• Nenhum resultado encontrado

Não foram apresentadas contrarrazões.

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2022

Share "Não foram apresentadas contrarrazões."

Copied!
7
0
0

Texto

(1)

JUSTA CAUSA. DESÍDIA. MENORES.

Diante da gravidade de determinado ato é plenamente justificável a aplicação da justa causa direta, em decorrência de ato único da empregada. Justa causa mantida em razão de ter sido devidamente comprovado que a recorrente deixou de cumprir com sua atribuição de professora titular do período integral da escola, ausentando-se sem que todos os alunos tivessem sido entregues aos seus responsáveis. O Estatuto da Criança e do Adolescente – lei 8069/90 - prevê no artigo 5º que nenhuma criança será objeto de qualquer forma de negligência.

RELATOR : DES. MARCELO ANTERODE CARVALHO RECORRENTE : GABRIELA RODRIGUES GUIMARÃES

RECORRIDO(A) : COLÉGIOE CURSO PLUNA LTDA

RELATÓRIO

Vistos, relatados e discutidos estes autos de recurso ordinário, oriundos da MM. 11ª Vara do Trabalho do Rio de Janeiro, em que são partes as acima indicadas.

A sentença de primeiro grau, às fls. 185/188, da lavra do Excelentíssimo Juiz do Trabalho PAULO ROGÉRIO DOS SANTOS, que julgou procedente em parte o feixe de pedidos, condenando a reclamada ao pagamento das seguintes parcelas: integrações de salários extra recibo em férias, décimos terceiros, descansos semanais remunerados e depósitos do FGTS no período de 01/02/2010 até a dispensa.

Recurso ordinário da reclamante às fls. 189/195, suscitando preliminar de nulidade do julgado por cerceio de defesa e, no mérito, requerendo a reforma da respeitável sentença no que tange ao reconhecimento da justa causa aplicada.

Não foram apresentadas contrarrazões.

Não houve remessa ao Ministério Público do Trabalho, considerando-se a Lei Complementar nº 75/1993 e o Ofício PRT/1ª Região nº 214/13-GAB, de 11/03/2013.

(2)

É o relatório.

FUNDAMENTAÇÃO

Regulares a tempestividade (fls. 189) e a representação processual (fls. 08), não havendo preparo a ser comprovado. Porque preenchidos os pressupostos de admissibilidade, conheço do recurso ordinário.

PRELIMINAR DE NULIDADE DO JULGADO POR CERCEIO DE DEFESA

Suscita a recorrente preliminar de nulidade do julgado ante o indeferimento da oitiva da testemunha, por entender o ilustre julgador que em razão desta ter sido demitida pelo mesmo motivo, teria interesse no desfecho da lide.

Alega cerceio de defesa e violação aos Princípios do Contraditório e da Ampla Defesa.

Constou na ata às fls. 184v. o seguinte registro:

(...) Pretendeu a reclamante a oitiva da srª Regiane Aparecida Gonçalves Marçal. A ré arguiu a contradita sob o argumento de que a testemunha foi dispensada em razão do mesmo fato que causou a dispensa motivada da autora e possui RT com idêntico teor. Acolho a contradita, não em razão da ação, mas pelo evidente interesse no deslinde da controvérsia uma vez que sua dispensa decorreu dos mesmos fatos. Registre-se o inconformismo do patrono da reclamante.(...)

A presente ação versa sobre anulação de dispensa por justa causa, penalidade máxima a ser aplicada à empregada por violação contratual e, diante de tal, realmente devem ser esgotados todos os meios probatórios capazes de evidenciar ou não a correta adequação, sempre com vista à Preservação do Emprego. No entanto, em razão do disposto no artigo 130 do CPC, o julgador é o destinatário das provas cabendo-lhe a apreciação da adequação do depoimento a ser colhido, de acordo com o caso sob análise. E neste aspecto, nada há a reconsiderar.

Trata-se de controvérsia a respeito do horário em que a autora, professora titular do horário integral, supostamente teria saído da escola e registrado outro no ponto, cerca de dez minutos de diferença, ingressado no ônibus escolar, embora recebesse vale-transporte, deixando na secretaria da escola, duas crianças do horário integral, filhas do “dono e

(3)

sócio” da reclamada.

O acolhimento da contradita da testemunha Regiane Aparecida Gonçalves Marçal, auxiliar de serviços gerais, dispensada por justa causa na mesma data e pelo mesmo motivo da autora, termos de defesas subscritos pelo diretor e pelas empregadas às fls. 16/17 e 18/19, não constitui evidente cerceio de defesa em relação à elucidação dos fatos.

Tal se justifica em razão da outra testemunha da autora, srª Patrícia de Souza Bugarin não ter comparecido na audiência, embora ciente da data às fls. 179. Não se trata, portanto, de cerceio de defesa ou de precipitação do MM. Juízo a quo, mas da avaliação do julgador quanto ao encargo da prova em consonância com a valoração que seria atribuída ao depoimento, de imediato reconhecida como frágil em razão do interesse no deslinde do feito.

Refuta-se, por consequência a alegação de violação aos Princípios do Contraditório e da Ampla Defesa.

Rejeito.

MÉRITO

RECONSIDERAÇÃO DA JUSTA CAUSA

Insurge-se a recorrente contra a decisão de primeiro grau ressaltando sua conduta ilibada no curso do contrato de trabalho e ausência de dolo no episódio ocorrido em 11/04/2013.

Relatou a reclamante na inicial ter sido admitida em 01/03/2008 na função de professora, passando a trabalhar no regime integral em 01/02/2010, com demissão por justa causa em 27/08/2012.

Alegou que no dia 24/08/2012 foi levianamente acusada pelo sócio da escola, sr. Carmine de ter deixado seu filho, o menor Jean nas dependência da escola sozinho, às 18 horas e 55 minutos, sendo que a folha de ponto acusou a saída ás 19 horas e 03 minutos. Afirma que o menor, juntamente com outro, não ficou sozinho nas dependências da escola, pois ficaram aos cuidados da srª Fabiane Chaves. Fundamenta, ainda, o pedido de nulidade da aplicação da justa causa no fato de não constar em seu contrato de trabalho nenhuma claúsula de sua responsabilidade em relação à saída do último aluno da escola.

Foram juntados ás fls. 16/19 cópias dos termos de ampla defesa da autora e da auxiliar de serviços gerais que foi demitida na mesma data e pelo mesmo motivo.

Em contestação às fls. 40/48 a reclamada esclareceu que a

(4)

reclamante era a professora titular do horário integral motivo pelo qual tinha a incumbência de gerenciar as atividades das auxiliares de serviços gerais. Relatou que a professora foi flagrada em atitude irregular pelo diretor mantenedor da escola que ao chegar de carro para buscar seus filhos, alunos do horário integral, a avistou correndo para adentrar no ônibus escolar fornecido gratuitamente aos estudantes do colégio.

Salientou a ausência de arbitrariedade do ato pelo fato dos alunos de 02 e 04 anos terem ficado em pânico, além da empregada receber vale-transporte, não havendo a necessidade de utilizar-se do transporte escolar. Afirmou, ainda que a professora já havia sido advertida verbalmente por tal ato.

O controle de frequência da data do fato indica às fls. 98 a entrada da empregada às 08h 57min e saída às 19h 03min, com observação de saída às 18h 50 min por Carmine.

Em audiência, ata às fls. 184, foi devolvida à reclamada a cópia do DVD que comprovaria os fatos narrados em relação ao estado emocional dos menores, em razão de não ter sido cumprido o prazo determinado na audiência anterior, ata às fls. 179, já que nenhum equipamento possibilitou a exibição das imagens.

A sentença manteve a justa causa aplicada com base no depoimento da testemunha Fabiane ao declarar que a autora saiu da escola e deixou duas crianças na secretaria, causando evidente desespero no aluno mais novo. Eis os termos da decisão:

(...) patente a gravidade do ato da empregada, ao não cumprir regra mínima contratual, expondo crianças ao risco e à situação traumática, quando em verdade, deveria zelar pela integridade. Pouco importa de quem os alunos são filhos. A prática se mostrou totalmente irregular e inaceitável, não podendo manter a ré em seus quadros empregados que não zelam pela higidez física e psíquica dos alunos(...) - fls. 186.

Nada a reformar.

Em face da subordinação no contrato de trabalho, e o fato de o empregador assumir todos os riscos da atividade econômica, que não são suportados pelo empregado, é conferido ao primeiro o direito de dirigir a prestação dos serviços, que tem como sustentáculo o poder disciplinar.

É o que nos ensina o saudoso Délio Maranhão (Instituições de Direito do Trabalho, vol. I, pág 237):

(5)

“Seja qual for a forma de trabalho subordinado, encontram-se, mais ou menos rigorosamente exercidos de fato, mas, sempre, potencialmente, existentes, os seguintes direitos do empregador:

a) de direção e de comando, cabendo-lhe determinar as condições para a utilização e aplicação concreta da força de trabalho do empregado, nos limites do contrato;

b) de controle, que é o de verificar o exato cumprimento da prestação de trabalho;

c) de aplicar penas disciplinares, em caso de inadimplemento de obrigação contratual.

Ao direito do empregador de dirigir e comandar a atuação concreta do empregado corresponde o dever de obediência por parte deste; ao direito de controle correspondem os deveres de obediência, diligência e fidelidade”.

Como não existe comando sem sanção que o garanta, podemos dizer que ao poder diretivo da empresa é inerente o direito de punir.

O ordenamento jurídico pátrio consagra três tipos de punições, a saber: advertência, suspensão e dispensa por justa causa. A dispensa motivada, por ser a mais grave das penalidades, deve ter os fatos que a determinaram robustamente comprovados pelo empregador.

O princípio da proporcionalidade e da gradação da pena realmente deve ser observado em caso de dispensa por justa causa, pois que as punições revestem caráter pedagógico, visando o ajuste do empregado às lícitas normas de sua empresa. O afastamento do empregado por meio de justa causa deve ser tido como solução cabível apenas em último caso e após esgotadas as demais punições aplicadas em escala crescente, a fim de transmitir ao obreiro a noção do desajuste de seu comportamento, observado o sentido didático da penalidade, sob pena de se caracterizar excessivo rigor no exercício de um direito.

Entretanto, diante da gravidade de determinado ato é plenamente justificável a aplicação da justa causa direta, em decorrência de ato único do empregado.

Pelo que restou apurado nos autos, foi devidamente comprovado que a recorrente deixou de cumprir com sua atribuição de professora titular do período integral da escola, ausentando-se sem que todos os alunos tivessem sido entregues aos seus responsáveis. Como

(6)

bem ressaltado na sentença, a “empregada da secretaria não tinha responsabilidade pelos alunos, tanto que não conseguiu conter a criança menor que, em desespero e assustada, dirigiu-se chorando e gritando para as grades da escola.”.

Por certo, configurou-se a desídia da empregada, cuja punição ensejou a justa causa, por se tratar de atitude que colocou em risco a integridade física e emocional dos alunos.

A reclamada desincumbiu-se de seu encargo probatório, o que se abstrai dos depoimentos das testemunhas Fabiane Chave de Souza, empregada da secretaria e Daniel Machado de Castro Vasconcelos, auxiliar geral de coordenação, que presenciaram o estado emocional das crianças em razão da ausência da professora:

(...) que tem certeza que no dia 24/08/2012 a reclamante saiu antes das 19h... que recebeu a informação dada pelo porteiro o sr. Maurício de que a reclamante tomou o ônibus da escola no referido dia; que a obrigação da reclamante era ficar até a última criança sair; que as crianças permaneceram na escola em torno de 05 minutos até a chegada dos responsáveis... que as crianças ficaram assustadas e começaram a chorar porque não tem a depoente como referência em razão de trabalhar na secretaria; que a criança de dois anos e pouco se dirigiu a grade da escola e lá ficou agarrado, chorando mais assustado quando olhou para a depoente e não a reconheceu... que as crianças deixadas na secretaria eram filhas do dono da escola; que o pai das crianças não estava na escola naquele momento(...) - fls.

181.

(...) que a reclamante era responsável pelo horário integral; que no dia 24/08/2013 a reclamante saiu da escola em torno das 19h; que foi chamado apenas depois que a criança já tinha se dirigido para a grade da escola e a srª Fabiane já havia tentado acalmar a criança... que a responsável pelo integral no caso, a reclamante, era responsável por permanecer no local até que todas as crianças tivessem ido embora(...) - fls. 182.

A própria recorrente admitiu em depoimento às fls. 184 ter deixado as crianças na Secretaria aos cuidados da srª Fabiane quando do término de seu horário. Relatou que tal era a ordem que lhe era dada, porém nada restou demonstrado em relação à constância de atrasos do responsável pelos alunos.

O cerne da questão não está adstrito ao horário de saída

(7)

propriamente dito, mas à responsabilidade inerente ao cargo ocupado, independentemente de existir cláusula contratual específica neste particular. Ainda que não tenha havido dolo, a desídia foi evidente, de modo que a situação a que foram expostos os menores poderia ter sido evitada pela recorrente, a qual agiu com desrespeito ao Princípio da Dignidade da Pessoa Humana prevalente, in casu, sobre o do Protetor ao Empregado, em consonância com a ponderação de interesses. O próprio Estatuto da Criança e do Adolescente – lei 8069/90 - prevê no artigo 5º que nenhuma criança será objeto de qualquer forma de negligência.

O fato da recorrente ter sido demitida juntamente com a auxiliar de serviços gerais não constitui fundamento hábil a descaracterizar a justa cauda aplicada que, por certo decorreu da perda do fator confiança, inclusive para a cautela com outras crianças, o que constitui elemento imprescindível nas relações trabalhistas, mormente quando envolve trabalho relacionado à educação infantil.

Mantém-se na íntegra a sentença.

Nego provimento.

Ante o exposto, conheço do recurso ordinário, rejeito a preliminar suscitada e, no mérito, nego-lhe provimento, nos termos da fundamentação supra.

CONCLUSÃO

A C O R D A M os Desembargadores da Décima Turma do Tribunal Regional do Trabalho da 1ª Região, por unanimidade, conhecer do recurso ordinário, rejeitar a preliminar suscitada e, no mérito, negar-lhe provimento, nos termos do voto do Ex.mo Relator.

Rio de Janeiro, 15 de janeiro de 2014.

MARCELO ANTERO DE CARVALHO Desembargador do Trabalho - Relator

Referências

Documentos relacionados

Este dado diz respeito ao número total de contentores do sistema de resíduos urbanos indiferenciados, não sendo considerados os contentores de recolha

8- Bruno não percebeu (verbo perceber, no Pretérito Perfeito do Indicativo) o que ela queria (verbo querer, no Pretérito Imperfeito do Indicativo) dizer e, por isso, fez

A Sementinha dormia muito descansada com as suas filhas. Ela aguardava a sua longa viagem pelo mundo. Sempre quisera viajar como um bando de andorinhas. No

Os dados referentes aos sentimentos dos acadêmicos de enfermagem durante a realização do banho de leito, a preparação destes para a realização, a atribuição

Considerando que a criminalização do aborto voluntário no primeiro trimestre da gravidez é uma grave intervenção em diversos direitos fundamentais da mulher e que essa

1.1.6 Os gestores do contrato comunicarão à contratada, via ordem de serviço designada para esse fim, lista com identificação de colaboradores da TELEBRAS e

O primeiro conjunto de artigos, uma reflexão sobre atores, doenças e instituições, particularmente no âmbito da hanse- níase, do seu espaço, do seu enquadramento ou confinamen- to

Estudo transversal, retrospectivo, descritivo, com análise de prontuários de pacientes pediátricos que passaram por internação hospitalar no Hospital da Criança Santo Antônio