Limite de Fun¸
c˜
oes
6.1
O conceito de limite
No Cap´ıtulo 5, determinamos a inclina¸c˜ao da reta tangente `a par´abola y = f (x) = a x2+ b x + c num ponto (x0, f(x0)).
O m´etodo empregado consistiu em obter esta inclina¸c˜ao a partir das declividades das retas secantes que passam pelos pontos (x0, f (x0))e (x0+ h, f (x0+ h)), tomando valores arbitrariamente pequenos para h, isto ´e, fazendo h tender
a zero. Este m´etodo pode ser empregado para uma fun¸c˜ao f qualquer. De fato, para determinar a declividade da reta tangente a uma curva qualquer y = f (x) basta estudar o comportamento do quociente f (x0+h)−f(x0)
h , quando h se aproxima de zero ou, usando nota¸c˜ao matem´atica, precisamos calcular o
lim h→0 f (x0+ h)− f(x0) h = limx→x0 f (x)− f(x0) x− x0
Para que isso seja poss´ıvel, ´e preciso aprofundar um pouco mais o estudo do conceito matem´atico de limite. Come¸caremos este estudo de maneira intuitiva, por meio de alguns exemplos.
Exemplo 1
Vamos estudar o comportamento da fun¸c˜ao f definida por f (x) = x2− x + 2 para valores de x pr´oximos de 2. A
primeira tabela a seguir mostra os valores de f (x) quando x se aproxima de 2 por valores menores do que 2. Neste caso, dizemos que x se aproxima de 2 pela esquerda. A segunda mostra os valores de f (x) quando x se aproxima de 2 por valores maiores do que 2, isto ´e, quando x se aproxima de 2 pela direita.
x f (x) 1.0 2.0 1.5 2.75 1.8 3.44 1.9 3.71 1.95 3.8525 1.99 3.9701 1.995 3.985025 1.999 3.997001 x f (x) 3.0 8.0 2.5 5.75 2.2 4.64 2.1 4.31 2.05 4.1525 2.01 4.0301 2.005 4.015025 2.0001 4.003001 Veja este comportamento ilustrado no gr´afico abaixo:
0 1 2 3 4 5 6 7 8 y 1 2x 3 4
Tanto as tabelas acima quanto o gr´afico da par´abola mostram que `a medida que x se aproxima de 2 quer pela direita, quer pela esquerda, f (x) se aproxima de 4, ou seja, podemos fazer f (x) ficar t˜ao perto de 4 quanto quisermos, bastando para isso tomarmos x suficientemente pr´oximo de 2. Para descrever este comportamento matematicamente, usamos a nota¸c˜ao
lim x→2(x
2− x + 2) = 4
(Lˆe-se: o limite de f (x), quando x tende a 2, ´e 4).
De um modo geral, dizer que
lim x→x0
f (x) = L
significa que, `a medida que x se aproxima de x0, os valores de f (x) ficam pr´oximos de L, e, mais do que isso, podemos
melhorar cada vez mais esta aproxima¸c˜ao, isto ´e, podemos tornar a diferen¸ca entre f (x) e L, em valor absoluto, t˜ao pequena quanto quisermos, bastando para isso escolher x suficientemente pr´oximo de x0.
• Usando as tabelas constru´ıdas neste exemplo, verifique qu˜ao pr´oximo x deve estar de 2, para que | f(x)−4 | < 0, 01.
Na defini¸c˜ao de limite, dizer que “x se aproxima de x0” significa que, para o c´alculo de limites, podemos tomar
x bem pertinho de x0, sem que x seja igual a x0. De fato, para o c´alculo de limites n˜ao interessa o valor da fun¸c˜ao
no ponto x = x0, mas somente como a fun¸c˜ao f se comporta perto deste ponto. Este fato ´e ilustrado nos gr´aficos a
seguir. No primeiro deles, f n˜ao est´a definida em x = 1; no terceiro, f (1)̸= 2; nos dois casos temos que lim
x→1f (x) = 2. –1 0 1 2 3 –2 –1 1x 2 –1 0 1 2 3 –2 –1 1x 2 –1 0 1 2 3 –2 –1 1 2 x –1 0 1 2 3 –2 –1 1 2 x Exemplo 2
Nesse exemplo estudaremos o comportamento da fun¸c˜ao f (x) = x3para valores de x pr´oximos de−2.
Graficamente temos: –16 –14 –12 –10 –8 –6 –4 –2 0
Para observar numericamente o comportamento dessa fun¸c˜ao, estude as tabelas dadas a seguir. Na primeira, a fun¸c˜ao f ´e calculada para uma seq¨uˆencia de valores de x se aproximando de−2, pela direita. Na segunda, calculamos
f (x) quando x se aproxima de−2, pela esquerda.
x x3 −1.500000000 −3.375000000 −1.750000000 −5.359375000 −1.875000000 −6.591796875 −1.937500000 −7.273193359 −1.968750000 −7.630828857 −1.984375000 −7.813961029 −1.992187500 −7.906615734 −1.996093750 −7.953216493 −1.998046875 −7.976585381 −1.999023438 −7.988286971 x x3 −2.500000000 −15.62500000 −2.250000000 −11.39062500 −2.125000000 −9.595703125 −2.062500000 −8.773681641 −2.031250000 −8.380889893 −2.015625000 −8.188968658 −2.007812500 −8.094116688 −2.003906250 −8.046966612 −2.001953125 −8.023460396 −2.000976563 −8.011724473
O gr´afico e as tabelas acima sugerem que lim x→(−2)x 3 =−8. Exerc´ıcio 1 Considere a fun¸c˜ao f (x) = x3.
1. Usando o m´etodo descrito acima, tente achar um prov´avel valor para lim x→2x
3.
2. Determine qu˜ao pr´oximo x deve estar de 2 para quex3− 8< .0001.
Exemplo 3
Vamos estudar agora o comportamento da fun¸c˜ao g, cuja defini¸c˜ao e gr´aficos s˜ao dados abaixo `a esquerda, para valores de x pr´oximos de 1. Observe, graficamente, o que ocorre com essa fun¸c˜ao nas proximidades do ponto 1 no gr´afico `a direita. > g:=piecewise(x<1,x-2,x>=1,x+1); g := {x− 2 x < 1 x + 1 1≤ x –4 –3 –2 –1 1 2 3 x –4 –3 –2 –1 1 2 3 x
Observe separadamente o comportamento desta fun¸c˜ao quando x se aproxima de 1 pela esquerda (primeiro gr´afico) e pela direita (segundo gr´afico).
–4 –3 –2 –1 1 2 3 x –4 –3 –2 –1 1 2 3 x
Observe, agora, numericamente, esse comportamento. Na primeira tabela, x se aproxima de 1 pela direita. Na segunda, pela esquerda.
x g(x) 1.500000000 2.500000000 1.250000000 2.250000000 1.125000000 2.125000000 1.062500000 2.062500000 1.031250000 2.031250000 1.015625000 2.015625000 1.007812500 2.007812500 1.003906250 2.003906250 1.001953125 2.001953125 1.000976563 2.000976563 x g(x) .5000000000 −1.500000000 .7500000000 −1.250000000 .8750000000 −1.125000000 .9375000000 −1.062500000 .9687500000 −1.031250000 .9843750000 −1.015625000 .9921875000 −1.007812500 .9960937500 −1.003906250 .9980468750 −1.001953125 .9990234375 −1.000976563
Notamos, nesse caso, que o comportamento de g(x) difere daquele dos exemplos anteriores, pois a fun¸c˜ao assume diferentes valores quando x se aproxima de 1 pela direita ou pela esquerda. As tabelas acima sugerem que quando x se aproxima de 1 pela direita a fun¸c˜ao g(x) se aproxima de 2 e, quando x se aproxima de 1 pela esquerda, g(x) se aproxima de−1. A nota¸c˜ao matem´atica para essa situa¸c˜ao ´e
lim
(Lˆe-se: o limite de g(x) quando x tende a 1 pela direita ´e 2 e o limite de g(x) quando x tende a 1 pela esquerda ´e−1.) Esses limites s˜ao chamados, respectivamente, limite lateral `a direita e limite lateral `a esquerda. Quando, como nesse caso, os limites laterais s˜ao diferentes, dizemos que a fun¸c˜ao n˜ao tem limite no ponto x = x0.
Assim, o limite de uma fun¸c˜ao em um ponto x0existe, quando os limites laterais existem e s˜ao iguais.
• Confirme essa afirma¸c˜ao para as fun¸c˜oes estudadas nos exemplos anteriores.
Exerc´ıcio 2
Estude o comportamento da fun¸c˜ao f (x) = | x |
x para valores de x pr´oximos de zero, isto ´e, calcule limx→0+f (x) e
lim
x→0− f (x) e conclua se existe o limx→0f (x). Como nos exemplos anteriores, fa¸ca uma an´alise gr´afica e num´erica.
Sugest˜ao: Qual o valor de f (x) para x > 0? E para x < 0?
Exemplo 4: Uma aplica¸c˜ao
Retornemos, agora, ao problema estudado no cap´ıtulo anterior, de encontrar a inclina¸c˜ao da reta tangente `a par´abola y = f (x) = x2 no ponto x0= 1. Como vimos, este problema ´e equivalente a estudar o comportamento da
fun¸c˜ao g(x) = f (x)− f(x0)
x− x0
, quando x se aproxima de x0.
Como nos exemplos anteriores, faremos uma an´alise gr´afica e num´erica. As tabelas a seguir mostram o com-portamento desta fun¸c˜ao quando x se aproxima de 1. A tabela da esquerda mostra o comportamento do quociente
g(x) = x
2− 1
x− 1 quando x se aproxima de 1 pela esquerda, isto ´e, por valores menores que 1. A outra tabela mostra
este mesmo comportamento quando x se aproxima de 1 pela direita, ou seja, por valores maiores que 1. Nos dois casos, `a medida que x se aproxima de 1 os valores do quociente x
2− 1
x− 1 se aproximam de 2. Observa-se este mesmo
comportamento no gr´afico da fun¸c˜ao g mostrado ao lado. x x 2− 1 x− 1 .5000000000 1.500000000 .7500000000 1.750000000 .8750000000 1.875000000 .9375000000 1.937500000 .9687500000 1.968750000 .9843750000 1.984375000 .9921875000 1.992187500 .9960937500 1.996093750 .9980468750 1.998046875 .9990234375 1.999023438 x x 2− 1 x− 1 1.500000000 2.500000000 1.250000000 2.250000000 1.125000000 2.125000000 1.062500000 2.062500000 1.031250000 2.031250000 1.015625000 2.015625000 1.007812500 2.007812500 1.003906250 2.003906250 1.001953125 2.001953125 1.000976563 2.000976563 –1 0 1 2 3 –2 –1 1 2 x
As tabelas e o gr´afico sugerem que lim
x→1g(x) = 2. Neste exemplo, este limite representa a declividade da reta tangente `a curva f (x) = x2 no ponto x
0= 1. Repare, uma vez mais, que ao estudarmos o limite de uma fun¸c˜ao num
ponto x0, estamos interessados em conhecer o que acontece com os valores dessa fun¸c˜ao nas proximidades do ponto
x0. Este comportamento independe do valor da fun¸c˜ao em x0, visto que esta fun¸c˜ao, como neste exemplo, nem ao
menos precisa estar definida nesse ponto! O ponto (1, 2) aparece no gr´afico anterior marcado por um pequeno disco para enfatizar que o ponto x = 1 n˜ao pertence ao dom´ınio da fun¸c˜ao g. Para x ̸= 1, temos que g(x) = x + 1 pois, nesse caso, podemos simplificar a express˜ao que define g e obter
x2− 1
x− 1 =
(x + 1) (x− 1)
x− 1 = x + 1.
A nota¸c˜ao lim
x→1g(x) = 2 significa que `a medida que os valores de x se aproximam de 1 quer pela direita, quer pela esquerda, os valores de g se aproximam de 2, e que podemos tornar a diferen¸ca| g(x) − 2 | t˜ao pequena quanto quisermos, bastando para isso escolhermos x suficientemente pr´oximo de 1, sem nunca, no entanto, alcan¸car este valor. Repare a mensagem emitida pelo Maple quando tentamos calcular a fun¸c˜ao g no ponto x = 1.
> g(1);
Neste exemplo:
- Qu˜ao pr´oximo x deve estar de x0para que a distˆancia de g(x) a 2 seja menor que 1/100?
- Qu˜ao pr´oximo x deve estar de x0para que a distˆancia de g(x) a 2 seja menor que 1/1000?
No exemplo acima, vimos que embora g(x) n˜ao esteja definida em x0= 1, os valores de g(x) se aproximam de 2 `a
medida que x se aproxima de 1, e se quisermos tornar a diferen¸ca entre g(x) e 2 menor que 1/10 basta tornarmos a diferen¸ca entre x e x0menor que 1/10; se quisermos que| g(x) − 2 | <1001 , basta fazermos| x − x0| < 1001 . Experimente!
Exemplo 5: Limites infinitos
Considere agora a fun¸c˜ao y = f (x) = x12. Pode-se concluir imediatamente que y sempre ser´a positivo e que y n˜ao
est´a definido quando x = 0. Mas o que acontece quando x se aproxima de zero?
Observe as tabelas a seguir. A da esquerda mostra o comportamento desta fun¸c˜ao para valores de x positivos e se aproximando de zero. A da direita, mostra o comportamento desta fun¸c˜ao para valores negativos de x se aproximando de zero. x 1 x2 .5000000000 4. .2500000000 16. .1250000000 64. .06250000000 256. .03125000000 1024. .01562500000 4096. .007812500000 16384. .003906250000 65536. .001953125000 262144. .0009765625000 .1048576 107 x 1 x2 −.5000000000 4. −.2500000000 16. −.1250000000 64. −.06250000000 256. −.03125000000 1024. −.01562500000 4096. −.007812500000 16384. −.003906250000 65536. −.001953125000 262144. −.0009765625000 .1048576 107
Neste caso, notamos que `a medida que x se aproxima de zero, quer pela direita, quer pela esquerda, os valores correspondentes de f (x) “explodem”, isto ´e, crescem, sem limite, em valor absoluto. Dizemos, ent˜ao, que quando x tende a zero a fun¸c˜ao tende a +∞ . Em nota¸c˜ao matem´atica escrevemos lim
x→0f (x) =∞ ou f(x) → ∞ quando x → 0. Observe esse comportamento no seguinte gr´afico (Veja o texto eletrˆonico):
0 20 40 60 80 100 –1 –0.8 –0.6 –0.4 –0.2 0.2 0.4 0.6 0.8 1
Note que, neste exemplo, `a medida que x se aproxima de zero, os valores de f (x) n˜ao se aproximam de nenhum n´umero, portanto o lim
x→0f (x) n˜ao existe. A nota¸c˜ao limx→0f (x) =∞ serve, somente, para indicar que podemos tornar os valores de f (x) arbitrariamente grandes, bastando para isso tomarmos x suficientemente pr´oximo de zero. Na nota¸c˜ao usada acima para indicar este comportamento, n˜ao estamos considerando∞ como um n´umero, nem afirmando que o limite existe. Ela serve somente para indicar a maneira especial como a fun¸c˜ao se comporta perto do zero.
• Vocˆe ´e capaz de dar outros exemplos de fun¸c˜oes que apresentem este mesmo comportamento? • Considere a fun¸c˜ao g(x) = −1
x2 e analise o seu comportamento quando x se aproxima de zero. Vocˆe poder´a verificar
que g(x) decresce sem limite, isto ´e, tende a−∞. Neste caso escrevemos lim
x→0g(x) =−∞.
Nos dois casos acima, quando x se aproxima de zero o gr´afico da fun¸c˜ao se aproxima da reta x = 0. A reta x = 0 ´
e chamada de ass´ıntota vertical ao gr´afico da fun¸c˜ao y = g(x).
Considerando novamente a fun¸c˜ao f (x) = x12, vamos agora observar o que acontece com os seus valores quando x
cresce em valor absoluto e se torna muito grande.
As tabelas seguintes mostram os valores de f calculados para valores positivos de x, sucessivamente crescentes e para valores de x sucessivamente decrescentes, respectivamente:
x 1 x2 1024. .9536743164 10−6 2048. .2384185791 10−6 4096. .5960464478 10−7 8192. .1490116119 10−7 16384. .3725290298 10−8 32768. .9313225746 10−9 65536. .2328306437 10−9 131072. .5820766091 10−10 262144. .1455191523 10−10 524288. .3637978807 10−11 .1048576 107 .9094947018 10−12 x 1 x2 −1024. .9536743164 10−6 −2048. .2384185791 10−6 −4096. .5960464478 10−7 −8192. .1490116119 10−7 −16384. .3725290298 10−8 −32768. .9313225746 10−9 −65536. .2328306437 10−9 −131072. .5820766091 10−10 −262144. .1455191523 10−10 −524288. .3637978807 10−11 −.1048576 107 .9094947018 10−12 Veja no texto eletrˆonico a anima¸c˜ao gr´afica correspondente.
Nesse caso dizemos que o limite da fun¸c˜ao ´e zero quando x tende para +∞ ou −∞, isto ´e, quando x cresce sem limite (x→ +∞) ou quando x decresce sem limite (x → −∞). Em nota¸c˜ao matem´atica escrevemos:
lim
x→∞f (x) = 0 e x→−∞lim f (x) = 0
Novamente, os s´ımbolos +∞ e −∞ n˜ao s˜ao n´umeros. Estes s´ımbolos indicam somente que estamos considerando valores de x cada vez maiores, em valor absoluto.
Observe tamb´em que, quando x cresce em valor absoluto, isto ´e, x → +∞ ou x → −∞, o gr´afico da fun¸c˜ao se aproxima da reta y = 0. Nesse caso, a reta y = 0 ´e chamada de ass´ıntota horizontal ao gr´afico da fun¸c˜ao f .
6.1.1
Ass´ıntotas ao gr´
afico de uma fun¸
c˜
ao
Pelos dois exemplos anteriores, intuitivamente podemos concluir que uma reta ´e uma ass´ıntota ao gr´afico de uma fun¸c˜ao quando, `a medida que um ponto se move ao longo da curva, a distˆancia desse ponto `a reta se aproxima de zero indefinidamente, sem nunca chegar a zero.
As defini¸c˜oes a seguir expressam as id´eias de ass´ıntotas verticais e horizontais ao gr´afico de uma fun¸c˜ao y = f (x) em termos matem´aticos mais precisos:
Ass´ıntota vertical
Dizemos que uma reta x = a ´e uma ass´ıntota vertical ao gr´afico de uma fun¸c˜ao y = f (x) se uma das condi¸c˜oes se verifica:
lim
x→a+f (x) =∞, limx→a+ f (x) =−∞, limx→a−f (x) =∞ ou limx→a− f (x) =−∞.
Ass´ıntota horizontal
Dizemos que uma reta y = a ´e uma ass´ıntota horizontal ao gr´afico de uma fun¸c˜ao y = f (x) se lim
x→∞f (x) = a ou se x→−∞lim f (x) = a
. • Vocˆe ´e capaz de definir uma condi¸c˜ao que permita determinar quando uma reta y = mx + b ´e uma ass´ıntota inclinada ao gr´afico de uma fun¸c˜ao y = f (x)? (Veja Problema 9 da Se¸c˜ao Problemas Propostos).
• ´E poss´ıvel determinar uma condi¸c˜ao que permita afirmar quando uma fun¸c˜ao f(x) se aproxima de uma outra fun¸c˜ao
qualquer, n˜ao necessariamente uma reta, quando x→ +∞ ou quando x → −∞? (Veja Projeto: Ass´ıntotas e outras
6.1.2
Exerc´ıcios
1. Para a fun¸c˜ao f cujo gr´afico ´e dado a seguir, estime o valor dos seguintes limites, caso existam: (a) lim x→1+f (x) (b) lim x→1−f (x) (c) lim x→1f (x) (d) lim x→2+f (x) (e) lim x→2−f (x) (f) lim x→2f (x) (g) lim x→0+f (x) (h) lim x→0−f (x) –4 –3 –2 –1 0 1 2 3 4 y –4 –3 –2 –1 1 2x 3 4
2. Para a fun¸c˜ao f cujo gr´afico ´e dado a seguir, estime os seguintes limites, caso existam: (a) lim x→−π 2+ f (x) (b) lim x→−π 2− f (x) (c) lim x→−π 2 f (x) (d) lim x→π 2+ f (x) (e) lim x→π 2− f (x) (f) lim x→π 2 f (x) –6 –4 –2 0 2 4 6 y –6 –4 –2 2 x 4 6
Determine as equa¸c˜oes das ass´ıntotas verticais.
3. (a) Esboce o gr´afico da fun¸c˜ao g(x) = 2− x se x < −1 x se −1 ≤ x < 1 4 se x = 1 4− x se x > 1
(b) Use o gr´afico esbo¸cado no item anterior para estimar o valor dos seguintes limites, caso existam: i. lim x→−1− g(x) ii. lim x→1− g(x) iii. lim x→−1+g(x) iv. lim x→1+g(x) v. lim x→−1g(x) vi. lim x→1g(x) 4. Considere a fun¸c˜ao y =x1.
(a) Qual o seu dom´ınio? (b) Quais suas ass´ıntotas?
(c) Qual o comportamento da fun¸c˜ao quando x se aproxima de zero pela direita? E quando x se aproxima de zero pela esquerda?
(d) Esboce o gr´afico dessa fun¸c˜ao escolhendo uma janela adequada que mostre as suas principais caracter´ısticas. 5. Considere a fun¸c˜ao y =x−1x .
(a) Qual o seu dom´ınio? (b) Quais suas ass´ıntotas?
(c) Descreva o comportamento da fun¸c˜ao no ponto x = 1.
(d) Esboce o gr´afico dessa fun¸c˜ao escolhendo uma janela adequada que mostre as suas principais caracter´ısticas. 6. (a) Determine o dom´ınio, a imagem e as ass´ıntotas da fun¸c˜ao y = x +1x.
(b) Qual o comportamento desta fun¸c˜ao no ponto x = 0? (c) Esboce o seu gr´afico.
6.2
Defini¸
c˜
oes
Na se¸c˜ao anterior, “calculamos” intuitivamente limites de fun¸c˜oes por meio da an´alise dos seus gr´aficos e tamb´em pela observa¸c˜ao de tabelas que listavam valores de pontos do tipo (x, f (x)). Essas pesquisas gr´aficas e/ou num´ericas s˜ao ´uteis para obter informa¸c˜oes preliminares e nos ajudar a prever um valor para o limite procurado. Embora, na
maioria das vezes sugiram o valor correto do limite (veja nas atividades de laborat´orio alguns exemplos onde este procedimento conduz a conclus˜oes erradas), n˜ao constituem uma demonstra¸c˜ao no sentido em que os matem´aticos a entendem.
Para obtermos uma demonstra¸c˜ao, no sentido matem´atico do termo, de uma afirma¸c˜ao envolvendo limites, torna-se necess´ario definir com rigor e precis˜ao o que significam express˜oes do tipo “`a medida que x se aproxima de xo, os valores de f (x) se aproximam de L” ou “podemos tornar a diferen¸ca entre f (x) e L, em valor absoluto, t˜ao pequena quanto quisermos, bastando para isso considerar x bastante pr´oximo de xo, sem no entanto nunca atingir esse valor”. Na verdade, o significado preciso de express˜oes do tipo acima foi alvo de discuss˜oes acaloradas e acirradas entre os matem´aticos durante s´eculos. Foi somente no final do s´eculo XIX que o matem´atico alem˜ao Karl Weierstrass (1815-1897) formulou a defini¸c˜ao de limite que usamos nos dias de hoje e que apresentamos a seguir.
6.2.1
Defini¸
c˜
ao 1: Limite de uma fun¸
c˜
ao em um ponto
Na se¸c˜ao anterior, conclu´ımos que, dada uma fun¸c˜ao y = f (x), dizemos que L ´e o limite de f (x) quando x se aproxima de x0ou quando x tende a x0, se pudermos tornar a diferen¸ca entre f (x) e L t˜ao pequena quanto quisermos, bastando
para isso considerar x suficientemente pr´oximo de x0. Nesse caso escrevemos
lim x→x0
f (x) = L.
O ponto central nessa id´eia ´e o de que podemos obter estimativas do valor limite e que estas estimativas, para qualquer prop´osito pr´atico, podem estar t˜ao pr´oximas quanto se queira do valor exato.
Para isso come¸camos com uma fun¸c˜ao m(x) que nos d´a uma fam´ılia de estimativas. Imagine, por exemplo, uma fun¸c˜ao m que, para cada valor de x, nos dˆe uma estimativa para a declividade da reta tangente `a curva y = f (x) no ponto x0= 0, 5. Neste caso,
m(x) = f (x)− f(0, 5) x− 0, 5
que ´e a declividade da reta secante que passa pelos pontos (x0, f (x0)) e (x, f (x)).
Existe um valor ideal que gostar´ıamos que x assumisse. Neste exemplo, a declividade exata da reta tangente seria obtida quando o segundo ponto (x, f (x)), coincidisse com o primeiro (x0, f (x0)) e, conseq¨uentemente, a reta secante
coincidisse com a reta tangente. Este valor ideal na realidade, ´e imposs´ıvel de ser atingido. Verifique no exemplo dado, que a fun¸c˜ao m n˜ao est´a definida para x = 0, 5.
Na maioria das aplica¸c˜oes pr´aticas, n˜ao necessitamos da resposta exata, mas de uma resposta aproximada com um certo erro permitido. A letra grega ε ´e, tradicionalmente, usada para denotar este erro permitido. Dependendo da situa¸c˜ao o erro ε pode ser grande ou muito, muito pequeno.
Para cada erro permitido, existe uma tolerˆancia, de tal maneira que se x dista do valor ideal x0 menos do que a
tolerˆancia, ent˜ao a estimativa est´a dentro do padr˜ao de erro tolerado, isto ´e, a diferen¸ca entre o valor exato e o valor aproximado encontrado, em valor absoluto, ´e menor do que o erro permitido.
Colocando estas id´eias em termos matem´aticos precisos, temos a defini¸c˜ao abaixo.
Defini¸c˜ao: A express˜ao
lim x→x0
f (x) = L
significa que para todo erro permitido ε > 0, n˜ao importa qu˜ao pequeno ele seja, existe uma tolerˆancia δ > 0, tal que se 0 <| x − x0| < δ ent˜ao | f(x) − L | < ε.
y = f(x) L L +ε ε L -xoxo +δ δ xo
-Os pontos do gr´afico de y = f (x) que satisfazem a desigualdade | f(x) − L | < ε s˜ao os pontos que est˜ao entre as duas retas horizontais y = L− ε e y = L + ε (por quˆe?). Este ´e o afastamento (erro) permitido do valor exato L. Da mesma forma, os pontos desse gr´afico que satisfazem a desigualdade| x − x0| < δ s˜ao aqueles que est˜ao entre as
retas verticais x = x0− δ e x = x0+ δ. Esta ´e a faixa de tolerˆancia. Dessa maneira, a defini¸c˜ao de limite nos diz que:
sendo dadas duas retas horizontais y = L− ε e y = L + ε (ε > 0), faixa de erro permitido, ´e poss´ıvel escolher duas retas verticais x = x0− δ e x = x0+ δ (δ > 0), faixa de tolerˆancia, de tal maneira que se x estiver dentro da faixa de
tolerˆancia, f (x) estar´a dentro da faixa de erro permitido. (Veja a anima¸c˜ao no texto eletrˆonico.)
Repare ainda que n˜ao importa qu˜ao pr´oximas estejam as retas horizontais (isto ´e, qu˜ao pequeno seja ε, o erro permitido), sempre ser´a poss´ıvel determinar duas retas verticais – faixa de tolerˆancia – tais que sempre que x estiver dentro da faixa de tolerˆancia, f (x) estar´a dentro da faixa de erro permitido. Observe a veracidade desta afirma¸c˜ao ilustrada no diagrama a seguir. Execute a anima¸c˜ao correspondente no texto eletrˆonico.
Est´a claro, agora, para vocˆe o significado geom´etrico da frase: podemos tornar a distˆancia| f(x) − L | t˜ao pequena quanto quisermos, bastando para isso considerar x suficientemente pr´oximo de x0?
Repare, mais uma vez, que o valor do limite de uma fun¸c˜ao f (x) em um ponto x0n˜ao tem necessariamente rela¸c˜ao
com o valor desta fun¸c˜ao neste ponto. Este ´e um importante aspecto do estudo de limites. Uma fun¸c˜ao n˜ao precisa estar necessariamente definida no ponto x0para que exista o limite de f (x) em x0, basta apenas que a fun¸c˜ao f esteja
definida em alguma vizinhan¸ca restrita de x0, isto ´e, em um conjunto obtido de um intervalo aberto contendo x0,
excluindo-se esse ponto. Por exemplo, para estudar o lim x→x0
f (x) basta que f esteja definida em intervalos abertos do
tipo (x0− 0.5, x0) e (x0, x0+ 0.5) ou (x0− 0.1, x0) e (x0, x0+ 0.1) ou equivalentes.
Exemplo 1
Vamos usar a defini¸c˜ao acima para provar rigorosamente que lim
x→33 x− 4 = 5.
Para isso ´e preciso descobrir um modo de achar um valor de δ (tolerˆancia) que torne verdadeira a implica¸c˜ao existente na defini¸c˜ao de limite, qualquer que seja o valor de ε (erro permitido) dado. O m´etodo de achar δ depende da fun¸c˜ao
f e dos valores de x0 e de L.
Dado ε > 0, deve-se achar δ > 0 tal que
| (3 x − 4) − 5 | < ε se 0 < | x − 3 | < δ.
Ora,
| (3 x − 4) − 5 | = | 3 x − 9 | = 3 | x − 3 | .
Assim, se tomarmos δ = ε3, teremos que a desigualdade |x − 3| < ε3 implicar´a que
| (3 x − 4) − 5 | = |3 x − 9| = 3 | x − 3 | < 3ε
3 = ε, como quer´ıamos.
Logo, qualquer que seja o n´umero ε > 0 dado a priori, basta escolher δ =3ε para obtermos as desigualdades desejadas. Este exemplo ilustra tamb´em o fato de que o n´umero δ ´e, em geral, escolhido em fun¸c˜ao do n´umero ε.
Exerc´ıcio 1
Tendo em vista a rela¸c˜ao obtida acima para o valor de δ, calcule qu˜ao perto x deve estar de 3 para que 3 x− 4 diste de 5 menos do que 100001 .
Exemplo 2
Vamos provar que lim x→23 x
2+ 5 = 17.
Para isso, dado ε > 0, precisamos achar δ > 0 tal que(3 x2+ 5)− 17< ε toda vez que tivermos 0 <| x − 2 | < δ.
Como(3 x2+ 5)− 17 = 3x2− 4 = 3| x + 2 | | x − 2 |, a id´eia ´e provar que 3 | x + 2 | | x − 2 | pode tornar-se
t˜ao pequeno quanto se queira, desde que se escolha| x − 2 | suficientemente pequeno.
Para isso, basta observar que se| x − 2 | ´e suficientemente pequeno, o valor de | x + 2 | = | (x − 2) + 4 | ≤ | x − 2 |+4 n˜ao pode ser muito grande.
Assim, por exemplo, se| x − 2 | < 1, ent˜ao | x + 2 | < 5, portanto,
| x − 2 | < 1 ⇒(3 x2+ 5)− 17< 15| x − 2 | (∗)
Por sua vez, para tornarmos essa ´ultima express˜ao menor do que ε, basta escolhermos | x − 2 | < 15ε. Assim, escolhendo δ como o menor dentre os dois n´umeros 1 e 15ε, teremos que,
se 0 <| x − 2 | < δ, ent˜ao(3 x2+ 5)− 17< 15| x − 2 | < ε,
como quer´ıamos demonstrar. Note que a primeira desigualdade vale porque δ < 1 e portanto (*) ´e verdadeira e a ´
ultima desigualdade vale porque δ < 15ε, portanto,| x − 2 | < 15ε.
Exerc´ıcio 2
Tendo em vista a demonstra¸c˜ao anterior, calcule δ para que 3 x2+ 5 diste de 17 menos do que 30001 .
Exerc´ıcio 3
Considere f (x) = x3. Dado ε = .0001 determine 0 < δ que satisfa¸ca a defini¸c˜ao de limite para x
0= 2, isto ´e,
determine qu˜ao pr´oximo x deve estar de 2 para quex3− 8< .0001
Exerc´ıcio 4
Aplique a defini¸c˜ao de limite para mostrar que: (a) lim x→a x 2 = a2 (b) Se a > 0, lim x→a √
x =√a. Sugest˜ao: Use a identidade|√x−√a| = √|x−a|x+√a.
6.2.2
Defini¸
c˜
ao 2: Limites laterais
Da mesma forma, podemos definir em termos matem´aticos precisos as no¸c˜oes de limites laterais `a direita e `a esquerda.
Defini¸c˜ao 2.1: Limite lateral `a direita
Suponha uma fun¸c˜ao f definida no intervalo aberto (x0, a), a > x0. Dizemos que o n´umero L ´e o limite lateral `a
direita de f (x) no ponto x0, quando podemos fazer os valores de f (x) t˜ao perto de L quanto quisermos, bastando para
isso escolher x, no intervalo (x0, a), suficientemente pr´oximo de x0.
Em linguagem matem´atica, temos lim x→x0+
f (x) = L, se, dado qualquer n´umero ε > 0, n˜ao importa qu˜ao pequeno ele seja, ´e sempre poss´ıvel achar um n´umero δ > 0 tal que| f(x) − L | < ε para todo x que satisfizer as desigualdades
x0< x < x0+ δ.
Veja a anima¸c˜ao no texto eletrˆonico que ilustra essa defini¸c˜ao.
Observamos, uma vez mais, que a fun¸c˜ao f (x) n˜ao precisa estar definida em x0, mas apenas no intervalo (x0, a).
Defini¸c˜ao 2.2: Limite lateral `a esquerda
Suponha uma fun¸c˜ao f definida no intervalo aberto (a, x0), a < x0. Dizemos que o n´umero L ´e o limite lateral `a
esquerda de f (x) no ponto x0 quando podemos tornar os valores de f (x) t˜ao perto de L quanto quisermos, bastando
Em linguagem matem´atica, dizemos que lim x→x−0
f (x) = L se, dado qualquer n´umero ε > 0, n˜ao importa qu˜ao pequeno ele seja, ´e sempre poss´ıvel achar um n´umero δ > 0 tal que | f(x) − L | < ε para todo x que satisfizer as desigualdades x0− δ < x < x0.
Observe a anima¸c˜ao correspondente no texto eletrˆonico.
Como no caso anterior, a fun¸c˜ao f (x) n˜ao precisa estar definida em x0, mas apenas no intervalo (a, x0).
Repare que quando os dois limites laterais no ponto x0 existem e s˜ao iguais, temos que dado qualquer n´umero
ε > 0, n˜ao importa qu˜ao pequeno ele seja, ´e sempre poss´ıvel achar um n´umero δ > 0 tal que |f(x) − L| < ε para todo x que satisfizer as desigualdades x0 < x < x0+ δ e x0− δ < x < x0 simultaneamente, isto ´e, para todo x tal
que x0− δ < x < x0+ δ. Esta ´ultima desigualdade ´e equivalente a| x − x0| < δ, portanto, obtemos a defini¸c˜ao de
lim x→x0
f (x) = L. Por isso, a existˆencia e igualdade dos limites laterais ´e uma condi¸c˜ao necess´aria e suficiente para a existˆencia do limite no ponto. Veja a anima¸c˜ao no texto eletrˆonico que ilustra essa afirma¸c˜ao.
Como vimos na se¸c˜ao anterior, quando os limites laterais num ponto x0 qualquer s˜ao diferentes, n˜ao existe o
lim x→x0
f (x). Execute a anima¸c˜ao do texto eletrˆonico para visualizar esta afirma¸c˜ao.
Exerc´ıcio 5
Se f (x) =
{x + 1 2≤ x
−x x < 2, calcule f (2), limx→2+f (x) e o limx→2− f (x). Exerc´ıcio 6
(a) Calcule lim x→0+ √ x. (b) Existe o lim x→0 √
x? Justifique sua resposta.
6.2.3
Defini¸
c˜
ao 3: Limites Infinitos
Na se¸c˜ao anterior, vimos tamb´em que, dada uma fun¸c˜ao y = f (x), se f (x) cresce sem limite `a medida que x se aproxima de x0, dizemos que
lim x→x0
f (x) = +∞.
De um modo mais geral, dado qualquer n´umero positivo N , t˜ao grande quanto quisermos, sempre podemos achar um n´umero positivo δ, tal que, se
0 <| x − x0| < δ, ent˜ao f(x) > N
Observamos novamente que a fun¸c˜ao n˜ao precisa estar necessariamente definida no ponto x0, mas apenas em um
intervalo aberto contendo x0.
Exerc´ıcio 7
Calcule δ para que a fun¸c˜ao f (x) = x12 seja maior que 100000 toda vez que| x | < δ.
Exerc´ıcio 8
Defina em termos matem´aticos precisos o que entendemos por lim x→x0
f (x) =−∞
Exerc´ıcio 9
O que significam precisamente as express˜oes: lim x→x+0
f (x) =−∞ e lim
x→x−0
f (x) = +∞. Dˆe exemplo de uma fun¸c˜ao
que apresente esse comportamento no ponto x0= 0 e de uma outra fun¸c˜ao que apresente este comportamento em um
ponto x0 qualquer.
6.2.4
Defini¸
c˜
ao 4: Limites no infinito
Na se¸c˜ao anterior, vimos ainda alguns exemplos de fun¸c˜oes y = f (x), que se aproximavam de um valor L `a medida que x crescia em valor absoluto. Em nota¸c˜ao matem´atica escrevemos:
lim
x→∞f (x) = L oux→−∞lim f (x) = L. Neste caso, a reta y = L ´e uma ass´ıntota horizontal ao gr´afico da fun¸c˜ao f .
De um modo mais geral, dado qualquer n´umero positivo ε, t˜ao pequeno quanto quisermos, sempre podemos achar um n´umero positivo N , tal que:
| f(x) − L | < ε sempre que | x | > N.
Exerc´ıcio 10
Calcule N para que a fun¸c˜ao f (x) = 1
x diste de zero menos que
1
1000 , isto ´e, diga qu˜ao grande devemos considerar
x para que1
x<
1 1000.
6.3
Teoremas e propriedades operat´
orias
Nas se¸c˜oes anteriores vimos que, para calcular limites, n˜ao podemos nos basear, exclusivamente, em estimativas num´ericas que apenas sugerem o valor do limite e podem por vezes serem enganosas (veja exemplos desta afirma¸c˜ao nas atividades de laborat´orio) nem em aplica¸c˜oes diretas da defini¸c˜ao de limite para tentar provar o que tais estimativas sugerem, porque essas defini¸c˜oes s˜ao muito dif´ıceis para serem aplicadas comumente.
Para calcular limites com facilidade, precisamos de regras ou leis que simplifiquem o processo de c´alculo de limites, tornando-o mais simples. Essas regras s˜ao na realidade teoremas que s˜ao demonstrados a partir das defini¸c˜oes rigorosas de limite, dadas na se¸c˜ao anterior.
Uma vez demonstrados, podemos usar estes resultados apropriadamente para calcular limites, o que reduz esse c´alculo, como veremos a seguir, a manipula¸c˜oes alg´ebricas, em geral simples.
Teorema 1: Unicidade do limite
Se lim
x→x0
f (x) = L1 e lim
x→x0
f (x) = L2, ent˜ao L1= L2.
A id´eia da demonstra¸c˜ao ´e supor que L1̸= L2 . Se a partir dessa hip´otese chegarmos a uma conclus˜ao absurda,
teremos provado que n˜ao ´e poss´ıvel que L1̸= L2 e, portanto, L1= L2.
Demonstra¸c˜ao
Se L1̸= L2, podemos considerar o n´umero positivo ε = |L1−L2 2|. Como lim
x→x0
f (x) = L1, sabemos que existe um
n´umero δ1tal que se 0 <| x − x0| < δ1, ent˜ao| f(x) − L1| < ε.
Al´em disso, como lim x→x0
f (x) = L2, sabemos que existe, tamb´em, um n´umero δ2tal que se 0 <| x − x0| < δ2, ent˜ao
| f(x) − L2| < ε.
Seja δ = min(δ1, δ2), isto ´e, seja δ o menor dentre os n´umeros δ1 e δ2. Ent˜ao |f(x) − L1| < ε e |f(x) − L2| < ε,
portanto,
|L1− L2| = |L1− f(x) + f(x) − L2| ≤ |L1− f(x)| + |f(x) − L2| < ε + ε = 2 ε.
Da´ı, temos
| L1− L2| < | L1− L2|
Como o n´umero |L1− L2| n˜ao pode ser estritamente menor do que ele mesmo, chegamos a um absurdo, portanto,
a hip´otese que fizemos (supor L1̸= L2) n˜ao pode ser verdadeira. Assim, temos necessariamente que L1= L2, o que
prova a unicidade do limite.
Teorema 2: Limite da fun¸
c˜
ao identidade
Se f (x) = x, ent˜ao lim
x→x0
f (x) = x0.
Este teorema ´e inteiramente intuitivo e diz simplesmente que, `a medida que x se aproxima de x0, f (x) = x se
aproxima, como ´e ´obvio, do mesmo valor. Para demonstrar, rigorosamente, este teorema, basta tomar na defini¸c˜ao de limite δ = ε e a conclus˜ao segue trivialmente.
Teorema 3: Limite da fun¸
c˜
ao constante
Se f (x) = c, onde c ´e uma constante qualquer, ent˜ao lim
x→x0
f (x) = c.
Este ´e outro resultado bastante intuitivo. Se a fun¸c˜ao, independente de qual seja o valor de x, sempre assume o mesmo valor constante c , n˜ao importa qu˜ao pr´oximo x esteja de x0, o valor de f , e portanto o valor do limite, ser´a
sempre igual a c.
Usando a defini¸c˜ao formal de limite, precisamos mostrar que, para qualquer n´umero positivo escolhido ε, e para qualquer valor de δ (n˜ao importa qu˜ao pr´oximo x esteja de x0), se | x − x0| < δ, ent˜ao | f(x) − c | < ε.
Esta conclus˜ao ´e verdadeira qualquer que seja o n´umero positivo ε, pois a diferen¸ca f (x)− c ser´a sempre zero.
Se lim x→x0 f (x) = L e lim x→x0 g(x) = M , ent˜ao lim x→x0 (f (x) + g(x)) = L + M .
Este teorema diz, simplesmente, que se f (x) est´a perto de L, e se g(x) est´a perto de M quando x est´a perto de x0,
ent˜ao f (x) + g(x) est´a perto de L + M quando x est´a perto de x0.
Demonstra¸c˜ao
Seja ε > 0. Como lim x→x0
f (x) = L, existe um δ1 tal que
(i ) se 0 <| x − x0| < δ1, ent˜ao| f(x) − L | < ε2.
Al´em disso, como lim x→x0
g(x) = M , existe um δ2 tal que
(ii ) se 0 <| x − x0| < δ2, ent˜ao| g(x) − M | < ε2.
Considere agora δ = min(δ1, δ2), ent˜ao, se 0 <| x − x0| < δ, (i) e (ii) valem simultaneamente, e podemos concluir
que
| (f(x) + g(x)) − (L + M) | ≤ | f(x) − L | + | g(x) − M | < ε
2 +
ε
2 < ε , que ´e o resultado desejado.
Teorema 5: Limite da diferen¸
ca
Se lim x→x0 f (x) = L e lim x→x0 g(x) = M , ent˜ao lim x→x0 (f (x)− g(x)) = L − M.
A demonstra¸c˜ao desse resultado ´e an´aloga `a anterior. Tente demonstr´a-lo.
Teorema 6: Limite do produto
Se lim x→x0 f (x) = L e lim x→x0 g(x) = M , ent˜ao lim x→x0 (f (x) g(x)) = L M .
Este teorema afirma, simplesmente, que podemos fazer o produto f (x) g(x) t˜ao pr´oximo de LM quanto quisermos, bastando para isso escolher x suficientemente pr´oximo de x0.
A demonstra¸c˜ao ´e baseada na observa¸c˜ao de como os erros nas medidas do comprimento e da largura de um retˆangulo afetam a sua ´area. Suponha que queremos construir um retˆangulo cujo comprimento seja L e cuja largura seja M . Conseq¨uentemente, sua ´area ser´a L M .
Se cometermos um erro ao medirmos o comprimento deste retˆangulo e um outro erro ao medirmos a sua largura, estes erros ser˜ao propagados para a ´area do retˆangulo. Veja a figura a seguir, onde o erro total cometido na medida da ´area est´a representado por linhas pontilhadas.
LM M
L
Como a figura sugere, o erro na ´area pode ser dividido em trˆes partes. A primeira parte pode ser entendida como o produto do erro cometido no comprimento pela a largura do retˆangulo original; a segunda ´e o produto do erro cometido na largura pelo comprimento do retˆangulo original, finalmente, a terceira pode ser entendida como a ´area de um outro retˆangulo cujas medidas dos lados s˜ao o erro cometido no comprimento e na largura do retˆangulo original, respectivamente. Como ´e poss´ıvel controlar a ´area destes trˆes retˆangulos, controlando o tamanho do erro cometido na medida de L e M , podemos controlar o erro total cometido ao medirmos a ´area do retˆangulo original, isto ´e, o erro total cometido no produto L M .
Demonstra¸c˜ao
Seja ε > 0 . Sabemos que existem n´umeros positivos δ1 , δ2e δ3 tais que :
(i ) se 0 <| x − x0| < δ1, ent˜ao|f(x) − L| < 1, o que implica |f(x)| < |L| + 1
(ii ) se| x − x0| < δ2, ent˜ao| g(x) − M | < ε 2 (|L| + 1). (iii ) se 0 <| x − x0| < δ3, ent˜ao| f(x) − L | < ε 2 (|M| + 1).
Considere agora δ = min(δ1, δ2, δ3), ent˜ao, se 0 <| x − x0| < δ, (i), (ii) e (iii) valem simultaneamente e podemos
concluir que | (f(x) g(x)) − (L M) | < | f(x) | | g(x) − M | + (| M | + 1) | f(x) − L | < ε 2 + ε 2 < ε , o que demonstra o teorema.
Teorema 5: Limite do quociente
Se lim x→x0 f (x) = L, lim x→x0 g(x) = M e M̸= 0, ent˜ao lim x→x0 (f (x) g(x)) = L M.
Este teorema afirma que se f (x) est´a pr´oximo de L e g(x) est´a pr´oximo de M quando x est´a pr´oximo de x0, ent˜ao,
desde que M ̸= 0, o quociente f (x)g(x) est´a pr´oximo de ML quando x est´a pr´oximo de x0.
Demonstra¸c˜ao
Tendo em vista o teorema anterior, como f (x)
g(x) = f (x)
1
g(x), basta provar que
lim x→x0 1 g(x) = 1 M.
Para isso, devemos mostrar que qualquer que seja o n´umero positivo ε, existe um n´umero positivo δ, tal que se 0 <| x − x0| < δ, ent˜ao g(x)1 − 1 M = | g(x) − M || M | | g(x) |< ε. Como lim x→x0
g(x) = M , sabemos que, desde que x esteja suficientemente pr´oximo de x0, podemos tornar a diferen¸ca
| g(x) − M | t˜ao pequena quanto quisermos.
A id´eia, ent˜ao, ´e mostrar que|g(x)| n˜ao pode ser muito grande desde que |g(x) − M| seja pequena . Sejam δ1e δ2n´umeros positivos tais que
(i ) se 0 <| x − x0| < δ1, ent˜ao| g(x) − M | < |M|2 .
Para esses valores de x, temos que |M|2 <|g(x)|, o que ´e equivalente a 1 |g(x)| < 2 |M|, portanto, 1 g(x)− 1 M = 2| g(x) − M | M2 . (ii ) se 0 <| x − x0| < δ2,| g(x) − M | < ε| M |2 2 .
Considere agora δ = min(δ1, δ2). Ent˜ao, se 0 <| x − x0| < δ, (i ) e (ii) valem simultaneamente e podemos concluir
que g(x)1 − 1 M < 2 ε M2 M22 = ε ,
Observe que este teorema n˜ao afirma nada sobre o que acontece quando M = 0. De fato, se M = 0, qualquer coisa pode acontecer, mesmo no mais simples dos casos.
Seja, por exemplo, f (x) = k x e g(x) = x, onde k ´e um n´umero qualquer. Ent˜ao f (x)g(x) = k xx = k para x̸= 0 e al´em disso, o lim
x→x0
f (x)
g(x) = k, qualquer que seja o valor de x0. Veja esse fato ilustrado no diagrama a seguir para k = 2 e a = 0. 0 0.2 0.4 0.6 0.8 1 1.2 1.4 1.6 1.8 2 2.2 2.4 –1 –0.8 –0.6 –0.4 –0.2 0.2 0.4 0.6 0.8 1
O disco neste gr´afico ressalta o fato de que a fun¸c˜ao n˜ao est´a definida neste ponto; no entanto, seu limite neste e em todos os outros pontos ´e igual a k, que, nesse exemplo, foi tomado como sendo 2, mas poderia ser qualquer outro n´umero.
J´a estudamos uma situa¸c˜ao semelhante a esta quando tentamos calcular a declividade m da reta tangente ao gr´afico de uma fun¸c˜ao como o limite das declividades de retas secantes `a curva y = f (x), isto ´e, quando calculamos
lim x→x0
f (x)− f(x0)
x− x0
.
Nesse caso, quando x se aproxima de x0, tanto o numerador quanto o denominador se aproximam de zero. Este
teorema n˜ao se aplica a essa situa¸c˜ao e nada podemos afirmar quanto ao valor de limites deste tipo.
Para buscar solu¸c˜oes para situa¸c˜oes como estas, basta observar que o numerador e o denominador desse quociente tˆem x− x0 como fator comum, e como estamos interessados no comportamento da fun¸c˜ao quando os valores de x
se aproximam de x0, sem nunca chegar a atingir esse valor, podemos simplificar a express˜ao que define o quociente
dividindo numerador e denominador pelo seu fator comum e, depois desta simplifica¸c˜ao, calcular o valor do limite. Repare, no exemplo abaixo, que o Maple faz essa simplifica¸c˜ao automaticamente quando tra¸ca o gr´afico de fun¸c˜oes definidas por express˜oes deste tipo.
> m:=x->(x^2-4)/(x-2); m := x→ x 2− 4 x− 2 > plot(m(x),x=-4..4); –2 0 2 4 6 –4 –3 –2 –1 1 2 3 4 x Exerc´ıcio 11
Qual o limite da fun¸c˜ao acima quando x→ 2?
Embora simplifica¸c˜oes desse tipo sejam v´alidas e empregadas normalmente para o c´alculo de limites, devemos sempre lembrar que as fun¸c˜oes y = x + 2 e m = x2−4
x−2 n˜ao s˜ao iguais, pois seus dom´ınios s˜ao diferentes, embora esse fato n˜ao seja mostrado no gr´afico acima.
Exerc´ıcio 12
Se lim x→x0
f (x) = L, lim
x→x0
g(x) = 0, o que se pode afirmar a respeito do lim
x→x0
(f (x)
g(x))? Nesse caso, qual o
comporta-mento da fun¸c˜ao quociente quando x→ x0?
Teorema 6: Teorema do Sandu´ıche
Suponha que f (x)≤ g(x) e que g(x) ≤ h(x) numa vizinhan¸ca restrita de x0e que lim
x→x0 f (x) = L = lim x→x0 h(x). Ent˜ao lim x→x0 g(x) = L.
Este teorema ´e chamado Teorema do Sandu´ıche, ou do Confronto, porque diz, simplesmente, que se uma fun¸c˜ao, numa certa vizinhan¸ca de x0 onde estamos interessados em estudar o seu comportamento, est´a comprimida entre
outras duas que tendem ao mesmo limite L, ent˜ao o seu limite nesse ponto tamb´em deve ser L. Veja a id´eia geom´etrica ilustrada a seguir: –0.15 –0.1 –0.05 0 0.05 0.1 0.15 –0.4 –0.3 –0.2 –0.1 0.1 0.2x 0.3 0.4 Demonstra¸c˜ao
Seja ε > 0 e sejam δ1e δ2tais que :
(i ) se 0 <| x − x0| < δ1, ent˜ao| f(x) − L | < ε, isto ´e, L − ε < f(x) < L + ε.
(ii ) se 0 <| x − x0| < δ2, ent˜ao| h(x) − L | < ε, isto ´e, L − ε < h(x) < L + ε.
Dizer que f (x)≤ g(x) ≤ h(x), numa vizinhan¸ca restrita de x0, significa dizer que existe um n´umero p tal que
(iii ) f (x)≤ g(x) ≤ h(x) para todo x pertencente ao intervalo (x0− p, x0+ p).
Seja δ = min(δ1, δ2, p). Ent˜ao, se 0 < | x − x0| < δ, (i), (ii) e (iii) valem simultaneamente, e podemos concluir
que
L− ε < f(x) ≤ g(x) ≤ h(x) < L + ε.
Estas ´ultimas desigualdades s˜ao equivalentes a afirmar que
| g(x) − L | < ε,
como quer´ıamos demonstrar.
Os resultados enunciados a seguir, s˜ao conseq¨uˆencia direta dos teoremas anteriores. Deixamos suas demonstra¸c˜oes como exerc´ıcio para o leitor.
Corol´ario 1: Mostre que lim x→a x
n = an.
Corol´ario 2: Se lim
x→a f (x) = L e C ´e uma constante qualquer, ent˜ao lim
x→aC f (x) = C L .
Corol´ario 3 Sejam a0, a1, a2, . . . , an constantes quaisquer.
Se f (x) = anxn+ an−1x(n−1)+ ... + a1x + a0, ent˜ao lim
x→af (x) = f (a). Corol´ario 4 Sejam a0, a1, a2, . . . , an e b0, b1, b2, . . . , bn constantes quaisquer. Considere
f (x) = anxn+ an−1x(n−1)+ ... + a1x + a0,
g(x) = bnxn+ bn−1x(n−1)+ ... + b1x + b0 e
h(x) = f (x)
g(x).
Prove que se a pertence ao dom´ınio de h, ent˜ao limx→a h(x) = h(a).
Os teoremas enunciados nesta se¸c˜ao transformam, na maioria dos casos, o c´alculo de limites em simples c´alculos alg´ebricos. Exemplos de aplica¸c˜ao dos teoremas no c´alculo de limites s˜ao mostrados na pr´oxima se¸c˜ao.
6.4
Exemplos de aplica¸
c˜
oes dos teoremas no c´
alculo de limites
Exemplo 1 Calcule lim
x→3x
2+ 4 x + 4.
Solu¸c˜ao Aplicando a regra da soma, temos:
lim x→3x 2+ 4 x + 4 = ( lim x→3x 2) + ( lim x→34 x) + ( limx→34) Pela regra do produto e da multiplica¸c˜ao por constante, temos que:
( lim x→3x
2) + ( lim
x→34 x) + ( limx→34) = ( limx→3x) ( limx→3x) + ( limx→34) ( limx→3x) + 4 Logo, conclu´ımos que
lim x→3x
2+ 4 x + 4 = 32+ 4 (3) + 4 = 25
o que transforma o c´alculo desse limite num simples c´alculo alg´ebrico.
Exemplo 2 Calcule lim
x→3
2 x + 5
x2+ 4 x + 4.
Solu¸c˜ao No exemplo anterior, vimos que o lim
x→3x
2+ 4 x + 4̸= 0, portanto, podemos aplicar a regra do quociente
para afirmar que:
lim x→3 2 x + 5 x2+ 4 x + 4 = lim x→32 x + 5 lim x→3x 2+ 4 x + 4 = 2 (3) + 5 32+ 4 (3) + 4 = 11 25.
Exemplo 3 Calcule lim
x→1 [ (x2− x) 1 3 + (x3+ x)9 ] . Solu¸c˜ao lim x→1 [ (x2− x) 1 3 + (x3+ x)9 ] = lim x→1(x 2− x)13 + lim x→1(x 3+ x)9=[lim x→1(x 2− x)] 1 3 + [ lim x→1(x 3+ x)]9 = [ lim x→1x 2− lim x→1x ]1 3 + [ lim x→1x 3+ lim x→1x ]9 = (12− 1)13 + (13+ 1)9= 29= 512 .
Observa¸c˜ao Se f (x) = x2+ 4 x + 4, ent˜ao f (3) = 25 e, no Exemplo 1, poder´ıamos ter obtido o valor correto de
lim
x→3f (x) calculando, simplesmente, f (3). Esta mesma observa¸c˜ao vale para os Exemplos 2 e 3. As fun¸c˜oes dos Exemplos 1 e 2 s˜ao polinˆomios e fun¸c˜oes racionais (veja pr´oximo cap´ıtulo), respectivamente e, os Corol´arios 3 e 4 garantem que, se f (x) ´e um polinˆomio ou uma fun¸c˜ao racional e a pertence ao dom´ınio de f , ent˜ao lim
x→a f (x) = f (a). Fun¸c˜oes para as quais vale esta propriedade s˜ao chamadas de fun¸c˜oes cont´ınuas e ser˜ao estudadas no Cap. 8.
Exemplo 4 Ache lim
x→1
x2− 1
x− 1 .
Solu¸c˜ao Seja f (x) = xx2−1−1. Neste caso, n˜ao podemos calcular o limite simplesmente substituindo x = 1 na express˜ao que define f , pois f (1) n˜ao est´a definida. Nem podemos aplicar o t eorema do Quociente, porque o limite do denominador ´e zero. A id´eia ´e trabalhar algebricamente com a express˜ao dada, fazendo algum tipo de simplifica¸c˜ao antes de tentar calcular o limite pedido. Assim,
x2− 1
x− 1 =
(x + 1) (x− 1) (x− 1) .
O numerador e o denominador tˆem o fator comum x−1. Quando x se aproxima de 1, temos que x ̸= 1, ent˜ao x−1 ̸= 0. Logo, podemos cancelar o fator comum e calcular o limite como fazemos a seguir.
lim x→1 x2− 1 x− 1 = limx→1 (x + 1) (x− 1) (x− 1) = limx→1(x + 1) = 1 + 1 = 2 .
Exemplo5 Ache o lim
x→1g(x), onde g(x) = {
x + 1 se x̸= 1
π se x = 1
Solu¸c˜ao Neste exemplo g est´a definida em x = 1 e g(1) = π, mas, para uma fun¸c˜ao qualquer, o valor do limite
em um ponto independe do valor da fun¸c˜ao neste ponto. Como g(x) = x + 1 para x̸= 1, lim
x→1g(x) = limx→1(x + 1) = 2.
Note que as fun¸c˜oes dos Exemplos 4 e 5 s˜ao iguais, exceto quando x = 1, portanto, elas tendem para o mesmo limite quando x→ 1. Veja os gr´aficos destas duas fun¸c˜oes, mostrados a seguir.
–4 –3 –2 –1 0 1 2 3 4 y –4 –3 –2 –1 1 2x 3 4 –4 –3 –2 –1 0 1 2 3 4 y –4 –3 –2 –1 1 2x 3 4
Exemplo 6 Calcule lim
h→0
(3 + h)2− 9
h .
Solu¸c˜ao Seja F (h) = (3+h)h2−9. Como no Exemplo 4, precisamos simplificar F (h) antes de calcular o limite.
Assim, temos F (h) = (9 + 6 h + h 2)− 9 h = 6 h + h2 h = 6 + h.
(Lembre-se de que quando h→ 0 estamos considerando h ̸= 0, portanto os c´alculos alg´ebricos acima est˜ao corretos.) Em vista das igualdades acima, temos que
lim h→0
(3 + h)2− 9
h = limh→0(6 + h) = 6 .
Exemplo 7 Calcule lim
t→0
√
t2+ 9− 3
t2 .
Solu¸c˜ao N˜ao podemos aplicar o teorema do quociente imediatamente porque o limite do denominador ´e zero.
Aqui, o algebrismo consiste em racionalizar o numerador para tentarmos algum tipo de simplifica¸c˜ao. Assim,
√ t2+ 9− 3 t2 = √ t2+ 9− 3 t2 · √ t2+ 9 + 3 √ t2+ 9 + 3 = (t2+ 9)− 9 t2(√t2+ 9 + 3) = 1 √ t2+ 9 + 3.
As igualdades acima permitem concluir que lim t→0 √ t2+ 9− 3 t2 = limt→0 1 √ t2+ 9 + 3 = 1 √ lim t→0(t 2+ 9) + 3 = 1 3 + 3 = 1 6
Para calcular alguns limites, ´e preciso calcular, separadamente, os limites laterais `a esquerda e `a direita. Os teoremas da se¸c˜ao anterior para limites, valem, tamb´em para limites laterais. Os dois exemplos abaixo ilustram casos onde ´e necess´ario o c´alculo separado dos limites laterais.
Exemplo 8 Mostre que lim
x→0| x | = 0.
Solu¸c˜ao Como| x | = x, para x > 0, tem-se
lim
x→0+ | x | = limx→0+ x = 0.
Como,| x | = −x, ent˜ao
lim
Conseq¨uentemente, como os limites laterais existem e s˜ao iguais, ent˜ao lim x→0| x | = 0. Exemplo 9 Se f (x) = { √ x− 4 se x > 4
8− x se x < 4 . Determine, se existir, limx→4f (x).
Solu¸c˜ao Como f (x) =√x− 4, para x > 4, temos que
lim
x→4+f (x) = limx→4+
√
x− 4 =√4− 4 = 0. Como f (x) = 8− x, para x < 4 temos que
lim
x→4− f (x) = limx→4+(8− x) = 4.
Como os limites laterais s˜ao diferentes, n˜ao existe lim x→4f (x).
6.5
Atividades de laborat´
orio
Usando um computador e o Maple, fa¸ca as atividades propostas no arquivo lab2.mws da vers˜ao eletrˆonica deste texto.
6.6
Exerc´ıcios
1. Se lim
x→a f (x) = 4, limx→ag(x) =−2 e limx→ah(x) = 0, calcule os seguintes limites: (a) lim x→a(f (x)− g(x)) (b) lim x→a f (x) g(x) (c) lim x→a(g(x)) 2 (d) lim x→a h(x) f (x) (e) lim x→a 1 (f (x) + g(x))2.
2. (a) O que est´a errado na identidade x
2+ x− 6
x− 2 = x + 3?
(b) Tendo em vista o item anterior, explique por que a identidade lim x→2 x2+ x− 6 x− 2 = limx→2(x + 3) est´a correta. 3. Se lim
x→a(f (x) + g(x)) = 2 e limx→a(f (x)− g(x)) = 1, calcule limx→a(f (x) g(x)).
6.7
Problemas propostos
1. Nos ´ıtens a seguir, aplique as propriedades operat´orias de limites para calcular os limites que existam: (a) lim x→05 x 4− 4 x3+ 2 x− 14 (b) lim x→−12 x− x 4 (c) lim x→−1(x 2− 2)5 (d) lim x→1 x + 1 x2− 2 x − 2 (e) lim x→3 x2− 9 x− 3 (f) lim y→3 1 y− 1 3 y− 3 (g) lim t→−4 √ t + 8 25− t2 (h) lim x→0 √ x + 4− 2 x (i) lim x→4 x− 4 √ x− 2 (j) lim x→1 x2+ x− 2 x2− 4 x + 3 (k) lim x→2 (x− 2)2 x4− 16 (l) lim x→0 √ 1 + x−√1− x x
2. Calcule os seguintes limites: (a) lim x→0− x 2− | x | (b) xlim→0+ x 2− | x |
(c) Tendo em vista os dois itens anteriores, o que se pode afirmar a respeito do lim x→0 x 2− | x |? (d) lim x→3− √ 9− x2 (e) lim x→2 2− x | x − 2 | (f) limx→0f (x), onde { f (x) = x2 se x≤ 0 f (x) =−x se x > 0
3. Para cada uma das seguintes fun¸c˜oes, ache lim x→3 f (x)− f(3) x− 3 . (a) f (x) = 2 x2 (b) f (x) = 3 x2 (c) f (x) =x22 (d) f (x) = m x, (m=constante) (e) f (x) = 2 x2+ 3 x + 1 (f) f (x) = 1 x, para x̸= 0 (g) f (x) = x3
(h) O que representa geometricamente esse limite?
4. Para as fun¸c˜oes do problema anterior, ache lim x→x0
f (x)− f(x0)
x− x0
para um ponto x0 qualquer.
5. No cap´ıtulo sobre retas tangentes, vimos, geometricamente, que n˜ao existe reta tangente `a curva y = | x | no ponto x0= 0. Usando a defini¸c˜ao de declividade de reta tangente e a teoria dos limites desenvolvida nesse
cap´ıtulo, prove analiticamente esta afirma¸c˜ao.
6. (a) Um tanque cont´em 5000 litros de ´agua pura. ´Agua salobra contendo 30 g de sal por litro de ´agua ´e bombeada para o tanque, a uma taxa de 25 l/min. Mostre que a concentra¸c˜ao de sal no tanque ap´os t minutos (em g/l) ´e dada por C(t) = 30 t
200 + t.
(b) O que acontece com a concentra¸c˜ao quando t→ ∞. 7. Ache lim x→∞f (x) se 4 x− 1 x < f (x) < 4 x2+ 3 x x2 para todo x > 5.
8. Suponha que| f(x) | ≤ g(x) para todo x. Se lim
x→ag(x) = 0, calcule limx→a f (x).
9. O gr´afico de uma fun¸c˜ao y = f (x) tem uma ass´ıntota inclinada de equa¸c˜ao y = m x + b se lim
x→∞(f (x)−(mx +b)) = 0 ou se lim
x→−∞(f (x)− (mx + b)) = 0. (Os valores de m e b podem ser diferentes em cada caso.) (a) Prove que a reta y = x ´e uma ass´ıntota ao gr´afico da fun¸c˜ao y = x + 1x.
(b) O gr´afico da fun¸c˜ao f (x) = x(1
3)(1−x)(23)tem uma ass´ıntota inclinada. Encontre a equa¸c˜ao dessa ass´ıntota.
Sugest˜ao No caso em que x→ +∞, m = lim
x→∞
f (x)
x e b = limx→∞(f (x)− mx). Analogamente, se calcula m e b no caso em que x→ −∞.
(c) Tendo em vista a defini¸c˜ao de ass´ıntota inclinada, por que as express˜oes acima para m e b s˜ao v´alidas? 10. Dizemos que uma fun¸c˜ao f (x) ´e limitada quando existe um n´umero M tal que | f(x) | ≤ M, para todo x no
dom´ınio de f . Suponha que f ´e limitada. Mostre que: (a) lim
x→0x f (x) = 0 (b) lim
x→a g(x) = 0, ent˜ao limx→a g(x) f (x) = 0. Dˆe um contra-exemplo para mostrar que, se f n˜ao ´e limitada, essa conclus˜ao n˜ao vale.
(c) Mostre que se lim
x→af (x) = 0, ent˜ao limx→af (x) sen(x) = 0. 11. Suponha que lim
x→af (x) = f (a) > 0. Prove que existe uma vizinhan¸ca de a na qual f (x) > 0, isto ´e, prove que existe um δ > 0 tal que f (x) > 0 para todo x no intervalo (a− δ, a + δ).
12. Considere a fun¸c˜ao f (x) definida por f (x) = {
0, para x irracional
1, para x racional .
Explique por que qualquer que seja o n´umero real a, o lim