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CONSIDERAÇÕES SOBRE A QUESTÃO DA VULNERABILIDADE AMBIENTAL NA CIDADE DE

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UNIVERSIDADE FEDERAL DA GRANDE DOURADOS FACULDADE DE CIÊNCIAS HUMANAS

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA

DOURADOS - MS 2014

CONSIDERAÇÕES SOBRE A QUESTÂO DA VULNERABILIDADE AMBIENTAL NA CIDADE DE

CORUMBÁ - MS

SHIRLEY DA SILVA MATIAS

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UNIVERSIDADE FEDERAL DA GRANDE DOURADOS FACULDADE DE CIÊNCIAS HUMANAS

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA

SHIRLEY DA SILVA MATIAS

CONSIDERAÇÕES SOBRE A QUESTÃO DA VULNERABILIDADE AMBIENTAL NA CIDADE DE

CORUMBÁ - MS

Dissertação apresentada ao Programa de Pós- Graduação em Geografia – Mestrado em Geografia, Faculdade de Ciências Humanas da Universidade Federal da Grande Dourados, para a obtenção do título de Mestre em Geografia.

Orientador:

Prof. Dr. André Geraldo Berezuk

Dourados - MS 2014

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RESUMO

O déficit habitacional é um dos grandes problemas enfrentado pelos moradores de Corumbá – MS, sendo que as condições físicas da cidade se constituem em um fator que limita e compromete a expansão urbana, ou seja, o estabelecimento de novas áreas para a construção de moradias. Neste sentido são imprescindíveis os estudos e pesquisas sobre a estrutura e vulnerabilidade ambiental da cidade, para que se contribua com a tomada de decisões do poder público na busca de um convívio adequado do homem com o meio. Desta forma, este trabalho trata sobre a vulnerabilidade ambiental presente na cidade de Corumbá – MS e tem como objetivo principal a apresentação e análise dessas áreas, que se encontram espalhadas pela cidade e foram anteriormente classificadas por Pereira e Pereira (2011). Procurou-se, portanto, aprofundar os estudos de áreas que apresentam vulnerabilidade ambiental, elaborar mapas temáticos referentes à localização dessas áreas dentro da cidade e, por fim, diagnosticar e avaliar os principais impactos que a ocupação de áreas inadequadas pode trazer para a população que geralmente desconhece o problema que se origina para si mesma. O mapa de vulnerabilidade ambiental, aliado às análises realizadas durante o levantamento de campo, constitui-se como uma importante ferramenta de apoio ao planejamento urbano e serve de subsídio para o uso racional da ocupação do solo urbano, assim como para a conservação das áreas de preservação permanente da cidade que hoje se encontram ignoradas.

Palavras-chave: Vulnerabilidade ambiental, planejamento urbano, Corumbá, expansão urbana.

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ABSTRACT

The housing defcit is one of the big problems faced by residents in Corumbá-MS, and the physical conditions of the city are that limits and compromises urban sprawl and the stabilishment of new areas for housing construction. In this sense, study and research on structure and enviromental vulnerability of the city are esse ntial to contribute to the public authorities decision making process in the search fo r an appropriate interaction between human being and enviroment. That way, this paper is about the present enviromental vulnerability inCorumbá-MS and has it's main goal on presentation and analysis of these areas, witch are scatered thougho ut the city and were previously classifyed by Pereira and Pereira (2011).

Procedure was, therefore, to further study of areas with environmental vulnerability , to produce thematic maps of the location of these areas within the city,in the end, diagnose and assess the main impacts that the occupation of unsuitable areas can bring to the population, that is generally unaware of the problem that they create fo r themselves. The map of environmental vulnerability combined with the analysis from field survey, was established as an important suporting tool to urban planning and serves as subsidy for the rational use of urban land use, as well as for the conservation of perm3anent preservation areas of the city that are ignored t oday.

Keywords: Enviromental vulnerability, urban planning, Corumbá, urban sprawl

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Dedico:

Ao meu filho Pedro, fiel companheiro nesta jornada.

(6)

“Todos que se iniciam no conhecimento das ciências da natureza mais cedo ou mais tarde, por um caminho ou por outro – atingem a ideia de que a paisagem é sempre uma herança. Na verdade, ela é uma herança em todo o sentido da palavra: herança de processos fisiográficos e biológicos, e patrimônio coletivo dos povos que historicamente as herdaram como território de atuação de suas comunidades.”

Aziz Ab'Saber (2003,p.09)

(7)

AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a Deus pela oportunidade de realizar e concluir este mestrado.

À Capes pela bolsa de estudo concedida, possibilitando a realização desta pesquisa.

Ao Programa de Pós-Graduação em Geografia – PPGG, da Universidade Federal da Grande Dourados pela oportunidade de aprimorar e enriquecer os meus conhecimentos.

Aos professores do curso de Mestrado, base para a construção deste trabalho.

Agradeço ao meu orientador prof. Dr. André Geraldo Berezuk pela dedicação e confiança em mim depositadas.

Agradeço aos professores Charlei Silva e Joelson Gonçalves Pereira pelas preciosas contribuições na minha qualificação e desenvolvimento deste trabalho.

Aos meus colegas de turma, pela convivência durante o ano de 2012, primeiro ano do mestrado.

Aos amigos Gladslayne e Joelson pela amizade, apoio e acolhida quando cheguei nesta cidade.

Agradeço às minhas amigas Simone do Valle L. Peinado e Daniela Lopo, pelas hospedagens e apoio oferecidos durante as minhas pesquisas de campo em Corumbá.

Agradeço ao meu irmão por todo apoio, confiança e principal incentivador para a realização deste objetivo.

Aos meus filhos Diego e Tiago, que mesmo distantes estão sempre presentes em minha vida.

Aos amigos que não foram aqui citados mas que indiretamente contribuíram para a realização deste curso.

(8)

SUMÁRIO

Página

INTRODUÇÃO …...13

CAPÍTULO I FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA...…...16

CAPÍTULO II A CIDADE DE CORUMBÁ – MS: SEUS ASPECTOS FÍSICOS E SOCIOECONÔMICOS... 24

2.1 – As transformações socioeconômicas no espaço corumbaense...27

2.2 – O processo de ocupação da periferia...29

2.3 – Aspectos físicos da área urbana de Corumbá-MS...31

2.3.1 – Aspectos geológicos e geomorfológicos da área urbana... 34

2.3.2 – Pedologia... 37

2.3.3 – Drenagem natural urbana...41

CAPÍTULO III TRAJETÓRIA METODOLÓGICA DA PESQUISA …...45

3.1 – Entrevista e pressupostos teóricos do Plano Diretor Participativo...46

CAPÍTULO IV CORUMBÁ E SUA POLÍTICA PÚBLICA DE USO E OCUPAÇÃO DO SOLO...48

4.1 – Sobre o plano diretor participativo de Corumbá – MS...53

4.2 – Plano Diretor Participativo de Corumbá – MS – da teoria à prática...54

4.3 – Análise das entrevistas realizadas...58

(9)

página

CAPÍTULO V...63

ANÁLISE DAS ÁREAS URBANAS DE CORUMBÁ, SEGUNDO SEUS NÍVEIS DE VULNERABILIDADE AMBIENTAL...63

5.1 – Áreas com baixa e muito baixa vulnerabilidade ambiental...68

5.2 – Áreas com baixa vulnerabilidade ambiental...69

5.3 – As áreas com média vulnerabilidade …...72

5.3.1 – Áreas sujeitas a alagamento...74

5.3.2 – Os modelados de acumulação...77

5.3.3 – Depressões relativas...80

5.4 – Áreas com vulnerabilidade ambiental muito alta...80

5.4.1 – Ocupações nas encostas do Morro do Cruzeiro...83

5.4.2 – Encostas ribeirinhas...88

CONSIDERAÇÕES FINAIS...95

REFERENCIAS...97

(10)

LISTA DE FIGURAS página

01 – Rochas calcárias expostas da formação Bocaina/Araras...35

02 – Áreas pediplanares com declividade inferior a 5%...36

03 – Formação rochosa encostas do bairro Cervejaria …...37

04 – Rochas calcárias porosas e permeáveis presentes nas encostas dos morros...38

05 – Solos rochosos e cascalhentos nas encostas dos morros...39

06 - Solos litólicos, rasos e pouco desenvolvidos...40

07 – Conjunto residencial construído com recursos do PAC...52

08 – Vista Parcial do Con. habitacional construído em área de fundo de vale...61

09 – Interior de uma residência do conjunto habitacional do Estado...62

10 – Afloramento de Rocha no Centro da cidade...65

11 – Vegetação natural dos inselbergs...68

12 - Vista Parcial de uma descontinuidade no centro da cidade …...70

13 - Residencias em áreas de alagamento...75

14 – Residencia abandonada pelo morador...75

15 - Conjunto habitacional em área de alagamento...75

16 – Moradias em áreas de alagamento...76

17 – Barreira improvisadas para impedir a entrada da água...76

18 – Moradia em área de inundação no bairro Cervejaria...78

19 –Moradia nos modelados de acumulação do rio Paraguai...78

20 – Moradia improvisada em área de inundação...79

21 – Moradia em área de encosta...83

22 – Ocupações no Morro do Cruzeiro...84

23 - Vegetação rasteira na encosta do morro...85

(11)

24 – Instalação hidráulica exposta...86

25 – Ocupações nas encostas ribeirinhas do bairro Beira Rio...89

26 – Desmoronamento de bloco da encosta no bairro Beira Rio...90

27 – Encostas com solo frágil poroso que favorece a infiltração...91

28 – Moradia em área de risco...92

29 – Descarte de lixo doméstico na encosta...93

30 – Construção de alto padrão no patamar superior da encosta...93

LISTA DE MAPAS

página 01 – Drenagem natural urbana...…...42

02 – Áreas com vulnerabilidade natural...67

03 – Alta vulnerabilidade ambiental... ...73

04- Área com vulnerabilidade ambiental muito alta...82

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LISTA DE QUADROS página

01 – Síntese das unidades de feições geológicas e geomorfológicas presentes no sítio urbano de Corumbá...33

LISTA DE TABELA página

01 – Instrumentos normativos do município de Corumbá – MS...49

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INTRODUÇÃO

Nas últimas décadas notícias de catástrofes envolvendo questões ambientais tem sido frequente nos noticiários nacionais e mesmo internacionais.

As questões relacionadas a esses fatos possuem inúmeras causas e quando ocorrem em áreas urbanas muitas vezes estão atribuídas à falta de planejamento e com a ocupação e uso inadequado do solo urbano. Quando as ocupações acontecem em áreas de encostas de morro, encostas ribeirinhas, fundos de vale e áreas sujeitas a alagamentos inevitavelmente o processo de degradação é acelerado acentuando desta forma, a vulnerabilidade natural já existente.

De acordo com Spósito (1994), a cidade, como expressão maior da capacidade social de transformar o espaço natural, não deixa de ser parte da natureza e de estar submetida às dinâmicas e processos naturais. Porém, a natureza é vista por boa parte da população, como algo que deve ser apropriado pelo homem e exclui-se questões de dimensões culturais, sociais e ambientais que são fundamentais para que se mantenha uma vida saudável. Atualmente, grande parte da população brasileira vivem nas cidades e estas, por sua vez, tornam-se a cada dia mais industrializadas e mecanizadas, fatores necessários para que se possa atender a demanda exigida pelo consumo e modo de vida acelerado.

Nesse sentido, a relação capital x trabalho exclui a natureza, que passa a ser matéria-prima para a produção, tornando-se esta uma das relações mais importantes do mundo moderno. Contudo, a infraestrutura necessária para o bem- estar da população, não acompanhou o processo acelerado do crescimento urbano vivenciado pela maioria das cidades brasileiras.

A falta de saneamento básico, ausência da coleta de lixo, esgotos a céu aberto, terrenos baldios funcionando como lixões, são alguns dos problemas ambientais decorrentes da falta de planejamento para absorver toda a população

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que migrava para as cidades. A falta de emprego e a oferta ineficiente de moradias gerou uma grande disparidade social e com isso, a população mais carente procurou se instalar em locais impróprios para habitação, como encostas de morro, beiras de rios e fundos de vale, com infraestrutura deficiente e que são áreas ambientalmente protegidas pela legislação nacional. Desta forma a falta de planejamento e infraestrutura está também diretamente relacionada aos alagamentos, desmoronamentos e desabamentos, fatos que tem se tornado comum nos últimos anos em muitas cidades do Brasil.

O avanço da ocupação para fins de moradia para as áreas inadequadas e o desrespeito às características geológicas, hidrográficas, pedológicas e topográficas, bem como à legislação ambiental, em especial às normas referentes ao Código Florestal (Lei 12.651/2012), levam uma parcela da população (a mais carente) à maior exposição a eventos naturais como as inundações, escorregamentos de encostas, desabamentos de grandes rochas, riscos de forte escoamento superficial e outros riscos ambientais.

Desta forma, este problema, referente às áreas de grande vulnerabilidade e risco ambiental, quando habitadas, acaba por levar a população à perda de seu nível de qualidade de vida, às perdas materiais, culminando com a perda da própria vida humana, resultados da intensa ocupação das áreas impróprias. Notícias relacionadas a essas catástrofes têm sido cada vez mais frequentes em diferentes regiões do Brasil refletindo a insegurança da sociedade atual e a inércia muitas vezes, do poder público. Este panorama crítico do planejamento urbano também acontece na cidade de Corumbá-MS, situação esta que instigou o desenvolvimento desta dissertação, ao escolher como tema, a vulnerabilidade ambiental presente nesta cidade. Assim sendo, procurou-se diagnosticar e avaliar nesta pesquisa quais os principais impactos negativos que a ocupação inadequada pode trazer para a população e também para a própria cidade da cidade de Corumbá, impactos estes provenientes de uma histórica falta de ingerência das administrações municipais passadas.

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Sendo assim, entende-se a relevância do presente trabalho ser uma ferramenta capaz de subsidiar novas pesquisas, trabalhos e ações de planejamento sobre a questão da vulnerabilidade ambiental, relacionadas com o problema da ocupação irregular, especialmente em áreas de encostas e sujeitas a alagamento. Este trabalho está organizado em cinco capítulos que discorrem sobre o tema na seguinte ordem:

O primeiro capítulo refere-se à fundamentação teórica contextualizando o tema proposto à pesquisa e as teorias de autores que definem a questão da Vulnerabilidade Ambiental, este capítulo contempla também uma breve abordagem sobre o planejamento e a percepção ambiental do pesquisador.

O segundo capítulo faz uma breve caracterização da área de estudo e apresenta os aspectos físicos, naturais assim como as transformações socioeconômicas ocorridas na cidade e o histórico do processo de ocupação das áreas periféricas, com o objetivo de retratar os problemas existentes na área de estudo, baseadas na concepção Geossistêmica e Ecodinâmica das paisagens

A trajetória metodológica desta pesquisa é apresentada no terceiro capítulo e refere-se às principais questões para a realização da análise da vulnerabilidade ambiental dentro da cidade de Corumbá.

O quarto capítulo trata de uma leitura e análise do Plano Diretor Participativo, relacionando com a ocupação e uso do solo urbano e das propostas do poder público para a expansão da cidade.

Finalmente no quinto e último capítulo, são apresentados os resultados obtidos na pesquisa de campo e teórica. São apresentados também os mapas temáticos elaborados norteando o leitor sobre a localização de cada uma das áreas investigadas.

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CAPÍTULO I

FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Um dos maiores problemas atuais das cidades brasileiras é o crescimento acentuado da população urbana. A cidade é o lugar onde as pessoas buscam mudanças, oportunidades e melhores condições de vida, condições estas que nem sempre são alcançadas, pois geralmente essa população não possui poder aquisitivo suficiente para morar nas áreas cuidadosamente planejadas para os assentamentos humanos. Porém, de acordo com Rodrigues (1994; p.11):

“De alguma maneira é preciso morar. No campo, na pequena cidade, na metrópole, morar como vestir, alimentar, é uma das necessidades básicas dos indivíduos. Historicamente mudam as características da habitação, no entanto é sempre preciso morar, pois não é possível viver sem ocupar espaço.”

Desta forma, a população carente acaba se instalando em áreas impróprias e dotadas de baixa qualidade em seu planejamento, construindo moradias precárias, resultando, muitas vezes, em assentamentos informais. Estas áreas impróprias para moradia, geralmente, são constituídas pelas áreas às margens de rios, ou nas encostas de morros e fundos de vale, amplamente passíveis de problemas como a ocorrência de deslizamentos, alagamentos, desmoronamentos, dentre outros, especialmente nos períodos chuvosos, que é quando esses problemas se tornam mais evidentes.

Estes problemas resultam, muitas vezes, em perdas de vidas e danos materiais, além de contribuir com a degradação ambiental dessas áreas, evidenciando o conflito existente entre os processos de desenvolvimento, a acentuação dos níveis de pobreza e a deterioração do meio. A cidade, como expressão maior da capacidade social de transformar o espaço natural, por sua vez, não deixa em função disso, de ser parte da natureza e de estar submetida às dinâmicas e processos naturais (SPOSITO, 2003).

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Segundo Carlos (2007), a realidade urbana se coloca diante de problemas cada vez mais complexos que envolvem o desvendamento dos conteúdos do processo de urbanização nos dias de hoje, reproduzindo a ideia da cidade como uma construção humana que revela com o tempo, a relação acumulada entre a economia, a sociedade e a natureza. Neste sentido, o termo vulnerabilidade ambiental tornou-se o reflexo deste tripé, refletindo a insegurança constante de uma população exposta ao perigo, que é a resposta para a forma de organização dessa paisagem.

Para tratar do tema Vulnerabilidade Ambiental houve a necessidade de entender primeiramente as relações estabelecidas entre a sociedade e a natureza ao longo da história da civilização. Até a década de 1950, quando se tratava de natureza, pensava-se de maneira fragmentada, separando elementos essenciais como a geologia, geomorfologia pedologia, vegetação e climatologia excluindo o homem e entendendo a paisagem de maneira descritiva.

Esta concepção de uma natureza com recursos infinitos associada ao atual modelo econômico favorece a intensificação de atividades de exploração dos recursos naturais e desconsidera-se os impactos causados ao meio muitas vezes em proporções irreversíveis.

A partir da segunda metade do século XX os debates acerca da inserção do homem enquanto elemento inserido no geossistema, conduz a estudos cada vez mais complexos a respeito de um sistema integrado dos elementos naturais.

(RODRIGUES, 2001 p. 78).

A visão geossistêmica entende que os elementos da paisagem encontram- se interligados e a sua principal concepção é a conexão da natureza com a sociedade e a delimitação dos espaços territoriais modificados ou não pelos fatores econômicos e sociais, elementos imprescindíveis para uma análise geoambiental.

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Quando se pensa em de vulnerabilidade, um de seus conceitos pode ser a concepção da magnitude de um evento nocivo previsível (perigo), em determinado espaço-tempo, podendo ser, este perigo de origem: humana, econômica e ambiental. Trata-se da esfera natural que se une à esfera ambiental criando um só conjunto, um espaço-tempo próprio, que contribui para a totalidade também ímpar (CAMARGO, 2012).

A origem é humana quando a vulnerabilidade resulta das ações antrópicas que envolvem o desmatamento, a retirada da mata ciliar, a ocupação de encostas.

Essas ações favorecem e potencializam os eventos considerados naturais que são fenômenos geralmente previsíveis e não haveria risco sem a presença humana.

A vulnerabilidade e o risco são conceitos bastante próximos, podendo até chegar à dedução que ambos coexistem, pois a vulnerabilidade associada ao perigo (Hazard) constitui o próprio fundamento do risco (VEYRET, 2007).

Segundo Kobiyama (2006) a teoria dos hazards enfatiza os aspectos naturais como avalanches, terremotos ciclones, desmoronamentos enquanto o perigo caracteriza eventos a partir de um fenômeno natural previsível e o risco pela probabilidade de perda visualizada em determinado período na eminência de um perigo.

Para Veyret (2007), é importante considerar os fatores os sociais, econômicos e ambientais para entender as ameaças existentes e os impactos ambientais no território, pois, os riscos ambientais resultam da associação entre os riscos naturais e os riscos decorrentes de processos naturais agravados pela atividade humana.

Por sua vez, para Marandola Jr. (2009; p.18), a vulnerabilidade não é um fenômeno isolado e nem se constitui como um dado: ela faz parte da própria constituição dos lugares, grupos, pessoas e precisa ser entendida enquanto processo.

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“A ideia de vulnerabilidade que perpassa esta perspectiva procura se desviar de uma visão essencialmente negativa. Percebemos ao longo do tempo que a vulnerabilidade é intangível, pois ela não é um fenômeno isolado nem um dado:

ela faz parte da própria constituição dos lugares, grupos e pessoas.”

(MARANDOLA JR., 2008; 2009).

Os fundos de vale, as encostas dos morros, as margens dos rios e dos córregos são áreas com características ambientais que revelam o lócus da fragilidade e, portanto, merecem uma atenção especial, principalmente porque são as áreas que geralmente “sobram” para serem ocupadas pela população de baixa renda. Desta forma, a vulnerabilidade ambiental está relacionada com as condições físicas de um determinado meio cujos pontos críticos são intensificados pelas ações ou ocupações humanas, possibilitando a ocorrência de danos sociais que, de acordo com a sua magnitude, podem se tornar muito agudos.

Enfatizado o significado de vulnerabilidade ambiental, convém apresentar o conceito já clássico de meio ambiente. De acordo com Christofoletti (1999), o substantivo ambiente vem sendo empregado de forma ampla e generalizada, desde os mais variados campos do conhecimento científico, como também nos diferentes meios de comunicação, expressando uma variedade de aspectos em seu significado.

Porém, no que tange às questões ambientais, faz-se necessário que seja utilizado este termo de maneira mais ecocêntrica, menos antropocêntrica, pois, ocorre que muitas vezes o ser humano, erroneamente, não se coloca como parte integrante do mesmo e o interpreta das mais diversas formas, de acordo com o grupo social e o problema envolvido, com visões fragmentadas sobre a natureza, em que se baseia na concepção de que a mesma se constitui numa reserva infinita de recursos para serem explorados. Esta visão porém se tornou insustentável e para que o meio ambiente não entrasse em colapso a ideia de sustentabilidade começou a ser difundida a visão ecocêntrica, na tentativa de reconstruir a relação homem – natureza, iniciando uma mudança de comportamento com a valorização do meio ambiente.

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Para Christofoletti (1999), o termo meio ambiente é usado de forma a representar o conjunto dos componentes da geosfera-biosfera, interpretação conceitual esta condizente com o sistema ambiental físico (geossistema), prevalecendo a relevância antropogenética. Desta forma, é constituído pelos sistemas que interferem e condicionam as atividades sociais e econômicas e podem ser estudadas através de duas abordagens distintas: a ecológica e a geográfica, sendo que a abordagem geográfica é utilizada para analisar o espaço e as dimensões das atividades humanas.

Reigota (1991), criou uma tipologia para definir o termo meio ambiente em três visões diferentes:

1. A visão naturalista, que vê o meio como sinônimo de natureza intocada, caracterizando-se tipicamente pelos aspectos naturais;

2. A visão antropocêntrica, que descreve o meio como a fonte dos recursos naturais para a sobrevivência do ser humano e, por último;

3. A visão globalizante, que integra o meio e a sociedade.

Reigota (1991) define ainda o meio ambiente como o lugar determinado ou percebido, onde os elementos naturais e sociais estão em relações dinâmicas e em interação. Essas relações, implicam em processos de criação cultural e tecnológica, além de um processo histórico-social de transformação do meio natural em meio construído, separando os seres humanos da natureza.

Para Santos (1994), a história do homem sobre a Terra é a história de uma ruptura progressiva com o entorno ao qual faz parte e, para isso, iniciou o processo de mecanização do planeta, na tentativa de dominá-lo. O modo de vida da sociedade, o aumento da população mundial e as mudanças no modo de produção, resultaram, portanto, em diversas alterações no meio natural. O grande marco dessas alterações foi a Revolução Industrial, no século XVIII, pois, foi a partir deste advento que se acelerou o processo da urbanização e, ao mesmo

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tempo, se aprimoraram novas técnicas de produção, trazendo mudanças significativas de comportamento entre a sociedade e a natureza.

Esta sociedade passou, logicamente, cada vez mais a fazer uso dos recursos naturais, que Foladori (1999) define como metabolismo social, ou seja, a natureza externa se transformando em riqueza material, apta para ser consumida, desfrutada, apropriada pela sociedade humana, como é o caso do solo urbano que, sob a lógica do capital se constitui em uma mercadoria nas mãos dos agentes produtores da cidade.

De acordo com Harvey (1980) o solo e suas benfeitorias são mercadorias indispensáveis à reprodução da força de trabalho, à produção de bens e ao suprimento das necessidades de todos os indivíduos.

Este tipo de relação com a natureza que é, uma das características da sociedade atual, além dos avanços tecnológicos, educacionais, econômicos apresentou, por sua vez, “efeitos colaterais”, tais como o aquecimento global, proveniente do efeito estufa excessivo, decorrente, por sua vez, da poluição também excessiva.

Segundo Araújo (2010), foram identificados os seguintes tipos de degradação ambiental na sociedade moderna:

• Poluição Sonora;

• Degradação de Recursos Naturais em Área de Proteção Ambiental;

• Degradação por Insuficiência e/ou Deficiência de Serviços Públicos;

• Degradação de Bens Integrantes do Patrimônio Cultural;

• Degradação Ambiental Decorrente de Exploração Mineral;

• Poluição degradadora de Recursos Naturais;

• Ocupação Irregular em Área de Proteção Ambiental.

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É importante destacar que, para cada tipo de degradação, é abrangido um conjunto de fatos circunstanciais, de acordo com a situação identificada, tornando de suma importância a presença do poder público, seja como agente controlador ou como mediador das intervenções humanas.

Diante de todas essas interferências negativas do homem sobre a natureza e ao meio ambiente, e visando uma melhor qualidade de vida para o ser humano e para todas as demais espécies, é que a relação do homem com a natureza vem sendo repensada. Visando o combate a esta interferência negativa da humanidade perante sua relação com o meio ambiente.

Para Bastos e Freitas (2010), a política de preservação do meio ambiente e os problemas ambientais devem continuar como pauta de discussão de todos os segmentos da sociedade preocupados com a qualidade de vida e, consequentemente, com o meio ambiente. Para melhor compreender essa relação, uma outra abordagem vem sendo muito utilizada na geografia, para o estudo da natureza, do meio ambiente e do espaço geográfico, que é o uso da percepção do pesquisador. Oliveira (2007) afirma que:

“Desde a década de 1970, principalmente nos Estados Unidos, Canadá, Inglaterra, França, Austrália e também no Brasil, houve um aumento de volume de pesquisas e reflexões sobre a problemática da percepção em Geografia.”

(MACHADO; OLIVEIRA, 2007. P. 129).

Através da atividade perceptiva do pesquisador é possível saber como o individuo percebe o mundo a sua volta. De acordo com a autora, a percepção ambiental vem exigindo da sociedade reflexões mais profundas e um equacionamento teórico, prático e factual sobre o meio ambiente. Para Ferrara (1993), a percepção ambiental é definida como a operação que expõe a lógica da linguagem, que organiza os signos expressivos dos usos e hábitos de um lugar.

Considerando que a problemática ambiental geralmente está associada com a problemática social, torna-se importante buscar também o entendimento dos fatos e do cotidiano perceptível através de uma abordagem holística incluindo

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desta forma, o modo como a comunidade visualiza e reconhece o espaço em que vive. Conhecer as limitações da natureza e as alterações causadas pelas ações humanas nas caraterísticas naturais da superfície em que vive é o primeiro passo para entender que nem todo espaço livre, pode ser habitado. Desta forma este trabalho é iniciado com a apresentação das características naturais da área escolhida para estudo.

CAPÍTULO II

A CIDADE DE CORUMBÁ-MS:

SEUS ASPECTOS FÍSICOS E SÓCIOECONÔMICOS

Situada na região Oeste do Estado de Mato Grosso do Sul, à margem do rio Paraguai, Corumbá constitui hoje o principal centro urbano do Pantanal e a terceira maior população citadina do Estado, com 103.206 habitantes de acordo com o Censo 2010 do IBGE. O território municipal está dividido em sete distritos:

Sede, Albuquerque, Amolar, Forte Coimbra, Nhecolândia, Paiaguás e Porto Esperança, onde estão situadas várias localidades, entre assentamentos rurais, núcleos urbanos, destacamentos militares e povoados. Apenas dois distritos apresentam núcleos urbanos: Corumbá e Albuquerque. Forte Coimbra e Porto Esperança constituem aglomerados populacionais servidos por alguns equipamentos comunitários como escolas, igrejas, cemitérios, além de um incipiente comércio varejista, configurando-se assim como povoados (LEITE 2008; p. 26).

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A ocupação da região teve início ainda no século XVI, quando, com a expectativa de encontrar ouro, a área do atual município foi explorada pelos portugueses, que começaram a chegar em 1524. A exploração do ouro e diamantes ocorreu somente no norte da província, quando durante uma expedição em busca dos índios coxiponenses (1719) foi encontrado ouro nas margens do rio Coxipó e Cuiabá, alterando assim o objetivo da expedição e determinou o desenvolvimento do comércio de maneira isolada da localidade.

Em 1778, foi fundado o Arraial de Nossa Senhora da Conceição de Albuquerque (primeira denominação de Corumbá), para impedir os avanços dos espanhóis que chegavam a procura do mineral precioso. A localidade foi elevada a Distrito em 1838, devido à importância comercial que passou a ter com a liberação das passagens de barcos brasileiros e paraguaios pelo rio Paraguai, interligando Corumbá aos grandes centros urbanos platinos e brasileiros e propiciando o crescimento acelerado da cidade.

Em 1850, foi elevada à categoria de município e, com Resolução de 5 de julho de 1862, transformou-se em Freguesia e passou a ser denominada Freguesia de Santa Cruz de Corumbá ou Vila de Corumbá. No ano de 1861, instalou-se na cidade a Alfândega1, atraindo cada vez mais pessoas pelas excelentes possibilidades que a cidade oferecia. Durante a Guerra do Paraguai (1864 – 1870), Corumbá foi o palco de uma das principais batalhas do conflito, sendo ocupada e destruída pelas tropas de Solano Lopez em 1865. A economia local foi totalmente arrasada durante o período da guerra.

As pequenas plantações existentes na época foram destruídas pelas tropas paraguaias, os rebanhos das fazendas recém-instaladas no Pantanal

1

Alfândega - Instalada em 1861 a alfândega era a sede da Receita Federal. Atualmente faz parte do complexo arquitetônico do Porto Geral de Corumbá – MS.

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foram dizimados e a navegação no rio Paraguai foi interrompida. Contudo, com a retomada da cidade pelo tenente-coronel Antônio Maria Coelho, em 1870, e com a expulsão dos paraguaios, a cidade começou a ser reconstruída, pelos moradores e apenas o alinhamento das ruas foi conservado (PEREIRA, 2007).

O desenvolvimento local começou a ser impulsionado, com a chegada dos imigrantes europeus e de outros países sul-americanos, que movimentava o comércio de importação e exportação do porto corumbaense, colocando Corumbá como o 3º maior porto da América Latina até a década de 1930. As mercadorias produzidas na região eram embarcadas com destino às capitais platinas e por ali, chegavam os gêneros a serem consumidos em toda a província de Mato Grosso.

Após a Guerra, Corumbá foi se reorganizando aos poucos e retomando o seu crescimento, voltando a ser o porto de maior movimento comercial da província (ITO, 2000). Sobre isto Paixão (2006, p.142) também comenta:

“A efervescência do comércio foi de tal ordem que, nesse período, foram instalados em Corumbá equipamentos comuns aos grandes centros mundiais, como casas bancárias, teatros, fábrica de bebidas, escritórios especializados em serviços de exportação e importação, telefonia a cabo, termelétrica, etc...”

De acordo com Ito (2000), início do século XX foi marcado pelo incremento da pecuária, pelos investidores estrangeiros e também pela expansão da Casa Comercial que, muitas vezes, acumulava as funções de representante de bancos estrangeiros, firma de importações e exportações e empresa de navegação.

Neste período, todas as atividades comerciais atacadistas, da cidade se localizavam no Porto, ou parte baixa da cidade, que pela sua estruturação urbana apresentava a divisão topográfica da parte alta e da parte baixa.

Na parte baixa da cidade estavam instalados os comércios de exportação e importação, as casas de atacado e os vários estabelecimentos bancários, a Alfândega e a Mesa de Rendas. A elite social e o comércio varejista se

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estabeleceram na parte elevada da cidade, principalmente na rua Delamare.

(ITO,2000).

A cidade começou a se expandir em direção ao Sul, ao Leste e ao Oeste, pois o leito do rio Paraguai ao Norte, era um obstáculo natural para a sua expansão nesta direção. O rio sempre teve forte influência na dinâmica da cidade e foi testemunha das grandes mudanças históricas ocorridas e ao mesmo tempo foi também, determinante para o seu desenvolvimento. Foi pelo rio que, na segunda metade do século XIX, chegaram as tropas de Solano Lopes para invadir a cidade na guerra contra o Paraguai, destruindo e praticamente dizimando a sua população. Mas foi este mesmo rio que permitiu a sua rápida reconstrução, através do acordo internacional de livre navegação do rio Paraguai, permitindo a Corumbá um expressivo desenvolvimento (PEREIRA, 2007).

Com a chegada da ferrovia no final da década de 1940, a cidade se volta em direção ao Sul, deixando de lado o rio e o seu porto, que passaram a vivenciar um expressivo declínio, transformando-se desta forma, na periferia da cidade. As casas comerciais, agora abandonadas começam a ser invadidas transformando- se em moradias coletivas para a população de baixa renda (ITO, 2000).

A partir da década de 1990 graças a prática da pesca esportiva o município de Corumbá passou a atrair turistas de todos os lugares do Brasil e o turismo de pesca começou a despontar como uma das principais atividades econômicas locais. O Turismo passou a movimentar toda a cidade, expandindo a rede hoteleira, movimentando o comércio e trazendo novos investimentos por parte do poder público. Em virtude desta nova atividade que se apresentava bastante promissora foram criadas agências de turismos, novos hotéis e restaurantes. Os escritórios dos barcos e algumas agências passaram a funcionar nos casarios do porto, antes abandonados.

De acordo com Pereira (2007) As famílias de baixa renda que estavam ocupando esses imóveis foram removidas, para dar lugar a essa nova condição

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do Porto Geral, pois buscava-se a recuperação do valor imobiliário e a revitalização da região. Este processo é conhecido por gentrificação ocorreu em outras cidades do Brasil como em São Paulo e Salvador, Goiás. Trata-se nesse caso, de acordo com Carlos (2004) não mais da produção sobre um espaço vazio, mas da reprodução do espaço na cidade já consolidada, que se coloca no jogo da lógica desenvolvimentista do capitalismo.

2.1 As transformações socioeconômicas no espaço urbano corumbaense Desde a época da sua fundação o município de Corumbá enfrenta inúmeros processos de transformação em quase todas as áreas, especialmente na economia e consequentemente na área social. Na década de 1970 o processo desordenado de ocupação urbana se agravava, especialmente com o ciclo das cheias no Pantanal, que trouxe graves problemas aos pecuaristas da região, em função dos eventos de enchentes ocorridos nesta década, deixando alagada quase a metade das áreas que antes eram ocupadas para o desenvolvimento da pecuária (ISQUIERDO, 2010).

De acordo com Curado (2004,p. 29) a população que vivia “nos arrombados2” do rio Taquari abandonaram as suas terras e migraram para Corumbá, ocupando a periferia:

“Outros relatos mostram que o Assentamento PA 72, no município de Ladário (MS), e uma ocupação formada por famílias de “sem-teto” na periferia de Corumbá abrigam antigos sitiantes da colônia Bracinho, e das comunidades Miquelina e Rio Negro, que abandonaram ou venderam suas terras a terceiros.”

2 Arrombados - Rompimento e inundação das margens do rio. Este fenômeno tem como principais consequências as inundações permanentes, o desvio do leito do rio, perdas de áreas produtivas, alterações e perdas na biodiversidade, alteração no pulso de inundação e alteração dos canais de navegação.

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Durante estes períodos de enchente Corumbá chegava a ficar ilhada, contando apenas com a navegação e a estrada de ferro para sair ou entrar na cidade, que novamente entrou em decadência econômica.

Em decorrência da crise na Pecuária, durante a década de 1970, levando a falência grandes pecuaristas, a cidade se viu obrigada a buscar novos caminhos para incentivar a economia na região que até então dependia quase que exclusivamente desta atividade. Com o lema “a natureza ao alcance de todos”, a região passa a aproveitar a principal mercadoria que possui: a natureza exuberante e incomum do Pantanal (FATMÁTO, 2005):

“ O turismo contemplativo, cultural e ecológico é incentivado, substituindo o turismo de pesca, as fazendas passam a fazer trajetos rodoviários, os chamados

“safáris fotográficos”, que têm uma grande procura. Em 2001, com a inauguração da ponte sobre o rio Paraguai, que representa um grande avanço na infra- estrutura do sistema de transporte rodoviário, se consolida a integração de Corumbá ao resto do país. “

Em busca de novas alternativas os comerciantes locais participaram do Pacto pela Cidadania e, entre outras, reivindicaram a implantação de uma área de livre comércio em virtude da localização na fronteira com a Bolívia e a reativação dos trens Bauru – Corumbá – Campo Grande. Apesar da instabilidade econômica que vivia, a cidade continuava a crescer embora de maneira irregular, os resultados eram sofridos pela população menos favorecida que em decorrência, procuraram se alojar nas áreas periféricas, processo que abordaremos a seguir.

2.2 O processo de ocupação da periferia

De acordo com Rodrigues (2001, p.29), uma das formas da população carente resolver seu problema de moradia, é se instalando nas áreas da periferia geralmente de maneira irregular e clandestina. Desta maneira, paralelamente às construções de melhor padrão das moradias, edificadas no centro da cidade de Corumbá e na área correspondente ao Porto Geral, a maioria delas, com

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características europeias, iniciavam-se, ao mesmo tempo, um processo de ocupação da periferia nas áreas das extremidades leste e oeste do Porto Geral.

Segundo Souza (2003), o jornal Correio do Estado, em 16 de junho de 1909, lembrava que faltavam casas para atender a população e que as famílias se sujeitavam a dividir um único cômodo com outra, prejudicando a saúde e a higiene. O extremo leste da rua Delamare, atual bairro Borrowiski, foi ocupado pela população negra, de muito baixo poder aquisitivo, de Corumbá, constituindo naquela época (1909) o bairro Sarobá, que era conhecido como o lugar de contravenções e de mão de obra barata. Tratava-se de uma população visivelmente marginalizada pela população de pele branca, com poder aquisitivo mais elevado, população esta que considerava o local vergonhoso para a cidade.

Tais áreas eram consideradas sem valor comercial, também em virtude das suas condições topográficas, extremamente acidentadas.

Desta forma, tem início o processo histórico de ocupação ilegal das áreas de encostas por famílias pobres, compostas por pescadores, ex-escravos e paraguaios que eram na maioria sobreviventes da guerra do Paraguai. De acordo com Souza (2003), além do bairro Sarobá, no extremo oeste da rua Delamare, entre as ladeiras Cáceres e Cervejaria, logo após o fim da Guerra do Paraguai (1865-1870), formou-se o bairro Acampamento de Cima (atual bairro da Cervejaria), originado do acampamento dos soldados que participaram da guerra, e por ali permaneceram. Na época, por se tratar de habitações provisórias, estas não seguiram o alinhamento do traçado original da planta da cidade, fato que já era contestado pela Câmara Municipal, que discutia a desapropriação da área e o seu reenquadramento à planta original da cidade.

O arruamento e a organização das ruas, em formato de um tabuleiro de xadrez, contemplava apenas a área central, e este planejamento não levava em consideração as características físicas da cidade, favorecendo apenas às áreas planas. Também segundo Souza (2003), desde a década de 1900 já sentia a carência de unidades habitacionais, no núcleo urbano de Corumbá, que

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contemplasse a população mais carente. Este fato era visível na própria paisagem da cidade, que se revelava, portanto, em um desenho urbano segregacionista e excludente.

A ocupação da parte alta da cidade, iniciou-se somente a partir da década de 1940, com a expansão da área urbana em direção ao Sul, criando novos bairros naquela região. Devido a distribuição das morrarias, esses bairros foram sendo criados nos vales existentes que, segundo Pereira (2007), apresentam um padrão topográfico de plano inclinado descendente, a partir da base das colinas, em direção às linhas de talvegue, favorecendo a ocupação.

De acordo com Pereira (2007) o primeiro vale é ocupado pelo bairro Cristo Redentor e pelos conjuntos habitacionais Vitória Régia, e Cravo Vermelho I, II e III rodeados pelos morros do Cruzeiro ao norte, Pico de Corumbá a oeste e Bocaina ao sul e sudeste.

A ocupação das áreas periféricas da cidade ocorreu não apenas por opção dos moradores que buscavam as áreas menos valorizadas para se instalarem, essas ocupações foram também induzidas pelo próprio poder público que construiu conjuntos habitacionais e loteamentos populares nas áreas de morraria.

Esta situação que teve inicio na década de 1970 perdura até os dias atuais, com a omissão dos gestores municipais que por interesses políticos e completo descaso com a população carente aprovou recentemente a construção de 1.200 casas do projeto do governo estadual em áreas sujeitas a alagamentos e já direcionadas no plano diretor para construção de indústrias.

O êxodo rural e o povoamento de novas áreas na Bolívia, com a implementação de atividades comerciais e industriais ocorridos na década de 1990, além da alta do turismo, também foram fatores que colaboraram para o aumento da população urbana, trazendo consigo um grande problema: as ocupações em novas áreas irregulares e/ou impróprias para moradia, desta vez

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avançando para as encostas dos morros e das colinas localizadas ao Sul da cidade.

2.3 Aspectos físicos da área urbana de Corumbá-MS

As características físicas de uma área de estudo, assim como as suas características socioeconômicas, são de extrema importância para se conhecer e analisar a vulnerabilidade do lugar, desta forma considera-se também as atividades antrópicas desenvolvidas e principalmente de que forma o local está reagindo a essas atividades e quais os resultados dessas interferências tanto para o meio ambiente quanto para a população. Seguindo este raciocínio, é possível um melhor planejamento com as tomadas de decisões mais precisas.

O quadro 1, a seguir, apresenta uma síntese das unidades litoestratigráficas associadas as feições geológicas e geomorfológicas encontradas no sítio urbano de Corumbá. Segue o quadro:

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G E O L O G I A

Duas unidades litoestratigráficas na área urbana:

1-O Grupo Corumbá representado pela formação Bocaina com

predominância de calcários dolomíticos e Formação Tamengo–unidades de topo, em que predominam calcários calcíticos e é abundante o conteúdo fossilífero.

2–Formação Pantanal – Formada por depósitos argilosos

continentais( fluviais, lacustres e/ou fluviolacustres) esta subdividida em 3 unidades:

Qp1 – Sedimentos areno conglomeráticos semi-consolidados;

Qp2 – Sedimentos argilo-arenosos semi-consolidados Qp3 – Sedimentos areno-argilosos semi-consolidados

G E O M O R F O L O G I A

Depressões Relativas – Predomínio de relevo plano associado aos efeitos da urbanização possui sérias limitações para infiltração e drenagem

superficial

Encostas – Terreno escarpado que se estende por toda a orla ribeirinha da área urbana. Possui declividade superior a 50% e altura entre 20 e 30 m Fundos de Vale – Trechos sob a influencia de talvegues com grau de aprofundamento de drenagem.

Inselbergs – Elevações colinosas da Formação Bocaina, altitudes variando de 150 a 453 m e declividade superior a 30%.

Modelados de Acumulação – Terreno aplainado ocupado pela formação Pantanal, se estende por toda a região ribeirinha da área urbana.

Pediplano – Superfície aplainada com declividades inferiores a 5%

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Quadro 1 – Síntese das unidades de feições geológicas e gemorfológicas presentes no sítio urbano de Corumbá-MS. Fonte: Pereira e Pereira (2010) organização: Matias, Shirley S. (2014). 2.3.1 Aspectos geológicos e geomorfológicos da área urbana

O arcabouço geológico da cidade é constituído pelo Grupo Corumbá, através das formações Tamengo e Bocaina. Neste grupo ocorre predominantemente o surgimento de relevo denudacional sobre a planície e colinas moderadamente dissecadas. Os relevos dedudacionais/estruturais estão localizados, principalmente, no setor sul da cidade e são compostos predominantemente pelas morrarias. (ISQUIERDO, 2010)

A denominação formação Tamengo deriva do Canal do Tamengo, que faz a ligação entre o rio Paraguai e a lagoa de Cáceres (Bolívia), que é a área onde está situada essa formação. Essa unidade foi definida por Almeida (1945) e ocupa uma área de aproximadamente 90 km² e está restrita à cidade de Corumbá.

De acordo com o autor, essa formação ocorre na margem direita do rio Paraguai, no trecho que engloba a área urbana de Corumbá e Ladário. O seu conteúdo fossilífero é o mais rico dentre as formações do Grupo Corumbá e tem sido alvo de trabalhos de vários autores que indicam possível idade neoproterozóica para essa formação.

A base geológica, sobre a qual a cidade de Corumbá está assentada, se comporta, geomorfologicamente, como uma rampa declinada no sentido Sul- Norte e, devido a essa formação peculiar, aliada às características geológicas e geomorfológicas, possui um relevo bastante acidentado com diferentes compartimentos topográficos, que impõe sérias limitações para a sua expansão.

Este relevo se formou sobre as rochas carbonatadas das formações Bocaina e Tamengo do grupo Corumbá, sedimentação dominantemente marinha, que a base de comparações litológicas e estratigráficas se aceita como proterozóica a sua idade. A espessura

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destes depósitos podem ultrapassar, em algumas áreas, os 400 metros.

(ISQUIERDO 2010 p.5).

A cidade apresenta dois ambientes morfologicamente distintos, que a coloca em dois patamares: o primeiro, conhecido como a parte baixa da cidade, é marginal ao rio Paraguai e se desenvolveu sobre uma antiga planície de inundação diretamente submetida à dinâmica hidrológica do canal fluvial, representada pelos seus ciclos anuais de cheias e vazantes. (PEREIRA, 2007).

A denominação da formação Bocaina veio de uma garganta de rio homônimo, situada a 4 km a sudeste da cidade de Corumbá. É uma formação geológica do período Pré Cambriano, é uma formação superficial predominante na área do Grupo Corumbá. Aflora nos morros dolomiticos e, subordinadamente, calcários calcíticos e mármores.(ALMEIDA, 1945).

A erosão geológica natural desses sedimentos expõe, portanto, em grande parte da região, rochas calcárias da Formação Bocaina/Araras, constituídas por calcários, calcários dolomíticos, calcários margosos e mármores (BRASIL, 1979). Figura 01:

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Fig. 01- Rochas calcárias expostas da Formação Bocaina/Araras.

Foto: Shirley Matias, 2013.

De acordo com Cunha & Guerra (2003), as áreas pediplanares ou pediplanos constituem uma extensa superfície aplainada, com declividades inferiores a 5% interposta entre o rio Paraguai e os inselbergs da Formação Bocaina. A característica geológica desta formação é a rocha calcária com a presença de colinas aplainadas. Figura 02:

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Fig. 02 – Áreas pediplanares com declividade inferior a 5%. Foto: Shirley Matias, 2013.

O setor Norte da cidade de Corumbá possui uma declividade bastante acentuada, com grandes formações rochosas que podem ser observadas aflorando em diversos pontos da cidade, além da presença de áreas alagadiças e de áreas pedologicamente instáveis ao longo do rio Paraguai.

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Fig. 03 - Formação rochosa da encosta ribeirinha no bairro Cervejaria. Foto: Shirley Matias, 2013.

De acordo com Pereira e Pereira (2010), foram identificados seis compartimentos topográficos dominantes no sítio urbano de Corumbá, sendo eles: os fundos de vale; as depressões relativas; as áreas pediplanares; os inselbergs; o modelado de acumulação e a encosta ribeirinha.

2.3.2 Pedologia

De acordo com Circular Técnica nº 18 da Embrapa Pantanal, o solo da cidade de Corumbá, apresenta mais de uma classe edáfica em função das diferentes características geológicas e geomorfológicas, apresentando um solo raso com horizonte de cor variável de preto a cinza, sendo este solo denominado Rendizina.

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As rochas calcárias não cristalinas, sedimentares ou metamórficas são porosas e permeáveis, ocasionando a permanência da água no perfil durante toda a época úmida. Figura 04:

Fig.04 – Rochas calcárias porosas e permeáveis presentes nas encostas dos morros.

Foto: Shirley Matias, 2013.

Os sedimentos coluviais das superfícies sedimentares ferruginosas, que se depositam sobre os calcários nas encostas, formam solos extremamente rochosos, pedregosos e cascalhentos (CUNHA, 1985). Figura 05:

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Fig.05 – Solos rochosos e cascalhentos nas encostas. Foto: Shirley Matias, 2013.

Segundo Monteiro (1997), na área há o surgimento também de solos litólicos, rasos e pouco desenvolvidos, de textura argilosa e de baixíssima porosidade, os quais possuem severas limitações ao seu potencial de infiltração, condicionando um maior escoamentos superficial das águas pluviais. Essas características são observadas na figura 06 a seguir:

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Fig. 06 - solos litólicos, rasos e pouco desenvolvidos, de textura argilosa e de baixíssima porosidade. Foto: Shirley Matias, 2013.

Na planície alagada, por sua vez, ocorre a presença de Grumossolos3, que podem ocorrer simultaneamente com áreas salinizadas ou alcalinizadas. São formados por argilas expansivas e absorvem matéria orgânica à sua superfície.

3Grumossolo – Típico de topografia plana; argiloso; boa fertilidade; espessura média.

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2.3.3 Drenagem Natural

A drenagem natural da cidade se caracteriza pela predominância do principal manancial de abastecimento, o rio Paraguai e o Canal do Tamengo que margeiam o perímetro norte de toda a área urbana. Além do rio Paraguai a rede natural da drenagem urbana é composta por microbacias e córregos intermitentes e perenes que deságuam no rio Paraguai.

Ao todo são 11 bacias urbanas, com formas e extensões variadas que compõem a rede de drenagem natural da área urbana, sendo que uma delas ultrapassa o próprio perímetro urbano. Essas bacias e córregos podem ser observadas no mapa temático elaborado onde foram espacializadas. (mapa 01)

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Mapa 01 – Drenagem Natural da Cidade de Corumbá – MS. Adaptação: Matias; S. Shirley. 2014.

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A inexistência de uma carta de drenagem urbana dificulta o planejamento e o cumprimento da Lei de uso do solo do município que, com o processo de urbanização da cidade, algumas bacias que perderam a sua forma morfométrica principal assim como alguns córregos que foram desviados e/ou aterrados para melhor aproveitamento da área resultando em sérios problemas para a população local. De acordo com Matias (2013), as características naturais do assentamento urbano como o sítio geológico, a geomorfologia, o tipo de solo, não estão sendo consideradas e respeitadas na ocupação e expansão do solo urbano.

Convém lembrar, porém, a Lei Federal nº 6.766 de 19 de dezembro de 1979 que dispõe sobre o Parcelamento de Uso do Solo e, entre outras providências, proíbe o parcelamento do solo em “terrenos alagadiços e sujeitos a inundações, antes de tomadas as providências para assegurar o escoamento das águas”. Segue o texto da referente lei:

Il – em terrenos que tenham sido aterrados com material nocivo à saúde pública, sem que sejam previamente saneados;

III – em terrenos com declividade igual ou superior a 30% (trinta por cento), salvo se atendidas exigências específicas das autoridades competentes;

IV – em terrenos onde as condições geológicas não aconselham a edificação;

V – em áreas de preservação ecológica ou naquelas onde a poluição impeça condições sanitárias suportáveis, até a sua correção.

A falta de fiscalização, por parte da prefeitura, favorece a ocupação dessas áreas em desacordo com o Plano Diretor e com a Lei Municipal de Uso e Ocupação do

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(44)

solo Urbano. Em função das suas características naturais, a área urbana de Corumbá possui algumas limitações para a sua expansão, pois a presença de grandes morros como o da Bocaina, Bandeira, do Cruzeiro e o Pico de Corumbá, todos localizados no sítio urbano, são acidentes geográficos próprios da cidade e tratados no Plano Diretor como Áreas Especiais de Interesse Ambiental.

Desta forma, o Plano Diretor da cidade, utiliza o termo AEIS (Áreas de Especial Interesse Social) em substituição ao termo ZEIS (Zona de Especial Interesse Social), normalmente usado nos planos diretores, sendo considerada para efeitos de ocupação do solo, apenas a área já urbanizada.

De acordo com o Relatório de Avaliação do Plano Diretor Participativo de Corumbá, aprovado em 2006, em função de sua localização, no “coração” do Pantanal, a questão ambiental deveria ser tema central deste documento. Porém, a questão não foi contemplada, tampouco os graves problemas ambientais existentes, principalmente em relação ao déficit elevado de saneamento básico, fato que nos últimos anos vem sendo minimizado através dos projetos vinculados ao Plano de Aceleração do Crescimento (PAC).

Atualmente a prefeitura procura sanar os problemas de falta de moradia através das políticas públicas, com os programas de habitação dos governos federal e estadual, tema que será abordado no capítulo a seguir.

43

(45)

CAPÍTULO III

TRAJETÓRIA METODOLÓGICA DA PESQUISA

Debater sobre as questões referente à vulnerabilidade ambiental na área urbana de Corumbá-MS é o principal objetivo deste trabalho, bem como elaboração de produtos cartográficos das áreas mais críticas visando colaborar com o planejamento urbano destas áreas. A natureza deste objetivo permitiu uma abordagem metodológica da pesquisa de maneira qualitativa, pois esta defende a ideia de que entender e interpretar os fenômenos sociais e humanos estão diretamente relacionados com a descrição do objeto de estudo.

De acordo com Godoy (1995, p.62) a pesquisa qualitativa caracteriza- se por ter o ambiente natural como fonte direta de dados e o pesquisador como instrumento fundamental, além do caráter descritivo e da possibilidade de se empregar a perspectiva da análise da paisagem e fenomenológica. Desta forma, a metodologia qualitativa propicia ir ao encontro do entendimento e da interpretação sobre a questão da vulnerabilidade ambiental na cidade de Corumbá-MS

Esta pesquisa, portanto, se desenvolveu tomando como base os dados apresentados por Pereira e Pereira (2010), buscando se estender e complementar in loco as informações obtidas por estes autores anteriormente.

O estudo do conceito de vulnerabilidade permeia por várias modalidades de estudo e atualmente se faz presente também no campo da Geografia. Para fundamentar este trabalho foram feitas muitas leituras sobre o tema com o objetivo de embasar teoricamente a pesquisa. O conceito de vulnerabilidade natural, relacionado com as características físicas do lugar e as influencias antrópicas, fundamentadas no princípio da Ecodinâmica de Tricart (1977), é de grande importância para a identificação e caracterização das áreas de expostas à vulnerabilidade ambiental, para uma abordagem holística da situação.

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Após a etapa de levantamento bibliográfico, a pesquisa necessitou de uma coleta de dados necessária para a compreensão das características da área urbana de Corumbá. Deste modo, foi realizado um levantamento de campo para se constatar as condições de vulnerabilidade na cidade, sendo estas áreas já classificadas mediante trabalho de Pereira e Pereira (2010). Este levantamento de campo das áreas de estudo, foi fundamental para a compreensão do status quo da questão das áreas de alta vulnerabilidade ambiental de Corumbá assim como para uma posterior análise das políticas de planejamento urbano que estão sendo realizadas em Corumbá.

Após a etapa de levantamento bibliográfico e, posteriormente, o levantamento de campo e registro fotográfico das áreas, a terceira etapa da dissertação constituiu-se na elaboração dos mapas temáticos de vulnerabilidade, declividade e de microbacias de Corumbá. Para a realização destes mapas, foi utilizado o programa Quantum Gis 1.8 e 2.0, tendo como base os dados disponibilizados por Pereira e Pereira (2010). A opção por este programa se justifica pelo fato de ser gratuito. Os mapas foram elaborados no Laboratório de Geoprocessamento da Faculdade de Ciências Biológicas e Ambientais – FCBA – da Universidade Federal da Grande Dourados. Os dados referentes, por sua vez, ao mapa de declividade foram obtidos na página oficial da Embrapa.

3.1 – Entrevistas e Pressupostos Teóricos do Plano Diretor Participativo

A quarta etapa para com a realização desta dissertação, se deu com as entrevistas com atores do poder público de Corumbá diretamente envolvidos com as atividades de planejamento urbano da cidade. Após o levantamento de campo, as leituras referentes às políticas públicas do município Deste modo, foram entrevistados dois gestores da prefeitura, para se obter informações sobre a situação das áreas de estudo. Para isso, foi necessário um primeiro contato com o Gerente de Planejamento da prefeitura, que esclareceu as situações referentes ao planejamento e organização da cidade e, em seguida, foi realizada a segunda 45

(47)

entrevista com o coordenador de habitação, que também relatou sobre as propostas para a cidade de Corumbá. As entrevistas foram conduzidas de forma semiestruturadas e realizadas nas dependências prefeitura de Corumbá, na Secretaria de Infraestrutura – SEINFRA.

Nesta etapa, deu-se prioridade para os gestores e não para a população, pois buscou-se neste trabalho conhecer quais as diretrizes que a prefeitura municipal pretende seguir para solucionar ou minimizar os problemas das famílias que vivem nas áreas com vulnerabilidade ambiental. Da mesma forma, foi dada maior ênfase às áreas com média e alta vulnerabilidade por se considerar as situações mais agravantes.

A análise das áreas estudadas foram pautadas nas leituras técnicas realizadas durante a pesquisa e buscou – se relacioná-las com a realidade encontradas e com as políticas realizadas na cidade. Buscou-se analisar as ações do poder público com relação às áreas apresentadas e apresentar os impactos que estão sendo causados nestas áreas e o reflexo das ações para os próprios moradores destas áreas.

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(48)

CAPÍTULO IV

CORUMBÁ E SUA POLÍTICA PÚBLICA DE USO E OCUPAÇÃO DO SOLO

Entende-se por Políticas Públicas os conjuntos de programas, ações e atividades desenvolvidas pelo Estado direta ou indiretamente, com a participação de entes públicos ou privados que visam assegurar determinado direito de cidadania de forma difusa ou para determinado seguimento social, étnico ou econômico. Estas políticas públicas são criadas para responder às demandas de diferentes setores da sociedade, principalmente os setores considerados como vulneráveis ou marginalizados, podem ser formuladas principalmente por iniciativa dos poderes executivo, ou legislativo, separada ou conjuntamente, a partir de demandas e propostas da sociedade, em seus diversos seguimentos.

Através da Lei Orgânica Municipal e outros instrumentos de legislação, a Constituição Federal de 1988 dá autonomia para os municípios ampliarem a sua competência em áreas importantes para o planejamento, como a política urbana. Para viabilizar e definir a competência municipal são criados alguns instrumentos norteadores como o Plano Diretor (Lei 10.257/2001 - Estatuto das Cidades), obrigatório para cidades com mais de 20 mil habitantes, a Lei de Uso e Ocupação do Solo Urbano que se encontra no Código de Posturas do Município (Lei nº 004/1991) e a concessão do uso de terrenos e o Usucapião Urbano.

O Plano Diretor Municipal direciona a função das áreas urbanas, através do zoneamento (zonas de expansão, zonas urbanizáveis e zona de interesse especial), todas com o objetivo de cumprir funções básicas, tais como:

habitar, trabalhar, recrear e circular e distribuir espacialmente as atividades socioeconômicas dentro da área urbana. Infelizmente, nem sempre se cumpre o que é estabelecido no plano e, na maioria das vezes, as políticas públicas acabam favorecendo mais o aspecto econômico que o social. Além do Plano Diretor Participativo instituído pela Lei Complementar nº 098/ 2006, o município de 47

(49)

Corumbá, conta com alguns instrumentos normativos de extrema importância para nortear o seu crescimento urbano e foram organizados na tabela a seguir:

Tabela 01 – Instrumentos Normativos do Município de Corumbá-MS

Lei Ano de Criação Objetivo

Lei Municipal nº 648 1972 Institui o Código de Obras do

Município e estabelece o Desenvolvimento Urbano.

Lei Orgânica 1990 Atende ao interesses e

peculiaridades do município.

Lei nº 004 1991 Institui o Código de Posturas de

Corumbá

Lei nº 1421 07/08/1995 Cria o Conselho Municipal de

Meio Ambiente – CMMA e o Fundo Municipal de Meio

Ambiente – FMMA;

Lei Complementar nº 023 27/05/1997 Cria a Secretaria Municipal de

Meio Ambiente e Turismo.

Lei Complementar nº 098 2006 Institui o Plano Diretor

Participativo

Lei Municipal nº. 2.097 29/072009 Concede incentivos fiscais aos construtores que realizarem empreendimentos vinculados ao Programa Minha Casa Minha Vida

Lei Municipal nº 2.275 14/11/2012 Acrescenta o parágrafo único

ao art. 3º da Lei nº 2.097/2009 Fonte: Prefeitura Municipal de Corumbá. Organização: MATIAS; S. Shirley (2014).

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