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CONCLUSÕES DA ADVOGADA-GERAL CHRISTINE STIX-HACKL

apresentadas em 15 de Maio de 2003 1

I — Observações preliminares

1. O presente processo diz respeito à interpretação da Directiva 80/987/CEE do Conselho, de 20 de Outubro de 1980, relativa à aproximação das legislações dos Estados-Membros respeitantes à protecção dos trabalhadores assalariados em caso de insolvência do empregador 2 (a seguir «directiva»). Concretamente, está em causa neste processo a função de um limite instituído para os pagamentos por uma instituição nacional de garantia.

II — Enquadramento jurídico

A — Directiva 80/987/CEE

2. O primeiro considerando tem a seguinte redacção:

«são necessárias disposições para proteger os trabalhadores assalariados em caso de

insolvência do empregador, em particular para garantir o pagamento dos seus crédi-tos em dívida, tendo em conta a necessidade [d]e um desenvolvimento económico e social equilibrado na Comunidade».

O artigo 3.°, n.° 1, tem a seguinte redacção:

«Os Estados-Membros tomarão as medidas necessárias para que seja assegurado por instituições de garantia, sem prejuízo do disposto no artigo 4.°, o pagamento dos créditos em dívida aos trabalhadores assa-lariados, emergentes de contratos de traba-lho ou de relações de trabatraba-lho e tendo por objecto a remuneração referente ao período situado antes de determinada data.»

O artigo 4.°, n.° 3, primeiro parágrafo, tem a seguinte redacção:

«Contudo os Estados-Membros podem fixar um limite para a garantia de paga-mento dos créditos em dívida aos

traba-1 — Língua original: alemão. 2 — JO L 283, p. 23; EE O5 F2 p. 219.

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lhadores assalariados, a fim de evitar o pagamento das importâncias que excedam a finalidade social da presente directiva.»

O artigo 10.° tem a seguinte redacção:

«A presente directiva não prejudicará a faculdade de os Estados-Membros:

a) Tomarem as medidas necessárias para evitar abusos;

b) Recusarem ou reduzirem a obrigação de pagamento previsto no artigo 3.° ou a obrigação de garantia prevista no artigo 7° no caso da execução da obrigação não se justificar por força de existência de laços particulares entre o trabalhador assalariado e a entidade patronal e de interesses comuns con-cretizados por conluio entre eles.»

B — Direito nacional

3. A Itália procedeu à transposição da directiva através do Decreto-legge

n.° 80/1992, de 27 de Janeiro de 1992 3 (a

seguir «decreto-lei»). Nos termos deste decreto-lei, o Istituto nazionale della previ-denza sociale (a seguir «INPS») dispõe de um fundo de garantía, que assegura deter-minados pagamentos aos trabalhadores, em caso de créditos em dívida aos trabalhado-res em razão da insolvência da entidade patronal.

4. O montante destes pagamentos pelo fundo de garantia é calculado procedendo a determinadas deduções de um montante total definido individualmente (a seguir «montante total»), sendo a diferença paga ao trabalhador. Esse montante corresponde ao triplo do montante máximo «da indem-nização excepcional paga a título de com-plemento do salário mensal», o qual representa uma percentagem determinada do salário individual auferido antes do termo do contrato de trabalho ou da relação de trabalho. As prestações deduzi-das do montante total são indicadeduzi-das no decreto-lei («complemento salarial excep-cional», salário e «indemnização por mobi-lidade»).

III — Matéria de facto e processos princi-pais

5. Trata-se, nos três processos pendentes, de trabalhadores detentores de créditos em

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dívida, emergentes de contratos de trabalho ou de relações de trabalho, porque as respectivas entidades patronais se tornaram insolventes. Os trabalhadores pediram ao fundo de garantia o pagamento do mon-tante correspondente, mas o mesmo foi-lhes recusado total ou parcialmente.

6. No processo C-19/01, o INPS recusa-se a fazer qualquer pagamento a A. Barsotti 4, porque os montantes parciais pagos pela entidade patronal já excedem completa-mente o montante total.

7. No processo C-50/01, o INPS recusa uma parte do pagamento reclamado por M. Castellani. O INPS deduziu do montante total os montantes parcialmente pagos pela entidade patronal e os restantes montantes dedutíveis do montante total e pagou a diferença. Porém, M. Castellani reclama o pagamento de créditos em dívida, no montante equivalente à totalidade dos créditos emergentes do contrato de trabalho ou da relação de trabalho que ficaram por pagar durante o período de referência.

8. No processo C-84/01, a entidade patro-nal pagou a A. Venturi dois dos três últimos meses de salário. A. Venturi reclama ao INPS o pagamento do montante do salário relativo ao terceiro mês. O INPS indefere o pedido porque os salários já pagos são superiores ao montante total.

IV — Questões prejudiciais

9. No processo C-19/01, o Tribunale di Pisa suspendeu a instância e colocou ao Tribunal de Justiça a seguinte questão prejudicial:

A Directiva 80/987/CEE e os actos deriva-dos (acórdãos de 19 de Novembro de 1991, Francovich e o., C-6/90 e C-9/90, Colect., p. I-5357, e de 10 de Julho de 1995, Maso e o., Colect., p. I-4051), podem ser interpre-tados no sentido de que, dentro de um limite máximo, só é legítima a proibição de cumulação entre a prestação atribuída pelo Fondo de Garanzia e a parte das retribui-ções pagas pela entidade patronal nos últimos três meses em relação ao montante que exceder o que corresponde à indemni-zação por mobilidade prevista, ratione

temporis, para o mesmo período, tendo

em conta que os adiantamentos pagos directamente, bem como a indemnização por mobilidade e até à mesma importância, têm por finalidade prover às necessidades primárias do trabalhador despedido?

10. No processo C-50/01, o Tribunale di Siena suspendeu a instância e colocou ao Tribunal de Justiça a seguinte questão prejudicial:

A regra da não cumulação do valor contabilístico da indemnização excepcional a título de complemento salarial com a retribuição paga ao trabalhador no período

4 — Originariamente, eram manifestamente partes no litígio no processo principal eram partes, além de A. Barsotti, outros trabalhadores («Barsotti e o.»). Porém, o despacho de reenvio, na exposição da matéria de facto, apenas faz referência a A. Barsotti.

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de referência (artigo 2.°, n.° 4, do Decreto legislativo n.° 80/1992) é compatível — também à luz das anteriores decisões do Tribunal de Justiça sobre o referido decreto legislativo — com a Directiva 80/897/CEE? No caso em apreço:

a) a referida regra de não cumulação pode ser considerada conforme com o objectivo da directiva (artigo 3.°, n.° 1) de assegurar o pagamento dos créditos em divida relativos à remuneração respeitante a um determinado espaço de tempo (artigo 3.°, n.° 2) e relativa a um determinado período (artigo 4.°, n.°s 1 e 2), ou

b) esta regra de não cumulação assenta num critério de assistência social, não conforme ao critério social que está na base da Directiva 80/987?

c) a referida regra de não cumulação conduz à anulação ou à aplicação parcial da directiva?

d) a referida regra de não cumulação pode ser admitida tendo em conta a possibilidade de os Estados-Membros fixarem um máximo para a garantia do pagamento dos créditos dos

traba-lhadores (artigo 3.°, n.° 4), sendo certo que o legislador italiano já introduziu esse máximo mediante o artigo 2.°, n.° 2, do decreto legislativo em causa?

e) por conseguinte, a remissão para o «limite máximo da indemnização excepcional a título de complemento salarial» na acepção do artigo 2.°, n.° 2, já referido, deve ser considerada de natureza meramente formal e con-tabilística, ou remete para outra norma (que consiste na integração, no Decreto legislativo n.° 80/1992, das normas da assistência social relativas à indemni-zação excepcional a título de comple-mento salarial, incluindo a da não cumulação)?

f) por último, a regra da não cumulação pode ser considerada admissível tendo em conta a faculdade de os Estados--Membros adoptarem as medidas necessárias para evitar abusos [artigo 10.°, alínea a)]?

11. No processo C-84/01, a Corte suprema di cassazione suspendeu a instância e colocou ao Tribunal de Justiça a seguinte questão prejudicial:

O artigo 4.°, n.° 3, da Directiva 80/987/ /CEE, de 20 de Outubro de 1980 — na parte

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em que prevê que os Estados-Membros, a fim de evitar o pagamento das importâncias que excedam a finalidade social da direc-tiva, podem fixar um limite para a garantia de pagamento dos créditos em dívida aos trabalhadores assalariados relativos aos últimos três meses da relação de trabalho —, permite impor o sacrifício de parte do crédito daqueles que, sendo o montante da sua remuneração superior ao limite, tenham recebido, nos últimos três meses da relação de trabalho, adiantamentos de montante igual ou superior ao referido limite, ao passo que aqueles que, sendo a sua remuneração inferior ao limite, podem depois obter, somando os adiantamentos pagos pelo empregador e os pagamentos concedidos pelo organismo público, o ressarcimento total (ou em percentagem maior) do seu crédito?

V — Quanto à admissibilidade das ques-tões prejudiciais

A — Argumentos das partes

12. O Governo italiano alega que não compete ao Tribunal de Justiça pronun-ciar-se, no âmbito de um processo prejudi-cial nos termos do artigo 234.° CE, sobre a compatibilidade do direito nacional com o direito comunitário ou sobre a validade e a interpretação de disposições nacionais. Por

essa razão, há que reformular grande parte das questões do Tribunale di Pisa e do Tribunale di Siena sendo suficiente, em relação aos três processos, responder à questão da Corte suprema di cassazione.

13. Também a Comissão considera que as questões prejudiciais dos vários órgãos jurisdicionais devem ser resumidas e refor-muladas, uma vez que todas elas se referem ao mesmo problema, que é o de saber se o artigo 4.°, n.° 3, primeiro parágrafo, da directiva deve ser interpretado no sentido de que o limite que um Estado-Membro pode fixar para a garantia de pagamento constitui:

a) um limite máximo para os créditos em dívida pela entidade patronal no momento de referência e a reembolsar pela instituição de garantia, deduzidos os pagamentos eventualmente recebi-dos durante esse período, ou

b) um montante total a reembolsar pela instituição de garantia, do qual são deduzidos todos os montantes recebi-dos pelo trabalhador durante o período de referência.

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B — Apreciação

14. Para que este Tribunal possa dar ao órgão jurisdicional de reenvio uma resposta útil para o processo principal é necessário, como a Comissão e o Governo italiano acertadamente sugerem, resumir e reformu-lar as questões prejudiciais 5 .

15. No âmbito do artigo 234.° CE, o Tribunal de Justiça não pode pronunciar--se nem sobre a interpretação de disposições legislativas ou regulamentares nacionais nem sobre a conformidade de tais disposi-ções com o direito comunitário. Pode, no entanto, fornecer ao órgão jurisdicional nacional indicações relativas à interpreta-ção do direito comunitário que lhe permi-tirão responder à questão jurídica subme-tida à sua apreciação 6.

16. «Finalmente, segundo jurisprudência constante, compete ao Tribunal de Justiça, perante questões formuladas de maneira imprecisa, extrair do conjunto dos elemen-tos fornecidos pelo órgão jurisdicional nacional e dos autos da causa principal os elementos de direito comunitário que

neces-sitam de interpretação, tendo em conta o objecto do litígio» 7.

17. Com base nas indicações fornecidas nos despachos de reenvio é preferível reformular através de uma as questões prejudiciais dos três processos:

Os artigos 3.°, n.° 1, e 4.°, n.° 3, primeiro parágrafo, da Directiva 80/987/CEE do Conselho, de 20 de Outubro de 1980, relativa à aproximação das legislações dos Estados-Membros respeitantes à protecção dos trabalhadores assalariados em caso de insolvência do empregador, devem ser interpretados no sentido de que a protecção dos trabalhadores, exigida pela directiva, está igualmente assegurada quando a insti-tuição de garantia apenas deve ao traba-lhador um montante total destinado a prover as suas necessidades essenciais, depois de deduzidas outras prestações determinadas, incluindo igualmente as pagas pela entidade patronal?

5 —V., por exemplo, acórdão de 18 de Novembro de 1999, Teckal (C-107/98, Colect., p. I-8121).

6 — Acórdão no processo C-107/98 {referido na nota 5, n.° 33), e acórdão de 4 de Maio de 1993, Distribuidores Cinemato-gráficos (C-17/92, Colect., p. I-2239, n.° 8).

7 — Acórdão no processo C-107/98 (já referido na nota J, n.° 34); acórdãos de 13 de Dezembro de 1984, Haug-Adrion (251/83, Recueil, p. 4277, n.° 9); e de 26 de Setembro de 1996, Arcaro (C-168/95, Colect., p. I-4705, n.° 21).

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VI — Resposta às questões prejudiciais reformuladas

A — Principais argumentos das partes

18. A. Barsotti (C-19/01) considera que as disposições do decreto-lei segundo as quais os pagamentos adiantados pela entidade patronal são descontados do montante global só podem ser interpretadas e aplica-das no sentido de que o INPS deve pagar os créditos em dívida, emergentes do contrato de trabalho ou da relação de trabalho até ao limite do montante total quando, devido à insolvência da entidade patronal, o trabalhador sofre grandes prejuízos. Paga-mentos eventualmente adiantados pela enti-dade patronal não devem vir ainda reduzir o montante total devido em tais casos.

19. M. Castellani (C-80/01) considera que a directiva não tem em vista conceder, através das instituições de garantia, presta-ções de apoio destinadas a evitar uma situação de necessidade, mas instituir uma garantia geral de pagamento dos créditos em dívida. O montante total devido pelo fundo italiano de garantia não pode, portanto, ser objecto de deduções. Invoca o acórdão do Tribunal de Justiça no processo Maso 8. Já nesse acórdão o

Tribu-nal de Justiça declarou que a

«indemniza-ção por mobilidade» italiana não assenta no contrato de trabalho ou na relação de trabalho, mas serve para atenuar a situação de necessidade do trabalhador despedido, pelo que não se podem reduzir os paga-mentos a efectuar em aplicação da direc-tiva.

20. A. Venturi (C-84/01) considera que as disposições italianas relativas ao fundo de garantia são contrárias ao conteúdo e à finalidade da directiva. Em seu entender, o montante total previsto no decreto-lei poderia, quando muito, considerar-se con-forme com a directiva se tal decreto garantisse a repartição do prejuízo sofrido.

21. Mesmo que este montante total fosse, em si, compatível com a directiva, não poderia, de qualquer forma, ser sujeito a quaisquer deduções. De contrário, o mon-tante dos pagamentos variaria, com efeito, consoante o trabalhador já tivesse recebido ou não prestações da sua entidade patronal. Porém, a directiva incumbe os Estados--Membros de tomarem, em caso de insol-vência, medidas destinadas a garantir o pagamento de créditos em dívida, emergen-tes do contrato de trabalho ou da relação de trabalho. A. Venturi invoca igualmente o termo «limite» que figura no artigo 4.°, n.° 3, primeiro parágrafo, da directiva. Esta disposição indica que os pagamentos pelas instituições de garantia devem ser impor-tâncias garantidas pelo que qualquer dedu-ção é inadmissível. Invoca, além disso, o acórdão do Tribunal de Justiça no processo Maso 9, no qual uma parte das deduções

8 — Acórdão de 10 de Julho de 1997, Maso e o. e Gazzetta e o.

(C-373/95, Colect., p. I-4051). 9 — Já referido na nota 8.

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previstas no direito italiano, isto é a «indemnização por mobilidade» foi já julgada incompatível com a directiva.

22. O INPS alega que resulta da interpre-tação sistemática da directiva que as instituições de garantia se destinam a ajudar financeiramente o trabalhador em caso de insolvência da entidade patronal. Consequentemente, a directiva não pode ter por finalidade conceder ao trabalhador em causa montantes que vêm juntar-se às prestações já recebidas da entidade patro-nal.

23. O artigo 1.° da directiva regula a compensação das necessidades do traba-lhador originadas pelo facto de a entidade patronal, em razão da insolvência, não ter satisfeito créditos emergentes do contrato de trabalho ou da relação de trabalho. O artigo 4.°, n.° 3, primeiro parágrafo, da directiva faz referência à finalidade social das instituições de garantia e o primeiro considerando da directiva remete para a «necessidade de um desenvolvimento eco-nómico e social equilibrado na Comuni-dade». Segundo o INPS, a pretensão do trabalhador apenas pode ser dirigida a uma prestação social que, nos termos do artigo 4.°, n.° 3, primeiro parágrafo, da directiva, possa ser garantida por aplicação de um montante total garantido, a fim de evitar que sejam feitos pagamentos para além da finalidade social.

24. Esta opinião também não é contrária ao acórdão do Tribunal de Justiça no processo Maso 10. A indemnização por

mobilidade em causa neste processo consti-tuía, com efeito, um auxílio financeiro ao trabalhador. O acórdão neste processo não afecta, portanto, a possibilidade de reduzir pagamentos do fundo de garantia através de pagamentos parciais pela entidade patro-nal.

25. O Governo italiano invoca a finalidade da directiva e refere-se, a este respeito, aos acórdãos do Tribunal de Justiça nos pro-cessos Bonifaci e Berto 11 e Maso 12. Em seu

entender, resulta destes acórdãos e do primeiro considerando da directiva que esta última prossegue um objectivo de concessão de uma segurança social mínima ao traba-lhador em caso de insolvência da sua entidade patronal. As disposições do decreto-lei são, portanto, compatíveis com a directiva, na medida em que prevêem um montante total do qual são deduzidas outras prestações determinadas. Este sis-tema visa evitar encargos financeiros exces-sivos para o Estado.

26. O Governo francês remete igualmente para o acórdão do Tribunal de Justiça no processo Maso 13, no qual o Tribunal de

Justiça precisou o objectivo do artigo 4.°, n.° 3, primeiro parágrafo, bem como a finalidade social da directiva. Na sequência

10 — Já referido na nota 8.

11 — Acórdão de 10 de Julho de 1997, Bonifaci e o. e Berto e o. (C-94/9S e C-95/95, Colect. p. I-3969).

12 — Já referido na nota 8. 13 — Já referido na nota 8.

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deste processo, a finalidade social da directiva situa-se no facto de, através de prestações financeiras relativas a créditos em dívida, emergentes do contrato de trabalho ou da relação de trabalho, se garantir uma protecção comunitária mínima em caso de insolvência da entidade patronal. Resulta deste acórdão que, no caso vertente, as prestações adiantadas pela entidade patronal sobre créditos em dívida não podem ser deduzidos dos pagamentos feitos pelo fundo de garantia.

27. A Comissão entende que o conceito de «limite» previsto no artigo 4.°, n.° 3, primeiro parágrafo, da directiva deve ser entendido no sentido de que constitui um limite máximo dos créditos em dívida pela entidade patronal no momento de referên-cia e a reembolsar ao trabalhador pela instituição de garantia, uma vez deduzidas as prestações eventualmente recebidas durante esse período. Com efeito, a direc-tiva destina-se a colocar uma garantia à disposição do trabalhador quando haja créditos em dívida em caso de insolvência. O facto de o artigo 4.° da directiva dar aos Estados-Membros a possibilidade de limitar a obrigação de pagamento das instituições de garantia não pode afectar este objectivo.

B — Apreciação

28. A fundamentação dos despachos do Tribunal de reenvio e as alegações das

partes no processo no Tribunal de Justiça centram-se principalmente na admissibili-dade das deduções previstas no decreto-lei. Mas, a meu ver, o problema é anterior, ou seja, trata-se de saber se um sistema como o visado no caso vertente é compatível com os objectivos e indicações da directiva.

29. No caso presente, os argumentos das partes sobre a inadmissibilidade das dedu-ções estão, com efeito, estreitamente ligadas a um determinado entendimento da natu-reza dos pagamentos do fundo de garantia. Antes de abordar a questão das deduções, há que examinar, em primeiro lugar, a questão de saber se a directiva autoriza, em si, um método de cálculo como o previsto no decreto-lei italiano para os pagamentos efectuados por uma instituição de garantia.

1. Método de cálculo dos pagamentos do fundo de garantia segundo o decreto-lei

30. Como referi atrás14, o montante do

pagamento do fundo de garantia é calcu-lado fixando, com base na última remune-ração do trabalhador, um montante

indivi-14 — V., supra, n.°s 3 e segs.

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dual total ao qual são ou podem ser feitas determinadas deduções.

3 1 . Consequentemente, chega-se ao seguinte efeito, imanente ao sistema, que eu queria descrever a partir de um exemplo fornecido por um representante do INPS na audiência e cujo resultado não foi contes-tado:

Um trabalhador tem um crédito salarial total de 5 000 euros que se constituiu durante o período que antecedeu a insol-vência da sua entidade patronal. Uma vez que a entidade patronal ainda lhe pagou 3 000 euros antes da apresentação do pedido de pagamento ao fundo de garantia, subsiste um crédito não satisfeito de 2 000 euros. O limite individual até ao qual o fundo de garantia teria de pagar ascende, para este t r a b a l h a d o r , a 2 000 euros.

Segundo esta concepção do decreto-lei italiano, o trabalhador tem direito a um

montante total teórico de 2 000 euros,

calculado em função dos pagamentos da entidade patronal bem como de outras prestações e pagamentos do fundo 15. No

entanto, este montante já foi atingido pelos pagamentos efectuados pela entidade patro-nal antes da apresentação do pedido. Assim, o trabalhador não obteria, neste caso, outros pagamentos do fundo de garantia.

Diversamente, o mesmo trabalhador teria direito ao pagamento até ao montante máximo se, pelo contrário, pudesse recla-mar ao fundo de garantia os seus créditos

em dívida pela entidade patronal no

mon-tante de 2 000 euros. Obteria, portanto, 2 000 euros do fundo de garantia.

32. Como o próprio Governo italiano e o INPS sublinharam, o sistema do decreto-lei assenta na ideia de que os pagamentos do fundo de garantia constituem «prestações sociais» destinadas a fazer face às necessi-dades elementares do trabalhador. O mon-tante total previsto no decreto-lei tem a função de um direito teórico de base fixa ligado à última remuneração e do qual são descontadas outras prestações destinadas a minimizar as necessidades do trabalhador em causa, através de deduções individuais determinadas. A compensação da perda

individual efectiva (isto é, a diferença entre

os créditos em dívida e as prestações ainda recebidas) não pode, portanto, constituir um critério decisivo nesta óptica.

33. Coloca-se agora a questão de saber se este entendimento, que está manifestamente na base do decreto-lei italiano, se concilia com a finalidade da directiva.

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2. Finalidade da directiva

34. Há que declarar que, em primeiro lugar, nem o artigo 3.°, n.° 1, nem o artigo 4.°, n.° 3, primeiro parágrafo, da directiva dão indicações concretas sobre o cálculo dos pagamentos do fundo de garantia. Em princípio, isso incumbe aos Estados-Membros.

35. O Governo italiano baseou a sua interpretação da directiva essencialmente no artigo 4.°, n.° 3, primeiro parágrafo. Todavia, é duvidoso que esta disposição possa ser realmente entendida no sentido de significar expressamente que, no que res-peita aos pagamentos efectuados pelas instituições de garantia, estas asseguram «prestações sociais» destinadas a fazer face às necessidades elementares do trabalhador.

36. É certo que o artigo 4.°, n.° 3, primeiro parágrafo, da directiva menciona a «finali-dade social da presente directiva» e justifica através dessa finalidade a fixação do «limite» no caso de os pagamentos a excederem. No entanto, não se pode concluir daí que a finalidade da directiva é, em geral — simplesmente — a de fazer face às necessidades elementares do traba-lhador afectado pela insolvencia da sua entidade patronal. Com efeito, esta dispo-sição constitui uma dispodispo-sição

derrogató-ria. Deve permitir, designadamente, evitar que as instituições de garantia, que operam, por exemplo, sob a forma de um fundo alimentado a partir do exterior, conheçam elas próprias dificuldades financeiras na sequência de grandes insolvências.

37. A disposição central que dá indicações

sobre a finalidade da directiva encontra-se no artigo 3.°, n.° 1, da directiva. Esta disposição, assim como o primeiro consi-derando da directiva, milita, no entanto, contra o entendimento dos pagamentos por uma instituição de garantia como «presta-ções sociais» no sentido exposto.

38. O artigo 3.°, n.° 1, da directiva define o conteúdo da obrigação pertinente dos Estados-Membros como a garantia do «pagamento dos créditos em dívida dos trabalhadores» 16. O primeiro

conside-rando afirma igualmente que a directiva deve garantir «o pagamento dos [...] créditos em dívida [dos trabalhadores]». Isto mostra que a directiva visa, em primeiro lugar, a garantia de pagamentos em compensação de créditos em dívida aos trabalhadores e não atenuar a necessidade eventualmente posta em evidência por essa situação.

16 — Acórdãos de 2 de Fevereiro de 1989, Comissão/Itália (22/87, Colect., p. 143, n.°s 7 e 11 ), e Maso e o., já referido na nota 8.

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3. Interpretação da directiva relativamente às deduções

39. Resulta dos argumentos das partes sobre este ponto que a questão da admissi-bilidade das deduções aparentemente só se coloca se não se puser em causa a concepção italiana dos pagamentos pela instituição de garantia. Ora, como em nossa opinião esta concepção não está abrangida pela directiva, já não é necessário abordar a questão da admissibilidade das deduções.

40. Dado que a resposta à questão prejudi-cial deve colocar os órgãos jurisdicionais nacionais em situação de dar continuidade ao processo principal no respeito do direito comunitário em vigor, afigura-se, no entanto, adequado fazer, com a brevidade exigida, algumas observações de princípio sobre as eventuais deduções do direito à prestação invocado relativamente a uma instituição de garantia para protecção dos trabalhadores em caso de insolvência da entidade patronal.

41. Resulta do artigo 3.°, n.° 1, da directiva que num sistema em que uma instituição de garantia deve assegurar o pagamento de créditos em dívida ao trabalhador em razão de insolvência, o montante dos pagamentos deve naturalmente orientar-se pelo

mon-tante dos créditos em dívida. Isto significa que as prestações pagas pela entidade patronal pagas por terceiros por dívidas desta, não devem ser compensadas pela instituição de garantia.

42. Além disso, o Tribunal de Justiça já no acórdão Maso declarou que os artigos 4.°, n.° 3, primeiro parágrafo, e 10.° da directiva autorizam, em princípio, os Esta-dos-Membros a adoptar normas anti-cumu-lação. No entanto, apenas podem ser imputadas outras prestações determinadas sobre o crédito invocado perante a institui-ção de garantia 17 ou as prestações cujo

recebimento simultâneo deve comprovada-mente ser considerado um abuso 18.

43. Incumbe aos órgãos jurisdicionais nacionais determinar se e em que medida as deduções controvertidas podem ou devem ser feitas quando é feito o cálculo dos pagamentos pelo fundo de garantia que garantem a satisfação dos créditos em dívida aos trabalhadores na acepção da directiva. Neste casos, os órgãos jurisdicio-nais de reenvio deveriam respeitar os critérios que decorrem dos artigos 4.°, n.° 3, primeiro parágrafo, e 10.° da directiva. Sublinho em particular que o Tribunal de Justiça já se pronunciou a este respeito no acórdão Maso e o. sobre a «indemnização por mobilidade» italiana segundo o direito em vigor em Itália na época.

17 — V., nomeadamente, n.os 57 e segs. do acórdão referido na

nota 8.

18 — Artigo 10.° da directiva.

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VII — Conclusão

44. Com base nas considerações precedentes, proponho que seja dada a seguinte resposta à questão prejudicial reformulada:

A Directiva 80/987/CEE do Conselho, de 20 de Outubro de 1980, relativa à aproximação das legislações dos Estados-Membros respeitantes à protecção dos trabalhadores assalariados em caso de insolvência do empregador e, em particular, os seus artigos 3.°, n.° 1, e 4.°, n.° 3, primeiro parágrafo, devem ser interpretados no sentido de que a protecção dos trabalhadores exigida pela directiva não está garantida quando uma instituição de garantia apenas deve ao trabalhador em causa um montante total que faz face às suas necessidades essenciais, uma vez deduzidas outras prestações determinadas, incluindo igualmente as pagas pela entidade patronal.

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