Processo: 0609754-91.2021.8.04.0001.
Reclamante e Denuncite: Maurício Wilker de Azevedo Barreto e outro.
Reclamado e Requerido: Wilson Miranda Lima e outros.
DECISÃO
Trata-se de Pedido de Reconsideração suscitado pela empresa RICO TÁXI AÉREA e pelo Estado do Amazonas em face da decisão interlocutória de fls. 51/60, que concedeu tutela de urgência para o fim de suspender a homologação do Pregão Eletrônico n.º 1.032-CSC, referente ao serviço de fretamento em aeronve tipo Jato Executivo em prol do Governo do Estado.
Em síntese, defende a empresa Requerida que inexiste violação ao Decreto Estadual n.º 43.146/2020, uma vez que a locação de aeronaves para o transporte de autoridades já é realizada há décadas pela Administração, não se configurando como “novos serviços”.
O Estado do Amazonas, por sua vez, destaca a importância do fretamento aéreo no apoio logístico de transportes de ações diversas, inclusive aquelas ligadas à pandemia do COVID-9, e reitera a prestação contínua dos mesmos serviços nos anos que antecederam a homologação do certame.
Em manifestação do autor da ação, às fls.
204/205, defende-se que a locação da aeronave não tem qualquer relação ao enfrentamento da emergência decorrente da pandemia da covid-19.
É o sucinto relato, no essencial.
Das Razões de Convencimento.
Compulsando os documentos juntados pelo Estado do Amazonas, percebe-se que, de fato, o serviço de fretamento aéreo no âmbito no Estado do Amazonas não é inédito ao Pregão Eletrônico n.º 1.032-CSC. A bem da verdade, vem sendo prestados há decádas de maneira irregular, sem a formalidade do procedimento licitatório prévio e sob a modalidade indenizatória, mediante reconhecimento de dívida.
A título de exemplo, as seguintes Notas de Empenho, expedidas nos últimos cinco anos, demonstram que o serviço de locação de aeronaves é utilizado diversas vezes ao longo de cada exercício, gerando despesas sem prévia contratação. Vejamos:
NE’s de 2014:
12/03/2014 (fl. 134) – ref. 05.Out/2013-05.abril/2014 01/08/2014 (fl. 136) – ref. Jun/2014
25/09/2014 (fl. 137) – ref. Abril-set/2014 02/10/2014 (fl. 138) – ref. set/2014
NE’s de 2015:
29/01/2015 (fl. 140) - ref. Out-dez/2014 11/02/2015 (fl. 141) - ref. Jan/2015 06/03/2015 (fl. 142) – ref. Ago-dez/2014 10/07/2015 (fl. 143) – ref. Abril/2015 21/10/2015 (fl;. 144) – ref. Jun-set/2015
NE’s de 2016:
02/02/2016 (fl.146) – ref. Ago-dez/2015 06/12/2012 (fl. 147) – ref. Março-jun/2016 19/12/2016 (fl. 148) – ref. Ago-set/2016
NE’s de 2017:
14/02/2017 (fl. 150) – ref. Nov-dez/2016 22/03/2017 (fl. 151) – ref. Jan-fev/2017 05/05/2017 (fl. 152)– ref. Março/2017 31/05/2017 (fl. 153) – ref. Abril/2017 04/10/2017 (fl. 154) – ref. Julho/2017
NE’s de 2018:
30/11/2018 (fl. 156) – ref. Ago-set/2018
NE’s de 2019:
30/05/2019 (fl. 158) – ref. Jan/2019 15/08/2019 (fl. 159) – ref. Maio/2019 27/09/2019 (fl. 160) – ref. Abril/2019
NE’s de 2020:
24/11/2020 (fl. 162 e fl. 171) – ref. Set/2020 25/11/2020 (fl. 163 e fl. 172) – ref. Out/2020 25/11/2020 (fl. 164 e fl. 173) – ref. Set/2020 25/11/2020 (fl. 165 e fl. 174) – ref. Out/2020
NE’s de 2021:
29/01/2021 (fl. 167) – ref. Nov/2020
29/01/2021 (fl. 168 e fl. 170) – ref. Nov/2020 29/01/2021 (fL. 169) – ref. Nov/2020
Ora, é certo que a contratação de empresas aéreas nesses moldes não goza da mesma transparência e controle decorrentes de um contrato administrativo formal, precedido de projeto básico, de metas e de parâmetros para o pagamento da contraprestação.
Ao mesmo tempo, tampouco se pode ignorar a premente necessidade do objetivo licitatório e o seu indiscutível caráter continuado. Segundo o Estado Requerido, a Secretaria de Estado da Casa Militar
“utiliza a modalidade de fretamento aéreo para prestar o apoio logístico de transporte e segurança do Exmo. Senhor Governador, Vice Governador e autoridades em visita oficial nas ações de combate a pandemia do COVID-19, ações de logísticas para minimizar os efeitos das cheias (Operação Enchente), ações de apoio à Operações de Segurança Pública e Defesa Civil, ações de combate às queimadas no Estado com dimensões continentais e assim
suprir o atendimento com a logística de transporte da estrutura organizacional do Gabinete do Governador, agilizando o transporte do Exmo. Sr. Governador do Estado, Vice-Governador, outros dignitários e servidores, bem como conferindo maior celeridade na resolução dos problemas com maior eficiência, segurança e com nível de qualidade aceitável.”
Pois bem. Uma das diretrizes da hermanêutica jurídica vem estampada no art. 20 da Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro – LINDB, introduzido pela Lei n.º 13.3655 de 2018, e segundo o qual “Nas esferas administrativa, controladora e judicial, não se decidirá com base em valores jurídicos abstratos sem que sejam consideradas as consequências práticas da decisão.” E acrescenta o parágrafo único do mesmo dispostivo: ”A motivação demonstrará a necessidade e a adequação da medida imposta ou da invalidação de ato, contrato, ajuste, processo ou norma administrativa, inclusive em face das possíveis alternativas.”
A despeito de qualquer discussão quanto aos princípios publicistas e fiscais que regem a Administração Pública, há um fato instransponível: os serviços de fretamento aéreo são utilizados continuamente pelo Governo do Estado há muitos anos e a sua indispensabilidade e relevância para as ações de logísca do Executivo são atestadas pela Secretaria de Estado da Casa Militar, não cabendo ao Poder Judiciário questionar o que é ou não essencial à gestão pública.
Dito isto, a decisão que suspende a homologação do Pregão Eletrônico n.º 1.032-CSC não terá como consequência prática a interrupção deste serviço.
Prova disso é que mesmo durante a vigência do Decreto Estadual n.º 43.146/2020 e da Lei Complentar n.º 143/2020 o Estado do Amazonas continuou a emitir Notas de Empenho pela locação de aeronaves, quais sejam: NE’s de 24/11/2020 (fl. 162), 25/11/2021 (fl. 163) e 29/01/2021 (fl. 168) à empresa Mill Táxi Aéreo Ltda;
NE’s de 25/11/2020 (fls. 164 e 165) à empresa Manaus Aerotáxi Participações Ltda; e NE’s de 29/01/2021 (fls.
167 a 169) à empresa Rico Táxi Aéreo Ltda.
Tem-se que neste intervalo de apenas três meses (outubro, novembro e dezembro de 2020) - e já durante a vigência do plano de contingenciamento – o Estado do Amazonas gastou R$ 1.432.800,00 (um milhão quatrocentos e trinta e dois mil e oitocentos reais), com serviços de fretamento aéreo. Tudo isso sem prévia licitação, sem qualquer parâmetro contratual, mediante simples processo indenizatório.
A assinatura de um contrato administrativo após a homologação do Pregão Eletrônico n.º 1.032-CSC se revela como alternativa a esta problemática, e confere à Administração e à empresa contratada rigor formal, direitos, deveres e instrumentos que facilitarão a atuação dos órgãos de controle interno e externo.
Em síntese, a invalidação do ato licitatório pelo Poder Judiciário não vai retirar o caráter de essencialidade ou indispensabilidade do serviço de fretamento aéreo ao Governo do Estado. Vale dizer, o serviço não vai parar, tal como atestaram as notas de empenho expedidas em plena vigência do plano de contingenciamento.
Desta feita, se for para destacar do erário recursos públicos destinados a estes serviços, que seja da forma correta, a qual só se mostra possível com a homologação do Pregão Eletrônico.
Decisão.
Diante do exposto, REVOGO A TUTELA DE URGÊNCIA concedida às fls. 51/60, para afastar a suspensão de o Estado do Amazonas homologar o Pregão Eletrônico n.º 1.032-CSC, bem como dar prosseguimento às formalidades contratuais pertinentes, segundo seus critérios de conveniência e oportunidade, nos termos da fundamentação.
Aguarde-se o decurso do prazo para contestação pelo Requerido.
Intimem-se. Cumpra-se.
Manaus, 06 de abril de 2021.
Ronnie Frank Torres Stone Juiz de Direito