Avaliação de Ruído e Radiação Não Ionizante proveniente de uma Estação
Rádio Base localizada em Trindade / GO
Evaluation of Noise and Non-Ionizing Radiation from a Base Radio Station located
in Trindade / GO
Felipe Henrique Moraes de Sousa¹, Juliana Fleury Teixeira², Marlipe Garcia Fagundes Neto³
PALAVRAS CHAVE:
Estação Rádio Base; Radiação não ionizante; Ruído;
Pressão sonora; Irradiação eletromagnética.
KEYWORDS:
Base Radio Station; Non-ionizing radiation;
Noise;
Sound pressure; Electromagnetic irradiation.
RESUMO: O presente estudo objetiva determinar os níveis de pressão sonora e
radiação não ionizante emitidos por uma estação rádio base situada no município de Trindade/GO, e determinar se os mesmos atendem às normas vigentes. Foi utilizada metodologia composta por levantamentos bibliográficos acerca do tema, estudo documental, definição dos pontos de medição e aferições in loco utilizando equipamentos de medição específicos. Verificou-se que alguns valores de pressão sonora obtidos estão acima dos níveis de referência. No entanto, atribuiu-se a alta significativa dos ruídos determinados à fontes externas. O ponto mais próximo ao empreendimento apresentou níveis dentro do estabelecido. Na avaliação de radiação não ionizante, determinou-se que todos os pontos aferidos estão dentro do estabelecido. Assim, concluiu-se que o empreendimento está em conformidade com os limites de pressão sonora e irradiação eletromagnética exigidos pelas normas vigentes.
ABSTRACT: The present study aims to determine the levels of sound pressure and
non-ionizing radiation emitted by a radio base station located in the municipality of Trindade / GO, and determine if they comply with the current standards. It was used a methodology composed by bibliographical research on the subject, documentary study, definition of measurement points and measurements in loco using specific measurement equipment. It has been found that some of the sound pressure values obtained are above reference levels. However, it was attributed the significant increase of the noises determined to external sources. The closest point to the development had levels within the established. In the evaluation of non-ionizing radiation, it was determined that all the measured points are within the established. Thus, it was concluded that the project is in compliance with the limits of Sound pressure and electromagnetic irradiation required by current regulations.
* Contato com os autores:
1 e-mail: felipehms81@gmail.com ( F. H. M. de Sousa )
Engenheiro Ambiental, Pós-Graduando em Segurança no Trabalho pela Universidade Federal de Goiás.
2 e-mail: julianafleury.arquitetura@gmail.com ( J. F. Teixeira )
Arquiteta e Urbanista, Pós-Graduanda em Segurança no Trabalho pela Universidade Federal de Goiás.
3 e-mail: marlipe@ufg.br ( M. G. F. Neto )
Engenheiro Mecânico, Doutor, Docente pela Universidade Federal de Goiás.
ISSN: 2179-0612 © 2018 REEC - Todos os direitos reservados.
Espaço restrito
1. INTRODUÇÃO
Através da criação de tecnologias, a humanidade melhorou significativamente a qualidade de vida da população. Com o passar do tempo, novos produtos e serviços são oferecidos, proporcionando diversas oportunidades de desenvolvimento. Dentre as tecnologias mais recentes, salienta-se a massificação da telefonia celular.
O desenvolvimento e o crescimento da tecnologia de telecomunicação móvel vêm facilitando a comunicação, uma vez que a mesma oferece conforto, praticidade, possibilita o uso da internet para diversos fins, e a oportunidade de manter-se conectado com localidades próximas e distantes. Porém, para sustentar o estilo de vida atual, houve uma implantação desenfreada de Estações rádio base (ERBs) para o atendimento da crescente demanda ocorrida na última década. Atualmente, deparamo-nos com uma grande quantidade de estações por toda a cidade e em rodovias que as interligam. O número de usuários aumentam a cada dia e as estações ficam sobrecarregadas. Dessa forma, novas estações precisam ser instaladas e, na maioria das vezes, próximas a residências e centros comerciais.
No entanto, a telefonia celular tem gerado preocupações sobre os possíveis efeitos à saúde das populações expostas que residem próximas a estações rádio base, que por sua vez, constituem fontes emissoras de ruídos e radiação não ionizante. Os efeitos biológicos ocasionados pela radiação eletromagnética1 vêm sendo estudados pelos cientistas há cerca de 60 (sessenta) anos. Os estudos
científicos concluídos nos últimos anos indicam que a exposição à radiação não ionizante, principalmente em longo prazo, pode produzir consequências negativas para a saúde humana. Nunca houve tanta fonte de radiação eletromagnética na história da humanidade como existe hoje.
As radiações classificadas como eletromagnéticas não ionizantes são aquelas que não produzem ionizações, ou seja, não possuem energia suficiente para arrancar elétrons dos átomos do meio por onde está se deslocando, mas tem o poder de quebrar moléculas e ligações químicas. As radiações não ionizantes apresentam interesse do ponto de vista ambiental, porque os seus efeitos sobre a saúde das pessoas são potencialmente importantes, sendo que exposições sem controle podem levar à ocorrência de sérias lesões ou doenças. Além dessa preocupação, os ruídos emitidos pelas estações rádio base, entram em pauta como o causador da chamada poluição sonora, que é caracterizada pela emissão continua de ruído, e sua exposição diária e constante pode ocasionar efeitos nocivos à saúde e perturbações psicológicas ou fisiológicas.
2. OBJETIVO
Este presente trabalho tem por objetivo determinar se a estação rádio base está em conformidade com as normas técnicas vigentes referentes à ruído e radiações não ionizantes. Para isso, desenvolveu-se busca por referências bibliográficas e normas referentes a ruído e exposições à radiação não Ionizante,
1Radiação eletromagnética é a propagação de energia, produto da combinação de campos elétricos e magnéticos
realizou-se medições de ruído e radiações não Ionizantes utilizando equipamentos específicos, e utilizou-se medidas de comparação dos valores obtidos com o estabelecido pelas normas técnicas vigentes.
3. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
3.1 CONCEITO
Henriques e Martins (2003) definem estação rádio base (ERB) como a denominação dada em um sistema de telefonia celular para a estação fixa com que os terminais móveis se comunicam. De acordo com Paulino (2001), cada aparelho de telefone celular é ao mesmo tempo um rádio transmissor e receptor que faz comunicação com as estações rádio base. O aparelho celular se comunica via onda eletromagnética com as antenas que estão nos topos das torres (ERB’s). Estas ERB’s fazem a intercomunicação com a CCC (Central de Comutação e Controle). A CCC interliga o usuário com as demais operadoras, celulares e fixos, e assim, a ligação é completada (PAULINO, 2001).
Figura 1. Esquema de funcionamento do sistema de telefonia celular.
FONTE: Paulino (2001).
As antenas são dispositivos capazes de irradiar ou captar ondas eletromagnéticas no espaço, conforme o princípio da reciprocidade (KRAUS, 1983). De acordo com Paulino (2001), as ondas eletromagnéticas são ondas constituídas de campos elétricos e magnéticos e que usualmente são geradas em circuitos especiais chamados de osciladores. Mesmo quando não projetados para este fim, todo equipamento elétrico ou eletrônico, que funciona com corrente elétrica alternada, pode gerar ondas eletromagnéticas. Paulino (2001) menciona ainda que os campos ou ondas eletromagnéticas são também conhecidos como ondas de rádio ou, ainda, radiações eletromagnéticas.
Embora a radiação seja um fenômeno único, uma das formas adotadas pela ciência para classificar uma radiação eletromagnética como ionizante ou não ionizante foi através da frequência ou número de oscilações por segundo (Hertz-Hz). As diferentes frequências indicam diferentes tipos de radiação, o que deu origem ao chamado espectro eletromagnético (FIGUEIREDO et. al., 2011).
De acordo com Senise (1996), a radiação eletromagnética ionizante tem a capacidade de destruir ligações, ou seja, remover elétrons de material biológico. As ondas capazes de ionizar necessitam ser constituídas por fótons com pelo menos 10 eV de energia. Portanto, somente radiações com frequência igual ou superior a faixa do ultravioleta curto tem esse efeito.
Já as radiações não ionizantes, conforme menciona Senise (1996), são ondas eletromagnéticas que não possuem energia suficiente para remover elétrons dos átomos ou moléculas, e portanto, não tem capacidade de ionizar a matéria atingida. De modo geral, são as radiações que possuam energias menores que 10 eV.
As frequências utilizadas nos sistemas de telecomunicações (rádio, TV e telefonia celular) são radiações não ionizantes. Quando estas radiações incidem em um tecido vivo elas não provocam reações químicas. Elas irão implicar em um aumento da temperatura do tecido (efeito térmico) e podem provocar alguns efeitos não térmicos tais como polarização ou vibração das moléculas ou células constituintes do tecido (PAULINO, 2001).
Radiação não-ionizante é um fenômeno presente na natureza e essencial para o surgimento e manutenção dos sistemas de vida na terra, posto que, conduz, dentre outras, a energia luminosa e calorífica emitida pelo sol. Mas a tecnologia envolvida em novos sistemas celulares necessita de equipamentos que emitem radiação não ionizante. É o caso da telefonia sem fio (FIGUEIREDO et. al., 2011).
3.2 LEGISLAÇÃO INTERNACIONAL
No ano de 1977, foi formado uma comissão denominada ICNIRP (International Commission on NonIonizing Radiation Protection) - Comissão Internacional sobre Proteção de Radiação Não Ionizante – no qual é responsável pelos estudos sobre a exposição humana à radiação não ionizante, estabelecendo diretrizes e orientando pesquisas científicas.
Em 1998, a ICNIRP publicou diretrizes para limitar a exposição humana a campos eletromagnéticos, a até 300 GHz. Esta avaliação veio a complementar as diretrizes estipuladas pelo NRPB (National Radiological Protection Board) - Conselho Nacional de Proteção Radiológica - adotadas pelo Reino Unido.
Os padrões estipulados em normas e diretrizes são expressos em densidade de potência, que é medido em mW/cm2 (miliwatts por centímetro quadrado). Quando se refere aos padrões de exposição humana a campos eletromagnéticos, existem dois grupos:
Exposição pela população em geral (não controlada): é a situação na qual a população no geral está exposta a radiação, seja por decorrência de seu trabalho ou não, mas não está ciente de sua exposição, e desse modo, não tomam medidas preventivas, como no caso dos indivíduos que circundam a área de atuação de uma ERB.
De uma forma geral pode-se observar diretrizes relacionadas a essa exposição com valores mais restritivos perante a situação da população em geral, uma vez que os mesmo não tem ciência dos riscos que estão submetidos e não tomam medidas protetivas. Além disso, em exposições excessivas e não controladas, os indivíduos expostos apresentam características fisiológicas e sistêmicas bem distintas, tendo como alvo crianças, idosos e grupos de pessoas mais sensíveis a radiação, podendo elas apresentarem diferentes intensidades de reações. Não se pode esperar que indivíduos do público em geral tomem precauções para minimizar ou evitar a exposição (TAVARES, 2004).
Mesmo com recomendações internacionais estabelecidas pela ICNIRP alguns países buscam estipular valores mais restritivos e adequados à realidade local, a fim de proteger sua população da exposição a campos eletromagnéticos. O Quadro 1 apresenta os valores máximos de exposição e distâncias tipicamente utilizadas para ERBs para algumas regiões de acordo com a normatização local.
QUADRO 1: Valores máximos de exposição e distâncias tipicamente utilizadas para ERBs para algumas regiões
Normas para exposição humana
(fontes)
Legislação/Norma
Valores máximos de exposição
Campo elétrico E (V/m) Densidade de potência S (W/m2) IEEE/ANSI (1992/91). C95. 1 46 5,7 ICNIRP/CENELEC (1998/96) ENV50166-2 40 4,3
Itália (set. 1998) Decreto Lei n° 381 6 0,1
Suíça (dez.1999) Lei nº 814.710 4 0,043
ABNT/IEC (out. 1997) NBR IEC60.601- 1-2 3 0,024
FONTE: Salles e Fernandes, 2014.
3.3 LEGISLAÇÃO BRASILEIRA 3.3.1 Radiação Não Ionizante
A NR - 15 dispõe sobre as atividades e operações insalubres, tendo o Anexo 7 como referente às radiações não ionizantes. Esta não estipula limites de tolerância para exposição ocupacional às radiações não ionizantes. Desse modo, na ausência desses limites de tolerância, deve-se utilizar os valores de limites de exposição ocupacional adotados pela ACGIH (American Conference of Governmental Industrial Hygienists) - Conferência Americana de Higienistas Industriais Governamentais.
Já a NR – 9, dispõe sobre o Programa de Prevenção de Riscos Ambientais. Esta norma regulamentadora estabelece a obrigatoriedade da elaboração e implementação, por parte de todos os empregadores e instituições que admitam trabalhadores como empregados, de um Programa de Prevenção de Riscos Ambientais, PPRA.
Com relação aos limites de exposição humana a campos eletromagnéticos de rádio frequência, a Lei Federal 11.934/2009 adota como referência os limites recomendados pelo ICNIRP e Organização Mundial de Saúde, o que também é feito pela Agência Nacional de Telecomunicações (ANATEL) em sua Resolução 303/2002.
3.3.2 Avaliação de Ruído
Em referência aos níveis de ruído, a Resolução do Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA) Nº 1/90 estabelece critérios, padrões, diretrizes e normas reguladoras da poluição sonora. Destaca-se ainda a Resolução CONAMA nº 2/90, que estabelece normas, métodos e ações para controlar o ruído excessivo que possa interferir na saúde e bem-estar da população.
A Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) NBR 10151 estabelece os procedimentos de medição, indicando níveis de critério de avaliação de conforto acústico. A ABNT NBR 10152 fixa condições exigíveis para avaliação da aceitabilidade do ruído em comunidades, estabelecendo os níveis máximos de ruído para diversos ambientes.
3.4 ANATEL – AGÊNCIA NACIONAL DE TELECOMUNICAÇÕES
Esta agência é a responsável pela administração do espectro de radiofrequência emitidos pelas ERB’s. Em 15 de Julho de 1999, para avaliação da exposição humana a campos eletromagnéticos de radiofrequência, o Conselho Diretor da Agência Nacional de Telecomunicações (ANATEL) adotou, os níveis de referência entre 9 kHz e 300 GHz, para exposição do público em geral e para exposição ocupacional a campos eletromagnéticos, os mesmos níveis de exposição adotados pela ICNIRP. De acordo com a avaliação da ICNIRP, não há nenhuma evidência de que os campos eletromagnéticos, considerando dentro do limite estabelecido, alterem a estrutura do DNA humano.
4. METODOLOGIA
QUADRO 2: Etapas de realização do Estudo.
Etapa Atividades Realizadas
Etapa 1
Revisão bibliográfica; Estudo documental; Definição dos pontos de medição
Etapa 2 Aferições in loco utilizando equipamentos específicos
Etapa 3 Comparação dos dados obtidos com os valores estipulados pelas Normas vigentes
FONTE: Autoria própria (2018).
O empreendimento se localiza no município de Trindade, situado na Região Metropolitana de Goiânia. A Figura 2 retrata o Mapa de Localização da Estação Rádio Base em estudo.
Figura 2. Mapa de Localização da Estação Rádio Base.
FONTE: Google Earth.
QUADRO 3: Equipamentos utilizados durante as aferições.
Equipamento Fabricante Modelo
Medidor de Pressão Sonora Bruel e Kjaer Type 2250-S (Tipo I) Medidor de Campo
Eletromagnético Criffer CR-10
GPS Portátil Garmin eTrex 10
FONTE: Autoria própria (2018).
Para determinação dos níveis de pressão sonora e ondas eletromagnéticas emitidos pela ERB, foram realizadas aferições em 8 (oito) pontos situados no entorno do empreendimento.
Objetivando a verificação de possíveis ruídos de fundo, foi realizada ainda uma aferição complementar de pressão sonora para cada um dos pontos. As aferições complementares foram realizadas a uma distância de dois metros de cada ponto.
Os pontos de medição foram georreferenciados através de um GPS portátil, com o objetivo de fornecer subsídios para que novas medições sejam realizadas nos mesmos pontos, caso haja a necessidade de comprovação dos dados apresentados no presente documento.
A escolha dos locais de medição teve como referência os prováveis pontos quentes (Resolução N°303/2002) da região em estudo. Trata-se dos locais onde exista possibilidade de exposição da população em geral ao ruído e radiação não ionizante emitidos pela Estação. O Quadro 4 apresenta os pontos selecionados.
QUADRO 4: Pontos de medição de ruído / radiação não ionizante.
Ponto Distância para a ERB Coordenadas
Latitude Longitude A 42,42 metros 16º38’55.82” S 49º29’8.2” W B 40,78 metros 16º38’55.82” S 49º29’9.67” W C 69,28 metros 16º38’57.26” S 49º29’10.82” W D 55,42 metros 16º38’58.13” S 49º29’10.07” W E 67,16 metros 16º38’58.88” S 49º29’9.28” W F 90,75 metros 16º38’57.95” S 49º29’8.23” W G 67,34 metros 16º38’58.38” S 49º29’7.12” W H 16,76 metros 16º38’56.69” S 49º29’8.2” W
A Figura 3 apresenta o mapa de indicação dos pontos de medição de pressão sonora, bem como seus pontos complementares.
Figura 3. Mapa de indicação dos Pontos de Medição – Níveis de Pressão Sonora.
FONTE: Google Earth.
Figura 4. Mapa de indicação dos Pontos de Medição – Níveis de Exposição à Campos Eletromagnéticos.
FONTE: Google Earth.
4.1. AVALIAÇÃO DE PRESSÃO SONORA
4.1.1 Definição do Tipo de Área
A ABNT/NBR 10.151 institui os níveis de critério de avaliação de ruído ambientes externos, conforme apresentado no Quadro 5.
QUADRO 5: Nível de critério de avaliação (NCA) para ambientes externos, em dB(A).
Tipos De Áreas Diurno Noturno
Áreas de sítios e fazendas 40 35
Área estritamente residencial urbana ou de hospitais ou de escolas 50 45 Área mista, predominantemente
e residencial 55 50
Área mista, com vocação comercial e administrativa 60 55
Área mista, com vocação recreacional 65 55
Área predominantemente industrial 70 60
Identificou-se que a área em estudo se caracteriza como área mista, predominantemente residencial. Assim, os valores máximos adotados são de 55 dB(A) no período diurno, e 50 dB(A) no período noturno.
4.1.2 Procedimentos de Medição
Foram realizadas duas medições de pressão sonora, sendo uma no período diurno e uma no período noturno. As aferições foram realizadas nos dias 30 de setembro de 2018, entre o período de 18:30 às 20:30 horas, e dia 20 de outubro de 2018, das 07:30 às 09:30 horas.
Observou-se que o ruído característico da ERB não possui caráter impulsivo e, tampouco, componentes tonais. Assim, ele é determinado pelo nível de pressão sonora equivalente, LAeq em dB(A). Optou-se por aferir ainda os níveis máximos (LAFMax), objetivando determinar possíveis interferências provenientes de ruídos de fundo. As aferições foram realizadas em um período de tempo de 4 minutos, ou até que o nível se mostrasse estável.
As medições foram realizadas em conformidade com as NBRs 10.151 e 10.152 (ABNT). Para realização das aferições, foi respeitado o afastamento de 1,20 metros do piso e 2,0 metros de qualquer superfície refletora. O tempo de resposta do aparelho foi configurado para a resposta lenta (Slow). Foi utilizado o protetor de ventos durante as medições noturnas, devido à alta taxa de ventos observada em campo.
4.2. AVALIAÇÃO DE RADIAÇÃO NÃO IONIZANTE
4.2.1. Procedimentos de Medição
As medições foram realizadas no dia 05 de julho de 2018, entre o período de 09:00 às 11:30 horas. O medidor utilizado é do tipo sonda isotrópica (medidor de faixa larga), na faixa de frequência de 10 MHz a 8 GHz. Foram coletados dados dos parâmetros intensidade de campo elétrico, intensidade de campo magnético e densidade de potência. As medições foram feitas no período de tempo de 4 minutos.
Devido ao fato de as medições serem realizadas utilizando um sensor do tipo faixa larga, os dados obtidos referem-se à somatória de todas as fontes de campo eletromagnético situadas nas proximidades da estação rádio base em estudo, como estações de rádio e TV, telefones celulares operando nas imediações, radiocomunicadores móveis como os utilizados em serviços públicos, interferência gerada por rede elétrica de baixa/média tensão e eletrodomésticos, além de diversas outras fontes.
Durante as medições, foram aferidos os seguintes parâmetros: intensidade de campo elétrico, cuja unidade é o volt por metro (V/m); intensidade de campo magnético, cuja unidade é o ampere por metro (A/m); e densidade de potência, cuja unidade é dada em watts por metro quadrado (W/m²).
No Brasil, a Lei federal 11.934/2009 adota como referência os limites de exposição humana a campos eletromagnéticos de rádio frequência recomendados pelo ICNIRP e Organização Mundial de Saúde, o que também é feito pela ANATEL em sua Resolução 303/2002. A Resolução citada estipula os níveis máximos de exposição ocupacional e da população em geral.
A população ocupacionalmente exposta compreende adultos que estão expostos a radiação eletromagnética em consequência de seu trabalho, desde que estejam cientes do potencial de exposição e possam exercer controle sobre sua permanência no local ou tomar medidas preventivas. Em contraste, o público em geral consiste de pessoas de todas as idades e estados de saúde e pode incluir grupos ou indivíduos particularmente suscetíveis, como crianças, idosos e doentes, além das pessoas expostas em função do seu trabalho, sem conhecimento dos riscos ou sem treinamento para tomar medidas preventivas (ANATEL, 1999).
Devido ao fato de o empreendimento não contar com trabalhadores regulares no local, foram considerados apenas os valores de exposição da população em geral.
Os limites de exposição da população em geral fornecidos pela Resolução 303/2002 e Lei Federal 11.934/2009 variam de acordo com a frequência da estação de telefonia em análise. Os sistemas de telefonia celular trabalham nas faixas de frequências entre 850 MHz a 2600 MHz. As equações que dão origem aos limites de exposição da população em geral são apresentadas no Quadro 6.
QUADRO 6: Valores máximos de exposição da população em geral estabelecidos pela Resolução 303/2002.
Faixa de Frequência Campo Elétrico (V/m) Campo Magnético (A/m) Densidade De Potência (W/m²) 400 MHz a 2000 MHz 1,375 x f 1/2 0,0037 x f1/2 f/200 2 GHz a 300 GHz 61 0,16 10
FONTE: Autoria própria (2018).
De acordo com o disponibilizado pelo Sistema Mosaico (ANATEL), a Estação Rádio Base em estudo opera nas frequências de 850 MHz, 1800 MHz, 2100 MHz e 2600 MHz. Para determinação do atendimento à Legislação, adotou-se o pior caso, a saber, a frequência de 850 MHz. O Quadro 7 abaixo apresenta os limites de exposição da população em geral obtidos para a Estação Rádio Base em estudo.
QUADRO 7: Limites de exposição da população em geral obtidos.
Frequência Campo Elétrico (V/m) Campo Magnético (A/m)
Densidade De Potência (W/m²)
850 MHz 40,087 0,107 4,25
5. RESULTADOS
5.1 NÍVEIS DE PRESSÃO SONORA AFERIDOS
O Quadro 8 apresenta os níveis de pressão sonora obtidos durante as medições realizadas no entorno da estação rádio base.
QUADRO 8: Níveis de Pressão Sonora aferidos.
PONTO Medição Diurna Medição Noturna
LAeq (dB) LAFMax (dB) LAeq (dB) LAFMax (dB)
A 59,3 72,4 46,0 55,2 A’ 62,0 72,8 48,5 53,3 B 73,8 88,0 57,4 75,0 B’ 73,8 87,3 60,3 76,1 C 69,1 75,5 53,7 71,1 C’ 58,4 68,9 56,1 71,8 D 54,0 68,8 44,4 59,4 D’ 55,3 68,4 49,9 61,3 E 48,6 59,7 41,6 54,7 E’ 47,7 57,9 45,4 53,3 F 49,2 57,5 36,7 43,7 F’ 44,4 54,3 38,5 61,8 G 40,6 51,1 38,4 42,5 G’ 52,1 64,9 36,7 46,0 H 46,1 55,1 48,1 53,8 H’ 47,1 54,3 42,6 49,4
FONTE: Autoria própria (2018).
Figura 5. Comparação dos níveis de pressão sonora obtidos com o nível de referência definido para medição diurna.
Figura 6. Comparação dos níveis de pressão sonora obtidos com o nível de referência adotado para medição noturna.
Em análise dos níveis de LAEq obtidos, observa-se que os pontos A, A’, B, B’, C, C’ apresentaram níveis acima do limite estabelecido pelas normas vigentes nas medições diurnas e noturnas. O ponto D’ apresentou ainda valores acima do permitido na medição diurna.
Durante as atividades de campo, foi possível identificar ruído proveniente de fontes externas, como veículos, cães, e pessoas transitando nas proximidades dos pontos selecionados. Os pontos A, A’, B, B’, C, C’ se situam nos arredores da Rua 13. Trata-se de via coletora, com movimentação regular de veículos. No ponto D’, verificou-se a ocorrência de latido de cães.
O ruído externo mencionado ocasionou alteração significativa nos níveis aferidos. Ressalta-se que o ponto mais próximo do empreendimento (Ponto H) apresentou níveis de pressão sonora dentro do estabelecido pelas normas vigentes.
5.2 NÍVEIS DE CAMPOS ELETROMAGNÉTICOS AFERIDOS
QUADRO 9: Níveis de Campos Eletromagnéticos aferidos.
PONTO Campo Elétrico (V/m)
Campo Magnético (A/m)
Densidade De Potência (W/m²)
Média Máxima Média Máxima Média Máxima
A 4,053 13,03 0,0107 0,0346 0,0436 0,451 B 2,045 5,065 0,0054 0,0134 0,0111 0,0680 C 1,927 2,244 0,0051 0,0059 0,0098 0,0134 D 1,493 2,251 0,0040 0,0060 0,0059 0,0134 E 1,703 12,67 0,0045 0,0336 0,0077 0,4259 F 3,913 4,800 0,0104 0,0127 0,0406 0,0611 G 2,440 5,091 0,0065 0,0135 0,0158 0,0688 H 3,183 5,458 0,0084 0,0145 0,0269 0,0790
FONTE: Autoria própria (2018).
Nas Figuras 7, 8 e 9 é possível observar com clareza os valores de média e máxima obtidos de campo elétrico, campo magnético e densidade de potência nos oito pontos de medição, e sua relação com os níveis máximos de exposição.
Figura 8. Comparação dos valores de campo magnético obtidos com o nível máximo de exposição.
Figura 9. Comparação dos valores de densidade de potência obtidos com o nível máximo de exposição.
Observa-se que todos os valores obtidos nas aferições de campo elétrico, campo magnético e densidade de potência são inferiores aos limites de exposição estipulados pelas normas técnicas.
6. CONCLUSÃO
No que se refere aos níveis de pressão sonora, é possível notar que os pontos A, A’, B, B’, C, C’ apresentaram níveis acima do nível de referência estabelecido pelas normas vigentes nas medições diurnas e noturnas. O ponto D’ apresentou ainda valores acima do permitido na medição diurna.
Em análise dos níveis de exposição a campos eletromagnéticos obtidos, pode-se afirmar que os valores aferidos para campo elétrico, campo magnético e densidade de potência são inferiores aos limites máximos estabelecidos para a exposição humana.
Portanto, conclui-se que a ERB está em conformidade com os limites de pressão sonora e irradiação eletromagnética estabelecidos pela ABNT/NBR 10.151 e Resolução Anatel 303/2002.
7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ANATEL - AGÊNCIA NACIONAL DE TELECOMUNICAÇÕES. Diretrizes para delimitação da exposição a campos elétricos, magnéticos, eletromagnéticos variáveis no tempo (até 300 GHz). Brasília. Dez. 1999. ANATEL - AGÊNCIA NACIONAL DE TELECOMUNICAÇÕES. Resolução Nº 303, de 02 de julho de 2002. Aprova o Regulamento sobre limitação da Exposição a campos elétricos, magnéticos e eletromagnéticos na faixa de radiofrequências entre 9 kHz e 300 GHz. Publicada no DOU de 10/07/2002.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 10151: 2000 - Acústica: avaliação do ruído em áreas habitadas, visando o conforto da comunidade: procedimento. Rio de Janeiro; 2000.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 10152: 1990 - Níveis de ruído para conforto acústico – NB 95. Rio de Janeiro; 1990.
ASTETE, Martin W. Radiações não ionizantes. 2006. Disponivel em:
<http://www.higieneocupacional.com.br/download/radiacao-astete.pdf>. Acesso em 20 de novembro de 2014.
BRASIL. Ministério do Meio Ambiente (MMA). Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA). Resolução CONAMA Nº 01, de 08/03/1990. Dispõe sobre níveis excessivos de ruído incluídos os sujeitos ao controle da poluição de meio ambiente.
BRASIL. Ministério do Meio Ambiente (MMA). Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA). Resolução CONAMA Nº 02, de 08/03/1990. Institui em caráter nacional o Programa Nacional de Educação e Controle da Poluição Sonora – “SILÊNCIO”.
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