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POLÍTICA EXTERNA BRASILEIRA NO GOVERNO BOLSONARO: ANÁLISE DAS TENDÊNCIAS EM POLÍTICAS DE GÊNERO

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Academic year: 2022

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POLÍTICA EXTERNA BRASILEIRA NO GOVERNO BOLSONARO: ANÁLISE DAS TENDÊNCIAS EM POLÍTICAS DE GÊNERO

Gabriela M. Kyrillos1 Fabiane Simioni2 Resumo3: O presente trabalho tem como problema de pesquisa a investigação sobre como o Presidente da República, Jair Messias Bolsonaro, e o Ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, têm exibido a política externa brasileira (PEB) com relação às políticas de gênero. Para tanto, pretende-se identificar o grau de sensibilidade da atual PEB à temática de gênero. Assim, será realizada uma revisão bibliográfica dos marcos conceituais de PEB e políticas de gênero e uma pesquisa empírica qualitativa, a partir do método de análise de conteúdo de Laurence Bardin (2008), nas seguintes fontes primárias: discursos oficiais em organismos e fóruns internacionais e em encontros multi e bilaterais, bem como em notas técnicas do MRE. O marco temporal para a coleta de dados vai desde a data da posse do governo bolsonarista, em 01/01/2019, até 24/09/2019, discurso do Presidente na abertura da Assembleia da ONU. O presente trabalho se justifica diante da lacuna de estudos de PEB centrados em líderes (SALOMÓN; PINHEIRO, 2013). Além disso, há indícios preliminares de uma importante alteração na compreensão das políticas de gênero, as quais desde o período eleitoral foram alavancadas como plataforma de governo para os eleitores de Jair Bolsonaro.

No âmbito da compreensão da política externa será empregado seu entendimento como uma política pública (ARAÚJO, 2017), cuja especificidade se refere ao seu potencial impacto além das fronteiras nacionais e no ambiente doméstico.

Palavras-chave: Política Externa Brasileira; Gênero; Governo Bolsonaro.

Introdução: situando o corpus textual da pesquisa e a Análise de Política Externa O presente trabalho se soma ao cenário das Análises de Política Externa (APE) centradas em lideranças representativas e seus respectivos discursos oficiais. Analisamos 19 discursos oficiais4 proferidos pelo Presidente da República, Jair Bolsonaro e pelo Chanceler Ernesto Araújo, no período de 01/01/2019 a 24/9/2019, disponibilizados integralmente no site do Ministério das Relações

1 Doutora em Direito pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Professora do Curso de Relações Internacionais da Universidade Federal do Rio Grande (FURG). Co-líder do Grupo de Pesquisa Interseccionalidades e Decolonialidade nas Relações Internacionais (INDERI/CNPq). E-mail: gabrielamkyrillos@gmail.com.

2 Doutora em Direito pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Professora de graduação (Relações Internacionais e Direito) e do Mestrado em Direito e Justiça Social da Universidade Federal do Rio Grande (FURG). Co- líder do grupo de pesquisa Interseccionalidades e Decolonialidade nas Relações Internacionais (INDERI/CNPq). E-mail:

fabe.simioni@gmail.com

3 Em razão da pandemia global da COVID-19 e o adiamento do Fazendo Gênero 12, a pesquisa que aqui apresentamos sofreu alterações em relação à proposta inicial. Contudo, observamos as normas do evento e mantivemos o resumo e o abstract apresentados no momento da inscrição. Desse modo, apesar do presente trabalho apresentar o mesmo problema de pesquisa e mesmo marco temporal, a metodologia sofreu importantes modificações. Além da já indicada revisão bibliográfica dos marcos conceituais de PEB e políticas de gênero, realizamos uma pesquisa empírica qualitativa, com o auxílio de um minerador de texto. Como desfecho primário, observamos que os indícios preliminares de ruptura e descontinuidade com relação às políticas de gênero, do período eleitoral até o momento atual do Governo Bolsonaro, foram confirmados, a partir das evidências empíricas do corpus textual analisado.

4 Agradecemos à Brenda Mena Barreto Leal, discente de Relações Internacionais (FURG) e participante do INDERI, pela contribuição na etapa inicial de sistematização dos discursos analisados nessa pesquisa.

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Exteriores5. Nos interessa, sobretudo, diante desse corpus textual não estruturado, avaliar o grau de sensibilidade com relação às políticas de gênero na Política Externa Brasileira (PEB), no lapso temporal indicado. Para tanto, usamos uma ferramenta de mineração de texto, o Sobek6 cujas principais atribuições foram: (i) identificar os principais conceitos presentes no corpus textual, a partir de parâmetros quantitativos de frequência e, (ii) apresentar as relações intertextuais de proximidade entre os principais conceitos7.

A partir dos dados obtidos e da revisão dos marcos conceituais, foram abordados dois eixos de análise: (i) como as políticas de gênero e os direitos humanos estiveram presentes na PEB com certa relevância, ainda que com níveis diferenciados, pelo menos até a interrupção do governo da Presidenta Dilma Roussef (PT); (ii) quais as marcas de rupturas e de descontinuidades na PEB em geral, e especialmente nas políticas de gênero, no Governo Bolsonaro (sem partido).

No campo da Análise de Política Externa (APE) parece haver um consenso mínimo sobre as transformações que ocorreram desde meados do século XX e sobre o entendimento de quais são os atores considerados relevantes no vasto campo do que se compreende como a Política Externa dos Estados-nacionais8. Compartilhamos o entendimento de que Política Externa é uma forma de política pública. Nesse sentido, reconhecemos o papel central dos governos estatais em sua elaboração e execução, o que não implica desconsiderar os múltiplos agentes que influenciam nos processos de tomada de decisões (SALOMÓN; PINHEIRO, 2013). Desse modo, entendemos que “em última instância, a responsabilidade pelas políticas públicas, entre elas a política externa, é do governo que as implementa” (MILANI; PINHEIRO, 2013, p. 21). A análise da atuação dos governos, portanto, é um tema relevante no campo da APE.

5 Todos os 19 discursos analisados estão disponíveis no site do MRE: http://antigo.itamaraty.gov.br/pt- BR/component/tags/tag/discurso. Nesse trabalho, os discursos foram numerados em ordem cronológica.

6 SOBEK é um programa da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), capaz de identificar os conceitos relevantes em um texto a partir da análise de frequência destes termos em uma fonte de dados não estruturados. (conforme descrição no site http://gtech.nuvem.ufrgs.br/sobek/index.html#/. Acesso em 20/12/2020.

7 Foram usados dois parâmetros para a análise de frequência no Sobek: 50 principais conceitos cuja repetição mínima foi de 5 vezes. Para a utilização dessa ferramenta, foi necessário coletar, codificar e categorizar os 19 discursos, a partir de características de similitude, de frequência e de pertinência ao escopo primário da pesquisa, conforme o procedimento de análise de conteúdo (AC) em Bardin (2008).

8 Em forçosa síntese, destacamos que tais mudanças incluem o fim da Guerra Fria e a ruptura com uma organização geopolítica bipolar e o aprofundamento da globalização neoliberal e das novas tecnologias da informação (PINHEIRO;

MILANI, 2011). Por sua vez, as mudanças em âmbito nacional incluem a ruptura gradual com o entendimento que compreendia a PEB “[...] como política de Estado relativamente imune a mudanças e ingerências das agendas governamentais” (MILANI; PINHEIRO, 2013, p. 19). Conforme indicado por Lima (2000, p. 25), a tradição da não politização da PEB começa a mudar em 1988, quando o cenário de redemocratização se tornou essencial nas negociações dos interesses e nas disputas internas. Há portanto, entre as décadas de 1980 e 1990 uma multiplicação de agentes que impactam na criação e influenciam na execução da PEB (MILANI; PINHEIRO, 2013), destacamos aqui como exemplo importante o papel da então Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres (ARAÚJO, 2017).

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No cenário de transformações da PEB, percebemos as variações em relação às temáticas consideradas relevantes ou prioritárias. Influenciado por esse complexo cenário de transformações globais e locais, o Brasil transita para um modelo democrático no final da década de 1980 e se insere também nos debates de agendas em direitos humanos. O campo dos direitos humanos, desde meados do século XX, tornou-se um dos mais relevantes no cenário político-jurídico global tanto quanto de soft power (ALVES, 2015). Nas últimas décadas, o Brasil buscava se alinhar com as agendas internacionais, incluindo-se a promoção da igualdade de gênero, promovidas especialmente pelas Nações Unidas (ONU) e em outros fóruns multilaterais.

Políticas de gênero e direitos humanos na Política Externa Brasileira

A promoção da igualdade de gênero, eixo estrutural para a consolidação da agenda de direitos humanos, faz referência a um conceito que surge no âmbito teórico e político dos feminismos e que ao longo do século XX alcança visibilidade nos fóruns multilaterais de formulação propostas normativas no direito internacional. Uma das formas de compreender o gênero é a partir do seu aspecto intrínseco com as relações de poder que, de forma estrutural, permeia as relações entre os indivíduos, os quais na lógica ocidental-moderna são binariamente classificados entre mulheres e homens. De acordo com Scott, gênero pode ser entendido como “[...] uma maneira de se referir às origens exclusivamente sociais das identidades subjetivas dos homens e das mulheres. O gênero é, segundo essa definição, uma categoria social imposta sobre um corpo sexuado” (SCOTT, 1995, p. 7).

A preocupação com a distribuição desigual de recursos, de poder e de prestígio entre mulheres e homens, bem como a forma como essa desigualdade estrutura e organiza a vida societal sempre foram questões centrais para os movimentos feministas. Apesar de um amplo leque de formas de compreender quais são as agendas prioritárias, o consenso mínimo comum entre os feminismos é uma reivindicação de uma sociedade igualitária para mulheres e homens, que perpassa inclusive, mas não apenas, o acesso a direitos. Uma das estratégias para se alcançar tal propósito foi a inserção dos direitos das mulheres na gramática do Direito Internacional dos Direitos Humanos9.

No Brasil, “a partir da redemocratização do país, a PEB assumiu contornos progressistas em relação aos direitos das mulheres, que evoluíram para uma tendência crescente de sensibilidade às questões de gênero, principalmente nos anos de 2003 e 2015”(ARAÚJO, 2017, p. 31). Em 2003, sob

9 Apesar da previsão direta de proibição de discriminação entre mulheres e homens desde a Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948), somente na Conferência de Direitos Humanos de Viena (1993) é que a categoria política dos Direitos Humanos das Mulheres, mobilizada pelos movimentos feministas desde os anos de 1990, no Brasil e na América Latina (ALVAREZ, 2003), foi acolhida para marcar o caráter sexista da universalidade seletiva dos direitos humanos.

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o governo federal do Partido dos Trabalhadores (PT), a temática adquire contornos de relevância com a criação da Secretaria Especial de Política para as Mulheres (SEPM) com destacada atuação na elaboração de políticas públicas no geral e da PEB (ARAÚJO, 2017). Esse e outros elementos apoiam a afirmação de Salomón (2016, p. 3), no sentido de que desde a redemocratização do país até o Governo de Dilma Rousseff, a PEB demostrava uma sensibilidade ao gênero, com assinatura de diversos instrumentos internacionais de combate à discriminação e à violência contra as mulheres.

Além da adesão a esses instrumentos político-jurídicos internacionais, os discursos oficiais de representantes do Brasil em foros multilaterais apresentavam em diferentes graus uma postura de transversalização de gênero nos temas prioritários.

Com a interrupção do mandato da presidenta eleita Dilma Rousseff (PT), em 2016, assume o governo o seu vice, Michel Temer (MDB). Em 2019, após processo eleitoral, inicia o mandato de Jair Bolsonaro (eleito pelo PSL, atualmente, sem partido). Essas alterações governamentais impactam na PEB de um modo geral, bem como, na forma como as questões de gênero passam a ser abordadas.

Nesse cenário pós-impeachment de Dilma e da ascensão de um populismo bolsonarista10 em diferentes esferas do poder, nas instituições e na sociedade civil, observamos as marcas de rupturas das políticas de gênero, em geral, e seus reflexos na PEB.

Marcas de rupturas na PEB no governo Bolsonaro

O cenário político brasileiro a partir de 2016, e principalmente após as eleições de 2018, apresenta importantes rupturas com o campo discursivo progressista de alinhamento com as agendas internacionais de direitos humanos e de igualdade de gênero que se refletia também na PEB até então (SALOMÓN, 2016; ARAÚJO, 2017). Nossa pesquisa situa-se nesse contexto de chegada de Jair Bolsonaro à Presidência da República em 01 de janeiro de 2019. Buscamos identificar como o Presidente da República e o Ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, têm exibido a PEB com relação às políticas de gênero, as quais já foram consideradas sensíveis ao gênero em governos anteriores, apesar de todas as suas limitações11 (SALOMÓN, 2016, p. 3).

10 A literatura sobre populismo político ressalta que contextos de crise e desordem são essenciais para o seu surgimento.

Segundo Cesarino (2019, p. 534), no caso do populismo bolsonarista “a liderança carismática ascende, supostamente a partir de fora do establishment, como aquele que reivindica a pureza necessária para reintroduzir a ordem em um sistema irreversivelmente corrompido”.

11 A PEB pode ser considerada sensível ao gênero por “[...]diversos elementos e agentes [que] estiveram nela envolvidos, como as diretrizes governamentais, a atuação de movimentos feministas e a interação de diferentes órgãos da administração pública” (ARAÚJO, 2017, p. 31). Como abordado no texto de Salomón (2016) isso não significa dizer que se trate de uma Política Externa feminista, como a da Suécia, ou que não apresente limitações importantes no que diz respeito à paridade de gênero, em especial a baixa presença de mulheres nos espaços de decisão da PEB.

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A narrativa de construção de uma “nova PEB” tem início um pouco antes, ainda no governo Temer (MOREIRA, 2020, p. 9) e postula a ruptura com os governos anteriores, destacando-se pela chamada desideologização da PEB12 (MOREIRA, 2020, p. 7). Os governos de Temer e Bolsonaro constroem uma narrativa na qual as decisões política são tomadas sem qualquer ideologia. É um mecanismo retórico que pretende promover a ideia de que os governos de esquerda tomam decisões por razões ideológicas, enquanto a direita seria capaz de atuar de forma imparcial, neutra, por um bem comum. É notório que não há neutralidade/objetividade de perspectivas individuais ou governamentais/partidárias, sejam de esquerda ou direita. Desse modo, o “conceito de desideologização usado na retórica dos governos Temer e Bolsonaro se tornam vazios em virtude da efetiva ideologia que possuem em suas escolhas” (MOREIRA, 2020, p. 7). O discurso anti- ideologização é a marca da nova PEB, a partir da sua diferenciação em “direção ao progresso”, em oposição ao “atraso e a incapacidade das políticas dos governos de esquerda”.

“Hoje começamos um trabalho árduo para que o Brasil inicie um novo capítulo de sua história. Um capítulo no qual o Brasil será visto como um País forte, pujante, confiante e ousado. A política externa retomará o seu papel na defesa da soberania, na construção da grandeza e no fomento ao desenvolvimento do Brasil. [...] Montamos nossa equipe de forma técnica, sem o tradicional viés político que tornou o Estado ineficiente e corrupto”13.

“Nós entramos e estamos tentando limpar tudo isso para chegar aos tesouros e libertá-los para o povo brasileiro”14.

O anúncio do Presidente Bolsonaro de uma equipe de governo “técnica e sem viés político”

se alinha com a perspectiva de que pessoas capazes tecnicamente e “não ideológicas” têm um determinado sexo e uma cor particular. Conforme identificado por Biroli (2018, p. 684) no momento em que Dilma Rousseff (PT) é deposta da presidência, o novo gabinete governamental é composto apenas por homens brancos e se corta o diálogo, até então existente, entre governo e movimento de mulheres, em um retorno aos estereótipos mais extremos, e que se acreditavam superados, que negam a legitimidade da participação das mulheres no espaço político público.

O termo “ideologia” se repete 21 vezes no corpus, de acordo com o resultado de frequência do Sobek. Observamos que o termo é usado em uma conotação negativa, algo que estava muito presente nos governos anteriores, que contaminava o Estado e as instituições e identificado como próprio dos governos de esquerda.

“Ideologia é ter uma teoria e aplicá-la aos fatos e, quando os fatos contrariam a teoria, pior para os fatos. Escolhemos outros fatos que a comprovem ou simplesmente os ignoramos”15.

12 Esse termo surgiu a partir de políticos de direita que buscavam demonstrar que atuariam de modo diferente de seus antecessores de esquerda, por meio, portanto, de uma desideologização da Política Externa, tendo sido utilizado pela primeira vez pela Chanceler de Mauricio Macri na Argentina, em 2015 (MOREIRA, 2020, p. 7).

13 Discurso 1, Presidente JB, na cerimônia de posse no Congresso Nacional, em 01/01/2019, em Brasília/BR.

14 Discurso 11, Chanceler EA, em palestra na FIRJAN, em 28/08/2019, no Rio de Janeiro/BR.

15 Discurso 11, Chanceler EA, em palestra na FIRJAN, em 28/08/2019, no Rio de Janeiro/BR.

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“A ideologia se instalou no terreno da cultura, da educação e da mídia, dominando meios de comunicação, universidades e escolas. A ideologia invadiu nossos lares para investir contra a célula mater de qualquer sociedade saudável, a família. Tentam ainda destruir a inocência de nossas crianças, pervertendo até mesmo sua identidade mais básica e elementar, a biológica. O politicamente correto passou a dominar o debate público para expulsar a racionalidade e substituí-la pela manipulação, pela repetição de clichês e pelas palavras de ordem. A ideologia invadiu a própria alma humana para dela expulsar Deus e a dignidade com que Ele nos revestiu”16.

A anti-ideologização se propõe à promoção de uma reorientação em temas sensíveis como meio ambiente, direitos humanos, soberania, comércio internacional e integração regional, para citar os mais recorrentes no corpus textual analisado. Embora a agenda anti-ideologização esteja bastante presente, deve-se compreendê-la a partir de sua instrumentalidade para combater o “globalismo”, conceito que se repete 11 vezes. A “ideologia de gênero”, a “ideologia do clima” (climatismo), a

“oikofobia” (ódio à nação) e o “racialismo” (divisão da sociedade por raça) são supostamente os instrumentos para a consolidação de um “pacto globalista”, como se observa principalmente nos discursos do Chanceler. A luta contra o “globalismo” será a chave para compreender as características de um projeto de renovação da PEB que se assume anti-ideológica, liberal no campo econômico e conservador na esfera dos valores.

“For almost 30 years now we have seen in the world a liberal, globalized economy, which is great, but it lies on top of a total absence of values, or on top of ideological values, those of what is called political correctness. And this is not working. [...] The best hope we have today is to create a solid amalgam uniting an open, competitive, liberal economy, with the basis of conservative values. We must break the perverse amalgam of the free economy with an ideological structure which is opposite to freedom. And we must prepare a new amalgam of liberal economy and conservative values, which means, an open economy and an open society. A society built around political correctness is essentially a closed society, where thought is closed from sentiment, where the road between man and God is blocked, where words are locked away from reality”17.

Tal “projeto de renovação da PEB” integra um movimento mais amplo e global de ascensão de um certo populismo e de reorganização de novos arranjos neoliberais, reativos à crise financeira global de 2008. Segundo Cesarino (2019, p. 539), a versão brasileira da “guerra cultural’ entre liberais e conservadores no cenário político recente espelha essa tendência global que teve continuidade e um lugar central na campanha que elegeu Jair Bolsonaro.

Identificamos duas estratégias narrativas articuladas no corpus textual analisado: uma de diferenciação e a outra da equivalência. A estratégia da diferenciação é marcada por um processo de construção de um inimigo a ser vencido. A oposição a esse inimigo se dá pela marcação de que o que

16 Discurso 6, Presidente JB, na abertura da 74ª Assembleia Geral das Nações Unidas, em 24/09/2019, em Nova York/EUA.

17 Discurso 3, Chanceler EA, em intervenção no Dia do Brasil na Câmara de Comércio dos EUA, em 18/01/2019, em Washington /EUA.

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havia antes ameaçava a democracia e as liberdades - ambos os termos são usados no mesmo plano de relevância. Em articulação a estratégia anteriormente referida, observamos a da equivalência entre o líder e o povo. Para eliminar o inimigo é preciso acionar uma narrativa salvacionista, produzida a partir da correspondência entre a história pessoal do líder com a do seu povo. Dessa forma, projeta- se algo novo, a nova política, uma nova PEB que vai ao encontro da “verdade e dos interesses dos brasileiros”: a soberania, a liberdade, o direito de nascer, o porte de armas, a identidade nacional, o patriotismo, o nacionalismo, os valores da família e da dignidade humana. Aproximamo-nos do entendimento de Cesarino (2019, p. 536), quando pontua que o bolsonarismo é uma política marcada tanto pela diferenciação antagonística externa quanto pela intensificação do pertencimento interno.

“No sistema multilateral político, especialmente na ONU, vamos reorientar a atuação do Brasil em favor daquilo que é importante para os brasileiros – não do que é importante para as ONGs. Defenderemos a soberania. Defenderemos a liberdade – a liberdade de expressão, a liberdade de crença, a liberdade na internet, a liberdade política. Defenderemos os direitos básicos da humanidade, o principal dos quais talvez seja, se me permitem usar o título de uma novela dos anos 60, o direito de nascer”18.

“Se não houver nação, família, cultura, história, heróis ou tradição, a economia não poderá preencher o seu coração e o seu coração será ocupado pela ideologia”19.

Para ativar a estratégia de diferenciação, observamos a frequência com que se recorrem às categorias fantasmagóricas do comunismo, do socialismo, do “marxismo cultural”, do gramscismo, do leninismo, da Escola de Frankfurt, da Revolução Cultural dos anos 60, entre outros citados. A campanha eleitoral de Jair Bolsonaro em 2018, segundo Cesarino (2019) já apresentava esses termos até então desconhecidos, no debate político nacional. Nas proximidades do período eleitoral, esses termos foram difundidos para um público mais amplo principalmente através de memes, textos, áudios e vídeos curtos circulados no WhatsApp.

“O problema é que, depois de 1989, justamente com a vitória desse Ocidente, dessa linha liberal-conservadora, alguém achou que não precisava mais do coração conservador, da fé cristã no centro das democracias liberais. Alguém falou assim: “Vencemos, a economia de mercado e a democracia representativa agora se espalharão pelo mundo todo. De Deus ninguém precisa, isso é uma relíquia da Idade do Bronze”. Resolveram expulsar Deus do coração da sociedade liberal e deixaram Deus do lado de fora, ali no frio. Não se deram conta, mas há muito o comunismo vinha-se preparando para ocupar a sociedade liberal por dentro, com a teoria de Gramsci, com a Escola de Frankfurt, com a Revolução Cultural dos anos 60. E, com essa abertura no coração da sociedade liberal, que expulsa Deus, o caminho ficou livre para que o marxismo cultural, o gramscismo, como quer que se chame, ocupasse o coração da sociedade liberal, que tinha sido deixado vazio. Isso é o globalismo, o momento em que o comunismo, o fisiologismo, o gramscismo, como quer que se chame, ocupa o coração que tinha sido deixado vazio da sociedade liberal”20.

18 Discurso 1, Chanceler EA, na cerimônia de posse no MRE, em 02/01/2019, em Brasília/BR.

19 Discurso 3, Chanceler EA, em intervenção no Dia do Brasil na Câmara de Comércio dos EUA, em 18/01/2019, em Washington /EUA.

20 Discurso 8, Chanceler EA, na abertura do seminário “Globalismo” da FUNAG, em 10/06/2019, em Brasília/BR.

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Em apoio à luta contra o comunismo e todos os seus derivados são citados personagens como Olavo de Carvalho, Ronald Reagan, Papa João Paulo II, Donald Trump e o resultado da consulta popular que aprovou a saída do Reino Unido da União Europeia (Brexit). Tratam-se, pois, de elementos que alimentam e se interrelacionam com um ideário de “insurgência universal”, de um

“zeitgeist pela liberdade em todo o mundo”, de uma “avant-garde revolucionária” da qual é portadora o povo comum, aquele que elegeu Bolsonaro e Trump, bem como decidiu pelo Brexit.

“But what is it that mobilized Brazilians, Brexiters and US MAGA voters? I think it’s, to put in a more elegant term, it’s a revolt against ideology. The realization we had been lied to, that we had been despised by an élite that tried to rule us and abate us in the name of social justice, or in the name of European integration, or in the name of a borderless world, in the name of progress or whatever. All high sounding names that are there not to describe the reality, but to impose a certain power structure into reality. [...] The revolutionary avant- garde is not where economic theory would determine because there’s the capital labor relations. No, it never was, maybe, but today it’s clearly not what the theory prescribes. So, today, revolutionary avant-garde is whatever the resistance of the enemy, the common people, is wherever the resistance is weaker, actually”21.

Para combater essas imagens fantasmas é acionada a representação idealizada de Bolsonaro como uma figura mítica, aquele que faz o “grande chamado”, cujas palavras soam como um “toque de clarim”.

“From 2017 it became increasingly clear that he was the only political leader capable of bringing the people to power, the only one who believed in freedom, in nationhood, and in God, and in their interaction. We may say that Trump and Bolsonaro are part of the same insurgency, what I would call the universal insurgency against bullshit”22.

“o senhor [Presidente] nos dizia também a alguns ministros e outros funcionários que o acompanhávamos na ocasião: “Nós temos uma oportunidade única de mudar o Brasil”. Eu tomei essas palavras não somente como uma pertinente avaliação do quadro político, mas como um chamamento, como o toque de um clarim, como uma missão”23.

Em nossa pesquisa identificamos que as questões de gênero e de direitos humanos são parte desse mesmo contexto de pretensa desideologização da PEB. De fato, desde a campanha eleitoral de 2018, Bolsonaro constrói uma narrativa de oposição a alguns dos principais elementos discursivos dos governos anteriores Para tanto, recorre-se a um termo inventado nas últimas décadas: “ideologia de gênero”, cujas origens podem ser remetidas ao contexto de crescimento do fundamentalismo religioso enquanto força política no Brasil pós 1990 (MIGUEL, 2016, p. 393). O fundamentalismo surge como um dos elementos centrais na construção política e discursiva no Governo Bolsonaro, especialmente no que diz respeito à agenda de gênero na PEB. No corpus textual analisado, observamos em diversas passagens dos discursos uma espécie de pregação da necessidade de

“reintrodução de Deus”, outrora expulso da “cidadela da sociedade liberal e do coração dos homens”,

21 Discurso 13, Chanceler EA, na palestra “Brazil is back” da Heritage Foundation, em 11/09/2019, em Washington/EUA.

22 Discurso 13, Chanceler EA, na palestra “Brazil is back” da Heritage Foundation, em 11/09/2019, em Washington/EUA.

23 Discurso 1, Chanceler EA, na cerimônia de posse no MRE, em 02/01/2019, em Brasília/BR.

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tendo sido posto em seu lugar a “religião ateia do politicamente correto”. Com o Sobek, identificou- se 23 vezes em que a palavra Deus se repetiu no corpus de análise24. São recorrentes termos e expressões como “Deus acima de todos”, “graças a Deus”, “glória a Deus”, “Deus em Davos, “Deus abençoe essa nação”, bem como a citação de trechos do Evangelho, tanto nos discursos do chanceler quanto nos do presidente.

Além da frequência dessas expressões, observamos que a palavra Deus aparece relacionada com os termos socialismo, globalismo e marxismo. A relação intertextual entre esses termos se dá a partir da necessidade de apontar a “falsa liberdade prometida pelo marxismo-socialismo-globalismo”

na medida em que aqueles promovem a “separação do homem da sua verdadeira essência”, da sua

“filiação com Deus” e, portanto, da sua dimensão moral e espiritual. O povo brasileiro, de acordo os discursos de Bolsonaro e Araújo, teria rejeitado a “morte de Deus” no pleito eleitoral de 2018, da mesma forma que teria optado por um “outro projeto de nação e de família”, profundamente ancorado na retomada de valores conservadores e religiosos.

“A luta pela nação é a mesma luta pela família e a mesma luta pela família, pela humanidade em sua dignidade infinita de criatura”25.

“Se não houver nação, família, cultura, história, heróis ou tradição, a economia não poderá preencher o seu coração e o seu coração será ocupado pela ideologia”26.

A ascensão do fundamentalismo religioso e do populismo bolsonarista guardam estreita correlação com o combate à discursos e práticas voltadas à igualdade de gênero e à diversidade sexual.

No Brasil, o movimento de oposição à “ideologia de gênero” aparece como uma “[...] uma ameaça única, indistinta, de subversão dos arranjos familiares que são vistos, a um só tempo, como naturais, de origem divina e indispensáveis à reprodução da vida social” (MIGUEL, 2016, p. 597). Segundo Biroli et. al. (2020), a “ideologia de gênero” performa uma estratégia política de amplas coalizões desde os anos 1990, tendo aumentado sua mobilização popular nos anos 2000 e adquirido centralidade na América Latina, na segunda metade do século XXI. A igreja católica, tanto no Brasil como em outros países da região, se aliou a outras denominações religiosas na narrativa de crise da família e da cruzada contra a “ideologia de gênero”, a partir da sua influência e autoridade.

No corpus da pesquisa, observamos que as políticas de gênero são tratadas de modo tangencial, porque constituem uma espécie de farsa deliberadamente construída pelo “globalismo”

para sequestrar as liberdades (de expressão e de crença) e os valores morais tradicionais

24 Para fins comparativos, os termos liberdade/livre e democrático/democracia se repetem, respectivamente 42 e 20 vezes.

Termos como globalismo e família, tem frequência de 8 vezes cada um.

25 Discurso 1, Chanceler EA, na cerimônia de posse no MRE, em 02/01/2019, em Brasília/BR.

26 Discurso 3, Chanceler EA, em intervenção no Dia do Brasil na Câmara de Comércio dos EUA, em 18/01/2019, em Washington /EUA.

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compartilhados pela maioria do povo brasileiro. A expressão “ideologia de gênero” é veiculada apenas 5 vezes, sendo 4 por Araújo e apenas 1 por Bolsonaro. Vale ressaltar que não há qualquer referência à população LGBTQIA+ ou às dissidências sexuais. A referência ao tema da violência, antes tão recorrente nos documentos oficiais do MRE que tratam desse grupo social, foi referida 6 vezes nos discursos do Presidente para tratar dos índices de violência urbana, do deslocamento forçado de venezuelanos, da violência contra mulheres, meninas, missionários, minorias religiosas e policiais em serviço. O combate ao racismo foi mencionado em um único discurso do Chanceler. A palavra discriminação foi usada duas vezes, em dois discursos distintos de Bolsonaro para se referir ao seu compromisso com uma sociedade sem discriminação ou divisão, e em outro para se referir a discriminação contra missionários e minorias religiosas. Podemos afirmar que o neoconservadorismo e sua versão brasileira mimetizada no populismo bolsonarista têm em comum a oposição à “ideologia de gênero” porque compartilham um discurso de repúdio às questões de diversidade sexual, de autonomia reprodutiva e de apelo ao retorno das funções e papeis da família tradicional (leia-se matrimonial, heterossexual e hierarquizada).

Por fim, observamos que o termo “direitos humanos” se repetiu 13 vezes no corpus analisado.

Em seu discurso de recebimento da faixa presidencial, Bolsonaro indica que os “grandes desafios do Brasil” são: a crise econômica, o desemprego recorde, a ideologização das crianças, o desvirtuamento dos direitos humanos e a desconstrução da família27.

“Nas questões do clima, da democracia, dos direitos humanos, da igualdade de direitos e deveres entre homens e mulheres, tudo o que precisamos é isto: contemplar a verdade, seguindo João 8,32: ‘E conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará’”28.

“Vamos defender a família, os verdadeiros direitos humanos; proteger o direito à vida e à propriedade privada e promover uma educação que prepare nossa juventude para os desafios da quarta revolução industrial, buscando, pelo conhecimento, reduzir a pobreza e a miséria”29.

Desse modo, sendo a PEB uma política pública, acreditamos que os dados até aqui discutidos revelam uma nova sensibilidade às políticas de gênero, coerente com um sentido reposicionado - pelo populismo bolsonarista, pelo neoconservadorismo e pelo neoliberalismo - de direitos humanos no Governo Bolsonaro.

27 Discurso 2, Presidente JB, na cerimônia de recebimento da faixa presidencial, em 01/01/2019, em Brasília/BR.

28 Discurso 6, Presidente JB, na abertura da 74ª Assembleia Geral das Nações Unidas, em 24/09/2019, em Nova York/EUA.

29 Discurso 3, Presidente JB, na sessão plenária do Fórum Econômico Mundial, em 22/01/2019, em Davos/Suíça.

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Considerações finais

A análise do grau de sensibilidade às políticas de gênero no Governo Bolsonaro foi explorada neste trabalho. Em certa medida, procuramos evidenciar a disputa sobre o significado de termos como gênero e direitos humanos no campo da APE. É possível perceber essa disputa, por exemplo, quando os discursos analisados tomam o conceito de “ideologia de gênero” a partir de uma determinada moralidade religiosa a ser defendida posto que atacada por uma concepção deliberadamente equivocada de direitos humanos. As ações diretas que configuram exemplos de ruptura e descontinuidade na PEB do Governo Bolsonaro são amplamente conhecidas. Tratam-se de manifestações de uma ação política fundada no conjunto das ideias e das representações que estão presentes no corpus analisado. Os discursos de Bolsonaro e Araújo são representativos de uma reação à “proliferação de sexualidades e gênero” (Biroli et. al. 2020), de redefinição de direitos e de políticas públicas, quando feministas e movimentos LGBTQIA+ passaram a ser reconhecidos como atores políticos no ambiente transnacional, capazes de promover impactos no âmbito doméstico e internacional.

Ao concluir esse trabalho nos perguntamos sobre a maior ruptura que o Governo Bolsonaro teria promovido na PEB em termos de gênero. Nossa hipótese é de que o distanciamento de uma perspectiva existente até então, pautada pelo pluralismo ético, para uma postura que privilegia um moralismo religioso essencialista impacta na produção discursiva e de ações políticas, em âmbito doméstico e transnacional.

Por fim, também foi possível compreender que o problema de pesquisa a que nos propusemos deve ser ampliado, no futuro, de modo a considerar a pluralidade de atores que influenciam as questões de gênero na PEB: movimentos feministas e LGBTQIA+ de caráter transnacional, grupos neoconservadores e organismos internacionais estratégicos nessa agenda.

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BRAZILIAN FOREIGN POLICY IN BOLSONARO’S GOVERMENT: ANALYSIS OF TRENDS IN GENDER POLICIES

The present paper has as research problem on how the President of the Republic, Jair Messias Bolsonaro, and the Foreign Minister, Ernesto Araújo, have featured the Brazilian Foreign Policy (BFP) in relation to gender policy. To this goal, it is intended to identify the degree of sensitivity of the current BFP to the gender issues. To this end, a bibliographical review of the conceptual frameworks of BFP and gender policies will be performed. In addition, a qualitative empirical research will be conducted, using the method of content analysis of Laurence Bardin (2008) in the following primary sources: official speeches in international organizations and forums, and in multi and bilateral meetings, as well as in technical notes from the Ministry of Foreign Affairs. The timeframe for data collection ranges from the date of the inauguration of the Bolsonaro Government, on 01/01/2019, to 09/24/2019, the speech at the opening session of the GAUN. The present paper is justified because there is a gap in studies on BFP focused on leaders (SALOMÓN; PINHEIRO, 2013).

Beyond this gap, there is preliminary evidence that there has been a significant shift in the understanding of gender policies, which since the election period have been leveraged as a government platform for Jair Bolsonaro voters. In the understanding foreign policy, it will be employed as a public policy (ARAÚJO, 2017), whose specificity refers to its potential impact beyond national borders and domestic environment.

Keywords: Brazilian foreign policy; Gender; Bolsonaro Government.

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