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XIV Encontro Nacional de Pesquisa em Ciência da Informação (ENANCIB 2013) GT 9 – Museu, Patrimônio e Informação

Comunicação Oral

MUSEU FÓRUM: MEIO AMBIENTE EM DEBATE

Luisa Maria Rocha - UNIRIO/MAST Carmen Silvia Machado - IPJBRJ1/UFRJ

Resumo

O Jardim Botânico do Rio de Janeiro é uma instituição científica voltada à pesquisa e conservação da flora. Desde 2008, agrega a seus objetivos o estudo da relação homem e meio ambiente, motivo pelo qual foi gestada a criação do Museu do Meio Ambiente. Uma das atividades do Museu, o Fórum Ambiental, abre um espaço destinado não apenas à participação, mas também à perspectiva de inclusão do indivíduo nas discussões de problemas ambientais reais que afetam a nossa qualidade de vida, capaz de construir um sentimento de pertencimento frente ao meio ambiente. Desta forma, o Museu do Meio Ambiente coloca em discussão os problemas ambientais por diferentes públicos, levando informação e formação de uma opinião pública distinta e qualificada. Baseando-se nessas prerrogativas, apresentamos o Fórum Ambiental da Biodiversidade, desenvolvido a partir do caso da “perereca”, uma espécie endêmica ameaçada de extinção, encontrada no brejo da Floresta Nacional Mário Xavier, em Seropédica, que se encontra no trajeto da construção do Arco Metropolitano do Rio de Janeiro.

Palavras-chave: Museu. Meio Ambiente. Fórum. Participação. Biodiversidade.

Abstract

The Botanical Garden of Rio de Janeiro is a scientific institution dedicated to research and conservation of the flora. Since 2008, it has added to its objectives the study of relationship between man and environment, reason for which was gestated the creation of the Museum Environment. One of these activities, the Environmental Forum, opens up a space not only for participation, but to the prospect of inclusion of the individual in discussions of real environmental problems that affect the quality of life, able to build a sense of belonging to the environment. Thus, the Museum of the Environment puts in discussion environmental problems opened to public debate by different leading information and forming public opinion distinguished and qualified. Based on these prerogatives, we present Environmental Biodiversity Forum. Developed from the case of a frog, endemic species threatened with extinction, found in the swamp of the National Forest Mario Xavier in Seropédica, which is in the path of highway construction of the Metropolitan Arch of Rio de Janeiro.

Keywords: Museum. Environment. Forum. Participation. Biodiversity.

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1 INTRODUÇÃO

O Jardim Botânico do Rio de Janeiro é uma instituição de pesquisa científica

cujo objetivo principal é o estudo e conservação da flora. Atualmente agrega a esses

objetivos a discussão ambiental, propiciada pela criação de espaços de discussão e

reflexão sobre questões referentes ao estudo do meio ambiente e suas modificações.

Pensando neste novo direcionamento, em 2012, o museu foi reinaugurado

durante o Rio +20, com o objetivo de promover e incentivar a participação da sociedade

em debates sobre questões socioambientais através de uma reflexão crítica e da

construção conjunta de conhecimentos, visando a formação de uma opinião pública

qualificada e ciente dos problemas ambientais atuais.

O programa de divulgação científica do Museu do Meio Ambiente busca o

diálogo, com criatividade e inovação, nas ações direcionadas à sociedade, procurando

identificar demandas e necessidades de seu público. A criação de um Fórum permanente

de discussão das questões ambientais constitui uma de suas ações estratégicas.

Com a participação do público pretende-se ainda, estimular o senso crítico do

indivíduo frente aos processos de gestão pública dos recursos e serviços ambientais,

principalmente pela importância e complexidade da gestão do patrimônio ambiental

para as futuras gerações. Este compromisso não pode prescindir de colocar a ciência, a

moral e a ética em discussão aberta ao debate por diferentes públicos, levando a

formação de uma opinião pública distinta e qualificada, que se coaduna com o Relatório

Brundtland2 ao procurar o entendimento sobre as questões ambientais que afetam direta

ou indiretamente a qualidade de vida da sociedade.

O desenvolvimento de ações museológicas de promoção de um raciocínio crítico foi apontado por Yves Girault (2011) através da concepção de um “parlamento” (Exposição do Instituto Real de Ciências Naturais da Bélgica), da “criação de um café -debate” (Museu Nacional de História Natural de Paris e Museu Etnográfico de Neuchâtel) e da realização de "ilhas de expressão" (Centro de Ciências de Montreal),

todas como meios para estimular a discussão de questões polêmicas.

A perspectiva de proporcionar um debate contemporâneo no museu confere a

essa instituição um caráter diferenciado, atual e desafiador, que transforma o espaço

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público convencional em um fórum de discussão, no qual diferentes olhares sobre

questões ambientais, que permeiam o cotidiano de cada indivíduo, se tornam objeto de

preocupação de todos, e se expressam através de ações, usos e significados.

No pensamento de Roger-PolDroit, representa uma procura em direção ao

consenso, a melhor solução para o problema ou uma maneira de se aceitar o novo como

uma opção real e, muitas vezes, indispensável para se estabelecer novas formas de

relação sociedade e natureza, uma necessidade premente para não (…) “deixar as questões fundamentais nas mãos dos especialistas nem acreditar que elas se resolvem sozinhas” (DROIT, 2012, p.86).

2 A AÇÃO COMUNICATIVA DO FÓRUM AMBIENTAL

O Fórum Ambiental busca mudar o lugar da ação comunicativa de uma

racionalidade baseada unicamente na dimensão cognitiva e no valor da verdade da

ciência, para uma que contemple outras dimensões e valores do mundo que

compartilhamos e vivemos. Nesse sentido, o conceito ampliado de racionalidade,

proposto por Habermas (2004), que se baseia na fundamentação e no criticismo das

falas através da práxis da argumentação, constitui um dos princípios do programa do

Fórum Ambiental.

Os museus caracterizados por uma heterogeneidade de sujeitos, objetos, regras e

contextos, não tem meios de cumprir o seu papel de mediação em abordagens que tem seu “lugar” definido à priori pela comunidade em que está inserido. Não constitui aqui pensar na troca de um lugar específico para outro, por exemplo, da comunidade científica para a comunidade local, mas construir um “espaço intermediário”, ancorado na práxis do mundo de vida enriquecido pela integração de suas tradições culturais, com

agentes, regras e contextos definidos continuamente no seu processo interacional, nas

ações de comunicação do museu.

Compreendemos que pelas mediações podemos constituir uma “zona de troca” em que os atores se relacionam articulando saberes, práticas, valores e expressões pertinentes as suas “formas de vida”, através da elaboração, do questionamento e da validação de seus conteúdos que permeiam diferentes “jogos de linguagem”. Afinal, saberes, práticas, valores e expressões constituem o patrimônio cultural imaterial.

No âmbito da comunicação em museus, esse conceito aponta para a necessidade

de explorar esse patrimônio com um fim comum: a problematização de questões de

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Essa ação possibilita tanto a integração social e epistemológica pelas práticas

intersubjetivas, quanto à compreensão, pela experiência e reflexão, da natureza

eminentemente social do conhecimento.

O movimento remete à necessidade de ampliação da abrangência e

complexidade das temáticas, através de ações transversais e de mediação que visam o

alinhamento da experiência museológica com o modo de vida. Sendo assim,

descreveremos o processo de configuração de uma temática publicizada, alinhada com a

esfera pública, que envolve múltiplas mediações, pautadas por processos

argumentativos em contextos comunicacionais.

Num segundo momento abordam-se as condições e regras do espaço de

comunicação do fórum, que condicionam tanto a sua dinâmica quanto às questões

problematizadas de comunicação. Num terceiro momento, enfoca-se a passagem do

discurso à informação, sob o prisma de seu movimento transversal e circular

intensificando as mudanças do estado potencial para o acional.

2.1TEMÁTICAS, QUESTÕES E DISCURSOS

O Programa do Fórum Ambiental visto em sua dimensão comunicacional

contribui para o processo de deliberação pública por conferir publicidade à intrincadas

questões ambientais, num processo de contraposição de argumentos e visões de mundo

oriundo de diferentes contextos comunicativos. Neste espaço de visibilidade, a

problematização de temáticas pode adquirir o caráter de questões de interesse público,

somente possível através das mediações, tanto em relação aos caminhos e vertentes a

serem explorados quanto na composição de argumentos com seu repertório cultural que

a subsidiam como a informação, a cultura material e as experiências e vivências

passadas. Esta mediação se insere no rol de outras que definem e ancoram a questão em

um ou mais tempos e lugares.

A proposta de tematização de problemas de interesse coletivo leva em

consideração o contexto de origem, uma vez que estes são constituídos num processo de

adensamento de sentidos num fluxo comunicacional de discursos. Os discursos

provenientes de cientistas, mídias, políticos, gestores e do próprio museu são objetos de

apropriação reflexiva pelo público que questiona seus sentidos, julga sua validade,

atribui valores, forma opiniões e empreende por meio de ações, aquilo que foi assumido

como válido no processo. No decorrer deste fluxo, o problema adquire significado e

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que afeta a vida de diversos sujeitos, quanto pela sua singularidade de ancorar-se num

determinado tempo e espaço. No espaço social do contexto de ação, o problema se

adensa também pela agregação de mediações simbólicas que como expressões materiais

compartilhadas intra e inter comunidades, apresentam o caráter público. Assim, aos poucos o problema se inscreve numa “ordem social articulada pelas formas simbólicas de uma cultura” (REIS; MARQUES, 2007).

No Fórum, a possibilidade de transformar o “problema” em“questão” reside em situá-lo na sua trajetória de ocorrências, evidenciando as suas mudanças e permanências

a partir de seus contextos históricos e culturais. É necessário estabelecer um conceito ou

uma questão que aproxima as respostas em diferentes tempos e espaços, como uma “semelhança de família”, tal como proposto por Wittgenstein (1979) para linguagem, na qual alguns sentidos conferidos pela variabilidade dos usos em diferentes contextos e

circunstâncias se parecem sem, contudo, ter algo em comum que os perpassa.

Esse processo de definição da questão guarda as marcas dos mediadores,

ocultando e revelando um modo de organização inerente aos seus esquemas de

percepção e conceitualização, alinhados com uma determinada matriz gnosiológica. Tal

organização tem como princípio a inteligibilidade e acessibilidade do público de forma

a propiciar a produção de sentido, capaz de promover a discussão de questões relevantes

do ponto de vista do coletivo. Portanto, oferecem uma primeira abordagem inserida em

condições e regras de apresentação comunicacional que permite aos diferentes agentes

sociais organizarem suas experiências, seus discursos e seus posicionamentos.

Sob a perspectiva museológica, a problematização evidencia alguns aspectos

relevantes acerca de um determinado tema, contribuindo para a construção de uma

questão pública na rede dinâmica de discursos, propiciando novas interpretações e

sentidos acerca de uma questão que assegura a configuração de sua complexidade.

Esta rede discursiva pode ser organizada por meio de processos de mediação

ocorridos no âmbito institucional, e constitui uma resultante da pesquisa e organização

do conhecimento associado a sua difusão. Contudo, a possibilidade de apreensão e

apropriação depende, sobretudo, das relações discursivas dos atores sociais nos seus

contextos de ação, de seu entendimento e da busca por soluções que residem na sua

inserção em um campo problemático e prático (REIS; MARQUES, 2007).

Uma questão não pode ser apenas entendida como organizar o conhecimento e

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campo3 problemático, teórico e prático, na busca por soluções que atendam tanto as

demandas e necessidades, agora coletivas, quanto à possibilidade de utilização dos

recursos vigentes. Este campo abarca diferentes dimensões históricas e culturais da

sociedade de forma a contemplar saberes, sentidos e práticas produzidas em relação a

uma situação compreendida em sua totalidade.

Nos museus, a configuração de uma questão envolve re-pactuar os

procedimentos de autoridade e legitimidade, mas também evidenciar como uma

determinada questão que nos preocupa é representada por diferentes comunidades.

Trata-se de relacionar as “questões” com as formas de representá-las, como propõe Latour (2005), processar pela hibridação sujeito e objeto para, em seguida, transladar do agente individual para um coletivo, o “espaço público”. Para tal, as questões são re -apresentadas, na forma de pretensões de validade provisórias, de caráter lingüístico ou

como representações culturais, processadas na argumentação e negociação a partir da

análise de suas circunstâncias e contextos, que adquirem visibilidade através de uma composição relevante que Latour (2005) denomina como “Fórum” ou “Ágora Híbrida”.

Nos fóruns são os seus fins comunicacionais de compreensão e entendimento

mútuo,que determinam tanto a inserção dos discursos quanto as representações nos

processos argumentativos. As questões não são um fim em si mesmo, mas um processo

que se inicia no âmbito museológico e se desdobra na participação de diferentes agentes

comprometidos com a sua reconfiguração de modo a melhorar a compreensão e propor

caminhos e soluções. Ao considerarmos que toda comunicação envolve algum tipo de

regra, quer seja no âmbito formal ou informal, e que os museus como espaços

institucionais atuam no plano meta-comunicacional, acreditamos que um fórum de

debate não pode prescindir de condições, regras e métodos que condicionam não

somente a possibilidade de tematização de questões da esfera pública, mas também as

dinâmicas do processo de conceber, produzir e usufruir deste espaço.

O fórum constitui uma forma especializada e institucionalizada de

argumentação, na qual apresentamos diferentes perspectivas acerca de questões ou

temáticas que tem sua origem na trajetória humana de construir e compartilhar um

mundo comum e que se revela no contexto atual como um problema a ser discutido

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tanto nos seus aspectos teóricos quanto práticos. Os métodos constituem tanto

ferramentas para consecução dos princípios comunicacionais quanto mediações na

medida em que podem trabalhar na limiaridade, promovendo a abertura a novos

sentidos. E as regras se instauram no espaço discursivo. Estas condições redefinem o

espaço do fórum sob a ótica da ação comunicativa e partem de alguns princípios gerais

de interação como a publicidade; cooperação, e inclusão e igualdade de direitos.

Na ação comunicativa, a definição de público precisa de um alargamento

conceitual de forma a abranger os processos de interação social característicos da constituição de uma sociedade. E por isso, entendemos o público como aquele “portador de opinião pública”, que exerce normativamente a função crítica em relação à “publicidade” (HABERMAS, 1984, p.14). Propomos o restabelecimento da normatividade na esfera pública através da qualificação da opinião pública pelo uso da

razão: a publicidade como espaço de discussão das idéias com abertura e transparência.

O alinhamento da tematização dos fóruns com a esfera pública permite não

somente deslocar o lugar dos processos museológicos da ciência para a sociedade como

conferir uma estrutura comunicativa voltada a promoção de interações sociais. Ancorar

esta estrutura no mundo de vida e alinhar a comunicação com os princípios do agir

comunicativo constitui ter como fim à formação da reflexividade social sobre questões

coletivas que demandam uma ação conjunta pelo diálogo e troca de argumentos.

O princípio da cooperação possibilita gerar uma relação interpessoal de

responsabilidade mútua entre os participantes. A cooperação entre agentes se instaura a

partir da definição em comum de um problema ou questão pela composição de

diferentes visões sobre questões do mundo de vida, através de processos e métodos que

coordenam as ações na obtenção de conceitos intermediários capazes de serem ao final

harmonizados, com base nas interpretações do problema (HABERMAS, 1989, p.165).

A força desta coordenação reside na possibilidade de uma comunicação livre de

restrições que cria um espaço de negociação, de troca de argumentos e garantias, na

definição de uma situação constitui um caminho para enfrentar a complexidade dos

problemas contemporâneos, uma vez que não existem verdades absolutas nem certezas

incontestes. O princípio da inclusividade e igualdade de diretos diz respeito à

possibilidade de inclusão de uma contribuição relevante de qualquer agente com relação

ao tema do fórum. Da mesma forma, a igualdade de posição entre os agentes constitui

um pressuposto para que todos possam se engajar na comunicação, com as mesmas

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Ainda que se exerça apenas a função epistemológica de fomentar o uso público

da razão, o fórum pode possibilitar o desenvolvimento de competências e habilidades. A

proposta se coaduna com a valorização do fluxo de opiniões abertas ao criticismo, na

busca por uma tentativa de recuperar o sentido original de publicidade. Retomando as palavras de Archibald (1998, p.39), a missão do museu é “facilitar a discussão inclusiva de questões duradouras”, num novo olhar de inclusão de “múltiplas perspectivas e diferentes vozes”, que reposiciona o objeto nos processos argumentativos à luz de sua importância não apenas como apoio ao discurso, mas como questão a ser analisada.

Tal desafio encontra nas ações transversais inter e transdiciplinares, a

possibilidade de colocar em diálogo diferentes formas de vida que evidenciam seus

discursos, argumentos, expressões, representações e vivências acerca de uma questão. A

articulação conceitual da questão, segundo Japiassu (1976, p.82), deve ocorrer

predominantemente no plano criativo, tendo em vista que esta se apresenta enredada a

diferentes atores, artefatos, linguagem e contextos. Nesse plano, as disciplinas se

cruzam na reconfiguração do objeto do conhecimento pela sua melhor compreensão,

como resultado da cooperação de diferentes saberes. Portanto, aponta para uma

consciência da interdependência e da inter-relação entre os fenômenos sociais construindo uma “zona de troca”, capaz de manter-se aberta e transparente nas suas intenções e motivações para os agentes na promoção de uma discussão ampla, crítica e

participativa.

No fórum foram adotados os princípios inerentes aos espaços comunicacionais e

aos processos deliberativos, como: não-coercitivos, de inclusividade e igualdade de

direitos, publicidade das questões e dos argumentos dos participantes, cooperação e

reciprocidade. A última envolve a predisposição a abertura ao outro e implica na

reflexão de cada participante sobre os argumentos, garantias e evidências apresentados

com vistas a reformular sua interpretação a partir das razões cognitivas, expressivas e

morais defendidas pelos diferentes participantes. Para tal, será necessária a participação

efetiva dos agentes, não bastando a apresentação de uma questão para que se instaure o

debate e seus desdobramentos. É o próprio processo argumentativo que gera a dinâmica

de instauração do espaço público, no qual diferentes visões de mundo são coordenadas

discursivamente de forma cooperativa em torno de questões de interesse comum, com

vistas as suas ações no mundo de vida (HABERMAS, 1989, p.87).

No fórum, o lugar da comunicação reside no discurso e no alinhamento com o

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informações trocadas e entrelaçadas nas nossas crenças e percepções manifestas nas

representações; nas intenções ou experiências expressas nos valores compartilhados; e

na adequação dos nossos motivos e ações com as normas sociais existentes.

No museu, as representações culturais adquirem a força e relevância de uma

questão, por isso mesmo as garantias adquirem o papel de co-protagonista, uma vez que

representações, valores e normas sociais integradas são o substrato para o processo de

patrimonialização. Trabalhar este espaço de interlocução discursiva evidenciando as

diferentes visões de mundo fundamentadas nas três dimensões da realidade possibilita

exercitar uma dimensão crítica e formadora, capaz de subsidiar a adoção responsável de

atitudes perante o mundo.

Neste caso, entendemos que as pretensões problematizadas nessas dimensões de

referência devem ser apresentadas na sua multidimensionalidade, entrelaçando e

discutindo a verdade de proposições e eficácia de ações; a correção das normas sociais;

a adequação aos padrões de valor. Contudo, a perspectiva performativa adotada pelo

participante no contexto de ação é a condição da possibilidade de conhecer, no sentido

de adquirir conhecimento confiável. Como afirma o educador Paulo Freire (1977, p.36): “o conhecimento se constitui nas relações homem-mundo, relações de transformação, e se aperfeiçoa na problematização crítica destas relações”.

No plano crítico, ancorado num tempo e espaço, devemos analisar as pretensões

de validade nos seus contextos socioculturais, em especial quando há referência aos

padrões estéticos e éticos, que não têm validade além de um contexto específico de

tradições artísticas e de comportamento. No âmbito da estética, na perspectiva de

Langsdorff (2002), a própria experiência pode abrir a possibilidade de transformação do

mundo, vida e produção de novos significados, capazes de subsidiar as ações no mundo.

Entendemos que em determinados momentos a experiência estética transcende a

linguagem verbal, não podendo ser sempre explicada nem justificada frente aos seus

significados. Como afirma SCHUSTERMAN (2002, p.178), não poder reduzir certas dimensões estéticas à “razão e a linguagem não implica que estas são opostas a razão, ou são destituídas de inteligência”.

2.2DISCURSO, INFORMAÇÃO E ZONA DE TROCA

Os estudos na área da Ciência da Informação apontam que a informação tem

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estruturas de significado ora ao conhecimento, definidos pela pesquisadora Maria

Nélida González de Gómez (2006, p.78) como:

“a) pela remissiva a alteridade, aquilo que escapa ao cálculo e à regra: o que se apresenta a nossa contingência no modo do "sercom" (mitsein), num tempo e num espaço socializados e à luz de um agir e de um fazer de onde se abrem ou fecham para nós as perspectivas do mundo; h) pela inscrição de uma forma e sua expressão, a luz de uma regra cultural e discursiva, daquilo que assim se manifesta”.

Para a autora mais do que escolher um caminho para a abordagem informacional

deve-se compreender a matriz gnosiológica, que subsidia uma ação de informação associada “à reconstrução empírica do regime de informação4

, que a condiciona e contextualiza”. González de Gómez (2002) define o regime de informação como um modo de produção dominante numa formação social, conformando sujeitos,

instituições, regras e autoridades informacionais, estabelecendo meios e recursos para

sua consecução, regularizando padrões de qualidade e arranjos organizacionais, além de

seus dispositivos de preservação e distribuição. Um regime de informação orienta as

mediações comunicacionais e informacionais em um domínio funcional e/ou territorial.

Nos museus foi identificada a tentativa de trabalhar a partir dos dois macros

eixos: a abordagem inscricionária nos processos de catalogação e documentação dos

acervos museológicos e as estruturas de significado no âmbito da comunicação.

Contudo, percebemos que os códigos especializados e as linguagens formais

construídas, a partir das representações simbólicas, por permanecerem alinhadas com

matrizes gnosiológicas tradicionalmente apoiadas na ciência e seus paradigmas

objetivista e cientificista, acabam por subsidiar o processo comunicacional com uma

informação que padroniza os significados, os alinha disciplinar e institucionalmente,

naturalizando determinadas visões de mundo inscritas em campos específicos do

conhecimento.

Neste caso, buscamos configurar uma nova matriz gnosiológica baseada nos dois

olhares capaz de imprimir um novo regime de informação. Nesta visão, a mudança do

regime passa pela adoção de uma matriz alinhada com a pragmática, na qual no espaço

comunicacional, as informações seriam integradas por processos intersubjetivos e

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cooperacionais que incluem o olhar do participante tanto nas ações inscricionárias

quanto comunicacionais, objetivando o fortalecimento do vínculo social e, portanto, a

integração social pelo uso dialógico da linguagem (HABERMAS, 1990, p.75).

Na comunicação, a informação tem seu locus nos contextos de ação, no qual muitas vezes os atores têm que se “contentar com informações altamente incompletas” (HABERMAS, 2004, p.107).

No plano do discurso, a análise das deliberações práticas tem de levar em consideração o “suprimento de informações confiáveis”, tanto sobre a questão pública quanto sobre as intenções e motivações dos agentes envolvidos. Contudo, frente a

incompletude da informação na ação, torna-se necessária a análise não somente das

circunstâncias da ação na sua relação com o repertório informacional que a subsidiou,

como também sua atualização frente às condições, recursos e possibilidades vigentes associado aos participantes, promovendo uma “zona de troca”.

Por isso mesmo, o fórum depende das condições e recursos da argumentação, que envolvem a “confiabilidade” das informações acerca do mundo objetivo, dos aspectos sociais e morais, e da intencionalidade dos outros agentes. Neste sentido, a

informação tem seu papel associado à articulação de uma compreensão pragmática de

um mundo comum compartilhado (CAPURRO, 1992). A comunicação de significados

é possível sob um horizonte prévio de compreensão que resulta da partilha temática e

situacional de um mundo em comum. Nesse prisma, a informação é vista como algo capaz de articular diferentes “formas de vida”, ou comunidades lingüísticas que compartilham intersubjetivamente significados e que, na sua localidade, situadas no tempo e no espaço, “com seus valores, interesses e formas de ação, definem os modos correspondentes de experiência possível” (GONZÁLEZ DE GÓMEZ, 2002; HABERMAS, 2004, p.27).

Numa comparação com os conceitos históricos da Ciência da Informação,

percebemos que Belkin, ao situar a informação no processo social de comunicação entre

seres humanos de forma voluntária e compreensiva, proveniente de um ato intencional,

abre espaço para Habermas posteriormente definir como seu lugar o contexto da ação

social. Por outro lado, Habermas foge do conceito de informação ancorado apenas no

âmbito cognitivo como proposto por Belkin, uma vez que objetiva não somente a

alteração de estruturas interiores dos participantes a partir de um entendimento mútuo,

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Neste prisma, devemos pensar na informação sob o ponto de vista de seu

movimento, como proposto inicialmente por Merta: “observar a informação de sua origem até sua utilização social” (apud PINHEIRO, 1997, p.100). Para tal, encontramos em Wersig (1985) a abordagem pragmática necessária para entender a dinâmica da

informação nas três racionalidades habermasianas, pelo destaque por ele dado ao papel

da informação de intensificador da passagem do estado potencial para o acionista.

Reside, no fluxo da informação do Fórum - da troca no contexto de ação para as

garantias performáticas do discurso, da apropriação e compromisso acional no

entendimento mútuo para a formação de novos repertórios informacionais que subsidia

a ação – a potência de religar5 não apenas saberes, mas esferas separadas no processo histórico de construção do conhecimento, através de um movimento de circularidade

que permite o enriquecimento da experiência, quer seja no âmbito do discurso

museológico, quer seja no contexto de ação.

Ao articular saberes, significados, comunidades e intenções, no tempo e espaço,

a informação atua como um “dínamo” que confere força, potência e circularidade na manutenção da dinâmica das ações coordenadas de caráter coletivo.Assim sendo, a

informação não é algo à priori que possa ser definido, nem muito menos um conteúdo,

uma vez que é construção coletiva dos atores. A informação depende do contexto e corresponde a transversalidade, ou seja, a “qualidade da informação de perpassar todas as áreas” (PINHEIRO, 2004).

O grande perigo, alerta Habermas, constitui o enfraquecimento das relações da

informação com a aprendizagem e a imaginação lingüística. Isto porque a dimensão da

aprendizagem reside na apropriação das opiniões e na sua ampliação e revalidação na

relação prática com uma realidade. O confronto do saber com realidade, fundamentado

em nossas experiências, torna possível a crítica, o debate e a revisão do saber

problematizado (HABERMAS, 2004, p.105). Portanto, o processo propicia a “vinculação comunicacional e socialmente responsável”, que valoriza o contexto de ação e da experiência como instâncias de troca de informação assim como a

argumentação acerca de novas informações problematizadas pelo outro.

Entendida como troca interativa e pública de perspectivas, argumentos e expressões, a “zona de troca” do Fórum se instaura no processo de configuração de uma questão de interesse público.

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A “zona de troca” caracteriza-se pela vinculação entre o uso comunicativo da linguagem nas suas diferentes dimensões e a responsabilidade com a ação social. Por

isso, faz-se uma reflexão tanto sobre os aspectos cognitivos e morais da ação quanto

sobre as escolhas dos agentes em relação aos meios adequados para a sua realização.

Portanto, transita-se na passagem da razão epistêmica para a teleológica, somente

possível quando se trabalha museologicamente a temática no plano da experiência,

evidenciando como esta ocorreu, seus contextos espaços-temporais, seus produtos e

resultados finais enfim, problematizando a sua trajetória. Integrando conteúdo,

representação, prática, intenção e expressão, a racionalidade comunicativa entrelaça

conhecimento, ação e comunicação no objetivo do entendimento mútuo.

Assim, uma temática pode ser desenvolvida tendo como solo as garantias

performáticas, que asseguram a referência semântica a um mesmo objeto, e como

processo a contraposição de enunciados, argumentos e expressões provenientes de

comunidades culturais diferenciadas em função de seus contextos no mundo de vida.

Empreender a mudança de abordagem comunicacional nos museus necessita

alterar as regras de validade do conhecimento. Mudando-se as regras de validade, o

museu possibilita o afloramento de valores comuns a diferentes comunidades culturais na “zona de troca”, que criticamente podem se orientar e interagir socialmente. Então, o estabelecimento de uma relação dialógica entre ciência e público nos museus passa pela

promoção do uso experimental e dialógico da linguagem, a partir da integração de

diferentes domínios sociais, criando vínculos sociais que propiciam o movimento

circular da informação do contexto de ação para os discursivos e argumentativos

(GONZALEZ DE GÓMEZ, 2006, p.62). Isso leva ao enriquecimento dos repertórios

culturais que subsidiam de informação no contexto de ação, conforme proposto por Wersig (1985), o “espaço de provisão” que possibilita as argumentações na ação na vida cotidiana.

Em tal configuração, a “zona de troca” abre o espaço comunicativo do museu para o novo, para a imaginação e a invenção. Por isso mesmo, ela não pode ser medida

por um padrão externo de completude, precisão ou exatidão. Através dela pode-se ir

além da reificação das estruturas, dos agenciamentos, dos objetos e dos sujeitos, uma

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3 METODOLOGIA DE ELABORAÇÃO DO FÓRUM AMBIENTAL

Baseando-se nas premissas expostas acima, o Fórum Ambiental foi

desenvolvido a partir de temáticas ambientais que já circulavam na esfera pública.

Tomou-se como base para a construção de uma questão ambiental a articulação de cinco

vertentes: o conhecimento, construído pela ciência e tecnologia; as representações

sociais, formadas no hibridismo dos discursos dos diferentes atores sociais na esfera

pública; a política, protagonista nas tomadas de decisão; e as mídias, pelo tratamento

jornalístico nas controvérsias ambientais (DAVALLON; GRANDMONT; SCHIELLE,

1992, p.131/132).

As temáticas desenvolvidas para o Fórum têm como perfil um público de ensino

médio a universitário, na faixa etária de 11 a 21 anos, que frequentam o Museu em

grupos ou turmas durante a semana, e para famílias e visitantes do Jardim Botânico, em

particular nos fins de semana. Atualmente o Museu conta com cinco temas sobre meio

ambiente, a saber: biodiversidade, paisagem, resíduos sólidos, água, sustentabilidade.

Os temas e questões ambientais são elaborados pela equipe do Fórum

utilizando-se a informação ambiental que envolve tanto a sua materialidade quanto a sua

imaterialidade, que compreende tanto aquela de conteúdo estratégico objetivado e

mensurável, quanto àquela apropriada e resignificada nos jogos e linguagens das

práticas sociais. Neste sentido, reconfigurar a linguagem matematizante da informação

significa inseri-la em contextos socioculturais como, por exemplo, transformar um texto

que apresenta a dimensão de uma área de 1,3 milhões de m2 por uma foto aérea com -

arte gráfica que evidencia que esta dimensão equivale a área de doze complexos do

Maracanã. Assim, a edição do Fórum contempla ilustrações, imagens, fotografias e

desenhos que auxiliam na exemplificação e caracterização dos temas e questões

propostos.

O instrumento utilizado para a apresentação do problema ou questão é uma

interface gráfica, suportada por uma plataforma de informática apresentando telas

seqüenciais informativas da questão a ser discutida, utilizando-se de linguagens de

animação, gráficos, imagens, textos ou vídeos. Esta apresentação é subdividida em

blocos organizados em graus crescentes de complexidade do problema, sendo que, ao

término de cada bloco, uma pergunta formulada gera uma votação com respostas de

múltipla escolha. Em média a cada três telas sugerem-se alternativas para discussão

seguida de votação. O seu resultado é apresentado em quadros gráficos em barras. Um

(15)

votação, através de considerações, perguntas ou afirmações que conduzem os

participantes ao debate (ROCHA, L. et al, 2010). Ao justificar sua posição, o

participante interage com os outros contrapondo sua visão do tema buscando a

prevalência do melhor argumento.

As votações são gravadas como registro no banco de dados informatizado do

Museu do Meio Ambiente e constituem uma fonte de pesquisa e avaliação para os

pesquisadores do Museu.

A mediação é formada por profissionais graduados do programa educativo, nas

áreas de Biologia, Geografia, Ciências Ambientais, Artes Plásticas dentre outras, além

de alunos do ensino médio em áreas de risco social e econômico, que uma vez

selecionados, integram o curso de mediação da área de responsabilidade socioambiental.

Além disso, o material elaborado para o Fórum pela equipe do Museu é trabalhado junto

aos mediadores, sendo feito um treinamento de cada fórum apresentado. Após a

realização de alguns Fóruns, é aplicado pelo mediador um questionário com o intuito de

conhecer o público participante e sua percepção sobre as questões abordadas.

Os mediadores estimulam e provocam a discussão, incentivando a interação e o

questionamento a partir do conhecimento científico e tecnológico abordado através dos

depoimentos de cientistas, do tratamento jornalístico dado pela mídia e evidenciado na

apresentação, da fala política de autoridades governamentais e dos especialistas de

gestão, além das manifestações de comunidades afetadas pelo problema, quer seja

através de depoimentos, quer seja através de imagens. Neste contexto, a procura pelo

melhor argumento pode gerar posições ainda não contempladas na última votação do

fórum, que se transformam em propostas de respostas inseridas no sistema pelo

mediador de forma a integrar futuras votações do Fórum.

Neste sentido, como metodologia para elaboração dos fóruns buscou-se trabalhar

com a multiplicidade de níveis de realidade e de lógicas que regem as questões no

mundo, numa abordagem multireferencial e multidimensional, que valoriza a

contextualização no tempo e espaço, envolvendo tanto o processo científico de

construção do conhecimento quanto o substrato da realidade social que constituem as

condições para sua germinação.

4 RESULTADOS PRELIMINARES DO PROJETO PILOTO

O projeto-piloto aqui abordado trata do tema Biodiversidade, cujo Fórum discute

(16)

Seropédica, frente à construção de uma rodovia para escoamento de produção da cidade

do Rio de Janeiro. A espécie-personagem em torno do qual gira a polêmica é uma

perereca (Physalaemus soaresi) ameaçada de extinção endêmica desta área protegida. A

perereca possui apenas 2 cm, foi descoberta na década de 60 com poucos estudos

desenvolvidos, há pouco informação a respeito do porque esta espécie vive

exclusivamente nesta área. Estudos a esse respeito precisam ser desenvolvidos para

determinar a importância e a especificidade da espécie, é o que relata o biólogo da

UFRJ, Sérgio Potsch.

O problema torna-se uma questão complexa pelas inter-relações de processos

ambientais (espécies ameaçadas), socioeconômicos (urbanização e desenvolvimento de

cidades no eixo da rodovia), culturais (traçado da rodovia ameaça sítios arqueológicos)

e de infra-estrutura (ligação entre portos para escoamento de produção). Entender como

esses processos se desenvolvem é um dos objetivos do Fórum, pois vai proporcionar

uma visão de conjunto para o público que terá condições de reconhecer os problemas

ambientais gerados por interferências externas, a partir de suas próprias percepções.

A análise dos dados iniciais obtidos não é representativa em termos

metodológicos quantitativos de uma sociedade, mas fornece indícios qualitativos de

grupos específicos participantes da atividade.

As questões debatidas evidenciam três pontos para análise: 1) uma visão de cunho desenvolvimentista, expressa por “construir o Arco Metropolitano e assim promover o desenvolvimento de uma região e otimizar o escoamento produtivo da

cidade do Rio de Janeiro, independente das questões ambientais envolvidas”; 2) uma visão de cunho ecológico e utilitarista, expressa por “parar a obra e estudar o potencial intrínseco da espécie de perereca, além de seu provável uso medicinal, independente do

desenvolvimento econômico e social de uma área”; ou 3) uma visão de cunho consensual participativo, expressa por “conciliar o desenvolvimento da área em estudo sem deixar de considerar o potencial ambiental descoberto em função do

empreendimento”.

Assim, a primeira resposta do Fórum acarretaria, por um lado, a perda de

biodiversidade, de evidências histórias e culturais e de processos sociais de participação

da sociedade, por outro lado, a perda dos recursos já implementados e da possibilidade

de desenvolvimento de infra-estrutura para o Estado do Rio de Janeiro. Os resultados

obtidos até o momento com a aplicação de 40 Fóruns, atingindo um público

(17)

Nos primeiros fóruns foram realizadas avaliações visuais, nas quais se analisou o

comportamento dos frequentadores, suas reações e posicionamentos. Os mediadores

foram instruídos a não expressar suas opiniões para não influenciar a percepção do

grupo. Ao contrário disto, sua atuação privilegia apresentar, aos poucos, novas

informações que trazem complexidade às questões socioambientais. Assim, quando o

participante se posiciona por uma das respostas, o mediador levanta questões que

trazem a tona novas informações - colocando em cheque - sua escolha e fomentando o

debate entre os participantes. Este trabalho evidencia o quão difícil é a tomada de

posição daqueles que precisam tratar e decidir sobre questões controversas.

A estratégia de manter o mediador distante das discussões foi bem recebida pelo

público que se manifestou afirmando que, a ação de instigar o público a discutir

problemas relacionados à cidade, faz com que todos reflitam sobre suas próprias

questões. A oportunidade de participar de discussões que, muitas vezes, aproximam o

indivíduo dos tomadores de decisão, também se mostrou uma estratégia importante, “fiquei bem feliz em participar de um debate ambiental importante. Gostaria que o mediador tivesse perguntado mais, tem muita gente que fica com vergonha de participar (...) Aqui a gente vê que as pessoas se soltam, discutem entre si”. Esta observação, feita por uma mulher, na faixa etária de 16 a 20 anos e escolaridade fundamental incompleto,

mostra a abrangência do Fórum e o nível de participação dos usuários.

A participação do público começa com a elaboração do seu perfil. Neste

primeiro ano foi majoritária a presença de público escolar com 41,1% e universitários

com 27,8%. Isto se explica pela centralização do agendamento de grupos escolares no

Programa Educativo do Museu. A presença de famílias com 20,2% e público

espontâneo de 10,9%, ao mesmo tempo em que aponta o potencial desta atividade em

grupo, evidencia a necessidade de sua divulgação para um público espontâneo. A pouca

frequência do público espontâneo é justificada devido à divulgação ainda insuficiente e

o pouco tempo de operação do Museu oferecendo esta atividade. Porém entre os

participantes, é significativa e espontânea a iniciativa de voltar ao Museu para novos

Fóruns: “Gostei de ter participado do evento e pretendo voltar e divulgar para meus amigos (...) acho importante participar de eventos como este, abriu minha mente em relação aos problemas vividos pela sociedade, vou trazer amigos em breve” (homem, na faixa de 11 a 21 anos, ensino médio incompleto).

A faixa etária mais presente está entre 11 e 21 anos - 57,7% -, o que reafirma a

(18)

faixa etária está entre 22 e 32 anos -26,8%-, que ainda precisa de um maior

investimento pelo Museu. As demais faixas etárias entre 33 e 55 anos ou mais, não

obtiveram números significativos, provavelmente pela inexistência de um programa

específico voltado para os adultos e terceira idade. Também é marcante a presença de

mulheres 66,1% em relação aos homens 33,1%.

A primeira pergunta do Fórum faz referência ao som feito por um animal. São

oferecidos os desenhos de cinco animais diferentes para escolha do público. A perereca,

nosso personagem, é a terceira mais votada com 18,2% dos votos. O pássaro recebe

maior votação com 27,7% dos votos, demonstrando que os participantes não sabem

identificar sons de animais e votam naqueles que lhes são mais familiares e/ou

apreciados. Os demais animais apresentados foram a anta – 25,4%, o macaco -17,8% e o grilo – 10,8%. Chamar a atenção para o som que o animal faz, logo no início da atividade ilustra bem como despertar o interesse do público, uma vez que a discussão

gira em torno de alguma coisa aparentemente simples, mas que no universo do púbico

participante, apenas 18,2% conseguiram definir com acerto o animal em destaque.

A segunda questão aborda de forma direta e simplificada o tema principal: “A perereca vive no caminho do arco. Qual a solução desse impasse?”. Dos respondentes, 44,5% acreditam que, por se tratar de uma área protegida que apresenta uma espécie

endêmica, a perereca deveria ser preservada; 23,9% acreditam que os benefícios sociais

e urbanos provenientes da obra justificam a perda da espécie; e 31,5% acreditam que a

perereca deve ser salva pela possibilidade de seu uso medicinal.

Percebe-se que o público é sensível ao fato de se tratar de área protegida, Floresta

Nacional Mário Xavier, e de apresentar uma espécie endêmica. Estes motivos são suficientes

para preservar a área e a espécie animal. Quanto aos possíveis ganhos sociais e urbanos, os

respondentes não se mostraram sensíveis. Pode-se inferir que o espaço onde o Fórum foi

aplicado, Museu do Meio Ambiente, possa ter exercido influência sobre a platéia uma vez

que, durante as discussões, foram levantados argumentos significativos em relação ao

desenvolvimento da região promovido pela rodovia e, consequentemente, a melhoria na

qualidade de vida dos moradores; “a realização de uma obra desse tamanho vai ser bom pra região porque traz água, luz, esgoto, e ainda deixa a rua mais limpa e ajeitada” – explica mulher entre 22 e 32 anos, ensinio fundamental incompleto.

Esta preocupação é significativa uma vez que o Arco vai atingir oito diferentes

municípios com demandas significativas com relação a obra de saneamento básico, oferta de

(19)

acharam que a obra teria uma função social muito maoir que a preservação de um animal.

Mesmo com todos os benefícios que a obra proporcionará, o número de votantes neste ítem

foi o mais baixo. Este resultado pode estar associado à questões ambientais que surgem na

mídia, ressaltando mudanças ambientais que o planeta vem enfrentando. Este é um tema que

preocupa a população, embora poucas pessoas consigem relacionar perdas ambientais com

os fenômenos recentes de mudanças climáticas, desertificação, entre outros.

Quanto a possibilidade de benefícios medicinais a partir da perereca, nota-se um

interesse grande na preservação do animal, porém, agora não mais por seu valor intrínseco,

mas por ser um recurso de uso direto para a espécie humana. Questão esta muito presente

nas discussões sobre meio ambiente e conservação ambiental. As pessoas conseguem

identificar valor em questões diretamente ligadas à elas, como remédios e alimentação mas,

muitas vezes, não são capazes de se manifestar quanto aos recursos que não demonstrem utilidade direta para o homem; “acho importante preservar a perereca, pode ser que descubram a cura de alguma doença através dela (…) se existir essa chance, é melhor preservar o bichinho”(homem, faixa etária 22 a 32 anos, universitário).

A última questão proposta foi “Como conciliar os benefícios sociais decorrentes tanto da diversidade biológica, quanto da construção do Arco?”. A posição da maioria, 56,4%, é pela paralisação da obra e realização de mais estudos afim de conhecer melhor

a área e minimizar perdas. A segunda, com 23,3% dos votos, propõe que o

desenvolvimento deva respeitar os limites da natureza e, portanto, a obra deve ser

interrompida. A última alternativa com 20,3% dos votos propõe continuar a obra uma

vez que empreendimentos desse porte, sempre acarretarão perda de diversidade.

Apesar da complexidade da questão apresentada, notamos que os votantes

tendem a defender as questões ambientais de forma ampla, muitas vezes minimizando a

importância do desenvolvimento e, portanto, da influência da construção do Arco na

melhoria da qualidade de vida da população do entorno, além de outras como o tráfego

da cidade e o escoamento de produtos.

Observamos nesta questão que a maioria dos votantes é a favor da paralização

das obras em função do arpimoramento de estudos sobre a perereca. Porém, ainda não é

possível afirmar que o interesse do público esteja no valor ecológico da espécie.

Contudo, é claro o interesse manifesto na descoberta do valor utilitário da espécie.

Podemos inferir que a possibilidade do animal ser um possível agente para solução de

problemas humanos, tal como o uso medicinal, sensibiliza a maior parte dos votantes.

(20)

mais intensos a medida que os indivíduos são subsidiados de informações que

circunstanciam a questão e a relacionam às diferentes dimensões da realidade, ampliam

seu poder de argumentação participando mais ativamente das discussões, em função do

estabelecimento de relações com seus contextos no mundo de vida que afloram muitas das vezes em “zonas de troca” pré-estabelecidas.

Durante a aplicação dos Fóruns é fácil identificar a participação do público

através dos desdobramentos das discussões, das mudanças de opiniões e das defesas

apresentadas à cada afirmativa.

É importante destacar a satisfação e o sentimento de pertencimento desenvolvido

pelas pessoas quando são chamadas à participação. Na maioria das colocações é

possível notar o desejo pela informação, pela valorização do indivíduo e pela

possibilidade de se proporcionar espaços onde a sociedade é chamada a opinar sobre o

desenvolvimento de projetos diretamente ligados a sua qualidade e estilo de vida.

O fato dos votantes se sentirem portadores de voz, isto é, que seus argumentos

podem provocar mudanças, ou até mesmo, chamar a atenção para aspectos importantes

antes negligenciados, despertando reflexões importantes para a melhoria da qualidade

de vida, influência nas decisões sociais, culturais, ambientais do município, da cidade,

do bairro, imprime valor às falas de cada participante. Demonstra o valor da

participação, do conhecimento e do respeito pelos responsáveis por decisões muitas

vezes difíceis, mas que precisam ser tomadas.

Assim, pode-se considerar o Fórum como uma oportunidade de ancorar a

comunicação na sociedade sem, contudo, deixar de trazer fatos e teorias científicas

sobre questões ambientais para a discussão pública. O Fórum Ambiental sobre

biodiversidade mostra-se uma experiência importante que comprova o anseio da

sociedade pelo conhecimento sobre os problemas da cidade, além da possibilidade de

participar diretamente de discussões que são necessárias para a tomada de decisão.

O desenvolvimento de Fóruns ambientais nos leva a acreditar que o visitante,

quando exposto a diferentes tipos de informação, quais sejam, científicas, políticas,

jornalísticas ou, até mesmo de cunho pessoal, identificam diferentes representações

acerca do mesmo tema, incrementando práticas e se apropriando dos meios de

divulgação da ciência. Os conflitos gerados a partir das diferentes visões que surgem

nas discussões, entram em jogo e evidenciam diferentes formas de apropriação do fato

científico ou de teorias científicas, que se apoiam em argumentações que emergem nos

(21)

O Museu, se apropriando do debate entre seus visitantes, cria um espaço

democrático e inovador, ao mesmo tempo em que se apresenta como um veículo

facilitador da disseminação da informação científica. Desta forma, propõe-se um espaço

para o debate e participação da sociedade sobre os desafios que se colocam frente a

demanda por recursos naturais e a ocupação de espaços pelo crescimento das cidades.

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