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Mercado de trabalho biblioteconômico na cidade de São PauloEspaço Discente
Mercado de trabalho biblioteconômico na
cidade de São Paulo
Carla Regina Mota Alonso Diéguez
Docente da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo
Doutoranda em Ciências Sociais - Universidade Estadual de Campinas, UNICAMP E-mail: carlaregina@fespsp.org.br
Marta Regina da Silva
Bacharel em Biblioteconomia e Ciência da Informação pela FESPSP E-mail: kaylle@hotmail.com
Resumo: Este artigo apresenta parte do último capítulo do Trabalho de Conclusão de Curso “Competências
Profissionais do Bibliotecário: um olhar sobre o mercado de trabalho a cidade de São Paulo”, apresentado à
Faculdade de Biblioteconomia e Ciência da Informação da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo - FESPSP em dezembro de 2011. Este trabalho teve por objetivo verificar se há lacunas entre as competências desenvolvidas na formação de Biblioteconomia da cidade de São Paulo e as competências demandadas pelo mercado. Para isso, foi preciso conhecer o mercado, e devido à escassez de dados sobre mercado de trabalho, buscamos informações na base de dados RAIS, que pudessem expor como o mercado de trabalho está distribuído na cidade de São Paulo.
Palavras-chave:Profissional da informação; Biblioteconomia; Mercado de trabalho
INTRODUÇÃO
Este trabalho é parte do Trabalho de Conclusão de Curso “Competências profissionais do Bibliotecário: um olhar sobre o mercado de trabalho na cidade de São Paulo”. Este trabalho teve por objetivo visualizar se as competências desenvolvidas na formação em nível superior do Bibliotecário estão alinhadas com as competências demandadas pelo mercado. Para isso, construímos uma estrutura que era composta pelo contexto histórico, competências e mercado de trabalho.
Lacombe (2004, p. 209) nos oferece algumas definições de Mercado, entre as quais destacamos a seguinte:
Grupo de compradores e de vendedores, reais e potenciais - de determinado produto, serviço, conjunto de produtos, conjunto de serviços ou conjunto de serviços e produtos- que têm necessidades ou desejos desses produtos ou serviços e que possuem contatos suficientemente próximos para que suas trocas afetem as condições de compra e venda dos demais. Existe mercado quando compradores que pretendem trocar dinheiro por bens e serviços estão em contato com vendedores desses mesmos bens e serviços.
Sendo assim, entendemos por mercado de trabalho biblioteconômico um grupo de compradores reais ou potenciais, representados por instituições que necessitam dos serviços de informação oferecidos pelos discentes e egressos de Biblioteconomia e Ciência da informação.
Para podermos entender o mercado de trabalho biblioteconômico, buscamos informações e apenas encontramos pesquisas isoladas e bibliografia em relação ao histórico deste tema. Sendo assim, recorremos ao Conselho Regional de Biblioteconomia do Estado de São Paulo - 8ª Região para verificar a existência de dados sobre a quantidade de bibliotecários na cidade de São Paulo e suas respectivas áreas de atuação.
Em resposta a nossa solicitação, a atual presidente do Conselho nos informou que não é possível informar a quantidade de bibliotecários da cidade de São Paulo, pois os bibliotecários não informam as mudanças de emprego. Também disse que o Conselho Federal de Biblioteconomia está fazendo um levantamento nacional para definir o perfil, salário, competências, mas infelizmente até o momento menos de 40% dos bibliotecários responderam a este levantamento, que está disponível na internet.
Dadas estas condições, recorremos a RAIS (Relação Anual de Informações Sociais), base de dados do Ministério do Trabalho e Emprego, que é composta por dados enviados anualmente por todas as empresas brasileiras. Segundo definição do Ministério do Trabalho e Emprego, a RAIS tem como objetivos: suprir as necessidades de controle da atividade trabalhista no País; prover dados para a elaboração de estatísticas do trabalho; e disponibilizar informações do mercado de trabalho às entidades governamentais.
1. METODOLOGIA
A metodologia da pesquisa aplicada a este trabalho foi à recuperação na base de dados, exposição dos dados em gráficos, e posterior análise dos dados oficiais disponibilizados pela RAIS. Na base de dados da RAIS pudemos ter acesso a informações relevantes sobre mercado de trabalho, pois esta base integra informações do CAGED (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados), CBO (Cadastro Brasileiro de Ocupações), IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) e da Classificação Nacional de Atividades Econômicas (CNAE).
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Mercado de trabalho biblioteconômico na cidade de São Paulo2612-05 – Bibliotecário (Biblioteconomista, Bibliógrafo, Cientista de informação, Consultor de informação, Especialista de informação, Gerente de informação, Gestor de informação).
2612-10 – Documentalista (Analista de documentação, Especialista de documentação, Gerente de documentação, Supervisor de controle de processos documentais, Supervisor de controle documental, Técnico de documentação, Técnico em suporte de documentação).
2612-15 - Analista de informações (pesquisador de informações de rede)
Relacionando os dados da Família Ocupacional 2612 a outros critérios de busca, e tendo como escopo a cidade de São Paulo, chegamos ao total de 4.654 profissionais da informação, cujos gráficos e análises são apresentados a seguir.
2. ANÁLISE DE DADOS
Relacionamos o profissional da informação da cidade de São Paulo com os grandes setores da economia definidos pelo IBGE.
Gráfico 1 – Quantidades de profissionais da informação organizados pelos setores da economia do IBGE
Fonte: RAIS 2010
Em uma nova busca, relacionamos os dados da Família Ocupacional 2612 com a cidade de São Paulo e com os setores da seção de atividade econômica segundo a CNAE 2.0.
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Mercado de trabalho biblioteconômico na cidade de São PauloFonte: RAIS 2010
Tabela 1 - Quantidades de profissionais da informação organizados pelas seções da economia do CNAE 2.0 de 2010
Seção Descrição CNAE Porcentagem de profissionais
da informação
A Agricultura, pecuária, produção florestal, pesca e aqüicultura 2
B Indústrias extrativas 1
C Indústrias de transformação 187
D Eletricidade e gás 27
E Água, esgoto, atividades de gestão de resíduos e descontaminação 0
F Construção 56
G Comércio; reparação de veículos automotores e motocicletas 499
H Transporte, armazenagem e correio 36
I Alojamento e alimentação 5
J Informação e comunicação 380
K Atividades financeiras, de seguros e serviços relacionados 419
L Atividades imobiliárias 10
M Atividades profissionais, científicas e técnicas 833 N Atividades administrativas e serviços complementares 1132 O Administração pública, defesa e seguridade social 122
P Educação 636
Q Saúde humana e serviços sociais 113
R Artes, cultura, esporte e recreação 21
S Outras atividades de serviços 174
T Serviços domésticos 0
U Organismos internacionais e outras instituições extraterritoriais 1
Total 4654
Fonte: RAIS e IBGE
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Mercado de trabalho biblioteconômico na cidade de São PauloTabela 2 – Seções econômicas e suas divisões do CNAE 2.0 de 2010 de atuação não convencional dos profissionais da Informação
Seção Divisão Descrição
M 69 Atividades jurídicas, de contabilidade e de auditoria
M 70 Atividades de sedes de empresas e de consultoria em gestão empresarial
M 71 Serviços de arquitetura e engenharia; testes e análises técnicas
M 72 Pesquisa e desenvolvimento científico M 73 Publicidade e pesquisa de mercado
M 74 Outras atividades profissionais, científicas e técnicas M 75 Atividades veterinárias
N 77 Aluguéis não imobiliários e gestão de ativos intangíveis não financeiros
N 78 Seleção, agenciamento e locação de mão-de-obra
N 79 Agências de viagens, operadores turísticos e serviços de reservas
N 80 Atividades de vigilância, segurança e investigação N 81 Serviços para edifícios e atividades paisagísticas
N 82 Serviços de escritório, de apoio administrativo e outros serviços prestados principalmente às empresas
Fonte: RAIS e IBGE
No geral, pudemos observar que as seções econômicas que mais contratam os profissionais da informação são os serviços administrativos com 24%, seguido de atividades técnicas com 18%, Educação com 14% e as demais seções econômicas variam de 0 a 11%. Interessante observar que os bibliotecários podem estar em áreas tradicionais, como pesquisa e desenvolvimento científico, mas também atuam em escritórios de engenharia, de advocacia e em consultorias de gestão empresarial, o que mostra a flexibilidade de atuação do profissional da informação.
Gráfico 3 – Quantidade de Tipo de vínculo empregatício dos profissionais da informação em 2010
Fonte: RAIS 2010
Neste gráfico podemos perceber a predominância do vínculo celetista, ou seja, de emprego regulamentado, e uma quantidade ínfima de outros tipos de vínculos, mostrando que a profissão encontra bom enraizamento no mercado formal, com baixa flexibilização das relações de trabalho.
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Mercado de trabalho biblioteconômico na cidade de São PauloGráfico 4 – Faixa de remuneração dos profissionais da informação em 2010
Fonte: RAIS 2010
CONCLUSÃO
A pesquisa que originou este artigo teve por objetivo compreender o conceito de competência, sua aplicabilidade no mercado de trabalho e a construção das competências do profissional bibliotecário e conseqüente recepção destas no mercado de trabalho. Neste sentido, foi necessário visualizar um contexto mercadológico que nos permitisse observar em quais áreas econômicas o profissional da informação está inserido, dando enfoque para as áreas não convencionais, assim como verificar qual a faixa de remuneração e tipos de vínculo empregatício deste profissional.
Fomos surpreendidos com o alto número de profissionais da informação atuando em áreas não convencionais da Biblioteconomia, o que demonstra a necessidade dos cursos da área de Biblioteconomia repensar sua formação não apenas para a colocação de profissionais no mercado tradicional, com competências e habilidades destas áreas, mas, principalmente, observar as demandas colocadas pelo mercado não tradicional, o que poderá levar a reestruturação de grades curriculares e projetos pedagógicos, visando à expansão da atuação deste profissional.
atividades do bibliotecário. Os órgãos de classe só podem atuar a favor de suas categorias se estiverem municiados por bons dados, o que, infelizmente não encontramos no CRB, não por culpa do órgão, mas pelo fato dos bibliotecários não estarem preocupados em auxiliar o seu conselho fornecendo dados sobre seus problemas, avanços e desafios.
REFERÊNCIAS
IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Pesquisa CNAE. Disponível em: <http://www.cnae.ibge.gov.br/ > Acesso 23. set. 2011.
LACOMBE, Francisco José Masset. Dicionário de administração. São Paulo: Saraiva, 2004. p. 209-210.