O “Castelo” de São João Baptista, na Ilha de Santa Maria, Açores. A mais antiga edificação
militar dos Açores?
Élvio Duarte Martins Sousa (
elviomsousa@sapo.pt
)
(Conferência no âmbito da rubrica "Ciência no Bar",
Vestígios dos primeiros tempos do Povoamento da
Ilha de Santa Maria, Pub Central, Vila do Porto, Santa Maria Açores, 13 de Agosto de 2012./Extrato do
livro “
O “Castelo” de São João Baptista, na Ilha de Santa Maria, Açores. A mais antiga edificação militar
dos Açores? Novos dados resultantes dos trabalhos arqueológicos (campanhas de 2008 e 2009).
1. O “Castelo” de São João Baptista e o sistema defensivo da Praia
O Forte de São João Baptista (ou como tradicionalmente é conhecido “Castelo da Praia”, Figs.1, 2 e 3)
localiza-se na costa Sul da Ilha de Santa Maria, mais precisamente na Baía da Praia, a Sul da atual
Capela de Nossa Senhora dos Remédios, também referenciada pelo orago de Santo Amaro em alusão à
imagem religiosa (ALVERNE, 1960: 98).
O forte encontra-se implantado na pequena “aldeia da Praia” (FRUTUOSO, 2005: 29), especificamente na
margem esquerda da foz da Ribeira da Praia conhecida, também, no século XVI por Ribeira de Nossa
Senhora).[1]
O sistema de fortificação da Ilha de Santa Maria surge, efetivamente, com a necessidade de defesa e
proteção dos inúmeros ataques inimigos, registados entre os séculos XV e XVII (1470-1480, 1480,
1576,1589,1599, 1616 e 1675, GUEDES, 1996:21, RIBEIRO, 1995: 202, VERÍSSIMO, 1995:209-217). A
situação periférica da ilha (afastada do eixo São Miguel-Terceira-Faial), a sua dimensão e a escassa
contribuição financeira para os cofres reais pode ter condicionado a institucionalização de um plano
circunscrito de defesa (RODRIGUES, 2003: 243-247). A ameaça externa criou, também, a necessidade
de se estabelecerem locais para a atividade dos fachos,[2]
normalmente em sítios estratégicos e com
extenso domínio visual sobre o mar e sobre as localidades terrestres. Esta preocupação foi uma
dominante ao longo da história da ilha conforme atestam os sucessivos requerimentos apelando a
garantia da defesa das populações[3]
e os registos toponímicos (Pico do Facho, junto ao Figueiral).
1. Postal, Prainha, foto Pepe.
O “Castelo” de São João Baptista, na Ilha de Santa Maria, Açores. A mais antiga edificação
militar dos Açores?
Élvio Duarte Martins Sousa (
elviomsousa@sapo.pt
)
(Conferência no âmbito da rubrica "Ciência no Bar",
Vestígios dos primeiros tempos do Povoamento da
Ilha de Santa Maria, Pub Central, Vila do Porto, Santa Maria Açores, 13 de Agosto de 2012./Extrato do
livro “
O “Castelo” de São João Baptista, na Ilha de Santa Maria, Açores. A mais antiga edificação militar
dos Açores? Novos dados resultantes dos trabalhos arqueológicos (campanhas de 2008 e 2009).
1. O “Castelo” de São João Baptista e o sistema defensivo da Praia
O Forte de São João Baptista (ou como tradicionalmente é conhecido “Castelo da Praia”, Figs.1, 2 e 3)
localiza-se na costa Sul da Ilha de Santa Maria, mais precisamente na Baía da Praia, a Sul da atual
Capela de Nossa Senhora dos Remédios, também referenciada pelo orago de Santo Amaro em alusão à
imagem religiosa (ALVERNE, 1960: 98).
O forte encontra-se implantado na pequena “aldeia da Praia” (FRUTUOSO, 2005: 29), especificamente na
margem esquerda da foz da Ribeira da Praia conhecida, também, no século XVI por Ribeira de Nossa
Senhora).[1]
O sistema de fortificação da Ilha de Santa Maria surge, efetivamente, com a necessidade de defesa e
proteção dos inúmeros ataques inimigos, registados entre os séculos XV e XVII (1470-1480, 1480,
1576,1589,1599, 1616 e 1675, GUEDES, 1996:21, RIBEIRO, 1995: 202, VERÍSSIMO, 1995:209-217). A
situação periférica da ilha (afastada do eixo São Miguel-Terceira-Faial), a sua dimensão e a escassa
contribuição financeira para os cofres reais pode ter condicionado a institucionalização de um plano
circunscrito de defesa (RODRIGUES, 2003: 243-247). A ameaça externa criou, também, a necessidade
de se estabelecerem locais para a atividade dos fachos,[2]
normalmente em sítios estratégicos e com
extenso domínio visual sobre o mar e sobre as localidades terrestres. Esta preocupação foi uma
dominante ao longo da história da ilha conforme atestam os sucessivos requerimentos apelando a
garantia da defesa das populações[3]
e os registos toponímicos (Pico do Facho, junto ao Figueiral).
1. Postal, Prainha, foto Pepe.
O “Castelo” de São João Baptista, na Ilha de Santa Maria, Açores. A mais antiga edificação
militar dos Açores?
Élvio Duarte Martins Sousa (
elviomsousa@sapo.pt
)
(Conferência no âmbito da rubrica "Ciência no Bar",
Vestígios dos primeiros tempos do Povoamento da
Ilha de Santa Maria, Pub Central, Vila do Porto, Santa Maria Açores, 13 de Agosto de 2012./Extrato do
livro “
O “Castelo” de São João Baptista, na Ilha de Santa Maria, Açores. A mais antiga edificação militar
dos Açores? Novos dados resultantes dos trabalhos arqueológicos (campanhas de 2008 e 2009).
1. O “Castelo” de São João Baptista e o sistema defensivo da Praia
O Forte de São João Baptista (ou como tradicionalmente é conhecido “Castelo da Praia”, Figs.1, 2 e 3)
localiza-se na costa Sul da Ilha de Santa Maria, mais precisamente na Baía da Praia, a Sul da atual
Capela de Nossa Senhora dos Remédios, também referenciada pelo orago de Santo Amaro em alusão à
imagem religiosa (ALVERNE, 1960: 98).
O forte encontra-se implantado na pequena “aldeia da Praia” (FRUTUOSO, 2005: 29), especificamente na
margem esquerda da foz da Ribeira da Praia conhecida, também, no século XVI por Ribeira de Nossa
Senhora).[1]
O sistema de fortificação da Ilha de Santa Maria surge, efetivamente, com a necessidade de defesa e
proteção dos inúmeros ataques inimigos, registados entre os séculos XV e XVII (1470-1480, 1480,
1576,1589,1599, 1616 e 1675, GUEDES, 1996:21, RIBEIRO, 1995: 202, VERÍSSIMO, 1995:209-217). A
situação periférica da ilha (afastada do eixo São Miguel-Terceira-Faial), a sua dimensão e a escassa
contribuição financeira para os cofres reais pode ter condicionado a institucionalização de um plano
circunscrito de defesa (RODRIGUES, 2003: 243-247). A ameaça externa criou, também, a necessidade
de se estabelecerem locais para a atividade dos fachos,[2]
normalmente em sítios estratégicos e com
extenso domínio visual sobre o mar e sobre as localidades terrestres. Esta preocupação foi uma
dominante ao longo da história da ilha conforme atestam os sucessivos requerimentos apelando a
garantia da defesa das populações[3]
e os registos toponímicos (Pico do Facho, junto ao Figueiral).
A dimensão numérica e os avultados estragos materiais causados pelo terrível saque dos argelinos à ilha,
em 1616, terão pesado consideravelmente em dotar a costa mariense de melhores meios operacionais de
defesa (peças de artilharia em ferro, pólvora, munições e outros apetrechos de guerra, RIBEIRO, 1995:
202).
Sugere este artigo uma revisão, na perspetiva diacrónica, sobre as referências documentais que sugerem
preocupações defensivas para a localidade da Praia. Numa primeira análise, alude-se para o livro dos
“Assentos da Câmara de Villa do Porto” de 21 de Agosto de 1599
(AA, 1983, Vol. XV: 329-330), onde se
expõe as preocupações do Capitão-mor da Milícia da Guerra, Manuel de Sousa, no sentido de dotar a
costa da Ilha de Santa Maria, de um plano de fortificações adequadas:
“
(…) lhe parecia bem pera guoarda da terra quaso he quando ouver rebates he de ímigos que queirão
cometer a entrada da terra que ouvese sínquenta homens aventureiros trinta arquabuzeiros e vinte piques
para sempre estarem prestes he deligentes pera quoallquer encontro dos imiguos outrosim requereu aos
ditos oficiais da Camara que era necessario sobre a fajã de São llourenso para se vigiar daquela parte que
lhe parecia necesario que eles posecem dia par hirem ver ahonde mais acomodadamente podese ser a
quoall vegya seria prepetua no verão asi mais lhe parecia na praya aonde os imigos entrarão outra a ver
na prahynha he touril outra quando fose nesesario (…)”
(AA, 1983, Vol. XV: 329).
2.Aspeto da fortificação em 2009. Foto Alexandre Brazão.
Este dado histórico é frequentemente invocado para justificar a preexistência de infraestruturas defensivas
na localidade da Praia, nomeadamente do “castelo” em estudo.
Uma outra fonte documental municipal setecentista (de 1649) que menciona o imposto do barro de Santa
Maria salienta, entre outros aspetos, as características tipológicas do Forte São João Baptista, com a
designação de dois baluartes e o distinto torreão: “(…) as fortalezas que no lugar da praia da mesma ilha
se tem acresemtado pelos moradores e sargento mor de convir a meu serviso que nos dous baluartes e
torreão São João basita hu bombardeiro paguo (…)”, (AA, 1983, Vol. XV: 28).
A dimensão numérica e os avultados estragos materiais causados pelo terrível saque dos argelinos à ilha,
em 1616, terão pesado consideravelmente em dotar a costa mariense de melhores meios operacionais de
defesa (peças de artilharia em ferro, pólvora, munições e outros apetrechos de guerra, RIBEIRO, 1995:
202).
Sugere este artigo uma revisão, na perspetiva diacrónica, sobre as referências documentais que sugerem
preocupações defensivas para a localidade da Praia. Numa primeira análise, alude-se para o livro dos
“Assentos da Câmara de Villa do Porto” de 21 de Agosto de 1599
(AA, 1983, Vol. XV: 329-330), onde se
expõe as preocupações do Capitão-mor da Milícia da Guerra, Manuel de Sousa, no sentido de dotar a
costa da Ilha de Santa Maria, de um plano de fortificações adequadas:
“
(…) lhe parecia bem pera guoarda da terra quaso he quando ouver rebates he de ímigos que queirão
cometer a entrada da terra que ouvese sínquenta homens aventureiros trinta arquabuzeiros e vinte piques
para sempre estarem prestes he deligentes pera quoallquer encontro dos imiguos outrosim requereu aos
ditos oficiais da Camara que era necessario sobre a fajã de São llourenso para se vigiar daquela parte que
lhe parecia necesario que eles posecem dia par hirem ver ahonde mais acomodadamente podese ser a
quoall vegya seria prepetua no verão asi mais lhe parecia na praya aonde os imigos entrarão outra a ver
na prahynha he touril outra quando fose nesesario (…)”
(AA, 1983, Vol. XV: 329).
2.Aspeto da fortificação em 2009. Foto Alexandre Brazão.
Este dado histórico é frequentemente invocado para justificar a preexistência de infraestruturas defensivas
na localidade da Praia, nomeadamente do “castelo” em estudo.
Uma outra fonte documental municipal setecentista (de 1649) que menciona o imposto do barro de Santa
Maria salienta, entre outros aspetos, as características tipológicas do Forte São João Baptista, com a
designação de dois baluartes e o distinto torreão: “(…) as fortalezas que no lugar da praia da mesma ilha
se tem acresemtado pelos moradores e sargento mor de convir a meu serviso que nos dous baluartes e
torreão São João basita hu bombardeiro paguo (…)”, (AA, 1983, Vol. XV: 28).
A dimensão numérica e os avultados estragos materiais causados pelo terrível saque dos argelinos à ilha,
em 1616, terão pesado consideravelmente em dotar a costa mariense de melhores meios operacionais de
defesa (peças de artilharia em ferro, pólvora, munições e outros apetrechos de guerra, RIBEIRO, 1995:
202).
Sugere este artigo uma revisão, na perspetiva diacrónica, sobre as referências documentais que sugerem
preocupações defensivas para a localidade da Praia. Numa primeira análise, alude-se para o livro dos
“Assentos da Câmara de Villa do Porto” de 21 de Agosto de 1599
(AA, 1983, Vol. XV: 329-330), onde se
expõe as preocupações do Capitão-mor da Milícia da Guerra, Manuel de Sousa, no sentido de dotar a
costa da Ilha de Santa Maria, de um plano de fortificações adequadas:
“
(…) lhe parecia bem pera guoarda da terra quaso he quando ouver rebates he de ímigos que queirão
cometer a entrada da terra que ouvese sínquenta homens aventureiros trinta arquabuzeiros e vinte piques
para sempre estarem prestes he deligentes pera quoallquer encontro dos imiguos outrosim requereu aos
ditos oficiais da Camara que era necessario sobre a fajã de São llourenso para se vigiar daquela parte que
lhe parecia necesario que eles posecem dia par hirem ver ahonde mais acomodadamente podese ser a
quoall vegya seria prepetua no verão asi mais lhe parecia na praya aonde os imigos entrarão outra a ver
na prahynha he touril outra quando fose nesesario (…)”
(AA, 1983, Vol. XV: 329).
2.Aspeto da fortificação em 2009. Foto Alexandre Brazão.
Este dado histórico é frequentemente invocado para justificar a preexistência de infraestruturas defensivas
na localidade da Praia, nomeadamente do “castelo” em estudo.
Ainda, a petição do Capitão Manuel da Costa, de 13 de Outubro de 1664, anota a requisição de “duas
pessas suas de artelharia com seus reparos no Castelo e fossa de Santo amaro do lugar da praia as coais
avia comprado com seu d.to por fazer serviso ao d.º Snor e defender os moradores desta ilha” (AA,
1983,
Vol. XV: 325). A alusão à “fossa” de Santo Amaro coincide topograficamente com o espaço de edificação
do “castelo”.
O Padre António Cordeiro, na
História Insulana
(1717) regista, também, o reforço da fortificação da Praia,
em tempo posterior à incursão dos corsários: “A defeza desta Villa, & de toda a ilha, era de antes pouca,
sendo que tem uma legoa de postos por onde podia ser entrada, & o foy então três vezes, de Mouros,
Inglezes, & Francezes; mas de depois se lhe fizerão no Castelo da praya dous Fortes com sete peças;
adiante um Forte com algumas (…)”, (CORDEIRO, 1981: 106).
3.Perspetiva do Forte de São João Baptista, 1998. Foto Luísa Gonçalves
.
As anotações do Padre Manuel de Mello Sousa no
Livro do Tombo da Freguesia de Nossa Senhora do
Bom Despacho,
[4]
Almagreira, Ilha de Santa Maria refere no capítulo I, (dedicado à Ermida de Nossa
Senhora dos Remédios, Fig.8) a existência, a sul da ermida, de um “um castelo, já em ruinas e em uma
pedra solta se vê a data de 1645, isto é, cinco anos apóz a nossa independência de Castela.” (SOUSA,
1936). Este dado pode corroborar a reedificação do Castelo de São João Baptista, com a tipologia
abaluartada, no século XVII.
4. Mapa, Ilha de Santa Maria (ca. 1570)
. “]
5. Pormenor do Mapa, Ilha de Santa Maria (ca. 1570).
2. Os trabalhos Arqueológicos no “Castelo” de São João Baptista: A “Torre-Vigia” como uma edificação
quinhentista?
Os trabalhos arqueológicos no Forte de São João Baptista iniciaram-se em 2008 pelo
CEAM-Centro de
Estudos de Arqueologia Moderna e Contemporânea, com a escavação da estrutura turriforme primitiva.
Desde essa data, os estudos têm sido apoiados pela Direção Regional da Cultura (2008 e 2009), Câmara
Municipal do Município de Vila do Porto (2008, 2009, 2010, 2011, 2012) e pelo
CHAM-Centro de História
de Além-Mar
da Universidade Nova de Lisboa e Universidade dos Açores e Grupo SATA-Açores (2011 e
2012).
Do ponto de vista da tipologia construtiva, interessa registar que a evolução da artilharia e as novas
exigências da pirobalística no final da Idade Média, abriram novos horizontes no que respeita aos
conceitos defensivos e da construção militar, tornando obsoletas e arcaicas as antigas cercas e torres.
construtiva do conjunto, ao que se acrescenta algumas anotações iconográficas relevantes (com
indicação de uma torre vigia no século XVI) e os novos dados disponibilizados pela vertente arqueológica.
Precisamente, e na análise cartográfica, se aceitarmos como plausível a datação do
Mapa da Ilha de
Santa Maria
(cerca de 1570, Figs.4 e 5), verificámos que na segunda metade daquela centúria a área
litoral da Praia configurava uma “vigia”
no local de implantação do atual castelo (ladeada por duas ribeiras:
do Gato e de Nossa Senhora). A georreferenciação constitui um dado fundamental do ponto de vista da
cronologia de um posto de defensivo remoto, e que muito provavelmente poderia corresponder ao corpo
central da torre com os dois pisos com uma outra configuração ao nível da rede de estrutura de muralha
defensiva, atendendo-se aos novos elementos que os trabalhos arqueológicos vieram despoletar
(nomeadamente a identificação da primitiva muralha, Sondagem E, Figs.6 e 7). Assim, é credível, e à luz
dos elementos disponíveis, fazer recuar a fortificação à segunda metade do século XVI, configurando na
altura um posto de vigia de configuração turriforme, com um muro de proteção num plano inferior (e mais
antigo) que a frente abaluartada de construção Seiscentista (e depois sujeito a sucessivas acrescentos ou
reconstruções nos séculos XVII e XVIII).
6.Muro adossado à torre, na orientação Oeste-Este, e com uma espessura 0,80m. (superior à das paredes da estrutura turriforme). Fotos Alexandre Brazão
7. Muro adossado à torre, na orientação Oeste-Este, e com uma espessura 0,80m. (superior à das paredes da estrutura turriforme). Fotos Alexandre Brazão
8.Extrato do Livro do Tombo da Freguesia de Nossa Senhora do Bom Despacho, Almagreira.
Efetivamente, coexiste uma pluralidade de dados que fazem anteceder ao século XVI a construção
turriforme do Castelo de São João Baptista, designadamente:
- O especto dominante da configuração construtiva e a análise da natureza tipológica das fundações
observadas pela intervenção arqueológica (cujo aparelho de pedra, sem reforço portante e sólido assenta
sobre a camada de nivelamento artificial);
- A torre pétrea aparece erguida numa plataforma artificial, sobre um afloramento de preparação à base de
cal e areia para nivelamento, sem preocupações consolidadas de pré-fundação de alvenaria (Fig.9);
9.Corte Este. Foto Élvio Sousa
- Reserva um andar elevado independente com um acesso exterior, garantindo uma maior privacidade ao
espaço funcional, considerando comparativamente os estudos para o norte de Portugal (BARROCA,
1997:70-71);
- O especto arcaico, fortemente enriquecido pelos cunhais laterais de tufo, alguns dos quais com marcas
de canteiro (Fig.10);
10. Marca de canteiro existente na frente do torreão. Foto Élvio Sousa
- O registo arqueológico de um pano amuralhado a Sul, adossado ao limite exterior da estrutura turriforme,
e nitidamente anterior à construção abaluartada do século XVII (Sondagem E, Figs.6 e 7).
Em suma, estes considerandos ganham sustentabilidade pela dedução de Pedro Dias, que considera o
Castelo de São João Baptista uma das edificações defensivas “mais recuadas dos Açores” reconhecendo,
entretanto, as sucessivas alterações a que esteve sujeito ao longo do tempo, em particular no século
XVIII, (DIAS, 2008: 35).
11. Pormenor das escavações das estruturas anexas à torre primitiva. Foto Alexandre Brazão
.
Simplificadamente e cronologicamente sequenciais registam-se as seguintes as ações observadas pelos
sucessivos diagramas estratigráficos, cuja análise se pode estender genericamente ao registo antrópico
da edificação:
1.
Capeamento e nivelação do espaço (século XVI, provavelmente na 2.ª metade).
2.
Construção da torre com os elementos funcionais (século XVI, provavelmente 2.ª metade), juntamente
com o plano de muralha primitiva adossada a torre.
3.
Revestimento da alvenaria (século XVI, provavelmente 2.ª metade).
4.
Pavimentação (superfície da torre, século XVI, provavelmente 2.ª metade).
5.
Abandono do espaço (Século XIX).
6.
Abatimento da cobertura e da alvenaria de aviamento, incluindo a fenestração a Sul (Séculos XIX e
XX).
7.
Afetações atuais (Séculos XX e XXI).
Gaula, Novembro de 2013
Bibliografia:
AA – Arquivo dos Açores, Vol. I, Ponta Delgada, 1980 (fac-símile de 1878), p.5; Vol. XV, 1983, pp.329-330.
BARROCA, Mário Jorge (1997) – “Torres, Casas-Torres ou Casas-Fortes. A Concepção do Espaço de Habitação da Pequena e Média Nobreza na Baixa Idade Média (Sécs. XII-XV)”, Coimbra,Revista de História das Ideias, Vol. 19, pp. 39-103.
BARROCA, Mário Jorge Barroca (1989) – “Em Torno da Residência Senhorial Fortificada. Quatro Torres Medievais na Região de Amares”,Revista de História, Vol. IX, Porto, pp. 9-61.
CORTE-REAL, Miguel de Figueiredo (2003) – “ Defesa Militar da Ilha de Santa Maria, seus Fortes, Redutos e sua Guarnição no princípio do século XVIII”,Boletim do Instituto Histórico da Ilha Terceira, Vol. LXI, Angra do Heroísmo, pp. 283-294.
CORDEIRO, António, Padre (1981) –Historia Insulana das Ilhas a Portugal sugeytas no Oceano Occidental, (s.l.), Secretaria Regional da Educação e Cultura (fac-símile da edição de 1717).
DIAS, Pedro (2008) –Arte de Portugal no Mundo – Açores, (s.l.), Editor Público-Comunicação Social, SA. FRUTUOSO, Gaspar (2005) –Saudades da Terra, Livro III, Ponta Delgada, Instituto Cultural da Ponta Delgada. GUEDES, José Henriques Santos (1996) –Castelo de S. João Baptista no Lugar da Praia da Ilha de Santa Maria, Gabinete da Zona classificada de Angra do Heroísmo (estudo policopiado).
LIZARDO, João (2008) – “As novas roupagens da “Torre do Capitão”, em Santo António”, in LIZARDO, João e SOUSA, Élvio,Fragmentos. Diálogos entre um arqueólogo e um advogado sobre o património cultural, Funchal, CEAM, pp. 183-185.
MOREIRA, Rafael (1994) – “Caravelas e Baluartes”, in Francisco Faria Paulino, coord., A Arquitectura Militar nas Expansão Portuguesa, Porto, Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses, pp. 85-95, (Catálogo da exposição realizada no Castelo de S. João da Foz, Porto, de Junho a Setembro, 1994).
RIBEIRO, João Adriano (1995) – “O Saque dos Argelinos à Ilha de Santa Maria, em 1616”,O Faial e a Periferia Açoriana nos séculos XV a XIX, (Actas do Colóquio realizado nas ilhas do Faial e Pico de10 a 13 de Maio de 1993), Horta, Núcleo Cultural da Horta, 1995, pp. 199-207.
RODRIGUES, José Damião (2003) – “A Guerra nos Açores”, in HESPANHA, António Manuel Hespanha, coord.,Nova História Militar de Portugal, Círculo de Leitores, pp. 241-254.
SANABRIA, Julio Cuenca, MEDINA, José Guillén, MELIÁ, Juan Tous (2005) –Arqueología de La Fortaleza de Las Isletas. La memoria del Patrimonio Edificado, 1.ª edición,(s.l.), Cabildo de Gran Canaria.
SANABRIA, Julio; MEDINA, José Juan (2004) – “Intervención Arqueológica en la Fortaleza de las Isletas. Gran Canaria: Primeras Conclusiones”,Revista Tabona, 12, Universidade de la Laguna, pp. 193-224.
SOUSA, Élvio Duarte Martins (2011) –Ilhas de Arqueologia. O Quotidiano e a Civilização Material na Madeira e nos Açores (séculos XV-XVIII), I e II vols., Dissertação de Doutoramento em História, especialização de História Regional apresentada à Faculdade de letras da Universidade de Lisboa.
SOUSA, Élvio Duarte Martins (2006) – Arqueologia na Cidade de Machico. A Construção do Quotidiano nos Séculos XV, XVI e XVII, Machico, CEAM- Centro de Estudos de Arqueologia Moderna e Contemporânea.SOUSA, Manuel de Mello, p.e. (1930) –Livro do Tombo da Freguesia de Nossa Senhora do Bom Despacho, Almagreira, Ilha de Santa Maria (Ermida de Nossa Senhora dos Remédios).
VERÍSSIMO, Nelson (1995) – “A Redenção dos Cativos: Algumas questões a Propósito do Saque à Ilha de Santa Maria, em Junho de 1616”,O Faial e a Periferia Açoriana nos séculos XV a XIX, (Actas do Colóquio realizado nas ilhas do Faial e Pico de10 a 13 de Maio de 1993), Horta, Núcleo Cultural da Horta, 1995, pp. 209-217.
[1]Confronte o mapa inédito da Ilha de Santa Maria de 1570 (Figs. 4 e 5).
[2]Situação que se constata, também, nas ilhas da Madeira (Machico) e no Porto Santo (SOUSA, 2006: 72-73). [3]Cfr., entre outros, o requerimento de Maio de 1630 (CORTE-REAL, 2003: 284).
[4]Agradeço cordialmente ao jornalista Pedro Bicudo a informação sobre este documento.