• Nenhum resultado encontrado

A produção das desigualdades: análise da relação entre trabalho infantil e indicadores sociais

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2017

Share "A produção das desigualdades: análise da relação entre trabalho infantil e indicadores sociais"

Copied!
63
0
0

Texto

(1)
(2)

N

ATÉRCIA

J

ANINE

D

ANTAS DA

S

ILVEIRA

A PRODUÇÃO DAS DESIGUALDADES: ANÁLISE DA

RELAÇÃO ENTRE TRABALHO INFANTIL E

INDICADORES SOCIAIS

Natal/RN 2014

(3)

NATÉRCIA

J

ANINE

D

ANTAS DA

S

ILVEIRA

A PRODUÇÃO DAS DESIGUALDADES: ANÁLISE DA

RELAÇÃO ENTRE TRABALHO INFANTIL E

INDICADORES SOCIAIS

Dissertação de mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva da UFRN.

Linha de pesquisa: Distribuição e fatores determinantes dos agravos à saúde nas populações humanas.

Orientador: Prof. Dr. Angelo Giuseppe Roncalli da Costa Oliveira.

(4)

DEDICATÓRIA

Ao céu que brilha mais forte....

Ao longo desses dois anos de mestrado, “ o meu céu” encontra

-se mais estrelado, brilhando mais forte com a pre-sença de três

pessoas especiais, que me iluminam, me guiam, dando-me

força, motivação e determinação para seguir, mostrando que é

possível superar, apesar das adversidades da vida e do viver....

Não poderia deixar de dedicar este momento sonhado,

esperado, no mínimo especial,

In Memoriam

, a uma pessoa

especial na minha vida, que nos deixou precocemente, e

contribuiu significativamente para esta conquista.

A “Valtércio Silveira”... Painho, este trabalho tem sua

expressão, através de suas palavras, pensamentos, estímulo de

crescimento...

Você esteve presente durante todo esse período, em cada

processo de construção e (des) construção destas páginas

proporcionando-me, principalmente, força!

Certamente hoje seria um dia em que você diria:

“Minha branca

amada, você tem capacidade!”

A você, que tive a oportunidade de falar apenas que tinha sido

aprovada no mestrado, dedico o fruto desta conquista!

“Saudade é a expressão que fica”...

Dedico este trabalho também aos meus avós: Antônio Jales

Dantas e Raimunda Matos Rebouças (In

Memoriam

) ...

Simplesmente dizendo: “ As mãos que nos embalaram hoje nos

guiam...”

Vocês são os maiores exemplos de amor que tive....

Como o amor é fundamental em todo processo de construção...

Vocês, meus amores, estão nessa construção....

(5)

de minha paixão especial que vivem ou simplesmente

sobrevivem nas ruas, nos sinais, nas feiras livres, nos lixões...

Espero poder contribuir para minimizar esta problemática!

AGRADECIMENTOS

A força maior que nos move, agradeço simplesmente por sentir

que você existe e me impulsiona a seguir...

A minha família, agradeço em especial a minha mãe... Por ter

me dado, principalmente força, motivação, determinação, bem

como suporte para continuar esta caminhada, apesar das

adversidades da vida e do viver...

Ao meu sobrinho-afilhado Igor Dantas, agradeço pelo presente

que DEUS nos deu com sua existência que faz com que nossas

vidas sejam no mínimo mais felizes.. Tia, ama você no coração!

Ao meu orientador Angelo Roncalli, agradeço por estar

presente, apesar da distância física, e principalmente por ter

me ensinado a ser paciente, bem como a visualizar novos

horizontes da estatística...

A pessoa que faz a vida ser mais bonita, Raniery de Oliveira,

muito grata, por me fazer visualizar a beleza do: céu, mar,

areia...Sempre na grandiosidade da simplicidade, e ainda por

ser cúmplice e companheiro ... Agradeço de coração!!!

(6)

A vida.... por se apresentar e expressar através de vocês...

EPÍGRAFE

(7)

É maior do que o mundo.

(8)

Resumo

A Organização Internacional do Trabalho (OIT) estima que haja cerca de 118 milhões de crianças em todo o mundo submetidas ao trabalho infantil. No Brasil, há 3,5 milhões de trabalhadores entre 5 e 17 anos. Esse exercício de exploração constitui um grave problema da sociedade, inclusive de Saúde Pública, já que esses trabalhadores estão expostos a uma gama de riscos, quais sejam à saúde, à integridade física e até à vida, podendo torná-los adultos doentes e/ou interrompendo precocemente suas vidas. Diante do exposto, esta pesquisa tem como objetivo investigar a relação entre a frequência de trabalho infantil na faixa etária de 10 a 13 anos e alguns indicadores socioeconômicos. Trata-se de uma pesquisa quantitativa em um desenho ecológico cujos níveis de análise são os municípios brasileiros agrupados em 161 regiões, definidas a partir de critérios socioeconômicos. A variável dependente deste estudo foi a prevalência de trabalho infantil na faixa etária de 10 a 13 anos. As variáveis independentes foram selecionadas após realizada uma correlação entre o Censo de 2010 do trabalho infantil na faixa etária de 10 a 13 anos e dados secundários, adotando duas variáveis independentes principais: recursos do Programa Bolsa Família (PBF) por 1000 habitantes e Recursos do Programa de Erradicação do Trabalho Infantil (PETI) por mil habitantes. Foi realizada inicialmente uma análise descritiva das variáveis do estudo, posteriormente, uma análise bivariada, e construída a matriz de correlação. Por fim, foi feita a análise de Regressão Liner Múltipla Estratificada pelo IDH. Os resultados desta pesquisa indicaram que as políticas públicas, a exemplo dos Recursos do Programa Bolsa Família por 1000 habitantes e Recursos do Programa de Erradicação do Trabalho Infantil ao serem alocados em municípios com IDH<0,697 representam uma diminuição na taxa de trabalho infantil; Já os recursos desses programas ao serem investidos em municípios com IDH>=0,697 não apresentam efeito na taxa de trabalho infantil. Outras variáveis de ajuste mostraram significância, entre elas o IDH municipal, anos de Estudos aos 18 anos, empregados sem carteira com 18 anos. Compreende-se que a questão do trabalho infantil é complexa. O problema está associado, embora não esteja restrito à pobreza, à desigualdade e à exclusão social existentes no Brasil, mas há outros fatores de natureza cultural, econômica e de organização da produção, respondem também pelo seu agravamento. Para enfretamento do trabalho infantil necessita de uma ampla articulação intersetorial compartilhada e integrada com diversas políticas públicas entre elas saúde, esporte, cultura, agricultura, trabalho e direitos humanos, tendo, como horizonte, a garantia da integralidade dos direitos de crianças e adolescentes em situação de trabalho e de suas respectivas famílias.

(9)

ABSTRACT

The International Labor Organization (OIT) estimates that there are around 118 million children subjected to child labor around the world. In Brazil, there are 3.5 million workers aged between 5 and 17. This exploitation practice constitutes a serious social problem, including of Public Health, since these workers are exposed to a wide range of risks, such as those related to health, physical integrity and even to life, which may cause them to become sick adults and/or interrupt their lives prematurely. Therefore, this research aims to investigate the relationship between the frequency of child labor in the age group of 10 to 13 years and some socio-economic indicators. It is a quantitative research in an ecological study whose levels of analysis are the Brazilian municipalities grouped in 161 regions, defined from socio-economic criteria. The dependent variable of this study was the prevalence of child labor in the age group of 10 to 13 years. The independent variables were selected after a correlation between the 2010 Census of child labor in the age group of 10 to 13 years and secondary data had been conducted, adopting two main independent variables: funds from the Family Allowance Program (PBF) per 1,000 inhabitants and Funds from the Child Labor Eradication Program (PETI) per a thousand inhabitants. Initially, it was conducted a descriptive analysis of the variables of the study, then, a bivariate analysis, and the correlation matrix was built. At last, the Multiple Linear Regression stratified analysis was performed. The results of this survey indicate that public policies , like the Bolsa Familia Program Features per 1000 inhabitants and Resources Program for the Eradication of Child Labour to be allocated to municipalities with HDI < 0.697 represent a decrease in the rate of child labor ; These programs have the resources to be invested in municipalities with HDI > = 0.697 have no effect on the rate of child labor. Other adjustment variables showed significance, among these the municipal Human Development Index (IDH), years of schooling at 18 years of age, illiteracy at 15 years of age or more, employees without employment contract at 18 years of age and the Gini Index. It is understood that the child labor issue is complex. The problem is associated, although not restricted to, poverty, the social exclusion and inequality that exist in Brazil, but other factors of cultural and economic nature, as well as of organization of production, also account for its aggravation. Fighting child labor involves a wide intersectoral articulation, shared and integrated with several public policies, among them health, sports, culture, agriculture, labor and human rights, with a view to guaranteeing the integrality of the rights of children and adolescents in situation of labor and of their respective families.

(10)

LISTA DE QUADROS, FIGURAS E TABELAS

Quadro 1. Marco histórico de luta e erradicação contra trabalho infantil. ... 22 Quadro 2. Variáveis independentes, com respectivas dimensões, descrições e

escalas de medida. ... 453

Figura 1. Divisão socioeconômica baseada em áreas de articulação urbana. Linhas em cinza indicam as 161 Regiões Intermediárias de Articulação Urbana e as linhas em preto referem-se aos limites das 14 Regiões Ampliadas de Articulação Urbana.

Fonte: IBGE,

2013...39 Figura 2. Mapa Conceitual do Trabalho Infantil com os Indicadores Socioeconômicos...41

Tabela 1. Estatísticas descritivas das variáveis do estudo. Brasil, 2010. ... 47 Tabela 2. Matriz de Correlação para as variáveis utilizadas no estudo. Brasil, 2010... 486 Tabela 3. Análise de Regressão Linear Múltipla para a taxa de trabalho infantil de 10

a 13 anos, considerando os recursos per capita no Programa Bolsa Família como variável independente principal e como variável de estratificação, o IDH < 0,697.

Brasil, 2014 ... 49 Tabela 4. Análise de Regressão Linear Múltipla para a taxa de trabalho infantil de 10

a 13 anos, considerando os recursos per capita no Programa Bolsa Família como variável independente principal e como variável de estratificação, o IDH >= 0,697.

Brasil, 2014. ... 51 Tabela 5. Análise de Regressão Linear Múltipla para a taxa de trabalho infantil de 10

a 13 anos, considerando os recursos per capita no Programa de Erradicação do Trabalho Infantil (PETI) como variável independente principal e como variável de

estratificação, o IDH < 0,697. Brasil,

2014...49

(11)

Sumário

Resumo ... 8

ABSTRACT ... 9

LISTA DE QUADROS, FIGURAS E TABELAS ... 10

1. INTRODUÇÃO ... 12

2. REVISÃO DA LITERATURA ... 14

2.1 QUADRO ATUAL DO TRABALHO INFANTIL NO BRASIL E NO MUNDO ... 14

2.2 A CONSTRUÇÃO DE CONCEITOS: TRABALHO INFANTIL ... 16

2.3 O TRABALHO INFANTIL E OS DISPOSITIVOS LEGAIS PARA SUA ERRADICAÇÃO ... 19

2.4 DETERMINANTES SOCIAIS DO TRABALHO INFANTIL ... 24

2.5 AS IMPLICAÇÕES DO TRABALHO PARA VIDA DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES ... 30

2.6 CENÁRIOS, HISTÓRICO E CONTEXTOS DOS PROGRAMAS DE TRANSFERÊNCIAS DE RENDA ... 33

3. OBJETIVOS ... 39

3.1 OBJETIVO GERAL ... 39

3.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS ... 39

4. MÉTODO ... 40

4.1 CARACTERÍSTICAS DA PESQUISA ... 40

4.2 FONTES DOS DADOS ... 41

4.3 VARIÁVEIS ... 42

4.4 ANÁLISE DOS DADOS ... 45

4.5 CONSIDERAÇÕES ÉTICAS ... 46

5. RESULTADOS ... 47

6. DISCUSSÃO ... 52

7. CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 58

(12)

1. INTRODUÇÃO

É fato nos depararmos cotidianamente com uma variedade de crianças e adolescentes compondo diversos cenários da cidade de Natal. Geralmente, estão exercendo atividades laborais diversificadas, tais como flanelinhas, vendedores ambulantes, frentistas, dentre outras funções.

Esse exercício de exploração da infância e da adolescência através do trabalho constitui um grave problema da sociedade, inclusive de Saúde Pública, já que esses trabalhadores infantis estão expostos a uma gama de riscos, tais como: à saúde, à integridade física e até à vida que, além de comprometer o desenvolvimento integral de forma saudável, também interferem nos aspectos subjetivos e coletivos de suas socializações, podendo torná-los adultos doentes e/ou interrompendo precocemente suas vidas.

A existência desse fenômeno demonstra dramaticamente que as garantias prometidas pela Constituição de 1998, a destacar art.196 que diz: “a saúde como direitos de todos e dever do Estado, mediante políticas sociais e econômicas que visem a redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços de saúde” (p.01), ainda são proibitivos para um grande número de pessoas.

Pode-se afirmar que tratam-se de sujeitos que estão sendo “usurpados” de seus direitos

básicos, como saúde, alimentação, educação, convivência familiar, lazer e o direito de viver a infância, sem qualquer forma de negligência, violência e exploração. O que ocorre com essas crianças e adolescentes demonstra que estes não estão sendo atendidos pela sociedade, nem pelo Estado, inclusive a própria Constituição está sendo violada (SILVEIRA, 2007).

No Brasil existem uma série de medidas de enfrentamento ao trabalho infantil – por parte do poder público brasileiro, da sociedade civil e das organizações internacionais – que contribuíram significativamente para a redução do problema no País.

(13)

Emerge neste contexto o Programa de Erradicação do Trabalho Infantil – PETI, que se configura como uma importante política de combate ao trabalho de crianças e adolescentes (ALBERTO et al., 2010).

Assim, destaca-se uma variedade de discussões no cenário atual, em que, por um lado, há uma legislação vigente que proíbe o trabalho infantil de forma penosa, insalubre e degradante e, por outro, deparamo-nos, cotidianamente, com suas novas facetas instauradas nos cenários das cidades.

Existe um quadro contraditório, na perspectiva de que há uma grande quantidade de trabalhadores infantis, apesar da construção de políticas públicas para seu enfrentamento e a sua erradicação ainda ser utópica (MORAIS, 2008).

Tal desafio requer congregar totalmente a sociedade, os governos, as famílias, as comunidades para que juntos encontrem as soluções requeridas. A Academia também é chamada a contribuir na busca por soluções e esta pesquisa se insere nesse esforço.

Considera-se, também, que qualquer pesquisador, ou até mesmo, iniciante da arte de pesquisar, está em situação de risco se não encontra relevância em seu trabalho. Assim, os desejos e as expectativas, nesta pesquisa, visam à relevância teórica e social.

Diante do exposto, esta pesquisa tem como objetivo geral analisar a relação existente entre trabalho infantil, na faixa etária de 10 a 13 anos, e os indicadores socioeconômicos. Tendo como marco teórico-metodológico o quadro atual do trabalho infantil no Brasil e no mundo, a construção de conceitos, o trabalho infantil e os dispositivos legais para sua erradicação, fatores condicionantes para o trabalho infantil, as implicações do trabalho para a vida de crianças e adolescentes e Cenários, histórico e contextos dos programas de transferências de renda. Para tanto, adota como metodologia uma pesquisa do tipo ecológica, os níveis de análise são os municípios brasileiros e a variável dependente é a taxa de trabalho infantil na faixa etária de 10 a 13 anos, no período de 2010.

(14)

2. REVISÃO DA LITERATURA

2.1 QUADRO ATUAL DO TRABALHO INFANTIL NO BRASIL E NO

MUNDO

Ninguém ambiciona viver em um mundo onde mais de 200 milhões de crianças são obrigadas a trabalhar, sacrificando assim o seu futuro e o nosso (ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL DO TRABALHO- OIT, 2010).

Em todo o mundo existe um número demasiado elevado de crianças que continuam

“armadilhados” no trabalho infantil, comprometendo, assim, o futuro individual e o coletivo.

A partir da década de 1990, o país obteve expressiva redução dos índices de trabalho infantil, devido, principalmente, ao avanço em legislação e políticas públicas, conseguindo uma forte mobilização da sociedade civil e de representantes do poder público contra a entrada precoce de crianças e adolescentes no mercado de trabalho. Em 1992, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), havia no Brasil 8,4 milhões de crianças e adolescentes de 5 a 17 anos (19,6% do total) em atividades remuneradas.

Destaca-se que no período de 12 anos, iniciado em 2000, o quadro do trabalho infantil vem apresentando progressos significativos, na medida que, houve redução de cerca de 78 milhões crianças trabalhadoras durante o período, número que representa um decréscimo de um terço (OIT, 2013).

(15)

A Pesquisa Nacional por Amostra Domiciliar (PNAD,2013) demonstrou que existem 3,5 milhões de crianças e adolescentes com faixa etária entre 5 e 17 anos trabalhando. Apesar deste número permanecer alto, houve uma redução de 156 mil crianças no período entre 2011 e 2012, o que representa uma diminuição de 21%, ressaltando que esses números não caíram em todas as regiões, em algumas até aumentou.

Ao se verificar a realidade regional, constatou-se que apenas na região Norte ocorreu uma queda no trabalho infantil em todas as faixas etárias, tendo o indicador geral recuado 11,86%, o que implica em uma redução de 58 mil no número de crianças e adolescentes submetidas ao trabalho. Na região Nordeste o número global teve uma queda de 9,26% em números absolutos (1,2 milhões para 1,16 milhões). O indicador se reduziu entre os jovens das faixas de 5 a 15 anos, mas aumentou o número de trabalhadores no grupo de 16 a 17 anos. A região Centro-Oeste foi a região onde o trabalho infantil mais cresceu em um número maior de faixas etárias. Apenas no grupo de 10 a 13 anos houve redução. Na região Sudeste houve aumento em Minas Gerais na faixa etária entre 5 a 9 anos, fato não constatado nos demais Estados. Já na região Sul, houve um aumento no número total nos grupos de 5 a 9 anos, e de 16 para 17 anos (PNAD, 2013).

No exame por Estado da região, é possível constatar que, no grupo de 5 a 9 anos, houve crescimento no número de trabalhadores na Paraíba e em Sergipe, queda em Maranhão, Piauí, Ceará, Pernambuco, Alagoas e Bahia e estabilidade do Rio Grande do Norte (PNAD, 2013).

Destaca-se que no Rio Grande do Norte existem 82.195 crianças e adolescentes exercendo trabalho infantil, sendo as maiores concentrações nos municípios de Natal, Parnamirim, Macaíba, Ceará-Mirim, São José do Mipibu e São Gonçalo do Amarante (PNAD, 2010).

A Organização Internacional do Trabalho (OIT, 2013) estima que haja atualmente cerca de 118 milhões de crianças submetidas ao trabalho infantil em todo mundo, número que representa 11% da totalidade da população de crianças e adolescentes.

As crianças submetidas às piores formas de trabalho perfazem a metade de trabalhadores, com um total de 85 milhões em números absolutos, destacando-se que as maiores concentrações encontram-se na Ásia-Pacífico (OIT, 2013).

(16)

vulnerabilidade dos jovens submetidos ao trabalho e a acidentes relacionados a esse. Embora a incidência seja maior nos países mais pobres, não se encontra limitada a eles (OIT, 2010)

Acrescenta-se que, de forma oportuna, a situação começa a ficar caótica, pois o trabalho infantil está concentrado em situações nas quais o Estado não consegue chegar ou que ficam meio ocultas. O Estado intensificou suas ações de fiscalização em 2013, priorizando as piores formas, mas mesmo assim não houve um número expressivo de crianças afastadas entre 10 a 13 anos, sendo necessária, assim, maior mobilização de toda sociedade em face do enfrentamento e erradicação desta problemática social que se constitui em um grave problema de saúde pública, negligenciado por grande parte da sociedade (BRASIL, 2013a).

2.2 A CONSTRUÇÃO DE CONCEITOS: TRABALHO INFANTIL

As crianças ajudam desde cedo suas famílias nos afazeres do lar, no campo e em lojas etc. Essas atividades, porém não são as que chamamos de trabalho infantil (REPÓRTER BRASIL, 2011).

A concepção de trabalho infantil pode não ser tão simples quanto parece, pois a própria definição de infância difere de um país para outro, assim como a concepção de trabalho relacionado à criança.

De acordo com a OIT (2001), a designação trabalho infantil, refere-se ao trabalho realizado por crianças e adolescentes. Destaca-se, entretanto, que a permissão ou a proibição para o ingresso desses sujeitos no mercado de trabalho é definida por lei, tendo como critério a idade. Não obstante, esse procedimento varia conforme a idade e a compreensão que esta apresenta sobre o que seja a infância e a adolescência. Para a OIT, o termo trabalho infantil refere-se ao trabalho realizado por crianças e adolescentes até 18 anos de idade.

O Estatuto da Criança e do Adolescente - ECA (lei 8069/90) define as categorias crianças e adolescentes. A criança é a pessoa que têm até doze anos de idade, e adolescente aquele que está entre os doze e dezoito anos de idade (Art. 2º). Portanto, a terminologia trabalho infantil, encontra-se limitada.

(17)

Compreende-se então, que as categorias trabalho infantil e trabalho precoce não se encontram ainda definidas sociologicamente de maneira uniforme, segundo Alberto (2010, p.161),o trabalho precoce é entendido como o exercício da atividade socialmente útil ou esquemas de profissionalização divergentes: tráfico e prostituição, praticados com a intenção de se receber alguma forma de pagamento. Nesse sentido, conforme aponta a referida autora, o que o trabalhador e a trabalhadora precoce fazem são atividades variadas, cuja ação, está inerente ao propósito de se obter pagamento que pode ser em espécie ou em gênero.

Entretanto, apesar de alguns autores considerarem a terminologia do trabalho infantil limitada, não se pode deixar de considerar que a concepção desse termo foi reformulado em 2011 pelo Plano Nacional de Prevenção e Erradicação do Trabalho Infantil (BRASIL, 2011a), sendo assim, adotado por essa pesquisa, que compreende o “trabalho infantil” como sendo aquele que se remete às atividades econômicas e/ou atividades de sobrevivência, com ou sem a finalidade de lucro, remuneradas ou não, realizadas por crianças ou adolescentes em idade inferior a 16 (dezesseis) anos, independentemente de sua condição ocupacional. Para efeitos de proteção ao adolescente trabalhador, será considerado todo trabalho desempenhado por pessoas com idades entre 16 e 18 anos e, ressalvada a condição de aprendiz a partir dos 14 (quatorze) anos, independentemente da sua condição ocupacional.

Este conceito está em consonância com o marco normativo atual, que considera como trabalho infantil no Brasil todo trabalho realizado antes dos 14 anos de idade, por adolescentes com idade entre 14 e 16 anos, que não se configure como aprendizagem, cumprindo assim, os requisitos legais dessa modalidade de profissionalização (BRASIL, 2010b).

Acrescenta-se também que é considerado trabalho infantil todo trabalho realizado por crianças e adolescentes, ou seja, antes dos 18 anos de idade que seja caracterizado como perigoso, insalubre, penoso, prejudicial à moralidade, noturno, realizado em locais e horários que prejudiquem a frequência escolar ou que tenham possibilidade de provocar prejuízos ao desenvolvimento físico e psicológico (BRASIL, 2010a).

(18)

Nacional de Prevenção e Erradicação do Trabalho Infantil – FNPETI –, do Ministério Público do Trabalho – MPT – e da OIT e UNICEF na condição de observadores (OLIVEIRA, 2014).

Acrescenta-se que seus fundamentos legais estão previstos no inciso XXXIII, art. 7º da Constituição Federal de 1988, alterado pelo Emenda Constitucional nº 20/1998; no art. 60 do Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA – (Lei Federal nº 8.069/1990) e na Convenção nº 138 da OIT, ratificada pelo Brasil (Decreto nº 4.134/2002) (OLIVEIRA,2014).

A referida autora acrescenta que ainda persistem elevados índices de trabalho infantil e que não há estratégias eficazes para o enfrentamento do trabalho infantil doméstico, na agricultura, à exploração sexual comercial, como exemplos – não é, com certeza, buscar

“conceitos inovadores” de trabalho infantil.

Acrescenta-se que são, pois, amplas e inesgotáveis as possibilidades de ocorrência do trabalho infantil, e, compreende-se que a sua existência poderá descortinar uma realidade de exploração, abuso, negligência ou violência, diante da qual refletirá a responsabilidade na própria família, de terceiros beneficiários do labor desenvolvido e também do Poder Público, podendo alcançar as esferas civil, penal, trabalhista e administrativa (MEDEIROS NETO; MARQUES, 2013).

Não há espaço legítimo, tanto do ponto de vista da legislação como da ética, para se redefinir ou flexibilizar o conceito de trabalho infantil, e para propor “conceitos inovadores”. Seja

(19)

2.3 O TRABALHO INFANTIL E OS DISPOSITIVOS LEGAIS PARA

SUA ERRADICAÇÃO

São deveres da família, da sociedade e do Estado:

“Assegurar à criança e ao adolescente, com

absoluta prioridade, o direito: à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda e qualquer forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão” (Art. 227- ECA).

Pelo o art. 227 do Estatuto da Criança e do Adolescente supracitado, o trabalho infantil é inconstitucional, estando as crianças e adolescentes submetidas ao trabalho usurpadas de seus direitos fundamentais, de modo que esta problemática torna-se uma questão de Direitos Humanos.

Dessa forma, a implantação do PETI guarda ressonância com forte mobilização da sociedade brasileira, na década de 1980, em torno dos direitos da infância e da adolescência no país, que culminou na Constituição de 1988. O art.227 elencou a criança e o adolescente como prioridade absoluta e o art.7, inciso XXXIII, modificado pela Emenda Constitucional nº 20/1998, proíbe o trabalho noturno, perigoso e insalubre a menores de 18 anos de idade e de qualquer trabalho a menores de dezesseis anos de idade, salvo na condição de aprendiz, a partir de 14 anos (BRASIL, 2011a).

No que diz respeito aos dispositivos legais relacionados à proteção da infância e da adolescência, existem três mecanismos principais a Constituição Federal (1988), a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) e o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) (BRASIL, 2010).

No tocante à Constituição Federal de 1988, esta possui o artigo 227 que determina que são deveres da família, da sociedade e do Estado:

“Assegurar à criança e ao adolescente, com absoluta

(20)

familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração,

violência, crueldade e opressão”.

Destaca-se também o art. 7º, inciso XXXIII (alterado pela Emenda nº 20, de 15 de dezembro de 1998) que estabelece como idade mínima de 16 anos para o ingresso no mercado de trabalho, exceto na condição de aprendiz a partir dos 14 anos (BRASIL, 2011a).

Em relação à Consolidação das Leis do Trabalho, refere-se a arcabouço legal de decretos, portarias e resoluções para tratar dos mais variados aspectos que a proteção ao trabalho infantil enseja, tais como o quadro de serviços e locais perigosos em que o adolescente não pode trabalhar, relação aos serviços leves que até 1998 poderiam ser realizados entre 12 e 14 anos na situação de aprendiz; normas relativas à segurança e à saúde do trabalhador, à aprendizagem e à regulamentação das agências de formação profissional, dentre outros (BRASIL, 2010a).

O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) tece importantes contribuições acerca da temática. Em seus artigos de 60 a 69 (Lei nº8.069, de 13 de julho de 1990) tratam da proteção ao adolescente trabalhador. O ECA prevê a implementação de um Sistema de Garantia de Direitos (SGD). Os Conselhos de Direitos, de âmbito nacional, estadual e municipal são responsáveis pela formulação das políticas de combate ao trabalho infantil, proteção ao adolescente trabalhador e pelo controle social. Os Conselhos Tutelares são corresponsáveis na ação de combate ao trabalho infantil, cabendo a eles cuidar dos direitos das crianças e adolescentes em geral, em parceria com o Ministério Público e o Juizado da Infância e da Adolescência. Também trata do assunto a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), no seu

Título III, Capítulo IV, “Da Proteção do Trabalho do Menor”, alterada pela Lei da Aprendizagem (Lei nº 10.097 de 19 de dezembro de 2000).

O ECA proíbe o trabalho de crianças e adolescentes nas seguintes condições: (a) noturno, realizado entre 22 horas de um dia e 5 horas do dia seguinte; (b) perigoso, insalubre ou penoso; (c) realizado em locais prejudiciais à sua formação e ao seu desenvolvimento físico, psíquico, moral e social e (d) realizado em horários e locais que não permitam a frequência à escola (ALBERTO et al., 2010).

(21)

anos e os direitos trabalhistas e previdenciários ao adolescente-aprendiz, maior de 14 anos (ALBERTO et al., 2010).

(22)

Quadro 1. Marco histórico de luta e erradicação contra trabalho infantil.

ANO EVENTO RESULTADOS

1919 1ª Conferência Internacional do Trabalho Idade Mínima para inserção de crianças e adolescentes no “mundo do

trabalho”.

1930 1ª Convenção sobre o trabalho forçado

1973 Convenção sobre a idade para ingresso no

trabalho

1989 Declaração Universal dos Direitos da Criança Consagrou a doutrina de proteção integral e de prioridade absoluta aos direitos da infância.

1992 Programa Internacional para a Eliminação do

Trabalho Infantil (IPEC)

1997 Conferências Internacionais de Amsterdam e Oslo Conscientização internacional sobre o problema do trabalho infantil e a necessidade de estratégias futuras.

1998 Adoção da Declaração relativa aos princípios e direitos fundamentais no trabalho.

Os países membros da OIT se comprometem a respeitar e promover os princípios de: liberdade sindical, abolição do trabalho forçado, eliminação da discriminação no local de trabalho e eliminação do trabalho infantil.

1999 Adoção da Convenção sobre as piores formas de

trabalho infantil (C.182)

Alerta para a necessidade de ações mundiais imediatas para erradicar todas as formas de trabalho infantil perigosas ou que prejudiquem o bem-estar físico, mental ou moral das crianças. Ratificada por 9 de cada 10 países membros da OIT.

2002 Publicação do primeiro relatório mundial sobre trabalho infantil da OIT

Mais de 80 países têm o apoio da OIT na formulação de seus programas contra o trabalho infantil.

2004 1º Estudo mundial da OIT sobre custos e

benefícios da eliminação do trabalho infantil

Indicou que os benefícios para a erradicação do Trabalho infantil superam os custos na proporção de 6 para 1.

2006 2ª Relatório Mundial sobre o Trabalho Infantil Apontou a redução do trabalho infantil em todo o mundo, lança uma campanha mundial para eliminar as piores formas de trabalho infantil até 2016.

2008 Declaração sobre a justiça social para uma globalização equitativa,

Reconhece a especial importância dos direitos fundamentais, incluindo a abolição efetiva do trabalho infantil.

2009 Pacto Mundial para o Emprego Os 183 países membros da OIT adotam por unanimidade o como um guia

para a recuperação da crise econômica. O Pacto apela para que seja aumentada a vigilância da eliminação e prevenção do trabalho forçado, do trabalho infantil e da discriminação no trabalho.

2010 3º Relatório Global sobre Trabalho Infantil Adverte que o ritmo e características do progresso não são

suficientemente rápidos para cumprir o prazo de eliminar as piores formas de trabalho infantil até 2016.

2010 Conferência mundial sobre trabalho infantil de Haia Avaliar o progresso em direção à meta de 2016 e a ratificação das Convenções 138 e 182.

Fonte: 3º Relatório Mundial da OIT (2010)

Dentre os dispositivos elencados no Quadro 1, destaca-se como grande marco no Brasil a implantação do Programa Internacional para a Eliminação do Trabalho Infantil (IPEC,1992), uma vez que, por meio deste dispositivo, o trabalho infantil adquiriu status de questão social, tornando-se objeto de esforços específicos, articulados e significativos, desempenhados através de parcerias estabelecidas entre organizações governamentais e não-governamentais, órgãos multilaterais, entidades da sociedade civil e até mesmo por instituições do setor privado (OIT, 2010).

(23)

a) todas as formas de escravidão ou práticas análogas à escravidão, como vendas e tráfico de crianças, sujeição por dívida e servidão, trabalho forçado ou compulsório, inclusive recrutamento forçado ou compulsório de crianças para serem utilizadas em conflitos armados;

b) utilização, procura e oferta de criança para fins de prostituição, de produção de material ou espetáculos pornográficos;

c) utilização, procura e oferta de crianças para atividades ilícitas, particularmente para produção e tráfico de drogas, conforme definidos nos tratados internacionais pertinentes;

d) trabalhos que, por sua natureza ou pelas circunstâncias em que são executados, são suscetíveis de prejudicar a saúde, a segurança e a moral da criança.

A Convenção 182 da OIT (1999) estabelece ainda que cada país signatário deve elaborar a descrição dos trabalhos que por sua natureza ou pelas condições em que são executados, podem prejudicar a saúde, a segurança ou a moral das crianças e portanto devem ser proibidos.

No que concerne à área de Saúde, o Ministério da Saúde elaborou a Política Nacional de Saúde para Erradicação do Trabalho Infantil e Proteção do Trabalhador Adolescente (SILVEIRA; SILVA, 2006). Como desdobramento, pode-se destacar a elegibilidade de crianças e adolescentes acidentadas no trabalho, como evento passível de notificação compulsória, segundo a portaria MS/GM n.º 777, de 28 de abril de 2004.

Cabe mencionar que, o governo brasileiro aprovou o Decreto nº 6.481, de 12 de junho de 2008, que define a Lista das Piores Formas de Trabalho Infantil (Lista TIP), anteriormente descrita pela Portaria 20/2001 da Secretaria de Inspeção do Trabalho, do Ministério do Trabalho e Emprego – MTE. O Decreto estabelece que a Lista TIP será revista periodicamente, se necessário, mediante consulta com as organizações de empregadores e trabalhadores interessadas.

(24)

2.4 DETERMINANTES SOCIAIS DO TRABALHO INFANTIL

Na perspectiva das populações em situação de precariedade econômica e social, observa-se uma importante vulnerabilidade e desqualificação social que, não raras vezes, evolui para um estado de exclusão propriamente dita. A pobreza intensa, além da carência de bens materiais, coloca o indivíduo numa realidade de vulnerabilidade e degradação. Os pobres são cidadãos incompletos e os excluídos não são cidadãos. Portanto, há uma diferença substancial entre o pobre que está incluído no mercado de trabalho, embora com baixos e injustos salários, e o excluído deste mercado. Um dos grandes problemas que enfrenta o Brasil é, sem dúvida, o desemprego crescente e, portanto, o aumento da vulnerabilidade e de situações de exclusão de um número, também crescente, de grande parte da população. O desemprego permanente, as dificuldades de inserção profissional e a desqualificação social são experiências muito humilhantes e perigosas(BRASIL, 2005).

Os determinantes do trabalho infantil se referem às razões que levam uma criança e adolescentes a disponibilizar mão de obra no mercado de trabalho. É consenso na literatura que a oferta de trabalho por crianças e adolescentes é motivada por um conjunto de fatores relacionados às características da família e outras externas ao domicílio (GUEDES FILHO et al., 2013).

Ao se remeter a essa problemática, devem ser considerados fatores políticos, econômicos e sociais. Acredita-se que, em parte, esse fenômeno seja explicado pelas condições de renda da família. No entanto, outros afirmam que a entrada da criança no mercado de trabalho também está fortemente associada às condições do próprio mercado de trabalho, às expectativas de retornos futuros e às demais características sociais e econômicas (GUEDES FILHO et al., 2013).

(25)

O trabalho infantil deve ser encarado como um fenômeno social complexo e sujeito a múltiplos determinantes, de distintas naturezas e que podem ser observados através de duas

perspectivas complementares, a da “oferta” de mão-de-obra infantil, ou seja, por quais

motivos as crianças começam a trabalhar desde cedo, e a da “demanda”, relacionada às razões

pelas quais o mercado procura e absorve as crianças como força de trabalho (ALBERTO et al., 2010).

Na perspectiva da “oferta” de trabalho pelas crianças, cinco fatores podem ser destacados: 1)

a pobreza, que obriga as famílias a ofertar a mão-de-obra dos filhos pequenos, fazendo com que o trabalho infantil seja necessidade econômica de manutenção da família; 2) a ineficiência do sistema educacional brasileiro, que torna a escola desinteressante para os alunos e não atrai o estudante para as aulas; 3) o sistema de valores e tradições da nossa sociedade, fortemente

marcado pela “ética do trabalho”; 4) o desejo de muitas crianças de trabalhar desde cedo e 5)

a falta de universalização de algumas políticas de atendimento aos direitos de crianças, adolescentes e suas famílias (ALBERTO et al., 2010).

2.4.1) A pobreza como determinante do trabalho infantil

A pobreza até 1990 era considerada o principal fator associado ao trabalho infantil em âmbito mundial, devido ao fato de maior parte dos pobres serem crianças. Acrescenta-se que estas vivenciam de modo particular a pobreza, sendo um dos grupos sociais mais afetados por ela. As crianças que vivem nesta situação sofrem uma privação de recursos materiais, espirituais e emocionais necessários para sobreviver, desenvolver-se e prosperar, o que lhes impede de usufruir de seus direitos, e alcançar seu pleno potencial e participar como membros plenos e em iguais condições na sociedade (UNICEF, 2012).

Afirma-se que famílias com baixa renda buscam realocar o seu tempo no intuito de garantir o consumo e a subsistência de todos os membros. Entretanto, constatou-se que a maior incidência de trabalho na infância ocorre em países com menor nível de renda. No entanto, os autores destacam que a pobreza só é motivadora da oferta de trabalho infantil em crianças mais novas, e à medida que crescem, o desejo por um consumo mais sofisticado é o que move esse tipo de trabalho (GUEDES FILHO et al., 2013).

(26)

situação de extrema pobreza. Os dados apontam que quase 40% das pessoas menores de 18 anos em situação de trabalho não estão em famílias que vivem abaixo da linha de pobreza. Outro fator novo é que a maior parte da população infanto-juvenil em atividades remuneradas frequenta a escola simultaneamente.

Dessa forma, se a pobreza era considerada em 1990 um dos determinantes do trabalho infantil, a partir de 2010 essa relação ficou menos direta, muitos adolescentes não trabalham para garantir a sobrevivência de suas famílias, mas para aceder a bens de consumo tais como tênis, roupas de marca, videogames, celulares, ou fazer atividades de cultura e lazer, como shows, cinema e viagens (REPÓRTER BRASIL, 2011).

São aspirações materiais que nem suas famílias e nem os programas de transferência de renda podem satisfazer. Eles entram no mercado de trabalho, muitas vezes, em empregos precários e informais em busca de inclusão social, autonomia e independência econômica. Mas vale ressaltar que por mais que essas famílias prescindam dos rendimentos desses adolescentes para o sustento familiar, isso não significa que não sejam de baixa renda (REPÓRTER BRASIL, 2011).

Apesar de a pobreza estar entre os principais fatores associados ao trabalho infantil, é também um determinante em certo ponto controverso. Se por um lado, diversos estudos apontam que sob maiores níveis de renda há menor probabilidade de uma criança entrar no mercado de trabalho (dedicando-se à educação e à acumulação de capital humano), por outro, em outros estudos as evidências empíricas indicam que a relação entre trabalho infantil e renda não é tão clara (GUEDES FILHO et al., 2013).

Os referidos autores acrescentam em níveis macroeconômicos, que um aumento da renda per capita tende a ser acompanhado por uma redução no nível de trabalho infantil, a exemplo de países como China, Tailândia e Índia, regiões historicamente conhecidas pela elevada proporção de crianças trabalhando, mas que com o aumento do PIB, assim como do PIB per capita, passaram a apresentar menores índices de trabalho infantil. Por outro lado, analisando a área rural de Gana e do Paquistão, foi observado que famílias mais ricas, detentoras de terras, tendem a incentivar seus filhos a trabalharem ainda crianças com o intuito de ampliar a produtividade da terra.

[…] Por isso, a pobreza infantil já não pode ser analisada, exclusivamente, mas através de

(27)

conformam e caracterizam o modo particular através do qual as crianças a vivenciam (UNICEF, 2012, p.45).

2.4.2) A ineficiência do sistema educacional Brasileiro, que torna a escola desinteressante.

A literatura frequentemente aborda a relação de “trade-off” entre trabalho e educação, sendo a educação vista como meio de acumulação de capital humano. Assim, ao entrar no mercado de trabalho na infância, a criança estaria abrindo mão de capital humano. Estudos econômicos buscam, portanto, analisar as preferências das crianças, de modo a entender as razões que fazem uma criança ofertar mão de obra em detrimento de educação (GUEDES FILHO et al., 2013).

Em relação à educação, a visão dominante até 1990 era a de que ela deveria ser orientada pela perspectiva econômica que legitimava o trabalho infantil, como forma de fazer a criança

“aproveitar o tempo útil”, ensinando-lhe ao mesmo tempo “uma profissão” e “o valor do trabalho”. Assim, as situações de trabalho infantil, nas quais os abusos e a exploração eram evidentes, não eram visualizadas como problema, mas como uma violação dos direitos de crianças e adolescentes. Tal concepção manteve milhões de crianças e adolescentes ligados a atividades que, além de marginalizá-los de toda possibilidade de desenvolvimento físico, psíquico e espiritual, reproduziam todos os vícios de uma sociedade desigual e excludente (BRASIL, 2010a).

Acrescenta-se ao fato de que as crianças e adolescentes que apresentam uma dupla jornada (trabalham e estudam) apresentam altos níveis de defasagem escolar, sobretudo os que exercem atividades remuneradas, submetidos às longas jornadas de trabalho e pouco tempo para dedicarem-se aos estudos e lazer. Enfim há grandes chances de haver implicações negativas na vida das crianças e adolescentes que estão nesta condição (ALBERTO et al., 2011).

(28)

que não remunerada. Além disso, afirma-se que apesar de trabalho e escola não se mostrarem atividades excludentes, o fato de a criança trabalhar é determinante na decisão de largar os estudos (GUEDES FILHO et al., 2013).

Pesquisa realizada por Alberto et al. (2011), buscou verificar a relação entre o Trabalho Infantil Doméstico o processo de escolarização na cidade de João Pessoa-PB, revelou que 80,0% dos participantes apresentavam repetência escolar e 85,0% defasagem escolar; que o maior motivo da repetência era a dificuldade com a estrutura escolar. Conclui-se, então, que há implicações do trabalho executado no processo de escolarização, sendo a relação entre trabalho doméstico e processo de escolarização de influência mútua.

Menezes-Filho et. al. (2009) analisaram as variáveis que impactam no aprendizado da criança a partir dos resultados da Prova Brasil, realizada em 2007, e do Saresp (Sistema de Avaliação do Rendimento Escolar do Estado de São Paulo), realizado em 2008. Os autores verificam que as características inerentes ao aluno, aos pais e à escola são conjuntamente determinantes do desempenho escolar das crianças nos exames de proficiência. Dentre as características dos alunos, os autores destacam que a entrada cada vez mais cedo no sistema de ensino gera benefícios em termos de aprendizado e que o fato de o aluno trabalhar tem relação negativa e significante com sua nota na prova. Isto é, os alunos que trabalhavam apresentaram, em média, desempenho pior nas provas de proficiência, em comparação com os que não trabalhavam.

Nesta perspectiva, o governo federal vem desenvolvendo programas, a exemplo do Mais Educação do MEC que busca ampliar a jornada em escolas públicas para um mínimo de 7 horas diárias (REPÓRTER BRASIL, 2011).

(29)

Para retirada de crianças e adolescentes dos cenários de trabalho é realmente necessário que se tenha uma escola atraente, acolhedora, que encante meninos e meninas e promova uma educação completa, com atividades esportivas, culturais, de lazer (CENTRAL ÚNICA DOS TRABALHADORES - CUT, 2012).

2.4.3) O sistema de valores e tradições da nossa sociedade, fortemente marcado pela "cultura do trabalho" e o desejo de muitas crianças de trabalhar desde cedo.

Até a década de 1980, havia um certo “consenso” na sociedade brasileira em torno da compreensão de que o trabalho era um fator positivo para crianças que, dada sua situação econômica e social, viviam em condições de pobreza, de exclusão e de risco social. Tanto a elite como as classes mais pobres compartilhavam plenamente essa forma de justificar o trabalho infantil (BRASIL, 2011a).

Essa concepção, cuja influência atualmente diminuiu, mas que ainda persiste em muitos setores da sociedade se expressa na reprodução acrítica, muitas vezes, de que o trabalho dignifica o ser humano, molda o caráter, portanto, é benéfico às crianças e adolescentes. O trabalho infantil é utilizado em larga escala por se tratar de uma mão-de-obra barata, dócil e disciplinada, não estando separada das estratégias globais de precarização das condições de vida dos trabalhadores e da redução do custo do trabalho (BRASIL, 2010a).

Na realidade, crianças e adolescentes também trabalham, em grande parte, em razão dos mitos criados em torno do trabalho infantil, decorrentes de uma cultura de concordância que legitima e reproduz a exploração e exclusão social. Esses mitos culturais produzidos ao longo de gerações apresentam relação com a legitimação da exploração da mão-de-obra de milhões

de crianças e adolescentes. Seguem algumas situações ilustrativas: “o trabalho de crianças e

adolescentes ajuda a família! ”, “É melhor trabalhar do que ficar nas ruas! ”, “É melhor

trabalhar do que roubar! ”, “A criança e ao adolescente que trabalha fica mais esperto! ”,

“Quem começa a trabalhar cedo garante o futuro! ” (BRASIL, 2010a).

(30)

desenvolvimento. Estes fatores são uma fonte de desgaste e podem afetar o desenvolvimento emocional, cognitivo e físico desses sujeitos (SILVEIRA, 2007).

2.4.4) A falta de universalização de algumas políticas de atendimento aos direitos de crianças, adolescentes e suas famílias

Os fatores que contribuem para a existência do trabalho infantil na sociedade atual são agravados pela incapacidade do Estado de assegurar a garantia dos direitos civis desses sujeitos em processo de desenvolvimento.

Para atingir as metas de erradicação assumidas internacionalmente considera-se como fundamental uma atuação articulada por parte do poder público. Há ampla defesa de uma integração entre diferentes setores para o desenvolvimento de ações intersetoriais (BRASIL, 2011a).

O trabalho infantil é a antítese do trabalho decente, pois não permite a qualificação profissional, a organização sindical, nem qualquer outra forma de representação. As condições de trabalho são penosas, os salários, muito baixos, além de apresentar péssimas condições de Saúde, jornada exaustiva, atividades perigosas. É, ainda, um trabalho dócil e de fácil manipulação.

2.5 AS IMPLICAÇÕES DO TRABALHO PARA VIDA DE CRIANÇAS E

ADOLESCENTES

O Estatuto da Criança e do Adolescente, em seu Artigo 67, Inciso III, proíbe o trabalho realizado em locais prejudiciais à formação e ao desenvolvimento físico, psíquico, moral e social.

(31)

Nas condições socioeconômicas, o trabalho pode trazer reflexos na precarização das relações de trabalho, na remuneração inferior e exploração do trabalho, na redução das oportunidades de emprego e na ocupação e inserção profissional aos adultos (BRASIL, 2010b).

No âmbito educacional ressalta-se que as situações de trabalho produzem um efeito negativo sobre a educação infanto-juvenil, inclusive porque a associação do trabalho com a escola, muitas vezes, representa uma sobrecarga para ambos, o que pode ocasionar o abandono da escola, bem como implicações no rendimento escolar. Crianças e adolescentes, geralmente, realizam suas atividades em detrimento da educação, o que acresce no número de trabalhadores com qualificação educacional insuficiente para as exigências do mercado de trabalho. O trabalho infantil impacta diretamente no acesso às oportunidades e no desempenho escolar com qualidade. O trabalho de crianças e adolescentes também pode ocorrer em exposição à insalubridade, à periculosidade e às doenças, violando e retardando o desenvolvimento físico, psíquico e cognitivo (ZADRA, 2008).

Como consequências físicas, as crianças são submetidas a esforços, muitas vezes, incompatíveis com o seu peso e estatura, provocando lesões graves e doenças que carregarão para o resto de suas vidas. Como estão em processo de desenvolvimento, crianças e adolescentes são mais vulneráveis às condições de trabalho. Por terem capacidade de resistência limitada, sujeitam-se à fadiga, ao envelhecimento precoce, ao cansaço, à maior ocorrência de doenças decorrentes da exposição às árduas condições climáticas ou de realização de atividades repetitivas (BRASIL, 2010b).

Em relação às implicações do trabalho na saúde de crianças e adolescentes, a maioria das crianças sofre também de má nutrição, devido à ingestão de comidas inadequadas, que baixam sua resistência e as tornam ainda mais vulneráveis às doenças. A prevalência de anemia, nutrição pobre e longas horas de trabalho facilitam a redução da capacidade de trabalho de crianças. A fadiga também contribui para a frequência de acidentes e enfermidades (MORAIS, 2008).

(32)

Em relação a problemática, dados do Ministério da Saúde apontam que 5,3% das crianças e adolescentes que estavam trabalhando sofreram acidente de trabalho ou apresentaram doença laboral . Esse dado causa inquietação, pois entre os trabalhadores adultos com carteira assinada, a proporção de acidentados no mesmo ano foi bastante inferior (2,0%) (MEDEIROS NETO: MARQUES, 2013).

De fato, as crianças estão muito mais expostas aos riscos no trabalho do que os adultos, uma vez que, em seu peculiar estágio de desenvolvimento, suas capacidades ainda estão em processo de formação, e a natureza e as condições em que as atividades laborais ocorrem são frequentemente insalubres e inadequadas do ponto de vista ergonômico (MEDEIROS NETO: MARQUES, 2013).

Em relação aos efeitos psicológicos destaca-se que o trabalho infantil obriga crianças e adolescentes a assumirem responsabilidades incompatíveis com as etapas de seu desenvolvimento. Isso interfere, na autoestima das crianças, e faz com que tenham dificuldades de estabelecer vínculos afetivos em razão da exploração a que foram submetidas. Essa exploração abrange formas de violência, tais como maus-tratos e adultização (ZADRA, 2008).

As consequências psicológicas podem ser muito graves, pois exigem-se das crianças e adolescentes no mundo do trabalho comportamentos próprios de adultos (substituindo as etapas essenciais do desenvolvimento) tais como o amadurecimento precoce, a perda da capacidade lúdica, que pode gerar desequilíbrios na fase adulta, limitação do direito de brincar e da manifestação do lúdico, que são essenciais para o desenvolvimento da afetividade (BRASIL, 2010b).

(33)

2.6 CENÁRIOS, HISTÓRICO E CONTEXTOS DOS PROGRAMAS DE

TRANSFERÊNCIAS DE RENDA

Apesar de crianças e adolescentes brasileiros terem seus direitos assegurados nos marcos normativos do País, a realidade mostra que muitos ainda são expostos às suas diversas formas de violação, com sua cidadania comprometida pelo silêncio e pela convivência de uma parte da sociedade, que ainda se omite (BRASIL, 2010b).

A exploração do trabalho infantil é um fenômeno social inequívoco de profunda violação de direitos, que vem se configurando com faces complexas, uma vez que representa grande diversidade em termos de incidência regional, expressão de suas formas, gênese e dos grupos sociais que atinge. Esse tipo de exploração insere-se num contexto de vulnerabilidade que tem por expressão imediata a violação dos direitos humanos de crianças e adolescentes. Por isso, requer políticas públicas voltadas para o atendimento integral, visando garantir o pleno desenvolvimento humano (BRASIL, 2010b).

Compreende-se por política social como sendo um conjunto de programas e ações do Estado, que se manifestam na oferta de bens e serviços e transferência de renda, com o objetivo de atender as necessidades e os direitos sociais que afetam os vários componentes das condições básicas de vida da população, até mesmo aqueles que dizem respeito a pobreza e a desigualdade (BRASIL, 2011b).

Assim, a assistência social é parte integrante da seguridade social responsável por garantir alguns direitos e acessos das populações vulneráveis a uma série de serviços e as transferências, ressalta-se que no campo de prestação de serviços, ainda está em processo de consolidação, sendo a implementação do Sistema Único da Assistência Social (SUAS) uma tentativa de enfrentamento de seus problemas crônicos como o subfinanciamento e necessidade de maior regulação e produção estatal para que a cobertura se estenda ao campo de prestação de serviços, (BRASIL, 2011b).

Cresceram assim, no âmbito do SUAS, os gastos sociais as áreas de assistência social e de trabalho e renda, consequência direta da drástica reformulação destas políticas públicas.

(34)

recentemente, entrou em curso nova ampliação com a criação do Bolsa Família e a implementação do Sistema Único da Assistência Social (SUAS) (BRASIL, 2011b)

O Programa Bolsa Família (PBF), foi criado em outubro de 2003. Destaca-se que há dez anos o PBF era regulamentado pela Lei no 10.836, de 9 de janeiro de 2004, e pelo Decreto no 5.209, de 17 setembro de 2004. A constituição do programa era um marco nas políticas públicas, tendo em vista ser a primeira vez que se desenhava uma política pública nacional voltada ao enfrentamento da pobreza, visando garantir o acesso de todas as famílias pobres não apenas a uma renda complementar, mas a direitos sociais. O programa surgia como estratégia integrada de inclusão social e de desenvolvimento econômico. Um modelo de desenvolvimento com inclusão, que se assentava em um conjunto relevante de iniciativas, tais como: a política de valorização real do salário mínimo, os programas de fortalecimento da agricultura familiar, a defesa e proteção do emprego formal e a ampliação da cobertura previdenciária (BRASIL, 2013a).

O Bolsa Família tinha como objetivo contribuir para a inclusão social de milhões de famílias brasileiras premidas pela miséria, com alívio imediato de sua situação de pobreza e da fome. Além disso, também almejava estimular um melhor acompanhamento do atendimento do público-alvo pelos serviços de saúde e ajudar a superar indicadores ainda dramáticos, que marcavam as trajetórias educacionais das crianças mais pobres: altos índices de defasagem idade-série. Pretendia, assim, contribuir para a interrupção do ciclo intergeracional de reprodução da pobreza (BRASIL, 2013a).

Atualmente, o programa atende a cerca de 13,8 milhões de famílias em todo o país, o que corresponde a um quarto da população brasileira, contando com um sólido instrumento de identificação socioeconômica, o Cadastro Único. O Bolsa Família e o Cadastro Único são importantes para garantir a melhoria das condições de vida das famílias mais pobres do Brasil e constituem, portanto, iniciativas prioritárias do Plano Brasil Sem Miséria. A gestão é descentralizada, com a parceria entre o Governo Federal, estados, municípios e o Distrito Federal (BRASIL, 2013b).

Desde sua instituição, o PBF é um programa de transferência de renda, com um benefício para as famílias em extrema pobreza e outros relacionados à presença de crianças em famílias pobres. Ou seja, o programa emprega dois recortes de renda para a concessão de benefícios –

(35)

pobreza, tem sua elegibilidade definida tão somente pela insuficiência de renda, estando desvinculado de qualquer composição familiar, como a presença de crianças ou de condicionalidades (BRASIL, 2013a).

O PBF tem seu respaldo em monitoramento das condicionalidades assumidas pela população, que dizem respeito a compromissos assumidos pelas famílias beneficiárias do programa quanto pelo poder público para ampliar o acesso a seus direitos fundamentais básicos, isto é, por um lado as famílias devem assumir os compromissos, por outro as condicionalidades responsabilizam o poder público pela oferta de serviços públicos de saúde, educação e assistência social (BRASIL, 2013b).

As condicionalidades do programa abrangem a educação, a saúde e a assistência social. Na educação elas dizem respeito a: matricular as crianças e adolescentes de 6 a 15 anos em estabelecimento regular de ensino; garantir a frequência escolar de no mínimo 85% da carga horária mensal do ano letivo, informando sempre à escola em casos de impossibilidade do comparecimento do aluno à aula e apresentando a devida justificativa; e informar de imediato ao setor responsável pelo PBF no município, sempre que ocorrer mudança de escola e de série dos dependentes de 6 a 15 anos, para que seja viabilizado e garantido o efetivo acompanhamento da frequência escolar. Na área da saúde para gestantes e nutrizes:

inscrever-se no pré-natal e comparecer às consultas na unidade de saúde mais próxima da residência, portando o cartão da gestante, de acordo com o calendário mínimo do Ministério da Saúde; participar das atividades educativas ofertadas pelas equipes de saúde sobre aleitamento materno e promoção da alimentação saudável. Para os responsáveis pelas crianças menores de 7 anos: levar a criança às unidades de saúde ou aos locais de vacinação e manter atualizado o calendário de imunização, conforme diretrizes do Ministério da Saúde; levar a criança às unidades de saúde, portanto o cartão de saúde da criança, para a realização do acompanhamento do estado nutricional e do desenvolvimento e outras ações, conforme calendário mínimo do Ministério da Saúde. Na assistência social, as condicionalidades dizem respeito à participação nos programas socioassistenciais (BRASIL, 2013b).

(36)

como objetivos Brasil (2010b): racionalização e aprimoramento dos processos de gestão do Programa Bolsa Família e do PETI, ampliação da cobertura do atendimento das crianças e adolescentes em situação de trabalho infantil e extensão das ações dos Serviços de Convivência e Fortalecimento de Vínculos para crianças e/ou adolescentes do Programa Bolsa Família em situação de trabalho infantil.

O PETI compõe o Sistema Único de Assistência Social (SUAS) e tem três eixos básicos: (a) transferência direta de renda a famílias com crianças ou adolescentes em situação de trabalho, (b) serviços de convivência e fortalecimento de vínculos (SCFV) para crianças/adolescentes até 16 anos e (c) acompanhamento familiar através do Centro de Referência de Assistência Social (CRAS) e Centro de Referência Especializado de Assistência Social (CREAS) (BRASIL, 2013a).

O Programa reconhece a criança e adolescente como sujeito de direito, protege-os contra as formas de exploração do trabalho e contribui para seu desenvolvimento integral. Com isso, o PETI oportuniza o acesso à escola formal, saúde, alimentação, esporte, lazer, cultura, bem como a convivência familiar e comunitária (BRASIL, 2013a)

O enfrentamento ao trabalho infantil, coordenado pelo PETI é potencializado nos Serviços de Convivência e Fortalecimento de Vínculos (SCFV), que integra a Proteção Social Básica (Resolução CNAS Nº 01/2013) o trabalho social com as famílias, por meio dos serviços continuados do PAIF e Centros de Referência de Assistência Social.

O trabalho continuado com as famílias também deve ocorrer através do PAEFI/CREAS (Serviço de Proteção e Atendimento Especializado a Famílias e Indivíduos), ofertados nos Centros de Referência Especializada da Assistência Social (CREAS).

Outro eixo do PETI é a transferência de renda, que deve garantir, sobretudo no Cadastro Único e inclusão da família no programa Bolsa Família, a realização e busca ativa das crianças e adolescentes em situação de trabalho pelo Serviço Especializado de Abordagem Social (ofertado pelos CREAS e Centro Pop), e pelas equipes volantes (vinculadas ao CRAS) (BRASIL, 2013a).

(37)

Nacional de Assistência Social FNAS e o Fundo de Amparo ao Trabalhador – FAT (BRASIL, 2013a).

 Redesenhando o PETI: mudanças de cenário

A secretaria nacional de assistência demonstra que no momento o PETI está passando por mudanças que buscam modernizar as estratégias de enfrentamento, qualificando as ações da assistência social e potencializando a intersetorialidade. Congregar esforços dos entes federados, das diversas políticas, órgãos de defesa de direitos, sociedade civil e organismos internacionais será fundamental para o enfrentamento, pelo Brasil, deste cenário do trabalho infantil (BRASIL, 2013).

Para melhor compreensão desse processo de mudança, intensificou-se em abril de 2013, com a resolução nº 08 que dispõe sobre ações estratégicas do Programa de Erradicação do Trabalho Infantil – PETI no âmbito do Sistema Único da Assistência Social – SUAS, ocorreram modificações na configuração do Programa que foram respaldadas no CENSO 2010 do IBGE, no qual possibilitou atualizar o cenário do trabalho infantil permitindo a elaboração de um diagnóstico mais preciso da realidade dos territórios e de atividades predominantes.

Os resultados desse Censo (2010) possibilitaram a construção do perfil das crianças e adolescentes em condição de trabalho, revelaram ainda que ocorreu uma expressiva diminuição do trabalho infantil no Nordeste, embora se tenha verificado uma ampliação no Norte e Centro-Oeste e elevada concentração nas regiões Sul e Sudeste. Observa-se também um aumento do trabalho infantil nas regiões metropolitanas.

Constatou-se pelo referido censo que o Brasil chega ao “núcleo duro” do trabalho infantil isto

é onde a incidência encontra-se em atividades produtivas desenvolvidas em empreendimentos informais, familiares, em territórios urbanos e rurais. Tais atividades são desenvolvidas em locais fora do alcance dos órgãos de fiscalização, exigindo a construção de novas estratégias e de ações intersetoriais no processo de erradicação do trabalho infantil (BRASIL, 2013a).

(38)
(39)

3. OBJETIVOS

3.1 OBJETIVO GERAL

Investigar a relação existente entre trabalho infantil na faixa etária de 10 a 13 anos e alguns indicadores socioeconômicos no Brasil em 2010, destacando os programas de transferência de renda e de combate ao trabalho infantil.

3.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS

a) Investigar a relação existente entre trabalho infantil na faixa etária de 10 a 13 anos e os recursos do programa Bolsa Família e do Programa de Erradicação do trabalho infantil (PETI).

b) Investigar a relação existente entre trabalho infantil na faixa etária de 10 a 13 anos e indicadores de desenvolvimento humano e qualidade de vida;

c) Investigar a relação existente entre trabalho infantil na faixa etária de 10 a 13 anos e indicadores de educação, renda e pobreza; e

(40)

4. MÉTODO

4.1 CARACTERÍSTICAS DA PESQUISA

Trata-se de uma pesquisa quantitativa, cujo desenho de estudo é o ecológico, no qual as variáveis expressam propriedades de grupos. Neste estudo, os níveis de análise são os municípios brasileiros e a variável dependente é a taxa de trabalho infantil na faixa etária de 10 a 13 anos, no período de 2010.

Os estudos ecológicos são frequentemente realizados combinando-se bases de dados referentes a grandes populações. Nesta perspectiva, procuram avaliar como os contextos sociais e ambientais podem afetar a saúde de grupos populacionais (MEDRONHO et al., 2009). Assim, uma área ecológica pode estar sintetizando um enorme conjunto de variáveis e processos em um alto grau de complexidade, aproximando este tipo de estudo à realidade social concreta (BARRETO; ALMEIDA FILHO, 2011).

Quanto à posição do observador, trata-se de um estudo agregado de base territorial e observacional. Em relação ao seu papel, trata-se de um estudo passivo, com mínimas interferências nos objetos concretos estudados, uma vez que foram utilizados dados secundários. Finalmente, no que diz respeito à temporalidade do estudo, trata-se de uma pesquisa transversal.

O estudo foi realizado com dados secundários agregados, com os municípios brasileiros. Entretanto, não foram utilizados os 5565 municípios que compõem o território, mas 161 regiões que foram definidas a partir de critérios socioeconômicos pelo IBGE e denominadas Regiões de Articulação Urbana (IBGE, 2013). Este procedimento foi necessário devido à existência de municípios de pequeno porte, onde poucos casos poderiam tornar a taxa artificialmente alta ou artificialmente baixa.

Imagem

Figura 1. Divisão socioeconômica baseada em áreas de articulação urbana. Linhas em cinza
Figura 2. Mapa Conceitual do Trabalho Infantil com os Indicadores Socioeconômicos
Tabela 1. Estatísticas descritivas das variáveis do estudo. Brasil, 2010.
Tabela 2. Matriz de Correlação para as variáveis utilizadas no estudo. Brasil, 2010.
+5

Referências

Documentos relacionados

No entanto, maiores lucros com publicidade e um crescimento no uso da plataforma em smartphones e tablets não serão suficientes para o mercado se a maior rede social do mundo

Para evitar danos ao equipamento, não gire a antena abaixo da linha imaginária de 180° em relação à base do equipamento.. TP400 WirelessHART TM - Manual de Instrução, Operação

O relatório encontra-se dividido em 4 secções: a introdução, onde são explicitados os objetivos gerais; o corpo de trabalho, que consiste numa descrição sumária das

A significância dos efeitos genéticos aditivos e dos efeitos da interação, envolvendo os qua- tro testes de progênies foi avaliada pela análise de LTR, que foi significativa para

Por isso, este trabalho visa comparar os resultados obtidos em um monitoramento de um sistema anaeróbio com reator de bancada, mas operado com as condições reais

No primeiro caso, significa que as normas são criadas na tentativa de elaboração de um sistema coerente de justiça e equidade; no segundo, impõe ao magistrado o dever de interpretar

Cada vez mais a vida humana está implicada na política, o que torna a política moderna uma biopolítica. Na biopolítica, a exceção tende a ser utilizada como técnica eficiente

Fonte: elaborado pelo autor, 2018. Cultura de acumulação de recursos “, o especialista E3 enfatizou que “no Brasil, não é cultural guardar dinheiro”. Ainda segundo E3,..