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Pareceristas Ad Hoc Ms. Inês Regina Waitz Ms. Iracilda Aparecida Ossuna Dra. Tatiane Regina Bonfim. Anhanguera Educacional S.A.

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Anuário da Produção Acadêmica Docente: 2008. Valinhos:

Anhanguera Educacional S.A., 2009. Semestral.

Vol. II, No. 2

Ano 1, n. 1 (2007) – Valinhos: AESA, 2007 –

No 1, 2007, publicada anualmente.

ISSN 1982-3169

1. Produção docente. I. Anhanguera Educacional.

CDD - 500 Os artigos assinados são de inteira responsabilidade de seus autores.

Parec eristas Ad Hoc Ms. Inês Regina Waitz Ms. Iracilda Aparecida Ossuna Dra. Tatiane Regina Bonfim Anhanguera Educacional S.A.

Esp. Adilson Aparecido Lançoni

Centro Universitário Anhanguera – UNIFIAN Leme Ms. Maria Emilia Longhin

Esp. Sérgio Luiz Jorge

Centro Universitário Anhanguera – UNIFIAN Piracicaba Ms. Adonir Venuzino Rocha Both

Centro Universitário Anhanguera de Campo Grande Dra. Denize Marroni

Ms. Ivone Varoli

Esp. Juliana da Costa e Silva Ms. Waldemar Wysocki

Centro Universitário de Santo André – UniA Ms. Ademir Potiens

Centro Univ. Ibero-Americano de São Paulo – UNIBERO Ms. Francisco Oscar Diniz Junqueira Filho

Centro Universitário Padre Anchieta - UniAnchieta Ms. Marcio Luppi

Faculdade Anhanguera de Anápolis Ms. Edinês Maria Sormani Garcia Dr. Runer Augusto Marson Dra. Vera Mariza Regino Casério Faculdade Anhanguera de Bauru Ms. Rodrigo Dantas de Sousa Faculdade Anhanguera de Indaiatuba Ms. Ana Paula Bonilha Piccoli Faculdade Anhanguera de Jundiaí Esp. Maria Isabel Barbosa Okamoto Faculdade Anhanguera de Limeira Dra. Sandra Regina Leal

Faculdade Anhanguera de Passo Fundo Ms. Maria Theresa Munhoz Severi Faculdade Anhanguera de Piracicaba Esp. Maria Cristina Pavan de Moraes Faculdade Anhanguera de Santa Bárbara Ms. Marcos Rogerio Ribeiro Campos Faculdade Anhanguera de Taubaté Ms. Ana Angélica Júlio Ms. Alessandre Oliveira Ferreira Ms. Edílson Antônio Ignácio Ms. Janaine Cristiane de Souza Arantes Faculdade Anhanguera de Valinhos

Ms. Roberto Cezar Datrino

Faculdade Integração Zona Oeste – FIZO Ms. Aldo José Fossa de Sousa Lima

Faculdades Anhanguera de Campinas - unidade 1 Ms. Francisco Sergio Tittanegro

Faculdades Anhanguera de Campinas - unidade 2 Ms. Ana Paula Basqueira

Ms. Maria Lúcia Queiroz Guimarães Hernandes Esp. Paulo Bareli

Faculdades Anhanguera de Campinas - unidade 3 Ms. Carlos Alberto Abrantes

Dra. Maria Jose de Castro Silva

Faculdades Anhanguera de Campinas - unidade 4 Dra. Adriane Angélica F. S. Lopes de Queiroz Unimed Campo Grande

Ms. Osvaldinete Lopes de Oliveira Dr. Paulo de Tarso Camillo de Carvalho Ms. Paulo Ricardo Martins Nuñez Ms. Rozana Beatriz Franco Baccaro Universidade Anhanguera – UNIDERP Dra. Viviane Veras

Universidade Estadual de Campinas – UNICAMP Ms. Fernanda Migliorança

Universidade Federal de São Carlos – UFSCar Dra. Cláudia da Mota Darós Parente Universidade Federal de Sergipe – UFS

Suporte Técnico e TI Hilário Viana Bacellar Anhanguera Educacional S.A.

Arte Final e Diagra ma ção Ana Augusta Passador Giulianna Carbonari Meneghello Anhanguera Educacional S.A.

Sistema Anhanguera de Revistas Eletrônicas - SARE http://sare.unianhanguera.edu.br/

e-mail: rc.ipade@unianhanguera.edu.br Anuário da Produção Aca dêmi ca Docente

Anhanguera Educacional S.A.

Dire toria

Antonio Carbonari Netto - Presidente José Luis Poli - VP Acadêmico

Maria Elisa Ehrhardt Carbonari - VP Pesquisa, Extensão e Pós-Graduação Alex Carbonari - VP Desenvolvimento

Marcos Lima Verde Guimarães Júnior - VP Administrativo e Financeiro Ricardo Scavazza - VP de Operações

Dire tora Ex ecutiva Dra. Maria Elisa Ehrhardt Carbonari Editor Responsável Dr. Adriano Thomaz Anhanguera Educacional S.A.

Conselho Editorial Ms. Jeanne Dobgenski Dr. Marcelo Augusto Cicogna Dra. Thais Costa de Sousa Pagani Anhanguera Educacional S.A.

Co mi tê Téc nico-Científico Ms. Adauto Damásio

Ms. Adriana Camargo Pereira Esp. Alberto Sebastião Santana Dra. Anterita Cristina de Sousa Godoy Ms. José Manente

Dra. Maria Inês Crnkovic Octaviani Dra. Mariane Bernadete Compri Nardy Dra. Mércia Breda Stella

Ms. Roberta Marcílio Anhanguera Educacional S.A.

Ms. Maria Tereza Ap. Moi Gonçalves

Centro Universitário Anhanguera – UNIFIAN Leme Ms. Edna de Almeida Rodrigues

Centro Universitário de Araraquara – UNIARA Ms. Alexey Carvalho

Faculdade Anhanguera de Bauru Esp. Fábio Pinto Gonçalves dos Reis Faculdade Anhanguera de Jacareí Ms. Márcia Regina Ferro Móss Júlio Faculdade Anhanguera de Rio Claro Dr. Adriano Donizete Pila Ms. Moisés Miguel Cazela

Faculdade Anhanguera de Santa Bárbara Dra. Jaqueline Brigladori Pugliesi Ms. Lourdes Pereira de Souza Manhani Faculdade Anhanguera de Valinhos Dra. Andréa Carla Alves Borim

Fac. de Negócios e Tecn. da Informação – FACNET Ms. Estela Maria Camargo Regina

Faculdades Anhanguera de Campinas - unidade 1 Ms. Alessandra Cristina Fahl

Faculdades Anhanguera de Campinas - unidade 2 Ms. Carlos Roberto Pagani Jr.

Ms. Luciene Maria Garbuio Esp. Marcus Antonio da Silva Leme

Faculdades Anhanguera de Campinas - unidade 3 Ms. Alfredo César Antunes

Faculdades Anhanguera de Campinas - unidade 4 Esp. Débora Cristina Siqueira Aceti

FAENAC

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Anuário da Produção Acadêmica Docente • Vol. II, Nº. 2, 2008

Sumário

Apresentação

5

Artigos

Breves considerações sobre eutanásia e ortotanásia e o respeito ao princípio da

dignidade no momento da morte

7

Selma Aparecida Cesarin

Hotelaria hospitalar e a humanização: o olhar vai além do corpo e seus agravos

25 Maria Estela Barbosa da Rocha, Julia Maria Barrios Nogueira

Sistemas de informação: a assimilação e aceitação desta tecnologia por alunos

de terceiro grau da área de gestão de negócios

39

Ricardo Martinelli Martins, Rogério Teixeira da Cruz

A representação no local de trabalho: uma análise contemporânea do ABC

paulista

53

Luiz Vagner Raghi, Jean Pierre Marras

Novos conceitos, ferramentas e desafios: reflexões sobre o novo marketing

71 André Petris Gollner

A logística reversa dos pneus inservíveis

91

Karin Cristina Siqueira Ramos, Leonardo Sohn Nogueira Ramos Filho

Efeitos da prática da hidroginástica nas capacidades físicas de mulheres de 44 a

59 anos de idade

105

Cleison Bandeira de Castro, Claudio de Oliveira Assumpção, João Bartholomeu Neto, Ricardo Yukio Asano

Os métodos de custeio mais utilizados nas indústrias têxteis de Jaraguá do Sul /

SC

119

Julien Ariani de Souza Laudelino, Jane Marli Spredemann, Maria Aparecida Maes, Carlos Ribak, Almir Paulino Stenger

A pedagogia de projetos como possibilidade de trabalho: um relato de experiência de professoras de Educação infantil

133 Elaine Ferraresi Serediuk, Adriana Amaral Beltramelli de Souza

Análise de ações e resultados sócio-ambientais do projeto Cataltau

desenvolvido em Taubaté

149

Herman Renato Assumpção, Leila Ferreira Moreira Roman, Elisabeth Cesar Campos

O marketing de relacionamento como suporte ao marketing político: um estudo

com políticos da região Vale do Itapocu (SC)

163

Adriane Schimainski dos Santos

Identificação de agentes estressores em trabalhadores de indústrias de Jaraguá

do Sul

185

Paola Savaris Frassetto dos Santos, Jerson Kitzberger, Angélica Cristina Fritsche de Morais, Cristiano Taufenbach Lopes, Dhyego José Possamai

Jogos de empresa

201

Paulo César D'Elboux

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Anuário da Produção Acadêmica Docente • Vol. II, Nº. 2, 2008

Identidade acadêmica da educação física: da necessidade de um corpo de conhecimento teórico e fuga do rótulo de profissão prática para uma área que

exerce a prática reflexiva

215

Alfredo Cesar Antunes

Sistema inteligente para tomada de decisões utilizando lógica fuzzy

231 Edilene Aparecida Veneruchi de Campos, Helder Coelho Silva

Alterações neuroendócrinas e exercício físico na obesidade

247 Christiano Bertoldo Urtado, Claudio de Oliveira Assumpção, Adélia Soares Nunes

Perfil metabólico do músculo Tibial anterior durante tratamento com

Dexametasona

267

Luciano Júlio Chingui, Maria Teresa Munhoz Severi, Mariana de Almeida dos Santos Reis, Matheus Caiche Guedes

A transferência erótica e o manejo na prática do psicanalista

275 Leandro Alves Rodrigues dos Santos, Renata Rampim Silveira, Tatiana Schork Peres Flores

Logística: um levantamento das opções de modais de transporte para a Região

Metropolitana de Campinas (RMC)

285

Décio Henrique Franco, Hurgor Kitzberger, Fabio de Oliveira

Querem dominar você...

299

Salvio Ferreira Leitão

A questão da autoria em telenovelas brasileiras

315

Vanderlei Postigo

Tabela dos trabalhos por áreas de conhecimento

329

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Anuário da Produção Acadêmica Docente • Vol. II, Nº. 2, 2008

Apresentação

O Anuário da Produção Acadêmica Docente, nesse segundo número, traz 21 artigos sobre temas multidisciplinares escritos por 47 autores. Os assuntos são objetivos e podem ser utilizados em sala de aula, incentivando a prática de leitura e discussão, contribuindo para o aprimoramento intelectual de docentes e discentes.

Este segundo número é prova de continuidade em promover o ensino superior de qualidade, que é a missão da Anhanguera Educacional, publicando a produção dos resultados de trabalhos acadêmicos de seu corpo docente com a contribuição de pesquisadores e professores convidados.

No ano de 2008, inaugurou-se o Sistema Anhanguera de Revistas Eletrônicas (SARE). Esse sistema é baseado no software livre Open Journal Systems (OJS), ferramenta internacionalmente difundida pelo Public Knowledge Project (PKP), resultante de uma parceria da British Columbia, Stanford University e Simon Fraser University Library.

O acesso gratuito ao conteúdo digital das publicações propicia aos autores e leitores uma facilidade maior de consulta e catalogação dos artigos depositados no SARE.

Estas novas notícias, divulgadas à comunidade acadêmica da Anhanguera Educacional, fazem parte de um plano de ação com objetivo de melhorar a qualidade das revistas científicas. Em 2008 o Anuário da Produção Acadêmica Docente passará a ser publicado semestralmente no SARE, buscando alcançar a periodicidade exigida por importantes bases de indexação.

Espera-se que os docentes das unidades da Anhanguera Educacional e pesquisadores de outras instituições continuem contribuindo com o Anuário, publicando os resultados de seus trabalhos num meio digital de amplo acesso.

Prof. Dr. Adriano Thomaz

Editor do Anuário da Produção Acadêmica Docente

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Anuário da Produção Acadêmica Docente

Vol. XII, Nº. 2, Ano 2008

Selma Aparecida Cesarin

Faculdade Editora Nacional - FAENAC selcesarin@gmail.com

BREVES CONSIDERAÇÕES SOBRE

EUTANÁSIA E ORTOTANÁSIA E O RESPEITO AO PRINCÍPIO DA DIGNIDADE NO MOMENTO DA MORTE

RESUMO

Artigo de revisão sobre a reflexão difícil e complexa para o ho- mem que é a finitude da vida e a imortalidade. A morte está pre- sente quase tanto quanto a vida, e se mostra sempre algo dificíli- mo com o que conviver. Esta reflexão se torna mais penosa quan- do o ser humano se vê frente a situações nas quais não existe o que fazer para aliviar o sofrimento, frente à morte iminente. Nesse momento, deveria ser dado à pessoa o direito de escolha de como morrer, respeitando o princípio da dignidade da pessoa humana, permitindo-lhe escolher morrer com a mesma dignidade que esco- lheu viver, sem prolongamento da agonia, na companhia de seus entes queridos, se assim desejar. Apesar da previsão constitucio- nal do princípio da dignidade, discussões acaloradas e decisões polêmicas permeiam o debate sobre respeitar os direitos funda- mentais da pessoa em seu direito de escolha e a dignidade na hora da morte.

Palavras-Chave: Eutanásia, distanásia, ortotanásia, dignidade humana,

morrer com dignidade.

ABSTRACT

Revision article about human life finitude and immortality, which are hard reflections to man and those he is not always prepared to make. Death is almost as present as life is, but it is something very hard to live together. These reflections become more painful when human being sees himself in front of situations that do not permit anything to soften the suffering due to imminent death. In death time it must be given to all person his dying way choice right, re- specting human being dignity and permitting each one chooses to die with the same dignity he chosen to live, without suffering pro- longation and with his beloved ones, if he desires so. In spite of constitutional prevision of human being dignity principle, there are rough discussions and polemic decisions about respecting per- sons’ fundamental rights of dignity and choice right in time death.

Keywords: Euthanasia, disthanasia, ortothanasia, human being dignity,

die with dignity.

Anhanguera Educacional S.A.

Correspondência/Contato Alameda Maria Tereza, 2000 Valinhos, São Paulo CEP. 13.278-181

rc.ipade@unianhanguera.edu.br Coordenação

Instituto de Pesquisas Aplicadas e Desenvolvimento Educacional - IPADE Artigo Original

Recebido em: 10/8/2008 Avaliado em: 1/12/2008

Publicação: 19 de dezembro de 2008

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Breves considerações sobre eutanásia e ortotanásia e o respeito ao princípio da dignidade no momento da morte

Anuário da Produção Acadêmica Docente • Vol. XII, Nº. 2, Ano 2008 • p. 7-23 8

1. INTRODUÇÃO

Conforme bem afirma Dyanndra Lisita Célico (2008), “com os avanços das ciências médicas, aliados à concepção da vida humana como bem intangível, ou seja, intocável e absoluto, a eutanásia ganhou novos espaços frente à euforia do Homem diante às grandes descobertas ocorridas no século XX”.

Entretanto, o assunto não é recente: os primeiros estudos podem ser encontra- dos nos escritos dos filósofos gregos, cerca de 500 a.C., em cujo período surgiram mui- tas idéias, definições e teorias sobre tema.

A eutanásia não é um fenômeno recente, acompanha a humanidade desde o seu início. Na Antiguidade, diversos povos, como os celtas, por exemplo, tinham por hábito que os filhos matassem os seus pais quando estes estivessem velhos e do- entes. Na Índia, os doentes incuráveis eram levados até à beira do rio Ganges, onde tinham as suas narinas e a boca obstruídas com barro, uma vez feito isto e- ram atirados ao rio para morrerem. A própria Bíblia evoca a eutanásia, no segun- do livro de Samuel, num relato em que o Rei Saúl, gravemente ferido por solda- dos inimigos, implora ao seu pajem que lhe ponha termo à vida. (WIKIPEDIA, 2008).

Este artigo de revisão tem o objetivo de realizar pequena reflexão sobre este tema bastante polêmico e atual: a eutanásia e seus, por assim dizer, desdobramentos, em especial a distanásia e a ortotanásia, com vistas ao princípio da dignidade da pes- soa humana, considerando-se que há grande necessidade de reflexão, principalmente de reflexão ética, sobre questões polêmicas da atualidade, tanto no campo da saúde e no campo da ética, quanto no campo do direito, bem como reflexão a respeito de pro- blemas antigos sob nova óptica.

A discussão sobre a morte passa por diversos institutos da sociedade: ética, saúde e Direito que, a rigor, determina a licitude e a ilicitude ao se lidar com ela, ressal- tando-se que no ordenamento jurídico brasileiro a eutanásia é considerada crime.

A escolha da discussão sobre a dignidade da pessoa humana na hora da morte

e sobre a distanásia e a ortotanásia para a realização deste breve estudo deve-se à pre-

sença e à inquietação constantes do assunto “morte” na vida do ser humano, entendido

aqui não em seu sentido simples de “fim da vida”, mas como processo, que envolve

práticas médicas e posturas legais, por ser objeto de questionamento profundo, desde

crenças religiosas até a manutenção do direito constitucional à dignidade da pessoa,

inquestionável nas letras da lei da Constituição Federal de 1988.

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Selma Aparecida Cesarin

Anuário da Produção Acadêmica Docente • Vol. XII, Nº. 2, Ano 2008 • p. 7-23 9

A presença do termo “eutanásia” é freqüente nas discussões e na mídia, mas o mesmo não ocorre com os termos distanásia e ortotanásia, ainda pouco conhecidos e utilizados.

A discussão sobre eutanásia vai muito além do lugar-comum: tem de ser mui- to mais profunda do que a mera discussão maniqueísta entre ser a favor ou contra e a- tinge, além de questões médicas e religiosas, questões jurídicas.

A personalidade começa com o nascimento com vida, e só se encerra com a morte. Desses dois fatos da vida jurídica do ser humano, sem dúvida a morte é o mais complicado, porque quanto a ela não se pode fazer certas escolhas. O nascimento com vida pode ou não ocorrer, mas a morte é, segundo Leo Pessini, “a única certeza do ser humano” (Distanásia: até quando investir sem agredir?, 2008), queira ele enfrentá-la ou não, aceitá-la ou não.

Entretanto, no Direito, ainda falta estudo que reflita as modernas preocupa- ções filosóficas sobre a morte e a forma de se tratar os últimos momentos de vida do ser humano.

A definição de morte e a forma de encará-la variam de acordo com o enfoque e o estudo: filosófico, religioso, médico, jurídico etc., mas em todos esses campos de es- tudo e reflexão os conceitos não são cristalizados: o mundo das leis reinvestiga, a todo o momento, as causas e a forma de lidar com o evento da “morte”; a medicina, quanto mais se aprofunda nos mistérios do corpo humano e quanto menos aceita não conse- guir controlá-los, cria novos sistemas de estudo e de determinação de quando o ser humano pode ser realmente considerado “morto”, já que a morte não é um instante, mas um processo no qual se identificam fases (morte cerebral, morte biológica e morte clínica).

2. A DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA COMO FUNDAMENTO DO DIREITO À MORTE DIGNA

O conceito de dignidade é polissêmico, ou seja, tem diferentes significados, todos com valores éticos imbuídos. Por ser polissêmico, é utilizado na defesa de valores antagôni- cos e, no caso específico da eutanásia serve tanto para argumentar a favor de sua apro- vação como contra a sua proibição.

A dignidade humana é algo inerente a todos os seres humanos. Como diz o

preâmbulo da Declaração Universal dos Direitos Humanos, adotado pela Assembléia

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Breves considerações sobre eutanásia e ortotanásia e o respeito ao princípio da dignidade no momento da morte

Anuário da Produção Acadêmica Docente • Vol. XII, Nº. 2, Ano 2008 • p. 7-23 10

Geral das Nações Unidas, em 1948: “O reconhecimento da dignidade inerente (grifo do nosso) e dos direitos iguais inalienáveis de todos os membros da família humana é o fundamento da liberdade, da justiça e da paz no mundo”. (PESSINI, op. cit., 2008)

Entretanto, quanto à eutanásia, na hora da morte e do prolongamento da an- gústia de um indivíduo, o que ocorre é que parece haver desejo em não se respeitar a mesma dignidade garantida nos procedimentos da vida.

Documentos mais recentes da Unesco, relacionados ao desenvolvimento da tecnociência, da genômica e da pesquisa em seres humanos, utilizam o conceito de

“dignidade humana” como fundamento da reflexão ética.

Assim, a Declaração Universal do Genoma Humano e dos Direitos Humanos, de 1997, diz em seu art. 2º que: a) “Todos têm o direito ao respeito por sua dignidade [...]; b) Essa dignidade faz com que seja imperativo não reduzir os indivíduos a suas ca- racterísticas genéticas e respeitar sua singularidade e diversidade” (PESSINI, op. cit., 2008)

Documento mais recente da Unesco, denominado “Declaração Universal sobre Bioética e Direitos Humanos”, de 2005, cita, entre seus objetivos, “promover o respeito pela dignidade humana e proteger os direitos humanos, assegurando o respeito pela vida dos seres humanos e pelas liberdades fundamentais” (PESSINI, L. op. cit., 2008)

Entre os princípios fundamentais a serem respeitados, o art. 3º fala da digni- dade humana e dos direitos humanos: “A dignidade humana, os direitos humanos e as liberdades fundamentais devem ser respeitados em sua totalidade”. (PESSINI, op. cit., 2008)

Ainda segundo o padre Leo Pessini (op. cit., 2008):

Triste futuro nos aguarda se esquecermos a verdade de que as coisas têm preço, mas não as pessoas, a dignidade, e se não formos sábios no criar um mundo de dignidade humana que nos proteja há a ameaça de sermos degradados a meras cobaias ou seres instrumentais.

O ser humano, com base na defesa do direito da dignidade da pessoa humana, defendido pela própria Constituição, tem direito de escolher manter sua dignidade na hora da morte e, para tanto, o sistema jurídico brasileiro deveria dar suporte à escolha da pessoa nestas situações.

A concepção de dignidade da pessoa humana está ligada à possibilidade de

ela conduzir sua vida e realizar sua personalidade conforme sua própria consciência,

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Selma Aparecida Cesarin

Anuário da Produção Acadêmica Docente • Vol. XII, Nº. 2, Ano 2008 • p. 7-23 11

desde que não sejam afetados direitos de terceiros. Esse poder de autonomia também alcança, pelo menos em teoria, os momentos finais da vida. (BORGES, 2005)

Há situações em que os tratamentos médicos se tornam um fim em si mesmos e o ser humano passa a estar em segundo plano. A atenção tem seu foco no procedi- mento, na tecnologia e não na pessoa que padece.

Nesta situação, o paciente sempre está em risco de sofrer medidas despropor- cionais, pois os interesses da tecnologia deixam de estar subordinados aos interesses do ser humano.

Neste momento,

[...] em uma época consciente, mais que nunca, dos limites do científico e das a- meaças de atentado à dignidade humana, a obstinação terapêutica surge como um ato profundamente anti-humano e atentatório à dignidade da pessoa e a seus direitos mais fundamentais”. (BORGES, 2005).

Hoje, reivindica-se a reapropriação da morte pelo próprio doente. Há preocu- pação sobre a salvaguarda da qualidade de vida da pessoa, mesmo na hora da morte.

Reivindica-se uma morte digna, o que significa: “A recusa de se submeter às manobras tecnológicas que só fazem prolongar a agonia. É um apelo ao direito de viver uma mor- te de feição humana [...] significa o desejo de reapropriação de sua própria morte, não objeto da ciência, mas sujeito da existência”. (BORGES, 2005)

Por isso, o fundamento jurídico e ético do direito à morte digna é a dignidade da pessoa humana. O prolongamento artificial do processo de morte é alienante, retira a subjetividade da pessoa e atenta contra sua dignidade, enquanto sujeito de direito.

Indagações polêmicas e profundas tem norteado as discussões quanto até que ponto a dignidade da pessoa é respeitada em situações limítrofes, levando a questionar como “se o prolongamento artificial da vida apenas vegetativa não representa uma manipulação que viola a dignidade humana e se certos tratamentos coativos e não ne- cessários não ultrajam a dignidade da pessoa”. (BORGES, 2005)

Assim:

Se a condenação do paciente é certa, se a morte é inevitável, está sendo protegida a vida? Não, o que há é postergação da morte com sofrimento e indignidade [...]

Se vida e morte são indissociáveis, e sendo esta última um dos mais elevados momentos da vida, não caberá ao ser humano dispor sobre ela, assim como dis- põe sobre a sua vida? (PESSINI, 2008)

A intervenção terapêutica contra a vontade do paciente é um atentado contra

sua dignidade. A pessoa tem a proteção jurídica de sua dignidade e, para isso, é fun-

damental o exercício do direito de liberdade, o direito de exercer sua autonomia e de

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Breves considerações sobre eutanásia e ortotanásia e o respeito ao princípio da dignidade no momento da morte

Anuário da Produção Acadêmica Docente • Vol. XII, Nº. 2, Ano 2008 • p. 7-23 12

decidir sobre os últimos momentos de sua vida. Esta decisão precisa ser respeitada. Es- tando informado sobre o diagnóstico e o prognóstico, o paciente decide se vai se sub- meter ou se vai continuar se submetendo a tratamento. Ele pode decidir pelo não- tratamento, desde o início, e pode também decidir pela interrupção do tratamento que ele considera inútil.

O respeito pela dignidade da vida exige o reconhecimento de que “tratamen- tos” inúteis ou fúteis apenas prolongam a mera “vida biológica”, sem nenhum outro resultado. (BORGES, 2005)

A não-intervenção, se desejada pelo paciente, não é uma forma de eutanásia, com provocação da morte ou aceleração desta; é o reconhecimento da morte como ele- mento da vida humana, já que é da condição humana ser mortal e é humano deixar que a morte ocorra sem o recurso de meios artificiais que prolonguem inutilmente a agonia.

3. ETIMOLOGIA, CONCEITO E DIFERENCIAÇÕES: EUTANÁSIA, DISTANÁSIA E ORTOTANÁSIA

A definição dos vocábulos inicia o entendimento sobre a diferença conceitual e prática entre eutanásia, distanásia e ortotanásia. Aliás, conceituar eutanásia torna possível en- tender melhor o porquê de tanta polêmica.

3.1. Eutanásia

Eutanásia é termo derivado do grego eu, que significa bem, e thanasia, que significa mor- te e se trata de vocábulo utilizado para expressar que “o médico deve acalmar os sofri- mentos e as dores não apenas quando este alívio possa trazer cura, mas também quan- do pode servir para procurar uma morte doce e tranqüila”. (DODGE, 2008)

O termo eutanásia foi criado no século XVII – em 1623, pelo filósofo Francis Bacon, em sua obra Historia vitae et mortis, como sendo o tratamento adequado para as doenças incuráveis. Assim, pode ser entendido como “boa morte”.

Para Milton Schmitt (2003), o termo tem sentido mais amplo, abrangendo ou- tras modalidades:

O termo Eutanásia, hodiernamente passou a ser utilizado para designar a morte deliberada de uma pessoa que sofre de enfermidade incurável ou muito penosa, sendo vista como meio para suprir a agonia demasiadamente longa e dolorosa

(13)

Selma Aparecida Cesarin

Anuário da Produção Acadêmica Docente • Vol. XII, Nº. 2, Ano 2008 • p. 7-23 13 do, então chamado, paciente terminal. Porém, seu sentido ampliou-se passando a

abranger o suicídio, a ajuda em nome do Bom Morrer, ou Homicídio Piedoso.

A eutanásia pode ser ativa ou passiva, sendo que na eutanásia ativa há um traçado de ações que têm por objetivo pôr termo à vida, na medida em que é planejada e negociada entre o doente e o profissional ou parente que vai levar a termo o ato.

(DODGE, 2008)

A eutanásia passiva (OLIVEIRA; JAPAULO, 2008), por sua vez, não provoca deliberadamente a morte. No entanto, com o passar do tempo, conjuntamente com a interrupção de todos e quaisquer cuidados médicos, farmacológicos ou outros, o doen- te acaba por falecer.

São cessadas todas e quaisquer ações que tenham por fim prolongar a vida. Is- so não quer dizer que haja um ato que provoque a morte (tal como na eutanásia ativa), mas também não há nenhum que a impeça (como na distanásia).

3.2. Distanásia

Já distanásia significa o emprego de todos os meios terapêuticos possíveis, ministrados ao paciente que sofra doença incurável e terrível agonia, de modo que tais providências possam prolongar-lhe a existência, sem a mínima certeza de sua eficácia, nem da rever- sibilidade do quadro, pois o fim da vida segue seu curso natural. (DODGE, 2008).

Distanásia significa prolongamento exagerado da morte de um paciente. A es- te respeito, o professor Leo Pessini (2008) faz a seguinte explanação:

[...] o termo também pode ser empregado como sinônimo de tratamento inútil.

Trata-se da atitude médica que, visando a salvar a vida do paciente terminal, submete-o a grande sofrimento. Nesta conduta não se prolonga a vida propria- mente dita, mas o processo de morrer. No mundo europeu, fala-se de “obstinação terapêutica”, nos Estados Unidos de “futilidade médica” (medical futility). Em termos mais populares a questão seria colocada da seguinte forma: até que ponto se deve prolongar o processo do morrer quando não há mais esperança de rever- ter o quadro? Manter a pessoa “morta-viva” interessa a quem?

Chama-se distanásia o prolongamento artificial do processo de morte, com so- frimento do doente. É uma ocasião em que se prolonga a agonia, artificialmente, mes- mo que os conhecimentos médicos, no momento, não prevejam possibilidade de cura ou de melhora. É expressão da obstinação terapêutica pelo tratamento e pela tecnologi- a, sem a devida atenção ao ser humano.

Conforme os ensinamentos de Maria Helena Diniz (2001, p. 316), “trata-se do

prolongamento exagerado da morte de um paciente terminal ou tratamento inútil. Não

visa a prolongar a vida, mas sim ao processo de morte”.

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Breves considerações sobre eutanásia e ortotanásia e o respeito ao princípio da dignidade no momento da morte

Anuário da Produção Acadêmica Docente • Vol. XII, Nº. 2, Ano 2008 • p. 7-23 14

3.3. Ortotanásia

Em oposição à distanásia, surge o conceito de ortotanásia que, etimologicamente, signi- fica morte correta: orto = certo e thanatos = morte; significa o não-prolongamento artifi- cial do processo de morte, além do que seria o processo natural. A ortotanásia deve ser praticada pelo médico.

Conhecida também como eutanásia por omissão, indica a omissão voluntária, pelo médico, dos meios terapêuticos, visando a deixar o paciente que sofre doença in- curável e terrível agonia encontrar a morte.

Note-se que as três hipóteses referem-se à situação em que há doença incurá- vel e sofrimento físico insuportável, e distinguem-se uma das outras pela intenção de quem produz ou omite prevenir a morte (intenção do agente); pelo modo e pelo meio empregado, ainda que seja sempre indolor.

Os estudos e discussões que vêm sendo feitos permitem afirmar que a ortota- násia, diferentemente da eutanásia, é sensível ao processo de humanização da morte e alívio das dores e não incorre em prolongamentos abusivos com a aplicação de meios desproporcionados que imporiam sofrimentos adicionais (PESSINI, op. cit.,2008). Essa discussão cresceu muito nas áreas médica e jurídica.

Para o jurista Ives Gandra Martins:

[...] o homem não tem o direito de tirar a vida do seu semelhante, mas desligar aparelhos não é matar. Não há polêmica porque não há choque nenhum com o direito canônico ou o direito natural. O direito à vida é se manter vivo com os próprios meios. (apud PESSINI, op. cit.,2008)

Na situação em que ocorre a ortotanásia, o doente já se encontra em processo natural de morte, processo este que recebe contribuição do médico no sentido de deixar que esse estado se desenvolva em seu curso natural. Apenas o médico pode realizar a ortotanásia.

Entende-se que o médico não está obrigado a prolongar o processo de morte do paciente, por meios artificiais, sem que este tenha requerido que o médico assim a- gisse.

Além disso, o médico não é obrigado a prolongar a vida do paciente contra a vontade deste.

A ortotanásia é conduta atípica frente ao Código Penal, pois não é causa de

morte da pessoa, visto que o processo de morte já está instalado e serviria, então, para

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evitar a distanásia, principalmente porque a morte é inevitável; quanto à ela, a única questão a ser colocada é “quando” e “como”, e não “se” vamos morrer.

Segundo Horta (1992, p. 220):

A medicina e a sociedade brasileira têm hoje diante de si um desafio ético, ao qual é mister responder com urgência - o de humanizar a vida no seu ocaso, de- volvendo-lhe a dignidade perdida. Centenas ou talvez milhares de doentes estão hoje jogados a um sofrimento sem perspectivas em hospitais, sobretudo nas suas UTIs e emergências. Não raramente, acham-se submetidos a uma parafernália tecnológica, que não só não consegue minorar-lhes a dor e o sofrer, como ainda os prolonga e os acrescenta inutilmente. Quando a vida física é considerada o bem supremo e absoluto, acima da liberdade e da dignidade, o amor natural pela vida se transforma em idolatria. A medicina promove implicitamente esse culto idólatra da vida, organizando a fase terminal como uma luta a todo custo contra a morte.

4. A EUTANÁSIA E O ORDENAMENTO JURÍDICO BRASILEIRO

Por enquanto, tanto constitucional, quanto penalmente, a eutanásia (mesmo em sua forma de ortotanásia) é proibida no sistema jurídico brasileiro. E a discussão sobre o assunto envereda por caminhos polêmicos: o da dignidade da pessoa humana, presen- te no artigo 1º, Inc. III da Constituição Federal e o do direito à vida, presente no art. 5º, Caput, no capítulo referente aos Direitos e Garantias Fundamentais, que dispõe sobre a vida e também sobre a integridade física, que são bens indisponíveis, imprescritíveis e insuscetíveis de alienação, mas seja qual for a justificativa que se utilize, no ordena- mento jurídico brasileiro a eutanásia é considerada crime.

Ao se falar em eutanásia, além do direito à vida, trata-se do direito à integri- dade da pessoa humana e sua tutela, além do direito à dignidade e à autonomia, discu- tindo-se, portanto, questões jurídicas. (DODGE, 2008)

A alta tecnologia da medicina, ao contrário do que se pode supor, tem também um outro lado, o lado Lilith, como seria possível dizer: além dos benefícios trazidos à saúde, pode acabar afetando a dignidade da pessoa humana no que se refere ao contro- le da morte, já que, biologicamente, o corpo humano pode ser mantido, de forma artifi- cial, mesmo sem nenhuma perspectiva de cura ou de melhora.

Assim, alguns procedimentos médicos, em vez de curar ou de propiciar bene- fícios para o doente apenas prolongam o processo de morte. Há situações em que os tratamentos se tornam um fim em si mesmos e o ser humano é simplesmente ignorado.

(BORGES, 2005)

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Hoje, as discussões caminham para a apropriação da morte pelo próprio doen- te, com preocupação constante sobre a salvaguarda da qualidade de vida da pessoa, mesmo na hora da morte. Reivindica-se uma morte digna, o que significa:

[...] a recusa de se submeter a manobras tecnológicas que só fazem prolongar a agonia. É um apelo ao direito de viver uma morte de feição humana [...] significa o desejo de reapropriação de sua própria morte, não objeto da ciência, mas sujeito da existência. (BORGES, 2005)

Apesar do conhecimento muito mais amplo do que aquele que o ser humano tinha anteriormente, a morte não se tornou um evento mais digno, já que a ampliação do conhecimento biológico e a tecnologia têm servido para tornar o morrer mais pro- blemático; mais difícil de prever, mais difícil ainda de lidar, fonte de complicados di- lemas éticos e escolhas dificílimas, geradoras de angústia, ambivalência e incertezas e que nem sempre garantem o morrer em paz. (PESSINI, op. cit., 2008)

O prolongamento da vida não traz, necessariamente, imbuído em si, a quali- dade de vida durante esse período. Assim, cada vez mais se discute sobre o direito de o ser humano escolher se deseja ou não prolongar sua vida, sem ter garantias de que ela tenha qualidade.

4.1. A eutanásia e a Constituição Brasileira

Na legislação brasileira, o direito à vida está assegurado e consagrado no ordenamento jurídico pátrio por ser o alicerce de qualquer prerrogativa jurídica da pessoa, razão pela qual o Estado resguarda a vida humana desde a vida intra-uterina até a morte e a Constituição Federal brasileira prevê a indisponibilidade da vida humana.

Na realidade, a questão que se coloca em discussão quando o assunto eutaná- sia é abordado é justamente a indisponibilidade da vida humana, o que ainda será as- sunto de calorosas controvérsias, por muito tempo.

Os estudos sobre o princípio da autonomia, também conhecido como princí- pio do respeito às pessoas, indicam que ele incorpora pelo menos duas convicções éti- cas: a primeira se refere ao tratamento dos indivíduos como agentes autônomos e a se- gunda se refere ao fato de pessoas com a autonomia diminuída deverem ser tratadas com maior proteção, entendendo-se como pessoa autônoma aquela capaz de deliberar sobre sua vontade e seus objetivos.

Ao contrário de heteronomia, a autonomia significa ser governado por si pró-

prio e essa capacidade de se auto-governar pode ser maculada total ou parcialmente

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pela existência de fatores do próprio ser ou diante de circunstâncias externas. É o e- xemplo, do menor, do incapaz, do presidiário, do doente mental etc.

Em suma, as teorias acerca da autonomia concordam quanto à essência que envolve um conceito de liberdade aliado ao de volitividade. Liberdade no sentido de isenção de qualquer influência na tomada de decisão e volitividade no sentido de capa- cidade de agir intencionalmente.

No Preâmbulo, o legislador da Constituição Federal, conhecida como Consti- tuição cidadã, instituiu como objetivos primordiais da promulgação da Lei Magna as- segurar o exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o bem- estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça como valores supremos da sociedade brasileira: “Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garan- tindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no país a inviolabilidade do direi- to à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade”. (art. 5º, Caput)

Entre todos os direitos fundamentais, entretanto, não se deve ver o direito à vida isoladamente, já que na Constituição brasileira há diversos princípios norteadores, como o da dignidade da pessoa humana, presente no artigo 1º, III; o da proibição de tratamento desumano ou degradante, disposto no artigo 5º, III; o da privação de direito por motivo de crença religiosa, encontrado no artigo 5º, VIII, dentre outros.

4.2. A eutanásia e o Código Penal Brasileiro

O Código Penal brasileiro tipifica, em seu artigo 121, o homicídio e no § 1º. institui o ti- po do homicídio privilegiado, nos seguintes termos:

Art. 121 - Matar alguém.

...

§1º - Se o agente comete o crime impelido por motivo de relevante valor social ou moral, ou sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta provoca- ção da vítima, o juiz pode reduzir a pena de um sexto a um terço.

É neste preceito que a doutrina situa o tratamento penal dispensado à eutaná- sia, quando praticada por motivo piedoso e para a qual o consentimento do paciente ao médico não tem qualquer relevância, pois não exclui a ilicitude da conduta.

O motivo de relevante valor social ou moral que tenha sido considerado pelo

médico ao praticar a eutanásia pode vir a ser considerado como causa especial de re-

dução de pena, mas a conduta continua a ser típica, ou seja, a caracterizar homicídio.

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A explicação do que venha a ser considerado tal motivo consta da Exposição de Motivos do Código Penal de 1940, que afirmava:

[...] por motivo de relevante valor social ou moral, o projeto entende significar o motivo que, em si mesmo, é aprovado pela moral prática como, por exemplo, a compaixão ante irremediável sofrimento da vítima (caso do homicídio eutanási- co), a indignação contra um traidor da pátria etc.

No Brasil, a eutanásia é crime: trata-se de homicídio doloso que, em face da motivação do agente, pode chegar à condição de privilegiado, apenas com a redução da pena. Entretanto, na prática a situação é bem diferente, pois envolve além do aspec- to legal, os aspectos médico, sociológico, religioso, antropológico, entre outros.

É indiferente para a qualificação jurídica desta conduta e para a corresponden- te responsabilidade civil e penal que o paciente tenha dado seu consentimento, ou mesmo implorado pela medida. O consentimento é irrelevante, juridicamente, para descaracterizar a conduta como crime.

O Código Penal brasileiro não fala em eutanásia explicitamente, mas em “ho- micídio privilegiado”.

Nos dias atuais, no caso de um médico realizar eutanásia, o profissional pode ser condenado por crime de homicídio – pena prisão de 12 a 30 anos – ou auxílio ao suicídio – pena de prisão de dois a seis anos.

No mesmo diploma legal, atualmente a eutanásia passiva pode ser tipificada como crime previsto no artigo 135, intitulado omissão de socorro.

Art. 135. Deixar de prestar assistência, quando possível fazê-lo sem risco, à crian- ça abandonada ou extraviada, ou a pessoa inválida ou ferida, ao desamparado ou em grave e eminente perigo; ou não pedir, nesses casos socorro da autoridade pública:

Pena – detenção, de um a seis meses, ou multa.

Parágrafo único. A pena é aumentada da metade, se da omissão resultar lesão corporal de natureza grave, e triplica, se resulta a morte.

Bem próximo à eutanásia está o suicídio assistido, mas os dois não se confun- dem. Nem o suicídio assistido se confunde com a indução, instigação ou auxílio ao sui- cídio, crime tipificado no artigo 122 do Código Penal.

Na eutanásia, o médico age ou se omite. Dessa ação ou omissão surge direta-

mente a morte. No suicídio assistido, a morte não depende diretamente da ação de ter-

ceiro. Ela é conseqüência de uma ação do próprio paciente, que pode ter sido orientado

ou auxiliado por esse terceiro. (SZKLARWSKY, 2008)

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5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Direito de morrer dignamente e direito à morte não são o mesmo e não podem ser con- fundidos: direito de morrer dignamente é a reivindicação por vários direitos e situa- ções jurídicas, como a dignidade da pessoa, a liberdade, a autonomia, a consciência, os direitos de personalidade e se refere ao desejo de se ter morte natural, humanizada, sem prolongamento da agonia por tratamento inútil.

Isso não se confunde com o direito de morrer, que deve ser entendido como intervenções que causam a morte.

Defender o direito de morrer dignamente não se trata de defender qualquer procedimento que cause a morte do paciente, mas de reconhecer sua liberdade e sua autodeterminação em escolher como quer se despedir do mundo material e das pesso- as que ama.

O artigo 5º da Constituição Federal de 1988 garante a inviolabilidade do direi- to à vida, à liberdade e à segurança, dentre outros. Entretanto, cabe considerar que tais direitos não são absolutos e, mais do que isso, não são exatamente só deveres, mas, principalmente, são direitos.

O artigo 5º, por exemplo, não estabelece deveres de vida, liberdade e seguran- ça, mas sim, assegura o direito (não o dever) à vida, e não admite que o paciente seja obrigado a se submeter a tratamento.

O direito do paciente de não se submeter ao tratamento ou de interrompê-lo é conseqüência da garantia constitucional de sua liberdade, de sua autonomia jurídica, da inviolabilidade de sua vida privada e de sua intimidade e, além disso, da dignidade da pessoa, erigida a fundamento da República Federativa do Brasil, no art. 1º da Cons- tituição Federal.

O inciso XXXV do art. 5º garante, inclusive, o direito de o paciente recorrer ao Judiciário para impedir qualquer intervenção ilícita em seu corpo contra sua vontade.

A inviolabilidade à segurança envolve a inviolabilidade à integridade física e mental e, sem dúvida, isso leva à proibição, por exemplo, de intervenções não admitidas pelo paciente em sua saúde física ou mental (ou mesmo na ausência de saúde completa).

O médico deve respeitar as crenças e os valores morais daquele que está sob

os seus cuidados, desde que aquela pessoa tenha pleno conhecimento da situação, sai-

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ba, livre de qualquer influência, aquilo que realmente quer e não venha a trazer prejuí- zo a outrem.

Se o enfermo está muito próximo da morte, é ainda mais necessário o respeito ao seu direito de autonomia, levando-se em consideração, inclusive que os doentes têm necessidade de externar seu desejo de morrer e de partilhar com alguém a emoção que neles provoca a aceitação desse desejo.

O sistema jurídico brasileiro é orientado por princípios fundamentais que ex- pressam os valores acolhidos pela sociedade. A presença destes valores é mais evidente para a população em geral nas situações que envolvem bens jurídicos de maior rele- vância, como a vida.

A eutanásia sempre foi considerada conduta ilícita no Direito brasileiro. É crime e, por isso, o consentimento do paciente para a prática da eutanásia ou a motiva- ção piedosa não retiram a ilicitude do ato, nem exoneram de culpa quem a pratica.

É necessário refletir sobre o grau de autonomia jurídica que a pessoa tem quanto ao processo de morte. Afastando-se a eutanásia (como idéia de facilitação da morte ou de supressão da vida), a idéia de morte digna permite à pessoa a autodeter- minação e o respeito aos últimos momentos de sua vida. O reconhecimento da auto- nomia nesses momentos é imprescindível para a garantia da dignidade da pessoa hu- mana.

Deve-se compreender que a dignidade da pessoa humana não é um conceito objetivo, absoluto, geral, possível de ser abstraído em padrões morais de conduta e de serem impostos a todas as pessoas.

Muito há a se discutir sobre a questão do “morrer com dignidade” e este pe- queno ensaio apenas a introduz. Nesse campo, há mais perguntas que respostas, quer a respeito do que se entende por “dignidade”, quer a respeito do próprio “processo do morrer”.

Qualquer que seja o caminho que se siga e se defenda, faz-se importante evitar a banalização do conceito de “dignidade humana”. Principalmente porque todos os se- res humanos possuem dignidade como algo inerente ao próprio ser.

A preocupação com o respeito à vontade individual de como encarar e passar

pelo processo inevitável, que é a morte, é assunto atual e personalíssimo, embora ao se

falar em vida e morte, esbarre-se sempre nos preceitos religiosos (a vida é um emprés-

timo que Deus faz ao ser humano) e jurídico (a vida, pertence, em análise, ao Estado),

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mas em momento algum se pode esquecer que a defesa da dignidade do ser humano está presente tantos nos preceitos religiosos quanto nos jurídicos.

Assim, discutir é descobrir quais direitos o ser humano tem em optar pela dignidade também na hora da morte e perpetuar o direito que este mesmo ser humano tem de exigir e lutar por dignidade durante toda a sua vida.

É necessário refletir sobre o grau de autonomia jurídica que a pessoa tem quanto ao processo de morte, principalmente porque eutanásia é um assunto complexo e nem todas as questões podem ser respondidas.

Longe de emitir opinião definitiva sobre o instituto em questão, as argumen- tações expostas objetivam conduzir à minuciosa análise, visando à possível tomada de posição, sendo certo que a discussão ainda está em seu início.

A cultura brasileira não é mais avançada do que aquelas que ainda não ousa- ram legalizar a eutanásia, por motivos diversos: desde incompatibilidades religiosas, até receios de utilização por motivos egoístas, com base em aproveitamento econômico (o que lucrar com a morte de alguém ou o que deixar de gastar, sem contar com o fato de se ver liberado de cuidar de alguém que “está à espera da morte”).

Assim, teme-se a legalização da eutanásia não porque o brasileiro seja, de cer- ta forma, conservador, mas também porque a eutanásia pode ser desvirtuada de seus fins em uma sociedade na qual dinheiro é sinônimo de poder.

Em Bioética, a eutanásia é um dos assuntos mais polêmicos, pois levanta difí- ceis questões morais e éticas. A dor e o sofrimento afligem cada vida humana e os traumas físicos, mentais emocionais são de caráter universal e inevitáveis.

Já é tempo de o ser humano conseguir se liberar da hipocrisia, dos paradoxos e dos preconceitos que estão em torno da questão da eutanásia que, em última análise, envolve a própria liberdade humana, o próprio direito de escolha da pessoa e o respei- to à sua dignidade.

No Brasil, é urgente que nossos legisladores se dediquem a este assunto, pois a sociedade não pode continuar sem a possibilidade de resolver sobre o processo de morte, em casos de prolongamento de agonia, e os médicos não podem continuar com a “espada da Justiça” sobre a cabeça.

Os pacientes terminais devem poder decidir sobre a hora, as condições e o lo-

cal de sua morte. Necessita-se de legislação nacional clara e objetiva sobre a matéria,

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considerando-se que se entenda a morte com dignidade como morrer com conforto fí- sico, emocional, psicológico e espiritual, acompanhado por profissionais de saúde competentes, em conjunção com familiares e, se possível, possibilitando àquele que es- tá se despedindo viver os seus últimos dias em casa, matéria sem dúvida para estudo polêmico e profundo, do qual se deseja que este ensaio seja o estopim.

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Selma Aparecida Cesarin

Mestranda em Bioética. Latu sensu em Lingüís- tica aplicada ao Estudo de Línguas (Universi- dade Metodista, 1989). Advogada. Graduação em Direito em 1999 e em Tradutor Intérpre- te/Letras em 1985. Vasta experiência em revi- são de textos, teses, dissertações e monografias, e em Metodologia Científica (ABNT). Atual- mente, professora de Direito Internacional, Ló- gica Jurídica, Linguagem Jurídica, Introdução ao Direito, Noções de Direito para empreende- dores, Ética, Metodologia Científica e Trabalho de Curso, Língua Portuguesa, Prática de Inglês;

Leitura e Produção de Texto - EAD; Filosofia e

Ética Profissional - EAD, na FAENAC - Facul-

dade Editora Nacional.

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Maria Estela Barbosa da Rocha Faculdade Atlântico Sul do Rio Grande mestela@vetorial.net

Julia Maria Barrios Nogueira Faculdade Atlântico Sul do Rio Grande julia.nogueira@unianhanguera.edu.br

HOTELARIA HOSPITALAR E A

HUMANIZAÇÃO: O OLHAR VAI ALÉM DO CORPO E SEUS AGRAVOS

RESUMO

O presente artigo tem por objetivo apresentar um trabalho reali- zado com os alunos da disciplina Gestão em Hotelaria do Curso de Tecnologia em Gestão Hospitalar da Faculdade Anhanguera Educacional - Rio Grande (RS). O trabalho foi desenvolvido por sete grupos que buscaram as narrativas de pacientes que interna- ram e utilizaram os serviços de hotelaria, buscando conhecer sua impressão sobre o sistema de atendimento. O “saber ouvir” era uma das propostas, e de uma forma geral os trabalhos ainda des- tacaram a preocupação central no corpo: este preponderou pontu- ando questões do tratamento e da doença ou o destino que este corpo tomou, a saída do hospital em recuperação ou a morte. Para entendermos estas questões se faz necessário um conhecimento de como foi historicamente constituído esse discurso centrado no corpo visível e sua anatomia, como esse “golpe de vista” foi dire- cionado e se apoderou dos corpos sem levar em conta os senti- mentos da pessoa doente, o bem estar no ambiente, o tratamento mais digno, a alteridade e a cidadania.

Palavras-Chave: Hotelaria hospitalar, humanização, cidadania, pesquisa

narrativa.

ABSTRACT

This article aims to present a work proceeded with students of the subject Management in Hotel Business of the Course of Technol- ogy in Hospital Management of the Faculdade Anhanguera Edu- cacional – Rio Grande (RS). The work was developed by seven groups which searched for statements of patients who were hospi- talized and used the services/facilities of hotel. It was sought to know their impression about the service system. “Knowing how to listen” was one of the proposals and, in a general sense, it was pointed out the main worry in the body: it prevailed stating issues in the treatment and in the illness or even the future that the body took, the leaving of the hospital either in recovery or because of death . In order to understand those issues it is necessary a kno- wledge of how this discourse was historically built, oriented on the visible body and its anatomy, how this glancing was leaded and took over of the bodies without taking into consideration the feelings of the sick person, the well-being in the environment, a more dignified treatment, the interaction and citizenship.

Keywords: Hospital service system, humanization, citizenship, state-

ment survey.

Anhanguera Educacional S.A.

Correspondência/Contato Alameda Maria Tereza, 2000 Valinhos, São Paulo CEP. 13.278-181

rc.ipade@unianhanguera.edu.br Coordenação

Instituto de Pesquisas Aplicadas e Desenvolvimento Educacional - IPADE Artigo Original

Recebido em: 18/8/2008 Avaliado em: 24/11/2008 Publicação: 19 de dezembro de 2008

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Hotelaria hospitalar e a humanização: o olhar vai além do corpo e seus agravos

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1. INTRODUÇÃO

A cada ano a ciência médica tem despontado como salvadora da humanidade de gran- des males que assolam os corpos. A doença sempre foi descrita na história de forma trágica ceifando grandes levas de indivíduos ou pessoas importantes são afetadas por algum mal orgânico que a levou à morte, seu afastamento das pessoas que ama e que o amavam. A humanidade vive um duplo nó, hora entende que a ciência médica pode salvar suas vidas para, em um determinado momento, verificar que a doença vence a ciência de forma implacável – como podemos verificar as questões que envolvem o HIV/Aids no Continente Africano – e, mais recentemente, a epidemia da dengue no Brasil. Nos tempos atuais o olhar do homem varre as mais diversas regiões do mundo, seja pela imagem da televisão ou através da Internet, e verifica por vezes espantado e hora sem assombro nenhum que corpos se encontram espalhados nas situações mais humilhantes possíveis, doentes e sem assistência, sejam eles homem, mulheres, idosos ou crianças.

O olhar do espectador se depara com os corpos na tela onde é produzida uma imagem da dor e do abandono, não muito diferente dos quadros do século XV, como o do pintor belga Peter Bruegel com o seu quadro Triunfo da Morte (Figura 1) – que mos- tra um mundo assolado pela peste que não poupava nem reis e rainhas.

Figura 1. Quadro "Triunfo da Morte".

Com tristeza verificamos que para muitos ainda se mantêm o total abandono

de seu bem estar, assistência à saúde e de um ambiente em que possa esse corpo, onde

ficam escritas todas as aventuras humanas marcadas pelas vivências, obter a cura ou

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Maria Estela Barbosa da Rocha, Julia Maria Barrios Nogueira

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morrer com dignidade; todas estas situações destroem quase que toda, se não grande parte da capacidade de olhar-se a si própria como pessoa de direito e que pode receber uma atenção mais respeitosa, mais humanizada.

Esse olhar o corpo, a visibilidade do corpo, foi construído historicamente atra- vés do conhecimento desenvolvido pelo médico. No século XIV a medicina, por tantos impedimentos como a proibição da dissecação de cadáveres em nome da “dignidade humana”, era estabelecida pelo Papa Bonifácio I (Século XIV) fizeram da anatomia uma aventura que poderia custar a vida de quem a realizasse.

Figura 2. Rembrandt - Aula de Anatomia do Dr. Deyman (1656).

No entanto, de forma furtiva os estudos transcorriam e ocorrem inclusive re- gistros de casos de vivissecação de condenados à morte: era o poder do saber sobre o corpo vivo. Esse conhecimento da anatomia humana era, na realidade, o olhar em bus- ca das estruturas que compunham o corpo, bem como os “males” que o assolavam e assim o indivíduo é dessecado em partes. O “doente” é olhado não no seu todo bio- psico-social, o olhar que paira é sobre partes do corpo e assim se perpetua, na maioria das vezes, até os tempos atuais. Foucault, no seu livro Nascimento da Clínica (2006, p. 2), argumenta que o corpo no século XIX foi esquadrinhado e que a configuração da doen- ça e o espaço da configuração do mal foi privilégio da anatomia patológica. Segundo Foucault, este é o momento que marca a soberania do olhar, quando observa:

Época que marca a soberania do olhar, visto que no mesmo campo perceptivo, seguindo as mesmas continuidades ou as mesmas falhas, a experiência lê, de uma só vez, as lesões visíveis do organismo e a coerência das formas patológicas; o mal se articula exatamente com o corpo e sua distribuição lógica se faz, desde o começo, por massas anatômicas. O “golpe de vista” precisa apenas exercer sobre a verdade, que ele descobre no lugar onde ela se encontra, um poder que, de ple- no direito, ele detém. (2006, p. 2)

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Hotelaria hospitalar e a humanização: o olhar vai além do corpo e seus agravos

Anuário da Produção Acadêmica Docente • Vol. XII, Nº. 2, Ano 2008 • p. 25-38 28

Detentor do conhecimento legítimo, o médico exerce esse saber sobre as mais diversas classes; no entanto, as pessoas mais humildes historicamente sem o reconhe- cimento de seus direitos, ainda se mostram constrangidas de dizerem muito mais do que as dores da própria doença. Para estes pacientes realizarem solicitações ou ponde- rar sobre momentos vividos no ambiente hospitalar que o afetam e estão ligadas dire- tamente à convivência e às rotinas do ambiente em que está sendo tratado, ou falar seus sentimentos no que concerne ao momento em que se encontra, se torna muito di- fícil – pois teme que algo possa dar “errado” porque o seu bem mais precioso está em risco: a vida.

Para as classes populares, por vezes, tudo é muito estranho como afirma Bol- tanski:

Estranho ao “universo da experiência” e regido por uma outra lógica cujas regras se ignoram, o mundo da doença e da medicina é para os membros das classes populares “um universo onde, por essência, tudo é possível”, e que em vão dese- jar-se-ia submeter a uma crítica exigente [...]. (2004, p. 29)

O paciente olha para a mazela de seu corpo e relembra o discurso realizado pelo médico sobre o mesmo, mas sem entender muito bem o que significam tantas pa- lavras sobre o que está afetando o seu bem estar e verificar que outros especialistas se apoderam desse mal e o observam através de imagens e de papéis que descrevem o que está acontecendo com o seu sangue; e no silêncio, o paciente observa os especialis- tas e o especialista observa, por vezes, somente as imagens e os resultados dos exames.

Isso tudo afeta o paciente que pode não entender o que ocorre com seu corpo de forma clara, mas entende o que é solidão, dúvidas, ansiedade, medo, receio, e outros tantos sentimentos que afloram nesse momento que podem terminar em uma resistência ao atendimento médico.

Para Boltanski,

Se os doentes das classes populares se sentem pouco inclinados a se confiar ao médico, é em primeiro lugar porque não possuem o equipamento lingüístico e, mais particularmente, o vocabulário da introspecção e a linguagem das emoções que lhe seria necessária para abrir-se ao médico sobre seus problemas e preocu- pações mais íntimos. (2004, p. 47)

O lidar com a doença e o corpo é uma construção sócio-histórica que precisa

ser analisada de forma holística, ou seja, no seu todo; isso requer um compromisso das

instituições de saúde organizando, entre outros segmentos de trabalho, a Hotelaria

Hospitalar que tem em um de seus objetivos a humanização e o atendimento de quali-

dade que objetiva – através de uma equipe multidisciplinar – o atendimento do pacien-

te preconizando o respeito à sua individualidade.

Referências

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