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MASTOFAUNA NATIVA CONDUZIDA AO CENTRO DE TRIAGEM DE ANIMAIS SILVESTRES DA PARAÍBA

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Academic year: 2021

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MASTOFAUNA NATIVA CONDUZIDA AO CENTRO DE TRIAGEM DE ANIMAIS SILVESTRES DA PARAÍBA

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Michele Flávia Sousa Marques, ¹Luana Paula da Silva Ribeiro, ²Tainá Sherlakyann Alves Pessoa,

²Eudécio Carvalho Neco, ³Diego Batista de Oliveira Abreu,

4

Paulo Guilherme Carniel Wagner.

RESUMO: O Brasil é um país de atributos superlativos, quando se trata de patrimônio biológico e, junto a países como Madagascar e Indonésia, é notadamente reconhecido por sua biodiversidade.

Os mamíferos apresentam 652 espécies continentais conhecidas pela ciência. A exploração dos habitats naturais pelos seres humanos tem aumentado em todo o mundo, resultando na diminuição da área de vida dos animais. Este trabalho tem como objetivo analisar a entrada de mamíferos silvestres no Centro de Triagem de Animais Silvestres (CETAS), a partir dos registros lançados em seu banco de dados, nos anos de 2009 e 2010. Durante este período, os mamíferos corresponderam a 6,84% (638 espécimes) dos animais depositados, de um total de 9.316 espécimes, 81,24% (7.569 espécimes) corresponde a aves, 10,93% (1.019 espécimes) aos répteis e 0,96% (90 espécimes) foram classificados como “outros”, categoria em que foram inclusas as espécies exóticas, domésticas, aracnídeos, anfíbios e as espécies não identificadas. A ordem Primates obteve destaque entre os mamíferos, com 45,76% (292 espécimes). Foi observado que a maior parte dos espécimes chegou ao CETAS através de entregas voluntárias (46,24%) e resgates (39,03%), sendo que 13.8%

vieram de apreensões, 0,78% não tiveram identificadas a forma de entrada e 0,15% (1 espécime) nasceu no próprio CETAS. Ante o exposto, observa-se que apesar dos mamíferos representarem um reduzido percentual dos animais registrados no CETAS durante o período abordado, é importante que as medidas de fiscalização sejam intensificadas, além disso, outra estratégia claramente eficaz é a sensibilização da população para as consequências da captura e obtenção ilegal desses animais, bem como para cultivar o respeito e a admiração livre de possessividade.

Unitermos: Habitats, Mamíferos silvestres, CETAS.

NATIVE MAMMALS CONDUCTED TO CENTRO DE TRIAGEM DE ANIMAIS SILVESTRES OF PARAÍBA

ABSTRACT: Brazil is a country of superlative attributes, especially when it comes to biological heritage and, along with countries such as Madagascar and Indonesia, is recognized as a mega- diverse country. Mammals have 652 continental species known to science. The exploitation of natural habitats by humans has greatly increased worldwide, resulting in decreased home range for the animals. This work aims to analyze the entry of wild mammals in Centro de Triagem de Animais Silvestres (CETAS), from the records released in their database, in the years 2009 and 2010. During this period, corresponds to mammals 6.84% (638 specimens) of the animals deposited, a total of 9316 specimens, 81.24% (7569 specimens) corresponds to birds, 10.93% (1019 specimens) to reptiles and 0.96% (90 specimens) were classified as "other", category that included

1Graduação em Medicina Veterinária, Universidade Federal da Paraíba, Areia, Paraíba, Brasil, michele_flavia4@hotmail.com, luana_paula_ribeiro@yahoo.com.br; 2Graduação em Ciências Biológicas, Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa, Paraíba, Brasil, taina.alves@ymail.com , eudeciocarvalho@ymail.com ; 3Mestrado em Ecologia e Monitoramento Ambiental, Universidade Federal da Paraíba, Rio Tinto, Paraíba, Brasil, bob- baptista@hotmail.com; 4Médico Veterinário, Superintendência do IBAMA, Núcleo de Fauna, Porto Alegre, Rio Grande do Sul, Brasil; E-mail: paulo.wagner@ibama.gov.br

Recebido em 03/08/2012

Aceite para publicação em 18/10/2012

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exotic species, domestic, arachnids, amphibians, and other species not identified. The order Primates stood out among mammals, with 45.76% (292 specimens). It was observed that most specimens CETAS arrived at through voluntary deliveries (46.24%) and redemptions (39.03%), while 13.8% came from seizures, 0.78% not had identified a form of input and 0.15% (1 specimen) was born in the CETAS. Therefore, we observed that despite the mammals represented a small number of animals record in CETAS during the period covered, it is important that control measures be intensified, moreover, another strategy clearly effective is the awareness about the consequences of the capture and illegally obtaining these animals, as well as to cultivate the respect and admiration free of possessiveness.

Uniterms: Habitats, Wild mammals, CETAS.

INTRODUÇÃO

Em tempos hodiernos, o Brasil se encontra entre os países com maior riqueza faunística do mundo, por isso é considerado um dos países megabiodiversos (Lewinsohn & Prado, 2002). Com 652 espécies de mamíferos nativos catalogados (Reis et al., 2006).

Segundo Hernandez & Carvalho (2006), grande parte da diversidade biológica do Brasil está ameaçada por várias atividades humanas, como a caça e a pesca excessiva, o comércio ilegal de animais, a agropecuária, o extrativismo e a urbanização, assim como a introdução de espécies exóticas e a poluição.

Atualmente uma das maiores ameaças às espécies da fauna silvestre brasileira é o tráfico ilegal de animais, que movimenta bilhões de dólares em todo o mundo (Zago, 2008). O tráfico de animais silvestres aparentemente constitui o terceiro maior comércio ilícito do mundo, perde apenas para o tráfico de narcóticos e armas. Estima-se que essa prática deva girar em torno de US$ 10 a 20 bilhões/ano e a participação do Brasil seria de aproximadamente 5% a 15% deste total (Ribeiro &

Silva, 2007).

Várias pessoas que procuram manter animais silvestres em cativeiro domiciliar, de forma consciente ou não, acabam por estimular a captura e o comércio ilegal. Como consequência, os órgãos ambientais responsáveis, Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA) e Polícia Ambiental, estabelecem multas e apreendem estes animais conduzindo-os aos CETAS, para serem recuperados e destinados corretamente. Por outro lado, muitas outras entregam voluntariamente os animais, principalmente devido à agressividade que muitos indivíduos expressam ao atingirem a maturidade sexual. Em ambos os casos, por se tratar de uma atividade ilegal, os dados reais sobre este comércio são difíceis de ser mensurados (WWF, 1995), entretanto estimativas sobre a entrada de animais silvestres nos CETAS podem revelar algo sobre a captura e o comércio destes em uma escala nacional.

Outro grande problema é o desmatamento em prol da urbanização, através do qual são geradas verdadeiras “ilhas de vegetação urbanas”, especialmente em cidades do litoral nordestino, como é o caso de João Pessoa, tendo como consequência a frequente saída dos animais destes espaços em busca de alimento e novas áreas para colonização. Segundo Braga & Carvalho (2003), o fator de maior impacto ambiental consiste na invasão dos ecossistemas para a construção de áreas de habitação, determinando assim grande degradação nas áreas utilizadas para a formação de cidades.

Segundo Chiarello et al. (2008) “O número de espécies ameaçadas está significativamente

correlacionado ao número de espécie presente em cada ordem [...] Há, porém, algumas

discrepâncias. As ordens mais especiosas no Brasil são Rodentia e Chiroptera; entretanto, as que

têm maior proporção de espécies ameaçadas são Primates e Carnivora [...] Isso indica que os

primatas e os carnívoros estão proporcionalmente mais ameaçados, os primeiros por possuírem

hábito exclusivamente florestal (portanto, baixa tolerância à destruição das florestas) e os últimos

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Nº _________

Nome científico___________ Data de entrada___________

Marcação tipo____________ Numero de Registro no Centro de Triagem:______________

Município de procedência:________ Localidade específica: ___________

Caracterização do ambiente de coleta: __________ Clima: _________ Vegetação:_________________

Razão: Apreensão ( ); Doação ( ); Animal atropelado ou ferido ( ); Outros: ________________________________________

Nome completo do coletor: ___________________________________________________

Instituição ou Órgão fiscalizador:___________________________________________________________________________

Endereço:______________________________________________________________________________________________

Telefone para contato: ____-_____________ Numero do termo de apreensão/doação: _______________________________________

Sexo: Macho ( ); Fêmea ( ); Indeterminado ( ) Idade: Filhote ( ); Jovem ( ); Adulto ( ); Idoso ( )

Observações de entrada e histórico:__________________________________________________________________________

Biometria:

Massa corporal:__________g Comp. corpo:__________mm Comp.cabeça: :_______mm Comp. cauda:_______mm Circ. pescoço:__________mm Circ. tórax:__________mm Comp. cabeça:______mm Circ. base da cauda:_____mm Pata trás.s/

unha:______mm Pata diant.s/ unha:___mm Outras medidas:

Alimentação tipo: Planilha alimentar nº: __________________

Coleta de parasitos ( ):_________ Coleta de Sangue ( ):__________ Coleta de outro material ( ): Qual? _____________

Técnicos responsável pelos procedimentos: ___________________________________________________________________

Data de saída: ______________ Destino: ___________________

Observação: anexar a esta ficha os seguintes documentos:

Ficha de atendimento clínico;

Encaminhamento para Hospital Veterinário;

Ficha Nutricional;

Demais informações sobre o exempla.

por serem predominantemente predadores, apresentando baixa densidade populacional e grande necessidade de espaço.”

Como resultado das apreensões de mamíferos, ocorre uma superlotação destes nos CETAS, situação verificada notadamente no CETAS da Paraíba. Diante desse quadro, o presente trabalho tem a finalidade de inventariar os mamíferos que deram entrada no Centro de Triagem de Animais Silvestre da Paraíba entre os anos 2009 e 2010. De modo a fornecer dados sobre a procedência, estado de saúde na chegada e índice de mortalidade dos animais, visando a geração de informações que auxiliem planos futuros para a conservação destas espécies.

METODOLOGIA

O presente estudo foi realizado a partir de consultas ao banco de dados do centro de Triagem de Animais Silvestres (CETAS), centro especializado do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA), localizado na Floresta Nacional da Restinga de Cabedelo, na Paraíba e responsável pela recepção, triagem, tratamento e destinação de animais silvestres resgatados ou apreendidos pelos órgãos de fiscalização, ou entregues voluntariamente pela população em geral do estado da Paraíba.

Este CETAS procede ao registro de entrada dos espécimes silvestres através de fichas escritas e planilhas eletrônicas, formando um banco de dados, o qual consta o nome comum e científico, sexo, local de apreensão/captura, estado físico, entre outras informações (Fig. 1).

Para o estudo, foram utilizados os dados referentes às entradas de espécimes entre os anos de 2009 e 2010, também foram acrescentadas as informações sobre o risco de extinção das espécies de acordo com a Lista Vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais (IUCN, 2012).

Figura 1 – Ficha de preenchimento utilizada para o registro entrada de Mamíferos ao Centro de

Triagem de Animais Silvestres da Paraíba.

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RESULTADOS E DISCUSSÃO

Dentre um total de 9.316 espécimes de animais depositados no CETAS durante o período analisado, os mamíferos corresponderam a 6,84% (638 espécimes, as aves a 81,24% (7.569 espécimes), 10,93% (1.019 espécimes) correspondeu aos répteis e 0,96% (90 espécimes) foram classificados como “outros”, categoria na qual foram inclusas espécies exóticas, domésticas, aracnídeos, anfíbios e os não identificados.

A quantidade de espécimes depositada variou durante os meses do período abordado (Fig.

2). Isto não significa necessariamente aumento ou diminuição no tráfico desses animais, mas sim uma variação na intensidade da fiscalização, a qual depende da disponibilidade de recursos financeiros e das prioridades que são definidas para as ações de fiscalização (Pagano et al., 2009).

Figura 2 – Registros de entrada de mamíferos por meses durante os anos de 2009 e 2010 no Centro de Triagem de Animais Silvestres da Paraíba, em Cabedelo – PB.

Registrou-se 32 espécies, distribuídas em 16 famílias e sete ordens, dentre as quais se

destaca a ordem Primates com o maior percentual de entradas (45,76% ou 292 espécimes). Um

trabalho realizado por Pessoa et al. (2010) no mesmo CETAS e com o mesmo escopo do presente

estudo, inventariou entre os anos de 2005 a 2008 15 espécies de macacos, distribuídos em nove

gêneros e em quatro famílias (Callitrichidae, Cebidae, Atelidae e Pitheciidae). A ordem Pilosa, por

sua vez, representou 16,30% ou 104 espécimes, a ordem Didelphimorphia 14,42% ou 92 espécimes,

a ordem Rodentia 12,53% ou 80 espécimes, a ordem Carnívora 7,36% ou 47 espécimes, a ordem

Cingulata 3,29% ou 21 espécimes e a ordem Cetacea 0,31% ou 2 espécimes. A tabela 1 apresenta

uma lista das espécies que deram entrada no CETAS-PB entre os anos 2009 e 2010, bem como a

quantidade de registro para cada uma delas e a classificação quanto o status de conservação. No

entanto, o trabalho de Pagano et al., (2009) registra que o valor mais representativo de fauna

depositada no Centro de Triagem de Animais Silvestre da Paraíba, entre os anos de 2006 e 2007, é o

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das Aves silvestres, as quais corresponderam a 88% dos animais depositados, um total de 2.282 espécimes, seguidos dos mamíferos com 221 espécimes e 72 espécimes de répteis.

Tabela 1 – Mamíferos com registro de entrada no Centro de Triagem de Animais Silvestres da Paraíba, nos anos de 2009 e 2010, e status de conservação. SC – status de conservação; PP – Pouco Preocupante; CR – criticamente ameaçado; VU – vulnerável; D. Def – Dados Deficientes e S/ Inf.

– Sem Informação.

Táxon Nome popular Espécimes SC

Carnivora Canidae

Lycalopex vetulus

Raposa do Campo 11 PP

Cerdocyon thous Raposa – Cachorro do

mato 12 PP

Felidae

Leopardus pardalis (mitis) Jaguatirica 4 PP

Leopardus tigrinus Gato do mato 5 VU

Mustelidae

Eira Barbara Irara 1 PP

Galictis vittata Furão 4 PP

Lontra longicaudis Lontra 1 D. Def.

Procyonidae

Nasua nasua Quati 2 PP

Procyon cancrivorus Guaxinim 7 PP

Cetacea

Delphinidae

Sotalia guianensis Golfinho 1 D. Def.

Grampus cf. griséus Golfinho de risso 1 S/ Inf

Cingulata

Dasypodidae

Dasypus septemcinctus Tatu galinha pequeno 1 PP

Dasypus novemcintus Tatu verdadeiro 2 PP

Euphractus sexcintus Tatu peba 18 S/ Infr.

Didelphimorphia Didelphidae

Didelphis albiventris Timbú, Gambá ou Saruê 92 PP Pilosa

Bradypodidae

Bradypus variegatus Bicho preguiça 53 PP

Mymecophagidae

Cyclopes didactylus Tamanduá – í 1 PP

Tamandua tetradactyla Tamanduá mirim 50 PP

Primata

Atelidae

Alouatta belzebul Macaco guariba 8 VU

Callithricidae

Callithrix jacchus Sagui do tufo branco 119 PP

Callithrix penicillata Sagui do tufo preto 2 PP

Cont.

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Táxon Nome popular Espécimes SC

Saguinus Níger Sagui preto 2 VU

Cebidae

Cebus apella Macaco prego 4 PP

Cebus kaapori Macaco caiarara 1 CR

Cebus flavius Macaco prego galego 24 CR

Cont.

Cebus libidinosus Macaco prego 132 PP

Rodentia

Caviidae

Galea spixii Preá 4 PP

Hydrochoerus hydrochaeris Capivara 16 PP

Kerodon rupestris Mocó 11 PP

Dasyprodidae

Dasyprocta aguti Cutia 39 S/ Inf.

Erinaceidae

Coendou prehensilis Quandu 10 PP

Total 638

Observou-se ainda que a maior parte dos espécimes depositados no CETAS é proveniente de entregas voluntárias, o que representa 295 espécimes (46,24%), já os resgates foram verificados em 249 espécimes (39,03%), e as apreensões em 88 espécimes (13,8%). Ainda, cinco espécimes (0,78%), não tiveram sua origem identificada e um (0,15%) nasceu no próprio CETAS.

A composição etária destes animais reforça o que foi dito acima, pois dos 638 mamíferos, 469 (73,51%) são classificados como adultos, 61 (9,56%) como jovens, 105 (16,45%) como filhotes e 3 (0,47) não apresentaram informação de faixa etária. Uma observação preliminar indica que possivelmente este fato se deve a maturação sexual dos indivíduos, visto que muitos são capturados ainda filhotes e mantidos em cativeiro domiciliar como animais de estimação, porém quando ficam adultos expressam comportamentos agressivos, resultando na decisão dos donos em entregá-los voluntariamente ao CETAS.

Análises realizadas nos parâmetros clínicos consideraram que 427 mamíferos (66,92%) apresentavam estado de saúde regular, 141 (22,10%) bom, 60 (9,40%) ruim e 10 (1,57%) não apresentava na ficha essa informação. Sendo esse tipo de critério subjetivo, era sempre realizado pela mesma equipe, entre eles o médico veterinário responsável. Em suma, levavam-se em consideração basicamente os aspectos clínicos visíveis macroscopicamente, não sendo feito nenhum tipo de exame específico laboratorial na rotina. Neste contexto, o índice de mortalidade não apresentou proporções altas, dos 638 espécimes apenas, 122 (19,12%) foram a óbito, levando em consideração a escassez de informações sobre o período em que estes espécimes estiveram em cativeiro irregular, ou dos agravos sofridos naqueles provenientes de resgates em vida livre.

A destinação dos animais é cautelosa, levando-se em consideração o meio natural pertencente a cada espécie e seu papel no equilíbrio do ecossistema. Alguns táxons, como os primatas (macacos-prego e saguis) exigem mais estudo e cuidados para suas reintroduções. Projetos de reintrodução monitorada estão em andamento no CETAS da Paraíba, para que esses e quaisquer outros animais retornem ao meio natural de maneira segura, evitando maiores desequilíbrios ao meio ambiente.

As altas taxas de entradas observadas nos recintos de manejo refletem a atual situação de descaso com a fauna brasileira, os animais chegam, por meio de devoluções na grande maioria dos casos e por apreensões feitas por órgãos especializados como o IBAMA. (RENCTAS, 2002; Souza

& Soares-Filho, 2005). Segundo Marini & Garcia (2005) devido à falta de opção e pressão para a

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continuidade das apreensões e solturas dos animais, grande parte dos espécimes é liberada em locais impróprios (fora de sua distribuição geográfica natural) e sem uma avaliação prévia apropriada do seu estado sanitário, sendo os efeitos dessas solturas ainda desconhecidos, podendo até potencializar a ação de espécies exóticas invasoras.

Um dos exemplos nacionais amplamente conhecidos foi a soltura de espécimes de Callithrix jacchus e o C. penicillata (Cunha & Vieira, 2004; Morais-Jr.; Ruiz-Miranda; Sartori, 2004; Passos et al., 2006). Originários da Mata Atlântica Nordestina, Caatinga e Cerrado, estes animais se tornaram uma verdadeira praga na região sudeste, predando ovos, filhotes e formas adultas de várias espécies de pássaros nativos. Dados evidenciam que globalmente, quase 20% dos vertebrados podem estar ameaçados de extinção de alguma maneira por espécies invasoras (Neely, 2001).

Vale ressaltar que no estado da Paraíba o tráfico ilegal de animais silvestres atua conjuntamente com outras ações antrópicas acelerando o processo de extinção das espécies, como:

o intenso desmatamento para suprir a necessidade de ampliação do espaço urbano, e em cidadãos que entregam seus animais quando estes chegam à idade adulta e começam a expressar características típicas do habitat selvagem, como agressividade e comportamento sexual, tornando- se com isso um incômodo para a manutenção em cativeiro domiciliar.

Este estudo demonstrou que apesar dos mamíferos representarem um pequeno valor em percentual de depósito, devemos considerar a grande importância deles na manutenção do equilíbrio natural, já que muitas das espécies atuam como predadores, situando-se no topo da cadeia trófica.

Portanto, a retirada indiscriminada destes indivíduos de seus ecossistemas culmina em desequilíbrios ecológicos de grande impacto para toda uma cadeia. Além disso, os mamíferos detém um grande poder carismático, atraindo o público em geral, podendo ser utilizados como espécies bandeiras na mídia na tentativa de sensibilização, visando sensibilizar a população quanto aos problemas gerados pelo tráfico da fauna silvestre.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Assim, observa-se que a entrada de mamíferos no CETAS da Paraíba é preocupante, uma vez que denuncia uma gama de problemas que os afetam diretamente, e que, medidas de fiscalização devem continuar intensificadas, de modo a controlar o tráfico de animais. Porém, a sensibilização da população é uma das medidas mitigadoras mais eficientes para combater o comércio ilegal, sendo importante atentar para o modo como isso é realizado, pois esta estratégia deve, necessariamente, considerar e avaliar o contexto de cada público alvo.

Tendo em vista a Ecologia de Paisagens, é importante ressaltar que a recuperação e conservação das áreas de florestas remanescentes também devem ser adotadas urgentemente, visto que os mamíferos necessitam destas áreas para conservação das populações in situ, também para ações de manejo das populações antes cativas visando a destinação por meio da soltura e, além disso, as áreas de florestas manejadas devem favorecer o intercruzamento, aumento da diversidade genética através do fluxo gênico das populações de mamíferos remanescentes e populações reintroduzidas.

REFERÊNCIAS

Braga, R.; Carvalho, P. C. (2003). Recursos hídricos e planejamento urbano regional. 1 ed. Rio Claro: Laboratório de Planejamento Municipal.

Chiarello, A. G.; Aguiar, L.M. S.; Cerqueira, R.; Melo, F. R.; Rodrigues, F. H. G.; Silva, V.M. . Mamíferos ameaçados de extinção no Brasil. In: Angelo B.M. Machado; Gláucia M. Drommond;

Adriano P. Paglia. (Org.). Livro Vermelho da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção. 1 ed. Belo

Horizonte, MG: Ministério do Meio Ambiente e Fundação Biodiversitas, 2008, v. 2, p. 681-702.

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Hernandez, E. F. T.; Carvalho, M. S. (2006). O tráfico de animais silvestres no Estado do Paraná.

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Marini, M. A.; Garcia, F. I. (2005). Conservação de aves no Brasil. Megadiversidade, 1(1): 95-102.

Morais-Jr, M. M.; Ruiz-Miranda, C. R.; Sartori, P. (2004). Levantamento de duas espécies de sagüis introduzidas na área de ocorrência do mico-leão dourado. XXV Congresso Brasileiro de Zoologia, Brasília-DF, Brasil, p. 252.

Neely, J. (2001). Invasive species: a costly catastrophe for native biodiversity. Land Use and Water Resources Research, 2(1): 1-10.

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Passos, F. C.; Miranda, J. M. D.; Aguiar, L. M.; Ludwig, G. (2006). Distribuição e ocorrência de primatas no Estado do Paraná, Brasil. In: Bicca-Marques, J. C. (Ed.). A Primatologia no Brasil 10.

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Souza, G. M.; Soares-Filho, A. O. (2005). O Comércio Ilegal de Aves Silvestres na região do Paraguaçu e Sudoeste da Bahia. Enciclopédia Biosfera, 1: 1-10.

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Brasília: WWF, 48 p.

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Zago, D. C. (2008). Animais da fauna silvestre mantidos como animais de estimação. 40p.

(Monografia Especialização em Educação Ambiental) – Universidade Federal de Santa Maria,

Santa Maria – RS.

Referências

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