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DISCIPLINAS COMPLEMENTARES Valério Mazzuoli Direitos Humanos Aula 1 ROTEIRO DE AULA

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DISCIPLINAS COMPLEMENTARES Valério Mazzuoli

Direitos Humanos Aula 1

ROTEIRO DE AULA

TEMA: Teoria geral dos direitos humanos

1- Conceito de direitos humanos

Direitos humanos

o Falar em direitos humanos é falar na proteção internacional que se assegura aos cidadãos de todo o planeta o Proteção realizada por meio de tratados ou convenções internacionais; ratificados pelos Estados, entrando em vigor em determinados contextos: podendo ser o contexto global (contexto da ONU); ou contextos regionais (como o sistema interamericano de direitos humanos)

o Direitos humanos é uma expressão intrinsecamente ligada ao direito internacional público o A proteção que o direito interno dispensa às pessoas é a proteção dos direitos fundamentais

o Direitos humanos estão em um patamar superior, enquanto os direitos fundamentais estão em um patamar inferior (patamar doméstico; patamar da jurisdição do Estado)

o Os direitos humanos provêm ou podem vir a provir especialmente de tratados internacionais (normas pactuadas pelos Estados e regido pelo direito dos tratados no direito internacional público):

▪ Tratados que são assinados, referendados, ratificados, promulgados e publicados pelos Estados e, portanto, possuem autonomia para serem aplicados no plano do direito interno

▪ Esses tratados podem versar das matérias mais variadas e, também, podem versar sobre direitos humanos

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o Essas normas internacionais de direitos humanos possuem uma aplicação nos Estados, a partir do momento em que os Estados aderem à essas normas:

▪ O Estado passa a ser parte desse instrumento de proteção, vinculando-se ao que o tratado exige no plano internacional

▪ O Estado se responsabiliza por aquilo que assume nas relações internacionais

▪ A infringência dessas normas acarreta a responsabilidade do Estado

▪ Em três entornos geográficos no mundo, Europa, América e África, o Estado é responsabilizado por um poder judiciário (no âmbito das Américas, pela Corte Interamericana de Direitos Humanos)

▪ Portanto, esses tratados se integram à ordem jurídica brasileira e geram a responsabilidade do Estado em caso de Violação

o Quem é a vítima da violação dos direitos humanos?

▪ O que interessa é o locos de violação (onde os direitos humanos foram violados) ou o que interessa é a nacionalidade do cidadão que teve seus direitos cerceados pelo Estado que descumpriu uma norma internacional que havia ratificado?

▪ ex. brasileiro que teve direito violado no Brasil: é pelo fato de ser brasileiro e ter o direito violado no Brasil que se pode levar o caso ao Sistema Interamericano; ou não interessa a nacionalidade da vítima?

▪ NÃO interessa a nacionalidade da vítima

▪ O que importa é o locos da violação

▪ É o locos da violação que atrai a responsabilidade do Estado

▪ Qualquer cidadão, independentemente da nacionalidade, se tiver seus direitos violados no Brasil, atrai a responsabilidade deste no sistema interamericano de direitos humanos

▪ ex. 2. Um brasileiro que teve seu direito violado na Europa atrairá a responsabilidade da jurisdição da Corte Europeia de Direitos Humanos

▪ ex.3. Brasileiro que tem seu direito violado na Guiana Francesa (considerada território ultramarino francês) atrairá a responsabilidade da França na jurisdição da Corte Europeia (já que o locos de violação é considerado francês)

▪ locos é onde o Estado tem jurisdição (abrangendo, inclusive, aeronave ou embarcação)

Diferença entre direitos humanos x direitos fundamentais x direito do homem

o Direitos do homem:

▪ Expressão que decorre do direito natural

▪ São direitos não escritos e, portanto, não inscritos, quer em normas internacionais quer em normas internas

▪ Direitos não positivados

▪ Direitos de cunho natural

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o Direitos fundamentais

▪ Quando, no evoluir do constitucionalismo, as constituições começaram a aparecer e incorporaram em seus textos os direitos e garantias das pessoas (lembre-se do art. 16 da Declaração Francesa do Direito do Homem e do Cidadão)1, esses direitos passaram a se denominar direitos fundamentais

▪ Direitos fundamentais são aqueles inscritos/positivados em instrumentos domésticos, especialmente no instrumento constituição

o Direitos humanos

▪ O direito internacional veio depois; muito depois da existência dos direitos fundamentais

▪ Todas as declarações/recomendações de direitos (como as da OIT), convenções, tratados, surgiram quando os Estados já possuíam suas constituições estabelecidas

▪ Esses Estados se reuniram, em âmbito internacional, e decidiram concluir normas internacionais de proteção

▪ Esses direitos fundamentais ascendem ao patamar internacional, deixando o domínio reservado dos Estados, e passam a se denominar direitos humanos (direito internacional dos direitos humanos

Amplitude dos direitos fundamentais na sua relação com os direitos humanos

o Qual âmbito é mais amplo?

▪ Mais amplo no sentido de restrição

▪ Quando e como esse direito pode ser restrito

▪ Se cabe restrição para determinada categoria de pessoas esse direito será menos amplo (âmbito de proteção menos amplo)

▪ Se esses direitos não encontram restrição ou proteção a menor para determinada categoria de pessoas, será mais amplo (âmbito maior de proteção; amplitude maior)

▪ Os direitos humanos são mais amplos que os direitos fundamentais

▪ São círculos concêntricos em que o círculo menor são os direitos fundamentais e o direito internacional é o círculo maior

▪ Primeira justificativa para essa afirmação - ex. de direito, que se fosse humano, não poderia ser restrito: direito de votar; trata-se de direito fundamental (está na Constituição – direitos políticos estão no título dos direitos fundamentais); brasileiro conscrito durante o serviço militar obrigatório é impedido constitucionalmente de votar;

estrangeiro é impedido constitucionalmente de votar; veja que se o direito de voto fosse um direito humano, o conscrito e o estrangeiro teriam que votar no Brasil

1 Art. 16.º A sociedade em que não esteja assegurada a garantia dos direitos nem estabelecida a separação dos poderes não tem Constituição.

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▪ Segunda justificativa: a constituição dividiu o que são direitos humanos e o que são direitos fundamentais; ar. 5º parágrafos 1º, 2º e 3º da CF/88; parágrafo primeiro trata dos direitos fundamentais; parágrafo segundo trata dos direitos humanos e fundamentais; parágrafo terceiro trata dos direitos humanos

2- Fundamento e conteúdo

Fundamento

o Direitos humanos se fundam naquele valor fonte, que toda pessoa possui, que é a sua dignidade intrínseca a todos os seres humanos

o art. 1º da Declaração Universal dos Direitos Humanos:2

▪ Lembre-se do contexto da elaboração dessa declaração

▪ Logo após o fim da Segunda Grande Guerra

▪ Segunda Guerra representou a ruptura para os direitos humanos e o pós Segunda Guerra deve representar a sua reconstrução

▪ Abrange os direitos mínimos de todo cidadão do planeta, divididos em dois grandes âmbitos: direitos políticos (discurso liberal da cidadania) e direitos econômicos, sociais e culturais (discurso social da cidadania), sendo ambos interdependentes e inter-relacionados (um não sobrevive sem o outro de forma coerente)

▪ Desde o nascimento as pessoas são livres e iguais em direito e dignidade

▪ Essa igualdade é o valor fonte do direito internacional

o Desmembrando esse núcleo fonte do direito, encontram-se três premissas básicas:

i) dignidade da pessoa humana (valor fonte)

ii) autonomia da pessoa (toda pessoa é autônoma, do ponto de vista jurídico, para gerir sua vida da maneira que melhor lhe aprouver)

- Essa autonomia deve ser respeitada pelos Estados, sob pena de responsabilidade internacional

ii) inviolabilidade da pessoa

- A pessoa é inviolável dentro de seu caráter de ser humano mundo

- É inviolável dentro desse valor fonte de viver com dignidade e com autonomia; viver sem uma ingerência indevida

o Ao lado do fundamento, há o conteúdo dos direitos humanos

2 Artigo 1°Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e em direitos. Dotados de razão e de consciência, devem agir uns para com os outros em espírito de fraternidade.

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Conteúdo

o Acaba juntando esses pontos em um conteúdo indivisível

o É indivisível pois esses direitos não se quebram/sucedem uns aos outros, mas fazem parte de um núcleo só. Isso quebra a teoria geracional de proteção dos direitos

o obs. veja que houve essas gerações no constitucionalismo, já que os direitos humanos começaram a ser implementados nos textos constitucionais como direitos civis e políticos, foram se desenvolvendo como direitos econômicos, sociais e culturais e chegaram ao seu ápice como direitos de grupos e coletividades

o Isso ocorreu no plano constitucional, mas não no plano internacional

o Em 1919, ao surgir a instituição que hoje se tornou a OIT, já se falava em direitos sociais através de suas convenções/recomendações (que são catalogados como segunda geração)

o A primeira geração, no âmbito internacional, só surge em 1966

o Por isso se fala que a teoria das gerações não se aplica ao plano internacional

o Direitos não se sucedem em gerações, mas se acumulam e fortalecem ao longo do tempo o Portanto, são indivisíveis

o Essa sucessão em geração gera o entendimento de que sempre irá proteger a primeira, ficando a segunda em segundo plano, a terceira em terceiro plano e assim sucessivamente; gerando deficiências nas proteções

o Diante disse, considera-se a indivisibilidade, sendo que os direitos de liberdade não sobrevivem sem os direitos igualdade e os direitos de igualdade não sobrevivem sem os direitos da liberdade

3- Características do direito internacional dos direitos humanos

a) historicidade

o Direitos humanos são históricos o Desenvolvem-se através da história

o Fatos históricos ocorrendo para que os Estados possam mudar sua mentalidade e alterar sua legislação, transformando-a em uma legislação internacional de proteção

▪ Tanto através de tratados internacionais

▪ Quanto através da legislação doméstica interna

o Trata-se de conquista histórica (passo a passo)

o Veja os exemplos dos direitos ambiental, do consumidor, criança e adolescente, mulher, são direitos relativamente novos

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b) universalidade

o Direitos humanos são universais para o universo das pessoas

o Não fazem acepção às pessoas (classe social; cor; identidade política; identidade sexual; dentre outras características que não são interessantes para o âmbito da proteção) (podem ter interesse para um Estado opressor, que utilizará essas características para reprimir pessoas)

o Todos têm o mesmo valor fonte do direito (dignidade) o Dignidade é única e uma

c) essencialidade

o Direitos humanos são essenciais

o Pertencem à essência de cada indivíduo e não podem ser sobrestados pelos Estados, organizações ou pelos próprios particulares (em relação uns aos outros)

o Eficácia horizontal e vertical dos direitos humanos

d) irrenunciabilidade

o Direitos humanos são irrenunciáveis

o Mesmo a autorização do titular não pode justificar sua violação o Atente-se para não confundir com a imprescritibilidade

▪ São imprescritíveis enquanto valor

▪ Não significa dizer que, dentro do processo formal de processamento de responsabilidade internacional do Estado para cumprimento e respeito das normas de direitos humanos, não existam prazos

▪ Há prazo para seu exercício

▪ São imprescritíveis do ponto de vista de sua substancialidade (e não quanto à forma)

e) inalienabilidade

o Direitos humanos são inalienáveis

o Não se pode ceder o direito humano nem onerosa nem gratuitamente o é intrínseco da pessoa

o Reconhecida no contexto global e regional

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f) inexauribilidade

o Direitos humanos são inesgotáveis

o art. 5º, §2º da CF/883 aponta essa característica (“direitos e garantias fundamentais não EXCLUEM”) – se não excluem, então incluem

▪ obs. ser parte é ratificar um tratado em vigor

▪ Esse parágrafo é uma cláusula aberta (incorpora direitos implícitos e expressos nos tratados internacionais de proteção dos direitos humanos)

g) imprescritibilidade

o Direitos humanos são imprescritíveis

o Do ponto de vista substancial (enquanto núcleo essencial)

o Pode-se reclamar em qualquer tempo, desde que respeitado a forma

h) vedação do retrocesso

o é vedado retroceder em matéria de direitos humanos o Proibição de regresso ou “efeito clicket”

o Direitos humanos somente vão além

o Se há um direito previsto hoje, outra norma somente poderá ampliar

o Uma norma que retroceda é inconvencional pois viola a proteção convencional dos direitos humanos

4- Interpretação conforme os direitos humanos

obs. toda norma deve ser interpretada conforme a constituição:

o Com essa teoria, muitas vezes não precisa revogar uma norma, apenas reduzindo o texto dela e interpretando-a conforme a constituição

o ex. lei 6.815/80 trazia norma, em caso de expulsão, que o ministro da justiça decretava prisão do estrangeiro (ou seja, autoridade não judiciária atuando nessa seara); após de 1988 a prisão somente ocorre com ordem escrita de autoridade judiciária competente

3 § 2º Os direitos e garantias expressos nesta Constituição não excluem outros decorrentes do regime e dos princípios por ela adotados, ou dos tratados internacionais em que a República Federativa do Brasil seja parte.

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Não se revoga uma norma interna apenas por ter disposição contrária à norma de direito internacional

o Realiza-se uma compatibilidade dessa norma interna com uma norma internacional o Inclusive através do controle de convencionalidade

o Do ponto de vista jurídico e do ponto de vista do direito internacional público de proteção dos direitos humanos, todas as normas internas e internacionais comuns devem ser interpretadas de acordo com as normas de proteção dos direitos humanos

o Observe que nem toda norma internacional são normas de proteção dos direitos humanos (há dois tipos de tratados: tratados comuns e tratados de proteção dos direitos humanos)

o ex. de interpretação conforme: proteção das minorias e vulneráveis; a Pessoa com Deficiência (o tratado trata da proteção das Pessoas COM deficiência) – utilização da terminologia correta; a Constituição Brasileira, em 1988, ainda não tinha essa terminologia clara, utilizando o termo “pessoa PORTADORA de deficiência”; A ONU diz que o termo é

“Pessoa COM deficiência”; por isso se realiza uma interpretação conforme na CF/88 e na legislação brasileira, devendo interpretar sempre com o termo “pessoa com deficiência”

Critérios para a interpretação conforme

o a) somente existe a interpretação conforme se o núcleo protetivo do tratado de direitos humanos for um núcleo mais benéfico ao cidadão do que aquele previsto na legislação doméstica

▪ Princípio pro homine; pro personae

▪ Os tratados de direitos humanos não seguem a lógica Westfaliana dos tratados internacionais clássicos (Art. 27 da Convenção de Viena)4

▪ Os tratados de direitos humanos sempre possuem uma cláusula que diz que nada prejudica a aplicação de outras normas mais benéficas do que a de determinado tratado

▪ Trata-se de cláusula de retroalimentação do princípio pro homine

▪ Norma mais favorável à pessoa

▪ Nenhuma interpretação conforme autoriza a aplicação de uma norma internacional menos benéfica/protetiva

o b) deve-se seguir os que os tribunais regionais estão falando em termos de interpretação dos tratados

▪ Se houver jurisprudência internacional, a regra é que se deve seguir essa jurisprudência de proteção dos direitos humanos

▪ Ainda que o julgado não diga respeito ao Brasil

4 art. 27 Uma parte não pode invocar as disposições de seu direito interno para justificar o inadimplemento de um tratado. Esta regra não prejudica o artigo 46.

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▪ No plano dos direitos humanos, quando há condenação em âmbito internacional, faz-se coisa julgada para o Estado. Porém, a eficácia da sentença internacional de direitos humanos para terceiros (que do ponto de vista do direito internacional clássico seria zero) vale à título de “res interpretata” - (não de coisa julgada)

▪ Observe, portanto, que para o réu da ação de responsabilização por violação de direitos humanos a sentença faz coisa julgada (“res judicata”); já para terceiros (para os outros Estados partes do sistema regional) tem efeitos de

“res interpretata” (vale como coisa interpretada)

▪ Os tribunais locais devem aplicar essa jurisprudência

▪ A jurisprudência dos tribunais internacionais de direitos humanos são jurisprudência global (não são jurisprudência restrita para determinado Estado)

5- Responsabilidade internacional do Estado

No plano dos instrumentos regionais não é possível responsabilizar o indivíduo pessoalmente:

o Não existe, no plano regional, responsabilização direta dos indivíduos que perpetraram violação aos direitos humanos

Somente no plano global da ONU, perante o TPI, haverá responsabilização do indivíduo:

o Somente em caso de crimes previstos no Estatuto de Roma (ex. genocídio; crime contra a paz; crime de guerra;

crime contra a humanidade e agressão)

o Nesses casos poderá haver responsabilização de pessoa física (Ex. chefe de Estado que autorizou genocídio) o obs. fala-se, aqui, em tribunais permanentes (a ONU também trabalha com tribunais “ad hoc”; tribunais como de Nuremberg, tribunal penal internacional para a ex Iugoslávia; tribunal penal internacional para Ruanda 93/94;)

Veja que se fala em réus (indivíduos que vão direto à corte como réus)

o Como autores, os indivíduos podem ir até as cortes regionais

o No caso do Sistema Regional Interamericano, irá representado pela Comissão Interamericana de Direitos Humanos – como substituto processual (em nome próprio defende interesse de terceiro)

o obs. Diferentemente do Sistema Europeu que o indivíduo pode ingressar diretamente o O Estado é sempre o réu/demandado

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Os Tribunais Regionais não são tribunais penais:

o Não reveem penas o São tribunais cíveis

Portanto, responsabiliza-se o Estado:

o Levando a causa do Estado para a jurisdição internacional o Leva-se o problema interno ao âmbito internacional

Primeiramente, tenta-se, no âmbito interno, lograr êxito na demanda contra o Estado:

o Qualquer cidadão pode processar o Estado

o Sentindo-se prejudicado por violação de alguma norma que foi descumprida por esses entes que compõem o Estado (União, Estados, DF, Municípios, por exemplo)

o Esgotados os recursos internos é que se abrem as “portas” da jurisdição internacional

No âmbito regional interamericano, deve-se passar pelo crivo da Comissão Interamericana de Direitos humanos:

o Recebe-se a denúncia do cidadão

o Dá processamento a essa queixa do cidadão

o Chamará o Estado para tentar uma solução amigável

o apenas não existindo resposta ou solução amigável pelo Estado, sendo este parte da Convenção Americana de Direitos Humanos e se já tiver aceitado a competência contenciosa da Corte Interamericana de Direitos Humanos5, a Comissão demandará o Estado perante a Corte Interamericana

o obs. Portanto, no âmbito do Brasil, salvo se o caso não se protraiu no tempo, somente poderá ser demandando a partir do dia em que aceitou a competência contenciosa

o Se a Comissão disser que o caso não será passível de submissão para a Corte, não há recurso contra a decisão denegatória (é soberana)

o Enviando o caso para a Corte, será processo civil internacional (ação de responsabilidade contra o Estado, perante a Corte)

o A Corte chamará o Estado para uma audiência pública

5 Observe que ao ratificar a Convenção, o Estado não é obrigado a aceitar a competência contenciosa.

Há duas competências: consultiva e contenciosa. Ingressa-se diretamente na consultiva, mas não na contenciosa Convenção Americana de Direitos Humanos é de 1969

Brasil ratificou a Convenção em 1992 (Governo Fernando Collor)

De 1992 a 1998 o Brasil aceitou apenas a competência consultiva (não controlando a convencionalidade, apenas aferindo) Aceitou a competência contenciosa em 1998 (DL 99/98) (obs. a competência contenciosa controla a convencionalidade)

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o O representante do Estado irá alegar os motivos; bem como o representante das vítimas se manifestará o A Corte emite uma sentença que é irrecorrível

o A sentença vale como título executivo para execução no país

o Lembre-se que a doutrina majoritária defende que a Convenção Americana possui nível constitucional (o STF entende ser supralegal e infraconstitucional)

6- Sistema internacional de proteção dos direitos humanos

obs. a proteção dos direitos humanos é sistêmica:

o Há um sistema internacional de proteção

▪ é plúrimo

▪ Há vários tipos de sistemas dentro do grande sistema internacional de proteção

o Há, também, um sistema interno de proteção

▪ Sistema nacional de proteção dos direitos fundamentais

▪ é uno

▪ não há um subsistema de proteção nacional

o O sistema internacional é dividido em sistema global de proteção e sistemas regionais de proteção:

▪ Sistema global: sistema da ONU

▪ Sistemas regionais: Sistema Europeu (1950); Sistema Interamericano (1969); Sistema Africano (1980) - (há projeções do sistema asiático e do sistema árabe, que ainda não existem, estão começando a serem abordados, não podendo falar, sequer, em sistema)

o Outra divisão é a dos instrumentos gerais/genéricos de proteção e instrumentos específicos de proteção (grupos vulneráveis por exemplo)

6.1 – Sistema da ONU (“Onusiano”)

o Inicia com a Declaração Universal dos direitos humanos em 1948 e chega a sua maturidade nos pactos de 1966 (Pacto internacional de direitos civis e político e Pacto internacional de direitos econômicos, sociais e culturais) o Trata-se do plano global

o obs. a Carta Internacional de Direitos Humanos é o sistema completo: a junção da Carta das Nações Unidas + Declaração de 1948 + os dois Pactos de Nova York 1966

o Três precedentes do sistema global de proteção dos direitos humanos:

▪ i) Direito Humanitário

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▪ ii) Liga das Nações (Sociedade das Nações; obs. instituição que antecedeu a ONU)

▪ iii) Organização Internacional do Trabalho

o i) Direito humanitário:

▪ Direito da guerra (não direito à guerra)

▪ Até na guerra há princípios mínimos éticos que devem ser respeitados nas relações internacionais

▪ ex. não causar qualquer violação à direitos de militares postos fora de combate, náufragos, feridos, mulheres, crianças, prisioneiros, dentre outros exemplos

▪ Não existe direito de fazer guerra (é ilícito o uso de forças armadas nas relações internacionais)

▪ Existe direito da guerra ou direito na guerra

▪ Os Estados perceberam que há direitos acima de seu domínio reservado; de sua jurisdição; de sua soberania

▪ Direito humanitário é espécie de direito humano

▪ Convenções de Genebra sobre direito humanitário

▪ Comitê Internacional da Cruz Vermelha tem grande relevância nessa seara

o ii) Liga das Nações

▪ Instituição antecessora da ONU

▪ Teve papel fundamental de mostrar que os Estados aceitaram a tese segundo a qual há princípios que devem ser seguidos para além de sua soberania interna

▪ Buscava impedir a eclosão de um segundo conflito armado internacional (acabou por ocorrer: Segunda Guerra)

▪ Sua tentativa de proteção é considerada como o segundo grande precedente do processo de internacionalização dos direitos humanos

o iii) OIT

▪ Em ambos os precedentes acima não se conseguia visualizar quem era o sujeito protegido, já que em caso de guerra abrangia todas as pessoas do planeta aos quais os Estados deviam respeitar/proteger

▪ No caso da OIT, tratam-se de categorias de trabalhadores (torna-se visualizável o sujeito de proteção de direitos;

trabalhador das minas de carvão; trabalhador infantil; trabalhadora gestante; dentre outros exemplos)

▪ Desde 1919 o catálogo de normas passou a ser ampliado pelas Convenções da OIT (ampliou-se o catálogo de normas internas)

▪ Com isso, passou-se a limitar a soberania em prol da proteção dos direitos humanos

o Não há, dentro dessa estrutura “Onusiana”, um tribunal internacional de direitos humanos:

▪ obs. há o TPI, entretanto se trata de tribunal penal (pune o Chefe de Estado, por exemplo) e que não gera indenização para o cidadão em caso de violação de seus direitos pelo Estado (como ocorre no âmbito regional) - Atente-se que somente há um tribunal penal no mundo e é global; não há tribunal penal regional

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▪ Não há tribunal geral de proteção dos direitos humanos na ONU - há tribunais regionais de direitos humanos nos sistemas regionais

▪ Existe um Tribunal para Estados, que resolve contendas entre Estados que aceitam sua jurisdição:

- A priori, não foi um tribunal feito para tratar de assuntos de direitos humanos entre dois estados - Foi feito para tratar de assuntos alheios a essa temática

- Trata-se da Corte Internacional de Justiça – Tribunal de Haia

- Exemplo: Questões de fronteira previstas em tratados e violadas por um Estado

▪ Atente-se que cada vez mais a Corte Internacional de Justiça tem se manifestado e julgado com base em tratados de direitos humanos:

- Já houve caso julgando com base na Convenção de Prevenção e Repressão do Crime de Genocídio

- Já houve outros casos que a Corte aplicou outros tratados de direitos humanos nas contendas entre Estados - Veja que são sempre contendas entre Estados (cidadão pode até ser protegido indiretamente)

- ex. Casso Ferrini: italiano que dizia ter sofrido violação de direitos humanos da Alemanha na Segunda Guerra; veja que a Alemanha não pode ser demandada na Itália; a Alta Corte Italiana entendeu que a imunidade é limitada no âmbito dos direitos humanos, penhorando/arrestando bens da Alemanha na Itália para pagar indenização ao cidadão; a Alemanha processou a Itália na CIJ; A CIJ não concordou com a tese italiana (com exceção de Cançado Trindade)

- obs. os Estados possuem imunidade à jurisdição penal em território de outrem; imunidade em questões que não envolvam mera administração

- obs. A CIJ não aceitou a tese segundo a qual a imunidade de jurisdição de um Estado pode ser mitigada quando envolver questões relativas à direitos humanos. Ainda assim, não afasta o fato de que a CIJ vem julgando com base em tratados de direitos humanos

▪ Diante dessa ausência de um tribunal de direitos humanos no âmbito da ONU, não há sentenças que condenem os Estados em indenizações nessa seara

- Nesse âmbito, os comitês de direitos humanos da ONU emitem recomendações para os Estados e - Os comitês de tratados “condenam” os Estados

- Atente-se que se os Estados não quiserem cumprir com essa recomendação, não há maiores externalidades

o Carta das Nações Unidas

▪ Carta mundial para gerir a atuação dos Estados entre si

▪ Destaque para art. 55, C: “Com o fim de criar condições de estabilidade e bem-estar, necessárias às relações pacíficas e amistosas entre as Nações, baseadas no respeito ao princípio da igualdade de direitos e da autodeterminação dos povos, as Nações Unidas favorecerão: a. níveis mais altos de vida, trabalho efetivo e

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condições de progresso e desenvolvimento econômico e social; b. a solução dos problemas internacionais econômicos, sociais, sanitários e conexos; a cooperação internacional, de caráter cultural e educacional; e c. o respeito universal e efetivo raça, sexo, língua ou religião.”

▪ Um dos propósitos das Nações Unidas é a proteção dos direitos humanos

▪ Firmado o princípio segundo o qual a ONU, além de ser uma instância de diplomacia multilateral (diálogo multilateral entre representações diplomáticas dos Estados), também é uma instância para se debater direitos humanos

▪ Há, na estrutura da ONU, o Conselho Econômico e Social com dois órgãos: Comissão de Direito Internacional e a Comissão de Direitos Humanos

▪ Comissão de Direito Internacional foi responsável por concluir diversos tratados no âmbito do direito internacional público (como a Convenção de Viena)

▪ A Comissão de Direitos humanos passou a se chamar Conselho de Direito Humanos, desligando-se do Conselho Econômico e Social, passando a se vincular diretamente com a Assembleia Geral da ONU (não confunda com os comitês – são os dos pactos)

▪ Portanto, a ONU, desde o começo cuida de direitos humanos (além da diplomacia multilateral)

▪ Entretanto, não há, em qualquer dispositivo da Carta, a menção de quais são esses direitos humanos protegidos (veja que é apenas positivando que se consegue lograr reclamar)

▪ Para vindicar direitos a necessidade anterior é necessária a positivação (somente se reclama o que se conhece)

▪ Por essa razão, em 1948, surge a Declaração Universal dos Direitos Humanos

o Declaração Universal dos Direitos Humanos

▪ Comissão que se reuniu em 1945, sob os auspícios de Rene Cassan em Paris, para a formulação da Declaração, sendo que em 10 de dezembro de 1948 foi proclamada

▪ Possui 30 artigos e um preâmbulo com 7 considerandos, sendo o instrumento que dá o patamar mínimo dos direitos humanos no mundo

▪ Surge para colmatar a lacuna da Carta da ONU que não disse quais os direitos humanos que deviam ser protegidos

▪ Trata-se de uma norma de jus cogens (respeitando os art. 53 e 54 da Convenção de Viena6; as normas de jus cogens são normas acima de qualquer outra e são inderrogáveis pela vontade dos Estados; somente podem ser modificadas por outras normas de jus cogens da mesma natureza)

6 art. 53: É nulo um tratado que, no momento de sua conclusão, conflite com uma norma imperativa de Direito Internacional geral.

Para os fins da presente Convenção, uma norma imperativa de Direito Internacional geral é uma norma aceita e reconhecida pela comunidade internacional dos Estados como um todo, como norma da qual nenhuma derrogação é permitida e que só pode ser modificada por norma ulterior de Direito Internacional geral da mesma natureza.

art. 54: A extinção de um tratado ou a retirada de uma das partes pode ter lugar:

a)de conformidade com as disposições do tratado; ou

b)a qualquer momento, pelo consentimento de todas as partes, após consulta com os outros Estados contratantes.

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▪ Traz um conteúdo material para a Carta da ONU, ao elencar quais são os direitos humanos e liberdades fundamentais conhecidos

Natureza jurídica no plano formal: é uma resolução da ONU (adotada pela Assembleia Geral da ONU) – atente- se que não é tratado internacional (Estados não assinaram, foi imposta pela Assembleia Geral; em muitos países não houve aprovação do CN; não há o respeito o art. 84, VIII da CF/88; muitos países sequer a publicaram internamente – não passou por nenhuma das fases pelas quais passam os tratados internacionais)

Natureza jurídica no plano material: norma de jus cogens

Estrutura dúplice: possui duas partes

- obs. foi redigida antes da metade do século XX, por isso não se falava em proteção do meio ambiente – esse direito, de forma macro, foi efetivamente debatido apenas em Estocolmo em 1972

- obs. 2. Trata dos direitos da primeira dimensão, civis e políticos (discurso liberal da cidadania) unindo com o discurso social da cidadania – segunda dimensão- (Estado que intervém para proteger)

- Primeira parte: art. 1º ao 21 – discurso liberal da cidadania - Segunda parte: art. 22 ao 30 – discurso social da cidadania

- Portanto, trata de duas categorias de direitos: direitos civis e políticos e direitos econômicos, sociais e culturais

▪ Nessa estrutura, quebra-se a teoria das gerações, dizendo que os direitos não se sucedem em gerações, mas se fortificam, cumulam e fortalecem (não são divididos; são indivisíveis) – fortalecendo, ainda, o princípio da universalidade

▪ Direitos humanos são universais, indivisíveis, interdependentes e interrelacionados, devendo os Estados tratar esses direitos com a mesma ênfase e mesma proporcionalidade entre as pessoas

▪ Portanto, nota-se que a Declaração foi universalista, sem deixar de lado os particularismos culturais, regionais e históricas – ainda que particularidades regionais, culturais e históricas devam ser protegidas, os direitos humanos devem receber proteção ampla (devem ser protegidos para todos em detrimento dos Estados que o violam)

▪ Foi decidido pela ONU (consenso dos países) que o Universalismo cultural prevalece sobre o relativismo cultural (§5º da Declaração e Programa de Ação de Viena da 1993)

Referências

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