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Reflexões sobre o exercício da autoridade na relação professoraluno

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Academic year: 2018

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R E F L E X Õ E S S O B R E O E X E R C ÍC IO D A

zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

-A U T O R ID -A D E

N A R E L A Ç A O

P R O F E S S O R -A L U N O

REGINA CÉLIA CARDOSO ESTEVES •

R E S U M O

Este trabalho tem como objetivo contribuir para o desenvolvimento de reflexões acerca do exercício

da autoridade do professor na relação com o aluno, enquanto fator propiciado r ou inibido r do

crescimen-to. Faz-se um apanhado sucinto da literatura a respeito e consideram-se as características da ação

pedagó-gica que promove o crescimento do professor e do aluno, ambos sujeitos de uma relação aferiva e de

aprendizagem.

MLKJIHGFEDCBA

P a l a u r a s - c h a u e : autoridade; relação professor-aluno; ação pedagógica.

S O M E R E F L E C T IO N S A B O U T T H E P R A T IC E O F A U T H O R IT Y C O C E R I G T H E

R E L A T IO N S H IP B E T W E E N T E A C H E R A D P U P IL

A B S T R A C T

The aim of rhis srudy is to conrribure to me developrnent of reflections regarding rhe practice of

teacher's authority, in the relationship with me pupil, as a factor that propiriates or inhibirs the growth. Ir

was made a brief review of the literarure, which was considered the features of the pedagogical actions that

promore rhe improvernent of the teacher and the student both subjected to an affective and learning

relationship.

l n d e x w o r d s : authority; reacher-srudenr's relationship; pedagogical acrion .

YXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

• U n i v e r s i d a d e F e d e r a l d o C e a r á , B r a s i l . D o u t o r a e m P s i c o l o g i a d a E d u c a ç ã o p e l a U n i v e r s i d a d e d o M i n h o , P o r t u g a l .

77

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IN T R O D U Ç Ã O

zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

A preocupação central deste trabalho

estabe-lece-se em torno do exercício da autoridade do

pro-fessor na relação com o aluno, enquanto faror

propiciador ou inibido r do crescimento.

Sabe-se que, através de sua conduta, o

pro-fessor pode proporcionar aos alunos

oportunida-des de crescimento que lhe permitam tomar

consciência de sua própria responsabilidade, ter

discernimento para as suas escolhas e desenvolver

relações em que haja consideração pelo outro,

ape-sar de suas diferenças. Para tanto, faz-se necessário

que o professor percepcione a atividade educativa

como um processo de transformação, interativo e

dialógico. Sem este requisito, é pouco provável que

o professor consiga estabelecer uma relação com o

aluno na qual imperem a atenção e o respeito à

autoridade docente. Pelo contrário, a imposição de

e trarégias punitivas e de mecanismos coercitivos

para o e tabelecimenro da ordem e a manutenção

do controle obre a turma tende a desencadear

com-portamento de apatia ou indi iplina

estabelecen-do- e um confliro entre o pro or e o aluno, de

di ícil olução.

on ideraçôes aqui eferuadas, embora não

exausri 'as, rérn o intuito de contribuir para

refle-xõe obre a autoridade exercida pelo professor na

ua relação com o aluno cujos resultados tomam

rumos diferentes, caso se trate de uma relação

assirnétrica em sentido único, ou de uma relação

em que o professor e o aluno são, ao mesmo tempo,

sujeito e objeto do ensino, e em que cada um tem

oportunidade de realizar o seu próprio projeto de

conhecimento e de saber, sentindo-se responsável

por sua própria realização.

Reflexões

teóricas

YXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

o

ato pedagógico pode ser dimensionado como um ato conflituoso, visto envolver

essencial-mente uma relação entre sujeitos com papéis, tarefas

e expectativas diferentes. Uma das perspectivas para o entendimento deste conflito é aquela que parte do

pressuposto de que o professor é a pessoa que sabe e

ensina, e o aluno, aquele que não sabe e precisa

aprender. Este pressuposto não considera a

possibi-lidade de que aquilo que o professor ensina não

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corresponde ao que o aluno deseja aprender. O

pro-fessor, munido do poder que lhe confere a

institui-ção escolar e dos valores que sustentam o seu papel,

pode vir a impor um saber que não interessa aos

alunos e um tipo de relação que não considera as

suas necessidades. Como afirma Aq uino (1996),

"a relação pedagógica encontra seu maior

obstácu-lo no desencontro entre as demandas dos projetos

docentes e dos projetos de realização pessoal do

aluno" (p. 40).

O desencontro que se estabelece entre o

pro-fessor e o aluno é fator predisponente ao surgimento

de comportamentos de apatia ou de subversão que

interferem de modo negativo no funcionamento da

aula. O aluno pode ignorar a intervenção do

profes-sor, não responder às suas interpelações, não

acom-panhar o conteúdo programático e apresentar

insucesso na aprendizagem. Quando reage com

com-portamentos perturbadores, o aluno atrapalha o

de-senvolvimento da aula, assumindo, inclusive, atitudes

de ataques verbais ou físicos dirigidos aos colegas e

professores.

Ambas as atitudes (apatia e subversão) podem

ser entendidas como estratégias de protesto ao

desequilíbrio existente entre os objetivos do

profes-sor e as possibilidades do aluno de os alcançar. Face a

este desequilíbrio, o aluno comporta-se de maneira a

obter o que, de outro modo, entende que seria

im-possível. Fator agravante dessa situação decorre do

protesto não se circunscrever aos conteúdos e formas

de ensino adotados pelo professor. Freqüenternente

o aluno desafia a pessoa do professor enquanto figura

de autoridade (Ribeiro, Lopes & Fidalgo, 1997).

Em face da ameaça de perda da autoridade, o

professor tende a utilizar mecanismos coercitivos a fim

de restabelecer a ordem e manter o controle sobre a

turma, adotando, inclusive, estratégias punitivas.

Sabe-se, no entanto, que este tipo de conduta não propicia

o surgirnenro de comportamentos tidos como

adequa-dos, nem resolvem o aspecto funcional da situação

pe-dagógica, ou seja, o resrabelecimento da ordem. O

professor utiliza-se da punição porque,

aparentemen-te, tem um efeito imediato sobre o comportamento

do aluno. Entretanto, devido ao efeito de habituação

da punição, torna-se necessário que o professor

inten-sifique constantemente o estímulo punitivo a fim de

obter o mesmo resultado. Por outro lado, o aluno pode

desenvolver comportamentos de esquiva ou

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evitamento, como ausentar-se da escola quando

sub-metido a constantes situações punitivas. Mais

cornumente, desenvolve comportamentos agressivos,

em resposta ao que considera como agressão sofrida

pela punição aplicada. Se o professor opta pela reação

agressiva em resposta ao comportamento disruptivo

dos alunos, tende a reforçar esse comportamenro,

incrementando a agressividade, ao invés de aplacá-Ia.

Como afirma Baacke (1985), a auroridade

entendida como exercício de poder, bem como

as intervenções autocráticas sobre a conduta do

aluno somente provocam sentimentos de

oposi-ção e resultam, de antemão, ineficazes. Para este

autor, aauroridade do professor não se impõe

atra-vés de um papel representante da lei e da ordem,

mas encontra a sua eficácia quando sustentada em

conhecimentos profundos, numa superioridade

moral e numa bondade compreensível, que são

qualidades pessoais do professor.

YXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

É necessário,

ponanro, que os alunos reconheçam a

autorida-de do professor através da legitimação da função

desta autoridade e da aceitação dos direitos

mo-rais que lhe estão associados. esse sentido o

re-conhecimenro da autoridade do professor rorna- e possível quando há a introjeção de determinado

parâmetros morais, como a permeabilidade a

re-gras comuns, partilha de responsabilidades,

coo-peração, reciprocidade e solidariedade, ou seja, o

reconhecimento da alteridade enquanto condição

MLKJIHGFEDCBA

s i n e q u a n o n para a convivência em grupo (Aquino, 1996-b) e quando existe um vínculo

aferivo positivo entre o professor e os alunos

(Ba-tista & Pinto, 1999).

Nesta mesma linha de raciocínio, Ribeiro (1991)

postula que a relação entre o professor e os alunos deve

ser uma relação de agrado, na qual a influência do

pro-fessor sobre os alunos se dá através de processos de

iden-tificação e de atração, e a condução do grupo se faz

democraticamente. Também Gusdorf{l995) refere que

a au raridade do professor é conseguida a partir de uma

postura de vida em que imperam a integridade, a

ho-nestidade e a humildade. Para este autor, é somente

através dessa postura que o professor tem garantidos o respeito e a atenção dos alunos.

A importância das características de

per-sonalidade do professor na relação educativa é

referenciada também por Freud (1914) ao

escre-ver, depois de encontrar casualmente um

mes-tre-escola do seu tempo de estudante: " É difícil

dizer se o que exerceu mais influência sobre nós

e teve importância maior foi a nossa

preocupa-ção pelas ciências que nos eram ensinadas, ou

pela personalidade de nossos mestres" (p. 286). Assim, o modo como o professor se

relacio-na com os alunos e com o conhecimento a ser

en-sinado deixa marcas que o caracterizam na

lembrança dos estudantes como sendo ou não bom

professor e, muiro embora a competência teórica

do professor seja um dos fatores deterrn inanres da

inserção da sua imagem na lembrança dos

estu-dante a ua exclusividade não garante que essa

imagem eja de 'bom profe o r " . Os anos de

estu-do passam e grande pane do conteúdos

dasdisci-plinas é esquecida. O que fica para empre na

memória é a lembrança de alguma coisa que se

si-tuava fora do saber propriamente diro. Mesmo num

ensino de massas, e por mais confusas que sejam as

relações que o constituem, a educação permanece

como um colóquio singular entre o aluno e o

pro-fessor. "Conscientemente ou não. realiza-se um

contato, trocam-se sinais atitude e palavra"

(Gu

dorf

199- p.

_o .

O profe or ue on guem apre entar-se aos aluno orno uma l...ura e auroridade e

não auto ritãria, de um modo geral pro uram e

-tabelecer uma relação que vai alem da rran mi

-são de saberes acadêmicos, ou eja um encontro

afetivo, no qual se convertem em orienradore e

transmissores de valores e visões do mundo (Irún

& Rada, 1992). A ação pedagógica, para esses

pro-fessores, assenta na sua capacidade para se

descentrar do seu próprio discurso e para dar

opor-tunidàde aos alunos de se exprimirem. Assim, o

professor não só ensina, como educa o aluno e,

desse modo, contribui para que tome

consciên-cia de sua própria responsabilidade e tenha

discernimento para as suas escolhas. O professor

assume, portanto, o papel de formador de

perso-nalidades.

A partir dos modelos de relações inrerpessoais

que estabelece, dos conteúdos selecionados para o

ensino, e dos valores éticos, políticos e sociais presentes

nos modos de mediação do conhecimento, o professor

influencia a formação da personalidade dos alunos

(Almeida, 1997). esse sentido, é preciso que o

professor conheça a realidade do aluno, ou seja, as

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condições concretas de sua existência, e acredite no

seu potencial de desenvolvimento. Estes requisitos

determinam a maneira como ensina - a sua conduta

e expectativas quanto ao que será aprendido - e

interferem de modo positivo na aprendizagem do

aluno, além de abrirem espaço para ocorrências

inéditas e originais, como é o caso da criatividade

(Wallon, 1979). Este tipo de relação compreende um

modo de interagir diferente, no qual os indivíduos

se compõem como sujeitos, com os seus referenciais

de caráter social, cultural, emocional, intelectual e

imaginário (Dupret, 1998), constituindo-se uma

relação em que, assim como o aluno, o professor

também aprende e tem oportunidade de realizar o seu

próprio projeto de conhecimento e de saber.

°

professor e o aluno são, ao mesmo tempo, sujeito e

objeto do ensino (Ricoeur apud Aquino, 1996).

CBA

C o n s id e ra çõ es F in a is

°

YXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

a r o pedagógico ultrapassa os limites de

uma situação particular para colocar em causa a

existência pessoal no seu conjunto e, nesse

senti-do, toma a forma de um encontro pedagógico cuja

finalidade essencial é contribuir para a ediflcação

de um destino humano através de um "diálogo

aventuroso durante o qual dois homens de

matu-ridade desigual confrontam-se, mas onde cada um,

a seu modo, dá testemunho perante o outro das

possibilidades humanas" (Gusdorf, 1995, p. 26).

°

professor é, portanto, um exemplo vivo para os alunos com os quais estabelece uma relação de empatia,

aceitação ou rejeição mútua, que possibilita ou dificulta

os processos de crescimento, desenvolvimento e

aprendizagem, e interfere na formação de hábitos e

atitudes.

Através do ato pedagógico, o professor pode

oferecer ao aluno a oportunidade de se conhecer, de

depender de si mesmo, de se sentir responsável por

sua própria realização e reconhecer no outro estas

capacidades ou, pelo contrário, pode interditar estas

possibilidades.

°

modo como o professor exerce a

sua autoridade perante o aluno é um dos fatores que

marcam a diferença entre uma conduta educariva, que

leva ao reconhecimento da alteridade, e uma

condu-ta repressora, que promove um distanciamento dos

valores que propiciam o crescimento humano.

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B IB L IO G R A F IA

ALMEIDA, S. F. C. A importância do outro na

trans-missão e apropriação do conhecimento e na

constru-ção da consciência de si e do mundo.

MLKJIHGFEDCBA

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Referências

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