ESTUDO RETROSPECTIVO DO ATENDIMENTO DE AVES NO SERVIÇO DE ATENDIMENTO A ANIMAIS SELVAGENS- SAAS/UNICENTRO, NO PERÍODO DE
UM ANO Área Temática: Meio Ambiente
Adriano de Oliveira Torres Carrasco (Coordenador da Ação de Extensão)
Adriano de Oliveira Torres Carrasco1 Mylena Longo Bitencourt2 Samara de Oliveira Freitas Priscila Ikeda Bruna Valine Roucha Loures Leslei Caroline Santos Palavras-chave: SAAS, animais selvagens, aves, passeriformes.
Resumo: Desde o mês de junho de 2006, a Unicentro conta com o Serviço de Atendimento a Animais Selvagens (SAAS), que tem como objetivo atender, tratar e encaminhar os animais que chegam encaminhados pelos órgãos competentes como o Instituto Ambiental do Paraná (IAP), Secretaria do Estado da Saúde do Paraná (SESA) e Batalhão da Polícia Ambiental (Força Verde). Estes animais são provenientes de apreensões, entrega voluntária ou encontro ocasional. No presente estudo foi realizado um levantamento das aves atendidas de julho de 2013 a julho de 2014.
Introdução
O Serviço de Atendimento a Animais Selvagens (SAAS) situado na Universidade Estadual do Centro Oeste- UNICENTRO, tem como objetivo receber, prestar atendimento veterinário e encaminhar a um lugar adequado os animais recolhidos pelo Instituto Ambiental do Paraná (IAP) e pelo Batalhão de Polícia Ambiental do Paraná (Força Verde).
O Brasil é um dos países com maior e mais diversa avifauna do mundo, estimando aproximadamente haver 1.690 espécies de aves. (CBRO, 2003; IUCN, 2004; NATURESERVE, 2004).
Atualmente, os animais selvagens estão perdendo cada dia mais de seu habitat para plantações, criações de animais domésticos e áreas urbanas (TERBORGH, 1974; GROOMBRIDGE, 1992; PRIMACK; RODRIGUES, 2001), e isso se agrava quando percebemos que a destruição do ambiente é mais acelerada
1 Doutor. Docente do Departamento de Medicina Veterinária da UNICENTRO, campus Cedeteg.
2 Acadêmica do Curso de Medicina Veterinária da UNICENTRO, campus Cedeteg. Email:
que o avanço dos estudos sobre biologia e ecologia in situ ou sobre a reprodução em cativeiro das espécies. Isso gera preocupações, pois é possível reduzir tanto essa área que não seja mais possível reintroduzir os animais (PRIMACK;
RODRIGUES, 2001)
Durante muitos anos a ação predatória foi intensa e os órgãos responsáveis não conseguiram manter o controle, portanto muitos exemplares da fauna brasileira já estão extintos ou ameaçados de extinção (VIDOLIN, et al. 2004). Como agravante encontramos o tráfico de animais selvagens, o terceiro maior do mundo, que perde somente para o tráfico de drogas e de armas (LAÇAVA, 2000).
Calcula-se que, por ano, entre 12 a 38 milhões de animais silvestres são retirados das matas brasileiras (OSAUA, 2001; GIOVANINI, 2002); porém, deste total, apenas um em cada dez animais retirados chegam ao seu destino final, nove morrem durante a captura ou transporte (VANNUCCI-NETO, 2000). Entre os maus tratos sofridos, além de serem transportados em pequenos espaços, sem água e alimento, muitos animais têm seus olhos furados, as asas amarradas, as garras arrancadas e os ossos quebrados (GIOVANINI, 2002)
Por isso houve a necessidade de criar serviços como o SAAS, que recebem, prestam atendimento veterinário e encaminham esses animais a um lugar adequado, onde possam viver de forma mais “fisiológica” ou ser reintroduzidos na natureza se possível.
Metodologia
Toda vez que um animal é encaminhado para o SAAS, é preenchida uma ficha de solicitação de atendimento, e esta ficha deve conter o nome científico, nome vulgar, sexo, quantidade de animais, motivo de encaminhamento e quem foi o responsável pela entrega. Os dados utilizados nesse trabalho foram levantados através dessas solicitações de atendimento de animais no período de julho de 2013 a julho de 2014.
Resultados e discussões
No período de julho de 2013 a julho de 2014 foram atendidos 144 animais, destes, 87% foram aves, 11% mamíferos e 2% répteis. Podemos perceber que o atendimento de aves prevalece sobre o atendimento dos demais animais, e isso se explica pelo fato de o Brasil ter uma rica avifauna, sendo uma das maiores do mundo, e pelas aves serem de grande interesse no tráfico ilegal de animais. A perda, degradação, fragmentação de habitats e a caça, especialmente para o comércio ilegal, são as principais ameaças às aves brasileiras (MARINI E GARCIA, 2005).
Em um estudo realizado no Centro de Triagem de Animais Silvestres do Parque Zoológico da Fundação Zoobotânica do Rio Grande do Sul, entre os anos de 2005 a 2010, a casuística foi de 85% de aves, 9% de répteis e 6% de mamíferos (BOTH et al., 2011). Em outro estudo realizado entre o período de 2006 a 2011, por
Rabbers et al. (2011), no SAAS, os resultados foram semelhantes sendo 84% aves, 13% mamíferos e 3% répteis. Mostrando que os dados condizem proporcionalmente.
Das 115 aves atendidas durante este período no SAAS, a maior ocorrência de solicitação de atendimento foi de passeriformes totalizando 65 animais (56,52 %), seguido de 13 psitaciformes (11,3%), 11 strigiformes (9,56%), 4 falconiformes (3,47%), 4 ciconiiformes (3,47%) ,4 piciformes (3,47%), 2 columbiformes (1,73%), 2 anseriformes (1,37%) e 9 aves distribuídas em outras famílias (7,82%) conforme demonstra o gráfico abaixo :
Figura 1: Percentual gráfico das aves atendidas no SAAS no período de um ano
Segundo dados do Ibama, cerca de 82% dos animais traficados no Brasil são aves. Ferreira e Glock (2004) afirmam que as aves silvestres mais frequentemente capturadas são os Passeriformes e Wright et al. (2000) listam também os Psitaciformes. Os motivos de encaminhamento desses animais variam entre apreensão, entrega voluntária ou encontro ocasional.
Considerações finais
Os animais perdem cada dia mais o seu habitat através do desmatamento para criação de animais domésticos ou pela urbanização, obrigando-os a se aproximar cada vez mais do meio urbano. Isso pode ser agravado pelo tráfico de animais selvagens, que hoje em dia é terceiro maior do mundo, e o principal alvo dessa prática são as aves. Hoje, o Serviço de atendimento de Animais Selvagens tem um papel importante no recebimento, tratamento e encaminhamento das aves
apreendidas e recolhidas pelos órgãos ambientais competentes da região. Estes animais podem ser reintroduzidos ao seu hábitat natural ou, quando isso não é possível, são encaminhados para um local adequado para a manutenção em cativeiro.
Referências
BOTH, M.C; HOHENDORFF, R.V; GIACOMINI, C; GORCZAK, R. Casuística do Centro de Triagem de Animais Silvestres do Parque Zoológico da Fundação Zoobotânica do Rio Grande do Sul entre os anos de 2005 e 2010. In: Congresso da Sociedade de Zoológicos do Brasil-SZB. Anais... Gramado: 2011, p.49.
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