas constitucionais, que possibilitam melhores condições de vida aos mais fracos, direitos que tendem a realizar a igualização de situações sociais desiguais. São, portanto, direitos que se ligam ao direito de igualdade (SILVA, 2005, p. 286).

A Previdência Social, juntamente com políticas de saúde e assistência social, gera o sistema de seguridade social, como consta do artigo 194 da Constituição Federal de 1988.

A seguridade social compreende um conjunto integrado de ações de iniciativa dos Poderes Públicos e da sociedade, destinadas a assegurar os direitos relativos à saúde, à previdência e à assistência social.

Parágrafo único. Compete ao Poder Público, nos termos da lei, organizar a seguridade social, com base nos seguintes objetivos:

I - universalidade da cobertura e do atendimento;

II - uniformidade e equivalência dos benefícios e serviços às populações urbanas e rurais;

III - seletividade e distributividade na prestação dos benefícios e serviços;

IV - irredutibilidade do valor dos benefícios; V - eqüidade na forma de participação no custeio; VI - diversidade da base de financiamento;

VII - caráter democrático e descentralizado da administração, mediante gestão quadripartite, com participação dos trabalhadores, dos empregadores, dos aposentados e do Governo nos órgãos colegiados.

Ainda segundo a Constituição Federal de 1988, no seu artigo 201, dispõe que:

A previdência social será organizada sob a forma de regime geral, de caráter contributivo e de filiação obrigatória, observados critérios que preservem o equilíbrio financeiro e atuarial, e atenderá, nos termos da lei, a:

I – Cobertura dos eventos de doença, invalidez, morte e idade avançada;

II – proteção à maternidade, especialmente à gestante;

III – proteção ao trabalhador em situação de desemprego involuntário;

IV – salário-família e auxílio-reclusão para os dependentes dos segurados de baixa renda;

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V – pensão por morte do segurado, homem ou mulher, ao cônjuge ou companheiro e dependentes, observado o disposto no §2º;

Com isso, afirma-se que a Previdência Social Brasileira busca consolidar o que dispõe a Declaração Universal dos Direitos Humanos, na 1ª parte de seu artigo XXV:

Todo ser humano tem direito a um padrão de vida capaz de assegurar-lhe, e a sua família, saúde e bem-estar, inclusive alimentação, vestuário, habitação, cuidados médicos e os serviços sociais indispensáveis, e direito à segurança em caso de desemprego, doença, invalidez, viuvez, velhice ou outros casos de perda dos meios de subsistência em circunstâncias fora de seu controle.

Por isso, alguns doutrinadores conceituam Previdência Social como:

Sistema de proteção social, de caráter contributivo e em regra de filiação obrigatória, constituído por um conjunto de normas principiológicas, regras, instituições e medidas destinadas à cobertura de contingências ou riscos sociais previstos em lei, proporcionando ao segurado e aos seus dependentes benefícios e serviços que lhes garantam subsistência e bem-estar.(MIRANDA, 2007: p. 137).

Logo, Previdência Social é o direito previsto pela Constituição Federal que garante as fontes de renda do trabalhador e de sua família quando perder a capacidade de laborar por algum tempo, seja por doença, acidente, maternidade, ou permanentemente, ou seja, por morte, invalidez ou velhice.

1.2 HISTÓRICO DA PREVIDÊNCIA SOCIAL

O primeiro documento a tratar sobre a Previdência Social no Brasil foi a Constituição de 1824 em seu artigo 179, inc. XXXI. O referido artigo garantia aos cidadãos o direito aos “socorros públicos”, como era considerado na época.

Porém, apesar de estar previsto na Constituição, o direito aos “socorros públicos” não era praticado, tendo em vista que os cidadãos não dispunham de meios para exigir o efetivo cumprimento da garantia. Não podendo negar, no entanto, a importância histórica do fato de, já naquela época, ter havido a tentativa de proteção constitucional a esse direito.

Logo após, veio a Constituição republicana de 1891, e trazia em seu bojo a possibilidade de aposentadoria por invalidez do funcionário público, custeada

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completamente pelo Estado, onde não dependia de qualquer contribuição por parte do trabalhador, sendo esta mais uma regra de valor histórico.

Com isso, nasce a Constituição de 1934 e com ele o sistema tripartite, resguardando a participação do trabalhador, do empregador e do Estado na contribuição da Previdência Social. Muito embora, não trouxesse nenhuma novidade a respeito do assunto, surgiram diversas alterações relevantes, no cenário infraconstitucional.

A primeira vez em que foi usado o termo “Previdência Social”, foi sob a égide da Constituição de 1946, sendo editada a Lei Orgânica da Previdência Social – Lei 3.807/1960, a qual trouxe diversos benefícios, inicializando o processo de instituição do sistema de seguridade social como conhecemos atualmente. A constituição de 1967 trouxe novidade como o beneficio do salário família e o seguro desemprego.

No entanto, somente com a promulgação da Constituição de 1988 que realmente os direitos e garantias fundamentais dos cidadãos se fortaleceram, tendo em vista, o a volta de um Estado Democrático de Direito em nosso país. O resultado disso foi o reconhecido avanço no que diz respeito à Previdência Social, com a certeza de que a proteção concedida aos cidadãos foi ganhando espaço a medida que a constituição brasileira avançava, até chegar a atual Constituição Federal.

Diante disso, é entendimento da maioria a respeito de se garantir um mínimo de dignidade ao cidadão, de forma que se possa gozar dos direitos fundamentais e sociais, previsto em nossa Magna Carta. Nesta linha de raciocínio é que adentra os direitos relativos à Previdência Social na Constituição de 1988, na qual o sistema de seguridade social tem o objetivo de garantir o bem estar, dessa forma, assegurar que ninguém seja omitido de se ter o mínimo existencial, confirmando o efetivo exercício do princípio da dignidade da pessoa humana, bem como o princípio da isonomia, não havendo qualquer distinção entre os iguais.

2 PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS: DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA E ISONOMIA

Os princípios foram criados para estruturar o Estado de Direito. Esses princípios se encontram na Constituição Federal, sendo elas responsáveis por definir a estrutura básica e fundamentos para o sistema.

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São considerados normas fundamentais de conduta de um indivíduo mediante às leis já impostas. Resguardam os direitos de qualquer indivíduo. A Constituição Federal é a lei fundamental e os princípios constitucionais são o que protegem os atributos fundamentais da ordem jurídica.

2.1 PRINCÍPIO DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA

O princípio da Dignidade da Pessoa Humana é o valor moral que o cidadão possui, é a qualidade que cada ser humano possui merecedores de respeito e consideração por parte do Estado e da comunidade. Garante condições existenciais mínimas para uma vida saudável e de qualidade, propiciando uma boa relação entre os seres humanos.

Está previsto no artigo 1º, inc. III, da Constituição Federal de 1988, se destacando entre os fundamentos do Estado brasileiro.

A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos:

III – a dignidade da pessoa humana.

Ressalte-se que cabe ao Poder Legislativo determinar normas que objetive a proteção da dignidade, bem como tem a obrigação de incentivar o uso de medidas que possibilitem o acesso a uma vida digna, por meio de uma atuação dos poderes públicos, os quais devem fornecer assistência materialmente referente a saúde, educação, moradia, lazer, trabalho, assistência e previdência social. Por consequência, o princípio da dignidade se revela em um princípio atrelado à igualdade material, tendo como valor a ideia do mínimo para a existência humana.

Ingo Wolfgang Sarlet, analiticamente, define a dignidade da pessoa humana como:

Qualidade intrínseca e distintiva de cada ser humano que o faz merecedor do mesmo respeito e consideração por parte do Estado e da comunidade, implicando, neste sentido, um complexo de direitos e deveres fundamentais que assegurem a pessoa tanto contra todo e qualquer ato de cunho degradante e desumano, como venham a lhe garantir as condições existenciais mínimas para uma vida saudável, além de propiciar e promover sua participação ativa corresponsável nos destinos da própria existência e da vida em

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comunhão dos demais seres humanos. (Dignidade da Pessoa Humana e Direitos Fundamentais na Constituição Federal de 1988. 200, p. 60).

Portanto, o princípio da dignidade da pessoa humana, ao qual se reporta a idéia democrática, como um dos fundamentos do Estado de Direito Democrático, torna-se o elemento referencial para a interpretação e aplicação das normas jurídicas. O ser humano não pode ser tratado como simples objeto, principalmente na condição de trabalhador, muitas vezes visto apenas como uma peça da engrenagem para fazer girar a economia.

Diante disso, é notória a negligência da redação do artigo 45 (quarenta e cinco) da Lei 8.213/91, tendo em vista que se preocupa demasiadamente com a espécie de aposentadoria, esquecendo que de considerar primeiramente as condições físicas do aposentado seja qual for à espécie de aposentadoria.

2.2 PRINCÍPIO DA ISONOMIA

O princípio da isonomia, também conhecido como princípio da igualdade, juntamente com o princípio da Dignidade da Pessoa Humana representam o símbolo da democracia, pois indica um tratamento justo para os cidadãos. É essencial dentro dos princípios constitucionais.

Está expresso no artigo 5º, da Constituição Federal:

Art. 5º, caput: Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos

estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade (...).

Com isso, segundo doutrinadores, o aludido princípio pode ser usado para impor limites, evitando discrepâncias entre os iguais, intolerando condutas dos indivíduos que sejam contrárias à igualdade, ou seja, realizar atos preconceituosos, racistas ou discriminatórios.

Portanto, o princípio em questão, tem um valor importantíssimo para as aplicações de normas, deveres ou obrigações na sociedade, uma vez que deve haver igualdade entre os iguais.

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Logo, a afronta redacional do artigo 45 (quarenta e cinco) da lei já mencionada deve ser alterada, uma vez que acaba cometendo o equivoco por tratar iguais de maneira desiguais, privilegiando uns mais do que outros, mesmo estando em paridades situacionais.

3 DO ACRÉSCIMO ADICIONAL DE 25% (VINTE E CINCO POR CENTO) NO VALOR DA APOSENTADORIA POR INVALIDEZ

Com a evolução da Previdência Social no Brasil, ganhando cada vez mais espaço, resguardada pelos Princípios Fundamentais, sejam eles Dignidade da Pessoa Humana e Isonomia, tem buscado sempre favorecer o aposentado, ligado a ideia de um mínimo existencial.

Dentre os avanços, no que diz respeito aos benefícios dos aposentados, temos o que expõe o artigo 45 da lei 8213/91 em sua redação:

O valor da aposentadoria por invalidez do segurado que necessitar da assistência permanente de outra pessoa será acrescido de 25% (vinte e cinco por cento).

Observa-se que o segurado já tem em seu benefício à guarida para a sua subsistência, no entanto, a Lei tem a preocupação de equilibrar a situação financeira que o aposentado passar a ter com a contratação de outra pessoa, da qual ele se tornou dependente, e proporcionando assistência permanente nas atividades diárias, tudo de acordo com o princípio da dignidade da pessoa humana.

Diante disso, o adicional foi o modo pensado para diminuir o impacto financeiro quando houver a contratação do cuidador, sendo assim, o mínimo para se viver não deve se mistura com o significado de direito à subsistência.

No entanto, ao negar a extensão do adicional que também é cabível para as demais modalidades de aposentadoria, seja por idade ou por tempo de contribuição, em casos de cidadãos que venham a ficar inválido, tornando o beneficiário dependente de assistência permanente de um terceiro, comete o legislador negligência, a lei acaba cometendo injustiça ao aplicar de forma literal o seu texto, e por fim, total afronta ao princípio da dignidade humana e isonomia.

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4 A EXTENSÃO DO ADICIONAL DE 25% NAS APOSENTADORIAS POR IDADE E TEMPO DE CONTRIBUIÇÃO – ALTERAÇÃO DA REDAÇÃO DO ARTIGO 45 DA LEI 8213/91

Conforme já bem enfatizado, sabe-se que o princípio da dignidade humana está intimamente ligado à igualdade material. Diante disso, a aplicação de forma restrita do artigo 45 da Lei nº 8213/91 causa a ofensa ao princípio da isonomia, e como consequência, à dignidade da pessoa humana, quando trata iguais de maneira desigual, deixando de amparar cidadãos na mesma situação.

O adicional de 25% (vinte e cinco por cento) não deve ser limitado à aposentadoria por invalidez, pois viola o princípio da isonomia (igualdade) e, como conseqüência, à dignidade da pessoa humana, já que faz distinção entre os seres humanos, restringindo, muitas vezes, a boa qualidade de vida dos segurados que percebem benefício previdenciário diverso da aposentadoria por invalidez.

Quando a doença faz o aposentado carecer de um cuidador permanente, não se de diferenciar a espécie de aposentadoria, devendo a lei oferecer o mínimo de dignidade humana, segundo preceitua o artigo 201, I da Carta Magna.

Neste sentido, o desembargador federal Rogério Favreto em seu relatório afirma que (2013):

O fim jurídico-político do preceito protetivo da norma, por versar de direito social (previdenciário), deve contemplar a analogia teleológica para indicar sua finalidade objetiva e conferir a interpretação mais favorável à pessoa humana. A proteção final é a vida do idoso, independentemente da espécie de aposentadoria. A vida vem em primeiro lugar e acima de qualquer outro direito, sendo considerada fundamental pela renomada Constituição Federal. Portanto, deve ser levada em consideração a doença e suas decorrências como finalidade principal do benefício, sendo a espécie de aposentadoria por invalidez como secundário, a fim de não restringir o direito à proteção a qualquer aposentado que faça jus ao benefício e necessite de um acompanhante permanente.

Nesse mesmo sentido, o TRF4 entende pela extensão do benefício do adicional de 25% no valor do benefício. E com base em posicionamento do Desembargador Favreto, estendeu e considerou que um aposentado rural de 76 anos de idade que se contra inválido e dependente de um cuidador permanente

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fizesse jus ao benefício dos 25% (vinte e cinco por cento), e isso ocorreu na data de 27/08/2013.

Dessa forma, o Desembargador Favreto (2013) afirma em seu voto que:

O fato de a invalidez ser decorrente de episódio posterior à aposentadoria, não pode excluir a proteção adicional ao segurado que passa a ser inválido e necessitante de auxílio de terceiro, como forma de garantir o direito à vida, à saúde e à dignidade humana. A justiça não deve fazer diferença entre o aposentado por invalidez que necessita do auxílio de cuidador permanente e outro aposentado que aposente em qualquer outra modalidade de aposentadoria que venha se tornar inválido e incapaz de se cuidar sozinho.

O relator Desembargador Favreto (2013) afirmou em seu voto que "o julgador deve ter a sensibilidade social para se antecipar à evolução legislativa quando em descompasso com o contexto social, como forma de aproximá-la da realidade e conferir efetividade aos direitos fundamentais".

Nessa mesma linha de raciocínio:

Assim, a aplicação do acréscimo de 25% da aposentadoria por invalidez não pode ser interpretada de forma isolada, vez que a fonte de custeio desse percentual é a mesma para todas as espécies de aposentadoria do RGPS. Neste norte, a medida plausível a ser adotada seria a aplicação extensiva. Isto porque, se se entender que não há fonte de custeio para a extensão às demais espécies de aposentadoria, da mesma forma, dever-se-ia entender que não há fonte de custeio para a própria extensão da aposentadoria por invalidez. E assim seria porque, em momento algum a legislação aponta a fonte de custeio para o acréscimo dos aposentados por invalidez“. (A Possibilidade de Extensão do Acréscimo de 25% Previsto no Artigo 45 da Lei nº 8.213/91 aos demais Benefícios de Aposentadorias do Regime Geral da Previdência Social: UNISUL, Tubarão/SC, 2010).

No mesmo sentido aponta outro estudo desenvolvido em especialização de Direito Previdenciário:

Destarte, uma vez evidenciado que o artigo 45 da Lei 8.213/91 tem natureza puramente assistencial, a aplicação deste dispositivo exclusivamente aos aposentados por invalidez, viola não só os princípios da isonomia e o da dignidade da pessoa humana, como também os princípios que regem a assistência social no Brasil, quais sejam, supremacia do atendimento das necessidades sociais, universalização dos direitos sociais, respeito à dignidade do cidadão

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e igualdade de direitos no acesso ao atendimento.” (Maurício Pallotta Rodrigues. “Da Natureza Assistencial do Acréscimo de 25% previsto no Artigo 45 da Lei 8.213, de 24 de julho de 1991”).

4.1 ALTERAÇÃO DA REDAÇÃO DO ARTIGO 45 DA LEI 8213/91

A TNU (Turma Nacional de Uniformização dos Juizados Especiais Federais, que é o órgão do Poder Judiciário responsável pela uniformização da jurisprudência no âmbito dos Juizados Especiais Federais), firmou o entendimento de que é extensível às demais aposentadorias concedidas sob o Regime Geral da Previdência Social, e não só por invalidez, o adicional de 25% previsto no art. 45 da Lei 8.213/91 (processo nº 5000890-49.2014.4.04.7133). Vejamos o julgado:

PEDIDO DE UNIFORMIZAÇÃO NACIONAL INTERPOSTO PELA PARTE AUTORA. TEMA AFETADO COMO REPRESENTATIVO DA CONTROVÉRSIA. PREVIDENCIÁRIO. ADICIONAL DE 25% PREVISTO NO ART. 45 DA LEI 8.213/91. EXTENSÃO À APOSENTADORIA POR IDADE E POR TEMPO DE CONTRIBUIÇÃO. CABIMENTO. APLICAÇÃO AO CASO CONCRETO. QUESTÃO DE ORDEM 20. PROVIMENTO PARCIAL DO INCIDENTE. RETORNO À TR DE ORIGEM PARA ADOÇÃO DA TESE E CONSEQUENTE ADEQUAÇÃO. (TNU – PEDILEF: 50008904920144047133, Relator: JUIZ FEDERAL SÉRGIO MURILO WANDERLEY QUEIROGA, Data do Julgamento: 12/05/2016, data da Publicação: 20/05/2016).

Nesta seara, o atuante Senador Paulo Paim, com notoriedade no tema previdenciário pela sua constante busca pela defesa dos aposentados e pensionistas, já apresentou um projeto de lei – PL nº 493/2011 – fazendo alterações da redação do art. 45 (quarenta e cinco) da Lei 8.213/91, já enviado à Câmara dos Deputados (PL nº 4.282/2012). Segue a proposta da nova redação do artigo:

Art. 45. O valor da aposentadoria por invalidez, por idade, por tempo de serviço e da aposentadoria especial do segurado que necessitar da assistência permanente de outra pessoa, por razões decorrentes de doença ou deficiência física, será acrescido de vinte e cinco por cento.

Enquanto não ocorre a atualização legislativa, a constatação da necessidade ao benefício se dá de forma a analisar a partir de cada caso particular. E nesse ponto, cabe ao julgador ter a sensibilidade social, no sentido de melhor aproximar a

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norma da realidade social. O legislador deve fazer isso pautado nos princípios da analogia e isonomia.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Sendo o sistema previdenciário estruturado em diversos regimes, bem como organizado pela Constituição Federal para garantir proteção aos riscos sociais aos cidadãos de acordo com as necessidades de cada um. Diante disso, a previdência social tem um papel fundamental, pois garante aos seus contribuintes a proteção que eles necessitam.

Assim cabe ao Poder Legislativo sancionar normas que sejam exercidas pelo Poder Judiciário para que a aplicação dos direitos previdenciários seja válida e que garantam o exercício desses benefícios e direitos fundamentais previsto na nossa Magna Carta.

Conforme discorrido ao longo do artigo, constata-se a negligência e afronta do artigo 45 (quarenta e cinco) da Lei nº 8.213/91, uma vez que restringe o aludido beneficio a apenas uma espécie de aposentadoria, ou seja, aos aposentados por invalidez.

No entanto, não deve se restringir o benefício, concedendo e amparando os demais aposentados que necessitem do auxilio permanente de terceiros, mas que são aposentados por idade ou tempo de contribuição.

Ao restringir, o artigo da referida lei, fere princípios importantes da nossa Constituição Federal/88, quais sejam o princípio da Dignidade da Pessoa Humana e da Isonomia, princípios considerados fundamentais pelo nosso Direito, como já falado neste presente artigo.

Compreende-se que o legislador, juristas e profissionais da área do direito devam sempre buscar fazer uma interpretação analógica extensiva, a fim de não ir contrario ao que dispõe os princípios da isonomia e consequentemente da dignidade da pessoa humana. Oportunizando, dessa forma, os beneficiários que fazem jus ao adicional previsto na lei.

O Desembargador Federal Rogerio Favreto, do TRF4, demonstra posicionamento totalmente claro no que diz respeito ao assunto, posicionamento

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esse de que não deve haver ofensa aos princípios da isonomia e dignidade da pessoa humana, resguardando a boa qualidade de vida do segurado.

E com isso, foi concedido na data de 27/08/2013 o adicional de 25% (vinte e cinco porcento) no valor da aposentadoria de um aposentado rural com idade de 76 (setenta e seis) anos, que se encontra inválido e necessitante de um cuidador permanente.

Deve-se levar em consideração a necessidade do auxílio permanente de um acompanhante, não distinguindo as espécies de aposentadorias, pois segundo a Constituição Federal em seu artigo 201, inciso I, dispõe que a previdência social atenderá cobertura dos eventos de doença, invalidez, morte e idade avançada. Portanto, se o aposentado encontra-se inválido, independe sua categoria de aposentadoria, faz jus a um acompanhante permanente.

Por fim, enquanto não ocorre a atualização do artigo 45 (quarenta e cinco), da Lei 8.2313/91, deve o beneficiário na situação a que se refere o artigo, propor ação judicial para conquistar seu direito com acréscimo assistencial a sua aposentadoria, havendo uma interpretação analógica em consonância com os princípios fundamentais, seja eles isonomia e dignidade da pessoa humana, utilizados sempre para o bem daqueles que gozam dos benefícios, quando se encontrarem em situação de dependência de terceiros, conforme especificado no artigo 45 da Lei 8.2313/91.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Aumento de 25% do valor da Aposentadoria por Idade e por Tempo de Contribuição para quem necessita de cuidados de terceiros. Disponível em: <http://ramosprev.jusbrasil.com.br/artigos/114682819/aumento-de-25-do-valor-da- aposentadoria-por-idade-e-por-tempo-de-contribuicao-para-quem-necessita-de-cuidados-de-terceiros>. Acesso em: 23/09/2016 às 15h.

BRASIL. Constituição. Brasília: Senado Federal, 1988. BRASIL. Decreto-Lei n.º 3.048. Senado Federal, 1999.

JUSBRASIL. Como conseguir acréscimo de 25% na aposentadoria de idosos com Alzheimer e outras doenças. Disponível em: <http://rmonjardim.jusbrasil.com.br/noticias/201488623/como-conseguir-acrescimo-de-25-na-aposentadoria-de-idosos-com-alzheimer-e-outras-doencas>. Acesso em: 15/09/2016 às 06h35min.

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MEDEIROS, Aline. Artigo Jurídico. APOSENTADO TEM DIREITO A ADICIONAL DE 25% DO SALÁRIO-DE-BENEFÍCIO. Disponível em: <http://www.venturisilva.adv.br/aposentado-tem-direito-a-adicional-de-25-do-salario-de-beneficio/>. Acesso em: 15/09/2016 às 06h40min.

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