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A PROTEÇÃO JURÍDICA DAS FAMÍLIAS MULTIESPÉCIES NO ORDENAMENTO JURÍDICO BRASILEIRO EM CASOS DE DISSOLUÇÃO DO VÍNCULO CONJUGAL RESUMO

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A PROTEÇÃO JURÍDICA DAS FAMÍLIAS MULTIESPÉCIES NO ORDENAMENTO JURÍDICO BRASILEIRO EM CASOS DE DISSOLUÇÃO DO VÍNCULO CONJUGAL

Aline Silva Seixas

Acadêmica da Universidade Federal do Rio Grande do Norte

RESUMO

No Brasil ainda é objeto de discussão a proteção dos animais de estimação após a dissolução do vínculo conjugal, considerando os laços afetivos estabelecidos tal artigo explana sobre a possibilidade de utilização por analogia do direito de família em casos de concessão da guarda e direito de visitas, em razão da ausência de uma norma específica. Sobre este assunto, foi realizado uma análise do posicionamento do ordenamento jurídico brasileiro sobre o tema. Desta forma, foi realizada pesquisa bibliográfica às leis, às decisões judiciais e à doutrina. Por fim, serão analisados os Projetos de Lei 1.058/2011, 351/2015 e 1365/2015 que dispõem sobre a temática objeto deste trabalho. Como resultado, nota-se que o tema ainda é tratado como uma inovação jurídica desnecessária apesar da realidade vivida pelo poder Judiciário, pelas famílias afetadas e seus animais de estimação.

Palavras-chave: Animais de estimação. Direito

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1. INTRODUÇÃO

Tendo em vista o importante vínculo afetivo estabelecido entre o ser humano e seus animais de estimação, a presente pesquisa tecerá ponderações acerca da proteção jurídica das famílias multiespécies e a inexistência de uma normativa específica que trate sobre a temática.

Os animais de estimação ocupam importante espaço no núcleo familiar moderno, sendo alvo de disputas judiciais quando ocorre a dissolução do vínculo conjugal. Nosso ordenamento jurídico não responde tais questionamentos de forma direta, mas as decisões pátrias utilizam-se de maneira subsidiária o que está estabelece o direito de família e o estatuto da criança e do adolescente.

Nesse contexto, surgiram algumas iniciativas legislativas que pretendem modificar a forma como os animais são vistos em nosso ordenamento jurídico e a sua proteção jurídica em casos de divórcio abrangendo determinados pontos a serem levados em consideração na hora da concessão da guarda.

Os magistrados estão utilizando a ponderação para inferir qual cônjuge tem a melhor condição de exercer a guarda do pet, bem como decidir sobre o direito de visita e convívio que cada um terá. A solução mais comum tem sido a mesma dada aos filhos menores.

Para alguns a normatização dessa temática é inócua, no entanto visando conferir maior segurança na solução deste tipo conflito ela se faz imprescindível, uma vez que os animais devem possuir status de “sujeito de direito”.

Ademais, considerando que a tutela da afetividade constitui a base do reconhecimento das uniões estáveis, anaparentais, homoafetivas, parentesco socioafetivo. Então, por que não estabelecer o mesmo critério em relação aos animais de estimação?

Diante desse problema o presente trabalho tem como objetivo analisar como o direito tem se posicionado acerca da proteção dos interesses das famílias multiespécies, especialmente o que tange a guarda

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do animal de estimação e o direito de visitas após a dissolução do vínculo conjugal.

2. O NOVO CONCEITO DE FAMÍLIA E VÍNCULO AFETIVO ENTRE O SER HUMANO E SEUS ANIMAIS DE ESTIMAÇÃO

No novo conceito de família há espaço para liberdade e as famílias se formam do modo como seus sujeitos convirem, assim uma família pode ser formada pela união de um casal heterosexual, homossexual, relacionamentos poliafetivos ou mesmo solteiros e seus animais de estimação. São as chamadas famílias multiespécies que podem ser conceituadas como:

O conceito de constituição de uma rede de interações entre animais e humanos se dá por um sistema social que distingui o grupo familiar composto por pessoas e seus animais de estimação denominada família multiespécie, onde os membros se reconhecem e legitimam. (Maturana

apud Faraco 2008, p. 37)

O conceito de família é muito amplo para ser definido em rol taxativo, nesse sentido Maria Berenice Dias (2016) considera como uma relação de seres ligadas por um vínculo de afetividade, solidariedade, união, respeito, confiança, amor e projeto de vida comum. Tal definição está em constante evolução e é necessário que o direito acompanhe essas transformações e proceda uma atualização normativa para proteger as novas famílias que se estabelecem em nossa sociedade.

O nosso código civil, por exemplo, ainda considera os animais de estimação como bens móveis, semovente e coisas que pertencem a seus proprietários, podendo ser vendidos ou doados. No plano da realidade, no entanto, os bichos de estimação são tidos como entes do núcleo familiar, muitas vezes sendo tratados como filhos e seus donos detentores de direitos e responsabilidades.

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As famílias mulltiespécies já são uma realidade, basta observar o notório crescimento do mercado em torno desses animais, com o surgimento de pet shops, veterinários, produtos e eventos voltados para sua alimentação, saúde, moda e bem-estar.

Nesse contexto, o Brasil é considerado o 4º maior do mundo em população total de animais de estimação e em 2015 o mercado pet faturou 18 bilhões, segundo dados da Associação Brasileira da Indústria de Produtos para Animais de Estimação.

Não raro o cinema e noticiários também retratam a relação entre o ser humano e seus animais, seja histórias de cães de aguardam seus donos na porta de hospitais, animais que se despedem de donos em velórios, cachorro espera dono em estação de trem ou mesmo casos de papagaio que morrem ao ser retirados da presença de seus donos. Até mesmo é perceptível a maior flexibilidade de alguns shoppings centers, meios de transportes e áreas de lazer ao permitir que a presença de animais de estimação em seus ambientes.

Esse novo arranjo de família na contemporaneidade tem proporcionado um aumento de demandas que chegam ao Poder Judiciário, especialmente oriundos de casos de conflitos em que cada cônjuge após a dissolução do relacionamento tem interesse na guarda do pet, vez que ambos possuem laços de afetividade com o animal, independente de quem tenha comprado. Segundo, Amaral (2015) “o afeto deve prevalecer em face as normas jurídicas, que não devem ser engessadas, mas sim, podendo ser deliberadas”.

3. A INEXISTÊNCIA DE NORMA ESPECÍFICA E OS PROJETOS DE LEI SOBRE A TEMÁTICA

No que tange a relação entre pais e filhos, o direito de família restou preservado o melhor interesse da criança no que ser refere a determinação da guarda, a frequência em que o direito de visitas será resguardado, além da determinação do valor da pensão por alimentos.

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Em relação aos animais de estimação inexiste previsão legal que disponha acerca de tais proteções em caso de separação do casal até então proprietário. Apesar disso, o julgador tem se utilizado da analogia para garantir a tutela jurisdicional daqueles que buscam na justiça a regulamentação de tais direitos.

O legislador atento às transformações contemporâneas e a realidade das famílias multiespécies, ensaiam tentativas para a construção de uma lei brasileira que ofereça a proteção jurídica necessária ao animal de estimação e que resguarde os interesses de seus donos em casos de conflitos de interesse.

As primeiras tentativas de regulamentação normativa foram os Projetos de Lei 7196/2010 e 1058/2011, propostas respectivamente pelos Deputados Federais Márcio França e Marco Aurélio Ubiali, que discorriam sobre a guarda dos animais de estimação nos casos de dissolução litigiosa da sociedade e do vínculo conjugal entre seus possuidores. Tais propostas foram arquivados pela Mesa Diretora da Câmara dos Deputados.

Apesar do insucesso de tais iniciativas, o legislador propôs novamente alguns projetos de Lei que tramitam atualmente na Câmara dos Deputados sobre a temática. É o caso da PL 1365/2015 proposta pelo deputado Ricardo Tripoli, que prevê a situação dos animais de estimação em casos de separação, abrangendo os seguintes pontos a ser levado em consideração na hora da concessão da guarda: o melhor ambiente para a moradia do animal, os laços afetivos dele em relação as partes, disponibilidade para cuidar e condições financeiras para a manutenção do animal. Tal projeto está aguardando designação de relator na Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania.

Outro Projeto de Lei que merece destaque é a PL 351/2015, proposta pelo Senador Antônio Anastasia, que visa modificar o status dos animais no código civil de 2002, que os trata como coisas. Tal proposta objetiva uma emenda aos artigos 82 e 83 do Código Civil, para que os animais sejam inseridos como bens em sua singularidade, por serem portadores de sentimentos. De acordo com o idealizador deste

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Projeto de Lei a expressão “coisa” está diretamente ligada a utilidade patrimonial, ao passo que “bem” está ligado à ideia de direito.

Cumpre enfatizar que recentemente a França reconheceu os animais de estimação como seres sencientes, deixando de ser vistos como bem patrimonial. Já a corte Argentina reconheceu uma orangotanga como uma pessoa não-humana e como titular de direitos. Demonstrando assim, uma mudança de postura gradual da interpretação normativa de cada país sobre os animais e sua proteção jurídica.

A realidade vivida pelo poder Judiciário aponta que não se trata de inovação jurídica desnecessária as propostas apresentadas na Câmara dos Deputados, mas sim que criação legislativa de regulamentação dos direitos das famílias multiespécies é imprescindível para a resolução de conflitos, uma vez que os animais devem possuir status de “sujeito de direito”.

4. UMA ANÁLISE CRÍTICA DAS DECISÕES JUDICIAIS BRASILEIRAS ACERCA DOS DIREITOS DAS FAMÍLIAS MULTIESPÉCIES

A necessidade de regulamentação é evidente, cada vez mais os pets estão assumindo um novo papel no núcleo familiar, sendo considerados como amigos, integrantes da família e, até mesmo, substituindo um filho.

A ausência de normativa específica promove o sofrimento de certas famílias, que ao acionar o judiciário para solucionar seus conflitos provenientes dessas demandas enfrentam a ironia do Poder Judiciário, como é o exemplo do seguinte julgado do Rio Grande do Sul:

“O curioso é que em tempos de assoberbamento do Poder Judiciário, lotadas as mesas e os armários dos operadores do Direito da área de família com questões de grande relevância, tais como investigações de paternidade ou destituições de poder familiar, não estamos aqui

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tratando da busca e apreensão de um menor, cuja guarda se discute, mas sim de uma cachorrinha. E as petições lançadas por autor e requerida, eminentes colegas, não perdem de vista as expressões de ‘direito de guarda’ e ‘direito de visita’, não sendo de estranhar que surgisse, em algum momento, alusão à defesa do ‘melhor interesse canino’.”1

É certo que o número de demandas do judiciário é grande, mas é preciso reconhecer que existe um conflito, que envolve sentimentos, não sendo tão simples tratar os animais como bens materiais que podem ser vendidos e seus valores partilhados entre os cônjuges litigantes. Os conflitos de interesse não seriam resolvidos, as partes ficariam insatisfeitas e os animais sofreriam devido a ruptura do vínculo afetivo com seus donos.

Não são todos os julgadores que possuem essa visão, na maioria das decisões os operadores do direito interpretam estes tipos conflitos utilizando-se do bom senso, mitigando e relativizando a normativa ultrapassada para atender a realidade contemporânea.

Enquanto essa regulamentação não acontece o magistrado em casos concretos tem se utilizado das regras do código civil e do Estatuto da Criança e do Adolescente, especialmente o artigo 33 deste último, que trata sobre o instituto da guarda e o melhor interesse da criança/pet.

4.1 O direito de guarda e de visitas

A Guarda compartilhada é uma prática do direito de família que no momento tem sido estendida para os animais de estimação. Apesar da inexistência de dados oficiais, sabe-se que é cada vez mais crescente em casos de separação a busca da Justiça para definir esse

1 TJ-RS - AC: 70038022414 RS, Relator: Alzir Felippe Schmitz, Data de Julgamento: 24/02/2011, Oitava Câmara Cível, Data de Publicação: Diário da Justiça do dia 04/03/2011

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conflito, considerando que ambos possuem interesse em ficar com a guarda do pet.

Nessas situações nosso Judiciário tem concedido a guarda compartilhada do animal de estimação, ou então, após uma ponderação, concede a guarda ao companheiro que apresente maior afinidade com o pet, disponha de maior espaço físico e tempo para cuidar do animal, conferindo ao outro companheiro o direito de visitas ao animal.

Essa alternativa se mostra a ideal, uma vez que o animal terá a atenção de ambos ex-cônjuges, sendo seus gastos divididos entre eles. Na guarda compartilhada o ex-cônjuges possuem os mesmos direitos e deveres sobre o animal, sendo regulando o direito de visitas por meio de decisão judicial ou de forma pacífica em comum acordo.

Maria Berenice Dias (2013), aborda esta hipótese, explanando sobre situações recorrentes em que casais que possuem animais de estimação, por ocasião da separação, a um deles é concedida a guarda e a outro é assegurado o direito de visitas.

Desse modo vemos decisões nesse sentido, é exemplo uma proferida pela 22ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, no ano de 2015, que cuidou do divórcio de um casal que conviveu em união estável por 15 anos, na ocasião o maior conflito não estava relacionado aos bens que foram adquiridos ao longo da relação que já havia sido decidido na primeira instância, mas sim com quem ficaria o cãozinho, objeto de recurso. A decisão concedeu a guarda compartilhada do animal a mulher, contudo o ex companheiro dela conseguiu o direito de ficar com o pet em finais de semana alternados.

O Colegiado neste caso concreto utilizou-se da ponderação, uma vez que o homem alegava ter comprado e cachorro e presenteado sua ex companheira quando ela sofreu um aborto, além disso declarou que sempre cuidou do cachorro, levando para passear e nas consultas ao veterinário. Por outro lado, a mulher apresentou dados concretos de que era a responsável pelo cachorro, por meio de cartão de vacinação, receituários e laudos médicos em seu nome.

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instância, o relator do caso afirmou:

“Verifica-se que a presente demanda versa, em suas 160 páginas, sobre o cachorrinho Dully, ressaltando-se o papel que ele representava para a entidade conjugal e o manifesto sofrimento causado ao apelante em decorrente de tal desalijo. Atento a todos os parâmetros até aqui apresentados, aos quais acresço o fato de que o animal em questão, até por sua idade, demanda cuidados que recomendam a divisão de tarefas (...) que seja permitido ao recorrente ter consigo a companhia do cão Dully, exercendo a sua posse provisória, devendo tal direito ser exercido no seu interesse e em atenção às necessidades do animal, facultando-lhe buscar o cão em fins de semana alternados, às 8h de sábado, restituindo-lhe às 17h do domingo, na residência da apelada.”2

A Segunda Vara de Família e Sucessões de Jacareí (SP) já possui decisões nesse sentido, no ano de 2016 estabeleceu a guarda alternada de um cão entre ex-cônjuges. Em tal decisão o magistrado reconheceu que os animais são sujeitos de direito em ações de dissolução de relacionamentos. De acordo com o juiz “por se tratar de um ser vivo a sentença deve levar em conta critérios éticos e cabe analogia com a guarda de humano incapaz”, não podendo ser vendido para que a renda fosse dividida entre o casal

Por outro lado, ainda é evidente uma resistência por parte do Judiciário que se nega a utilizar o direito de família nesses casos, por considerar os animais como bens que devem ser partilhados. Além de não considerar tal situação merecedora de uma tutela de urgência, como vemos nessa decisão proferida pelo Tribunal de Justiça do Distrito Federal:

2 TJ-RJ – AC: 0019757-79.2013.8.19.0208 RJ, Relator: Des. Marcelo Lima Buhatem, Data de julgamento: janeiro de 2015, 22ª Câmara Cível.

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Ementa: AGRAVO DE INSTRUMENTO. GUARDA-COMPARTILHADA. INSTITUTO DO DIREITO DE FAMÍLIA. APLICAÇÃO AOS ANIMAIS DE ESTIMAÇÃO. DISCÓRDIA ACERCA DA POSSE DOS BICHOS. AUSENCIA DE PLAUSIBILIDADE DO DIREITO. ANTECIPAÇÃO DA TUTELA. IMPOSSIBILIDADE. AGRAVO DE INSTRUMENTO CONHECIDO E DESPROVIDO. 1. A tutela de urgência está disciplinada nos artigos 300 e seguintes do Código de Processo Civil , cujos pilares são a probabilidade do direito e o perigo de dano ou o risco ao resultado útil do processo. 2. Inexiste plausibilidade jurídica no pedido de aplicação do instituto de família, mais especificamente a guarda compartilhada, aos animais de estimação, quando os consortes não têm consenso a quem caberá a posse dos bichos. Tratando-se de Tratando-semoventes, são tratados como coisas pelo Código Civil e como tal devem ser compartilhados, caso reste configurado que foram adquiridos com esforço comum e no curso do casamento ou da entidade familiar (artigo 1.725 , CC ). 3. In casu, ausente o prévio reconhecimento da união estável, deve-se aguardar a devida instrução e formação do conjunto probatório, para se decidir sobre os bens a partilhar. Ademais, é vedado ao magistrado proferir decisão de natureza diversa da pedida, em observância ao princípio da adstrição ou congruência, nos termos do artigo 492 do Código de Processo Civil . 4. AGRAVO CONHECIDO E NÃO PROVIDO3.

De acordo com Canotilho (2000) o sistema jurídico é um sistema dinâmico de normas, que possui uma estrutura dialógica, traduzida na disponibilidade e capacidade de aprendizagem das normas constitucionais para captarem a mudança da realidade e estarem abertas às concepções cambiantes da verdade e da justiça.

3 TJ-DF 20160020474570 0050135-88.2016.8.07.0000, Relator: LUÍS GUSTAVO B. DE OLIVEIRA, Data de Julgamento: 04/05/2017, 8ª TURMA CÍVEL, Data de

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A família é a base das relações sociais e o pet passou a ter um novo papel no seio familiar, o sistema jurídico deve acompanhar essas mudanças de realidade e se adequar a essa nova dinâmica de vida, de modo a oferecer a tutela jurídica satisfatória.

5. CONCLUSÕES

É evidente que existe uma carência normativa que melhor atenda aos interesses das pessoas que buscam no Judiciário a resolução de seus conflitos cujo objeto são os animais de estimação. Esse contexto demostra que o direito deve atentar-se para as transformações contínuas que ocorrem na sociedade.

Os pets não podem ser mais considerados como bens sujeitos a partilha, como dito por Lourenço (2008) é preciso que a lei finalmente reconheça que um animal “não é um saco de cimento”, esse é o primeiro passo para a construção de uma normativa específica que proteja o melhor interesse dos animais em situações de divórcio.

O Judiciário e o legislativo engatinham na concepção de critérios objetivos nos quais o magistrado deve se apoiar para decidir sobre a guarda dos pets, bem como os direitos e deveres de cada cônjuge em relação ao pet em caso se divórcio.

Nesse interím, há uma multiplicidade de projetos de lei que já foram criados para tratar do assunto, alguns deles ainda tramitam na Câmara dos Deputados, merecendo destaque a PL 1365/2015 que trata da situação dos animais de estimação em casos de separação, determinando critérios objetivos a ser levado em consideração na hora da concessão da guarda e a PL 351/2015 que objetiva alterar o status dos animais no código civil de 2002, que os trata como coisas, para que sejam inseridos como bens em sua singularidade, por serem portadores

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de sentimentos.

Por ora, enquanto o Legislativo não se adequa aos novos tipos de família, especialmente as famílias multiespécies, as soluções litigiosas envolvendo os animais de estimação e seus donos ficam à mercê da sorte, podendo o caso cair nas mãos de um juiz mais conservador ou um magistrado atento a relação de sentimento e de afeto entre os animais e seus donos.

Para aquela família que constrói vínculo de afetividade, carinho e cuidado com os animais, a evolução legislativa parece se arrastar e não responder de forma objetiva suas necessidades, cabendo ao judiciário fazer malabarismo, utilizando-se por analogia do direito de família e do estatuto da criança e do adolescente para a resolução desses conflitos.

REFERÊNCIAS

AMARAL, Antônio Carlos Ferreira do; LUCA, Guilherme Domingos de. Da possibilidade de guarda compartilhada dos animais de

estimação a partir do vínculo afetivo com os seus titulares. In:

Luciana Costa Poli, Valéria Silva Galdino Cardin, Tereza Cristina Monteiro Mafra – Florianópolis: XXIV CONPEDI, 2015.

ANDA. Em decisão histórica, Tribunal da Argentina reconhece

que animais são sujeitos de direitos. Disponível em: <https://www.

anda.jor.br/2014/12/decisao-historica-tribunal-argentina-reconhece-animais-sao-sujeitos-direitos/> Acesso em: 17 de jun. 2017.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DA INDÚSTRIA DE PRODUTOS PARA ANIMAIS DE ESTIMAÇÃO. Brasil: 4º maior do mundo em

população total de animais de estimação. Disponível em: <http:// abinpet.org.br/site/> Acesso em: 10 jun. 2017.

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CANOTILHO, J.J Gomes. Direito Constitucional e Teoria da Constituição. 4. ed. Coimbra: Almedina, 2000.

DIAS, Maria Berenice. Alimentos aos bocados. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2013.

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IBDFAM. Justiça de SP determina guarda compartilhada de animal de estimação durante processo de divórcio. Disponível em: <http://www.ibdfam.org.br/noticias/5905/ Justiça+de+SP+determina+guarda+compartilhada+de+animal+ de+estimação+durante+processo+de+divórcio> Acesso em: 15 de jun. 2017.

JUSBRASIL. TJ-RS - Apelação Cível: AC 70038022414 RS - Inteiro Teor. Disponível em: <https://tj-rs.jusbrasil.com.br/ jurisprudencia/22928998/apelacao-civel-ac-70038022414-rs-tjrs/ inteiro-teor-111180323>

JUSBRASIL. TJ-DF - 20160020474570 0050135-88.2016.8.07.0000, Relator: LUÍS GUSTAVO B. DE OLIVEIRA, Data de Julgamento:

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04/05/2017, 8ª TURMA CÍVEL, Data de Publicação: Publicado no DJE : 12/05/2017 . Pág.: 491/501. Disponível em: <https:// tj-df.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/ 457779090/20160020474570-0050135-8820168070000> Acesso em: 15 jun. 2017.

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LOURENÇO, Daniel Braga. Direito dos animais: fundamentação e novas perspectivas. Porto Alegre: Ed. Sérgio Antônio Fabris, 2008. RANNA, Mayla. Projeto de lei visa modificar o status dos animais no Código Civil de 2002. Disponível em: <https://jus.com.br/ noticias/43834/projeto-de-lei-visa-modificar-o-status-dos-animais-no-codigo-civil-de-2002> Acesso em: 10 de jun. 2017.

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THE LEGAL PROTECTION OF MULTI- SPECIES FAMILIES IN BRAZILIAN LEGAL ORDINANCE IN CASES OF DISSOLUTION OF THE CONJUGAL LINK

ABSTRACT

In Brazil, the protection of pets after the dissolution of the marital bond is still under discussion. Considering the affective bonds established, this article explores the possibility of using by analogy the family law in cases of custody and visitation rights, Because of the absence of a specific rule. On this subject, an analysis was made of the positioning of the Brazilian legal system on the subject. In this way, a bibliographical research was done on laws, judicial decisions and doctrine. Finally, we will analyze the Laws 1,058 / 2011, 351/2015 and 1365/2015 that deal with the thematic object of this work. As a result, it is noted that the issue is still treated as an unnecessary legal

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innovation despite the reality experienced by the judiciary, affected families and their pets. Keywords: Pets. Family right. Multi-species families. Guard.

Referências

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