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O Castelo de São João Baptista, na Ilha de Santa Maria, Açores. A mais antiga edificação militar dos Açores?

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O “Castelo” de São João Baptista, na Ilha de Santa Maria, Açores. A mais antiga edificação

militar dos Açores?

Élvio Duarte Martins Sousa (

elviomsousa@sapo.pt

)

(Conferência no âmbito da rubrica "Ciência no Bar",

Vestígios dos primeiros tempos do Povoamento da

Ilha de Santa Maria, Pub Central, Vila do Porto, Santa Maria Açores, 13 de Agosto de 2012./Extrato do

livro “

O “Castelo” de São João Baptista, na Ilha de Santa Maria, Açores. A mais antiga edificação militar

dos Açores? Novos dados resultantes dos trabalhos arqueológicos (campanhas de 2008 e 2009).

1. O “Castelo” de São João Baptista e o sistema defensivo da Praia

O Forte de São João Baptista (ou como tradicionalmente é conhecido “Castelo da Praia”, Figs.1, 2 e 3)

localiza-se na costa Sul da Ilha de Santa Maria, mais precisamente na Baía da Praia, a Sul da atual

Capela de Nossa Senhora dos Remédios, também referenciada pelo orago de Santo Amaro em alusão à

imagem religiosa (ALVERNE, 1960: 98).

O forte encontra-se implantado na pequena “aldeia da Praia” (FRUTUOSO, 2005: 29), especificamente na

margem esquerda da foz da Ribeira da Praia conhecida, também, no século XVI por Ribeira de Nossa

Senhora).[1]

O sistema de fortificação da Ilha de Santa Maria surge, efetivamente, com a necessidade de defesa e

proteção dos inúmeros ataques inimigos, registados entre os séculos XV e XVII (1470-1480, 1480,

1576,1589,1599, 1616 e 1675, GUEDES, 1996:21, RIBEIRO, 1995: 202, VERÍSSIMO, 1995:209-217). A

situação periférica da ilha (afastada do eixo São Miguel-Terceira-Faial), a sua dimensão e a escassa

contribuição financeira para os cofres reais pode ter condicionado a institucionalização de um plano

circunscrito de defesa (RODRIGUES, 2003: 243-247). A ameaça externa criou, também, a necessidade

de se estabelecerem locais para a atividade dos fachos,[2]

normalmente em sítios estratégicos e com

extenso domínio visual sobre o mar e sobre as localidades terrestres. Esta preocupação foi uma

dominante ao longo da história da ilha conforme atestam os sucessivos requerimentos apelando a

garantia da defesa das populações[3]

e os registos toponímicos (Pico do Facho, junto ao Figueiral).

1. Postal, Prainha, foto Pepe.

O “Castelo” de São João Baptista, na Ilha de Santa Maria, Açores. A mais antiga edificação

militar dos Açores?

Élvio Duarte Martins Sousa (

elviomsousa@sapo.pt

)

(Conferência no âmbito da rubrica "Ciência no Bar",

Vestígios dos primeiros tempos do Povoamento da

Ilha de Santa Maria, Pub Central, Vila do Porto, Santa Maria Açores, 13 de Agosto de 2012./Extrato do

livro “

O “Castelo” de São João Baptista, na Ilha de Santa Maria, Açores. A mais antiga edificação militar

dos Açores? Novos dados resultantes dos trabalhos arqueológicos (campanhas de 2008 e 2009).

1. O “Castelo” de São João Baptista e o sistema defensivo da Praia

O Forte de São João Baptista (ou como tradicionalmente é conhecido “Castelo da Praia”, Figs.1, 2 e 3)

localiza-se na costa Sul da Ilha de Santa Maria, mais precisamente na Baía da Praia, a Sul da atual

Capela de Nossa Senhora dos Remédios, também referenciada pelo orago de Santo Amaro em alusão à

imagem religiosa (ALVERNE, 1960: 98).

O forte encontra-se implantado na pequena “aldeia da Praia” (FRUTUOSO, 2005: 29), especificamente na

margem esquerda da foz da Ribeira da Praia conhecida, também, no século XVI por Ribeira de Nossa

Senhora).[1]

O sistema de fortificação da Ilha de Santa Maria surge, efetivamente, com a necessidade de defesa e

proteção dos inúmeros ataques inimigos, registados entre os séculos XV e XVII (1470-1480, 1480,

1576,1589,1599, 1616 e 1675, GUEDES, 1996:21, RIBEIRO, 1995: 202, VERÍSSIMO, 1995:209-217). A

situação periférica da ilha (afastada do eixo São Miguel-Terceira-Faial), a sua dimensão e a escassa

contribuição financeira para os cofres reais pode ter condicionado a institucionalização de um plano

circunscrito de defesa (RODRIGUES, 2003: 243-247). A ameaça externa criou, também, a necessidade

de se estabelecerem locais para a atividade dos fachos,[2]

normalmente em sítios estratégicos e com

extenso domínio visual sobre o mar e sobre as localidades terrestres. Esta preocupação foi uma

dominante ao longo da história da ilha conforme atestam os sucessivos requerimentos apelando a

garantia da defesa das populações[3]

e os registos toponímicos (Pico do Facho, junto ao Figueiral).

1. Postal, Prainha, foto Pepe.

O “Castelo” de São João Baptista, na Ilha de Santa Maria, Açores. A mais antiga edificação

militar dos Açores?

Élvio Duarte Martins Sousa (

elviomsousa@sapo.pt

)

(Conferência no âmbito da rubrica "Ciência no Bar",

Vestígios dos primeiros tempos do Povoamento da

Ilha de Santa Maria, Pub Central, Vila do Porto, Santa Maria Açores, 13 de Agosto de 2012./Extrato do

livro “

O “Castelo” de São João Baptista, na Ilha de Santa Maria, Açores. A mais antiga edificação militar

dos Açores? Novos dados resultantes dos trabalhos arqueológicos (campanhas de 2008 e 2009).

1. O “Castelo” de São João Baptista e o sistema defensivo da Praia

O Forte de São João Baptista (ou como tradicionalmente é conhecido “Castelo da Praia”, Figs.1, 2 e 3)

localiza-se na costa Sul da Ilha de Santa Maria, mais precisamente na Baía da Praia, a Sul da atual

Capela de Nossa Senhora dos Remédios, também referenciada pelo orago de Santo Amaro em alusão à

imagem religiosa (ALVERNE, 1960: 98).

O forte encontra-se implantado na pequena “aldeia da Praia” (FRUTUOSO, 2005: 29), especificamente na

margem esquerda da foz da Ribeira da Praia conhecida, também, no século XVI por Ribeira de Nossa

Senhora).[1]

O sistema de fortificação da Ilha de Santa Maria surge, efetivamente, com a necessidade de defesa e

proteção dos inúmeros ataques inimigos, registados entre os séculos XV e XVII (1470-1480, 1480,

1576,1589,1599, 1616 e 1675, GUEDES, 1996:21, RIBEIRO, 1995: 202, VERÍSSIMO, 1995:209-217). A

situação periférica da ilha (afastada do eixo São Miguel-Terceira-Faial), a sua dimensão e a escassa

contribuição financeira para os cofres reais pode ter condicionado a institucionalização de um plano

circunscrito de defesa (RODRIGUES, 2003: 243-247). A ameaça externa criou, também, a necessidade

de se estabelecerem locais para a atividade dos fachos,[2]

normalmente em sítios estratégicos e com

extenso domínio visual sobre o mar e sobre as localidades terrestres. Esta preocupação foi uma

dominante ao longo da história da ilha conforme atestam os sucessivos requerimentos apelando a

garantia da defesa das populações[3]

e os registos toponímicos (Pico do Facho, junto ao Figueiral).

(2)

A dimensão numérica e os avultados estragos materiais causados pelo terrível saque dos argelinos à ilha,

em 1616, terão pesado consideravelmente em dotar a costa mariense de melhores meios operacionais de

defesa (peças de artilharia em ferro, pólvora, munições e outros apetrechos de guerra, RIBEIRO, 1995:

202).

Sugere este artigo uma revisão, na perspetiva diacrónica, sobre as referências documentais que sugerem

preocupações defensivas para a localidade da Praia. Numa primeira análise, alude-se para o livro dos

“Assentos da Câmara de Villa do Porto” de 21 de Agosto de 1599

(AA, 1983, Vol. XV: 329-330), onde se

expõe as preocupações do Capitão-mor da Milícia da Guerra, Manuel de Sousa, no sentido de dotar a

costa da Ilha de Santa Maria, de um plano de fortificações adequadas:

(…) lhe parecia bem pera guoarda da terra quaso he quando ouver rebates he de ímigos que queirão

cometer a entrada da terra que ouvese sínquenta homens aventureiros trinta arquabuzeiros e vinte piques

para sempre estarem prestes he deligentes pera quoallquer encontro dos imiguos outrosim requereu aos

ditos oficiais da Camara que era necessario sobre a fajã de São llourenso para se vigiar daquela parte que

lhe parecia necesario que eles posecem dia par hirem ver ahonde mais acomodadamente podese ser a

quoall vegya seria prepetua no verão asi mais lhe parecia na praya aonde os imigos entrarão outra a ver

na prahynha he touril outra quando fose nesesario (…)”

(AA, 1983, Vol. XV: 329).

2.Aspeto da fortificação em 2009. Foto Alexandre Brazão.

Este dado histórico é frequentemente invocado para justificar a preexistência de infraestruturas defensivas

na localidade da Praia, nomeadamente do “castelo” em estudo.

Uma outra fonte documental municipal setecentista (de 1649) que menciona o imposto do barro de Santa

Maria salienta, entre outros aspetos, as características tipológicas do Forte São João Baptista, com a

designação de dois baluartes e o distinto torreão: “(…) as fortalezas que no lugar da praia da mesma ilha

se tem acresemtado pelos moradores e sargento mor de convir a meu serviso que nos dous baluartes e

torreão São João basita hu bombardeiro paguo (…)”, (AA, 1983, Vol. XV: 28).

A dimensão numérica e os avultados estragos materiais causados pelo terrível saque dos argelinos à ilha,

em 1616, terão pesado consideravelmente em dotar a costa mariense de melhores meios operacionais de

defesa (peças de artilharia em ferro, pólvora, munições e outros apetrechos de guerra, RIBEIRO, 1995:

202).

Sugere este artigo uma revisão, na perspetiva diacrónica, sobre as referências documentais que sugerem

preocupações defensivas para a localidade da Praia. Numa primeira análise, alude-se para o livro dos

“Assentos da Câmara de Villa do Porto” de 21 de Agosto de 1599

(AA, 1983, Vol. XV: 329-330), onde se

expõe as preocupações do Capitão-mor da Milícia da Guerra, Manuel de Sousa, no sentido de dotar a

costa da Ilha de Santa Maria, de um plano de fortificações adequadas:

(…) lhe parecia bem pera guoarda da terra quaso he quando ouver rebates he de ímigos que queirão

cometer a entrada da terra que ouvese sínquenta homens aventureiros trinta arquabuzeiros e vinte piques

para sempre estarem prestes he deligentes pera quoallquer encontro dos imiguos outrosim requereu aos

ditos oficiais da Camara que era necessario sobre a fajã de São llourenso para se vigiar daquela parte que

lhe parecia necesario que eles posecem dia par hirem ver ahonde mais acomodadamente podese ser a

quoall vegya seria prepetua no verão asi mais lhe parecia na praya aonde os imigos entrarão outra a ver

na prahynha he touril outra quando fose nesesario (…)”

(AA, 1983, Vol. XV: 329).

2.Aspeto da fortificação em 2009. Foto Alexandre Brazão.

Este dado histórico é frequentemente invocado para justificar a preexistência de infraestruturas defensivas

na localidade da Praia, nomeadamente do “castelo” em estudo.

Uma outra fonte documental municipal setecentista (de 1649) que menciona o imposto do barro de Santa

Maria salienta, entre outros aspetos, as características tipológicas do Forte São João Baptista, com a

designação de dois baluartes e o distinto torreão: “(…) as fortalezas que no lugar da praia da mesma ilha

se tem acresemtado pelos moradores e sargento mor de convir a meu serviso que nos dous baluartes e

torreão São João basita hu bombardeiro paguo (…)”, (AA, 1983, Vol. XV: 28).

A dimensão numérica e os avultados estragos materiais causados pelo terrível saque dos argelinos à ilha,

em 1616, terão pesado consideravelmente em dotar a costa mariense de melhores meios operacionais de

defesa (peças de artilharia em ferro, pólvora, munições e outros apetrechos de guerra, RIBEIRO, 1995:

202).

Sugere este artigo uma revisão, na perspetiva diacrónica, sobre as referências documentais que sugerem

preocupações defensivas para a localidade da Praia. Numa primeira análise, alude-se para o livro dos

“Assentos da Câmara de Villa do Porto” de 21 de Agosto de 1599

(AA, 1983, Vol. XV: 329-330), onde se

expõe as preocupações do Capitão-mor da Milícia da Guerra, Manuel de Sousa, no sentido de dotar a

costa da Ilha de Santa Maria, de um plano de fortificações adequadas:

(…) lhe parecia bem pera guoarda da terra quaso he quando ouver rebates he de ímigos que queirão

cometer a entrada da terra que ouvese sínquenta homens aventureiros trinta arquabuzeiros e vinte piques

para sempre estarem prestes he deligentes pera quoallquer encontro dos imiguos outrosim requereu aos

ditos oficiais da Camara que era necessario sobre a fajã de São llourenso para se vigiar daquela parte que

lhe parecia necesario que eles posecem dia par hirem ver ahonde mais acomodadamente podese ser a

quoall vegya seria prepetua no verão asi mais lhe parecia na praya aonde os imigos entrarão outra a ver

na prahynha he touril outra quando fose nesesario (…)”

(AA, 1983, Vol. XV: 329).

2.Aspeto da fortificação em 2009. Foto Alexandre Brazão.

Este dado histórico é frequentemente invocado para justificar a preexistência de infraestruturas defensivas

na localidade da Praia, nomeadamente do “castelo” em estudo.

(3)

Ainda, a petição do Capitão Manuel da Costa, de 13 de Outubro de 1664, anota a requisição de “duas

pessas suas de artelharia com seus reparos no Castelo e fossa de Santo amaro do lugar da praia as coais

avia comprado com seu d.to por fazer serviso ao d.º Snor e defender os moradores desta ilha” (AA,

1983,

Vol. XV: 325). A alusão à “fossa” de Santo Amaro coincide topograficamente com o espaço de edificação

do “castelo”.

O Padre António Cordeiro, na

História Insulana

(1717) regista, também, o reforço da fortificação da Praia,

em tempo posterior à incursão dos corsários: “A defeza desta Villa, & de toda a ilha, era de antes pouca,

sendo que tem uma legoa de postos por onde podia ser entrada, & o foy então três vezes, de Mouros,

Inglezes, & Francezes; mas de depois se lhe fizerão no Castelo da praya dous Fortes com sete peças;

adiante um Forte com algumas (…)”, (CORDEIRO, 1981: 106).

3.Perspetiva do Forte de São João Baptista, 1998. Foto Luísa Gonçalves

.

As anotações do Padre Manuel de Mello Sousa no

Livro do Tombo da Freguesia de Nossa Senhora do

Bom Despacho,

[4]

Almagreira, Ilha de Santa Maria refere no capítulo I, (dedicado à Ermida de Nossa

Senhora dos Remédios, Fig.8) a existência, a sul da ermida, de um “um castelo, já em ruinas e em uma

pedra solta se vê a data de 1645, isto é, cinco anos apóz a nossa independência de Castela.” (SOUSA,

1936). Este dado pode corroborar a reedificação do Castelo de São João Baptista, com a tipologia

abaluartada, no século XVII.

(4)

4. Mapa, Ilha de Santa Maria (ca. 1570)

. “]

5. Pormenor do Mapa, Ilha de Santa Maria (ca. 1570).

2. Os trabalhos Arqueológicos no “Castelo” de São João Baptista: A “Torre-Vigia” como uma edificação

quinhentista?

Os trabalhos arqueológicos no Forte de São João Baptista iniciaram-se em 2008 pelo

CEAM-Centro de

Estudos de Arqueologia Moderna e Contemporânea, com a escavação da estrutura turriforme primitiva.

Desde essa data, os estudos têm sido apoiados pela Direção Regional da Cultura (2008 e 2009), Câmara

Municipal do Município de Vila do Porto (2008, 2009, 2010, 2011, 2012) e pelo

CHAM-Centro de História

de Além-Mar

da Universidade Nova de Lisboa e Universidade dos Açores e Grupo SATA-Açores (2011 e

2012).

Do ponto de vista da tipologia construtiva, interessa registar que a evolução da artilharia e as novas

exigências da pirobalística no final da Idade Média, abriram novos horizontes no que respeita aos

conceitos defensivos e da construção militar, tornando obsoletas e arcaicas as antigas cercas e torres.

(5)

construtiva do conjunto, ao que se acrescenta algumas anotações iconográficas relevantes (com

indicação de uma torre vigia no século XVI) e os novos dados disponibilizados pela vertente arqueológica.

Precisamente, e na análise cartográfica, se aceitarmos como plausível a datação do

Mapa da Ilha de

Santa Maria

(cerca de 1570, Figs.4 e 5), verificámos que na segunda metade daquela centúria a área

litoral da Praia configurava uma “vigia”

no local de implantação do atual castelo (ladeada por duas ribeiras:

do Gato e de Nossa Senhora). A georreferenciação constitui um dado fundamental do ponto de vista da

cronologia de um posto de defensivo remoto, e que muito provavelmente poderia corresponder ao corpo

central da torre com os dois pisos com uma outra configuração ao nível da rede de estrutura de muralha

defensiva, atendendo-se aos novos elementos que os trabalhos arqueológicos vieram despoletar

(nomeadamente a identificação da primitiva muralha, Sondagem E, Figs.6 e 7). Assim, é credível, e à luz

dos elementos disponíveis, fazer recuar a fortificação à segunda metade do século XVI, configurando na

altura um posto de vigia de configuração turriforme, com um muro de proteção num plano inferior (e mais

antigo) que a frente abaluartada de construção Seiscentista (e depois sujeito a sucessivas acrescentos ou

reconstruções nos séculos XVII e XVIII).

6.Muro adossado à torre, na orientação Oeste-Este, e com uma espessura 0,80m. (superior à das paredes da estrutura turriforme). Fotos Alexandre Brazão

(6)

7. Muro adossado à torre, na orientação Oeste-Este, e com uma espessura 0,80m. (superior à das paredes da estrutura turriforme). Fotos Alexandre Brazão

8.Extrato do Livro do Tombo da Freguesia de Nossa Senhora do Bom Despacho, Almagreira.

(7)

Efetivamente, coexiste uma pluralidade de dados que fazem anteceder ao século XVI a construção

turriforme do Castelo de São João Baptista, designadamente:

- O especto dominante da configuração construtiva e a análise da natureza tipológica das fundações

observadas pela intervenção arqueológica (cujo aparelho de pedra, sem reforço portante e sólido assenta

sobre a camada de nivelamento artificial);

- A torre pétrea aparece erguida numa plataforma artificial, sobre um afloramento de preparação à base de

cal e areia para nivelamento, sem preocupações consolidadas de pré-fundação de alvenaria (Fig.9);

9.Corte Este. Foto Élvio Sousa

- Reserva um andar elevado independente com um acesso exterior, garantindo uma maior privacidade ao

espaço funcional, considerando comparativamente os estudos para o norte de Portugal (BARROCA,

1997:70-71);

- O especto arcaico, fortemente enriquecido pelos cunhais laterais de tufo, alguns dos quais com marcas

de canteiro (Fig.10);

10. Marca de canteiro existente na frente do torreão. Foto Élvio Sousa

- O registo arqueológico de um pano amuralhado a Sul, adossado ao limite exterior da estrutura turriforme,

e nitidamente anterior à construção abaluartada do século XVII (Sondagem E, Figs.6 e 7).

(8)

Em suma, estes considerandos ganham sustentabilidade pela dedução de Pedro Dias, que considera o

Castelo de São João Baptista uma das edificações defensivas “mais recuadas dos Açores” reconhecendo,

entretanto, as sucessivas alterações a que esteve sujeito ao longo do tempo, em particular no século

XVIII, (DIAS, 2008: 35).

11. Pormenor das escavações das estruturas anexas à torre primitiva. Foto Alexandre Brazão

.

Simplificadamente e cronologicamente sequenciais registam-se as seguintes as ações observadas pelos

sucessivos diagramas estratigráficos, cuja análise se pode estender genericamente ao registo antrópico

da edificação:

1.

Capeamento e nivelação do espaço (século XVI, provavelmente na 2.ª metade).

2.

Construção da torre com os elementos funcionais (século XVI, provavelmente 2.ª metade), juntamente

com o plano de muralha primitiva adossada a torre.

3.

Revestimento da alvenaria (século XVI, provavelmente 2.ª metade).

4.

Pavimentação (superfície da torre, século XVI, provavelmente 2.ª metade).

5.

Abandono do espaço (Século XIX).

6.

Abatimento da cobertura e da alvenaria de aviamento, incluindo a fenestração a Sul (Séculos XIX e

XX).

7.

Afetações atuais (Séculos XX e XXI).

Gaula, Novembro de 2013

Bibliografia:

AA – Arquivo dos Açores, Vol. I, Ponta Delgada, 1980 (fac-símile de 1878), p.5; Vol. XV, 1983, pp.329-330.

(9)

BARROCA, Mário Jorge (1997) – “Torres, Casas-Torres ou Casas-Fortes. A Concepção do Espaço de Habitação da Pequena e Média Nobreza na Baixa Idade Média (Sécs. XII-XV)”, Coimbra,Revista de História das Ideias, Vol. 19, pp. 39-103.

BARROCA, Mário Jorge Barroca (1989) – “Em Torno da Residência Senhorial Fortificada. Quatro Torres Medievais na Região de Amares”,Revista de História, Vol. IX, Porto, pp. 9-61.

CORTE-REAL, Miguel de Figueiredo (2003) – “ Defesa Militar da Ilha de Santa Maria, seus Fortes, Redutos e sua Guarnição no princípio do século XVIII”,Boletim do Instituto Histórico da Ilha Terceira, Vol. LXI, Angra do Heroísmo, pp. 283-294.

CORDEIRO, António, Padre (1981) –Historia Insulana das Ilhas a Portugal sugeytas no Oceano Occidental, (s.l.), Secretaria Regional da Educação e Cultura (fac-símile da edição de 1717).

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RIBEIRO, João Adriano (1995) – “O Saque dos Argelinos à Ilha de Santa Maria, em 1616”,O Faial e a Periferia Açoriana nos séculos XV a XIX, (Actas do Colóquio realizado nas ilhas do Faial e Pico de10 a 13 de Maio de 1993), Horta, Núcleo Cultural da Horta, 1995, pp. 199-207.

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[1]Confronte o mapa inédito da Ilha de Santa Maria de 1570 (Figs. 4 e 5).

[2]Situação que se constata, também, nas ilhas da Madeira (Machico) e no Porto Santo (SOUSA, 2006: 72-73). [3]Cfr., entre outros, o requerimento de Maio de 1630 (CORTE-REAL, 2003: 284).

[4]Agradeço cordialmente ao jornalista Pedro Bicudo a informação sobre este documento.

Referências

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