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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Academic year: 2023

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INTRODUÇÃO

O tema da sexualidade está ainda longe de ser tratado com a naturalidade que esta importante dimensão do nosso viver merece, continuando ainda a existir grandes desconfortos à sua volta.

A vivência da sexualidade está invariavelmente relacionada com a cultura envolvente ao indivíduo, exercendo uma forte influência nessa mesma cultura. Nesse sentido, qualquer reflexão acerca da sexualidade, que queira ser séria, não se pode reduzir às dimensões relacionadas com a biologia, a saúde, ou com os comportamentos, havendo necessidade de se ter em linha de conta outras dimensões fundamentais.

Numa sociedade e cultura como a nossa, onde prevalece o valor do indivíduo, as atitudes e os comportamentos baseados no preconceito e na discriminação em função da orientação sexual dos indivíduos, põem em risco as noções de humanidade, igualdade e tolerância que deveriam caracterizar a nossa sociedade na sua plenitude.

Uma das principais causas do preconceito em relação à orientação sexual dos indivíduos, quando está em causa uma orientação diferente da heterossexual, é a falta de conhecimento.

A discriminação apresenta-se como um problema transversal da sociedade, abrangendo áreas diversas que vão desde a religião ou credo, a raça ou origem étnica, a idade, a orientação sexual, o emprego, a educação, os cuidados de saúde e o acesso a bens e serviços.

Considerando os conceitos do preconceito e da discriminação em função da orientação sexual, e apelando à sensibilização da sociedade em geral face a esta problemática, considerámos pertinente abordar o tema da discriminação vista pelos indivíduos que se identificam como sendo “não heterossexuais”, e também por aqueles

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que por simpatia ou interesse para com a causa da discriminação sexual acedem a páginas disponibilizadas na Web1.

O preconceito sexual refere-se a todas as atitudes negativas face à orientação sexual, seja ela homossexual, bissexual ou heterossexual. Estas atitudes negativas são descritas pela maioria dos autores como episódios de violência repetitiva, discriminação e rejeição pessoal.

Sobretudo devido à (des)organização que a sociedade impõe à forma como devemos ou não devemos vivenciar a sexualidade, a discriminação e o preconceito marcam presença assídua na vivência da sexualidade que se assume de forma diferente da heterossexual.

O conceito de minoria sexual está intimamente interligado com o conceito de identidade, no sentido em que é a existência de um ou mais factores identificativos de um indivíduo a um grupo que definem a sua integração a esse mesmo grupo. Estes dois conceitos remetem-nos, inevitavelmente, para a questão dos Direitos Humanos.

A sexualidade humana constitui uma dimensão central da identidade pessoal e da dignidade da pessoa, sendo por isso impossível desmembrar a dimensão sexual do Homem.

Nesta linha de pensamento, a presente investigação tem como objectivo principal recolher a opinião de indivíduos que se identificam como não sendo heterossexuais, relativamente à forma como percepcionam o preconceito e à discriminação sexual.

Numa primeira fase, e tendo como base teórica de sustentação a revisão bibliográfica, pretende-se:

a) Reflectir sobre as definições de atitudes e de representações sociais;

b) Reflectir sobre a definição de estereótipos;

1 Estas páginas da Web a que fazemos referência no corpo do texto (www.ilga-portugal.pt , http://grip- ilga.blogspot.com/ , p.e.), são páginas de Associações de defesa dos direitos LGBT, cujo objectivo principal é o de integrar socialmente a comunidade LGBT. Estas Associações são referências importantes na divulgação de informação sobre esta temática, e apresentam um papel essencial na redução do preconceito, na ajuda aos outros e na partilha de experiências.

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c) Reflectir sobre as temáticas e as definições encontradas sobre discriminação e preconceito em função da orientação sexual, e as reflexões dos diferentes autores;

b) Reflectir sobre a temática da identidade pessoal e de minoria sexual.

c) Abordar a legislação existente a nível nacional e da União Europeia sobre a discriminação.

Numa segunda fase, após a recolha de informação através da administração on-line do questionário, pretende-se:

a) Determinar de que forma os indivíduos percepcionam e vivenciam situações de preconceito e discriminação;

b) Identificar os factores e as situações em que existe preconceito e discriminação e;

c) Desenvolver teoricamente novos conceitos e/ou teorias a partir de uma reflexão crítica a efectuar à informação recolhida com o questionário.

Esta investigação culmina com uma reflexão sobre os aspectos que foram apresentados, procurando-se na mesma, sublinhar os pontos positivos que foram enaltecidos, como ponto de partida para outras investigações, com o intuito de dar um contributo para uma sociedade mais justa.

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“A medida do Homem é a medida do obstáculo”

Saint-Éxupery in “O Pequeno Príncipe”

1. A BIOÉTICA E A SEXUALIDADE

A Bioética nasce no início da década de 70 com VAN POTTER2. POTTER entendia a bioética como “uma ética da biosfera” que englobava não só aspectos médicos mas também aspectos ecológicos, e defendia, já nessa altura, uma Bioética ecológica com preocupações bem presentes de preservação de um ecossistema capaz de permitir a sobrevivência da espécie humana.

Na introdução do livro “Bioethics: bridge to the future”, POTTER faz referência a

“duas culturas que parecem incapazes de dialogar – as ciências e as humanidades”, e à construção da bioética como uma ponte entre estas duas culturas. É pertinente referir que no termo “bioética”, do grego “bios” (vida) e “ethos” (ética), “bios” representa o conhecimento biológico, a ciência dos sistemas vivos e “ética” representa o conhecimento dos valores humanos.

A Bioética caracteriza-se por ser pluridisciplinar e pluralista, e também pelo seu carácter de abertura ao público em geral. Nesse sentido, faz cada vez mais sentido dar às populações mais formação e informação, de modo a permitir-lhes a reflexão sobre os seus próprios problemas e a tomada de decisão de forma ética.

2 O oncologista VAN RENSSELAER POTTER utilizou pela primeira vez o termo “BIOETHICS” num artigo publicado em 1970, e posteriormente na sua obra “Bioethics: bridge to the future”, em 1971 (cit. por PESSINI & BARCHIFONTAINE, 2000, p. 11). Nas origens da bioética, existe um outro autor a quem deve ser dado relevo: ANDRÉ HELLEGERS, Médico e investigador holandês com vasta formação em humanidades. Este investigador criou o primeiro instituto com o nome de bioética, hoje chamado de

“Kennedy Institute of Ethics”, que serviu de modelo a muitos que se formaram posteriormente.

HELLEGERS entendeu a sua missão em relação à bioética como uma “pessoa-ponte entre a medicina, a filosofia e a ética”. (Um tributo a POTTER no nascedouro do bioética! A tribute to Potter – on the Birth of Bioethics. LÉO PESSINI. In O Mundo da Saúde. São Paulo, ano 26, vol 26, n.1 Jan/Mar.2002. p.189).

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O interesse pelo diálogo bioético é uma dimensão social da Bioética.3 Esta nova forma de reflexão emerge do domínio da ciência e da intervenção social, com grande dimensão social.

Nos últimos anos da década de 80, POTTER amplia a Bioética em relação a outras disciplinas, denominando-a de “Bioética Global”.4

Ao denominarmos a bioética de “ética da vida” podemos aceitar ou compreender que esta se exprima através de circunstâncias que fazem a moral dos nossos dias. Nesse sentido, a bioética acompanha as transformações da moral relativamente à dignidade humana.

A Bioética fundamenta-se na dignidade da pessoa humana5, dignidade esta que é própria, intrínseca e inalienável. Representa um pressuposto secular e, é génese dos direitos humanos fundamentais. A Bioética da pessoa humana ou Bioética do Homem procura salvaguardar a dignidade humana, direccionando a construção do saber para o entendimento daquilo que cada Homem é na sua vida pessoal, na sua vida de relação com os outros, com o mundo que o circunda e com o tempo em que vive.

Ao longo dos últimos séculos, tem-se verificado um grande progresso na defesa da dignidade da pessoa humana e dos seus direitos fundamentais.6 A Bioética tem acompanhado o progresso científico, e caminhado lado-a-lado com as transformações da moral.

Um dos aspectos marcantes da Bioética é a capacidade desta ciência em dialogar a nível das diversas culturas e disciplinas humanas. ENGELHARDT definiu esta capacidade de “diálogo multicultural, inter, trans e multidisciplinar, num contexto pluralista, em que nos encontramos como “estranhos morais” e em que o “diálogo e a tolerância são ingredientes fundamentais no processo de construção deste saber...”.7

3 A bioética como saber transdisciplinar que é apresenta também uma dimensão social que procura

“encontrar a sua complementaridade na busca de respostas consensuais para a defesa da dignidade da pessoa humana”. ARCHER, L., BISCAIA, J., OSSWALD, W. (1996). Bioética. Lisboa: Editorial Verbo.

pp.25-27.

4 PESSINI. L. O Mundo da Saúde. São Paulo, ano 26, vol.26, n.1 Jan/Mar.2002, p.190.

5 A referência central da Bioética é a pessoa humana.

6 ARCHER, L., BISCAIA, J., & OSSWALD, W. (1996). Bioética. Lisboa: Editorial Verbo. p. 26.

7 PESSINI & BARCHIFONTAINE, p. 12.

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Cabe à Bioética a função de pôr em comum as várias áreas do saber8, e de transpor da teoria para a prática valores que devem ser de partilha, integração e de aceitação da diferença. Uma realidade amplamente plural como é a nossa, deve ser capaz de valorizar a pluralidade e a riqueza de elementos que a constituem.

Cada indivíduo, enquanto agente moral, deve possibilitar a expressão da diferença e da igualdade nos outros indivíduos.

Só nos poderemos tornar melhores seres humanos quando nos relacionarmos correcta e plenamente com os outros. E, nesse sentido, o grande desafio que se coloca às gerações futuras é o de acabar com a discriminação e o preconceito, e o de saber valorizar a diferença e a diversidade.

A sexualidade humana não pode ser reduzida a aspectos anatomo-fisiológicos, dado que é uma característica pessoal e uma área da actividade humana fortemente enraizada em aspectos emocionais (a nível individual e relacional).

Não podemos falar de “neutralidade moral” quando se abordam comportamentos sexuais.9

A sexualidade (como componente da intimidade) é, hoje em dia, uma área marcada pela diversidade moral e pelo pluralismo. Todos nós, enquanto indivíduos que representamos, no dia-a-dia, uma panóplia de papéis (o profissional, o familiar, o de crianças ou o de jovem), somos diversos nos nossos julgamentos morais. Estes julgamentos morais têm inerentes valores ligados à sexualidade. É importante que estes valores permitam aos indivíduos agir autonomamente, assumindo opções conscientes e responsáveis nos diversos contextos da vida, mas é também importante que permitam manifestar respeito pelos outros com quem interagimos, estabelecendo um relacionamento positivo e satisfatório para todos.

8 A heterogeneidade constitui a causa dos problemas bioéticos. A Bioética deve “dar voz àqueles que a não têm, como são as minorias sexuais”. ARCHER, L. BISCAIS, J. & OSSWALD, W., p. 25.

9 “Uma pretensa “informação sexual”, reduzida às componentes biológica e preventiva da sexualidade, nem é desejável, nem é isenta de referências éticas e morais...” in Educação Sexual em meio escolar – linhas orientadoras. Editorial do Ministério da Educação, pp. 27-28.

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Segundo ALFERES “a ciência do sexo” surgiu nos meados do século XIX, no período pós-moderno, época em que se assistiu a um vasto movimento de repressão da sexualidade.10

Os primeiros autores que realizaram os primeiros estudos científicos sobre sexualidade utilizaram critérios muito imperfeitos e foram muito influenciados pelos códigos morais dominantes. KRAFT-EBING foi o precursor da sexologia, fez o percurso clássico da medicina do século XIX, especializou-se em psiquiatria e deu particular atenção aos crimes relacionados com o sexo que constituem a parte mais substancial da sua obra. A sua obra foi publicada em 1886 e é intitulada por “Psychopatia Sexualis”. A sexologia de KRAFT-EBING acompanhou o espírito da época, ou seja, criticou e considerou como patológico, tudo aquilo que é exterior ao “coito heterossexual reprodutivo”; um simples beijo era considerado potencialmente patogénico.

HAVELLOCK ELLIS, de nacionalidade britânica e contemporâneo de KRAFT-EBING, interessou-se prioritariamente pela sexualidade dita normal e pelas suas variações culturais. É de notar que, em Portugal por esta altura, o Professor Egas Moniz publicou uma obra de dois volumes dedicada à “Vida Sexual”, situando-se neste tipo de perspectiva11. Desta forma, os comportamentos sexuais tornaram-se objecto de uma abordagem científica.

A descoberta da sexualidade trouxe-lhe maior exposição e tornou-a acessível ao desenvolvimento de diferentes estilos de vida. A sexualidade, intrínseca a cada indivíduo, deixou de ser uma característica natural e adquirida, passando a ser “um ponto de ligação essencial entre corpo, auto-identidade e normas sociais”12.

GAGNON e SIMON introduziram o conceito de script sexual com o objectivo de valorizar o carácter construído da sexualidade13. Os scripts sexuais, enquanto significações partilhadas pelos actores sociais, organizam os comportamentos sexuais, definem as situações de interacção, geram expectativas relacionais e sinalizam as respostas “incongruentes”. Os scripts sexuais especificam quem são os possíveis parceiros sexuais no interior de uma dada cultura, especificam se uma determinada

10 ALFERES (1987), pp.289-304. ALFERES (1997).

11 Tal como menciona Frade et al. (1996)

12 GIDDENS (1993).

13 GAGNON & SIMON (1973).

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actividade é permitida, especificam os motivos ou as razões que justificam um determinado comportamento de modo sexual.

Segundo MOSCOVICI (1984) o conceito de script assemelha-se ao conceito de representação social, na medida em que fazem referência a modalidades de conhecimento prático, socialmente elaboradas e partilhadas e são, simultaneamente, sistemas de interpretação e de categorização do real e modelos ou guias de acção.

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“Queria tanto saber se, desde criança, ele tinha sentido este rasgão no peito, esta saudade de si, e se se achava, como eu, impreparado para se receber…”

Rosa Lobato de Faria in “A Alma trocada”.

2. ATITUDES E PERCEPÇÕES SOCIAIS

O conceito de atitude encontra-se definido pela Psicologia Social como “a maneira como a pessoa se situa em relação a objectos de valor”. Este conceito permite-nos concluir que as atitudes são adquiridas pelos indivíduos, isto é, o indivíduo não nasce com atitudes pré-definidas, mas desenvolvem-se e mudam em função das experiências vividas pelo sujeito. As atitudes são mais ou menos duráveis, apresentam uma dimensão afectiva e estão susceptíveis a mudanças devido às influências externas.

No início dos anos 90, EAGLY e CHAIKEN14 definiram atitude como um constructo hipotético referente à “tendência psicológica que se expressa numa avaliação favorável ou desfavorável de uma entidade específica”. Quando definimos atitude como um constructo hipotético, consideramos que as atitudes não são directamente observáveis, ou seja, são variáveis explicativas da relação entre a situação em que as pessoas se encontram e o seu comportamento.

As atitudes expressam-se através de um julgamento avaliativo, que pode ser caracterizado como favorável ou desfavorável. As atitudes podem ainda ser caracterizadas pela sua intensidade (quando se opõem posições extremadas a posições fracas), e pela sua acessibilidade, isto é, a probabilidade de ser activada automaticamente com o objecto de atitude.

As atitudes expressam-se sempre por respostas avaliativas. Estas respostas avaliativas podem ser cognitivas, afectivas ou comportamentais. As atitudes cognitivas são a expressão de pensamentos, opiniões ou crenças que fazem a ligação do objecto de atitude aos seus atributos ou consequências e exprimem uma avaliação mais ou menos

14 EAGLY e CHAIKEN (1993) in VALA, J. & MONTEIRO, M.B. (2006). Psicologia Social. Lisboa:

Fundação Calouste Gulbenkian. 7ª ed., p. 188.

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favorável. As atitudes afectivas referem-se às emoções e sentimentos provocados pelo objecto de atitude. As respostas avaliativas comportamentais referem-se aos comportamentos ou às intenções comportamentais em que as atitudes se podem manifestar.

As atitudes referem-se sempre a objectos específicos que estão presentes ou que são lembrados através de um indício do objecto. Na realidade, quase tudo pode ser objecto de atitudes.

As atitudes sociais e políticas são geralmente as atitudes que se referem a objectos que têm implicações políticas ou que se referem a grupos sociais específicos (como é o caso dos grupos minoritários).

Existem três tipos de expressão de atitudes face a um grupo social:

a) Estereótipos (os estereótipos são a expressão cognitiva, relativa às crenças acerca dos atributos do grupo);

b) Preconceitos (os preconceitos são a expressão afectiva);

c) Discriminação (expressão comportamental).

KATZ (1960) tentou compreender as razões que levam as pessoas a manter as suas atitudes. Segundo este autor, estas razões apresentam-se ao nível das motivações psicológicas e não ao nível do acaso de acontecimentos e circunstâncias exteriores.15

As atitudes podem cumprir uma função instrumental (ou avaliativa) e uma função simbólica (ou expressiva). As funções instrumentais (ou avaliativas) prendem-se com uma avaliação de custos e benefícios da atitude, em que o indivíduo opta pela atitude que lhe permita obter o melhor ajustamento social, maximizando as recompensas sociais, e minimizando as punições. As funções simbólicas (ou expressivas) têm a ver com a utilização das atitudes enquanto forma de transmitir os valores ou a identidade do sujeito, permitindo-lhe proteger-se contra conflitos internos ou externos e preservar a sua imagem.

A necessidade de aprovação social torna-se, por isso, fundamental para o indivíduo.

15 KATZ (1960) in VALA, J. & MONTEIRO, M.B. (2006). Psicologia Social. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian. 7ª ed., p. 203-204.

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CROWNE e MARLOWE16 fazem referência a esta necessidade de aprovação social, também designada por desejabilidade social. A desejabilidade social é a tendência individual para fornecer respostas socialmente desejáveis, independentemente de serem ou não verdades. A desejabilidade social é tanto maior quanto maior for a tendência para veicular uma imagem culturalmente aceitável e de acordo com as normas sociais, evitando a crítica. Um indivíduo com elevada desejabilidade social terá mais tendência para fornecer respostas que considere serem bem aceites pela sociedade, independentemente de serem ou não verdadeiras, negando a associação pessoal a opiniões ou a comportamentos socialmente desaprovados. A distorção nas respostas resultantes da desejabilidade pode estar associada a características pessoais, e também às condições e modos de aplicação de instrumentos psicológicos.17

2.1. OS ESTEREÓTIPOS

Os estereótipos são julgamentos e avaliações que estão geralmente associados a determinadas características do indivíduo, como a etnia, o género, a identidade religiosa ou a identidade sexual.

Os estereótipos sociais resultam “do cruzamento de factores ligados ao processamento de informação, de factores motivacionais e de identidade, de factores ligados à dinâmica social das relações entre os grupos e de factores ideológicos”18.

LIPPMAN fez a abordagem inicial ao conceito de estereótipos e às suas funções psicossociais. Este autor definiu de uma forma muito simplificada os estereótipos, concebendo-os como “fotografias dentro das nossas cabeças”19.

Na perspectiva de LIPPMAN (1922) e ALLPORT (1935), os estereótipos são processos normais e necessários, são crenças que nos são transmitidas pelos agentes de

16 CROWNE e MARLOWE (1960), pp. 349-54. CROWNE e MARLOWE (1961), pp. 109-115.

17 CROWNE e MARLOWE (1961), pp. 4-8.

18 MILLER (1992) in VALA, J. & MONTEIRO, M.B. (2006). Psicologia Social. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian. 7ª ed., p. 333.

19 LIPPMANN (1992) in VALA, J. & MONTEIRO, M.B. (2006). p. 334.

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socialização (como os pais e a escola)20. Os estereótipos referem-se a processos gerais de pensamento que permitem simplificar e ordenar uma realidade que é, muitas vezes ambígua e, dar-lhe um sentido.

Os estereótipos são tão precocemente incutidos às crianças, levando-as a agir consoante as normas que lhe são impostas.

Existem três razões que nos permitem incluir uma pessoa num estereótipo21: a) O estatuto primitivo de certas categorias (o género, a idade e a raça);

b) A normalidade das categorais (refere-se às características do indivíduo que implicitamente a sociedade impôs como norma, “está dentro da norma”);

c) A clareza das fronteiras das categorias (os indivíduos são categorizados de modo a melhor contribuir para a compreensão do contexto social em que a categorização ocorre).

2.2. OS PAPÉIS E OS ESTEREÓTIPOS SEXUAIS

A análise dos papéis culturais e dos papéis sexuais é muito complexa, uma vez que não existe uma única definição de Homem (enquanto Ser Humano), ou de homem e de mulher (sexo masculino e feminino) que em todos os tempos e em todos os lugares englobe a generalidade das crenças, dos mitos e dos hábitos que formam a nossa cultura mental22.

O papel sexual pode ser definido como uma actividade com significado social, onde se verifica uma participação actual de ambos os sexos, apresentado contudo uma frequência diferente nos diversos contextos.

20 LIPPMAN (1922), ALLPORT (1935), KATZ & BRATLY (1933, 1935).

21 VALA, J. & MONTEIRO, M.B. (2006). Psicologia Social. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian.

7ªed., p. 339.

22 ALMEIDA (1987).

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Os estereótipos sexuais dizem respeito a sistemas de crenças relativos a homens e mulheres, e são passíveis de ser conceptualizados a dois níveis: estereótipos de papéis sexuais e estereótipos de traços sexuais.

Os estereótipos de papéis sexuais referem-se a crenças acerca da apropriação dos vários papéis e actividades correspondentes a homens e mulheres.

Os estereótipos dos traços sexuais dizem respeito às características psicológicas que se pensa caracterizarem os homens mais ou menos frequentemente que as mulheres. As crenças acerca do género estão de tal forma enraizadas que impõem a sua influência no comportamento dos indivíduos, desde o momento de nascimento da criança23. Diríamos mesmo que até antes da fecundação do óvulo, o desejo de ter um filho implica de imediato a concepção de um projecto de vida para o novo ser e a imaginação de uma vivência de um papel sexual.

Num estudo intercultural realizado por WILLIAM & BEST (1990)24 com jovens adultos, foram estudadas as semelhanças e as diferenças nos estereótipos sexuais em 30 países. Este estudo concluiu que existe um grau relevante de semelhanças em cada um dos países, nos traços diferencialmente associados aos homens e às mulheres. Por exemplo: em todos os países nos quais foi efectuado o estudo, a “força” e a “actividade”

eram identificadas como traços mais associados ao sexo masculino do que ao sexo feminino.

Segundo SCOTT25, desde os primórdios da nossa cultura que a jovem aprende que ser mulher é cuidar da casa, do marido, das crianças, adoptando uma postura de submissão; por outro lado, a gentileza, a emotividade e a dependência, entre outras, são atributos que deve possuir pois são tidos como femininos.

Pelo contrário, o jovem aprende que um homem deve poder tomar decisões por todo um grupo social como a família, a ser activo, viril e intransigente. FLAMENT 26 refere, a propósito das diferenças entre sexos, que “as raparigas são mais dóceis e mais

23 NETO & NETO (1997)

24 NETO & NETO (1990)

25 SCOTT (1991), in HOGG & TINDALE (2001), pp.400-424.

26 FLAMENT et al (1995), pp.44-55.

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capazes de se confrontar com as expectativas dos adultos, enquanto os rapazes são mais recalcitrantes à disciplina e desafiam mais a autoridade e as expectativas adultas”.

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25 “Temos o direito de ser iguais sempre que a diferença nos inferioriza; temos o direito de ser diferentes sempre que a igualdade nos caracteriza.”

Boaventura de Sousa Santos in “A construção multicultural da igualdade e da diferença”.

3. PRECONCEITO E DISCRIMINAÇÃO SEXUAL

Nas últimas décadas, a sociedade tem assistido ao surgimento de novas vontades e novas formas de pensar, relacionadas com as pessoas que se identificam como não sendo heterossexuais.

São vários os factos que têm possibilitado à maior parte dos governos ocidentais produzir legislação que protege as identidades: gay, lésbica, bissexual e transgénero (LGBT), permitido a presença e a expressão destes indivíduos de uma forma mais evidente e sem a necessidade de ocultar a sua verdadeira identidade.

Alguns desses factos são: (a) a homossexualidade deixar de ser considerada doença em 1973 pela Associação Psiquiátrica Americana; (b) a Associação de Psicologia Americana chegar à mesma conclusão dois anos mais tarde e (c), de no final dos anos 80, mais concretamente em 1987, a 3ª edição do Manual de Diagnóstico e Estatística dos Distúrbios Mentais já não incluir a homossexualidade como uma parafilia; (d) pouco tempo depois, em 1993, a Organização Mundial de Saúde não apresenta a homossexualidade como doença no ICD-10.

Temos vindo a assistir a alguma abertura e à alteração de mentalidades, no entanto, esta “despatologização”27 da homossexualidade não se traduziu ainda numa plena alteração de atitudes e de comportamentos na nossa sociedade. E, infelizmente, continuam a prevalecer sentimentos de discriminação e de preconceito relativamente à vivência da sexualidade.

27 O termo “despatologização” é utilizado por Leal (2004) quando aborda a temática das atitudes e preconceitos dos profissionais das ciências psicológicas, afirmando “esta celebrada despatologização da homossexualidade, não foi capaz de resolver todas as questões que longos anos de pertença a códigos punitivos, listagens de aberrações e perversões e finalmente a um repertório nosológico cientificamente estipulado tinham instalado”.

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O preconceito é um julgamento prévio dos membros de uma raça, de uma religião ou de um dos membros de um grupo que desempenha um determinado papel social relevante, que existe e se mantém nos indivíduos de uma forma não racional, e está normalmente associados a julgamentos discriminatórios (Goldstein, 1982).

O preconceito apresenta um carácter de avaliação mais alargado do que o estereótipo, reunindo geralmente uma pluralidade de estereótipos que fundamentam a manutenção do preconceito.

Os estereótipos podem classificar positivamente uma categoria de indivíduos, denominando-se de estereótipos positivos, enquanto o preconceito remete-nos para uma atitude de desfavor contra certos grupos sociais ou culturais. Os preconceitos exercem, maioritariamente, uma função sócio-afectiva, apresentando uma preocupação de coesão e protecção de um grupo social.

O preconceito é um fenómeno multideterminado e está geralmente associado a atitudes negativas para com determinados indivíduos que pertencem ou que se assemelhem a um grupo. Este fenómeno não existe de forma isolada e está intimamente relacionado com as relações interpessoais o intergrupais.

As atitudes preconceituosas encontram-se em todos os indivíduos, com expressão mais ou menos discreta, dependendo a sua intensidade do contacto social com o que causa o preconceito.

Uma das principais causas do preconceito em relação a uma orientação sexual é a falta de conhecimento em relação à diferença.

O preconceito sexual refere-se a todas as atitudes negativas face à orientação sexual, seja ela homossexual, bissexual ou heterossexual.

Estas atitudes negativas são descritas, pela maioria dos autores, como episódios de violência repetitiva, discriminação e rejeição pessoal.

Sobretudo devido à (des)organização que a sociedade impôs à forma como devemos ou não devemos vivenciar a sexualidade, este preconceito é quase sempre

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direccionado a pessoas que adoptam comportamentos homossexuais ou que se auto- denominam de gays, lésbicas ou bissexuais28.

HEREK considera que tal como acontece com outros tipos de preconceitos, o preconceito sexual tem três características principais: (a) caracteriza-se em primeiro lugar por ser uma atitude, uma vez que está associada a uma avaliação ou a um julgamento; (b) dirige-se a um grupo social e aos seus membros; e (c) é negativo, pois envolve sentimentos como a hostilidade, a aversão ou a antipatia.

Ainda segundo este Autor, o uso do termo “preconceito sexual” em vez do termo

“homofobia” apresenta algumas vantagens. O termo preconceito sexual é um termo descritivo, ao contrário do termo homofobia que se reveste de atitudes, de comportamentos e de motivações anti-homossexuais. Por outro lado, o termo homofobia relaciona o estudo da hostilidade anti-homossexual com a investigação realizada pela Psicologia Social sobre o preconceito.

Por último, as palavras “preconceito sexual” não apresentam uma relação directa com atitudes irracionais e maldosas face à homossexualidade. Sabe-se que os indivíduos que assumidamente assumem a sua orientação sexual como homo ou bissexual sempre sofreram o estigma da diferença e que os crimes baseados na orientação sexual (e que são denunciados) representam um número que está muito abaixo do número real.

O termo “homofobia” é maioritariamente utilizado para descrever atitudes individuais anti-homossexuais e comportamentos em que o heterossexismo29 se refere a ideologias e a modelos de opressão institucional de pessoas não-heterossexuais.

Nos estudos mais recentes, o termo homofobia está a ser substituído pelo conceito de preconceito sexual com o objectivo de reduzir o preconceito para com essa comunidade. O preconceito sexual refere-se a todas as atitudes negativas baseadas na orientação sexual quando o alvo é: os homossexuais, as lésbicas e os bissexuais.

28 HEREK, G. M. (2000). The Psychology of Sexual Prejudice. Current Directions In Psychological Science, 9, pp.19-22.

29 O termo “heterossexismo” é utilizado para designar o sistema ideológico que assume a heterossexualidade como superior, promovendo a opressão, a negação e a discriminação de pessoas de orientação sexual diferente da heterossexual.

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O preconceito sexual abrange as atitudes negativas dos heterossexuais em relação:

(a) ao comportamento homossexual, (b) a pessoas com uma orientação homossexual ou bissexual e, (c) a comunidades gays, lésbicas e bissexuais.

A perspectiva da identidade social teve, segundo TURNER30, como consequências principais o renovar de certas problemáticas da Psicologia Social, como a relação indivíduo-grupo, os processos de grupo, a questão do preconceito e das relações intergrupais, a estereotipação social, o auto-conceito e a personalidade.

A formação psicológica dos grupos é um processo adaptativo que produz uma unificação social, um comportamento colectivo e, torna possível, as relações de atracção, cooperação e de influência entre os seus membros.

A formação grupal não é um mero efeito das relações inter-pessoais. Quando o grupo se forma (com uma identidade psicológica própria) as pessoas não se ligam tanto por atracção interpessoal, mas sim por percepção identitária mútua das similaridades do grupo.

São as relações intergrupais que determinam as atitudes intergrupais. Estas são sempre o resultado da interacção entre a psicologia colectiva das pessoas enquanto membros de grupos, e a estrutura social percepcionada das relações intergrupais31.

O preconceito não nasce de uma psicologia individual, irracional e/ou patológica.

Nasce de uma forma que é psicologicamente significativa para as pessoas, nasce da sua definição social, da sua compreensão da realidade social e das relações intergrupais.

Perante o preconceito o indivíduo, torna-se rígido e, deixa de viver e ser aquilo que verdadeiramente é. Esta rigidez é comparável a um conjunto de gavetas abertas e fechadas, em que as gavetas abertas não se conseguem fechar e as gavetas fechadas não se conseguem abrir. Perante o preconceito, o indivíduo não consegue exprimir aquilo que verdadeiramente é.

30 TURNER (1984).

31 Esta interacção é mediada pela compreensão socialmente partilhada e construída das relações intergrupais – pelas crenças, teorias e ideologias colectivas sobre a natureza do sistema social e a natureza das diferenças de estatuto entre grupos.

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29

O preconceito resulta do jogo existente entre os vários processos psicológicos das realidades da vida social.

Nos grupos não existem tendências irracionais, independentes da realidade social e da sua compreensão.

McINTOSH defende, no âmbito da Teoria da Rotulação, que não deveríamos analisar a homossexualidade como característica definidora de um tipo particular de indivíduo, mas antes como um papel (ou conjunto de papéis) que determinados indivíduos aprendem a desempenhar no contexto dos quadros conceptuais e das categorizações produzidas em momentos históricos particulares e em sociedades concretas. Esta Autora sugere até que o homossexual seja visto como um indivíduo que desempenha um papel social, mais do que como tendo uma condição (a de homossexual) 32.

Segundo a perspectiva construtivista, a sexualidade não pode ser isolada em categorias de contextos sócio-culturais. As categorias seriam construídas a partir de determinado momento e, a partir de um conjunto de relações de poder. A este propósito, a tese de FOUCAULT33 refere que aquilo que hoje designamos como categorias sexuais (como p.e. a classificação dos indivíduos como homossexuais, heterossexuais e bissexuais) teria surgido como produto das relações de poder na sociedade moderna, e não teria qualquer sentido quando aplicado ao passado ou a contextos sócio-culturais, temporais e geográficos, diversos dos ocidentais modernos. Podendo, embora, falar-se da existência de actos homossexuais em virtualmente qualquer contexto sócio-cultural, na verdade não poderíamos falar em homossexuais e em heterossexuais a não ser sensivelmente a partir da construção das sociedades modernas e da afirmação de grupos sociais particulares como os médicos e mais tarde os psiquiatras.

32 McINTOCH (1968), “The Homosexual Role”, publicado na revista Social Problems.

McIntoch, Mary. (1992). The Homossexual Role. In Stein, Edwards (ed.), Forms of desire. Sexual orientation and the social constructionist controversy, N.Y. Routledge, pp. 25-42.

33 FOUCAULT, Michel (1994). A História da Sexualidade – a vontade de saber. Vol. 1, Lisboa, Relógio d’Água.; A obra de FOUCAULT defende a não existência do homossexual enquanto indivíduo intrinsecamente distinto dos demais antes do século XIX. Este autor refere que: “A homossexualidade apareceu como uma das figuras da sexualidade quando foi abatida à prática da sodomia, passando a uma espécie de androginia interior, um hermafroditismo da alma. O sodomita era um relapso, o homossexual é agora uma espécie” (Foucault, 1994, p. 46), e Davidson, 1992, et al.

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30

Para BOSWELL34 o construtivismo não constitui uma abordagem monolítica35, sendo possível distinguir pelo menos 3 perspectivas: (a) os que argumentam que a

“identidade homossexual” não existia antes de determinada data; (b) os que consideram que a homossexualidade não existia antes dessa data; (c) e os que consideram que, embora a homossexualidade tenha sido conhecida ao longo da história, os gays36 não existiam até muito recentemente.

Na opinião de HACKING37 a “proliferação dos rótulos no domínio da sexualidade pode ter engendrado muitos mais tipos de pessoas do que o mundo alguma vez houvera conhecido”.

A homossexualidade não será uma preferência, mas sim uma orientação, ou seja, uma característica intrínseca e definidora da identidade individual, social e cultural. A este propósito, aquilo que se sabe é que existem diversas variáveis de ordem biológica, psicológica, sociológica, entre outras, que parecem condicionar as opções dos indivíduos, mas cujo peso relativo não foi, até agora, passível de ser determinado. Estas opções resultam, muito provavelmente, de uma confluência e interacção entre todas aquelas dimensões38.

Os estudos sobre gays e lésbicas têm funcionado como uma ferramenta intelectual determinante para as ciências sociais, uma vez que têm permitido transformar a forma como é abordado o conceito de identidade.

A generalidade dos debates sobre a homossexualidade e o que a constitui, e os debates sobre o género, apresenta uma negociação entre pensadores essencialistas e pensadores constructivistas. O pensamento constructivista vê a identidade como fluida e como efeito do condicionamento social e dos modelos culturais disponíveis. Na opinião

34 BOSWELL, John (1992). Categories, Experience and Sexuality. In Stein, Edwards (ed.), Forms of desire. Sexual orientation and the social constructionist controversy. N.Y. Routledge, 133-173. p. 136.

35 Monolítica no sentido de inseparável ou homogénea.

36 Que Boswell define gays como sendo os indivíduos que manifestam uma atracção erótica predominantemente orientada para indivíduos do seu próprio sexo, consciente ou inconscientemente. Este autor publica nos anos 80 uma obra fundamental onde defende que a compreensão da intolerância enquanto força social passa pela análise de um grupo particular – os homossexuais. (Boswell, 1981)

37 HACKING, Ian. (1992). Making Up People In Stein, Edwards (ed.), Forms of desire. Sexual orientation and the social constructionist controversy, N.Y., Routledge, 69-88, p. 74.

38 BOSWELL, John (1992). Categories, Experience and Sexuality. In Stein, Edwards (ed.), Forms of desire. Sexual orientation and the social constructionist controversy. N.Y. Routledge, 133-173. p. 138.

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31

de ANNAMARIE JAGOSE39, a identidade não é uma categoria empírica demonstrável, mas sim o produto de processos de identificação.

Aquilo que somos, a forma como nos vemos e a forma como vemos o mundo e os outros, é reflexo da percepção que temos sobre nós próprios. Esta percepção de “si”

condiciona a forma como o indivíduo define a sua identidade.

Consideramos pertinente fazer referência à Teoria Queer, pelo que a abordamos em seguida.

39 ANNAMARIE JAGOSE in VALE DE ALMEIDA In Indisciplinar a Teoria: Estudos Gays, Lésbicos e Queer, p. 92.

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32

“A teoria Queer desenvolve-se a partir de um reordenamento gay e lésbico das representações pós- estruturalistas da identidade como constelações de posições múltiplas e instáveis.”

Annamarie Jagose

4. A TEORIA QUEER

A Teoria Queer40 parte de cinco ideias centrais. Em primeiro lugar, defende que as identidades são compostas por variadíssimos componentes de identidade que se articulam entre si de inúmeras formas, como por exemplo a orientação sexual, o género, a idade, a nacionalidade, a etnia, entre outros.

Em segundo lugar, esta teoria defende que a identidade, pelo facto de ser construída, caracteriza-se por ser arbitrária, instável e excludente, pois implica o silenciamento de outras experiências de vida (ao longo da sua construção).

Segundo SEIDMAN, as identidades são “formas de controlo social uma vez que distinguem populações normais e desviantes, reprimem a diferença e impõem avaliações normalizantes relativamente aos desejos”41.

Em terceiro lugar, esta teoria não defende o abandono total da identidade enquanto categoria política. A Teoria Queer propõe que o seu significado seja reconhecido de forma aberta, fluida e possível de constatação. Este tipo de abordagem tem como objectivo viabilizar o surgimento de diferenças e o surgimento de uma cultura que aceite a diversidade.

Em quarto lugar, a Teoria Queer defende que a teoria da homossexualidade centrada no indivíduo homossexual estimula e valoriza a dicotomia entre hetero e homo, e fortalece o actual regime sexual que estrutura e condiciona as relações sociais vividas no mundo ocidental.

40 “Queer descreve os gestos ou modelos analíticos que dramatizam as incoerências nas relações supostamente estáveis entre sexo cromossómico, género e desejo sexual”. MIGUEL VALE DE ALMEIDA, Indisciplinar a Teoria – Estudos Gays, Lésbicos e Queer, p. 26.

41 SEIDMAN, Steven. (1996). Queer Theory/Sociology. Oxford: Blackwell Publishers. p. 20.

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33

A Teoria Queer surge com o objectivo de desafiar o regime sexual conhecido como o sistema de conhecimentos que coloca as categorias hetero e homo como “pedras angulares das identidades sexuais”. Na opinião de SEIDMAN42 esta teoria vê a hetero e a homossexualidade como categorias de conhecimento, como uma linguagem que estrutura o conhecimento que detemos sobre corpos, sobre desejos, sobre sexualidades e identidades.

Segundo GONSIOREK e WEIRICH43, os homossexuais podem ser definidos enquanto grupo minoritário, uma vez que: (a) são um segmento subordinado dentro de uma sociedade de grande complexidade; (b) manifestam características que são menosprezadas ou desvalorizadas pelos segmentos dominantes da sociedade; (c) e por fim, por causa destas características, este grupo tem a consciência de estar limitado a uma comunidade.44

Tendo por base estas características, podemos considerar que o grupo minoritário dos homossexuais recebe um tratamento discriminatório.

A violência contra os homossexuais faz parte das estatísticas existentes sobre os crimes de ódio (ou “hate crimes”). A discriminação no trabalho, em casa, nos diversos serviços é justificada tendo por base a crença de que os homossexuais possuem várias

42 SEIDMAN, Steven. (1996). Queer Theory/Sociology. Oxford: Blackwell Publishers, pp. 12-13.

43 GONSIOREK, J.C. & WEIRICH. J.D. (1991). Homossexuality: research implications for public policy.

USA: SAGE Publications. p. 63.

44 A homossexualidade pode ser definida como uma relação amorosa entre duas pessoas do mesmo sexo, mas o termo também se aplica tanto no que se refere às relações que envolvem carícias físicas e qualquer forma de coito extragenital, como às que apenas envolvem sentimentos apaixonados ou ternos. Quando se considera, não a relação, mas a tendência ou disposição, o sentido torna-se mais extensivo. A homossexualidade dita latente escapa à consciência do sujeito e exprime-se por condutas de substituto (atitudes selectivas, como por exemplo as amizades selectivas), formações reaccionais ou uma inibição da actividade heterossexual (impotência, frigidez). Diferentes termos são inapropriados e confundidos com o de homossexualidade. A sodomia (ou coito anal) pratica-se igualmente em relações hetero e homossexuais.

A pederastia refere-se à homossexualidade masculina orientada para sujeitos jovens. O travestismo define o hábito de se vestir e maquilhar e forma a imitar o outro sexo. Geralmente observado nos homens, não é necessariamente expressão de homossexualidade, mas de uma forma de fetichismo. Finalmente o transexualismo caracteriza a crença (quase delirante) de se pertencer na realidade ao sexo oposto e exprime- se pela reivindicação de se ser aceite como tal, particularmente através de alterações médicas ou cirurgias corporais apropriadas. Regra geral não se faz acompanhar de tendência homossexual. Considerada segundo as épocas e as sociedades como um vício a reprimir, um desvio a corrigir ou uma diferença a respeitar, a homossexualidade masculina ou feminina, deixa entrar o mistério dos determinantes biológicos e psico- sociológicos que guiam a orientação da escolha sexual. A homossexualidade foi oficialmente definida como uma doença mental pela Associação de Psiquiatria Americana em 1952, e em 1968 nas edições no Manual de Estatística e Diagnóstico dos Transtornos Psiquiátricos. Esta classificação foi eliminada em 1973, permanecendo apenas o diagnóstico de “homossexualidade ego-distóica”, que foi definitivamente retirada em 1986. ROLAND DORON e FRANÇOISE PAROT. (2001) Dicionário de Psicologia. Climepsi.

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34

características indesejáveis, como por exemplo, que são doentes mentais e que representam um perigo para as crianças.

Estes estereótipos infundados são ainda hoje utilizados contra a comunidade homossexual sempre que se aborda a questão da adopção por parte de casais homossexuais.

A moralidade religiosa tem representado um papel de relevo sempre que se tenta

“justificar” a discriminação e a hostilidade contra os homossexuais.

A homossexualidade continua a ser condenada pela maioria das religiões, e nesse sentido, os homossexuais podem também ser vistos como um grupo religioso minoritário.

Os homossexuais podem também ser vistos como uma minoria política. A visibilidade recente das comunidades homossexuais deve-se grandemente às lutas legais e políticas levadas a cabo contra o preconceito e a discriminação nestas últimas quatro décadas45.

As atitudes dos heterossexuais contra as pessoas que se identificam como não sendo heterossexuais, nomeadamente os homossexuais, apresentam-se a vários níveis:

psicológico, social e demográfico.

Estas atitudes negativas caracterizam-se por: (a) são expressões tradicionais e atitudes restritivas em relação ao papel do género; (b) não se identificam com os homossexuais, nem com os seus comportamentos; (c) observam as atitudes negativas dos seus pares; (d) é pouco provável que tenham tido contacto pessoal com homossexuais ou com lésbicas; (e) são provavelmente mais velhos e com menos habilitações académicas;

(f) residem em locais onde as atitudes negativas representam a norma; (g) são, provavelmente, fortemente religiosos e subscrevem uma ideologia religiosa conservadora; (h) os homens heterossexuais manifestam um maior preconceito contra a homossexualidade masculina do que em relação à homossexualidade feminina. Uma possível justificação para este comportamento será a pressão social e psicológica que a

45 GONSIOREK, J.C. & WEIRICH, J.D. (1991). Homossexuality: research implications for public policy.

USA: SAGE Publications. p.64.

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35

sociedade exerce sobre os homens para que seja preservada a imagem de homem ou de

“macho”46.

Por outro lado, todos sabemos que na sociedade actual continua a existir preconceito em relação a outros grupos minoritários, como por exemplo as mulheres. Nos dias de hoje as mulheres continuam a receber um tratamento diferenciado em relação aos homens, e são muitíssimas vezes obrigadas a demonstrar mais capacidades do que os homens, para conseguir atingir, por exemplo em meio laboral, o mesmo cargo ou função exercida por um homem.

Podemos considerar que os estereótipos47 existem quando: (a) as pessoas são categorizadas em grupos com base em algumas características; (b) são atribuídas características adicionais a essa categoria; (c) as características individuais são atribuídas a todos os membros do grupo48.

Habitualmente os indivíduos percepcionam o mundo de forma selectiva, tendo em consideração a informação que suporta ou sustenta determinados estereótipos, e a informação que é ignorada e que os contradiz. A percepção selectiva influencia a resposta dos heterossexuais em relação aos homossexuais masculinos e femininos. Existem determinados adjectivos que associamos a determinados estereótipos, por exemplo: a imagem dos homossexuais masculinos está habitualmente associada a características femininas (são gentis, meigos, passivos e gesticulam de forma feminina); por outro lado, homens heterossexuais são maioritariamente adjectivados de agressivos, dominantes, fortes e competitivos. As lésbicas estão, regra geral, rotuladas de dominadoras, activas e masculinas, ao contrário da passividade e do conservadorismo associado ao papel da mulher.

GURWITZ e MARCUS (1978) realizaram uma experiência com alunos universitários nos Estados Unidos em que se pedia aos alunos que caracterizassem vários mulheres e os homens que lhes eram apresentados num vídeo. A alguns destes alunos era- lhes dito que determinados indivíduos eram homossexuais e que outros não. Verificou-se que as respostas apresentadas pelos alunos foram maioritariamente condicionadas pela

46 GONSIOREK, J.C. & WEIRICH, J.D. p.65.

47 No Dicionário de Psicologia os estereótipos são definidos como uma “opinião preconcebida e comum que se impõe aos membros de uma comunidade”.

48 GONSIOREK, J.C. & WEIRICH, J.D. p.67.

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36

sugestão dos autores desta experiência, e pela aprendizagem social e pelo reconhecimento de determinadas características associadas a determinados estereótipos 49.

Alguns estereótipos reflectem ideologias que são específicas de um determinado grupo. Por exemplo, presume-se que um homossexual masculino apresente características culturalmente definidas como femininas, e que as lésbicas apresentem características e comportamentos masculinos. Estas ideologias são tão fortes que qualquer homem ou mulher que apresente atitudes e comportamentos definidos como sendo do sexo oposto, poderá facilmente ser etiquetado de homossexual.

No entanto, existem muitos homossexuais (talvez mesmo a maioria) que não se enquadram nestes estereótipos, isto é, que não apresentam comportamentos e atitudes denominadas de “estranhas”, e que por esse motivo serão provavelmente menos discriminados pela sociedade.

Devido ao preconceito que existe em relação à homossexualidade, muitos indivíduos vêem-se obrigados a omitir a sua orientação sexual, ou a fazer-se passar por heterossexuais. Dependendo do local onde vivem, área rural ou urbana com maior ou menor abertura para a aceitação de uma diferente orientação sexual, muitos indivíduos não revelam a verdade sobre si aos que lhe são mais próximos, por exemplo: às suas famílias e aos seus colegas de trabalho. O facto de os indivíduos ocultarem a sua orientação sexual provoca uma discrepância dolorosa entre a sua identidade privada e a sua identidade pública.

Devido a este facto, muitos homossexuais não se sentem autênticos, sentem que estão a viver uma mentira, e que os outros jamais os aceitarão se revelarem a verdade.

Este distanciamento entre si e os outros promove e perpetua o objectivo de evitar revelar a sua orientação sexual. Quando este contacto com os outros não pode ser evitado, estes indivíduos utilizam estratégias de auto-defesa que lhes permita manter a interacção a um nível superficial. A partir do momento em que estes indivíduos revelam a sua orientação sexual, passam a estar sujeitos à rejeição por parte dos outros, à discriminação e até mesmo a episódios de violência, com consequências físicas e psicológicas marcantes.

49 GONSIOREK, J.C. & WEIRICH, J.D. p.68.

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37

A discriminação provoca sentimentos de tristeza e de ansiedade; alguns indivíduos sentem as suas vidas mais dificultadas e injustas, e sentem insatisfação com a maior parte da comunidade. As minorias sexuais são vítimas de um considerável stress psicológico, semelhante aos indivíduos vítimas da criminalização. As consequências mais frequentes são sentimentos de: cepticismo, negação e medo; podem surgir reacções que variam entre o medo e a raiva, tristeza e euforia, pena de si próprios e culpabilização; sentimentos de perda pessoal, rejeição, humilhação e depressão também são comuns50.

A culpabilização por ser homossexual, existente em determinadas situações de pressão e stress, levam a sentimentos de depressão e vulnerabilidade, até mesmo em indivíduos que se consideram confortáveis com a orientação sexual. Os indivíduos frequentemente sujeitos a situações de discriminação chegam a autodesvalorizar-se, interiorizando o estatuto de vítima. Outros estudos mostram que grupos frequentemente submetidos à discriminação (mulheres e homossexuais) chegam a formular juízos negativos contra eles próprios51.

As atitudes e os comportamentos anti-gay apresentam uma raiz cultural complexa e estão condicionados por um grande número de variáveis sociais e psicológicas. Neste sentido, podem tirar-se duas conclusões. Em primeiro lugar, os heterossexuais que têm amigos homossexuais que não omitem a sua orientação sexual, aceitam mais facilmente a homossexualidade em geral. O convívio com homossexuais que não omitem a sua orientação sexual favorece a existência de atitudes positivas em relação aos homossexuais, mesmo em contextos em que a hostilidade é um comportamento padrão.

Em segundo lugar, os heterossexuais apresentam atitudes mais favoráveis depois de frequentarem um programa educacional sobre os homossexuais e a homossexualidade52. Concluímos mais uma vez que um dos principais motivos que justifica o preconceito é a falta de informação.

50 GONSIOREK, J.C. & WEIRICH, J.D. p. 74-75.

51 LEWIN, KURT (1941); GERGEN, GERGEM & JUTRAS. (1981) in Psicologia – Elementos de Psicologia Social. Porto: Porto Editora, p. 71-75.

52 STEVENSON (1988) in J.C. GONSIOREK & J.D. WEIRICH. Homossexuality: research implications for public policy. (1991). USA: SAGE Publications, p. 77.

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38

“A não discriminação constitui um princípio fundamental da União Europeia.”

Parlamento Europeu e Conselho da União Europeia

5. DISCRIMINAÇÃO DIRECTA E DISCRIMINAÇÃO INDIRECTA

Neste capítulo apresentamos as definições de discriminação directa e indirecta, e fazemos uma breve síntese da legislação europeia consultada e que faz referência à temática da igualdade e da não discriminação.

A discriminação designa o comportamento dirigido contra os indivíduos visados pelo preconceito, e pode caracterizar-se de uma forma directa ou indirecta.53

A discriminação directa ocorre sempre que uma pessoa é sujeita a um tratamento menos favorável do que aquele que tenha sido, ou venha a ser dado, a outra pessoa em situação semelhante ou comparável.

Designa-se por discriminação indirecta sempre que uma disposição, critério ou prática aparentemente neutro seja susceptível de colocar pessoas numa posição de desvantagem comparativamente com outras, excepto se, essa disposição, critério ou prática seja objectivamente justificado por um fim legítimo, ou então, em que os meios para o alcançar sejam adequados e necessários.

Antes de fazermos referência à legislação europeia, importa lembrar a Constituição da República Portuguesa, nomeadamente o artigo 13º - Principio da Igualdade, em que pode ler-se: “1. Todos os cidadãos têm a mesma dignidade e são iguais perante a lei. 2.

Ninguém pode ser privilegiado, beneficiado, prejudicado, privado de qualquer direito ou isento de qualquer dever em razão de ascendência, sexo, raça, língua, território de origem, religião, convicções políticas ou ideológicas, instrução, situação económica,

53 As definições de “discriminação directa” e “discriminação indirecta”, e outras informações úteis sobre esta temática podem ser consultadas na página web da Comissão para a Igualdade no Trabalho e no Emprego (CITE) no endereço http://www.cite.gov.pt/.

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condição social ou orientação sexual.”; e os artigos 1º e 7º da Declaração Universal dos Direitos do Homem que referem que “Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade em direitos…” e “Todos são iguais perante a lei e, sem distinção, têm direito a igual protecção da lei. Todos têm direito a protecção igual contra qualquer discriminação que viole a presente Declaração e contra qualquer incitamento a tal discriminação.”

A União Europeia adoptou no ano de 2000, um pacote de medidas concebidas para fortalecer e legislar o direito das pessoas de todos os locais, de modo a serem tratadas com igualdade e reforçar o respeito pelos direitos humanos por toda a União Europeia.

Este pacote incluía duas Directivas54:

a) A Directiva 2000/43/CE, que aplica o princípio da igualdade de tratamento entre pessoas, e proíbe a discriminação com base na raça ou origem étnica, em áreas como o emprego, a formação profissional, a educação, os bens e serviços e a protecção social;

b) A Directiva 2000/78/CE, estabelece um quadro geral de igualdade de tratamento no emprego e na actividade profissional e, proíbe a discriminação em razão da religião ou credo, incapacidade ou deficiência, idade ou orientação sexual.

Estas directivas foram apoiadas por um programa de acção estabelecido por uma decisão do Conselho (2000/750/CE) que promove medidas práticas para combater a discriminação proibida pelas directivas. Estas medidas práticas passam pela sensibilização das pessoas em relação aos seus direitos e obrigações, e por uma tentativa de mudança das atitudes e comportamentos.

Estas directivas encorajam o desenvolvimento de uma abordagem integrada para resolver a discriminação nas suas diferentes origens, tendo por base o respeito pelo direito de todas as pessoas de serem tratadas com igualdade. Estas duas directivas reflectem o reconhecimento crescente das vantagens da diversidade para toda a sociedade.

54 A informação completa sobre estas Directivas encontra-se disponível em http://europarl.europa.eu/.

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Outras referências à não discriminação que consideramos pertinentes são:

a) A Carta dos Direitos Fundamentais da União Europeia, nos artigos 21º e 23º, instaura a proibição de toda e qualquer discriminação por diversos motivos, bem como a regra segundo a qual a igualdade entre homens e mulheres deve ser garantida em todos os domínios;

b) A Agenda Social 2005-2010, que tem como missão fundamental a promoção da dimensão social do crescimento económico. Uma das prioridades da Agenda Social é a promoção da igualdade de oportunidades para todos enquanto meio para alcançar uma sociedade mais inclusiva do ponto de vista social;

c) O processo de consulta organizado pela União Europeia através do Livro Verde denominado “Igualdade e combate à discriminação na União Europeia alargada”, demonstrou que no entender de uma ampla maioria dos inquiridos a União Europeia deve intensificar os seus esforços para lutar contra as formas de discriminação em razão do sexo, raça, ou origem étnica, religião ou crença, deficiência, idade ou orientação sexual;

d) A designação do ano de 2007 de “Ano Europeu da Igualdade de Oportunidade para Todos” (também designado por Ano Europeu), cujo objectivo foi o de promover, sensibilizar e mobilizar todos os Estados membros da União Europeia em matéria de não discriminação e de igualdade de oportunidades. O Ano Europeu procurou, igualmente, abordar as questões relacionadas com a discriminação múltipla, ou seja, a discriminação com base em dois ou mais motivos do artigo 13º do Tratado que institui a Comunidade Europeia, bem como promover um tratamento equilibrado de todos esses motivos. Outros dos objectivos do Ano Europeu são: o de fomentar o debate sobre formas de aumentar a participação de grupos vítimas de discriminação na sociedade e de obter uma participação equilibrada entre homens e mulheres; Facilitar e celebrar a diversidade e a igualdade; e, promover uma sociedade mais coesa, sensibilizando para a importância de eliminar estereótipos, preconceitos e violência, e promover boas relações entre todos os membros da sociedade, em especial os jovens, e de fomentar e divulgar os valores subjacentes ao combate à discriminação.

Referências

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