Transplante de fígado na encefalopatia hepática: Existe racional para pontuação adicional na era MELD?
A alocação de fígados para transplante por meio da escala MELD foi adotada no Brasil em julho de 2006.1 O MELD tem entre suas principais características a avaliação do grau de disfunção hepática utilizando apenas variáveis laboratoriais, o que confere ao modelo maior objetividade e reprodutibilidade, evitando priorizações indevidas determinadas por falhas de julgamento ou por influência de fatores não médicos.2,3
Para evitar esses inconvenientes, a legislação brasileira determina a correção automática do MELD, por meio de concessão de pontuação adicional, em diversas situações especiais que incluem, entre outras, todas as condicões citadas anteriormente (CHC, SHP, PAF, hemangiomatose hepática e doença policística).1 Estabelece, também, a possibilidade de solicitação de pontuação adicional nas situações não previstas nas normas legais. Nestes casos, a decisão é delegada à Câmara Técnica Nacional de Transplante de Fígado, um órgão consultivo do Ministério da Saúde composto por médicos especialistas na área.
O enquadramento da encefalopatia hepática (EH) como situação especial foi tema de reuniões de consenso em outros países que adotam sistemas de alocação de órgãos baseados na escala MELD.6,7,8 O debate sobre o tema enfrenta dificuldades relacionadas com a heterogeneidade das manifestações clínicas da EH e com a subjetividade dos critérios de classificação da gravidade dessa complicação. Nesta Reunião Monotemática sobre EH, promovida pela Sociedade Brasileira de Hepatologia, duas questões principais foram colocadas: 1) Existe racional para pontuação para EH na era MELD? 2) A pontuação adicional para EH no sistema MELD deve ser automática ou depender da avaliação por uma Câmara Técnica de especialistas?
SÍNTESE DA EVIDÊNCIA DISPONÍVEL
é um fator de mortalidade independente da pontuação MELD em pacientes cirróticos.5,9 Além disso, a escala MELD não avalia a gravidade da EH,10 nem o efeito na qualidade de vida determinado pela EH.11 Adicionalmente, pacientes com episódios repetidos de EH apresentam maior risco de persistência de déficits neurocognitivos pós-transplante.12
A concessão automática de pontuação adicional para EH foi desaconselhada nos consensos americano e francês pelo inconveniente de introduzir uma variável subjetiva no sistema MELD.6,8 Ambos propõem a utilização de formulários com informações padronizadas para permitir a avaliação da duração e da gravidade dos casos por comissões de especialistas.
RECOMENDAÇÕES PARA PONTUAÇÃO ADICIONAL PARA EH NO SISTEMA MELD
de encefalopatia, na gravidade e na freqüência dos episódios e na condução adequada do tratamento clínico.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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