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DESIGUALDADES SOCIAIS

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Academic year: 2021

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DESIGUALDADES SOCIAIS

E O EFEITO

CIDADE

Renato Miguel do Carmo

CIES-IUL, Observatório das Desigualdades

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DESIGUALDADES: INJUSTAS,

MULTIDIMENSIONAIS E SISTÉMICAS

No entender do sociólogo Göran Therborn (2006: 4), «as desigualdades são diferenças que consideramos injustas. Des-igualdade é a negação da igualdade. Para além da perceção de desigualdade, estabelece-se assim uma noção de injustiça, de violação de qualquer tipo de igualdade».

As desigualdade são por natureza multidimensionais, não se

circunscrevem a apenas um setor da sociedade (educação, saúde, economia, comunidade…), nem a um único recurso (riqueza, cultura, títulos…), nem a uma única variável (rendimento, escolaridade, idade, género, região…).

As desigualdades detêm um carater sistémico e relacional no que diz respeito às causas e aos seus efeitos.

Nascer e crescer numa família pobre de baixos rendimentos pode significar os pais deterem baixos níveis de escolaridade, não ter acesso a um conjunto de bens e serviços básicos, ter uma má alimentação e padecer de subnutrição, ter dificuldades em

frequentar a escola e haver uma forte probabilidade de abandonar precocemente o sistema de ensino, etc.

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TRÊS DIMENSÕES DE DESIGUALDADE,

SEGUNDO GÖRAN THERBORN

Desigualdades vitais - desigualdades perante a vida, a morte e a saúde.

Indicadores como a esperança de vida à nascença ou a taxa de mortalidade infantil são alguns dos mais utilizados para analisar comparativamente desigualdades entre

populações (por exemplo, de diferentes países) ou para analisar evoluções no tempo.

Desigualdades existenciais - desigual reconhecimento dos indivíduos humanos enquanto pessoas.

Focam desigualdades resultantes de opressões e restrições à liberdade individual e/ou coletiva, às discriminações, estigmatizações e humilhações. Por exemplo, fenómenos como o patriarcado, a escravatura ou o racismo.

Desigualdades de recursos – desigual distribuição dos recursos.

Incluem dimensões como as desigualdades de rendimentos e de riqueza, de escolaridade e de qualificação profissional, de competências cognitivas e culturais, de posição

hierárquica nas organizações e de acesso a redes sociais.

(4)
(5)

DESIGUALDADE INTERNACIONAL E

DESIGUALDADE GLOBAL

Milanovic distingue entre um ‘conceito 1’ de

desigualdade, ou desigualdade internacional não ponderada, um ‘conceito 2’ de desigualdade, ou

desigualdade internacional ponderada (pelo volume populacional dos países) e um ‘conceito 3’ de

desigualdade, ou desigualdade global.

os dois primeiros referem-se a desigualdades entre países, as fontes de informação são as estatísticas nacionais;

o terceiro refere-se diretamente a desigualdades entre indivíduos, à escala mundial, e recorre, como fonte de

informação, a inquéritos diretos às populações (indivíduos e grupos domésticos).

(6)

Conceito 1 Conceito 2 Conceito 3 Fonte de

informação

Estatísticas nacionais

Estatísticas nacionais

Inquéritos às população

Unidade de observação

País País (ponderando

pela população residente)

Indivíduo ou agregados familiares

Indicador PIB per capita PIB per capita Média per capita do rendimento disponível ou das despesas

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Desigualdades 1950-2009

Concept 2

Concept 1

Concept 3

.45.55.65.75Gini coefficient

1950 1960 1970 1980 1990 2000 2010

year

Divergence begins

China moves in

Divergence ends

India moves in

Fonte: Gráfico apresentado por Branko Milanovic na conferência "Global Income Inequality: Past Two Centuries and Key Issues for the XXI Century“

(10/02/2012, ISCTE-IUL, Lisboa).

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DESIGUALDADES ENTRE PAÍSES

E ENTRE PESSOAS

Segundo Milanovic (2012), “a principal causa de desigualdade na UE é os países serem diferentes: ou são ricos ou são pobres”.

Ao contrário, nos EUA “a principal causa para a desigualdade é que,

independentemente do estados, há pessoas ricas e pessoas pobres” (p.166).

Esta distinção analítica e conceptual proposta por Milanovic é reveladora sobre a importância das abordagens de tipo multi-escalar para o estudo das desigualdades, nas quais o mesmo indicador pode contemplar diferentes ordens de grandeza em função da unidade de análise em questão.

Este aspeto é particularmente importante quando se considera a diferenciação territorial e regional.

(9)

UMA EUROPA CADA VEZ MAIS

DESIGUAL

Nota: Para a Irlanda os dados referem-se a 2010 .

9

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CONCEITO 4?

Na UE PIB per capita do Luxemburgo, que é país mais rico, é quase 6 vezes maior do que o da Roménia.

O centro de Londres (Inner London) é a zona mais rica da Europa, detendo um PIB per capita que ultrapassa 3 vezes a média europeia (UE27).

Por seu lado, quando se compara com uma das regiões mais pobres,

Macroregiunea Doi - Nord-EsT (situada na Roménia), verifica-se que o PIB per capita de Londres (Inner London) é 11,5 vezes superior ao da romena.

(Inner London e Outer London) revela uma diferença considerável entre os valores do PIB per capita: o número contabilizado para a região central ultrapassa mais de 3 vezes a média de rendimento calculado para a área mais suburbana e periférica da capital inglesa, que, em termos de

rendimento médio, representa uma diferença superior entre o Reino Unido da Roménia (2,4 vezes).

Estes valores chamam-nos a atenção para duas questões fundamentais:

a) que na Europa as desigualdades de rendimento são ainda mais pronunciadas entre regiões do que entre países;

b) que, internamente, cada país pode ser constituído por fortes desigualdades inter-regionais e intra-regionais.

Fará sentido falar de um conceito 4 de desigualdade?

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O EFEITO (MEGA)CIDADE

Num livro intitulado Word City, a geografa Doreen Massey (2007) alerta precisamente para o aumento das desigualdades associadas ao impacto da atividade económica e, sobretudo, financeira da cidade de Londres sobre o aumento das disparidades e

desequilíbrios regionais que afetam o Reino Unido

Segundo a autora, as disparidades sociais dispararam no interior da área metropolitana, mas também aumentaram face às outras cidades e regiões de Inglaterra.

Este duplo movimento (inter-regional e intra-regional) de crescimento das desigualdades tem como epicentro, mas não exclusivamente, as megacidades que assumiram um grande protagonismo na economia global.

Muitas destes territórios tiveram um crescimento demográfico

assinalável, que correspondeu a um incremento considerável das suas bacias de emprego e da oferta laboral, assim como ao alargamento dos mercados de trabalho cada vez mais complexos e diversificados.

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E O EFEITO LISBOA?

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Evolução do Rácio S80/S20 (2003-2009)

4.8 4.9 4.9 4.9

4.7 4.8

Portugal 4.8

6.8 6.9 6.9 6.9

6.7 6.8 Lisboa

6.7

0 1 2 3 4 5 6 7 8

2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009

Fonte: Quadros de Pessoal 2003-2009 (GEP/MTSS).

Nota: Trabalhadores a tempo completo e com remuneração base completa. Valores a preços constantes (2006).

(14)

Evolução do ganho médio dos 1% e dos 5% de trabalhadores mais ricos em Portugal e no concelho de Lisboa (Euros) (2003-2009)

3,580 5% mais ricos (Portugal):

3.870 6,228

1% mais ricos (Portugal):

6.655

5,518 5% mais ricos

(Lisboa): 5.832 9,805

1% mais ricos (Lisboa):

10.258

0 2,000 4,000 6,000 8,000 10,000 12,000

2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009

Fonte: Quadros de Pessoal 2003-2009 (GEP/MTSS).

Nota: Trabalhadores a tempo completo e com remuneração base completa. Valores a preços constantes (2006).

(15)

Ganho médio mensal por nível de habilitações em Portugal e no concelho de Lisboa (Euros) (2009)

690 943

1,333

2,256

637 763

1,057

1,872

Inferior ao 1º Ciclo do Ensino Básico Ensino Básico Ensino Secundário e Pós Secundário Não Superior Ensino Superior

Fonte: Quadros de Pessoal 2003-2009 (GEP/MTSS).

Nota: Trabalhadores a tempo completo e com remuneração base completa. Valores a preços constantes (2006).

(Lisboa) (Portugal)

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(17)

Percentagem de ganho auferida pelos quintis e S80/S20 nos clusters e no concelho de Lisboa (2009)

7.1 6.4 7.3 9.0 10.4

9.8 9.8 10.4 12.8 12.4

14.3 14.8 15.1 14.0 15.1

21.6 22.2 21.4 20.8

20.3

47.2 46.8

45.8

43.4 41.9

6.7

7.3

6.3

4.8

4.0

.0 1.0 2.0 3.0 4.0 5.0 6.0 7.0 8.0

0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100

Concelho de Lisboa Maior dimensão;

predominância de actividades administrativas e financeiras; salários

elevados

Dimensão média;

predominância de actividades administrativas e financeiras; salários

médios

Dimensão média;

predominância de comércio e actividades

administrativas;

salários médios

Pequena dimensão;

predominância de comércio e restauração; salários

baixos

S80 / S20

Percentagem de ganho auferida

1º Quintil (20% mais pobres) 2º Quintil 3º Quintil 4º Quintil 5º Quintil (20% mais ricos) S80/S20

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EM JEITO DE CONCLUSÃO

O espaço é constituído por fortes tensões e assimetrias.

Estabelece-se uma interdependência (dialética) entre desigualdades sociais e desigualdades territoriais.

Para além de multi-dimensinais e sistémicas, as desigualdades são multi-escalares (conceito 4).

Existe um efeito cidade/metrópole sobre as desigualdades (inter e intra-regionais).

É importante considerar a composição e orgânica dos diversos mercados (p. ex: mercado de trabalho) na acentuação das desigualdades.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Atkinson, Will (2010), Class, Individualization and Late Modernity: in Search of the Reflexive Worker, Hampshire, Palgrave Macmillan.

Carmo, Renato Miguel do , Margarida Carvalho (2013) , “Multiple disparities:

earning inequalities in Lisbon», Landscape and Geodiversity”, 1 (1), pp. 36-45.

Carmo, Renato Miguel do (2011), “O mundo é enrugado: as cidades e as suas múltiplas metáforas”, Ricardo Campos et al. (org.), Uma Cidade de Imagens:

Produção e Consumos Visuais em Meios Urbano, Lisboa, Editora Mundos Sociais.

Castells, Manuel (2000), The Information Age: Economy, Society and Culture, 2ª ed., Oxford, Blackwell Publishers.

Costa, António Firmino da (2012), Desigualdades Sociais Contemporâneas, Lisboa, Editora Mundos Sociais.

Cantante, Frederico (2012), “Medidas e métodos de medição das desigualdades de rendimento”, CIES e-Working Paper N.º 134/2012.

Massey, Doreen (2007), World City, Cambridge, Polity Press.

Milanovic, Branko (2012), Ter ou não Ter: uma Breve História da Desigualdade, Lisboa, Bertrand Editora.

OECD (2011), Divided We Stand: Why Inequality Keeps Rising, Paris, OECD Publications.

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