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ALTERAÇÕES RELATIVAS À PRESCRIÇÃO E DECADÊNCIA NO NOVO CÓDIGO CIVILA

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Academic year: 2021

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D E C A D Ê N C I A N O N O V O C Ó D I G O CIVIL

FERNANDA CRISTINA DE MORAES FONSECA (*)

1. I N T R O D U Ç Ã O

Representa o Código Civil, o principal instrumento normatizador d a prescrição e decadência, por se constituírem e m institutos d e direito materi- a), com o devido respeito aos entendimentos em sentido divergente. Preocu­

pou-se o legislador, no novel diploma, comparativamente a o Código d e 1916, não s o m e n t e e m sistematizá-los, m a s melhor fazê-lo, inserindo significativas alterações, adaptando-os aos reclamos d a sociedade contemporânea.

Nesta exposição, s e m a pretensão d e esgotar o assunto o u fazê-lo c o m perfeição, busca-se traçar as diretrizes gerais d e a m b o s os institutos, enumerando-se, a seguir, as principais alterações inseridas no novo diplo­

ma, legislação aplicável subsidiariamente a o Direito d o Trabalho, na disci­

plina conferida pelo artigo 8S, parágrafo único, d a C L T e, c o n s e q ü entemen- te, de expressiva importância.

2. D E F I N I Ç Ã O D E P R E S C R I Ç Ã O E R E Q U I S I T O S F U N D A M E N T A I S

Fatos d e extrema relevância n a extinção, aquisição e consolidação de direitos, a prescrição e a decadência configuram-se e m institutos jurídi­

cos nos quais o t e m p o é o elemento fundamental. A l é m d o aspecto t e m p o ­ ral, pontos c o m u n s a a m b o s o s institutos são a inércia e o fundamento que os justificam: a estabilidade jurídica e o interesse social.

C o m referência à prescrição, o q u e interessa diretamente é a extintiva ou liberatória. Divergem os doutrinadores quanto a seu conceito, e basica­

m e n t e a definem d e acordo com seus efeitos ou causalidade, em exceção

(•) Juíza d o Trabalho Substituta d o Tribunal Regional d o Trabalho d a 1 5 a Região.

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(Pontes d e Miranda), extinção d e u m a ação ajuizável (A. L. C â m a r a Leal)1'1 o u perecimento d o próprio direito (Carvalho d e M e n d o n ç a e Caio Mário da Silva Pereira)121.

N ã o obstante a controvérsia conceituai e a aparente tautologia, o certo é q u e a prescrição fulmina a pretensão, e, consequentemente, a exigibili­

d a d e por intermédio da prestação jurisdicional, d e u m direito subjetivo de c u n h o patrimonial, o que, n a essência, conduz aos efeitos supra explicitados, e n as lições d e Agnelo A m o r i m Filho, citado por Silvio Rodrigues, só os direitos exercitáveis através d e u m a aç ã o d e natureza condenatoria sujei- tam-se à prescrição.131

Requisitos necessários à ocorrência d a prescrição são: a) existência d e u m a a ç ã o ajuizável (actio nata); b) passividade d o titular; c) continuida­

d e d a inércia, e d) inexistência de causas impeditivas e extintivas d o curso prescricional(4). H á q u e m admita seja a alegação d o interessado outro re­

quisito d a prescrição, pois esta é essencialmente u m meio de defesa (5>.

2.1. Principais alterações n o Có d i g o Civil

J á n o primeiro artigo, a o tratar d a matéria (189), o legislador discipli­

n o u o instituto estabelecendo: “violado o direito, nasce para o titular a pre­

tensão, a qual se extingue, pela prescrição, nos prazos a que se referem os artigos 205 e 206". N o referido artigo 205, citando-se s o m e n t e a título de conhecimento, simplificou-se e reduziu-se o prazo prescriclonal ordinário d e 20 para 10 anos, aplicando-o indistintamente tanto para ações pessoais c o m o para as reais.

Por ser a prescrição Instituída para conferir segurança à s relações jurídicas, conferindo-lhe o status de instituto d e o r d e m pública, três conse­

quências lhe são corolários, e foram Inseridas n o novel diploma: a) simples particulares n ã o p o d e m declarar imprescritível qualquer direito (artigo 192 d o CC); b) o s prazos prescricionais n ã o p o d e m ser alterados, reduzidos ou ampliados por acordo volitivo (artigo 192 d o CC), e c) a irrenunciabllldade d a prescrição n ã o c o n s u m a d a (artigo 191 do C C ) (8>. Soma-se, ainda, a pos­

sibilidade d e ser alegada e m qualquer grau de jurisdição pela parte a q u e m favorecer (artigo 193 d o C C ) (7>. 1 2 3 4 5 6 7 *

(1) DINIZ, Maria Helena. Teoria Geral do Direito Civil. S ã o Paulo: Saraiva, 2002. v.1, p. 336.

(2) S I L V A P E R E I R A , C a i o Mário. Instituições de Direito Civil. Rio d e Janeiro: Forense, 1991. v.1, p. 473.

(3) R O D R I G U E S , Silvio. Direito Civil. S â o Paulo: Saraiva, 1991, Saraiva, v.1, p. 347.

(4) O p . cil, p. 347.

(5) G O M E S , Orlando. Introdução ao Direito Civil, Atualizador: H u m b e r t o T h e o d o r o Júnior. Rio d e Janeiro: Forense, 2002. p. 497.

(6) DINIZ, Maria Helena, op. cit, p. 336.

(7) O E n u n c i a d o n. 1 5 3 d o C . T S T sislematizaque “Não se conhece de prescrição não argüida na instância ordinária".

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N o entanto, c o m o se refere unicamente a direitos patrimoniais, co n s ­ tituindo-se, à vista disso, e m benefício e m favor d o credor*6', n ã o ca b e ao juízo conhecê-la d e ofício'9', salvo se favorecer absolutamente incapaz, e neste aspecto, o código apresenta importante inovação (artigo 194 d o CC).

Ape s a r d e n ã o explícitamente disciplinado, c o m o o fez o legislador de 19 1 6 n o artigo 167, o acessório (frutos, rendas, juros e outros) prescreve juntamente c o m o principal, por se constituir e m condição lógica"01.

E x c e ç ã o é m o d o de exercício d o direito subjetivo. E m sentido materi­

al, é me i o d e impedir o exercício d a pretensão, e, processualmente, opõe- se para neutralizá-la o u paralisá-la"1'. Neste contexto, sob o enfoque d a conotação material, disciplinou-se no artigo 190: a exceção prescreve no m e s m o prazo para a ação.

C o m referência às causas impeditivas, interruptivas e suspensivas d o curso prescricional, destaca-se a supressão d a previsibilidade q u e i m ­ pedia o início d o curso prescricional contra o mandatário, o depositante e credor pignoraticio, quanto aos direitos e obrigações relativas aos be n s confiados a sua guarda, na vigência do contrato. Inseriu-se no artigo 202, inciso I, a interrupção prescricional "por despacho do juiz, mesmo incom­

petente que ordenar a citação, se o interessado a promover no prazo e na forma da lei processual", d a n d o a parecer q u e as inovações e m comento, e m especial, deslocando o ato processual interruptivo d o prazo prescricio­

nal d e “citação” (prevista no Código d e 1916) para “d e s p a c h o d o juiz”, p o u ­ ca relevância representam ao Processo d o Trabalho, considerando-se que neste, de longa data, a interrupção d a prescrição retroage à data da propo­

situra d a ação, e até m e s m o para o Processo Civil, diante d a redação c o n ­ ferida pela Lei n. 8.952/94 ao artigo 219, parágrafo 1s d o C P C " 2'.

Ainda c o m relação às causas impeditivas d o curso prescricional, no artigo 2 0 0 d o no v o Código Civil, h á n o r m a impedindo a fluência, q u a n d o a aç ã o se originar de fato dependente d e apuração e m juízo criminal (ques­

tão prejudicial), o q u e p o d e se mostrar relevante nesta especializada, pois determinados fatos ocorridos na relação d e e m p r e g o p o d e m ensejar a pro- positura d e aç ã o penal e trabalhista, citando-se c o m o exemplo, indenizató- rias por d a n o moral, evidentemente, acolhido o entendimento quanto à c o m ­ petência d a Justiça d o Trabalho para julgar citadas d e m andas. 8 9 1 0 1 1 1 2

(8) G O M E S , Orlando, op. dt„ pp. 498/499.

(9) O artigo 219, parágrafo 5 ’ d o C ó d i g o d e Proce s s o Civil, a o disciplinar q u e "Não se tratando de direitos patrimoniais, o juiz poderá, deotido, conhecer da prescrição, e decretá-la de imediato", refere-se à decadência, e m b o r a n â o s e uliiize d a d e n o m i n a ç ã o a d e q u a d a , n a m e d i d a e m q u e s o m e n t e a prescrição relere-se a direitos patrimoniais.

(10) Estatui o artigo 9 2 d o C ó d i g o Civil e m vigência: “Principal è o bem que existe sobre si, abs­

trata ou concretamente; acessório, aquele cuja existência supõe a do principal".

(11) G O M E S , Orlando, op. cit, p. 138.

(12) Prevê o parágrafo e m c o m e n t o “A interrupção da prescrição retroagirà à data da propositura da ação".

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D O U T R I N A MULTIDISCIPLINAR 175

Importante alteração contida no capuf d o artigo 2 0 0 refere-se à pos­

sibilidade do prazo prescricional ser interrompido u m a única vez, resolven­

do-se divergência doutrinária e aproximando-se d o tratamento conferido à F a z e n d a Pública1'31, n o r m a esta, q u e s e m dúvida trará grandes repercus­

sões n a área trabalhista, e m especial, quanto aos arquivamentos das re­

c l amações trabalhistas.

3. D E F I N I Ç Ã O D E D E C A D Ê N C I A

A decadência, tal qual a prescrição, conceitua-se por suas c onse­

quências, c o m o a extinção do direito peia falta d o exercício dentro do prazo prefixado,11,4> atingindo os direitos potestativos, exercitáveis através d e ações d e natureza const¡tut¡va.í,5,

A p ó s a anáiise das alterações inseridas n o novo diploma, constatar- se-á q u e os critérios utilizados para distingui-la d a prescrição reduziram-se sobremaneira, e m especial quanto à interrupção e s u s pensão dos prazos, o u à possibilidade d e conhecê-la d e ofício. Assim, atualmente as principais diferenças entre a prescrição e a decadência residem n a verificação da existência de u m poder d o titular do direito subjetivo de exigir a aç ã o ou omissão d o outro sujeito — pretensão, ou na dependência de u m provi­

m e n t o jurisdicional para extinguir ou modificar u m a relação jurídica — di­

reito potestativo. N a primeira hipótese se estará diante d e u m prazo pres­

cricional, e n a segunda, decadencial, e n a natureza d o provimento jurisdi­

cional e m a n a d o e m u m a e outra ação: condenatorio o u constitutivo.

N a esfera trabalhista, cita-se c o m o exemplos cfe a ções c o m prazo decadencial, o M a n d a d o d e Segurança, a Rescisória e o Inquérito para a apuração d a falta grave.

3.1. Principais alterações n o Código Civil

O legislador d o Código Civil, inovando a matéria, comparativamente a o d e 1916, disciplinou a decadência nos artigos 2 0 7 a 211, d e forma que, e m termos de sistematização legislativa, tudo se apresenta como novida­

de. O Código de 1916, além d e se apresentar omisso, previa diversos pra­

zos decadenciais, juntamente c o m os prescricionais, gerando indubitavel­

m e n t e insegurança, ante as divergências entre u m e outro instituto.

C o n f o r m e já antecipado, estabelece o artigo 2 1 0 d o novel diploma, regra básica a o estatuir q u e a decadência, a o contrário d a prescrição, po d e ser alegada d e oficio pelo juiz (artigo 219, parágrafo 5* do Código d e Pro­

cesso Civil), e a novidade fica por conta d a exceção: salvo e m se tratando de prazo voluntariamente fixado peíos interessados e, consequentemente, 1 3 1 4 1 5

(13) “A Prescrição somente poderá ser interrompida uma vez"(artigo 8 “ d o Decreto n. 20.910/32).

(14) DINIZ, Maria Helena. Código Civil Anotado. S ã o Paulo: Saraiva, 2002. p. 207.

(15) R O D R I G U E S , Silvio, op. cit, p. 352.

(5)

renunciável (artigo 211 d o CC). A contrário senso, o prazo decadencial fi­

xa d o e m íei s e m p r e p o d e ser reconhecido d e ofício pelo juiz e é irrenunciá­

vel (artigo 2 0 9 d o CC).

Sistematizou ainda o legislador, n o artigo 207, a c o m p a n h a n d o a le­

gislação mais moderna, e neste aspecto, realmente inovou, a existência de ca u s a s obstativas, impeditivas e suspensivas d o curso decadencial (artigo 2 0 7 d o CC), citando-se c o m o exemplo, a hipótese já contida n o artigo 26, parágrafos 1® e 2® d a Lei n. 8.078/90 (Código de Defesa d o Consumidor)* 1 I I '61 e a recentemente inserida no Código Civil, relativamente à fluência dos prazos n a hipótese dos absolutamente incapazes (art. 208).

4. DIREITO I N T E R T E M P O R A L

Antecipando-se aos conflitos oriundos da aplicabilidade das leis no tempo, inseriu o legislador o artigo 2.028, a o tratar das disposições finais e transitórias, disciplinando " Serão os da lei anterior os prazos, quando redu­

zidos por este Código, e se, na data de sua entrada em vigor, já houver transcorrido, mais da metade do tempo estabelecido na lei revogada", d o n ­ de se conclui q u e os novos prazos, q u a n d o redutivos, serão aplicados ¡me­

diatamente, atingindo as situações e m curso, s o m e n t e se nestas fluiu m e ­ nos d a m e t a d e d o lapso anteriormente estabelecido, constituindo-se e m requisitos cumulativos. A contrário senso, os prazos ampliativos alcança­

rão todas a s situações jurídicas, pois a prescrição e m curso, venia a enten­

dimentos divergentes, n ã o gera direito adquirido/'7) exceto quanto à s pre­

tensões já fulminadas, sob pe n a d e ferir-se o disposto n o artigo 6.9 d a Lei de Introdução d o Código Civil, a qual, diga-se d e p a s s a g e m , encontra-se e m plena vigência, n a me d i d a e m que:

“A lei de Introdução não é parte integrante do Código Civil, cons- tituíndo-se tão-somente em uma lei anexa para tornar possível uma mais fácil aplicação das leis. Estende-se muito além do Código Civil, por abranger princípios determinativos da aplicabilidade das normas, questões d e hermenêutica jurídica relativas a o direito privado e ao direito público e por conter normas de direito Internacional privado"1' 51.

(16) Estabelece a lei e m c o m e n t o e m s e u artigo 26, q u e “O Oireitode reclamar pelos vícios apa­

rentes ou de lácil constatação caduca em:. .

§ 2° O b s t a m a decadência:

I — a r e c l a m a ç ã o c o m p r o v a d a m e n t e formulada pelo c o n s u m i d o r perante o fornecedor d e p r o d u ­ tos e serviços até a resposta negativa correspondente, q u e d e v e ser transmitida d e forma inequí­

voca:

II — velado:

lil — a instauração d e inquérito civil, alé s e u encerramento.

(17) DINIZ, Maria Helena, op. cif, p. 343.

(18) Lei de introdução ao Código Civil Brasileiro Inlerpretada.São Paulo: Saraiva, 1999. p.3.

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D O U T R I N A MULTIDISCIPLINAR 177

5. C O N C L U S Ã O

E m linhas gerais, estas foram as principais alterações relativas à pres­

crição e à decadência inseridas n o novo Código Civil, esperando q u e esta singela exposição sirva de contribuição no que for compatível, para a apli­

cabilidade d a legislação Civil ao Direito d o Trabalho e, e m especial, para reflexões e debates mais aprofundados.

6. R E F E R Ê N C I A S B I B L I O G R Á F I C A S

DINIZ, Maria Helena, Teoria Geral do Direito Civil. S ã o Paulo: Saraiva, 2002, v.1.

_ _ _ _ _ _ _ _ . Código Civil Anotado. S ã o Paulo: Saraiva, 2002.

_ _ _ _ _ _ _ _ . Lei de Introdução ao Código Civil Brasileiro Interpretado. S ã o Paulo: Saraiva, 1999.

G O M E S , Orlando. Introdução ao Direito Civil, Atualizador: H u m b e r t o T h e o d o r o Júnior. Rio d e Janeiro: Forense, 2002.

R O D R I G U E S , Silvio. Direito Civil. S ã o Paulo: Saraiva, 1991, v.1,

SILVA P E R E I R A , Caio Mário. Instituições de Direito Civil. Rio d e Janeiro:

Forense, 1991, v.1.

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