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PROGRAMA DE RESGATE E AFUGENTAMENTO DE FAUNA

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PROGRAMA DE RESGATE E AFUGENTAMENTO DE

FAUNA

GOIÂNIA-GOIÁS SETEMBRO - 2016

(2)

Programa de Resgate e Afugentamento de Fauna 2 APRESENTAÇÃO

Este relatório técnico apresenta as atividades de resgate e afugentamento da fauna realizadas no período de 13 de abril a 05 de agosto de 2016 durante a supressão vegetal e limpeza de áreas para a implantação de culturas agrícolas diversas e vias de acessos na Fazenda Araucária, município de Mineiros, GO, operada pela Brasilagro Companhia Brasileira de Propriedades Agrícolas.

Importante mencionar que os três relatórios parciais protocolados, respectivamente, em 17/06/2016, 18/07/2016 e 17/08/2016, encontram-se reunidos e consolidados no presente documento.

As atividades apresentadas neste 4º relatório foram executadas observando-se as diretrizes estabelecidas na Licença de Supressão de Vegetação Nativa nº 453/2016 (Anexo 9.1), bem como o disposto na Autorização para Manejo de Fauna Nº 23581/2015 ‐ Levantamento de Fauna (Anexo 9.2).

(3)

Programa de Resgate e Afugentamento de Fauna i SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ... 6

2. OBJETIVOS ... 7

3. EQUIPE TÉCNICA ... 7

4. ÁREA DE ESTUDO ... 8

5. METODOLOGIA ... 11

6. RESULTADOS E DISCUSSÃO ... 18

6.1. AFUGENTAMENTO DE FAUNA ... 19

6.2. RESGATE DE FAUNA ... 27

7. CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 45

8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ... 46

9. ANEXOS ... 50

9.1. LICENÇA DE SUPRESSÃO DE VEGETAÇÃO NATIVA Nº 453/2016 .... 50

9.2. AUTORIZAÇÃO PARA MANEJO DE FAUNA Nº 23581/2015 ... 56

9.3. LIVRO DE REGISTRO DE ESPÉCIES ... 59

9.4. DADOS BIOMÉTRICOS DE ESPÉCIMES RESGATADOS. ... 83

9.5. RECEBIMENTO DE ESPÉCIME... 103

9.6. ANOTAÇÃO DE RESPONSABILIDADE TÉCNICA – ART ... 104

(4)

Programa de Resgate e Afugentamento de Fauna ii ÍNDICE DE FIGURAS

Figura 1. Demonstrativo da proximidade da Fazenda Araucária e o Parque Nacional das Emas. ... 9

Figura 2. Imagem da área onde haveria supressão vegetal. ... 10

Figura 3. Acompanhamento supressão vegetal com trator. ... 11

Figura 4. Acompanhamento de limpeza de área com trator após supressão vegetal. ... 11

Figura 5. Varredura em área durante supressão vegetal com trator. ... 12

Figura 6. Varredura em área após supressão vegetal. ... 12

Figura 7. Captura manual de espécime de marsupial encontrado em frente de supressão vegetal. ... 13

Figura 8. Captura manual de tatu (Euphractus sexcinctus) durante supressão e limpeza vegetal. ... 13

Figura 9. Captura de espécime em armadilha tipo tomahawk, instalada em área durante supressão. 13 Figura 10. Resgate de espécime de serpente não peçonhenta durante limpeza de área. ... 14

Figura 11. Acondicionamento de espécime de lagarto, para encaminhamento ao centro de triagem. 14 Figura 12. Resgate de espécime de ave encontrado em frente de supressão vegetal. ... 15

Figura 13. Avaliação quanto às condições gerais de saúde de espécime de lagarto resgatado. ... 15

Figura 14. Biometria de espécime de tatu resgatado durante supressão vegetal. ... 15

Figura 15. Biometria de espécime de marsupial resgatado. ... 16

Figura 16. Tomada de dados biométricos (pesagem) de espécie de serpente não peçonhenta resgatado. ... 16

Figura 17. Soltura de espécime de tatu resgatado em frente de supressão vegetal. ... 16

Figura 18. Fixação de espécime resgatado morto durante as atividades de supressão e limpeza vegetal... 16

Figura 19. Distribuição de espécimes por tipo de registro. ... 18

Figura 20. Espécime de cachorro-do-mato (Cerdocyon thous) registrado por armadilha fotográfica. . 19

Figura 21. Espécime de jaguatirica (Leopardus pardalis) registrado por armadilha fotográfica. ... 19

Figura 22. Padrões de abundância e riqueza das classes zooloógicas registradas por afugentamento durante as atividades de supressão de vegetação na Fazenda Araucária. ... 22

Figura 23. Padrões de abundância e riqueza de registros de afugentamento durante os meses em que houve atividades de supressão e limpeza vegetal. ... 23

Figura 24. Afugentamento de espécime de irara (Eira barbara). ... 24

Figura 25. Espécime de gavião-marrom (Heterospizias meridionalis) afugentado. ... 24

Figura 26. Espécimes de ema afugentados (Rhea americana). ... 24

Figura 27. Afugentamento de espécime de ema (Rhea americana). ... 24

Figura 28. Registro do afugentamento de espécime de anta (Tapirus terrestres). ... 24

Figura 29. Espécime de anta (Tapirus terrestres) afugentado. ... 24

Figura 30. Espécime de lagarto-liso (Copeoglossum nigropunctatum) afugentado. ... 25

Figura 31. Afugentamento de espécime de lagarto-da-cauda-azul (Micrablepharus maximiliani). ... 25

Figura 32. Afugentamento de espécime de anta (Tapirus terrestres). ... 25

Figura 33. Espécimes de arara-canindé (Ara ararauna) afugentados. ... 25

Figura 34. Espécime de coruja-buraqueira (Athene cunicularia) afugentado. ... 25

Figura 35. Espécime de siriema afugentado durante limpeza de área suprimida (Cariama cristata). .. 25

Figura 36. Espécime de cutia (Dasyprocta azarae) afugentado para fora da área de supressão e limpeza vegetal. ... 26

Figura 37. Espécimes de veado-campeiro (Ozotoceros bezoarticus) afugentados durante supressão vegetal... 26

(5)

Programa de Resgate e Afugentamento de Fauna iii

Figura 38. Espécime de curicaca (Theristicus caudatus) afugentado. ... 26

Figura 39. Afugentamento de ema (Rhea americana) durante limpeza de área desmatada. ... 26

Figura 40. Padrões de abundância e riqueza das classes zoológicas resgatadas durante o acompanhamento das atividades de supressão de vegetação na Fazenda Araucária. ... 30

Figura 41. Padrões de abundância e riqueza de registros de resgate durante os meses em que houve atividades de supressão e limpeza vegetal. ... 30

Figura 42. Distribuição de espécimes por destinação após resgate. ... 31

Figura 43. Gráfico quantidade de espécies observadas (curva de acumulação) e quantidade máxima esperada (Jack-knife 1) para a fauna resgatada durante a supressão vegetal nas áreas da Fazenda Araucária. ... 32

Figura 44. Gráfico de riqueza e abundância das famílias mais representativas da herpetofauna registradas durante as atividades de resgate. ... 34

Figura 45. Espécime de rã (Physalaemus nattererii) resgatada em área de supressão vegetal. ... 35

Figura 46. Espécime de perereca (Scinax fuscovarius) resgatado durante acompanhamento de supressão. ... 35

Figura 47. Espécime de lagarto (Ameiva ameiva) resgatado durante supressão vegetal. ... 35

Figura 48. Espécime de lagarto-da-cauda-azul (Micrablepharus maximiliani) resgatado. ... 35

Figura 49. Espécime de lagarto-liso (Copeoglossum nigropunctatum) resgatado. ... 36

Figura 50. Espécime de lagarto (Polychrus acutirostris) resgatado em frente de supressão de vegetação. ... 36

Figura 51. Espécime de lagarto (Tropidurus torquatus) resgatado. ... 36

Figura 52. Espécime de calanguinho (Colobosaura modesta) encontrado durante supressão vegetal. 36 Figura 53. Espécime de lagarto-de-falsas-patas (Bachia geralista) resgatado. ... 36

Figura 54. Espécime de cobra-fina (Apostolepis longicaudata) resgatada em área de supressão vegetal... 36

Figura 55. Espécime de cobra-cega (Amphisbaenia alba) resgatado. ... 37

Figura 56. Espécime de cobra-cipó (Imantodes cenchoa) resgatado. ... 37

Figura 57. Espécime de cobra (Dipsas catesbyi) resgatado durante supressão de vegetação. ... 37

Figura 58. Espécime de cobra-cipó (Chironius exoletus) resgatado. ... 37

Figura 59. Espécime de falsa-coral (Phalotris nasutus) resgatado. ... 37

Figura 60. Espécime de falsa-coral (Oxyrhopus gueibei) resgatado. ... 37

Figura 61. Espécime de jararaca (Bothrops moojeni) resgatado. ... 38

Figura 62. Espécime de cascavel (Crotalus durissus) resgatado. ... 38

Figura 63. Foto do curiango (Hydropsalis albicollis) resgatado durante atividades das frentes de corte. ... 39

Figura 64. Espécime de coruja-orelhuda (Asio clamator) resgatado em frente de supressão vegetal. 39 Figura 65. Espécime de curiango (Hydropsalis parvula) resgatado durante atividades supressão e limpeza de áreas ... 39

Figura 66. Gráfico de riqueza e abundância das famílias mais representativas da mastofauna registradas durante as atividades de resgate. ... 41

Abaixo estão alguns dos representantes da mastofauna amostrada no período (Figura 67 a Figura 74). ... 42

Figura 68. Espécime de rato silvestre (Necromys lasiurus) resgatado em área de vegetação suprimida. ... 42

Figura 69. Espécime de mucura (Gracilinanus agilis) resgatado. ... 43

Figura 70. Espécime de mucura (Caluromys lanatus) resgatado em área de supressão. ... 43

(6)

Programa de Resgate e Afugentamento de Fauna iv

Figura 71. Espécime de mucura (Marmosa murina) resgatado em área diretamente impactada pela

supressão. ... 43

Figura 72. Espécime de rato-do-mato (Cerradomys scotti) resgatado. ... 43

Figura 73. Espécime de tatu (Euphractus sexcinctus) resgatado. ... 43

Figura 74. Espécime de mucura (Gracilinanus agilis) resgatado. ... 43

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Programa de Resgate e Afugentamento de Fauna v ÍNDICE DE QUADROS

Quadro 1. Equipe técnica para acompanhamento das atividades de supressão vegetal e resgate de fauna. ... 7 Quadro 2. Lista dos exemplares da fauna afugentados durante o acompanhamento de supressão vegetal para implantação de área de cultivo na Fazenda Araucária. ... 18 Quadro 3. Lista dos exemplares da fauna afugentados durante o acompanhamento de supressão vegetal para implantação de área de cultivo na Fazenda Araucária. ... 19 Quadro 4. Lista dos exemplares da fauna resgatados durante o acompanhamento de supressão vegetal para implantação de área de cultivo na Fazenda Araucária. ... 28

(8)

Programa de Resgate e Afugentamento de Fauna 6 1. INTRODUÇÃO

As atividades antrópicas como lavouras, que implicam em ações de modificação das paisagens e ecossistemas naturais promovem à alteração de habitats, que por sua vez modificam a estrutura das comunidades faunísticas.

Estudos têm demonstrado que a fragmentação dos ecossistemas florestais das regiões tropicais representa a diminuição das populações da fauna silvestre e o desaparecimento de espécies mais sensíveis (TABARELLI et al., 2010). No entanto, mesmo estes ambientes alterados pela implantação de estradas, assentamentos rurais e áreas urbanas, ainda abrigam uma rica e diversa fauna silvestre que também será foco de ações práticas para conservação e manutenção de suas populações, em especial àquelas ameaçadas de extinção, raras ou endêmicas.

O bioma Cerrado é uma das ecorregiões mais importantes do país, tendo, entre outras, a característica de apresentar formas fisionômicas contrastantes que estão diretamente ligadas à manutenção de sua fauna, apresentando locais que podem ser importantes corredores de biodiversidade (RIBEIRO e WALTER, 1998).

Atualmente, o Cerrado é considerado como um dos 25 locais de alta biodiversidade (hotspots), e um dos mais ameaçados do planeta (MYERS et al., 2000).

A região de Mineiros é uma região bastante antropizada e sua paisagem é formada principalmente por áreas de pastagem, grandes lavouras, capoeiras e fragmentos florestais. Ainda assim, os levantamentos realizados no âmbito do EIA identificaram grupos significativos de aves, mamíferos, répteis e anfíbios que habitam os fragmentos florestais na região do empreendimento.

Cabe ressaltar que nestas áreas ocorreu um impacto significativo sobre a fauna terrestre, uma vez que ocasionou a perda dos habitats florestais em função da supressão da vegetação e limpeza da área para a implantação de culturas agrícolas diversas e vias de acessos. Este impacto está basicamente associado ao modo de vida das espécies presentes no local, principalmente com relação às espécies especialistas, e à capacidade de deslocamento. Mesmo os animais com melhor deslocamento, como aves e grandes mamíferos, que são bem-sucedidos na auto-realocação, sofrem com a posterior falta de abrigos e disponibilidade de

(9)

Programa de Resgate e Afugentamento de Fauna 7 recursos, além de enfrentarem a predação e a competição nas áreas recém- habitadas (MARINHO-FILHO, 1999).

Dessa forma, foi realizado um trabalho de afugentamento e resgate de fauna durante as etapas de supressão vegetal e limpeza de áreas, a fim de possibilitar um acompanhamento dessa atividade e permitir o resgate de animais que porventura não tenham condições de se deslocar para fragmentos florestais adjacentes, ou que estejam feridos. Assim as espécies mais ágeis se deslocaram com maior facilidade e as mais susceptíveis ao salvamento foram àquelas espécies com menor capacidade de locomoção ou de comportamento arborícola.

2. OBJETIVOS

Os objetivos principais do programa foram acompanhar a supressão da vegetação, viabilizar a dispersão da fauna silvestre para além dos locais a serem desmatados e, quando necessário, realizar o resgate e realocação de espécimes para áreas adjacentes.

3. EQUIPE TÉCNICA

A equipe técnica responsável pelas atividades de resgate e afugentamento de fauna durante o desmatamento conta com um biólogo e três auxiliares de campo (Quadro 1). A equipe mobilizada para o resgate e afugentamento de fauna utilizou equipamentos de proteção individual (EPI) adequados, tais como: botas, luvas, perneiras e calças grossas para a prevenção de acidentes.

Quadro 1. Equipe técnica para acompanhamento das atividades de supressão vegetal e resgate de fauna.

Nome Função Conselho

Profissional Fabio Jacinto da Silva Biólogo - Campo CRBio 80354/04

Caio de Faria e Ciqueiroli Biólogo – Campo -

Guilherme D. Lopes dos Santos

Cândido Biólogo – Campo CRBio 98410/04

Ricardo Vidal de Carvalho Biólogo – Campo CRBio 80328/04

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Programa de Resgate e Afugentamento de Fauna 8

Nome Função Conselho

Profissional Fabiana Angélica S. R. Ferreira Bióloga – Relatório Técnico CRBio 062020/04 Legenda: CRBio – Conselho Regional de Biologia.

4. ÁREA DE ESTUDO

A Fazenda Araucária está situada na rodovia GO‐341, km 68, Zona Rural, Mineiros–GO. A fazenda está inserida na sub-bacia hidrográfica do ribeirão Queixada, afluente direto da margem direita do rio Araguaia, que deságua no rio Tocantins, um dos formadores da bacia Amazônica.

A área desta fazenda se encontra bastante antropizada, já com a presença de grandes áreas de lavoura e alguns remanescentes florestais. Os ecossistemas terrestres presentes na área onde foi executado o desmatamento encontrava-se em anexo a reserva legal do empreendimento, que tem a função de corredor ecológico.

Está área remanescente de vegetação nativa é de fundamental importância para a manutenção e movimentação da fauna silvestre, uma vez que este corredor remanescente se situa a aproximadamente 12 km do Parque Nacional das Emas (Figura 1).

A supressão de vegetação nativa para implantação de área de produção agrícola realizada ao final das atividades compreendeu uma área total de 1.103,12 hectares (Figura 2).

(11)

Programa de Resgate e Afugentamento de Fauna9 Figura 1. Demonstrativo da proximidade da Fazenda Araucária e o Parque Nacional das Emas. Fonte: Brasilagro, 2016.

(12)

rograma de Resgate e Afugentamento de Fauna 10 gura 2. Imagem da área onde haveria supressão vegetal.Fonte: Brasilagro, 2016.

(13)

Programa de Resgate e Afugentamento de Fauna 11 5. METODOLOGIA

Durante o acompanhamento das atividades de supressão vegetal e limpeza de áreas para implantação de área de cultivo e vias de acesso na Fazenda Araucária evitou-se realizar as atividades de resgate propriamente ditas, o foco maior da equipe foi de acompanhar a transmigração passiva da fauna durante o desmate prévio e o incremento de ações que pudessem contribuir para evitar maiores intervenções na translocação natural. Isso por que muitos animais se estressam e sofrem frente às ações de captura, transporte e soltura. Para isso, as equipes, precedendo as atividades de supressão vegetal, percorreram toda a área onde haveria interferência com a finalidade de reconhecer os locais críticos, tais como tocas e ninhos. Após esse reconhecimento foram realizadas rondas de afugentamento da fauna com sonorização no local antes da atividade de supressão.

As equipes acompanharam também os trabalhadores durante as atividades de supressão de vegetação (Figura 3 a Figura 6), esses receberam orientação para acionarem as equipes de resgate, caso encontrassem animais silvestres.

Figura 3. Acompanhamento supressão

vegetal com trator. Figura 4. Acompanhamento de limpeza de

área com trator após supressão vegetal.

(14)

Programa de Resgate e Afugentamento de Fauna 12 Figura 5. Varredura em área durante

supressão vegetal com trator. Figura 6. Varredura em área após supressão

vegetal.

Nos casos em que os animais não conseguiram se deslocar para áreas adjacentes, esses foram resgatados e encaminhados para triagem. Para cada grupo taxonômico foi utilizada uma metodologia específica de captura.

Procedimentos de resgate

a) Mastofauna

Os procedimentos de manejo para os mamíferos terrestres de médio e grande porte são complexos e envolvem diversas atividades, com o uso de puçás e/ou laços, armadilhas e mobilização de auxiliares de campo. As atividades realizadas permitiram aos animais a chance de deslocamentos passivos para as áreas do entorno. Aqueles espécimes de baixa mobilidade e principalmente os de hábito arborícola que não puderam ser afugentados foram resgatados manualmente ou com uso de puçás (Figura 7 e Figura 8). Algumas armadilhas tipo tomahawk foram distribuídas nas áreas diretamente afetadas a fim de capturar espécime de roedores e marsupiais e evitar assim acidentes com os mesmo durante a supressão (Figura 9). Os animais resgatados foram acondicionados em sacos de pano ou em caixas de plástico ou madeira perfuradas para o transporte até o local de triagem e depois até o local de soltura.

(15)

Programa de Resgate e Afugentamento de Fauna 13 Figura 7. Captura manual de espécime de

marsupial encontrado em frente de supressão vegetal.

Figura 8. Captura manual de tatu (Euphractus sexcinctus) durante supressão

e limpeza vegetal.

Figura 9. Captura de espécime em armadilha tipo tomahawk, instalada em

área durante supressão.

b) Herpetofauna

A herpetofauna é composta pelos grupos dos anfíbios, lagartos, serpentes, quelônios e crocodilianos. Os procedimentos metodológicos para cada um dos grupos são apresentados a seguir:

Os anfíbios e lagartos foram resgatados manualmente com o uso de luvas de raspa e quando preciso com o auxílio de puçás, estes foram acondicionados em sacos de pano ou potes plásticos para o transporte até o local de triagem e depois até o local de soltura (Figura 10 e Figura 11).

A maioria das espécies de répteis peçonhentos (serpentes) não possui um método eficiente de captura e costuma ser apanhada apenas em encontros fortuitos, principalmente durante as atividades de supressão de vegetação e próximas aos

(16)

Programa de Resgate e Afugentamento de Fauna 14 canteiros de obras. Dessa forma, informações sobre a presença de serpentes venenosas foram distribuídas a todos os trabalhadores. Quando ocorrerem encontros, a equipe de resgate foi acionada para efetuar a remoção do animal sem matá-lo. Os espécimes peçonhentos foram manejados com luva de couro, quando necessário, capturado com auxílio de gancho e acondicionado em caixa especial de madeira para ser encaminhado ao local de soltura.

Figura 10. Resgate de espécime de serpente não peçonhenta durante limpeza

de área.

Figura 11. Acondicionamento de espécime de lagarto, para encaminhamento ao centro

de triagem.

c) Avifauna

Apesar da alta capacidade de deslocamento de muitas espécies de aves, como de animais de sub-bosque e de dossel, que passam facilmente a adensar outros remanescentes no entorno e ocupar outros habitats, algumas situações, como a presença de ninhos ativos em cavidades de árvores nas áreas de supressão fazem com que o grupo das aves também seja incluído no objeto de resgate e salvamento da fauna. Assim, ações de resgate e salvamento para este grupo foram focadas especialmente em ninhos ativos.

Algumas aves utilizam ocos de árvores de médio e grande porte durante o período de nidificação além de áreas de dormitórios. Dessa forma, foi feito um levantamento de árvores com ocos ativos nas áreas do empreendimento.

Além dos ninhos, aves de hábito noturno tem grande dificuldade de se afugentar das áreas de supressão, uma vez que as atividades ocorrem no período

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Programa de Resgate e Afugentamento de Fauna 15 diurno. Assim, indivíduos dessas espécies foram capturados manualmente com o uso de luvas, acondicionados em sacos de pano e transportados até o local de triagem e depois até o local de soltura (Figura 12).

Figura 12. Resgate de espécime de ave encontrado em frente de supressão vegetal.

Triagem e cuidado com os animais

Os animais resgatados foram avaliados quanto às suas condições gerais de saúde, tiveram seus dados biométricos tomados e foram sexados (Figura 13 e Figura 16).

Figura 13. Avaliação quanto às condições gerais de saúde de espécime de lagarto

resgatado.

Figura 14. Biometria de espécime de tatu resgatado durante supressão vegetal.

(18)

Programa de Resgate e Afugentamento de Fauna 16 Figura 15. Biometria de espécime de

marsupial resgatado.

Figura 16. Tomada de dados biométricos (pesagem) de espécie de serpente não

peçonhenta resgatado.

Após esses procedimentos foi feita a destinação dos animais, que dependeu da condição física dos mesmos. Os animais aptos à soltura foram encaminhados para fragmentos adjacentes e espécimes sem relevância científica resgatados mortos foram descartados. A soltura dos animais de hábito diurno ocorreu preferencialmente no período da manhã e não no final da tarde, assim como animais noturnos que foram soltos, sempre, próximo do anoitecer (Figura 17). Alguns dos espécimes resgatados mortos foram fixados para envio como material testemunho (Figura 18).

Figura 17. Soltura de espécime de tatu resgatado em frente de supressão vegetal.

Figura 18. Fixação de espécime resgatado morto durante as atividades de supressão e

limpeza vegetal.

(19)

Programa de Resgate e Afugentamento de Fauna 17 Classificação de Espécies Ameaçadas

Para expressar a situação de conservação da fauna afugentada e resgatada na área de influência do empreendimento foram consultadas duas listas, a saber:

"Lista Nacional Oficial de Espécies da Fauna Ameaçadas de Extinção" oficializada pelo MMA através da Portaria nº 444, de 17 de dezembro de 2014. De acordo com esta lista, as espécies podem ser categorizadas como:

EN - Em perigo

CR - Criticamente em perigo EW - Extinto na natureza VU – Vulnerável

Lista Vermelha dos Animais Ameaçados (Red List of Threatened Animals – RLTA) mantida pela União de Conservação Mundial (World Conservation Union – IUCN). De acordo com esta lista, as espécies podem ser categorizadas como:

NE - Não avaliada EN - Ameaçada

DD - Dados insuficientes CR - Criticamente ameaçada LC - Pouco preocupante EW - Extinta na natureza NT - Quase ameaçada VU - Vulnerável

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Programa de Resgate e Afugentamento de Fauna 18 6. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Durante o acompanhamento das atividades de supressão de vegetação e limpeza de área para instalação de área de cultivo na Fazenda Araucária, foram registrados 642 espécimes de 75 espécies pertencentes as classes: Amphibia, Reptilia, Aves e Mammalia. Dos espécimes catalogados, 533 foram resgatados durante as atividades de campo, 107 foram registrados por avistamento em ações de afugentamento e dois foram registrados ocasionalmente por armadilhas fotográficas (Figura 19 e Anexo 9.3).

Figura 19. Distribuição de espécimes por tipo de registro.

As armadilhas fotográficas foram colocadas na área de execução da atividade para identificação da presença de espécies menos suscetíveis às atividades de afugentamento e resgate. Duas espécies de carnívoros foram registradas nestas armadilhas (Quadro 2; Figura 20-21).

Quadro 2. Lista dos exemplares da fauna afugentados durante o acompanhamento de supressão vegetal para implantação de área de cultivo na Fazenda Araucária.

Taxa Nome Comum Nº de

espécimes registrados

Grau de ameaça (IUCN, 2016)

Grau de ameaça (MMA,

2014) Classe Mammalia

Ordem Carnívora Família Felidae

Leopardus pardalis jaguatirica 1 LC -

Família Canidae

(21)

Programa de Resgate e Afugentamento de Fauna 19

Taxa Nome Comum Nº de

espécimes registrados

Grau de ameaça (IUCN, 2016)

Grau de ameaça (MMA,

2014)

Cerdocyon thous cachorro-do-mato 1 LC -

Total 3 - -

Figura 20. Espécime de cachorro-do-mato (Cerdocyon thous) registrado por

armadilha fotográfica.

Figura 21. Espécime de jaguatirica (Leopardus pardalis) registrado por

armadilha fotográfica.

6.1. AFUGENTAMENTO DE FAUNA

Os 107 espécimes afugentados pertencem à 43 espécies das classse Reptilia, Aves e Mammalia (Quadro 3, Figura 22). Além dos espécimes catalogados, outros espécimes foram afugentados durante o acompanhamento da supressão vegetal, que não puderam ser identificados e fotografados devido à agilidade das ações de afugentamento.

Quadro 3. Lista dos exemplares da fauna afugentados durante o acompanhamento de supressão vegetal para implantação de área de cultivo na Fazenda Araucária.

Taxa Nome Comum

Nº de espécimes afugentados

Grau de ameaça (IUCN,

2016)

Grau de ameaça (MMA, 2014)

Classe Reptilia

Ordem Squamata

Família Gymnophthalmidae

Micrablepharus maximiliani calango-da-cauda-azul 6 NE -

Colobosaura modesta calanguinho 11 NE -

Bachia geralista lagarto-de-falsas-patas 7 NE -

(22)

Programa de Resgate e Afugentamento de Fauna 20

Taxa Nome Comum Nº de

espécimes afugentados

Grau de ameaça (IUCN,

2016)

Grau de ameaça (MMA, 2014)

Família Mabuidae

Copeoglossum nigropunctatum lagarto-liso 3 -

Família Tropiduridae

Tropidurus torquatus lagarto 4 LC -

Família Dipsadidae

Apostolepis longicaudata cobra-fina 1 NE -

Philodryas olfersii cobra-verde 1 NE -

* Leptodeira annaluta 1 NE -

Phalotris nasutus 1 NE -

Família Viperidae

Bothrops moojeni jararaca 2 NE -

Classe Ave

Ordem Rheiformes

Família Rheidae

Rhea americana ema 6 NT -

Ordem Pelicaniformes

Família Ardeidae

Syrigma sibilatrix maria-faceira 2 LC -

Família Threskiornithidae

Theristicus caudatus curicaca 2 LC -

Ordem Accipitriformes

Família Accipitridae

Rostrhamus sociabilis gavião-caramujeiro 2 LC -

Heterospizias meridionalis gavião-marrom 3 LC -

Rupornis magnirostris gavião-carijó 2 LC -

Geranoaetus albicaudatus gavião-de-rabo-branco 2 LC -

Ordem Columbiformes

Família Columbidae

Columbina squammata fogo-apagou 2 LC -

Ordem Cuculiformes

Família Cuculidae

Guira guira anu-branco 2 LC -

Ordem Strigiformes

Família Strigidae

Athene cunicularia coruja-buraqueira 2 LC -

Ordem Piciformes

Família Ramphastidae

Ramphastos toco tucanaçu 2 LC -

Ordem Cariamiformes

Família Cariamidae

(23)

Programa de Resgate e Afugentamento de Fauna 21

Taxa Nome Comum Nº de

espécimes afugentados

Grau de ameaça (IUCN,

2016)

Grau de ameaça (MMA, 2014)

Cariama cristata siriema 2 LC -

Ordem Falconiformes

Família Falconidae

Caracara plancus carcará 2 LC -

Milvago chimachima gavião-carrapateiro 2 LC -

Falco femoralis falcão-de-coleira 2 LC -

Ordem Psittaciformes

Família Psittacidae

Ara ararauna arara-canindé 2 LC -

Eupsittula aurea periquito-rei 2 -

Brotogeris tirica periquito-rei 3 LC -

Alipiopsitta xanthops papagaio-galego 2 NT -

Ordem Passeriformes

Família Furnaridae

Furnarius rufus joão-de-barro 2 LC -

Família Traupidae

Sicalis flaveola canário 2 LC -

Família Tyrannidae

Xolmis velatus noivinha-branca 1 LC -

Família Corvidae

Cyanocorax cristatellus gralha 2 LC -

Família Icteridae

Gnorimopsar chopi graúna 2 LC -

Classe Mammalia

Ordem Didelphimorphia

Família Didelphidae

Didelphis albiventris gambá 1 LC -

Marmosa murina mucura 2 LC -

Caluromys lanatus mucura 2 LC -

Gracilinanus agilis mucura 1 LC -

Ordem Rodentia

Família Dasypoctidae

Dasyprocta azarae cutia 2 DD -

Ordem Carnivora

Família Mustelidae

Eira barbara irara 2 LC -

Ordem Perissodactyla

Família Tapiridae

Tapirus terrestris anta 3 VU VU

Ordem Artiodactyla

(24)

Programa de Resgate e Afugentamento de Fauna 22

Taxa Nome Comum Nº de

espécimes afugentados

Grau de ameaça (IUCN,

2016)

Grau de ameaça (MMA, 2014)

Família Cervidae

Ozotoceros bezoarticus veado-campeiro 2 NT VU

Família Felidae

Panthera onca onça-pintada 1 NT VU

Total 107 - -

Legenda. Grau de ameaça: * Espécie catalogada pela primeira vez no acompanhamento das atividades de supressão vegetal para implantação de área de cultivo na Fazenda Araucária, - espécies que não constam na lista do MMA (2014).

Figura 22. Padrões de abundância e riqueza das classes zooloógicas registradas por afugentamento durante as atividades de supressão de vegetação na Fazenda Araucária.

A Classe das Aves geralmente possui menor índices de afugentamento durante acompanhamento de atividades de supressão vegetal devido à facilidade de deslocamento pela capacidade de vôo ou por fuga terrestre rápida do ambiente em degradação, procurando ambientes mais tranquilos (SICK, 1997). Contudo, neste relatório consolidado observou-se que as ordens Accipitriformes (N=4) e Falconiformes (N=3) referente às aves de rapinas como os gaviões, como também a Psittacidae (N=4) referente às araras, foram as mais diversas em espécies durante o afungentamento.

A Classe Reptilia também foi diversa e abundante. Os lagartos da família Gymnophthalmidae apresentaram 22,6% de representatividade em relação aos espécimes afungentados. O calanguinho (Colobosaura modesta) foi mais abundante

(25)

Programa de Resgate e Afugentamento de Fauna 23 com 11 exemplares. Esta espécie tem ampla distribuição no Bioma (COLLI et al., 2002). Em contrapartida os anfíbios e mamíferos foram menos diversos no afungentamento.

As atividades de supressão e limpeza vegetal duraram 115 dias, distribuídos nos meses de abril a agosto de 2016. O mês de julho foi o que apresentou maior abundância e riqueza de registros de afugentamento de fauna, representando 62%

dos registros totais (Figura 23). Ressalta se que no mês de abril houve acompanhamento das atividades entre os dias 17 e 30, e em agosto as atividades se encerraram no dia 05.

Figura 23. Padrões de abundância e riqueza de registros de afugentamento durante os meses em que houve atividades de supressão e limpeza

vegetal.

O resultado para o mês de julho é devido ao grande quantitativo de aves afungentadas corroborando o gráfico da Figura 22 em que esta classe foi mais representativa. Além disto, pode-se dizer que neste período foi realizado com mais frequência enleiramento de galharias da supressão vegetal e com isto formou-se ambientes propícios para fauna de pequeno porte como lagartos e roedores.

Abaixo estão apresentadas fotos de alguns dos espécimes afugentados no período (Figura 24 a Figura 39).

(26)

Programa de Resgate e Afugentamento de Fauna 24 Figura 24. Afugentamento de espécime de

irara (Eira barbara). Figura 25. Espécime de gavião-marrom

(Heterospizias meridionalis) afugentado.

Figura 26. Espécimes de ema afugentados

(Rhea americana). Figura 27. Afugentamento de espécime de ema (Rhea americana).

Figura 28. Registro do afugentamento de

espécime de anta (Tapirus terrestres). Figura 29. Espécime de anta (Tapirus terrestres) afugentado.

(27)

Programa de Resgate e Afugentamento de Fauna 25 Figura 30. Espécime de lagarto-liso

(Copeoglossum nigropunctatum) afugentado.

Figura 31. Afugentamento de espécime de lagarto-da-cauda-azul (Micrablepharus

maximiliani).

Figura 32. Afugentamento de espécime de

anta (Tapirus terrestres). Figura 33. Espécimes de arara-canindé (Ara

ararauna) afugentados.

Figura 34. Espécime de coruja-buraqueira

(Athene cunicularia) afugentado. Figura 35. Espécime de siriema afugentado durante limpeza de área suprimida (Cariama

cristata).

(28)

Programa de Resgate e Afugentamento de Fauna 26 Figura 36. Espécime de cutia (Dasyprocta

azarae) afugentado para fora da área de supressão e limpeza vegetal.

Figura 37. Espécimes de veado-campeiro (Ozotoceros bezoarticus) afugentados

durante supressão vegetal.

Figura 38. Espécime de curicaca (Theristicus caudatus) afugentado.

Figura 39. Afugentamento de ema (Rhea americana) durante limpeza de área

desmatada.

Dentre as espécies afugentadas, a presença de quatro se destacaram pelo grau de ameaça, sendo a anta (T. terrestris) considerada como vulnerável tanto pela Redlist da IUCN (2014) quanto pelo Ministério do Meio Ambiente (MMA, 2014), além de Alipiopsitta xanthops, Rhea americana, Ozotoceros bezoarticus e considerados quase ameaçados pela IUCN (2014). Destas ultimas apenas o veado-campeiro (O.

bezoarticus) está presente na lista do MMA (2014) como vulnerável. Estas espécies são consideradas sob grau de ameaça em função da grande redução populacional ocorrida no passado e projetada para o futuro, sendo que no geral as principais ameaças são a caça e a perda de habitat.

A anta (T. terrestris) tem hábito terrestre e alimenta-se de frutos caídos, brotos e tubérculos, é uma espécie que habita primariamente florestas, ocorrendo também

(29)

Programa de Resgate e Afugentamento de Fauna 27 em diversos ambientes florestados, como mangues, florestas semidecíduas, florestas ripárias e cerrados. São animais solitários apesar de ocasionalmente viverem aos pares, e territorialistas (OLIVEIRA e BONVICINO, 2011).

A ema é uma ave Rheiforme da família Rheidae, comum, de forma localizada, em campos naturais, cerrados e áreas agropecuárias. É a maior espécie de ave existente no Brasil. Os adultos medem entre 1,27 e 1,40 metros. Tem o pescoço e as canelas compridos, não tem cauda e sua plumagem é pardo-acinzentada. Os machos se diferenciam das fêmeas por possuírem a região anterior do peito e o pescoço negros (Wikaves). Inicialmente as principais ameaças a espécie estavam relacionadas a caça para consumo da carne e comercialização de peles, mas nos últimos anos, a conversão em larga escala de áreas de vegetação nativa em áreas de agricultura e pecuária (SILVA, 1995) tem reduzido consideravelmente o habitat disponível para a sobrevivência da espécie.

Além destas espécies supracitas, a onça-pintada (Panthera onca), que foi avistada nas áreas da Fazenda, está inserida nas listas de fauna ameaçada da IUCN (2014) e MMA (2014). A onça-pintada (P. onca) é o maior felino das Américas e o único representante atual do gênero Panthera no continente. Pode medir até 2,41 m e pesar 158 quilos. É solitária, porém, ocorre interação entre machos e fêmeas durante o período de acasalamento. A espécie é muito associada à presença de água e, portanto, está mais presente em áreas baixas com cobertura vegetal densa e fonte de água permanente do que em áreas abertas com chuvas sazonais (NOWEL e JACKSON, 1996). A atividade da espécie é noturno-crepuscular, se alimenta de várias espécies de animais, mas suas principais presas são a queixada (Tayassu pecari) e a capivara (Hydrochaeris hydrochaeris) (CASO et al., 2008). A espécie é considerada como quase ameaçada (Near threatened - NT) pela IUCN (2014) e Vulnerável pela lista do MMA (2014).

6.2. RESGATE DE FAUNA

Com relação aos espécimes resgatados, a maioria é de animais de pequeno porte, com baixa mobilidade e/ou hábito arborícola. Dos 533 espécimes resgatados, 62 eram anfíbios, 380 répteis, três aves e 88 mamíferos (Quadro 4, Figura 40). Os

(30)

Programa de Resgate e Afugentamento de Fauna 28 dados biométricos de alguns dos espécimes resgatados estão apresentados no anexo 9.4.

Quadro 4. Lista dos exemplares da fauna resgatados durante o acompanhamento de supressão vegetal para implantação de área de cultivo na Fazenda Araucária.

Taxa Nome comum Nº de

espécimes resgatados

Destino Grau

de ameaça

(IUCN, 2016)

Grau de ameaça

(MMA, 2014)

S F D E

Classe Amphibia Ordem Anura Família Hylidae

Scinax fuscovarius perereca 11 11 NE -

Família Leptodactylidae

Physalaemus nattererii 33 29 4 NE -

Adenomera hylaedactyla 12 12 LC

Leptodactylus fuscus 6 6 LC

Classe Reptilia Ordem Squamata

Família Gymnophthalmidae

Micrablepharus maximiliani calango-da-cauda-azul 65 60 2 3 NE -

Colobosaura modesta calanguinho 53 49 1 3 NE -

Bachia geralista lagarto 4 1 3 NE

Família Mabuyidae

Copeoglossum nigropunctatum lagarto-liso 16 11 1 4 NE -

Família Polychrotidae

Polychrus acustirostris bicho-preguiça 25 24 1 NE -

Família Teiidae

Kentropyx calcaratra lagarto 10 8 2 NE -

Ameiva ameiva lagarto-verde 3 1 2 NE

Família Tropiduridae

Tropidurus torquatus lagarto 13 11 1 1 LC -

Família Amphisbaenidae

Amphisbaena sp. cobra-cega 16 8 8 NE -

Amphisbaena alba cobra-cega 1 1 NE -

Amphisbaenia anaemariae cobra-cega 86 46 2 38 NE -

Leposternon microcephalum cobra-cega-bico-de-pato 7 3 1 3 NE -

Família Colubridae

Chironius exoletus cobra-cipó 2 2 NE

Família Dipsadidae

Imantodes cenchoa cobra-cipó 1 1 NE

Apostolepis longicaudata cobra-fina 21 10 11 NE -

Dipsas catesbyi cobra-cipó 1 1 NE

(31)

Programa de Resgate e Afugentamento de Fauna 29

Taxa Nome comum Nº de

espécimes resgatados

Destino Grau

de ameaça

(IUCN, 2016)

Grau de ameaça

(MMA, 2014)

S F D E

Phalotris nasutus cobra-vermelha 14 7 1 6 NE -

Philodryas olfersii cobra-verde 3 1 2 NE -

Mussurana quimi muçurana 1 1 NE

Oxyrhopus sp. falsa-coral 1 1 NE

Oxyrhopus guibei falsa-coral 18 16 2 NE -

Oxyrhopus petolaris falsa-coral 3 3 NE -

Erythrolampus aesculapii 1 1 NE

Xenodon merremii achatadeira 2 2 NE

Família Viperidae

Bothrops moojeni jararaca 8 6 2 NE

Crotalus durissus cascavel 5 2 3 NE -

Classe Aves

Ordem Strigiformes Família Strigidae

Asio clamator coruja-orelhuda 1 1 NE -

Ordem Caprimulgiforme Família Caprimulgidae

Hydropsalis albicollis curiango 1 1 NE -

Hydropsalis parvula curiango 1 1 NE -

Classe Mammalia Ordem Didelphimorphia Família Didelphidae

Monodelphis domestica 1 1

Didelphis albiventris gambá 4 2 2 LC -

Gracilinanus agilis mucura 44 40 4 LC -

Marmosa murina mucura 27 25 2 LC -

Caluromys lanatus mucura 5 5 LC -

Ordem Cingulata Família Dasypodidae

Euphratus sexcintus tatu-peba 3 3 NE -

Dasypus septemcinctus tatu 1 1

Ordem Rodentia Família Cricetidae

Necromys lasiurus rato-do-mato 2 2 NE -

*Cerradomys scotti rato-do-mato 1 1 NE -

Total 533 417 10 105 1 - -

Legenda. Destino: S = Soltura, F = Fixação, D = Descarte; Grau de ameaça: LC = Pouco

preocupante, NE = Não avaliada. * Espécie catalogada pela primeira vez no acompanhamento

das atividades de supressão vegetal para implantação de área de cultivo na Fazenda Araucária.

(32)

Programa de Resgate e Afugentamento de Fauna 30 Figura 40. Padrões de abundância e riqueza das

classes zoológicas resgatadas durante o acompanhamento das atividades de supressão

de vegetação na Fazenda Araucária.

Com relação à distribuição de abundância e riqueza ao longo dos meses em que houve atividade de supressão e limpeza vegetal na Fazenda Araucária para implantação de área de cultivo, nota se que nos meses de maio e junho foram resgatados o maior número de espécimes, 158 e 157, respectivamente (Figura 41).

Nestes meses observou se também a maior riqueza de espécies resgatadas (25 e 27)

Figura 41. Padrões de abundância e riqueza de registros de resgate durante os meses em que

houve atividades de supressão e limpeza vegetal.

(33)

Programa de Resgate e Afugentamento de Fauna 31 Dos espécimes resgatados, a maior parte (417) foi destinada à soltura em remanescentes florestais próximos à área de supressão vegetal, 105 foram descartados por terem sido encontrados mortos nas áreas de supressão vegetal, 10 foram fixados e serão enviados para coleções zoológicas e um foi enviado para a Secretaria do Meio Ambiente do município de Mineiros/GO por se tratar de um indivíduo juvenil de ave (Figura 42).

Figura 42. Distribuição de espécimes por destinação após resgate.

No que diz respeito ao sucesso do esforço amostral do resgate de fauna durante os 115 dias de campo foram construídas a curva do coletor e uma curva expondo a estimativa de riqueza de Jack-knife 1. A estimativa de riqueza de espécies a partir do índice de Jack-knife 1 foi de 54,8 espécies ao passo que o acumulado por dias foi de 42 espécies ao longo do resgate. Observa-se uma estabilização da curva nos últimos dias de campo (Figura 43).

(34)

Programa de Resgate e Afugentamento de Fauna 32 Figura 43. Gráfico quantidade de espécies observadas (curva de acumulação) e

quantidade máxima esperada (Jack-knife 1) para a fauna resgatada durante a supressão vegetal nas áreas da Fazenda Araucária.

O resultado da estimativa de riqueza de Jack-knife 1 justifica-se ao se comparar as espécies do Bioma em relação às espécies do resgate e as que foram afugentadas, ou seja, como a fauna do bioma Cerrado é bastante diversa não foram amostradas todas as espécies até mesmo porque muitas delas são afugentadas durante as atividades de resgate. Esta riqueza reflete a adaptação aos diversos tipos de vegetação encontrados dentro do Bioma. Algumas espécies da fauna terrestre são restritas a determinadas formações vegetais, enquanto que outras têm distribuição mais ampla habitando diversas fisionomias. Deste modo, além da fauna fossorial, existem outros grupos associados à camada de serapilheira; outro à vegetação rasteira e, ainda, outro associado às árvores lenhosas, como observado nos números do resgate ao longo das atividades de supressão da vegetação nas áreas da Fazenda.

Herpetofauna Resgatada

O grupo da herpetofauna é constituído por espécimes de duas classes zoológicas, Amphibia e Reptillia. De acordo com a Sociedade Brasileira de Herpetologia (SBH, 2014), atualmente existem 1026 espécie de anfíbios que ocorrem no Brasil, sendo que 988 delas são anuros, 33 cecílias e cinco salamantas. Com

(35)

Programa de Resgate e Afugentamento de Fauna 33 relação aos répteis, são conhecidas para o território brasileiro 760 espécies divididas em Testudines (36 spp.), Crocodylia (6 spp.) e Squamata (“Lagartos”, 260 spp. + 8 sspp.; Amphisbaenia, 72 spp.; e Serpentes, 386 spp. + 40 ssp.).

Os répteis ocorrem em praticamente todos os ecossistemas brasileiros e, por serem ectotérmicos, são especialmente diversos e abundantes nas regiões mais quentes do país, como do bioma Cerrado. Esse grupo inclui diversas linhagens (lagartos, serpentes, anfisbenas, quelônios e jacarés), embora algumas delas sejam pouco aparentadas entre si (MACHADO et al., 2008).

Nas áreas suprimidas para implantação de lavouras na Fazenda Araucária foram resgatados 442 espécimes da herpetofauna, sendo 380 répteis de 26 espécies distribuídos em nove famílias e 62 anfíbios de quatro espécies das famílias Leptodactylidae e Hylidae (Quadro 2). Dentre as famílias da herpetofauna a que apresentou maior abundância foi a Gymnophthalmidae com 23% de representatividade, seguido da família Amphisbaenidae com 20% e Dipsadidae com 13% (Figura 44).

O resultado para a família Gymnophthalmidae está relacionadas as espécies de lagartos: Micrablepharus maximiliani e Colobosaura modesta que apresentaram, juntos 97% de representatividade dentro da família. No Plano de Manejo do Parque Nacional das Emas (IBAMA, 2004), próximo ao empreendimento, também foram registradas tais espécies, confirmando a presença destas na região do resgate.

As cobras-de-duas-cabeças são répteis da família Amphisbaenidae. Estes répteis possuem corpo cilíndrico e alongado, com cauda curta e arredondada. Como suas duas extremidades são semelhantes, e seus olhos bem pequenos, estes indivíduos são conhecidos popularmente como cobra-de-duas cabeças. Em geral se alimentam de minhocas, vermes, larvas e pequenos artrópodes. Algumas espécies, como a Amphisbaena alba, possuem comportamento bastante agressivo, quando são manipuladas. Apesar de não possuírem veneno, a mordedura destes animais é muito forte. A grande abundância da família está relacionada principalmente à presença da espécie Amphisbaena anaemariae que foi a mais abundante no período, esta espécie de cobra-de-duas-cabeças é endêmica do Brasil, tendo sido registrada nos estados de Goiás, Minas Gerais e no Distrito Federal (VANZOLINI, 1997) (Figura 44)..

(36)

Programa de Resgate e Afugentamento de Fauna 34 Já a família Dipsadidae apresentou maior riqueza com onze espécies catalogadas, isto porque esta família é uma das mais numerosas famílias de serpentes, sendo que só no Brasil já foram registradas quase 240 espécies (VIDAL et al., 2010) (Figura 44). A espécie mais representativa na família foi a coral-falsa (Oxyrhopus guibei) com 18 indivíduos resgatados. É uma serpente terrícola que ocorre em áreas abertas e/ou florestais (SAZlMA e HADDAD 1992). Nas atividades de resgate a maior parte dos espécimes catalogados foi registrada em ambiente de Cerradão. No Parque Nacional das Emas (IBAMA, 2004), próximo ao empreendimento, também foi registrado a espécie, confirmando a presença desta na região do resgate.

O endemismo da herpetofauna do Cerrado é considerável: 53% das anfisbenas são endêmicas (Amphisbaena anaemariae, A. miringoera, A. neglecta, A.

sanctaeritae, A. silvestrii, A. talisiae, Bronia kraoh, Cercolophia sp.), 26% dos lagartos (Anolis meridionalis, Tropidurus torquatus, T. montanus, Coleodactylus brachystoma, Kentropyx paulensis, K. vanzoi, Bachia bresslaui, B. scolecoides, Bachia sp. nov. e Micrablepharus atticolus), e 28% dos anfíbios (Phyllomedusa centralis, Scinax canastrensis, S. centralis, S. machadoi, S. maracaya, Barycholos savagei, Leptodactylus camaquara, L. cunicularis, L. jolyi, L. tapiti, Odontophrynus moratoi, O.

Figura 44. Gráfico de riqueza e abundância das famílias mais representativas da herpetofauna registradas durante as

atividades de resgate.

(37)

Programa de Resgate e Afugentamento de Fauna 35 salvatori, Physalaemus deimaticus, P. evangelistai, Proceratophrys cururu, P. goyana, Pseudopaludicola mineira, Chiasmocleis centralis) são também endêmicos (COLLI, 2007). Nas áreas de resgate foram confirmadas as seguintes espécies endêmicas:

Amphisbaena anaemariae e Tropidurus torquatus.

Quanto aos critérios de ameaça de extinção, nenhuma espécie da herpetofauna registrada durante o resgate nas áreas de supressão da Fazenda Araucária está catalogada sob algum grau de ameaça nas listas da IUCN (2016) e MMA (2014).

Abaixo estão apresentados alguns dos espécimes da herpetofauna registrada no período:

Figura 45. Espécime de rã (Physalaemus nattererii) resgatada em área de supressão

vegetal.

Figura 46. Espécime de perereca (Scinax fuscovarius) resgatado durante acompanhamento de supressão.

Figura 47. Espécime de lagarto (Ameiva ameiva) resgatado durante supressão

vegetal.

Figura 48. Espécime de lagarto-da-cauda- azul (Micrablepharus maximiliani) resgatado.

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