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A IMPORTÂNCIA DO ENSINO DA ARTE NA PRÉ-ESCOLA THE IMPORTANCE OF ART TEACHING IN PRE-SCHOOL

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UNISANTA Humanitas – p. 23 – 46; Vol. 8 nº 1 (2019) Página 23

A IMPORTÂNCIA DO ENSINO DA ARTE NA PRÉ-ESCOLA

Xavier, Marilia Milani ¹ Silva, Maria José² Senger, Ana Carolina Caetano³

RESUMO

O presente artigo traz uma discussão sobre o ensino da arte na pré-escola que além de abranger todas as demais áreas de conhecimento, engloba toda à área cognitiva, social e psicológica das crianças, trazendo uma visão mais crítica e perceptiva diante da realidade que a cerca. Tem como objetivo refletir sobre a importância do trabalho com a arte na pré-escola, assim como a sua contribuição para o desenvolvimento infantil e possibilitar um olhar que dê o real valor ao ensino da arte, vista como forma de comunicação e expressão de pensamentos e sentimentos da criança. O resultado deste estudo é apontar a contribuição que a arte oferece para o desenvolvimento cognitivo da criança, além de proporcionar a ela uma leitura de mundo e de si própria. O professor deve respeitar o processo de criação individual de cada criança, assim, o pensamento, a imaginação, a percepção, a intuição a sensibilidade e a cognição da criança devem ser trabalhados de forma integrada de modo que favoreça o desenvolvimento das suas capacidades criativas.

Palavras-chave: arte; desenvolvimento infantil; pré-escola; professor.

THE IMPORTANCE OF ART TEACHING IN PRE-SCHOOL

ABSTRACT

This article presents a discussion on the teaching of art in preschool that in addition to embrace all other areas of knowledge encompasses all cognitive, social and psychological area of children, bringing a more critical and perceptive vision to the reality that surrounds . It aims to reflect on the importance of working with art in preschool, as well as their contribution to child development and enabling a look that give real value to art education, seen as a form of communication and expression of thoughts and child's feelings. The result of this study is to point out the contribution that art offers to the cognitive development of children, and provide her a world of reading and of itself. The teacher should respect the process of individual creation of each child, so their thought, imagination, perception, intuition, sensitivity and child cognition should be worked out in an integrated manner in order to promote the development of their creative abilities.

keywords: arts, child development, preschool; teacher

_____________

¹²³ UNISANTA – Universidade Santa Cecília

³ Prof.ª Orientadora

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INTRODUÇÃO

Na realização deste estudo foi utilizado como proposta metodológica a pesquisa qualitativa, por meio de uma revisão bibliográfica onde foram feitas análises dos dados obtidos com o intuito de ressaltar a importância do trabalho com a arte na pré-escola. O principal objetivo da arte na educação é formar o ser criativo e reflexivo que possa relacionar-se como pessoa, atuando como uma forma de comunicação e de expressão.

Nas primeiras manifestações dos fazeres artísticos das crianças é possível notar a influência da cultura pois suas ideias, seus trabalhos e representações apontam o local e a época histórica em que vivem. Assim, a arte está presente no dia a dia das crianças e se torna um importante instrumento para o seu desenvolvimento integral.

Por isso, os professores devem perceber que o ensino da arte deve englobar todo um contexto social, contribuindo para o processo de criação da criança e possibilitando experiências que permitam a reflexão, o desenvolvimento de valores, sentimentos, emoções e uma visão questionadora do mundo que a cerca.

A educação pela arte possibilita que a criança adquira a capacidade crítica, estimula a capacidade intelectual para recriar ideias e ações, segundo sua própria decisão. Valorizar a arte na pré-escola é também enfatizar as atividades de apreciação de obras de artes propiciando uma alfabetização visual.

1. A PRESENÇA DAS ARTES VISUAIS NA PRÉ ESCOLA 1.1 A arte e o desenvolvimento infantil

A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional nº 9.394/1996 aponta o ensino da arte como componente curricular obrigatório de forma a promover o desenvolvimento cultural dos alunos. Como outras linguagens, a linguagem artística é uma forma de expressão e comunicação que possui características próprias sendo um repertório de produtos e fazeres socialmente construídos.

A linguagem da arte na pré-escola tem um papel fundamental envolvendo os aspectos cognitivos, sensíveis e culturais. Segundo o Referencial curricular nacional para a Educação Infantil volume 3:

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UNISANTA Humanitas – p. 23 – 46; Vol. 8 nº 1 (2019) Página 25 No processo de aprendizagem em artes visuais a criança traça um percurso de criação e construção individual que envolve escolhas, experiências pessoais, aprendizagens, relação com a natureza, motivação interna e/ou externa. (BRASIL, RCNEI 1998, p.91).

A criação artística é um processo exclusivo da criança que durante seu percurso individual pode contar com a ação educativa intencional do professor. Visto que desde as primeiras manifestações dos fazeres artísticos das crianças é possível notar a influência da cultura, pois suas ideias, seus trabalhos e representações apontam o local e a época histórica em que vivem.

A arte e seus elementos estão presentes no dia a dia das crianças, assim, a arte é um importante instrumento para o desenvolvimento integral da criança. O ponto inicial da criança para o desenvolvimento artístico é o ato simbólico, destaca o RCNEI que: ‘’ ... as crianças experimentam agrupamentos, repetições e combinações de elementos gráficos, inicialmente soltos e com uma grande gama de possibilidades e significações. ’’ (BRASIL. RCNEI 1998, p.93).

Os símbolos representam o mundo a partir das relações que a criança estabelece consigo mesma, com as outras pessoas, com a imaginação e com a cultura. O RCNEI aponta também o fato de que a relação que a criança estabelece com os materiais se dá no início por meio da exploração sensorial e da sua utilização em diversas brincadeiras:

Enquanto desenham ou criam objetos também brincam de ‘’ faz de conta’’ e verbalizam narrativas que exprimem suas capacidades imaginativas, ampliando sua forma de sentir e pensar sobre o mundo no qual estão ineridas. (BRASIL, RCNEI 1998, p.93).

A valorização do brincar contribui com o desenvolvimento da sensibilidade da criança. Dessa forma, as atividades lúdicas auxiliam diretamente no desenvolvimento de sua expressão, nas relações afetivas com o mundo, com as pessoas e com os objetos.

As artes visuais são linguagens que norteiam a Educação Infantil, uma vez que a mesma trabalha com os sentimentos e as sensações das crianças, estimulando o processo de desenvolvimento através das interações entre os elementos do meio artístico com o mundo em que a criança vive. Assim, é fundamental que as crianças se desenvolvam com alegria.

Quando trabalhada e estimulada as crianças são capazes de na vida adulta tornar-se portadoras dos verdadeiros valores essenciais à vida. A arte possibilita o

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desenvolvimento de atitudes como o senso crítico, a sensibilidade e a criatividade além de proporcionar à criança uma leitura do mundo e de si própria.

É destacado que a aprendizagem no âmbito prático e reflexivo se dá por meio do fazer artístico, da apreciação e da reflexão:

Nesse sentido, as artes visuais devem ser concebidas como uma linguagem

que tem estrutura e características próprias, cuja aprendizagem, no âmbito prático e reflexivo se dá por meio da articulação do fazer artístico, apreciação e reflexão. (BRASIL, RCNEI 1998, p.89).

A criança desenvolve sua sensibilidade, percepção e imaginação tanto ao

realizar formas artísticas quanto na ação de apreciar e conhecer as formas produzidas por outros, pela natureza e até por ela mesma.

O fazer artístico possibilita um percurso de criação pessoal da própria criança, a apreciação permite que a criança atribua sentido, reconhecimento sobre aquilo que ela está vendo, assim é através da reflexão que a criança pode pensar sobre tudo aquilo que a cerca, suas obras e as de outros.

A arte e seus elementos estão presentes no dia-a-dia da criança, por isso a criança precisa ser trabalhada e desenvolvida tanto na sua criatividade como socialmente, e é por meio do trabalho realizado com a arte nas escolas que isso será possível.

O desenvolvimento artístico de uma criança jamais pode ser comparado com o de outra, visto que cada uma é responsável pelo seu próprio processo de criação.

A educação pela arte oportuniza a criança a agir no mundo, possibilita adquirir a capacidade crítica, estimula a capacidade intelectual para recriar ideias e ações segundo sua própria decisão, contribuindo para que esta invente, crie e construa com oportunidades que permitam a ampliação do conhecimento de mundo que possui.

1.2 A expressividade infantil

No que diz respeito à Arte na pré-escola o Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil (RCNEI) aponta que:

Tal como a música, as Artes Visuais são linguagens, e, portanto, uma das formas importantes de expressão e comunicação humana, o que, por si só,

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UNISANTA Humanitas – p. 23 – 46; Vol. 8 nº 1 (2019) Página 27 justifica sua presença no contexto da educação, de um modo geral, e na Educação Infantil, particularmente. (BRASIL, RCNEI 1998, p.85).

A arte é uma linguagem e, como toda linguagem, é um produto cultural. Foi construída pelo homem, ser simbólico, para representar e comunicar aos outros como vê, sente e entende o mundo e utiliza especialmente signos não verbais como cores, formas, gestos, sons, movimentos etc. Portanto deve-se conhecer seus códigos, desvelar seus sentidos e ampliar referências por meio do contato com várias produções.

Segundo Ferraz; Fusari (1999) compreender o processo de conhecimento da arte pela criança significa mergulhar em seu mundo expressivo, assim é necessário procurar saber por que e como a criança o faz.

As autoras apontam que as crianças são motivadas pelo desejo da descoberta e por sua fantasia. Ao acompanhar o desenvolvimento expressivo da criança percebe- se que ele resulta das elaborações de sentimentos, sensações e percepções vivenciadas intensamente, ‘’ ... por isso quando ela desenha, pinta, dança e canta, o faz com vivacidade e muita emoção. ’’ (FERRAZ; FUSARI 1999 p.

55).

Na obra Metodologia do Ensino da Arte de Ferraz e Fusari (1999) é destacado que a expressão infantil é constituída de elementos cognitivos e afetivos e dessa maneira as crianças desenvolvem linguagem própria traduzida em signos e símbolos carregados de significação subjetiva e social, e que devem ser respeitadas e reconhecidas, visto que os próprios rabiscos das crianças são um ato criador, resultado de um ato expressivo que evidencia o seu desenvolvimento e expressão do seu eu e do seu mundo, além dos aspectos afetivos, perceptivos e intelectuais, assim: ‘’ A expressão infantil é, pois, a mobilização para o exterior das manifestações interiorizadas e que formam um repertório constituído de elementos cognitivos e afetivos’’. (FERRAZ; FUSARI 1999 p. 55).

Portanto, deve- se compreender o ato expressivo como um ato criador e o resultado desse ato expressivo como a obra criada.

A criança em atividade fabuladora ou expressiva participa ativamente do processo de criação. Durante a construção ela se coloca uma sucessão de imagens, signos, fantasias que as vezes são mais considerados por ela no momento em que aparecem do que no resultado do trabalho. (FERRAZ;

FUSARI 1999 p. 55).

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Considerar a expressividade da criança significa entende-la como um processo de articulação interna e de inter-relação com o outro e a ambiência, onde o contato com as pessoas e as coisas permitirá que a criança aprimore seu pensamento, sua descoberta e seu fazer em arte.

Não se trata então de um processo isolado, mas de ações em reciprocidade, quando a criança internaliza o conhecimento, vinculando-o a sua experiência de vida pessoal e cultural. FERRAZ; FUSARI 1999 p. 55).

Através da expressividade as crianças desenvolvem uma linguagem própria, traduzida em signo e símbolo carregado de significação subjetiva e social, pois são estes fatos muito importantes para o conhecimento da produção da criança e também evidenciam o desenvolvimento e expressão do seu eu e do seu mundo.

Apontam Ferraz e Fusari:

Para a criança, essa linguagem ou comunicação que ela exercita com parceiros visíveis ou invisíveis, reais ou fantasiosos, acontece junto com seu desenvolvimento afetivo, perceptivo e intelectual e resulta do exercício de conhecimento da realidade. (FERRAZ; FUSARI 1999 p. 56).

Assim em seu trabalho a criança constrói noções a partir dos vínculos que estabelece com o que foi percebido nas suas experiências. São essas acumulações de impressões que rodeiam a criança que vão constituir- se como base em que a ela vai organizar suas habilidades expressivas, ‘’... o maior compromisso do professor é adequar o seu trabalho para o desenvolvimento das expressões e percepções infantis ’’. (Ferraz; Fusari 1999 p. 56).

Através deste trabalho com o aprimoramento da potencialidade perceptiva da criança, pode- se enriquecer sua experiência de conhecimento artístico e estético. E isto se dá quando elas são orientadas para observar, ver, ouvir, tocar, enfim perceber as coisas por toda a vida.

Dentro dos processos de percepção a Arte é um dos espaços onde as crianças podem exercitar suas potencialidades perceptivas, imaginativas ou fantasiosas, suas percepções visuais e como um todo ampliar sua leitura de mundo.

Todo esse trabalho de desenvolvimento da observação, percepção e imaginação infantil encaminhadas às aulas de Arte tornam-se oficinas perceptivas, onde a riqueza das elaborações expressivas e imaginativas das crianças que interagem com os encaminhamentos oferecidos pelo educador que quando sabe intermediar os conhecimentos, é capaz de incentivar a construção e habilidades do ver, do observar, do ouvir, do sentir, do imaginar e do fazer.

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Consequentemente contribuir para o desenvolvimento desse processo, ajuda a criança na melhoria de sua expressão e participação na ambiência cultural em que vive.

1.3 A arte, a criança e o professor

A consideração de que a arte e seus elementos estão presentes em nosso dia a dia deve ser trabalhada de modo que contribua para a construção do conhecimento sensível da criança, já que a mesma permite a ampliação das leituras de mundo da criança.

Segundo Vygotsky, é papel do professor propor situações que permitam com que as crianças expressem seus conhecimentos prévios, fortalecendo a importância de um trabalho coletivo entre professor e aluno:

Na instituição chamada escola ensinar e aprender é fruto de um trabalho coletivo. Aprendizes e mestre celebram o conhecimento a cada dia, quando ensinam e quando aprendem, cabe ao professor mediador organizar estratégia que permitam a manifestação das concepções prévias dos alunos. (VYGOTSKY, 1984, p.18).

Nessa perspectiva o professor é o mediador entre a criança e o objeto de conhecimento, é ele quem propicia situações que despertam a curiosidade e o interesse da criança garantindo assim um ambiente prazeroso de experiências educativas e sociais.

O Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil volume 3 destaca que o professor em sua prática deve garantir uma série de elementos que possibilite o desenvolvimento da criança, favorecendo ao conhecimento e a compreensão das mais variadas produções com a manipulação de vários materiais.

Para que as crianças possam criar suas produções, é preciso que o professor ofereça oportunidades diversas para que elas se familiarizem com alguns procedimentos ligados aos materiais utilizados, os diversos tipos de suporte e para que possam refletir sobre os resultados obtidos. (BRASIL, RCNEI 1998, p. 100).

É importante que o professor disponibilize materiais diversos como: argila, papel, isopor, tinta, sucata, entre outros, e deixe que a criança descubra as diversas utilidades que eles têm, tendo liberdade para inventar coisas que para o professor muitas vezes não têm significado, mas que para ela faz muito sentido. Além de

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disponibilizar materiais é necessário que o professor crie situações que façam com que a criança use a arte e que se expresse através dela.

O professor deve estar sempre presente e fazer parte do processo de descoberta da criança, desprezando os estereótipos e abrindo a mente para novas ideias e novos materiais, não só entendendo, mas vivenciando as linguagens da arte com a criança.

Podemos observar que a criança está em constante assimilação de tudo aquilo com que entra em contato. Como é destacado no livro Metodologia do Ensino de Arte de Ferraz e Fusari, o professor cujo trabalho educativo é de intermediar os conhecimentos existentes e oferecer condições para novas aprendizagens: ‘’ ... a principal tarefa do professor é auxiliar o desenvolvimento dessas observações e percepções ". (FERRAZ; FUSARI 1999 p. 49).

Assim, é preciso que o educador instigue na criança um olhar voltado às coisas do seu cotidiano, como: sua casa, sua rua, seu colega, a escola, ou melhor, fazer com a criança passe a observar o que está ao seu redor.

Nesse sentido é necessário que o processo de formação do docente tenha o objetivo de ampliar os olhares e os conhecimentos específicos do artista educando.

O trabalho com as artes visuais na educação infantil requer profunda atenção no que se refere ao respeito das peculiaridades e esquemas de conhecimento próprios a cada faixa etária e nível de desenvolvimento.

(BRASIL, RCNEI 1998, p. 91).

Para o trabalho com artes visuais é necessário respeitar as peculiaridades e conhecimentos próprios de cada criança, dessa forma cabe ao professor ter um olhar individual para cada um, compreendendo as diferenças e respeitando aquilo que elas já possuem de conhecimento.

Como destaca o Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil volume 3, o percurso individual da criação feito pela criança pode ser enriquecido de forma significativa pela ação intencional do professor. Dessa maneira o referencial orienta que o trabalho do professor seja organizado permitindo oferecer as crianças a oportunidade de explorar diversos materiais como diferentes papeis, latinhas, caixas, entre outros. ‘’ Considera-se aqui a utilização de instrumentos, materiais e suportes diversos, como lápis, pincéis, cola, etc., para o fazer artístico. ’’ (BRASIL, RCNEI 1998, p. 97).

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É muito importante que o educador sensibilize a criança para que ela possa ser um receptor da arte e também um produtor, contribuindo significativamente para o desenvolvimento das suas capacidades.

O pensamento, a sensibilidade, a imaginação, a percepção, a intuição e a cognição da criança devem ser trabalhadas de forma integrada, visando a favorecer o desenvolvimento das capacidades criativas das crianças.

(BRASIL, RCNEI 1998, p. 91).

Assim, para que as crianças possam criar suas produções é preciso que o professor ofereça oportunidades diversas para que elas se familiarizem com alguns procedimentos ligados aos materiais utilizados, aos diferentes suportes e que possam refletir sobre seus trabalhos. Além disso, o professor deve ter em mente que um ambiente estimulante depende desses fatores colocados e possibilita a exploração de novos conhecimentos.

Como destaca Ferraz e Fusari:

Na primeira fase do trabalho o educador precisa conhecer as nuances, os níveis e modos da criança admirar, gostar, julgar, apreciar, poetizar, assim como os de expressar-se em imagens, sons, gestos, movimentos, jogos lúdicos, frente aos seres, objetos e representações do mundo que as rodeia.

(Ferraz; Fusari 1999 p. 107).

Na sua formação é necessário que o educador libere seu lado infantil e ao mesmo tempo, estabeleça um olhar crítico e positivo em torno das atividades desenvolvidas pelas crianças buscando sempre um olhar reflexivo pois as crianças em suas atividades artísticas revelam como elas são em sua realidade mostrando fatos cotidianos e curiosos que precisam ser interpretados pelos educadores.

O conceito estético ou artístico como destacam Ferraz e Fusari, podem ser trabalhados a partir do cotidiano, tanto da natureza quanto da cultura como um todo:

Havendo interesse em trabalhar a percepção das formas e seus elementos, (como textura, cores), pode-se colecionar da natureza, flores, folhas, gravetos, pedras, etc, ou de materiais produzidos pelo homem como tecidos, pedaços de papeis, rótulos, embalagens, fotografias, ilustrações, objetos de uso cotidiano, sons, canções e outros. (FERRAZ; FUSARI 1999 p. 49).

O professor tem que resgatar a criação e a fantasia da criança permitindo que ela expresse à sua maneira o que está sentindo e oferecendo vários materiais expressivos (lápis, canetas, carvão, massas, tintas diversas, giz de cera, papéis, papelão e outros) para que ela possa explorar sua criatividade.

Dessa forma, é importante que o professor trate esses materiais de maneira que ajudem a concretizar os conhecimentos referentes a arte.

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UNISANTA Humanitas – p. 23 – 46; Vol. 8 nº 1 (2019) Página 32 Os diversos materiais para produções artísticas devem ser organizados de maneira que as crianças tenham fácil acesso a eles. Isso contribuirá para que elas possam cuidar dos materiais de uso individual e coletivo, desenvolvendo noções relacionadas a sua conservação. (BRASIL RCNEI 1998, P. 99).

O professor deve estar atendo quanto a organização e a disposição dos materiais na sala de aula. É importante que as crianças consigam pegar sozinhas materiais como lápis de cor, canetinhas, giz de cera, assim também pode ser trabalhado noções de cuidados com os materiais usados por elas no cotidiano escolar.

O professor deve ser claro mediante aquilo que a criança pode fazer, ou seja, a criança tem que saber as tarefas que ela pode realizar dentro da sala de aula, assim, dar espaço para que a criança possa guardar o lápis que ela usou na caixa, tampar a canetinha, além de estar contribuindo para o zelo desses materiais, possibilita a criança realizar essas tarefas com autonomia, fortalecendo também o vínculo que a criança tem com o espaço em que ela está, sabendo onde estão os materiais que ela usa.

Guardar, organizar a sala e documentar as produções são ações que podem ajudar cada criança na percepção de seu processo evolutivo e do desenrolar das etapas de trabalho. A exposição dos trabalhos realizados é uma forma de propiciar a leitura dos objetos feitos pelas crianças e valorização de suas produções. (BRASIL, RCNEI, 1998, p. 101).

Ao expor as atividades feitas, o professor além de valorizar as produções das crianças, favorece uma troca de experiências entre elas e também um momento de apreciação onde se pode parar para observar o trabalho do outro, analisar o que o outro usou para fazer aquela atividade, conversando a fim de descobrirem novas coisas. ‘’ E, ainda se elas também são encorajadas a observar, tocar, conversar, refletir, veremos quantas descobertas instigantes poderão ocorrer’’. (FERRAZ;

FUSARI 1999 p. 51).

É necessário, dentro de cada realidade, de cada situação, analisar qual o papel da arte na educação, na rotina escolar, qual o seu espaço, as concepções dos professores envolvidos, sua formação e a urgência de uma nova postura no que se refere à arte na prática pré-escolar. O papel do professor é fundamental para que a arte seja pensada como algo importante na formação humana.

Por fim, o professor deve ter um perfil polivalente, que o próprio Referencial Curricular esclarece:

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UNISANTA Humanitas – p. 23 – 46; Vol. 8 nº 1 (2019) Página 33 Ser polivalente significa que ao professor cabe trabalhar com conteúdo de naturezas diversas que abrangem desde cuidados básicos essenciais até conhecimentos específicos provenientes das diversas áreas. Este caráter polivalente demanda, por sua vez, uma formação bastante ampla do profissional que deve tornar-se, ele também, um aprendiz, refletindo constantemente sobre sua prática, debatendo com seus pares, dialogando com as famílias e a comunidade e buscando informações necessárias para o trabalho que desenvolve. São instrumentos essenciais para a reflexão sobre a prática direta com as crianças a observação, o registro, o planejamento e a avaliação. (BRASIL, 1998, p.41).

2. PERCEPÇÃO, IMAGINAÇÃO E FANTASIA NA AULA DE ARTE

2.1- A importância da percepção

As aulas de arte constituem- se em um dos espaços onde as crianças podem exercitar suas potencialidades perceptivas ou fantasiosas. Por isso a necessidade de criar condições para que essas potencialidades possam aflorar e desenvolver- se.

No que se refere ao aspecto perceptivo da criança Vygotsky fala na precocidade da ‘’percepção de objeto reais’’ com sua forma e significado, segundo ele a criança rapidamente percebe que o mundo da forma tem sentidos diversos os quais ela aprende a utilizar.

Durante as criações ou fazendo atividades do seu dia a dia, as crianças vão aprendendo a perceber o atributo constitutivo do objeto ou fenômeno a sua volta.

Elas aprendem a nomear esse objeto ou fenômeno, sua utilidade, eu aspectos formais (tais como linhas, volume, cor, tamanho, textura, etc), ou qualidade estética, bem como a conhecer suas principais funções. Mas para que isso ocorra é necessário a colaboração do outro, do professor, do pai, etc. Sozinha ela nem sempre consegue atingir as diferenciações, muitas vezes sua atenção é dirigida as características não essenciais e sim as mais destacadas, dos objetos ou imagens, por exemplo, a mais brilhante, mais colorida, mais estranha.

Compete ao professor ajudar a criança a perceber também outras qualidades formais e a ver o conjunto dos elementos que compõem o objeto, a imagem.

Como diz Vygotsky:

A criança conscientiza da diferença mais cedo do que da semelhança, não porque as diferenças levam a um mau funcionamento, mas porque a percepção das semelhanças exige uma estrutura de generalização e de

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UNISANTA Humanitas – p. 23 – 46; Vol. 8 nº 1 (2019) Página 34 conceitualização mais avançada do que a consciência da de semelhança.

(VYGOTSKY 1990, p.76).

No campo da visualidade o essencial é o desenvolvimento da visão que faz conhecer a principal qualidade da coisa e a discriminá-la. Mas nem sempre o que se vê tem correspondência com o real. Como se sabe, a percepção de tamanho e forma altera-se com a distância que nos separa do objeto, bem como a posição que este ocupa o espaço.

O mesmo acontece com a cor, que dependerá da iluminação ou da proximidade com as outras cores. Daí, ao oferecer a criança muita experiência com a visão pode ajudá-la a compreender o mundo da visualidade.

O ideal é que se trabalhe na escola a observação e a analise utilizando o aspecto físico intuitivo e o contato mais profundo com a forma, é uma observação que procura envolver todos os ângulos visuais possíveis, investigando o objeto e fenômeno tanto com a visão como também com os demais sentidos.

Para a criança a percepção se faz de forma seletiva, ela se prende a determinada característica do objeto e, se quisermos ampliar esse conhecimento, precisamos ordenar a nossa atividade.

Esse trabalho com a criança é importante porque a percepção do mundo circundante está intimamente ligada com a sua posterior representação.

As representações mentais, advinda desse mundo perceptivo, reorganizam- se, recombinam-se em outra forma através do processo criador que é sobretudo imaginativo.

2.2 A imaginação da criança

Deve-se entender que a atividade imaginativa é uma atividade criadora por excelência pois resulta da reformulação de experiências vivenciadas e da combinação de elementos do mundo real, se constituindo, portanto, de novas imagens, ideias e conceitos que vinculam a fantasia à realidade.

Vygotsky em sua obra: Imaginação e Criação na Infância (1984) falando da imaginação, chama a atenção para a infinita possibilidade de poder criar novos graus de combinações, mesclando primeiramente elemento reais, combinando depois imagens da fantasia e assim sucessivamente.

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UNISANTA Humanitas – p. 23 – 46; Vol. 8 nº 1 (2019) Página 35 Nesse caso a atividade combinatória da imaginação é extremamente clara.

Todos os elementos dessa situação são conhecidos pela criança de sua experiência anterior, pois do contrário ela nem poderia cria-la. No entanto a combinação desses elementos já representa algo novo criado próprio por aquela criança, e não simplesmente alguma coisa que reproduz o que ela teve oportunidade de observar ou ver. É essa capacidade de fazer uma construção de elementos, de combinar o velho com o novo de novas maneiras, que constitui a base da criação. (VYGOTSKY 1984, p.17).

Com isto, o processo imaginativo adquire autonomia e diversos graus de complexidade. Além disso, quanto maior a variedade de experiência, mais possibilidades existem para a atividade criadora e imaginativa.

É necessário reconhecer que a produção imaginativa tem relação com a realidade, mas é também constituída de novas elaborações entre as quais as efetivas e as sociais, o que a torna singular. Por exemplo, quando a criança brinca de faz de conta, ela pode estar apresentando situações imaginárias de preparação para o mundo social e cultural. Ela pode operar com objeto reais, em situações também reais, mas carregado de significado distinto dos usuais.

Com relação a disposições afetivas, existe uma reciprocidade de ação entre a imaginação e o sentimento, estes afetam a imaginação da mesma maneira que são influenciados por ela.

A imaginação criadora em si já se mostra bastante complexa, porém é evidente que ela vai se dar de modo particular a cada fase do desenvolvimento da criança e de suas experiências acumuladas e posteriormente a criança vai construindo novas relações e adquirindo maior domínio sobre seu mundo imaginativo.

Como destaca Vygotsky, o processo da imaginação da criança está ligado a percepções externas e internas que compõem a base da sua experiência, ‘’ o que a criança vê e ouve, são os primeiros pontos de apoio para sua futura criação’’.

(VYGOTSKY,1990, p. 36).

A criança acumula material em que posteriormente será constituída a sua fantasia. Para esse autor, a imaginação depende da experiência que, na criança, vai se acumulando e aumentando com peculiaridades que a diferenciam da experiência dos adultos, assim, a própria experiência com o meio ambiente, com sua complexidade, com suas contradições e influências, estimula o processo criativo, visto que a atividade criadora se encontra intimamente relacionada com a riqueza e a variedade da experiência acumulada no interior das suas interações com o mundo.

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No percurso de crescimento da criança, a imaginação também se desenvolve, podemos perceber que a criança ao imaginar acredita mais no fruto de sua criação controlando-a menos, o que faz com que a imaginação na infância tenha seu processo criativo vinculado às vivências e experiências imediatas da criança.

A atividade criadora da imaginação depende diretamente da riqueza e da diversidade a experiência anterior da pessoa, porque essa experiência constitui o material com que se criam as condições da fantasia.

(VYGOTSKY 1984, P.22).

Assim, à medida que a criança vai crescendo sua capacidade de imaginar está mais relacionada com o raciocínio, com o qual caminha com ela no mesmo passo.

A função imaginativa prossegue adaptando-se às condições racionais, porém um fator importante apontado por Vygotsky (1984 p. 23) é ‘’ a necessidade de ampliar a experiência da criança caso, se queira criar bases suficientemente sólidas para a sua atividade de criação’’. Para esse autor, na atividade criadora, a imaginação e a realidade estabelecem uma relação que possibilita a transformação do homem na sua relação com o mundo. Daí a importância de possibilitarmos às crianças espaços e tempos de brincadeiras, uma vez que, quanto mais elas desenvolverem sua capacidade de imaginar, mais desenvolverão processos criativos.

Assim, o que pode valorizar a atividade criadora é a manutenção da experiência sensível da criança e um domínio da realidade.

Quanto mais a criança viu, ouviu e vivenciou, mais ela sabe e assimilou;

quanto maior a quantidade de elementos da realidade de que ela dispõe em sua experiência, sendo as demais circunstancias as mesmas, mais significativa e produtiva será a atividade de sua imaginação. (VYGOTSKY 1984 pág. 23).

Segundo Vygotsky, a criança em idade pré-escolar ingressa no universo da brincadeira de faz-de-conta, nesse novo espaço em que desenvolve uma importante função psicológica superior, a imaginação, que lhe permite desprender-se das restrições impostas pelo ambiente imediato, possibilitando-lhe transgredir e subverter as regras impostas por ele. Essa criança agora é capaz de transformar o significado dos objetos, modificando um elemento da realidade em outro.

Esse formato que a criança atribui aos objetos representados tem implicações importantes em seu desenvolvimento, em especial para a reconstrução de sentidos e significados sobre o mundo material em que vive.

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UNISANTA Humanitas – p. 23 – 46; Vol. 8 nº 1 (2019) Página 37 A criança que monta um cabo de vassoura e imagina- se cavalgando um cavalo; a menina que brinca de boneca e imagina-se a mãe; a criança que na brincadeira, transforma- se num bandido, num soldado do Exército Vermelho, num marinheiro - todas essas crianças brincantes representam exemplos da mais autentica e verdadeira criação. (VYGOTSKY 1984 p.

17).

É ao montar suas brincadeiras de faz-de-conta que o pilar do desenvolvimento da imaginação se constitui como a base para o desenvolvimento do sujeito criativo.

Ainda que a criança retire os elementos de sua elaboração das suas experiências de vida, do contexto sócio-histórico-cultural em que está inserida, essa formulação traz elementos novos, que não estavam postos nas experiências passadas. Assim: ‘’... a brincadeira da criança não é uma simples recordação do que vivenciou, mas uma reelaboração criativa das impressões vivenciadas’’.

(VYGOTSKY 1984 p. 17).

A imaginação não repete em formas e combinações iguais impressões acumuladas, isoladas, mas reconstrói, recria o novo a partir das impressões anteriormente acumuladas. Assim, a criação é acompanhante natural e permanente do desenvolvimento humano, da infância a idade adulta.

Ao entendermos dessa forma a imaginação criadora, concluímos que os processos criativos se apresentam desde a mais tenra idade, contribuindo para o desenvolvimento infantil e, em geral, para a maturidade. Por conta disso, encontramos presente na vida da criança, processos criadores que se concretizam nos jogos e brincadeiras.

As aulas de arte tornam-se um caminho onde a riqueza das elaborações expressivas e imaginativas da criança interage com os encaminhamentos oferecidos pelo professor. Quando o educador sabe intermediar o conhecimento, ele é capaz de incentivar a contração e habilidades do ver, do observar, do ouvir, do sentir, do imaginar e do fazer, assim, como suas representações.

Para completar é importante compreender que todo trabalho com o desenvolvimento da imaginação infantil não pode ser desvinculado de atividades com caráter lúdico por serem fundamentais no seu processo de amadurecimento.

2.3 O jogo e a brincadeira na aula de arte

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Como destacam Ferraz e Fusari 1999, as atividades lúdicas são indispensáveis à criança para a apreensão dos conhecimentos estéticos e artísticos pois segundo as autoras, possibilitam o exercício e o desenvolvimento da percepção, da imaginação, das fantasias e de sentimentos.

Assim, o brincar presente nas aulas de arte é uma maneira prazerosa que a criança tem de experimentar novas situações, de compreender e assimilar com mais facilidade o mundo cultural e estético.

A experimentação, a criação, a atividade lúdica e imaginação que estão presentes nas brincadeiras, no brinquedo e no jogo, são também os elementos básicos das aulas de arte para criança. (FERRAZ; FUSARI 1999 p. 84).

Se torna notório a importância da inclusão do brinquedo e da brincadeira nas aulas de arte, principalmente quando envolvem a construção, gestos, movimentos, manifestações expressivas. Para as crianças a pratica artística é vivenciada como uma atividade lúdica, onde o fazer se identifica com o brincar.

De acordo com Ferraz e Fusari:

Brincar na infância é o meio pelo qual a criança vai organizando suas experiências, descobrindo e recriando seus sentimentos e pensamentos a respeito do mundo, das coisas e das pessoas com as quais convive. Por isso, quanto mais intensa e variável for a brincadeira e o jogo, mais elementos oferecem para o desenvolvimento mental e emocional infantil.

(FERRAZ; FUSARI 1999 p. 85).

A partir de jogos, brinquedos e brincadeiras, a criança consegue criar, imaginar, fazer de conta, experimentar, medir, enfim, aprender, tendo a oportunidade de se desenvolver. Destacam Ferraz e Fusari no livro: A Metodologia do Ensino da Arte 1999 p.85, que através das brincadeiras as crianças vivem situações ilusórias e aprendem a elaborar o imaginário.

Durante o brincar, a criança se solta e se permite mais, vai além do comportamento habitual para sua idade e de suas atitudes diárias.

As crianças de região que não têm rio ou mar podem também brincar de nadar, pescar ou mergulhar, porque para elas é muito natural fazer de conta que o chão, a grama ou a areia são os espaços que lhes faltam. Está capacidade imaginativa que faz a criança extrapolar a realidade é o que vai ajudá-la também a estruturar o pensamento abstrato. (FERRAZ; FUSARI 1999 p. 85).

Através das brincadeiras a imaginação da criança é estimulada, fazendo com que ideias e questionamentos sejam despertados, a criança fantasia, imita os adultos e adquiri experiências para a vida adulta. O crescimento infantil é

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acompanhado pelas brincadeiras, pelos jogos simbólicos que ela mesma inventa para construir conceitos e entender o mundo ao seu redor.

Os estudos de Vygotsky revelam que o brincar permite e favorece a aproximação das zonas de desenvolvimento proximal, ou seja, o que existe entre o nível de desenvolvimento real da criança e o nível de desenvolvimento potencial.

Enfatiza a importância dos jogos e das atividades artísticas em grupo, como meio para o desenvolvimento individual e de efetivação da aprendizagem. São nessas situações que a brincadeira coletiva oferece à criança as vivências de novas experiências, as quais posteriormente poderão oportunizar a criação de estratégias, a partir do desenvolvimento da criatividade.

A criação de uma situação imaginária não é algo fortuito na vida da criança;

pelo contrário, é a primeira manifestação da emancipação da criança em relação às restrições situacionais. O primeiro paradoxo contido no brinquedo é que a criança opera com um significado alienado numa situação real. O segundo é que, no brinquedo, a criança segue o caminho do menor esforço – ela faz o que mais gosta de fazer, porque o brinquedo está unido ao prazer. (VYGOTSKY, 1998, p. 130).

Quando Vygotsky discute o papel do brinquedo, refere-se especificamente à brincadeira de faz-de-conta, como brincar de casinha, brincar de escolinha, brincar com um cabo de vassoura como se fosse um cavalo. Faz referência a outros tipos de brinquedo, mas a brincadeira de faz-de-conta é privilegiada em sua discussão sobre o papel do brinquedo no desenvolvimento da criança.

Para o autor, ao reproduzir o comportamento social do adulto em seus jogos, a criança está combinando situações reais com elementos de sua ação fantasiosa.

Esta fantasia surge da necessidade da criança em reproduzir o cotidiano da vida do adulto da qual ela ainda não pode participar ativamente.

Porém, essa reprodução necessita de conhecimentos prévios da realidade exterior, deste modo, quanto mais rica for a experiência humana, maior será o material disponível para as imaginações que irão se materializar durante o brincar.

Vygotsky afirma que: “... a essência do brinquedo é a criação de uma nova relação entre o campo do significado e o campo da percepção visual, ou seja, entre situações no pensamento e situações reais”. (Vygotsky 1984, p. 137). Essas relações irão permear toda a atividade lúdica da criança e será também importante indicador do desenvolvimento da mesma, influenciando sua forma de encarar o mundo e suas ações futuras.

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O brincar também pode promover a construção do conhecimento, pois o brinquedo apresenta uma função social, uma vez que permite o processo de apreensão, análise, síntese, expressão e comunicação da criança sobre si mesma e o mundo que a rodeia, criando um sentimento e uma identidade pessoal e social, de pertencer e interagir em uma determinada realidade.

Contudo, a criança com suas potencialidades e necessidades e o educador com suas qualificações profissionais poderão estabelecer relações de afeto e atenção que irão transformar a prática pedagógica em situações de aprendizagem significativa e prazerosa, contribuindo assim para a formação integral da criança integrando-a na sociedade globalizada de forma lúdica e significativa.

O crescimento da criança vai evidenciar que, por meio do brinquedo, ela liberta seu pensamento para que não fique estritamente ligado aos estímulos perceptuais.

As atividades lúdicas podem ser o melhor caminho de interação entre os adultos e as crianças e entre as crianças entre si para gerar novas formas de desenvolvimento e de reconstrução de conhecimento.

3. Fazer Artístico

3.1- A criança e a leitura de imagens

É do seu repertório vivencial que a criança retira elementos para os seus trabalhos. São, sobretudo, aquelas formas e objetos que ela conhece e a estimula de diferentes maneiras. São também formas e objetos que, por sua singularidade e vivacidade, causam-lhe prazer, alegria e admiração.

Segundo Ana Mae Barbosa:

É necessário começar a educar o olhar da criança desde a educação infantil, possibilitando atividades de leitura para que além do fascínio das cores, das formas, dos ritmos, ela possa compreender o modo como a gramática visual se estrutura e pensar criticamente sobre as imagens.

(BARBOSA, 1991, p.81).

O ensino de Arte pode nos proporcionar a fruição dessas produções artísticas por meio da leitura visual. De acordo com Barbosa (1991 p .32), o que a arte na esco a principa mente pretende é formar o con ecedor, o fruidor, decodificador da obra de arte.

A autora menciona também, a importância da apreciação da arte para o desenvolvimento da criatividade:

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UNISANTA Humanitas – p. 23 – 46; Vol. 8 nº 1 (2019) Página 41 Através da apreciação e da decodificação de trabalhos artísticos desenvolvemos fluência, flexibilidade, elaboração e originalidade os processos básicos da criatividade. (BARBOSA, 1991, p.34).

É importante preparar as crianças para apreciarem e conceber a arte, para que elas se sintam capazes de dialogar com as obras dos artistas e produzirem sua própria arte. Deste modo, ampliando as percepções das crianças por meio da leitura e análise das imagens, sejam estas imagens obras de arte ou imagens ilustrativas do cotidiano, estaremos estimu ando ivre- expressão e a criatividade.

O ensino de artes visuais quando bem empregado pelos professores pode promover a aquisição desses conhecimentos que tanto precisamos para a compreensão da nossa cultura e da cultura do outro.

A arte na educação como expressão pessoa e como cu tura é um importante instrumento para a identidade cultural e o desenvolvimento de nossas capacidades críticas e perceptivas. (BARBOSA, 1991, p. 16).

A autora esclarece que: “... dentre as artes, a arte visual, tendo a imagem como matéria-prima, torna-se possível a visualização de quem somos, onde estamos e como sentimos’’. (Barbosa 1991, p.16). O estudo das artes visuais contempla a imagem como fonte de informação e conhecimento, mas, para a apropriação desses con ecimentos é preciso que aja interação, nesse caso entre a criança e a imagem.

No que se diz respeito as leituras das imagens, deve-se eleger materiais que contemplem a maior diversidade possível e que sejam significativas para as crianças. (BRASIL, 1998, p.103).

A leitura da obra de arte pode se tornar uma atividade muito prazerosa e dinâmica nas aulas de Artes Visuais, para isso, o professor precisa habituar a criança e a deixar à vontade para observar, analisar, questionar; para que juntos possam construir aprendizagens e descobertas.

É aconselhável que as crianças realizem uma observação livre das imagens e que possam tecer os comentários que quiserem, de tal forma que todo o grupo participe. (BRASIL, 1998, p.103).

É importante a criança apreciar tanto as suas próprias produções, como a dos outros. O Referencial Curricular Nacional para e Educação Infantil volume 3 destaca que:

Ao trabalhar com a leitura de imagens, é importante elaborar perguntas que instiguem a observação, a descoberta e o interesse das crianças. (BRASIL, 1998, p.104).

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Assim, ao fazer uma leitura de imagem pode-se fazer perguntas para a criança que além de permitir com que ela tenha liberdade de se expressar, faz com que a mesma tenha um olhar mais atento em relação ao que está sendo observado.

Podem ser perguntados para a criança aquilo que ela mais gostou na obra, ou como ela acha que o artista conseguiu fazer aquela obra, por que usou determinadas cores, o que a criança acha que foi mais difícil fazer, etc.

Esse momento se torna oportuno também para investigar que temas são mais significativos para elas: ‘’... é aconselhável que o professor interfira nessas observações, aguçando as descobertas’’. (BRASIL, 1998, p. 104). Assim, pode ser criado pelo professor um espaço para uma observação mais detalhada daquilo que está sendo observado.

O professor ao levar uma obra para ser apreciada pelas crianças, pode disponibilizar algumas informações que podem ser aprofundadas ou simplificadas conforme a curiosidade do grupo como destaca o próprio RCNEI: ‘’ ... é interessante fornecer dados sobre a vida do autor, suas obras e outras características’’. (BRASIL, 1998, p. 104).

Ao permitir uma leitura da imagem se dá a criança a oportunidade de refletir sobre aquela determina obra, fazer relações com aquilo que a própria criança já conhece e com o que está sendo observado.

Algumas crianças destacaram cores e outras, dependendo da sensibilidade, poderão arriscar comentários sobre a similaridade do artista e de suas próprias produções. (BRASIL, 1998, p.104).

As crianças quando identificam ou reconhecerem certas figuras, personagens de histórias, desenhos, filmes, fazem isso com prazer.

Se for dada a oportunidade para o trabalho com objetos e imagens da produção artística (regional, nacional ou internacional), se for possibilitado o contato com artistas, as visitas, as exposições, etc., o professor estará criando possibilidade para que as crianças desenvolvam relações entre as representações visuais e suas vivencias pessoais ou grupais, enriquecendo seu conhecimento do mundo, das linguagens das artes e instrumentalizando-as como leitoras e produtoras de trabalhos artísticos.

(BRASIL, 1998, p.104).

Assim a criança pode conhecer e compreender a diversidade da produção artística, tudo isso conforme entra em contato com as imagens dos diversos meios, como livros de arte, revistas, contato com artistas, etc. É importante que se respeite os comentários feitos pela criança e a relação que ela estabelece com a obra observada, estimulando e desenvolvendo suas leituras simulares.

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Assim, ao promover esses momentos de leitura de imagens, o educador estará contribuindo para a troca de experiências entre as crianças que acontecem nos momentos de conversa e reflexão sobre obras apresentadas ou sobre os seus próprios trabalhos.

3.2 - O Desenho Infantil O ato de desenhar deve ser considerado um fator essencial no processo do

desenvolvimento da linguagem, bem como uma espécie de documento que registra a evolução da criança. Ao desenhar ela entra no seu mundo de fantasia e imagina tudo, desenvolve a auto expressão e atua de forma afetiva com o mundo, opinando, criticando, sugerindo, através da utilização das cores, formas, tamanhos, símbolos, entre outros.

Segundo o Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil:

Para que a criança possa desenhar, é importante que ela possa fazê-lo livremente sem intervenção direta, explorando os diversos materiais como lápis, canetas, carvão, giz, gravetos, e utilizando suportes de diferentes tamanhos e texturas. (BRASIL, 1998, p. 100).

É interessante propor que a criança faça desenhos a partir da observação das mais diversas situações, como desenhos de observação.

A criança reflete continuamente suas impressões do meio circulante. Sua compreensão do real faz-se por meio de uma inter-relação dessas relações com as coisas percebidas. Essas percepções podem se relacionar com uma posterior representação, ou não.

Os primeiros trabalhos da criança, como consequência e extensão de um gesto que deixa marca vigorosa em uma superfície são seus rabiscos, mas como diz Wallon existem diferentes manifestações entre o gesto e seu traço.

No início a criança pode estar rabiscando pelo prazer de rabiscar, mas à medida que vai dominando o gesto e percebendo visualmente que entre o gesto e as marcas que faz existe uma ligação, seus atos passam a ser mais intencionais.

Faz linhas contínuas ou interrompidas curvas que se entrecruzam, rabiscos ou simplesmente pequenas marcas que se contrastam na superfície. A partir deste momento também sucede que ela encontra nos rabiscos algo a representar.

Ao se realizar, o rabisco torna-se para a criança um objeto entre outros e um objeto privilegiado porque é o objeto em vias de ser criado pela própria criança. O rabisco individualiza-se, condensa-se em alguma coisa que se

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UNISANTA Humanitas – p. 23 – 46; Vol. 8 nº 1 (2019) Página 44 destaca sobre um fundo. O rabisco ocupa um lugar que o gesto da criança pode tender a dilatar ou a concentrar ou mesmo modificar, pois acontece que a criança se afasta de um primeiro rabisco para justapor-lhe um outro.

Assim se realizam distribuições diversas no espaço em que cada parte pode reagir mais ou menos sobre as outras. É como um começo de modulação especial em que as combinações de cheio e de vazio bem podem começar por ser fortuitas, mas são destinadas a realizar um jogo mais ou menos diversificado que se poderá reencontrar sob formas mais evoluídas do desenho. (WALLON 1968 p. 196).

Assim pode-se dizer que as representações gráficas das crianças surgem simultaneamente as suas representações gestuais.

Para Vygotsky existe uma ação evidente entre elas:

Os gestos estão ligados a origem dos signos escritos, como no domínio dos rabiscos das crianças. Em experimentos realizados para usam a dramatização, demonstrando por gestos o que elas deveriam mostrar nos desenhos, os traços constituem somente um suplemento a essa representação gestual. (VYGOTSKY, 1989 p. 121).

Os estudos de Wallon e Vygotsky são, portanto, fundamentais para compreender como a criança faz a construção do desenho, principalmente pela ênfase na representação e interação social.

Os desenhos são considerados resultantes da compreensão que tem do mundo e das expressões do seu desenvolvimento intelectual. Daí a ideia de que a criança como sujeito ativo, desenha o que sabe, o que ela conhece de si própria e do mundo ao seu redor e não apenas o que ela vê.

Por meio do desenho, a criança cria e recria individualmente formas expressivas, integrando percepção, imaginação, reflexão e sensibilidade, que podem então ser apropriadas pelas leituras simbólicas de outras crianças e adultos. (BRASIL, 1998, p. 93).

A imitação utilizada pelas crianças ao desenharem, desenvolve uma função importante, como destaca o RCNEI em seu volume 3, imitar decorre antes de uma experiência pessoal, cuja intenção é a apropriação de conteúdo, de formas e de figuras por meio da representação.

Para que a criança possa desenhar, é importante que ela possa fazê-lo livremente sem intervenção direta, explorando os diversos materiais, como lápis preto, lápis de cor, lápis de cera, canetas, carvão, giz, penas, gravetos, etc., e utilizando suportes de diferentes tamanhos e texturas, como papeis, cartolinas, lixas, chão, areia, terra, etc. (BRASIL, 1998, p. 100).

Segundo as orientações do Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil, algumas intervenções podem contribuir para o desenvolvimento do desenho da criança. Uma delas é partindo das produções já feitas pelas próprias crianças, assim, pode possibilitar que a criança reflita sobre seu próprio desenho e o organize

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de maneira diferente em uma próxima atividade, e também é valido utilizar papeis que já contem a guma intervenção: ‘’ É interessante propor as crianças que façam desen os a partir da observação das mais diversas situações ‘’. (BRASIL, 1998, p.

101).

As imagens significativas ou os próprios fatos do cotidiano podem ampliar a possibilidade de as crianças escolherem temas para trabalharem expressivamente.

CONSIDERAÇÕES FINAIS:

A arte é muito importante na educação Infantil principalmente porque nessa fase a criança tem um mundo todo a descobrir. Seus elementos estão presentes no dia-a-dia desses pequenos, dessa forma é a partir do seu repertório vivencial que a criança retira elementos para os seus trabalhos artísticos.

Além de proporcionar a criança uma leitura de mundo e de si própria, a arte possibilita o desenvolvimento de atitudes como o senso crítico e a sensibilidade, ampliando assim, suas possibilidades de integração entre os aspectos estéticos, sensíveis e afetivos.

A criança traça um processo de criação e construção individual, esse processo se torna mais significativo quando enriquecido pela ação intencional do professor que deve ter um olhar individual para cada um, respeitando as peculiaridades de cada criança no decorrer desse processo.

É importante que os professores possibilitem as crianças o contato com diferentes materiais, para ampliarem seu repertório, trazendo situações que torne mais rico para as crianças poderem criar, descobrir e questionar.

Estimulando as crianças e possibilitando que elas entrem em contato com os diferentes tipos de materiais, o professor contribui positivamente para o processo de criação da criança. Assim, o ensino da arte na pré-escola trabalha com os sentimentos e as sensações das crianças, estimulando o processo de desenvolvimento através das interações entre os elementos do meio artístico e com o mundo em que a criança vive.

Quando trabalhada e estimulada desde cedo na vida das crianças, a arte permite com que elas sejam capazes de, na vida adulta, tornarem-se portadoras dos verdadeiros valores essenciais à vida.

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REFERÊNCIAS:

BARBOSA, Ana Mae. A imagem no ensino da arte. São Paulo: Perspectiva, 1991

BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educação: Lei nº 9.394/96 – 24 de dez.

1996. Brasília, 1998.

BRASIL, Referencial Curricular Nacional para Educação Infantil: conhecimento de mundo - volume 3. Brasília: MEC/SEF, 1998.

FUSARI, Maria F. R.; FERRAZ, Maria H. C. T. Metodologia do Ensino de Arte.

São Paulo: Cortez, 1999.

VYGOTSKY, Lev. A formação social da mente. 4a edição. São Paulo: Martins Fontes, 1991.

WALLON, Henri. A evolução psicológica da criança. Lisboa: Edições 70, 1968.

Referências

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