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MORTALIDADE DE MAMÍFEROS POR ATROPELAMENTO NO EXTREMO- NORTE DA PLANÍCIE COSTEIRA DO RS.

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Academic year: 2021

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MORTALIDADE DE MAMÍFEROS POR ATROPELAMENTO NO EXTREMO- NORTE DA PLANÍCIE COSTEIRA DO RS.

Coelho, I. P.1 & Kindel, A.2 (1,2 – Laboratório de Ecologia de Populações e Comunidades, Departamento de Ecologia, UFRGS. 1- ipfeifercoelho@yahoo.com 2- andreask@ecologia.ufrgs.br)

Introdução

As estradas apresentam diversos efeitos sobre o ambiente, afetando ecossistemas terrestres e aquáticos através da mortalidade de organismos durante a construção e pela colisão com veículos, da mudança no comportamento de animais, de alterações físicas e químicas no ambiente, da dispersão de espécies exóticas, do uso e alteração de habitats adjacentes pelo homem e atuando como barreiras ou filtros, promovendo a fragmentação de hábitats e o isolamento de populações (Forman & Alexander, 1998; Trombulak & Frissell, 2000).

A partir da década de 1980, especialmente na Europa, EUA e Austrália, houve um grande acréscimo no estudo destes efeitos e na elaboração de medidas mitigadoras visando também a conservação da natureza e não apenas a segurança, eficiência e custo das estradas para o homem (Forman et al., 2003). No Brasil, esta abordagem é ainda mais recente e vem crescendo, principalmente com relação à mortalidade de fauna por atropelamento (Jácomo et al., 1996; Vieira, 1996; Fischer, 1997; Cândido-JR et al., 2002; Rodrigues et al., 2002;

Scoss, 2002).

Atualmente, a colisão com veículos já deve ter ultrapassado a caça como o principal fator antrópico responsável diretamente pela mortalidade de vertebrados terrestres (Forman &

Alexander, 1998) e, para algumas espécies, a taxa de mortalidade por atropelamento, em relação a tamanhos populacionais, é bastante alta (Forman, 2003). Diversas espécies de mamíferos, dos mais variados portes, são afetadas pelo atropelamento em estradas (Oxley et al., 1974; Ferreras et al., 1992; Drews, 1995; Vieira, 1996; Clarke et al., 1998; Brandt et al., 2001).

Este trabalho apresenta aspectos da mortalidade de mamíferos por atropelamento em duas rodovias no extremo-norte da planície costeira do RS, identificando as espécies afetadas, quantificando esta mortalidade e retratando sua distribuição temporal. Estas informações,

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associadas a padrões de distribuição espacial, podem ser relacionadas a fluxo e velocidade de veículos, aspectos da paisagem de entorno e traçado das rodovias (com análises específicas por táxons), servindo de base para a elaboração e condução de estratégias conservacionistas, como medidas mitigadoras e planejamento rodoviário.

Área de Estudo

O extremo-norte da planície costeira do RS situa-se entre o Oceano Atlântico e a Serra Geral (figura 1), que apresenta, na encosta, importantes remanescentes de Mata Atlântica stricto sensu. Apesar da intensa ocupação urbana próxima ao litoral e de atividades agropastoris no interior e junto à encosta da Serra Geral, a planície costeira ainda possui fragmentos de Mata Atlântica lato sensu (florestas de restinga arenosas e paludosas), áreas de banhados, campos, marismas e grandes lagoas costeiras. Na região, existem duas rodovias principais: a RS-389, mais próxima ao litoral, e a BR-101, junto à encosta da Serra Geral e margeando as principais lagoas costeiras. Em virtude do traçado sul-norte e da intensidade de tráfego, estas rodovias podem representar importantes barreiras e/ou filtros para o fluxo de fauna entre as manchas que compõem a paisagem regional.

Métodos

Entre agosto de 2002 e junho de 2003, os trechos da RS-389 e da BR-101 entre os municípios de Osório e Torres (95 e 100 km, respectivamente), foram percorridos mensalmente por dois observadores em um veículo a uma velocidade de até 60 km/h, sendo registrados os mamíferos silvestres encontrados atropelados e as coordenadas UTM de localização. Em cada amostragem, os animais foram retirados da rodovia, sendo eventualmente coletados para posterior identificação e/ou aproveitamento de material biológico.

Resultados e Discussão

Considerando as duas rodovias, foram percorridos 2145 km em 11 meses, sendo registrados 379 indivíduos de mamíferos atropelados e identificadas 19 espécies, 3 destas ameaçadas de extinção regional e/ou nacionalmente (tabela 1). Foi calculada uma taxa de 1,7 mamíferos atropelados a cada 10 km percorridos, valor próximo ao encontrado por

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Brandt et al. (2001) na região central do RS (1,4). Diferenças de amostragem e a não padronização na apresentação dos dados dificultam comparações com outros estudos.

Didelphis albiventris (uma espécie comum, de ampla distribuição e tolerante a ambientes antropizados) e Didelphis ni juntos somam 70,4 % do total de registros. Cândido-JR et al.

(2002) também registraram o gambá-de-orelha-branca como a espécie mais atropelada na BR-277 (PR). Cerdocyon thous e Procyon cancrivorus (carnívoros também comuns e de ampla distribuição, que podem usar as estradas como “corredores” ou para o forrageio) representam 6,8 e 5 % dos registros, respectivamente.

A média de atropelamentos por mês é de 9 indivíduos (s = 7,6) na RS-389 e de 25,4 (s = 9,8) na BR-101, diferença que se deve, provavelmente, ao maior fluxo de veículos na BR- 101 e à composição da paisagem. O gráfico 1 indica uma maior porcentagem de atropelamentos no verão/outono e esta sazonalidade na distribuição dos atropelamentos se mostra mais contrastante na RS-389, o que pode ser explicado por diferenças do fluxo de veículos entre as duas rodovias: na RS-389 é proibido o tráfego de caminhões e o fluxo de veículos é muito mais acentuado no verão (obs. pessoal), enquanto que na BR-101 o fluxo é alto e pouco variável ao longo do ano (DNIT, 2001). Também é observada uma sazonalidade na riqueza de espécies atropeladas, ocorrendo mais espécies nos meses de verão, principal época de reprodução e recrutamento (gráfico 2).

Os valores apresentados certamente representam subestimativas, pois muitos animais atropelados ficam apenas feridos (morrendo longe das rodovias), outros são jogados fora da rodovia pelo impacto, e as carcaças podem ter pouco tempo de duração. Resultados preliminares de um experimento indicam que 85% das carcaças de mamíferos permanecem menos de um mês (o intervalo de amostragem) nestas rodovias.

Referências Bibliográficas

Brandt, A. P.; Lamberts, A. H.; Trigo, T. C.; Hasenack, H. & Freitas, T. R. O. 2001.

Mamíferos atropelados na rodovia BR 290, entre Porto Alegre e Cachoeira do Sul, RS: associação espécie e hábitat. In: Resumos V Congresso de Ecologia do Brasil.

Porto Alegre, RS. p. 332.

Cândido-JR, J. F. et al. 2002. Animais atropelados na rodovia que margeia o Parque Nacional do Iguaçu, Paraná, Brasil, e seu aproveitamento para estudos da biologia da conservação. In: Anais do III Congresso Brasileiro de Unidades de Conservação.

Fortaleza, CE. P.553.

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Clarke, G. P.; White, P. C. L. & Harris, S. 1998. Effects of roads on badger Meles meles populations in south-west England. Biological Conservation 86: 117-124.

DNIT, Departamento Nacional de Infra-Estrutura de Transportes. 2001. Relatório do Volume Médio Diário Annual. Décima Coordenação Estadual, BR-101.

(http//www.dnit.gov.br)

Drews, C. 1995. Road kills of animals by public traffic in Mikumi National Park, Tanzania, with notes on baboon mortality. Afr. J. Ecol. 33: 89-100.

Fischer, W. A. 1997. Efeitos da BR-262 na mortalidade de vertebrados silvestres:

síntese naturalística para a conservação da região do Pantanal, MS. Dissertação de Mestrado. UFMS. Campo Grande, MS.

Ferreras, P.; Aldama, J. J.; Beltran, J. F. & Delibes, M. 1992. Rates and causes of mortality in a fragmented population of Iberian lynx Felis pardini Temminck, 1824. Biological Conservation 61: 197-202.

Forman, R. T. T. & Alexander, L. E. 1998. Roads and their major ecological effects.

Annu. Rev. Ecol. Syst. 29: 207-231.

Forman, R. T. T. et al. 2003. Road Ecology: science and solutions. Island Press, Washington, DC.

Jácomo, A. T. A.; Silveira, L. & Crawshaw, P. G. 1996. Impacto da rodovia estadual GO-341 sobre a fauna do Parque Nacional das Emas, Goiás. In: Resumos do 3

Congresso de Ecologia do Brasil. UnB, Brasília, DF. p. 174.

Oxley, D. J.; Fenton, M. B. & Carmody, G. R. 1974. The effects of roads on populations of small mamalls. Journal of Applied Ecology 11: 51-59.

Rodrigues, F. H. G.; Hass, A.; Rezende, L. M.; Pereira, C. S.; Figueiredo, C. F.; Leite, B. F.

& França, F. G. R. 2002. Impacto de Rodovias sobre a fauna da Estação Ecológica de Águas Emendadas, DF. In: Anais do III Congresso Brasileiro de Unidades de Conservação. Fortaleza, CE. p. 585.

Scoss, L. M. 2002. Impacto de estradas sobre mamíferos terrestres: o caso do Parque Estadual do Rio Doce, MG. Tese de Mestrado. Universidade de Viçosa, MG.

Trombulak, S. C. & Frissell, C. A. 2000. Review of Ecological Effects of Roads on Terrestrial and Aquatic Communities. Conservation Biology 14: 18-30.

Vieira, E. M. 1996. Highway mortality of mammals in central Brazil. Ciência e Cultura, vol. 48 (4).

Agradecimentos

A todos os colegas que ajudaram nas amostragens, em especial a Patrick Colombo, Graciela Horn, Sofia Zank e Marcelo Saraiva. A Jóse Luís Cordeiro, Tatiana Campos Trigo e Sérgio pelo auxílio na identificação dos animais. Aos funcionários do Camping Itapeva pela hospedagem e parceria. A Gesualda, Físico e Simpson pelo socorro na confecção deste pôster. Ao Centro de Ecologia e ao Laboratório de Geoprocessamento (UFRGS) pelo

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suporte de equipamentos. Ao Instituto de Biociências (UFRGS) pelo financiamento das saídas de campo.

Tabela 1. Lista das espécies de mamíferos atropeladas, número de registros e porcentagem de táxons, n (%), na RS-389 (95km) e na BR-101 (100km).

1 – Espécie citada na categoria vulnerável na Lista Nacional das Espécies da Fauna Brasileira Ameaçadas de Extinção (2003).

2 – Espécies citadas na categoria vulnerável na Lista das Espécies da Fauna Ameaçadas de Extinção no RS (2002).

Figura 1. Carta-imagem do extremo norte da planície costeira do RS (composição RGB das bandas 3,4 e 5, LANDSAT TM 7).

Figura 2. Mão-pelada (Procyon cancrivorus) atropelado na BR-101.

Gráfico 2. Riqueza de espécies de mamíferos atropelados em cada mês de amostragem.

Gráfico 1. Porcentagem do total de mamíferos atropelados em cada mês de amostragem.

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Ago Set Out Nov Dez Jan Fev Mar Abr Mai Jun 0

5 10 15

Meses BR-101

0 5 10 15 20

% do total de mamíferos atropelados

RS-389

0 5 10 15

20 Total

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Referências

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