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Cidadania ativa: elegibilidade e participação política das travestis

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Academic year: 2021

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Florianópolis, de 25 a 28 de agosto de 2008

Cidadania ativa: elegibilidade e participação política das travestis José Baptista de Mello Neto (UEPB / UFPB), Michelle Barbosa Agnoleti (UFPB) Travestis; participação política; elegibilidade.

ST 61 - Sexualidades, corporalidade e transgêneros: narrativas fora da ordem.

1. Cidadania

De início, cumpre informar que aquilo que entendemos por cidadania não é a simples capacidade de votar e ser votado1. Nossa compreensão pressupõe o pleno exercício não apenas dos direitos políticos, mas também das prerrogativas de participação no controle do atuar do Poder Público - quer por meio de órgãos e instituições estatais, p. ex. Tribunal de Contas, Ministério Público e Ouvidorias, quer através de entidades populares, p. ex. sindicatos, associações e conselhos profissionais, quer por meio de organizações não governamentais, p. ex. Transparência Brasil e Anistia Internacional, quer individualmente por meio dos diversos instrumentos jurídicos-políticos, p. ex. denúncia de irregularidade e ilegalidade nos termos do §2º do art. 74 da C.R.F.B., ação popular e mandado de segurança - com o fito de assegurar que a Administração Pública atue em harmonia com os princípios e preceitos jurídicos que lhe são impostos pelo Ordenamento vigente.

Enfim, entendemos que a cidadania plena é aquela na qual o cidadão é efetivamente o

senhor do Estado2.

2. Travestis: da invisibilidade ao empoderamento

A situação vivenciada por muitas travestis é de pobreza, impossibilidade de acesso a políticas públicas e a oportunidades de inclusão através da educação e do trabalho, além do reiterado desrespeito aos seus direitos, pela intolerância que culmina com marginalização devido à orientação sexual, pela violência moral e física a que são cotidianamente submetidas, essas pessoas são, em geral, destituídas de esperanças de sobrevivência digna e segura. O

mainstream acaba por reforçar estereótipos aviltantes.

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Paradoxalmente, apesar de ostentarem uma aparência muitas vezes chamativa, travestis enfrentam certa “invisibilidade social”, oriunda de um preconceito nefasto à construção de uma cultura plural e democrática. Tal situação se demonstra com clareza na escassez, ao longo do tempo, de políticas públicas voltadas para o empoderamento desse segmento populacional, que, reconhecendo as diferenças, promovam a igualdade.

3. Participação política das travestis

A participação política dos vários “segmentos” da sociedade é um tema por demais debatido hodiernamente. Em que pese o inegável crescimento e o fortalecimento do Movimento LGBT, tanto em nível nacional quanto internacional, sobremodo a partir dos anos 90 do século passado, com repercussão direta na adoção de políticas públicas que visam reconhecer e positivar direitos d@s homossexuais, percebe-se a insignificância da representação política própria LGBT, quer no âmbito do Legislativo, quer no Executivo, em quaisquer das esferas do Estado, ao ponto de atualmente se poder afirmar que não chegam a 05 (cinco) o número de travestis que ocupam cargos públicos eletivos.

Compreendemos que uma das principais missões d@ Parlamentar é legislar em favor das cidadãs e cidadãos em situação de extrema vulnerabilidade social e excluídos das políticas públicas, além de fiscalizar, como já dissemos alhures, os atos do Poder Público.

A efetiva participação política de travestis nos diversos órgãos legislativos e executivos seria um caminho a mais para modificar o quadro acima descrito, já que, apesar de a Constituição de 1988 ter consagrado os princípios da dignidade da pessoa humana, da não-discriminação e da igualdade, até hoje nenhuma lei voltada para a promoção da cidadania de GLBT foi aprovada no Congresso, o que vem a reforçar a necessidade de uma participação ativa desse segmento junto aos Órgãos que compõem o Poder Político pátrio.

A composição das diversas Casas Parlamentares em nosso país é reveladora dessa realidade, o que temos, no máximo, são alguns poucos aliados que, eventualmente, assumem alguma das bandeiras dos movimentos, o que consideramos importante, mas insuficiente do ponto de vista de consolidar um novo modo de fazer política, de avançar no rumo de outro modelo de democracia, desenvolvimento e cidadania plena.

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(des)valores, como o machismo, o sexismo, o racismo, a homofobia, a lesbofobia e a transfobia e a opressão.

Contudo, reconhecemos que ainda enfrentamos várias limitações e desafios. Entre estes desafios, destacamos a segmentação do Movimento LGBT, em que pese enfrentarem um

inimigo comum: a homofobia, a luta pela mudança na ordem das letrinhas demonstra muito

claramente a necessidade de auto-afirmação e a fragmentação do próprio Movimento. A pouca capacidade de influenciar na política institucional tradicional, portanto, em relacionar as demandas específicas com um projeto global de desenvolvimento e de poder político é uma outra limitação e um desafio maior a ser vencido.

No presente trabalho não se pretende apontar estratégias para a participação política das travestis, mas sim alertar para a necessidade dessa participação, objetivando a construção de uma nova e efetiva cidadania, combatendo, a homofobia, o desinteresse político, a pouca credibilidade atribuída aos movimentos sociais LGBT, o distanciamento entre as lideranças desses movimentos e a população homossexual em geral; e construindo identidades políticas para a promoção e manutenção da participação política dos homossexuais em geral e das travestis em particular.

4. Candidaturas de travestis em 2008

No site da ABGLT3os nomes dos pré-candidatos são apontados como "aliados da causa". Dentre os nomes indicados, destacamos os das seguintes Travestis, todas candidatas a vereadora:

BA – Camaçari – Natasha BA – Salvador – Leokret

BA – Feira de Santana – Salete Fast Food CE – Fortaleza – Adrea Rossati

MS – Campo Grande – Cris Stefanny PB – João Pessoa – Fernanda Benvenutty PI – Teresina – Safíra Bengell

RN – Natal – Sabrina Kalahari SP – São Paulo – Salete Campari SP – São Paulo – Jake Chanel

Nas eleições municipais que ocorrerão este ano teremos mais uma oportunidade de

marcar posição. Só que desta vez não poderemos nos contentar em eleger aliados, mas sim,

teremos que eleger pessoas que efetivamente militem no Movimento LGTB, mais precisamente, nos termos do presente estudo, travestis.

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Achamos importante que existam candidaturas de travestis experimentadas nas lutas sociais, mesmo sendo de algum movimento específico, que tenha habilidade, abertura e vontade política para incorporar as bandeiras do conjunto dos movimentos sociais com os objetivos acima mencionados.

Acreditamos na necessidade constante dos movimentos sociais demonstrarem uma imagem política efetiva de suas ações para mobilizar as travestis a participarem politicamente em prol de uma sociedade mais justa e democrática.

É fácil perceber a necessidade de uma ampla ação no campo político, articulando esfera pública e privada, buscando politizar e ocupar diferentes os mais diferentes espaços da sociedade, objetivando possibilitar o direito a vez e voz de dos grupos socialmente vulneráveis no espaço público.

Também se faz necessário demonstrar a presença da discriminação e da exclusão de homossexuais na sociedade brasileira, seja no que diz respeito a condições legais, como o direito à parceria civil, seja no que se refere ao reconhecimento social de orientações sexuais que se diferenciam do padrão hegemônico heteronormativo.

Dessa maneira, defendemos a promoção de uma sociedade mais justa e democrática, pautada na luta contrária a qualquer forma de opressão e de pré-conceitos, e consideramos que o movimento LGBT representa um importante papel na construção dessa sociedade, uma vez que atenta para novas formas de articulações contra-hegemônicas.

Referências bibliográficas

ASSOCIAÇÃO Brasileira de Gays, Lésbicas, Bissexuais, Travestis e Transexuais. Disponível em: <http://www.abglt.org.br/port/eleicoes2008.php>. Acesso em 30.06.2008.

BARACHO. José Alfredo de Oliveira. Teoria Geral dos Procedimentos de Exercício da Cidadania

Perante a Administração Pública. In Revista de Direito Administrativo, 207. Rio de Janeiro:

Renovar, jan./mar. 1997, pp 39/78.

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil, disponível em

<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constitui%E7ao_Compilado.htm>. Acesso em 30.06.2008.

1 É de se ressaltar que nem a Carta Política pátria concebe mais o cidadão a partir da legitimação para o exercício dos direitos políticos. Há diversos dispositivos que embasam esta concepção, p. ex. o inc. II do § 1º do art. 68 que distingue expressamente “nacionalidade, cidadania, direitos individuais, políticos e eleitorais”. Ainda quando trata dos direitos políticos no art. 14 em nenhum dos dispositivos faz menção explicita ou implícita sobre a cidadania. No mesmo sentido o inc. LXXVII do art. 5º determina a gratuidade, na forma da lei, dos atos necessários ao exercício da cidadania. Por fim, merece destaque o disposto no art. 205 da C.R.F.B.: a educação, direito de todos e dever do Estado e da família

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2 Sobre o cidadão e a Administração Pública ver excelente artigo de José Alfredo de Oliveira Baracho. Teoria Geral dos Procedimentos de Exercício da Cidadania Perante a Administração Pública. In Revista de Direito Administrativo, 207. Rio de Janeiro: Renovar, jan./mar. 1997, pp 39/78.

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