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TRAÇOS DA HISTÓRIA DO OESTE DE SANTA CATARINA

ALOisIO RUSCHEINSKi"

RESUMO

O presente artigo trata de elencar alguns traços históricos dos primórdios da ocupação do espaço geográfico do Oeste de Santa Catarina. Aponta para a forma diluída com que se apresentava a presença do homem, até que por uma decisão histórica o governo federal intensificasse as concessões de terras em grandes extensões e a expansão da fronteira agrícola

pressionasse do lado sul. Tudo isso remeteà intervenção do

Estado, seja na concessão ou na atribuição de títulos de propriedade. O artigo ainda tenta apresentar uma amostragem da formação de centros de colonização, alude a um conjunto de conflitos advindos do processo de ocupação, assim como delineia o relacionamento daquele empreendimento com o mercado, com a acumulação do capital comercial. Finalmente discorre sobre duas lutas sociais recentes a propósito da sobrevivência a partir da posse da terra.

1 -INTRODUÇÃO

o

texto a seguir é parcela do resultado de uma extensa pesquisa realizada no Oeste de Santa Catarina a propósito da luta pela terra. Tomei em consideração para a elaboração deste texto fontes as mais diversas, desde entrevistas, jornais, até os poucos livros que porventura traçaram pequenas referências à história daquela região. Convém que se diga: tal pesquisa realizou-se ainda na década de 1980, e desde então muitos novos fatos vieram à luz, inclusive outros estudos mais brilhantes do que o Presente podem estar disponíveis aos leitores ávidos da manutenção da IYIemóriahistórica.

Diga-se de passagem que, por ocasião do levantamento de dados SObre a história da Região Oeste de Santa Catarina, fiquei tomado de ~ombro com a dificuldade de coletar dados fidedignos, a ausência de dados -borados. Isso tendo em vista que naquele momento parecia uma tragédia

é ju e a memória de uma vasta história, por sinal rica, estivesse destinada ao

~

-Sociólogo, Professor do Dep. de Educação e Ciências do Comportamento - FURG.

, Rio Grande, 8: 159 - 178, 1996.

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desaparecimento Por essa razão são louváveis as iniciativas no intuito de assegurar às futuras gerações as condições de rever e reter a memória das lutas sociais de um passado recente e sem o qual não seriam o que hoje

representam.

Os agentes do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra, muito ativos nessa região do estado de Santa Catarina, ao dedicar-se de corpo e alma à luta social, realizam uma tarefa inestimável, até pelo fato de dedicar parte desse precioso tempo à elaboração de boletins e jornais relatando a

trajetória do seu cotidiano

GFEDCBA

1

A Região Oeste de Santa Catarina (SC) é denominada Região Extremo Oeste pelos políticos e na divisão regional do IBGE é denominada Região Colonial do Oeste catarinense, compreendendo 34 rnunicípios,

enquanto pelos mapas do INCRA compreende 36 municípios. Na descrição histórica da Região Oeste, através do processo de ocupação, destacam-se os seguintes momentos fins do século XIX, o início da ocupação, pelo caboclo, a atuação do Estado, as modificações da década de 30, o crescimento na época de 1940 a 1960 e a situação de algumas lutas sociais

mais recentes.

2 _ TRAÇOS HISTÓRICOS PRÉVIOS À COLONIZAÇÃO

A história da ocupação terntorial do Oeste de SC após a diluída e esporádica de tribos indígenas, antecede ao Início do s. ..JIO com esparsos acontecimentos histórico-políticos. A definição dos limites geográficos remete ao final do século XVIII, quando da delimitação das fronteiras entre Argentina e Brasil, se bem que a constituição do Estado do Paraná seja posterior à instalação da província de Santa Catanna. Ao que tudo indica, o estabelecimento das fronteiras coincidiu com a declaração dos limites entre os estados de Santa Catarina e Rio Grande do Sul.

A disputa pela posse da terra entre índios e exploradores vindoS do norte, via Palmas (PR), do sul (RS) e do leste (SC), permanece intensa

1 Por insistência de alguns colegas de trabalho, cuja preocupação volta-se para a

recuperação de toda literatura e dados sobre a história e os processos sociais, decidi oferecer

ao público, embora muito restrito, esta versão do texto que antes constitui um relatório de

pes-quisa. Todavia, como não tenho pretensões neste momento de aprofundar a pesquisa, pOIS

tenho outras em andamento. às quais tenho dado prioridade, tomei a decisão por causa dessa

insistência de tomar público este relatório.

Agradeço aos colegas que recentemente incentivaram-me a tornar público est~

relatório. aos militantes do MST que contribuiram com as entrevistas e com o acesso pa

rcla

ao seu arquivo. às pessoas que ofereceram seus prêstimos, como na visita aos lugares

fU~-damentais da cena histórica. à Comissão Pastoral da Terra, enfim menciono a FAPESP pe o

financiamento do projeto de pesquisa ao longo dos anos.

BIBLOS. Rio Grande. 8' 159 - 178. 1996

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até as primeiras décadas do presente século, em grandes extensões e inclusive com lutas armadas. Isto é, entre as primeiras atividades produtivas do "homem branco" podemos citar a dos madeireiros, que escoavam o produto principalmente por via fluvial e via férrea, os criadores de gado, com exploração extensiva dos campos naturais em parcela da região, os criadores de porcos, que traziam manadas na época de maturação do pinhão, por certo encontrado em abundância. Após, merecem destaque os especuladores de terras provenientes de São Paulo e do Paraná."

Vestígios desses grandes especuladores se fazem presentes ainda hoje em conflitos fundiários, como no caso da Fazenda Burro Branco. Em 1906 o governo do estado do Paraná fez a doação da área; parte foi colonizada e outra entrou em litígio familiar alguns anos depois. Como também é o caso da localidade de Baronesa de Limeira, no município de Chapecó, cuja proprietária, do mesmo nome, residia em São Paulo e colonizava grandes extensões na região oeste catarinense. Foi a mesma que loteou as terras índígenas da Sede Trentin, que também foi cenário de mobilizações na virada das décadas 70/80, passando por um processo de regularização fundiária de suas terras, restituindo parcela à população original.

O primeiro contingente de colonizadores foi o setor populacional denominado "caboclo", o mais significativo antes das firmas colonizadoras com ocupação efetiva de todo o território. O caboclo atingiu o interior, principalmente utilizando como acesso os rios ou algumas estradas precárias. No mais das vezes esse contingente vivia de pequenas roças, caça, extração da erva-mate, criação de gado para os latifundiários. O elemento caboclo vem a ser marginalizado ou retira-se com a migração movida pelas colonizadoras. Os campos de Chapecó e adjacências foram explorados de forma extensiva por fazendeiros desde a metade. do século XIX. Criavam gado nos campos nativos ou porcos tratados com o pinhão da araucária, abundante na região.

Uma estrada atravessava a região desde longa data, ligando os campos do Rio Grande com os de Palmas (PR), passando por Passo Borman (às margens do rio Uruguai), Chapecó e Xanxerê. Tal estrada conduzia principalmente o escoamento da produção, como a madeira, os rebanhos de gado e de suínos. A atuação de órgãos do Estado, c rmo fiscalização, impostos, mediação e educação pública permanece quase totalmente ausente até a criação do primeiro município, cuja sede é a cidade de Chapecó.

• 2 Algumas fontes bibliográficas foram utilizadas ao longo do texto, mas não

espe-Cificadas: ENCICLOPÉDIA dos municípios brasileiros. Rio de Janeiro. IBGE. 1959, vol. 32;

vá-:8

artigos com referências esparsas sobre a história da região e publicados no jornal

TSRQPONMLKJIHGFEDCBA

D iá r io

M a n h ã , da cidade de Chapecó; informações esparsas coletadas em publicações do Incra,

Prefeitura de Chapecó, secretariado diocesano de Pastoral, CPT, MST e entrevistas informais.

' o s .Rio Grande. 8: 159 _ 178, 1996.

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A ocupação extensiva da região central do estado de Santa Catarina, com influência sobre a região Oeste, representada pela extração da madeira, erva-mate, criação de gado e lavouras de subsistência, foi atingida pela construção da ferrovia São Paulo-Rio Grande do Sul. Principalmente o vale do Rio do Peixe foi tumultuado pela construção da estrada de ferro, por mais incipiente que se apresentasse a ocupação por pecuaristas e posseiros. O trecho catarinense foi iniciado em 1908. A construtora responsável por tal obra histórica denominava-se Sindicato Farquhar, cuja recompensa pela realização das obras, em tempos de magros cofres públicos, foi o equivalente a nada menos que quinze quilômetros de terra de cada lado da ferrovia. Isso sem levar em conta qualquer posse anterior, afirmando-se na força dos decretos públicos federais de 1889 e 1890. A apropriação das terras pelo respectivo sindicato desalojou muitos posseiros já ali instalados. Inclusive veio a atingir trabalhadores introduzidos para as obras da ferrovia, que foram abandonados ali após o término dos trabalhos de construção da ferrovia.

A região considerada primordialmente no presente estudo situa-se a oeste da estrada de ferro, cuja construção deu origem ao movimento social camponês denominado "Contestado", como tem sido estudado por cientistas de diversas áreas do conhecimento. Os acontecimentos em torno da ferrovia e da concessão de terras geraram um episódio ou uma tragédia compreendida por diversos autores pela sua face de guerra santa. Essa luta social, empreendida pelo contingente populacional do contestado (1912-1916), tinha por base uma ideologia utópica - a construção de uma nação, de uma terra liberta movida por princípios religiosos. Tais fatos, ocorridos no território da área contestada, empurram parte da população na direção oeste. Esse contingente populacional põe em prática uma colonização espontânea, conformando uma presença do que se denomina caboclo. Aliás, toda a região Oeste de Santa Catarina atual era uma região contestada no início do século, sendo disputada pelos estados de Santa Catarina e do Paraná, por mais que as respectivas divisas tivessem sido definidas anteriormente. A razão dessa disputa por parte do Paraná provém do fato já citado, era uma reivindicação de colonizadores e pecuaristas que provinham daquele estado e que não possuíam referência com o litoral catarinense.

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3 -A PRESENÇA DO ESTADO NACIONAL

A preocupação principal do governo federal resume-se na segurança territorial, pois foi uma área envolta em longa disputa com a Argentina. Em função disso ocorreu a instalação da colônia militar e111 Chapecó e de um posto de controle em Barracão, em meados do séculO

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BIBLOS, Rio Grande, 8: 159 _178,1996·

passado. As terras da região Oeste de Santa Catarina e Paraná, embora de posse pelo Brasil, eram contestadas pela Argentina, até a assinatura do acordo de 1895. A solução desse conflito foi mediada pelo presidente Cleveland dos EUA. Posteriormente surge a cidade de Clevelândia (PR), como forma de afirmar a permanência da memória daquele acordo histórico. Após a solução do conflito com a Argentina, urge que o Brasil proteja aquela região, levando á abertura de vias de comunicação, destacamentos militares, povoados e colonizações.

Após tal acordo entre países vizinhos, permanecem as pretensões em face de uma possibilidade de disputa dessas terras entre Santa Catarina e Paraná, sendo denominadas terras contestadas, como citado acima. Por ocasião do término do conflito do contestado, por meio da presença visível do exército nas imediações, refaz-se o acordo para a determinação dos limites entre os dois estados. A localidade de Barracão (PR), na divisa com a Argentina, Paraná e Santa Catarina, surge exatamente a partir de um acampamento fronteiriço instalado para garantir o território. Na divisa com o Rio Grande do Sul, ao longo do rio Uruguai, surgem no início do século vários núcleos colonizadores promovidos por gaúchos.

A presença do Estado junto à frente pioneira visualiza-se na criação de distritos nos povoados. Juridicamente a região Oeste dependeu de Palmas até 1916, inclusive a Igreja Católica manteve a mesma configuração organizacional até meados da década de 50. Isto se deve em grande parte à fragilidade do governo estadual e à ausência de vias de comunicação com o litoral, onde se situa a capital. O acerto dos limites estaduais finalmente define-se sob a presidência de Venceslau Brás. Em 1917 é instalada a primeira sede municipal em Passo Borman, posteriormente transferida para Chapecó, sendo o primeiro superintendente municipal o Cel. Manoel dos Santos Marinho. Há praticamente uma coincidência de datas entre o término da guerra do Contestado, o derradeiro estabelecimento das divisas estaduais e a instalação da administração pública municipal em Chapecó.

A ocupação pelos caboclos, com agricultura de subsistência, não resultou em colonização efetiva. Isso por sua forma de produção e por serem em número insuficiente: quando as terras se cansavam ou tornava-se difícil o cultivo por causa da macega (mato), seguiam mais adiante. Não se empenhavam pela propriedade da terra, até por desconhecerem a legislação, encontrarem-se distantes das instâncias judiciais, sendo assim freqüentemente tocados pelos pecuaristas.

. Outras formas de ocupação extensiva são a criação de gado, sU.InOS e a madeira. A criação de gado ocorre nos campos naturais, pnncipalmente na altura da estrada de Palmas a Passo Borman (às margens do Rio Uruguai, divisa sul do estado). A extração da madeira é efetuada por

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particulares ou companhias, numa ação predatória, espoliadora e seletiva, e não constitui propriamente uma tentativa de produção a partir da terra ou ocupação territorial. As principais madeiras visadas eram a erva-mate, para extrair o chá da folhas, e o pinheiro, transportado pelas balsas dos rios ou

pelas picadas mato afora. O rebanho suíno tem sua importância devido

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à

engorda da manada via safra do pinhão e também pelo sistema dos safristas, mais típico na altura da divisa do estado de Santa Catarina com o Paraná". Essas formas de ocupação territorial podem ser consideradas como um processo de colonização espontâneo, mas durante o qual se leiloam terras para companhias, quer promovessem colonização quer não, e para latifundiários. O processos efetivo de colonização e desenvolvimento sócio-econômico teve seu incremento maior a partir da década de 30.

Outro traço histórico, ocorrido na região na terceira década deste século, é a passagem da histórica ou lendária Coluna Prestes, referenciando a conexão com o cenário nacional. A coluna Prestes atravessou a região Oeste de Santa Catarina no início de sua trajetória pelos quadrantes do território brasileiro e efetivou tal façanha próximo à divisa com a Argentina, onde posteriormente se situam os municípios de Mondaí, Iporã do Oeste, Descanso, São Miguel do Oeste, Cedro e Dionísio Cerqueira. Em 13 de abril de 1926, quando o contingente agregado pela Coluna Prestes" decide atravessar o Rio Uruguai, proveniente do planalto rio-grandense, passando do Rio Grande do Sul para Santa Catarina, já encontrava em Porto Feliz uma pequena colonização formada por alemães. Ali existiam canoas, lancha a motor e balsa, que foram meios muito importantes no auxílio da coluna na travessia do rio. O povoado formado pela recente colonização não ofereceu resistência às tropas e entregou suprimentos e equipamentos requisitados para 1000 a 1500 homens.

A coluna atravessa todo o Oeste de Santa Catarina em plena selva, com muita dificuldade, apesar da caça e do pinhão, a principal fruta encontrada. Demora-se alguns meses numa área próxima à divisa entre Paraná e Santa Catarina, em função de combates e negociações

3 Os safristas eram aqueles empreendedores que mandavam derrubar grande

quantidade de mato, plantavam milho, na época da maturação do produto reuniam uma

manada e quando findava o milho como alimento recolhiam os porcos para a venda. No ano

seguinte repetiam o processo. Essa forma vingou sobretudo nos municípios ao longo da divisa

com o Paraná.

4 Cf. Macaulay, Neill. ATSRQPONMLKJIHGFEDCBAC o lu n a P r e s t e s . São Paulo: Ed. Difel, 2. ed., s ld , p. 78-87.

Existem várias outras referências sobre a trajetória da referida marcha nacionalista pelo

território brasileiro. Os dados sobre a coluna prestes estão aqui porque através deles se

visualiza a situação em que se encontrava a região naquele momento histórico. A passagem

da coluna ocorre numa época em que o estado está preocupado com a segurança territonal.

Estão iniciando as primeiras colonizações do oeste, evidentemente, sem contar a mais antiga,

que é da região de Chapecó.

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estratégicas frente às forças militares sediadas em Barracão e Foz do Iguaçu. Nesse período as tropas da coluna são alimentadas em parte com carne de gado extensivamente criado perto de Campo Erê (SC) e adJacências, Em memória da pretendida permanência prolongada da coluna nesses confins, mais tarde dá-se a um vilarejo a denominação de Descanso. por ocasião do estabelecimento dos limites estaduais, abre-se uma via de comunicação sobre a linha da divisa Santa Catarina e Paraná. A coluna toma tal rumo entre Barracão e Campo Erê e dali segue em direção norte, adentrando o estado do Paraná.

4 -O PROCESSO DE OCUPAÇÃO EFETIVA

Principalmente a partir da década de 1930, contingentes populacionais vindos do Rio Grande do Sul pressionam a ocupação mais efetiva daquele território catarinense. Aliás, a economia do Rio Grande do Sul influencia profundamente essa fase da colonização do Oeste. Com isso traça-se uma referência de que do lado norte não houve uma afluência populacional capaz de proporcionar a colonização efetiva. As raízes da economia do minifúndio provêm fundamentalmente por influência rio-grandense, ou melhor, de algumas regiões minifundistas desse estado, cujo excedente de mão-de-obra pressiona a migração para a busca de novas terras, reproduzindo um sistema específico de subsistência e de relacionamento com o mercado.

O processo de desenvolvimento das atividades econômicas ligadas

à pequena exploração agrícola contém no seu bojo a necessidade da incorporação de novas terras para continuar a sua reprodução. Resulta desse processo de transformação econômica um intenso movimento migratório no sentido de forçar a expansão da fronteira aqrlcola". É assim que a partir da década de 1930 a abertura da fronteira agrícola avança sobre o Oeste de Santa Catarina. Transplanta-se uma atividade agrícola desenvolvida na base da policultura agrícola e da pequena produção de caráter mercantil.

O empenho pela posse da terra pode se configurar e se concretizar como uma luta pela propriedade privada da terra, garantindo que

?

ocupante não seja expulso com o aparecimento de um proprietário Jurídico, ou pela apropriação privada dos meios de produção fundamental para a reprodução da agricultura em pequena produção mercantil. As Condições históricas de reprodução da agricultura são dadas mediante a frente de expansão que encontra terras disponíveis para incorporar ao

---~---( . 5 Cf. REGO, Rubens M. L. T e r r a d e v io lê n c ia . São Paulo, USP, lese de meslrado

Il'limeo), 1979, p. 42s.

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mercado. Convém lembrar a presença de famílias de numerosos membros, com justificava ideológica persistente e diversificada.

O contingente de população deslocado provém de ocupações mais antigas, onde, por razões diversas e conjugadas, as condições de sua reprodução são disputadas por um contingente que impossibilita (ou diminui) a garantia das condições de produção de sua subsistência. As condições de produção, em meio às colonizações de imigrantes europeus no sul do país, forjam migrantes em potencial.

As firmas colonizadoras jogam um papel fundamental no processo em análise. Fundadas na Lei de Terras, auferem por vias diversas a concessão de lotear grandes extensões de áreas a serem loteadas ou exploradas, um privilégio concedido pelo Estado às empresas para que explorem recursos naturais. A venda de terras loteadas representa um processo de acumulação de capital, pois o excedente produzido, seja nos locais de origem, seja na terra adquirida, vai parar nas mãos do empreendimento colonizador. O caráter mercantil da terra via colonização dirigida por empresas particulares se revela no fato de o agricultor já iniciar com dívidas ou pagar para poder produzir. Então se põe a produzir para recuperar o excedente empenhado ou pagar a renda social da terra. Além disso, freqüentemente as firmas reservam para si o direito de explorar a madeira de lei com determinada espessura existente sobre a área de terra vendida. Assim os poucos investimentos das firmas colonizadoras retornam de dupla forma, através da comercialização da terra, da exploração da madeira, da especulação imobiliária em cima de parte da área loteada.

Uma colonização alemã inicia em Mondaí em 1924, através da empresa Chapecó Peperi Ltda. Esse local, denominado inicialmente Porto Feliz, foi por muito tempo um porto de embarque de madeira de lei pela empresa ou a quem fosse concedido o direito de exploração. A via de transporte mais usual era as balsas pelo leito do rio Uruguai. Por sua vez, a Sociedade União Popular recebe licença de colonizar da empresa colonizadora Peperi, para o território do atual município de Itapiranga. Essa entidade, fundada por imigrantes alemães católicos, a partir .de 1926 atrai colonos de Santa Cruz do Sul e vale do Caí, principalmente. Em São Carlos atuou a Cia. Territorial Sul Brasil, enquanto as terras no município de Palmitos foram colonizadas pela empresa Colonizadora Oeste Ltda., que inicialmente fazia restrições à comercialização de terras para quem não fosse de Igreja Evangélica. Cito esses quatro exemplos como marcos importantes dessa colonização à margem do rio Uruguai, na longa lista das localidades fundadas através dos empreendimentos de ocupação do território. Os agentes colonizadores, sejam os intermediários de venda ou mesmo os donos das firmas, tornaram-se freqüentemente os setores que mais tarde, ao se constituírem os municípios, assumiriam o poder político.

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As famílias que afluem para a colonização do Oeste catarinense compõem-se na maioria dos casos em excedente de força de trabalho, para as quais a migração configurava a possibilidade efetiva de se encontrarem, em novas áreas da fronteira agrícola, as circunstâncias que seriam favoráveis para a reprodução das suas condições de produtores mercantis. Essa migração engendra um processo de reprodução, no qual produtores de mercadorias recriam e reproduzem formas e relações sociais de produção, com a possibilidade de apropriação de uma parcela maior do meio de produção fundamental - ou seja, a terra". Tudo isso sem olvidar a reprodução cultural conseqüente.

Entretanto, é interessante notar que tanto no início da colonização via imigrantes europeus no Rio Grande do Sul, quanto na colonização do Oeste, os lotes da terra por família eram em média superiores a 30ha, e no decorrer da ocupação do território ou após algum tempo de produção, a média da área de terra disponível à ocupação de cada família diminui gradativamente para 25, 20, 15, 12ha. Exemplos típicos dessa diminuição da área destinada

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à compra de cada família prevendo sua capacidade aquisitiva são os municípios de Romelândia e Anchieta, onde a média está em torno de 15ha por família. Nesse espaço geográfico pode-se considerar o reduto onde praticamente se conclui o processo de expansão da fronteira agrícola na Região Oeste catarinense.

O capital comercial em ação, na comercialização da terra e na aquisição da produção agrícola, ao mesmo tempo que proporciona as condições para recriar a existência da pequena agricultura, impõe também a expropriação. A questão da comercialização de áreas menores de terra por famílias não significa propriamente um empobrecimento, senão que no contexto social há presença de indivíduos dispostos a pagar um preço mais alto pela terra, tendo em vista tanto o esgotamento das terras disponíveis quanto o crescimento da comercialização de produtos. Esses fatores exercem uma pressão sobre a terra, elevando o seu valor social.

A comercialização da produção auferida por meio do trabalho familiar passa por um processo de transformação. Se inicialmente o mercado absorvia milho, feijão e madeira, num segundo momento entra em

e ç ã o o ciclo do milho-suíno para a venda da banha e, posteriormente, o porco em pé e a soja. Há estabelecimentos agrícolas que permanecem na cOmercialização direta daquilo que colhem. As condições de recriação da pequena propriedade mercantil se devem ao crescimento da absorção de gêneros alimentícios em nível nacional, estes por sua vez oriundos da POlicultura praticada pela economia colonial. A análise do processo de efetiva colonização do Oeste de Santa Catarina permite afirmar que a

---~---6 Cf. Idem, p . 1345.

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economia agrícola ali implantada se configura subordinada ao capital comercial, o que por sua vez é fonte de implicações políticas e ideolÓgicas.

5 -A EXPANSÃO POPULACIONAL E POLíTICA

Ao longo do processo de colonização surgem focos de conturbação social, seja pela indefinição fundiária e pela constituição de posseiros, seja pela duplicação de concessões a colonizadoras e, inclusive, também de titulações jurídicas de terras adquiridas. Se numa área colonizada por determinada companhia de terras ocorriam conflitos de ordem diversa ou declarada e pública ilegalidade da respectiva comercialização, com problemas nas escrituras passadas ao comprador, tal notícia se espalhava nos locais de origem dos migrantes. Assim sendo, no mais das vezes, só quem não possuía alternativa melhor se aventurava naquele espaço. O contrário já ocorria com áreas devolutas ou das quais não houvesse quem reclamasse a propriedade, onde por certo o espírito aventureiro ou o destino histórico punha-se de antemão em jogo ante futuros conflitos. Se bem que a tradição legalista dos descendentes de imigrantes europeus tende-se a colocar enormes impedimentos

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à migração para terras que não possuíssem a garantia da condição legal.

A intervenção do Estado na colonização se caracteriza pelo favorecimento do capital comercial, através das concessões de grandes extensões de terras e pelo estabelecimento de órgãos governamentais nos diversos núcleos urbanos, entre eles os cartórios de registros. Assim sendo, por mais frágil que seja a presença como poder político governamental, contribui para a reprodução e recriação da pequena propriedade produtora de alimentos. Outra forma de presença do Estado, de uma forma mais declarada do comportamento político, viabiliza-se através da constituição dos distritos e das sedes municipais.

O crescimento populacional nas décadas 1940-50, via fluxo migratório, primordialmente, processa-se sobretudo no sentido do sul para o norte. Se o primeiro município foi criado em 1917, somente no início da década de 50 são criados outros 9 municípios, sobretudo ao longo do rio Uruguai. Tal fato aponta para o percurso histórico da ocupação efetiva, assim como refere-se ao tipo específico da presença do Estado, seja como controle político, seja como reivindicação organizativa da respectiva população. Em função do crescimento populacional, que tem como conseqüência a formação de núcleos urbanos, instala-se um total de 17 municípios em 1958. A efetiva colonização está expressa nesse processo de pressão demográfica sobre as terras disponíveis e tem como um dos produtos de organização política a criação de sedes municipais.

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Episódio histórico pouco destacado na memória avivada é a curta existência do Território do Iguaçu, que por certo pouco alterou o cotidiano do comportamento político ou mesmo ficou aquém de uma implantação configurada. Em 1943, sob a vigência do regime autoritário comandado por Getúlio Vargas, foi criado o Território Federal do Iguaçu, compreendendo toda a região Oeste de Santa Catarina e Sudoeste do Paraná. O referido territôrio fora criado sob o governo de Vargas com a justificativa política de precaver-se do expansionismo populista de Perón, na vizinha nação Argentina, sem esquecer as inúmeras determinações das fronteiras entre os dois países. A breve existência política do Território durante o Estado Novo não teve maiores influências políticas propriamente ditas, antes na forma da colonização, e dessa maneira a região foi alvo de novas especulações imobiliárias favorecidas pelo intuito do próprio governo federal. Com a criação do território, o governo chama mais ainda a si o direito de distribuir terras na região, assegurando a integridade do espaço geográfico da nação. O Território do Iguaçu foi extinto pela Constituição Federal de 1946, mas os problemas gerados pelas concessões de imensas extensões de terras a grupos econômicos e políticos ficou como herança.

O Sudoeste do estado do Paraná constitui uma área colonizada na seqüência da expansão da fronteira agrícola para além do território catarinense, por onde passa o contingente populacional que para lá se dirige provindo do Rio Grande do Sul ou evadindo-se de Santa Catarina. Parcela daquela região paranaense é palco de conflito social, numa extensão que vai de Capanema a Francisco Beltrão. A motivação básica são as terras em litígio, onde uma luta social trava-se entre os anos de 1957 e 1961, cuja abrangência histórica torna o fato conhecido pela população do Oeste de Santa Catarina.

Com este panorama podemos seguir para o próximo passo da análise dos traços da história que aqui importa - elaborar um breve apanhado histórico de algumas lutas sociais, que num período mais recente obtiveram destaque. Isso sem contar a história da organização recente do Movimento dos Sem Terra e as lutas sociais aí levadas a público. Freqüentemente torna-se necessário fazer referência à organização de lutas sociais também em outros estados. Os dados históricos apresentados tendem a restringir-se à região descrita e incorporando os fatos mais relevantes para o processo histórico da região.

6 - O CONFLITO ENTRE íNDIOS E COLONOS

O primeiro, conflito social a que passamos a dar destaque é de ordem menos momentânea do que parece, tendo em vista que outros fatos terão marcado a história do Oeste catarinense. A maioria das históricas

BIBlOS, Rio Grande,6 : 1 5 9 - 1 7 6 . 1 9 9 6 .

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tensões entre remanescentes de origem indígena e desbravadores brancos ou destruidores da natureza perderam-se no tempo, até porque o Oeste catarinense nunca teve um contingente populacional significativo de povos indígenas.

Reconhecidamente o estado de Santa Catarina está entre as unidades da federação com a estrutura fundiária mais estável nos últimos 30 anos e com distribuição mais eqüitativa da terra entre os respectivos proprietários. No entanto, na década de 1980 a imprensa registrou mais de 20 conflitos fundiários. O INCRA, em suas diversas formas de

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a ç ã o " , interveio em 49 imóveis em 10 anos de atividade (1974-83). Aqui nos restringimos a lutas sociais ocorridas e que posteriormente vieram a influenciar a formação do Movimento Sem Terra (MST), ou melhor, que enquanto tais podem ser apresentadas como elementos do MST em gestação.

Durante a década de 70 desenvolveram-se entidades de apoio à

causa indígena, colocando-se a tarefa de assessoria e defesa jurídica. Também os representantes de tribos indígenas estabelecem entre si um roteiro de reuniões e pauta de ação comum. Com isso atingem tribos sobreviventes dentro de um espaço geográfico determinado. Abrangendo diferentes áreas e tribos indígenas, criam organismos em defesa da terra e da cultura. Os Kaingang e os Guaranis do Sul do país, afligidos pela necessidade e transformados em peões de suas próprias terras, modificam parcial e progressivamente a consciência a propósito de si mesmos, da luta pela demarcação das terras, da defesa cultural como identidade e das condições específicas de sua sobrevivências. Esse processo possui influências diversificadas, como através de contatos com políticos, com entidades de apoio e com a imprensa.

Em 1978 os índios do Norte do Rio Grande do Sul, assim como outros residentes no Oeste de Santa Catarina, resolveram retomar suas terras, expulsando os agricultores arrendatários, moradores em terrenos alugados pela FUNAI. No decorrer do mês de maio daquele ano, os índios deram um ultimato para a retirada de todas as famílias de posseiros de suas terras. Seriam 156 segundo uns ou 700 conforme outros, abrangendo em Santa Catarina os municípios de Xanxerê, Xaxim, Chapecó e Abelardo Luz. O prazo estabelecido termina em 30 de junho, e pouca movimentação havia até aquele momento, pois por um lado não havia unanimidade quanto à

consistência da solicitação, e por outro efetivamente aqueles pobres posseiros também não tinham alternativas. Todavia, a partir de certo momento as famílias se espalham como podem, diante das ameaças. Sem

7 Entre as formas de ação podemos citar: discriminatória, desapropriação, acordO,

assentamento, apoio técnico e/ou juridico, convênio, arrecadação sumária.

S

TSRQPONMLKJIHGFEDCBA

F o lh a d e S ã o P a u lo . Folhetim. 03.02.1980, p. 12.

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1996 .

ajuda governamental para um reassentamento em terras no estado, o prefeito de. Xaxim põ~ caminhões à disposição das famílias expulsas no intuito de ajudar a retirar alguns pertences, numa situação de emergência em-que os posseiros temiam a possibilidade de uma ação violenta por parte dos indígenas.

Nessa época o Conselho Indígena Missionário (CIMI) e a Comissão Pastoral da Terra (CPT), em trabalho conjunto, tentam localizar terras improdutivas no intuito de apresentar a sua indicação para a possível desapropriação governamental. As entidades, ao mesmo tempo em que os acontecimentos visualizam a proposta do direito à terra para o índio, tentam auxiliar para que os agricultores desalojados sejam' remanejados em função de uma nova área 'de terra. Os únicos órgãos governamentais diretamente referidos a tal luta social são a FUNAI de um lado e o INCHA de outro. Este último parece que nada encaminha, a não ser o seu esforço de levar os desamparados ao Mato Grosso (MT)9. Após um prolongado debate, que ganhou inclusive destaque na imprensa, não sem constrangimentos e discursos pouco compreensíveis pelo patamar cultural dos colonos, ao final os agentes governamentais conseguiram em parte o seu intento, e em novembro (1978) algumas famílias de Santa Catarina são transferidas junto com outras do Rio Grande do Sul e assentadas em Terranova (MT). A maioria das agrovilas recebe uma denominação em consideração ao local de origem dos transferidos, como no caso as denominadas de Xanxerê, Nonoai e Planalto. O caso acentua tensões que vêm a visualizar-se explicitamente entre políticos locais, autoridades militares favoráveis à

transferência e agentes de órgãos governamentais ante a hierarquia eclesial, sindicatos e entidades de assessoria citadas. Ocorrem também denúncias da ação de estranhos insuflando índios e colonos, provindos de setores da sociedade que admitem como um absurdo da história que índios sem um senso de integração com o mercado regional retomem as terras e que se possa propor o reassentamento dos colonos em terras desapropriadas no estado de origem. Este constitui-se um fenômeno histórico imerso em múltiplas controvérsias, de posicionamentos políticos traspassados de paixão e onde interesses se expressam à luz do dia. . O conflito social envolvendo a existência de agricultores (;; de Indígenas, concentrando-se em torno da posse da terra, não terminou naquele ano. Em diversos momentos posteriores ocorrem violências entre ~s duas partes, principalmente na área localizada em Sede Trentin. Em

2 985

ho~ve um assentamento em Chapecó, numa área denominada andovalll, beneficiando posseiros retirados nessa ocasião da área indígena

em

conflito em Sede Trentin. No final das contas, parece possível afirmar

----9 o E s t a d o d e S ã o P a u lo , 04.07.1978, p. 8.

' o s , Rio Grande, 8: 159 _ 178. 1996.

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que não foi solucionado o problema de melhoria das condições de vida dos índios, pois stes não conseguiram de imediato desenvolver formas de cultivo da terra para aumentar a produção de alimentos. As alternativas vêm a resolver de forma parcial o problema dos posseiros expulsos.

GFEDCBA

7 -A PERMANÊNCIA DA DISPUTA PELO ESPAÇO

Outro caso que destacamos na análise como exemplar de luta social é a organização na ocupação e na resistência prolongada em prol da conquista da terra na Fazenda Burro Branco (FBB), no município de Campo Erê (SC). Concretamente apresenta-se como uma iniciativa de trabalhadores sem terra organizados que ocuparam terras improdutivas e chegaram até a vitória, conquistando a permanência na terra.

Nesse caso houve uma concessão de terras a uma família abastada, com origem urbana e cujos interesses seriam de operar a exploração via intermediários. Depois de muito tempo, sem maiores proveitos, os proprietários mantinham algum gado ali e exploravam a madeira. Em torno da disputa pela madeira (araucária) gira o litígio entre os herdeiros, família Taborda Ribas, de Curitiba, com a causa na Justiça estendendo-se por vários anos.

De fato a terra vinha sendo ocupada por alguns posseiros desde 1953, entretanto sem uma estratégia coletiva 1 0 . A referida fazenda, assim como outras na região, foi objeto de levantamento por parte do INCRA, com a finalidade de elaborar um projeto de desapropriação. Por interesse político local, o prefeito de Campo Erê também encaminhou um pedido de desapropriação, com a finalidade de fazer uma reserva florestal e um reassentamento de trabalhadores rurais sem terra do muntcrpío". Com esses e outros fatores espalhou-se a notícia de que seria feita a reforma agrária ali, tendo como exemplo uma outra fazenda, denominada Mundo Novo, onde a terra foi repassada aos ocupantes após um processo judicial.

Por ocasião do transcurso desses fatos, a CPT, com dois anos de atividades e de sua existência no acompanhamento da questão agrária, propunha-se fomentar cursos de formação de lideranças no meio rural. Tal iniciativa obtinha algum êxito no intuito de organizar a resistência ao êxodo rural e de inovar a representação de interesses com um sindicalismo de

perspectiva classista. .

A renovação da perspectiva sindical junto aos trabalhadores ruraiS

inseriu e modificou a interpretação coletiva dos interesses a propósito da sua

TSRQPONMLKJIHGFEDCBA

1 0 J o r n a l d o B r a s il, 20.09.1980, p.1o.

1 1 C h e ir o d e T e r r a . Boletim da CPT/SC, n. 7, ago./1980, p. 4.

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situação. É assim que um discurso disperso a favor do empenho coletivo por direitos influenciou. a que, em maio de 1980, cerca de 300 famílias ocupassem parte das terras da FBB. Tais famílias procedem de vários municípios, sem uma organização prévia no conjunto. Por isso, pode-se concluir que a perspectiva de ocupação da terra por um grupo transforma-se em notícia que corre por canais próprios. O que ocorre mais freqüentemente

é virem em pequenos grupos oriundos da mesma localidade. Um dos líderes do movimento dos posseiros, por exemplo, veio com um grupo de famílias do interior do município de Mondaí, distante cerca de 250 quilômetros.

Após a chegada aparentemente tranqüila daquele contingente de famílias à fazenda, a CPT, conjuntamente com o padre Afonso, de Campo

E rê , prestam socorro às famílias. Diante da miséria que encontram

estampada, organizam coletas de alimentos e roupas em diversas comunidades; constatam a vigência do espontaneísmo e em face da desorganização interna promovem reuniões, conseguindo formar uma comissão de frente e assembléia com todos os ocupantes; diante das ameaças expressas e perseguições advindas, encaminham apoio jurídico via CJP (Comissão Justiça e Paz).

O advogado dos proprietários entra com ação de manutenção de posse no dia 03/07/1980 contra dez invasores da área. Tinha a pretensão de que com essa ação despejaria todas as famílias. A notícia veiculada pela imprensa é de que seriam 200 famílias desfavorecidas pelo mandado judtcial'", A CPT, em conjunto com a CJP, acompanhando de perto as negociações, intervêm como mediadores e garantem a retirada pacífica dos 10 agricultores citados e os transferem em grupo para um local próximo. Através de agenciamento para negociação, técnicos do INCRA são chamados ao local, fazem uma reunião com os agricultores e encaminham ainda no início de julho um projeto de desapropriação à coordenadoria regional em Florianópolis.

Embora tenham ocorrido tais encaminhamentos, a perseguição aos invasores acirra-se após um mês de ocupação. Além da perseguição de jagunços mandados pelos proprietários, a polícia marca presença ameaçadora, passando pela área, revistando homens e mulheres para -eter armas ou amedrontar. O advogado da fazenda fornece à imprensa um dOcumento que teria sido enviado às autoridades alertando para o problema Social criado em torno da ocupação e para a possibilidade de um COnfronto1 3 . Exibe uma relação de nomes dos invasores, supostamente aCObertados pelo padre de Campo Erê, na qual constam o número de filhos

---1 2 Idem, p. 5.D ié r io d a M a n h ã , Chapecó, 22 e 24/07/1980.

911 1 3 D iá r io d a M a n h ã , 22.07.1980. As acusações de um lado e outro fazem parte da

erra de nervos e de ocupar espaços junto à opinião pública.

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e o tempo de ocupação da área, o qual não chegava a um mês sequer Acusa elementos vinculados à atuação da igreja de coordenar a invasão' Afirma que o juiz está desenvolvendo articulação de tal forma que se cumpr~ a ordem judicial de seqüestro da área, cuja ação não daria direito à terra nem aos herdeiros nem a terceiros. Pede abertura de inquérito policial para apurar a responsabilidade e com o intuito de os responsáveis - já nem tanto pela ocupação, mas pelo acompanhamento cotidiano junto aos ocupantes _ poderem ser enquadrados na Lei de Segurança Nacional.

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O advogado Valdir Valdameri, presidente da CJP da diocese de Chapecó, rebate as acusações acima citadas 1 4 . Declara que as famílias são oriundas de mais de 20 municípios, possivelmente arrendatários de terra gente que perdeu sua pequena propriedade, ou mesmo nunca teve, enfim' acabou sem condições de sobrevivência. Alude ainda às desapropriaçõe~ recentes realizadas pelo INCRA nas imediações, que influíram sobremaneira sobre a emergência dessa ocupação. Inclusive a fazenda Mundo Novo, desapropriada em 14-11-1979, confronta-se com a FBB. Sendo assim, esses agricultores, na esperança de encontrar terras, vieram em busca da boa notícia das desapropriações. Inclusive algumas famílias, pelo fato de não encontrarem lugar pretendido na terra desapropriada, passaram a instalar-se numa área que se encontrava praticamente abandonada; esse equívoco pode ter ocorrido talvez por considerarem que a área faria parte da terra desapropriada.

Se esse raciocínio de um lado é justificativo da ação que levou à

ocupação, de outro lado tem um fundo de verdade histórica. De tal forma que, na hora mais aguda do conflito, em que está em jogo a expulsão ou a desapropriação, um grupo de famílias abandona o local devido ao conflito, revelando ausência de perspectiva e não se dispondo a apostar tudo na força da resistência coletiva.

O advogado defensor dos ocupantes é de alguma forma porta-voz destes junto às instâncias do Estado, e afirma que a participação da CJP, como também do padre, tem o intuito de evitar que se cometam injustiças, pois tais cidadãos já estão assustados com as ameaças de que os proprietários enviariam pistoleiros para matá-Ios 1 5 . Somando esforços, o advogado entra com pedido de usucapião por parte de nove famílias residentes ali por vários anos. Justifica tal ato com a alegação de que existe na área uma escola, o que revela reconhecimento municipal da residência por um tempo considerável. Inclusive aproveita para novo encaminhamento de pedido de desapropriação junto ao Incra.

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1 4 D iá r io d a M a n h ã , 23.7.1980; também o bispo D. José Gomes refuta as

acusações, cf.D iá r io d a M a n h ã , 0 8 . 0 8 . 1 9 8 0 .

1 5 Idem.

174 BIBlOS, Rio Grande, 8 ' 1 5 9 . 1 7 8 , 1996.

As famílias entraram desorganizadas na área, isto é, não possuíam uma organização coletiva conjunta. Essa disputa entre advogados, aludida acima, s6 aparentemente se efetua acima e à margem d~ organização na terra ocupada. O acompanhamento dado pela CPT suscitou algumas formas de resistência frente às ameaças e agressões. Para maior proteção, as famílias agrupam-se em dois núcleos. Combinam entre si não fornecer informações a pessoa estranha. Com a aproximação de um veículo ou de estranhos, os homens se escondiam, só mulheres e crianças ficavam nas barracas. Quando por um motivo extraordinário acontecia uma reunião ou alguma ameaça, era dado um sinal combinado e reconhecido por eles, de tal forma que se juntavam ou se escondiam. Nessa estratégia de resistência, os sem-terra utilizam-se de armas e meios disponíveis, com vista à consecução dos seus objetivos, na medida em que não possuem armamento militar nem homens treinados, todavia um dos lideres aplica algumas estratégias aprendidas durante o serviço militar."

Nessa estratégia de resistência ocorre um fato curioso e significativo, que confirma seu emprego eficiente. Um assessor da CPT costumava usar um tipo de veículo para se deslocar até o local e já era reconhecido como tal pelo veículo. Um dia, por problemas técnicos, teve que usar outro, e ao desembarcar encontrou de fato só as mulheres e crianças, conforme combinado entre eles. Como as reuniões eram quase sempre só com a presença dos homens, naquele dia teve que voltar para casa sem realizar seu objetivo fundamental.

Nessa época o sindicalismo (através dos Sindicatos dos Trabalhadores Rurais - STR) não permanece totalménte alheio à questão, pois há indícios de um sindicalismo autêntico que se preocupa com a luta pela posse da terra em situação de conflito. O presidente do STR de Chapecó lança nota de apoio ao bispo e entidades de assessoria difamados pelas graves acusações e em defesa dos colonos necessitados da terra para o seu sustento. Em agosto, alguns outros sindicatos e entidades se mobilizam em favor dos posseiros e da desapropriação da área. Inclusive o deputado De Marco, de quem não se poderia dizer que se elegeu com uma plataforma de cunho popular, afirma na Câmara dos Deputados que a OCupação se deu porque a fazenda estava praticamente abandonada 1 7 . E que é injusta e descabida a acusação ao clero, pois este teve apenas uma atitude humana de dar apoio moral e material para suavizar a situação.

A figura do delegado de polícia de Campo Erê caracteriza um dos mais temíveis inimigos dos posseiros da FBB. Em julho declarou à imprensa que o mandado judicial já fora cumprido em desfavor de 200 famílias, que

1 6Entrevista em pesquisa de campo.

1 7D iá r io d a M a n h ã , 1 9 . 0 8 . 1 9 8 0 .

BIBlOS. Rio Grande. 8 : 1 5 9 . 1 7 8 , 1 9 9 6 .

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teriam sido retiradas sem resistência

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1 8 . É o mesmo delegado que possuía a fama de viver ameaçando e prendendo; tanto que um dos líderes ficou retido por cinco vezes na delegacia. Esse delegado queria que os posseiros acusassem o padre pela invasão e que assumissem o compromisso de retirar-se da área. As ameaças ocorriam na área e nos momentos do deslocamento para a cidade. As madeireiras e os latifundiários interessados na extração da madeira e na defesa da classe contratam pistoleiros para ameaçá-Ios ao longo dos 7 meses de duração do conflito 19. Os adversários

dos posseiros, sob diferentes formas de ação e graus, podem ser caracterizados e enumerados: latifundiários, delegado, polícia, políticos, INCRA.

Através da assessoria jurídica, os posseiros conseguem impedir o despejo judicial com auxílio da polícia por mais de uma vez. Porém, diante da demora das providências encaminhadas junto ao 'INCRA e com o agravamento das ameaças ou a iminência de despejo, os ocupantes organizam uma caravana para negociar diretamente em Florianópolis. A

comissão, representando mais de 200 famílias, negocia, relata e denuncia durante dois dias (7 e 8/10/80) junto às autoridades o encaminhamento da sua p a u t a . "

Na audiência com o governo, os posseiros entregam uma carta feita e assinada por eles, contendo as propostas. Falam da atuação do delegado, das ameaças e violências que sofrem da polícia e dos jagunços, da situação de miséria. Vivem 5 meses na ocupação sem colher nada, a não ser o pinhão nativo. A reivindicação principal é a terra para trabalhar, e propõem que, se for preciso, pagam a longo prazo. Querem a garantia de que ficarão nessa terra, sem despejo e com segurança, e ainda que o INCRA agilizará a desapropriação da área. O governador tomou as providências em relação à segurança, para ficarem na área até resolver o caso, mas remeteu ao INCRA, a questão da terra. Junto à Secretaria de Segurança, os posseiros fizeram um relato denunciando o abuso de autoridade do delegado. Na sede do INCRA, obtiveram a garantia de u m

completo levantamento da situação da área. A comissão ainda compareceu à Assembléia Legislativa para apresentar um relato a alguns deputados. Após as audiências, sempre acompanhados pela FETAESC, dão entrevista coletiva à imprensa, relatando a sua situação na FBB.

A situação tensa ameaça não somente a presença dos posseiros na área, mas envolve também pessoas ligadas diretamente ao apoio e

1 8 . Idem, 24.07.1980. Informação esta que acima de tudo tem o significado de

jogar com as contra-informações.

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1 9 . J o r n a l d o B r a s il, 14.11.1980, p. 8.

20 C h e ir o d e T e r r a - C P T / S C , n. 8, out./80.

176 BIBLOS, Rio Grande, 6: 159 _176,1996·

assessoria. Por esse motivo, no dia 8 de novembro de 1980, mais de 2000 pessoas se reúnem em Campo Erê para um ato religioso de apoio e solidariedade aos posseiros e outras pessoas acusadas. Considerando que issc se dá no transcurso da redemocratização e numa cidade de pequeno porte, seu destaque torna-se bem visível. O padre é acusado de ser comunista e ameaçado de morte e de expulsão do pals" . Os fazendeiros haviam prometido ocupar a praça da matriz no intuito de impedir o ato, mas não cumpriram a ameaça, permanecendo só na intimidação.

A desapropriação da área ocorre, finalmente, após 7 meses de resistência e negociações dos ocupantes, com a ajuda de entidades de apoio. A desapropriação da área, envolta em tensão por interesse social, tendo-se passado exatamente um mês após a caravana a Florianópolis, ocorre por Decreto Federal de número 85.360, contemplando área de 2.574ha, vindo a beneficiar 322 famílias. A área passa para a responsabilidade do INCRA, que realiza um levantamento do pessoal, aponta critérios de seleção e informa que caberá a cada família aproximadamente 15ha. Uma parte inclusive permaneceria como reserva florestal. Dessa forma esse conflito mereceu atenção publicamente demonstrada por parte do governo federal.

A morosidade dos encaminhamentos cabíveis ao Judiciário e ao INCRA (após três meses não possui a emissão de posse) é atestada novamente num relatório entregue ao governador em fevereiro de 1981. Tal relatório seria entregue pelos posseiros ao governador no dia 12, numa visita a Campo Erê, mas este não os recebeu, sob a alegação de que estavam programando um ato de protesto durante a visita. Conseguem entregá-Io em mãos no subseqüente dia 26, em Chapecó. Neste, relatam a morosidade do INCRA, que até o momento não emitira a posse da área nem encaminhara outras questões relativas ao assentamento definitivo. Fazem uma relação do que já produzem e reivindicam o reconhecimento de legitimidade da comissão de posseiros que esteve em Florianópolis.

Há notícias de que, já na colheita de 1981, os beneficiados pela desapropriação da FBB fazem uma coleta de alimentos para as acampados de Encruzilhada Natalino (RS). Alugam um caminhão e uma delegação leva os alimentos, num claro gesto de fortalecer o intercâmbio entre as diversas lutas pela terra. Esse gesto reflete a influência de setores da Igreja, além das !entativas de trabalho associado, seja pelo mutirão, seja pela compra COletivados instrumentos de trabalho. Mesmo após o término do conflito e o assentamento definitivo, a participação efetiva na organização geral do

---t a 2 1 . J o r n a l d b B r a s il, 08.11.1980, p. 11. A propósito desse fato, convém lembrar o

h'SO dos POsseiros e padres do Araguaia, onde, em torno da posse. da terra, agentes da

ierarquia sofrem acusações idênticas e a expulsão do pais.

8ielOS, Rio Grande, 6: 159 _ 176. 1996.

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Movimento dos Sem-Terra não esmoreceu. Testemunhas declaram qUe participam da organização dos assentados em outras áreas de reforma agrária. O caso da FBB representou um teste para a resistência organizada e formalizou alguns canais de negociação para casos posteriores. Foi um espaço em que as entidades de apoio conseguiram medir seus objetivos em meio de um conflito aberto.

Os acontecimentos relatados acima mostram a importância da intervenção do Estado como mediador nos conflitos agrários. Serve no mais das vezes como interventor para evitar a radicalização das tensões sociais. Isto é, define o campo do conflito em que se situam os movimentos sociais e, nesse sentido, o Estado configura os limites e os alcances do movimento social. Estabelece o que

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é impossível ao movimento social se propor alcançar na conjuntura política em que se manifesta.

Os acontecimentos colocados em questão marcam importantes traços históricos da efetiva ocupação da Região Oeste catarinense. Por mais que na atualidade aquela região seja apontada como tendo uma situação agrária estável e distinguindo-se pela relativa distribuição da propriedade fundiária, esta continua a apresentar-se como um espaço onde a questão agrária está na ordem do dia, nos debates, nas reivindicações e nos numerosos conflitos.

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