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REGISTRO DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO EDIFICADO DO PROJETO DO RIO URUSSANGA: PERSPECTIVAS EM PRESERVAÇÃO

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Academic year: 2021

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REGISTRO DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO EDIFICADO DO PROJETO DO RIO URUSSANGA: PERSPECTIVAS EM PRESERVAÇÃO

Richard Vieira Ronconi

1

Hérom Silva de Cézaro

2

Josiel dos Santos

2

Ricardo Rosa da Silva Martins

2

Lucy Cristina Ostetto

3

Carlos Paulo dos Passos Matias

4

Juliano Bitencourt Campos

5

RESUMO

As normas legais vigentes no país apontam para a necessidade e obrigatoriedade de estudos ambientais em áreas de empreendimentos potencialmente causadores de impactos negativos sobre os bens culturais da união. Desta forma, em atenção à Lei Federal no 3.924/61, que protege o Patrimônio Cultural Arqueológico Brasileiro, à Lei Federal no 9.605/98 de Crimes Ambientais e à Portaria do IPHAN nº 230/02, que dispõe sobre as Pesquisas Arqueológicas em áreas de empreendimentos potencialmente causadores de impactos negativos à base finita do Patrimônio Arqueológico, no âmbito do Patrimônio Histórico-arqueológico, este trabalho objetiva ampliar o conhecimento acerca do processo ocupacional da região por populações do passado em caráter histórico, identificando, por meio de levantamento exaustivo e sistemático, as edificações de interesse histórico-cultural em toda a extensão da área de pesquisa do Programa de Arqueologia Preventiva para os Trabalhos de Desassoreamento do Rio Urussanga

1 Graduando do curso de História Licenciatura e Bacharelado da Universidade do Extremo Sul Catarinense – UNESC. Setor de Arqueologia da Universidade do Extremo Sul Catarinense – UNESC.

Pesquisador do Grupo de Pesquisa Arqueologia e Gestão Integrada do Território. E-mail:

richardronconi@unesc.net.

2 Graduandos do curso de História Licenciatura e Bacharelado da Universidade do Extremo Sul Catarinense – UNESC. Setor de Arqueologia da Universidade do Extremo Sul Catarinense – UNESC.

Pesquisadores do Grupo de Pesquisa Arqueologia e Gestão Integrada do Território.

3 Mestre em História pela Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC. Professora da Universidade do Extremo Sul Catarinense – UNESC. Coordenadora do Centro de Memória e Documentação da Unesc – CEDOC. Pesquisadora do Grupo de Pesquisa Arqueologia e Gestão Integrada do Território.

4 Doutorando em Quaternário, Materiais e Cultura, Universidade Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD), Mação, Portugal. Historiador do Setor de Arqueologia da Universidade do Extremo Sul Catarinense – UNESC. Pesquisador do Grupo de Pesquisa Arqueologia e Gestão Integrada do Território.

5 Doutorando em Quaternário, Materiais e Cultura, Universidade Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD), Mação, Portugal. Arqueólogo Coordenador do Setor de Arqueologia da Universidade do Extremo Sul Catarinense – UNESC, Criciúma, SC, Brasil. Professor do Curso de História da UNESC, na disciplina de Ensino e Pesquisa em Arqueologia. Pesquisador do Grupo de Pesquisa Arqueologia e Gestão Integrada de Território.

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– municípios de Urussanga, Pedras Grandes, Cocal do Sul, Treze de Maio, Morro da Fumaça, Sangão, Jaguaruna e Içara – Santa Catarina.

Palavras-chave: Patrimônio Edificado. Memória. Rio Urussanga.

ABSTRACT

The legal norms in the country point to the need and requirement of environmental studies in areas ventures potentially causing negative impacts on the cultural union. Thus, in response to the Federal Law 3.924/61, which protects the Archaeological Heritage Brazilian Federal Law 9.605/98 on Environmental Crimes and IPHAN Ordinance No. 230/02, which provides for Archaeological Research in the areas of developments potentially cause negative impacts to the finite basis of archaeological Heritage, as part of the Historical-archaeological, this work aims to increase knowledge about the process of occupational populations by region in the past historical character, identifying, through systematic and exhaustive survey, buildings of historical and cultural interest to the fullest extent of the search area of the program for Preventive Archaeological work dredging of Rio Urussanga - Urussanga, Praia Grande, Cocal do Sul, Treze de Maio, Morro da Fumaça, Sangão, and Jaguaruna Içara - Santa Catarina.

Keywords: Historic Monuments. Memory. Rio Urussanga.

Introdução

A diversidade patrimonial vem sendo um tema de muitas discussões e pesquisas nos últimos anos, não só em âmbito regional como também nacional. Busca-se a clareza do que é e do que trata essa diversidade patrimonial com intuito de dar visibilidade aos lugares que servem como suporte à memória social. Defende-se que sua valorização e preservação são necessárias na medida em que concebemos estes lugares como âncoras à memória de determinado grupo pertencente à um tempo e à um espaço.

Desta forma, o reconhecimento da importância destes suportes de memória perpassa pela necessária relativização do meio social no qual estamos inseridos, a partir da conscientização de que outras formas de viver em sociedade são possíveis.

Falar do vínculo que une homens e mulheres à história da cidade é possibilitar que

a memória coletiva se transforme num apoio que garanta o registro das práticas culturais

de grupos sociais diversos. Os sujeitos, através de suas experiências, ao longo de

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diferentes temporalidades, transformam-se em guardiões da história da cidade e do patrimônio cultural local.

Neste sentido, o direito à memória também é uma forma de garantir às futuras gerações o acesso aos bens materiais e imateriais que representam seu passado, sua tradição e sua história. Por isso, quando se pretende preservar o patrimônio cultural de uma cidade, deve-se levar em consideração

não só [...] seu valor estético, arquitetônico ou histórico. Ele é preservado se tem significação para a comunidade em que está inserido e essa preservação possibilita a melhoria da qualidade de vida de seus moradores e contribui para a construção de sua identidade cultural e o exercício da cidadania.6

Assim, o levantamento de bens de interesse cultural e os esforços para a sua salvaguarda tornam-se relevante na medida em que contribuem para a preservação e o fortalecimento da memória e identidade social de determinada comunidade. Segundo Pelegrini,

[...] todos esses bens culturais apreendidos como “expressões da alma dos povos” conjugam as reminiscências e o sentido de pertencimento dos indivíduos, articulando-os à um ou mais grupos e lhes assegurando vínculos identitários.7

Levantamento das edificações materiais de interesse histórico e cultural

A preservação do Patrimônio está apoiada no artigo 216 da Constituição Federal, seção II DA CULTURA, que explicita constituir-se,

[...] Patrimônio cultural brasileiro os bens de natureza material e imaterial, tomados individualmente ou em conjunto, portadores de referência à identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira, nos quais se incluem:

I- as formas de expressão;

II- os modos de criar, fazer e viver;

III- as criações científicas, artísticas e tecnológicas;

IV- as obras, objetos, documentos e edificações e demais espaços destinados às manifestações artístico-culturais;

V- os conjuntos urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico, arqueológico, paleontológico, ecológico e científico. (BRASIL, 1988)

6 ORIÁ, Ricardo, Memória e ensino de História, 1997, p. 138.

7 PELEGRINI, Sandra C. A., Patrimônio Cultural: consciência e preservação, 2009, p 14.

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Tendo em vista estas ponderações e a crescente discussão que se tem em nível nacional, embasados na legislação federal, o setor de arqueologia da Universidade do Extremo Sul Catarinense - UNESC vem realizando, através de suas pesquisas em arqueologia preventiva, o levantamento e o mapeamento do patrimônio histórico edificado da região do sul do estado de Santa Catarina.

Dentro desta perspectiva insere-se o Relatório Final do “Programa de Arqueologia Preventiva para os Trabalhos de Desassoreamento do Rio Urussanga – municípios de Urussanga, Pedras Grandes, Cocal do Sul, Treze de Maio, Morro da Fumaça, Sangão, Jaguaruna e Içara – Santa Catarina”

8

, por meio do processo administrativo do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) nº 01510.001275/2011-34.

Conforme exigência do IPHAN, dentro dos projetos de arqueologia preventiva, faz-se necessário a produção de uma “Carta Ambiental Cultural”, onde foi realizada a localização, identificação e situação dos bens de interesse cultural que podem sofrer influência direta e indireta de um dado empreendimento (Figura 1).

Figura 1: Localização da área de estudo onde foram realizadas as atividades de mapeamento das edificações históricas. Fonte: IPAT/UNESC.

8 IPAT/UNESC, 2012.

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Num primeiro momento, procedeu-se à identificação da existência de bens de natureza material tombados nos municípios que comportam a região do projeto citado.

Assim, verificou-se que os municípios de Urussanga, Jaguaruna e Içara são os únicos que possuem tais tombamentos, a saber, 15, 1 e 5, respectivamente. Nos demais municípios não há registros de bens tombados.

O processo de pesquisa foi realizado a partir de levantamento bibliográfico e posterior saída de campo, momento este em que entrávamos em contato com os órgãos municipais responsáveis. Em seguida, com os dados obtidos dos órgãos oficiais, procedíamos à identificação destes bens, procurando conversar com os moradores do entorno, visando o levantamento de informações à respeito dos mesmos.

Deste modo, ao trabalharmos com o testemunho oral dos moradores, partimos da perspectiva na qual a memória será, segundo Halbwachs

9

, sempre social, pois quando o indivíduo fala, há uma identificação com o grupo do qual pertence. Assim, procuramos utilizar a memória como mais uma entre as fontes que contribuem para historicizar o patrimônio local. Logo, acontece uma valorização das lembranças dos indivíduos mais velhos, que poderão, assim, partilhar com outras gerações sua experiência.

Finalmente, após o levantamento destas informações e posterior preenchimento de uma ficha de pesquisa pré-elaborada, procedemos à obtenção da coordenada UTM do local, objetivando facilitar a sua localização.

Após fotografar – quando possível – as edificações consideradas de importância cultural e histórica para a região e para a história dos referidos municípios, passávamos à sua descrição, às quais seguem.

Desta maneira, o presente levantamento contribui para a elaboração e melhoramento de políticas públicas de preservação do Patrimônio Histórico dos municípios situados em ambos os leitos banhados por este rio e que poderão ser afetados pelas obras de desassoreamento do mesmo. Sendo assim optamos por apresentar a descrição das edificações de interesse histórico não protegidos por legislação específica.

9 Cf. BOSI, Ecléa. Halbwachs, ou a reconstrução do passado. In: Bosi, Ecléa, Memória e Sociedade:

lembrança de velhos, p. 15-29.

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MUNICÍPIO DE URUSSANGA

Casa Histórica de Villa e Casa de Pedra de Villa

As casas aparecem nas narrativas históricas como moradias que não foram danificadas com a enchente de 74. A Casa de Villa é hoje habitada por terceiros e teve como seu primeiro proprietário o senhor Júlio De Villa. Têm aproximadamente 90 anos.

Esta edificação não está totalmente intacta segundo sua construção original, sendo que o piso do imóvel encontra-se modificado. A Casa de Pedra, que segue a mesma ordem cronológica quanto aos seus donos, é utilizada atualmente como um ateliê de artesanato.

Tendo sua datação aproximada ao ano de 1862.

Figura 2: Vista frontal Casa de Pedra de Villa. Fonte: IPAT/UNESC, 2012.

Capelinha São Pedro

Acredita-se que é difícil um lugar no Brasil que não tenha em sua paisagem

pública uma edificação fazendo referência ao catolicismo. A em questão é uma dessas

heranças da fé colonial, que vem atrelada aos valores culturais até nossos dias. A

Capelinha São Pedro tem a idade de 60 anos. Na narrativa dos moradores, a história da

pequena capela é contada com detalhes de sua construção e reconstrução. Diz-se que a

primeira capela era de madeira e não estava no local que se encontra hoje, devido ao

fato de que o traçado da estrada que margeia a construção passava por um local

diferente. No entanto, quando o curso da estrada foi modificado a capela foi, então,

removida e “reconstruída” no local atual. A dita capela de madeira era da família

Belinca. Após o abandono da pequena capelinha, já de alvenaria, a imagem sacra que

fazia parte de seu altar foi doada para a Igreja São Pedro, e os objetos do seu interior

foram sendo levados sem autorização, ou perdidos.

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Igreja e Cemitério São Pedro

Quando se faz mapeamento de rotas comerciais, coloniais e outras manifestações humanas, é possível que se diga ou se indague, se não estaríamos também fazendo o registro arqueológico da rota da fé católica. Ao menos quando se trata de Brasil, temos a rápida impressão que a história das comunidades está quase que intimamente ligada à história da confissão de fé de boa parte de sua população. Logo, levantar o patrimônio cultural de leitos de rios e outros territórios, nos leva a registrar a presença de igrejas e monumentos ligados à tradição cristã. No inventário do leito do Rio Urussanga registramos na comunidade de São Pedro a Igreja que leva seu nome. O primeiro prédio foi construído pelos moradores. Aquele era de madeira e sua conclusão data do ano de 1900 (data que pode ser vista na fachada da frente da igreja). A igreja hoje

“reconstruída” em alvenaria continua imponente na comunidade, fazendo parte do patrimônio cultural, social e religioso do local. Na frente da igreja podemos ver um memorial para homenagear os primeiros colonizadores da região. Outro memorial festivo era o que homenageava os três primeiros professores daquela comunidade, mas que foi depredado e não se sabe o paradeiro.

Usual em algumas cidades brasileiras é o fato de o cemitério vir junto do prédio da igreja, geralmente nos fundos. Na Igreja de São Pedro, o modelo se repete. Também construído pela comunidade, o cemitério – aqui chamaremos de monumento – é uma parte visualmente “viva” do cotidiano da comunidade. O complexo mortuário, datado de 1915, mantém a estrutura original. A arquitetura geral do monumento nos provoca algumas inquietações. No centro do complexo vemos junto à cruz central, uma possível capela de velório. O referido local embora coberto, não possui paredes, sendo sustentado apenas por pilares. Forçosamente, quase nos lembra um coreto de praça.

Capela Mortuária São Pedro

A Capela Mortuária São Pedro é uma edificação que tem aproximadamente 120 anos. Pertenceu primeiramente à marinha do Brasil e à Estrada de Ferro Dona Teresa Cristina. A referida edificação mantém-se em sua forma original e em bom estado de conservação. Está localizada próximo à Sede do Clube de Mães e ao Posto de Saúde, na Estrada Geral São Pedro.

Construção Antiga – SC Genésio Mazon

Com sua fachada frontal “olhando” quem passa na SC-445, chama a atenção de

motoristas e pedestres por sua aparência de idade avançada, cerca de 70 anos. Segundo

informações orais o prédio já foi uma cooperativa, uma mercearia e uma sociedade

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recreativa. Serviu de entreposto de suprimentos, que, produzidos na região, eram distribuídos para outras regiões do Estado. Os produtos principais eram carne, banha e farinha. Histórias correntes na oralidade são alguns fatos sobre os acontecimentos ligados aos produtos. Alguns exemplos podem ser citados: caminhões de farinhas eram perdidos por ficarem expostos ao relento pegando chuva e outras intempéries sem o controle de lonas ou qualquer outro material de proteção; diz-se também que quando não eram efetuados os pagamentos, aceitava-se cachaça em troca.

MUNICÍPIO DE TREZE DE MAIO Capela São João de Urussanga Baixa

O município de Treze de Maio, de forte tradição religiosa cristã, é o local onde está localizada a Capela São João de Urussanga Baixa. A capela foi construída para suprir a prática religiosa dos moradores da comunidade. Tem aproximadamente 50 anos. Segundo a história oral a capelinha, como é chamada pelos moradores, faz parte do patrimônio religioso das pessoas, no entanto não exerce mais todo o fascínio de fé que exercia há décadas atrás. Este patrimônio, que já pertenceu a particulares, hoje pertence à comunidade.

Figura 3: Capela São João de Urussanga Baixa. Fonte: IPAT/UNESC, 2012.

Mercearia, Casa Antiga e Hospedagem – São João de Urussanga Baixa

A Mercearia da Estrada Geral São Pedro segue o modelo arquitetônico das

construções de seu entorno. A construção, que se aproxima de um século de vida,

conforme informações obtidas de forma oral, foi estadia dos tropeiros e depósitos de

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materiais. A posse do imóvel seguiu a tradição de pai para filho. Não teve muitas alterações em sua estrutura, no entanto foram rebocadas as paredes internas.

O patrimônio Hospedagem São João da Urussanga Baixa, como o próprio nome nos indica, serviu de hospedagem aos tropeiros e além de tudo levou a denominação de

“boteco” e “venda”. A ‘senhora’ construção data de aproximadamente 100 anos.

Centenária e bem conservada mantém a arquitetura original e sua posse vem passando de pai para filhos. Atualmente é utilizada como moradia.

MUNICÍPIO DE MORRO DA FUMAÇA Estação Ferroviária Estação Cocal

O ramal, ligando a estação de Esplanada a Cocal, foi aberto em 1922. Há fontes que citam a inauguração como tendo sido em 7 de junho de 1925. Posteriormente prolongou-se a linha até Rio Deserto. O ramal existe até hoje em funcionamento, embora o trecho até Rio Deserto tenha sido erradicado. A estação de Cocal fica próxima ao rio do mesmo nome, a 300 metros da ponte. O atual distrito Estação Cocal cresceu em volta desta estação, que, por sua vez, foi desativada com o fim da chegada do trem de passageiros, por volta de 1970. Ainda hoje trens com carvão passam por Cocal, a velha estação continua lá, mas as casas da vila ferroviária foram demolidas.

Figura 4: Estação Ferroviária Estação Cocal. Fonte: IPAT/UNESC, 2012.

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MUNICÍPIO DE SANGÃO

Casa Histórica “1931” e Casa do Orvalho

Estas antigas casas pertenceram à família Colodel e foram construídas na década de 30, por um personagem da localidade conhecido como “Zé Dinheiro”. Zé era e ainda é visto prelos moradores mais antigos como o “endinheirado”. Conta-se que tinha dinheiro escondido e muito ouro em sua propriedade. Relata-se que na segunda casa, existem, por trás da pintura da parede, desenhos feitos para ornamentar a mesma. Este é um testemunho de como uma edificação pode gerar no imaginário das pessoas lembranças da memória coletiva da comunidade.

Figura 5: Vista da casa histórica “1931”. Fonte: IPAT/UNESC, 2012.

MUNICÍPIO DE IÇARA

Casa dos Ferroviários – Ferrovia Teresa Cristina

Esta edificação faz parte do mesmo complexo ferroviário da já citada Estação Cocal. A Casa dos Ferroviários, em Içara, fica próxima 100 metros da Estação Ferroviária, na localidade de Balneário Esplanada.

Igreja da Urussanga Velha

Já na terceira (re)construção, continua imponente no alto do morro e agora longe

do cemitério, a Igreja da Urussanga Velha. Datando a primeira construção de 1770 e

tendo seu cemitério transferido para o outro lado da estrada, sua arquitetura sofreu

algumas modificações. A frente do prédio, que nos primórdios era virada para o mar,

teve sua posição invertida, ficando assim na direção contrária à primeira. Com esta

inversão o cemitério primário foi soterrado, descaracterizando a colonização daquela

localidade. Outro elemento que não deve passar despercebido, é o sino da Igreja,

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representativo por ser alvo da datação principal de sua construção. Então este sino, após a segunda (re)construção, foi doado para a comunidade de São Pedro.

Figura 6: Igreja da Urussanga Velha. Fonte: IPAT/UNESC, 2012.

Cemitério Urussanga Velha

A história do cemitério mistura-se com a história da Igreja da mesma localidade.

Superficialmente observado, o cemitério nos fornece, em algumas lápides, a datações da década de 1930. Porém, conforme o contexto de construção e reconstrução da Igreja, pode-se supor a existência de túmulos que datam de épocas mais remotas.

Preservar: um processo lento e gradual

Precisamos construir uma retórica a partir dos objetos e do seu tempo e seu espaço/território. Um território que é dividido, dinamizado e transmutado. É assim que a arqueologia desempenha o seu papel, na medida em que os objetos assumem o caráter de patrimônio de pertencimento, seja pela memória seja pela admiração.

Segundo Horta

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, quando se trabalha com o Patrimônio Cultural de um determinado espaço, trabalha-se com a “categoria bem cultural”, pois o patrimônio é formado por um bem.

Salienta-se ainda que o referido projeto de pesquisa teve como objetivo realizar um levantamento do patrimônio cultural material na área geográfica compreendida nos municípios banhados pelo Leito do Rio Urussanga, localizado na região sul do Estado de Santa Catarina. Portanto, apenas pontuamos o patrimônio edificado não protegido por lei e que poder vir a sofrer algum impacto negativo devido ao desassoreamento do Rio Urussanga. Contudo, neste primeiro momento, deixaremos de fora patrimônios

10 HORTA, Maria de Lourdes P., Educação Patrimonial, 1991.

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intangíveis e aqueles já tombados por cada município, para uma nova pesquisa a posteriore.

Percebe-se, através das atividades desenvolvidas por projetos de arqueologia preventiva, que, em alguns municípios do sul catarinense, começa a existir certa preocupação com a preservação de seu patrimônio, evidenciadas em seu plano diretor e legislações orgânicas, com criação de políticas públicas-culturais-educacionais voltadas para o tema de preservação do patrimônio histórico cultural.

Assim, entendemos que a preocupação em registrar as memórias das cidades, por meio do seu patrimônio, é uma forma de exercício de cidadania, a cidade é de todos/as os cidadãos/ãs e suas histórias precisam ser conhecidas e partilhadas. E ela pode também ser compreendida pela importância que as paredes, os locais de memórias, as práticas cotidianas, “o saber fazer”, os utensílios e espaços que hoje já não tem uma utilidade, pelo avanço da tecnologia, guardam memórias de outra temporalidade e que revelam modos de vida.

Há que se tentar, então, tecer os fios entre sujeitos, lugares, acontecimentos, práticas culturais, como forma de valorizar as diferentes histórias que compõe as cidades. Iniciamos então uma luta para que os referenciais que servem de ligação entre o presente e o passado permaneçam, pela memória, preservados.

Tendo em vista estes pressupostos, em consonância com Maria Ângela Borges Salvadori

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, acreditamos que

Preservar bens históricos-culturais, portanto, não é apenas manter intactos seus suportes mas é também garantir a todos o direito de se apropriar dos significados a eles atribuídos, bem como a condição de uma leitura mais crítica, própria e autônoma. Assim, à pergunta colocada pelo arquiteto Carlos Lemos sobre “o que preservar”, não é possível encontrar uma resposta única e permanente pois a tarefa da preservação é social e dinâmica. E é exatamente aqui que encontramos a relação entre memória – o vivido e o presente –, identidade e cidadania.

11 SALVADORI, Maria Ângela Borges, História, ensino e patrimônio, 2008, p. 30.

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REFERÊNCIAS

BOSI, Ecléa. Memória e sociedade: lembranças de velhos. 2ed. São Paulo: T.A.

Queiroz: editora da Universidade de São Paulo: 1987.

BRASIL. Constituição de 5 de outubro de 1988. Artigos referentes ao Patrimônio cultural brasileiro. Disponível em: http://www.iphan.gov.br. Acesso em: 08 de out.

2012.

GOÇALVES, José Reginaldo Santos. O patrimônio como categoria de pensamento. In:

ABREU, Regina; CHAGAS, Mário. (Org.) Memória e Patrimônio: ensaios contemporâneos. 2.ed. Rio de Janeiro: Lamparina, 2009.

HORTA, Maria de Lourdes P. Educação Patrimonial. Comunicação apresentada na conferência Latino-americana sobre preservação do Patrimônio Cultural. Junho de 1991.

IPAT/UNESC. Relatório Final do Programa de Arqueologia Preventiva para os Trabalhos de Desassoreamento do Rio Urussanga – municípios de Urussanga, Pedras Grandes, Cocal do Sul, Treze de Maio, Morro da Fumaça, Sangão, Jaguaruna e Içara – Santa Catarina. Criciúma: IPAT/UNESC, 2012.

LEMOS, Carlos A. C. O que é patrimônio histórico. São Paulo: Brasiliense, 1981.

ORIÁ, Ricardo. Memória e ensino de História. In: BITENCOURT, Circe. O saber histórico na sala de aula. São Paulo: Contexto, 1997.

PELEGRINI, Sandra C. A. Patrimônio Cultural: consciência e preservação. São Paulo:

Brasiliense, 2009.

SALVADORI, Maria Ângela Borges. História, ensino e patrimônio. Araraquara, SP:

Junqueira&Marin, 2008.

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