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FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA CAMPUS PROFESSOR FRANCISCO GONÇALVES QUILES CACOAL/RO DEPARTAMENTO ACADÊMICO DE DIREITO

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FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA

CAMPUS PROFESSOR FRANCISCO GONÇALVES QUILES – CACOAL/RO

DEPARTAMENTO ACADÊMICO DE DIREITO

NATASHA MIKELLA DA SILVA RODRIGUES

O PRINCÍPIO DA PROTEÇÃO INTEGRAL FRENTE AO CASAMENTO INFANTIL

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO MONOGRAFIA

CACOAL – RO 2018

(2)

NATASHA MIKELLA DA SILVA RODRIGUES

O PRINCÍPIO DA PROTEÇÃO INTEGRAL FRENTE AO CASAMENTO INFANTIL

Monografia apresentada à Fundação Universidade Federal de Rondônia – UNIR, Campus Prof. Francisco Gonçalves Quiles – Cacoal, como requisito parcial para obtenção do grau de Bacharel em Direito, sob a orientação da professora Doutora Neiva Cristina de Araújo.

CACOAL – RO 2018

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Rodrigues, Natasha Mikella da Silva .

O princípio da proteção integral frente ao casamento infantil / Natasha Mikella da Silva Rodrigues. -- Cacoal, RO, 2018.

62 f.

1.Casamento infantil. 2.Princípio da proteção integral. 3.Criança e adolescente. I. Araújo, Neiva Cristina de. II. Título.

Orientador(a): Prof.ª Dra. Neiva Cristina de Araújo

Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Direito) - Fundação Universidade Federal de Rondônia

R696p

CDU 342.726-053.2 _____________________________________________________________________________

_____________________________________________________________________________ CRB 11/Nº891 Bibliotecário(a) Naiara Raíssa da Silva Passos

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O PRINCÍPIO DA PROTEÇÃO INTEGRAL FRENTE AO CASAMENTO INFANTIL

Por

NATASHA MIKELLA DA SILVA RODRIGUES

Monografia apresentada ao Curso de Direito da Fundação Universidade Federal de Rondônia – Campus Prof. Francisco Gonçalves Quiles – Cacoal, para obtenção do grau de Bacharel em Direito, mediante a Banca Examinadora formada por:

__________________________________________________ Professora Dr.ª Neiva Cristina de Araújo – UNIR - Presidente

__________________________________________________ Professor M.e Silverio dos Santos Oliveira – UNIR - Membro

__________________________________________________ Professora Esp. Juliana Carvalho Da Silva Wendt – UNIR - Membro

Conceito: 889

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Ao Majestoso e Glorioso Deus Eterno, Senhor da minha vida, que me dá sabedoria e me sustenta em todos os momentos. A Ele toda honra e toda glória pelos séculos dos séculos.

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AGRADECIMENTOS

Ser grato àqueles que pelo menor gesto que realizaram, fez grande diferença em sua vida é uma maneira de demonstrar carinho. Neste momento, agradeço a cada um que, não apenas contribuiu para a construção deste trabalho, mas também ajudou em todos os momentos desses anos da graduação.

Agradeço ao Pai Celestial, que é Poderoso, Grandioso, Maravilhoso, Misericordioso, Deus Eterno, o grande Eu Sou, por cuidar de cada detalhe, me dando sabedoria nas provas, nos trabalhos realizados e apresentados, pela proteção diária pelo caminho até a Universidade. Não sou nada sem o Senhor e sem Ti, eu não chegaria a lugar algum. Sou grata por tudo que fez e faz em minha vida e reconheço que não mereço nada, mas mesmo assim, pelo grande amor e misericórdia que tem por mim, Lhe sou grata.

Agradeço a minha Mãe, mulher guerreira, bondosa, amorosa, que sempre me incentivou a estudar, que mesmo em meio a tantas dificuldades se dedica para cuidar de mim. Agradeço por todos os dias que me esperou chegar da universidade à 01 hora da madrugada, mesmo em dias chuvosos ou sem energia e também, por todas as orações que fez ao nosso Deus pedindo em meu favor. A senhora merece tudo que existe de melhor, por ser essa mulher tão esplêndida e um exemplo para mim e para todos que estão ao seu redor e principalmente, por ser Serva do Deus Altíssimo.

Agradeço ao meu esposo, o amor da minha vida, Lucas, por me animar em momentos que parecem perdidos, pelo cuidado que tem por mim, por me esperar retornar a casa, por ser meu melhor amigo e companheiro, por escutar as minhas conversas na madrugada, mesmo com sono e por entender as minhas ausências. Agradeço a Deus por colocá-lo em minha vida.

Agradeço ao meu Pai, por me auxiliar na escolha do curso e por me incentivar a estudar.

Agradeço as minhas irmãs Ana Paula, Bárbara e Flavia, vocês são incríveis. Nunca medem esforços para me ajudar em todos os momentos da minha vida. Sei que sempre posso contar com vocês, mesmo em dias difíceis, até mesmo para me levar ao ponto de ônibus nos dias de atraso. Enfim, agradeço a minha família por entender as minhas ausências.

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conviver durantes esses anos, em especial meus queridos amigos Andress, Andreza, Beatriz, Higor e Marina pela paciência que tiveram comigo durante todo esse tempo, por serem pessoas amáveis, dedicadas e por poder compartilhar não apenas os momentos da academia, mas também os momentos da minha vida. Vocês são os presentes que a Unir me deu.

Agradeço a minha amiga Dorys, pelos dias que me deu abrigo em sua casa, mesmo em momentos difíceis. Sei que posso contar com você em todas as circunstâncias da minha vida.

Agradeço a professora Daeane por ter me incentivado a estudar nessa instituição de ensino e por ser sempre tão dedicada; a professora Neiva, pela ajuda com o trabalho e principalmente pela indicação do tema; a professora Sônia por sempre ser tão prestativa e persistente e a professora Graciela por escutar as minhas angústias.

E por fim, agradeço a Associação dos Acadêmicos de Alta Floresta e em especial ao José da Costa (Zezinho/motorista), sempre tão dedicado e preocupado com todos que estão no ônibus, por todos àqueles dias que esperou eu chegar até a minha casa, me cuidando à distância, para minha proteção, nos dias que não havia ninguém esperando e também, aos meus queridos amigos e companheiros de viagem do ônibus, em especial a Francieli e a Raquel, vocês são exemplos de pessoas, dedicadas, batalhadoras e amorosas, obrigada por todo o carinho que sempre tiveram por mim.

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Ela saiu, sozinha Longe de casa está Mal se despiu ao mundo Vejo o medo no seu olhar

A minha menina

Me olha nos olhos e pede socorro Eu digo a ela:

"Não venda o teu corpo. Segura a tua alma, menina

Me espera, menina" Olha pra mim, te trouxe o bem

É a Boa Nova Vejo você sorrir

Vem caminhar, ouvindo a canção É esperança, é doce chuva que cai

Sobre ti

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RESUMO

O presente trabalho aborda o Casamento Infantil, que é a união formal ou informal em que uma das partes tem idade inferior a dezoito anos, relacionando-o ao Princípio da Proteção Integral previsto na Constituição Federal de 1988, artigo 227 e no Estatuto da Criança e do Adolescente. Para isso, utilizou-se do método de pesquisa hipotético-dedutivo, partindo da análise do Casamento Infantil, que é um problema tanto em âmbito internacional quanto no nacional, contextualizando-o na legislação internacional (tratados e convenções) e no ordenamento jurídico brasileiro sobre a proteção da criança e do adolescente. Ademais, para traçar a característica predominante do casamento infantil no Brasil, analisaram-se os dados do Censo Demográfico de 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística sobre os resultados da amostra de nupcialidade. Utilizou-se também a técnica de pesquisa bibliográfica, analisando a legislação e a doutrina sobre o tema. Por fim, o objetivo do trabalho buscou analisar o casamento infantil, as suas características no Brasil e contrapor ao Princípio da Proteção Integral para verificação de sua violação.

PALAVRAS-CHAVE: Casamento infantil; Princípio da Proteção Integral; criança e

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ABSTRACT

This paper deals with Child Marriage, which is a formal or informal union that one of the parties is inferior to eighteen years, relating to the Principle of Integral Protection in the Federal Constitution of 1988, article 227 and in the Statute of the Child and the Adolescent. To do this, use the hypothetical-deductive vision method, starting from the analysis of child marriage, which is a problem both internationally and in context of the international contextualization of legislation (treaties and conventions) and in the Brazilian legal system on child protection child and adolescent. In addition, to trace a predominance of child marriage in Brazil, data from the 2010 Brazilian Demographic Census of the Brazilian Institute of Geography and Statistics on the results of the nuptial sample were analyzed. Was also used a bibliographic research technique, analyzing legislation and a doctrine on the subject. Lastly, the article sought to analyse child marriage, as it's characteristics in Brazil and oppose to the Principle of Integral Protection for the verification of it's violation.

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1: Lista de Convenções e suas Ratificações no Brasil...15

Tabela 2: Metas do ODS 5...22

Tabela 3: Classificação dos 20 países com maiores números absolutos de casamento infantil e Índice de Desenvolvimento Humano (IDH)...25

Tabela 4: Família no Código Civil de 1916 e no Código Civil de 2002...42

Tabela 5: Total de Casamento Infantil por Região do Brasil...51

Tabela 6: Casamento Infantil e o IDH por Região do Brasil...51

Tabela 7: Tipos de união conjugal...52

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LISTA DE SIGLAS

DUDH – Declaração Universal dos Direitos Humanos ECA – Estatuto da Criança e do Adolescente

HIV – Vírus da Imunodeficiência Humana

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística IDH – Índice de Desenvolvimento Humano

ODM – Objetivos de Desenvolvimento do Milênio ODS – Objetivos de Desenvolvimento Sustentável ONU – Organização das Nações Unidas

UNFPA – Fundo de População das Nações Unidas UNICEF – Fundo das Nações Unidas para a Infância

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ... 12

1 O CASAMENTO INFANTIL ... 15

1.1 BREVE EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA PROTEÇÃO À CRIANÇA ... 15

1.2 OS OBJETIVOS DE DESENVOLVIMENTO DO MILÊNIO, OS OBJETIVOS DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E O CASAMENTO INFANTIL ... 17

1.3 O CASAMENTO INFANTIL NO MUNDO ... 24

2 OS DIREITOS HUMANOS E O PRINCÍPIO DA PROTEÇÃO INTEGRAL ... 31

2.1 OS DIREITOS HUMANOS ... 31

2.2 O PRINCÍPIO DA PROTEÇÃO INTEGRAL ... 36

2.3 O CASAMENTO INFANTIL, OS DIREITOS HUMANOS E O PRINCÍPIO DA PROTEÇÃO INTEGRAL ... 38

3 LEGISLAÇÃO BRASILEIRA E CARACTERÍSTICAS DO CASAMENTO INFANTIL ... 41

3.1 LEGISLAÇÃO E DOUTRINA RELACIONADA AO CASAMENTO INFANTIL ... 41

3.2 ÍNDICE DE DESENVOLVIMENTO HUMANO E DADOS DO IBGE ... 50

CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 54

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INTRODUÇÃO

O termo “casamento infantil” é utilizado para descrever as uniões conjugais formais ou informais em que uma das partes possui idade inferior a 18 (dezoito) anos. É considerado um problema internacional, sendo uma das metas do Objetivo de Desenvolvimento do Milênio nº 5 que trata sobre a igualdade de gênero e busca eliminar, no âmbito internacional, o casamento de crianças.

A organização não governamental Girls not brides1 (s.d.) realizou dois

rankings para análise comparativa de mais de cem países do mundo que possuem

casamento infantil entre a população. No primeiro ranking considerou os países com maiores números absolutos de casamento infantil, ocupando as quatro primeiras posições: Índia, Bangladesh, Nigéria e Brasil. No segundo ranking, que considerou o percentual de casamento infantil por população, o estado brasileiro ocupou a vigésima segunda posição. Em ambas as contagens, o Brasil é o primeiro da América Latina com a quantidade mais elevada de casamentos de pessoas menores de 18 (dezoito) anos de idade.

Mesmo havendo essa preocupação social e jurídica das Nações Unidas em resolver a situação e as elevadas ocorrências dessas uniões conjugais, existem poucas pesquisas e divulgação sobre o problema no Brasil, bem como a ausência de políticas públicas que proponha alteração na situação do país.

Ademais, o Princípio da Proteção Integral, disposto na Constituição Federal de 1988 e do Estatuto da Criança e do Adolescente dispõem que a criança e o adolescente necessitam de proteção especial e prioritária do Estado, da família e da sociedade. Por essas razões é que se propôs o estudo do tema sobre o Princípio da Proteção Integral relacionando-o com o casamento infantil, que é um problema social em âmbito externo e interno.

1

Meninas não noivas.

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Assim questiona-se se o casamento de crianças e adolescentes viola o Princípio da Proteção Integral.

O trabalho objetivou analisar o casamento infantil, as suas características no Brasil e contrapor ao Princípio da Proteção Integral para verificação de sua violação.

Para alcançar o objetivo principal, foi analisado o casamento sob a perspectiva internacional e nacional, bem como suas consequências para as crianças e os adolescentes que estão nesse tipo de união conjugal; realizou-se a verificação da violação tanto do Princípio da Proteção Integral quanto dos Direitos Humanos das crianças e dos adolescentes que vivem em uma união conjugal e analisou os dados do último registro do Censo Demográfico do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) que é do ano de 2010 buscando demonstrar as características do casamento infantil no Brasil.

O primeiro capítulo tratou sobre a evolução histórica da proteção à criança, partindo de uma visão do âmbito internacional para o âmbito nacional. Trouxe a conceituação sobre casamento infantil relacionando-o aos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio e os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, e explicou sobre o casamento infantil no âmbito internacional, a partir de estudos das Nações Unidas e de suas agências sobre o tema além de outras instituições internacionais.

O segundo capítulo explicou sobre os Direitos Humanos e seus reflexos para o ordenamento jurídico brasileiro e o Princípio da Proteção Integral, trazendo um breve contexto histórico de sua aplicação no Brasil, ao final do capítulo foi tratado sobre o casamento infantil, os Direitos Humanos e o Princípio supracitado.

O derradeiro capítulo buscou explicar quanto à legislação brasileira e quanto ao casamento de pessoas menores de 18 (dezoito) anos, trazendo opiniões de doutrinadores sobre este assunto e explicando sobre os requisitos e exceções legais do ordenamento jurídico brasileiro. Realizou-se também a análise da amostra de nupcialidade do Censo Demográfico do IBGE do ano de 2010 relacionando cada região do país, buscando comparar com o Índice de Desenvolvimento Humano regional e para definir as características gerais do Brasil quanto ao casamento infantil.

O método de pesquisa utilizado foi o hipotético-dedutivo, por ser um método que parte de um problema, que surge a partir de expectativas e conhecimentos prévios e busca hipóteses para solucioná-lo por meio da observação e da

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experimentação (LAKATOS; MARCONI, 2003, p. 95). E a técnica de pesquisa utilizada foi a bibliográfica, em razão da fundamentação em leitura, doutrina, interpretação da norma legal e em dados secundários obtidos por meio de resultados da amostra de Nupcialidade, Fecundidade e Migração do Censo Demográfico do IBGE de 2010.

Ao final do trabalho, pode se concluir que não apenas o Princípio da Proteção Integral está sendo violado, mas também os Direitos Humanos, pois o primeiro decorre do segundo e igualmente as diversas consequências que o casamento infantil pode acarretar na vida daqueles que vivem em tal situação.

Além disso, pode ser analisado que o casamento infantil ocorre no Brasil não por motivo de religião ou porque a cultura do país impõe, mas por outras variadas razões, entre as quais estão a gravidez na adolescência, ou mesmo incentivo da família por ser aquela criança ou adolescente uma preocupação para ela.

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1 O CASAMENTO INFANTIL

O casamento infantil é uma realidade mundial e que acarreta diversos problemas para a sociedade, para a família e principalmente para as crianças e os adolescentes que estão nessa condição. Diante disso, tem-se a necessidade de entender e dispor um breve contexto histórico sobre a proteção das crianças – segundo o conceito terminológico apresentado pela Convenção sobre os Direitos da Criança de 1989, das Nações Unidas – e como o mundo vem agindo para enfrentar esse problema internacional.

1.1 BREVE EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA PROTEÇÃO À CRIANÇA

Os direitos da mulher e da criança estão em evidência nas últimas décadas pelos organismos internacionais, sendo que a Organização das Nações Unidas (ONU) realizou algumas convenções para proteção desses direitos, conforme expostas na tabela seguinte:

Tabela 1: Lista de Convenções e suas Ratificações no Brasil

Convenções Decretos Brasil

Protocolo de Emenda da Convenção para a Repressão do Tráfico de Mulheres e Crianças e da Convenção para a Repressão do Tráfico de Mulheres Maiores

Decreto nº 37.176/1955 Convenção sobre os Direitos Políticos das Mulheres Decreto nº 52.476/1963 Convenção sobre a nacionalidade das mulheres casadas Decreto nº 64.216/1969 Convenção Sobre Consentimento para Casamento, Idade

Mínima para Casamento e Registro de Casamentos Decreto nº 66.605/1970 Convenção sobre os Direitos da Criança Decreto nº 99.710/1990 Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de

Discriminação contra a Mulher Decreto nº 4.377/2002

Protocolo Facultativo à Convenção sobre os Direitos da Criança relativos ao envolvimento de criança em conflitos armado

Decreto nº 5.006/2004 Protocolo relativo à venda de crianças, à prostituição infantil e

à pornografia infantil Decreto nº 5.007/2004

Fonte: United Nation - Treaty Collection (s.d.).

Verifica-se ainda o surgimento de organismos das Nações Unidas que objetivam a proteção da mulher, a proteção da criança e do adolescente, o que se pode depreender a partir de caso como o da ONU Mulheres (que reuniu no ano de

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2010 quatro agências e escritórios da Organização das Nações Unidas para defesa e proteção dos direitos das mulheres) e o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF). Para melhor análise dessa preocupação, faz-se necessário abordar breve contexto histórico do Direito da Criança e do Adolescente.

Durante vários períodos da história humana, as crianças e os adolescentes como um todo não tiveram importância e reconhecimento de direitos pelas legislações e sociedades de cada tempo, ora eram objetos do chefe da família ou do Estado, ora eram reconhecidos direitos apenas aos filhos considerados legítimos. Confirma-se o referido, analisando como exemplo, no período da Idade Antiga, na qual, verifica-se que, na civilização romana os filhos eram propriedades dos pais enquanto morassem em sua casa, decidindo o chefe da família, inclusive sobre a vida e a morte destes. Ainda, na civilização grega, apenas crianças fortes e saudáveis viviam e eram criadas objetivando a preparação de novos guerreiros, vistos como propriedade do Estado (MACIEL, 2010).

A primeira conceituação formal dos direitos da criança surgiu no ano de 1924, com a Declaração dos Direitos da Criança de Genebra, elaborado pela Liga das Nações, surgindo do trabalho de Eglantyne Jebb – fundadora da Save The Children

International2, organização não governamental que surgiu para ajudar crianças em situação de emergência decorrente da Primeira Guerra Mundial (UNICEF, 2009).

Somente no ano de 1959, após elaboração da Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948), a Organização das Nações Unidas (ONU) elaborou a Declaração dos Direitos da Criança, sendo este um marco do início da nova concepção de reconhecimento das crianças não mais como objetos, mas sim como titulares de direitos, que necessitam de proteção especial (PES, 2010).

Entretanto, ante a ausência de caráter vinculante da Declaração dos Direitos da Criança de 1959 e diante dos avanços da sociedade, no ano de 1979 as comissões da ONU iniciaram a elaboração da Convenção sobre os Direitos da Criança, sendo adotada no ano de 1989 pela Assembleia Geral das Nações Unidas (SOUZA, 2001). Maciel (2010, p. 12) destaca o seguinte:

Pela primeira vez, foi adotada a doutrina da proteção integral fundada em três pilares: 1º) reconhecimento da peculiar condição da criança e jovem como pessoa em desenvolvimento, titular de proteção especial; 2º) crianças e jovens têm direitos à convivência familiar; 3º) as Nações subscritoras 2

Salve as Crianças Internacional.

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obrigam-se a assegurar os direitos insculpidos na Convenção com absoluta prioridade.

Segundo Pes (2010), a Convenção sobre os Direitos das Crianças de 1989 é o principal marco internacional do reconhecimento de crianças e de adolescentes como sujeitos de direito e o principal marco jurídico interno no Brasil é a Constituição Federal de 1988, que obteve influências das discussões preparatórias da Convenção para incluir os textos de proteção à infância e à adolescência.

A Convenção sobre os Direitos da Criança considera como criança pessoa menor de 18 (dezoito) anos (artigo 1º da Convenção) e trata sobre várias garantias destes, incluindo a segurança, a educação, a convivência familiar, entre outros.

A Convenção foi recepcionada pelo ordenamento jurídico brasileiro por meio do Decreto nº 99.710/1990, mesmo ano em que fora promulgado o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), Lei nº 8.069/1990.

No Brasil, como explicado alhures, o grande marco é a Constituição Federal de 1988, que prevê garantias fundamentais às crianças e aos adolescentes no artigo 227, trazendo o Princípio da Proteção Integral, tendo este sido regulado pelo Estatuto da Criança e do Adolescente, e, após a Emenda Constitucional nº 65 de 2010, também pelo Estatuto da Juventude, Lei nº 12.852/2013.

Para demonstrar ainda mais a preocupação das Nações Unidas quanto aos direitos da criança e do adolescente, passa-se a expor quanto aos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio e aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável.

1.2 OS OBJETIVOS DE DESENVOLVIMENTO DO MILÊNIO, OS OBJETIVOS DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E O CASAMENTO INFANTIL

As Nações Unidas no ano de 2000 firmaram os chamados “Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM)” que fizeram parte de uma parceria global em que 191 (cento e noventa e um) países no ano de 2000 em uma conferência das Nações Unidas se comprometeram a alcançar até o ano de 2015 metas para o desenvolvimento das nações (ONU, s.d.).

Os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio são (UNICEF, s.d.):

1 Acabar com a fome e a miséria. Tendo como metas a) Reduzir pela metade até o ano de 2015, a proporção da população que vive com menos de um dólar por dia e b) reduzir pela metade, até 2015, a proporção da população que sofre com a

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fome;

2 Atingir o ensino básico universal. Garantir que, até o ano de 2015, todas as crianças de ambos os sexos terminem um ciclo completo de ensino básico. Segundo o UNICEF (s.d.), no ano de 2001 existia a estimativa de que “[...] 115 milhões de crianças em idade escolar não frequentavam as salas de aula, a maioria delas, meninas [...]”;

3 Promover a igualdade entre os sexos e a autonomia da mulher. A meta era eliminar a disparidade entre os sexos no ensino primário e secundário até o ano de 2005, e em todos os níveis de ensino até o ano de 2015. O UNICEF (s.d.) explica que dos dados estimados da quantidade de jovens e adultos analfabetos no mundo, 60% (sessenta por cento) eram mulheres;

4 Reduzir a mortalidade na infância. A meta para esse objetivo era a redução em dois terços, entre os anos de 1990 e 2015, a mortalidade de crianças menores de 5 (cinco) anos de idade;

5 Melhorar a saúde materna, reduzindo em três quartos a taxa de mortalidade materna, entre os anos de 1990 e 2015;

6 Combater a AIDS, a malária e outras doenças. As metas para esse objetivo eram deter, até 2015, a multiplicação do HIV/AIDS e ter detido a incidência da malária e de outras doenças importantes visando inverter a tendência atual até o ano de 2015;

7 Qualidade de vida e respeito ao meio ambiente. As metas desse objetivo estavam relacionadas com os princípios da sustentabilidade e a reversão da perda de recursos ambientais; a redução pela metade na proporcionalidade dos habitantes que não têm acesso permanente e sustentável à água potável e alcançar melhora na vida de no mínimo 100 milhões de habitantes de bairros degradados.

8 Estabelecer uma parceria mundial para o desenvolvimento. As metas desse objetivo envolvem em especial os países que estão em desenvolvimento (como o problema da dívida pública, de países sem acesso ao mar, etc), incentivando a participação do jovem no mercado de trabalho, bem como a acessibilidade às novas tecnologias.

Embora sem atingir efetivamente os objetivos traçados no ano 2000, ao findar o ano de 2015, reta final dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio, as Nações Unidas estabeleceram novos objetivos para alcançarem até o ano de 2030, os chamados “Objetivos de Desenvolvimento Sustentável” (ODS), elevando de 08 (oito)

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para 17 (dezessete) objetivos, os quais são os seguintes (ONU, s.d.):

1 Erradicação da Pobreza: o principal objetivo é erradicar a pobreza em todas as formas e em todos os lugares, por meio de inclusão das pessoas que vivem nessa situação à sistema de proteção social, ao acesso a serviços básicos e aos diversos tipos de recursos (natural, tecnológico etc) e incentivar a cooperação internacional para ajuda aos países em desenvolvimento e aos menos desenvolvidos. A pobreza extrema é medida com base nas pessoas que vivem com menos de US$ 1,90 por dia.

2 Fome zero e agricultura sustentável: o principal objetivo é “acabar com a fome, alcançar a segurança alimentar e melhoria na nutrição e promover a agricultura sustentável” (ONU, s.d.), proporcionando o acesso a alimentos seguros e nutritivos para todos (em especial as crianças, adolescentes, gestantes e lactantes e idosos), entre outras metas envolvendo especialmente o incentivo a agricultura dos pequenos produtores.

3 Saúde e Bem-Estar: principal objetivo é assegurar vida saudável e promover o bem-estar para todos. As metas desse objetivo incluem a redução da taxa de mortalidade materna; redução da mortalidade neonatal e a de crianças menores de 5 (cinco) anos; erradicação das epidemias; redução da mortalidade prematura por doenças não transmissíveis; reforço a prevenção e o tratamento de dependentes em substâncias (drogas, álcool), entre outras metas, o que inclui o acesso a saúde para todos.

4 Educação de Qualidade: objetivo principal é assegurar a educação inclusiva, justa e de qualidade, promovendo oportunidades de aprendizagem para todos ao longo da vida. As metas desse objetivo incluem garantir o acesso de meninas e meninos a educação de qualidade (nos ensinos pré-escolar, primário e secundário); assegurar a igualdade de acesso para homens e mulheres à educação técnica, profissional e superior de qualidade, entre outras metas.

5 Igualdade de Gênero: objetivo principal é alcançar a igualdade de gênero e o empoderamento de todas as mulheres e meninas. As metas desse objetivo serão explicitadas em momento posterior.

6 Água Potável e Saneamento: principal objetivo é assegurar a disponibilidade e gestão sustentável da água e saneamento, por meio de tratamento equivalente e erradicação da poluição desta, bem como cooperação internacional para apoio dos países em desenvolvimento a fim de disponibilizar sistemas

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relacionados a este e àquela.

7 Energia Limpa e Acessível: a meta principal é assegurar o acesso confiável, sustentável, moderno e com preço acessível a todos, incluindo o aumento da participação desse produto renovável, cooperação internacional para o acesso a pesquisa e tecnologias na produção de energia limpa e expansão de infraestrutura e modernização do fornecimento de serviços de energia sustentável para todos os países.

8 Trabalho Decente e Crescimento Econômico: objetivo maior é promover o crescimento econômico sustentado, inclusivo e sustentável, emprego pleno e produtivo e trabalho decente para todos, por meio da elevação da produtividade da economia pela tecnologia e por meio do aumento do produto interno bruto anual (PIB). Outra meta desse objetivo é padronizar a remuneração para trabalho de igual valor para pessoas de ambos os sexos e a redução do desemprego, entre outras.

9 Indústria, Inovação e Infraestrutura: a principal meta é a construção de infraestruturas resilientes, promoção da industrialização inclusiva e sustentável e fomentação da inovação. Esse objetivo está diretamente ligado com o objetivo 08 (oito) e busca melhorias e crescimento para industrialização.

10 Redução das Desigualdades: o objetivo principal é a redução da desigualdade entre os países e respectiva população. As metas incluem a promoção de inclusão social, econômica e política para todos, garantia de igualdade de oportunidades por meio de eliminação de leis, políticas e práticas discriminatórias, entre outras metas que visam valorizar o indivíduo em sua essência humana.

11 Cidades e Comunidades Sustentáveis: o objetivo geral é tornar as cidades e os assentamentos humanos inclusivos, seguros, resilientes e sustentáveis. As metas desse objetivo estão relacionados à habitação e transporte seguros, planejamento da urbanização, redução das mortes e número de pessoas afetadas por catástrofes, desenvolvimento da urbanização sustentável, entre outras.

12 Consumo e Produção Responsáveis: a principal meta é assegurar padrões de produção e de consumo sustentáveis estando esse objetivo relacionado à gestão sustentável e ao uso eficiente dos recursos naturais, redução do impacto gerado por resíduos na natureza, incentivo às grandes empresas à adoção de práticas sustentáveis, divulgação sobre à sustentabilidade a todos da sociedade, entre outras metas.

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urgentes para o combate da mudança do clima e de seus impactos. Destaca-se a meta 13.3 que trata sobre a melhora da educação e sobre o aumento da conscientização e da capacidade humana e das instituições sobre os impactos na mudança climática.

14 Vida na Água: o objetivo geral é a conservação e o uso sustentável dos oceanos, dos mares e dos recursos marinhos, por meio da prevenção e redução de todos os tipos de poluição marinha, de maneira efetiva regular a coleta e erradicar a sobrepesca ilegal, não reportada e não regulamentada e as pescas destrutivas, entre outras metas.

15 Vida Terrestre: principal meta é a proteção, recuperação e promoção do uso sustentável dos ecossistemas terrestres, gerir de forma sustentável as florestas, combater a desertificação, deter e reverter a degradação da terra e deter a perda de biodiversidade.

16 Paz, Justiça e Instituições Eficazes: a principal meta desse objetivo é a promoção de sociedades pacíficas e inclusivas para o desenvolvimento sustentável, proporcionando o acesso à justiça para todos e a construção de instituições eficazes, responsáveis e inclusivas em todos os níveis.

17 Parcerias e Meios de Implementação: o objetivo principal é o fortalecimento dos meios de implementação e revitalização da parceria global para o desenvolvimento sustentável por meio das áreas de finanças, tecnologia, capacitação, comércio entre outras metas.

Ressalte-se que os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável repetem os 08 (oito) Objetivos de Desenvolvimento do Milênio de maneira fragmentada e incluído dentre as metas de cada objetivo (exemplos ODS 1, ODS 2, ODS 3, ODS 4, ODS 5, ODS 7, ODS 13, ODS 14, ODS 15, ODS 17).

Tantos os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio, quanto os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável visam à proteção dos direitos da mulher e da criança, podendo ser notada tal preocupação no ODM 3 e no ODS 5.

Dentre tantas preocupações dos organismos internacionais o casamento infantil é uma delas. Segundo Taylor et al (2015), este é o termo mais utilizado entre os profissionais e pesquisadores da área, mas também é conhecido como casamento ou união precoce, prematuro. A autora explica ainda que o casamento infantil define-se pelas convenções internacionais como o casamento formal ou a união informal em que pelo menos uma das partes tenha idade abaixo dos 18

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(dezoito) anos.

Ressalte-se que se utiliza o termo “infantil” em decorrência da Convenção sobre os Direitos da Criança de 1989 conceituar esta, como pessoas menores de 18 (dezoito) anos de idade.

O casamento ou união infantil esteve de maneira discreta nos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM) no objetivo de nº 3 (três) que dispõe sobre a promoção da “igualdade entre os sexos e a autonomia das mulheres” (UNICEF, s.d.).

No ano de 2015, quando firmado os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, as Nações Unidas demonstraram maior preocupação com o problema global casamento na infância, o qual passou a fazer parte das metas do ODS nº 5 (cinco) e que estão dispostas a seguir:

Tabela 2: Metas do ODS 5 Metas do Objetivo 5 – Igualdade de gênero

5.1 Acabar com todas as formas de discriminação contra todas as mulheres e meninas em toda parte

5.2 Eliminar todas as formas de violência contra todas as mulheres e meninas nas esferas públicas e privadas, incluindo o tráfico e exploração sexual e de outros tipos

5.3 Eliminar todas as práticas nocivas, como os casamentos prematuros, forçados e de crianças e mutilações genitais femininas

5.4 Reconhecer e valorizar o trabalho de assistência e doméstico não remunerado, por meio da disponibilização de serviços públicos, infraestrutura e políticas de proteção social, bem como a promoção da responsabilidade compartilhada dentro do lar e da família, conforme os contextos nacionais

5.5 Garantir a participação plena e efetiva das mulheres e a igualdade de oportunidades para a liderança em todos os níveis de tomada de decisão na vida política, econômica e pública 5.6 Assegurar o acesso universal à saúde sexual e reprodutiva e os direitos reprodutivos, como acordado em conformidade com o Programa de Ação da Conferência Internacional sobre População e Desenvolvimento e com a Plataforma de Ação de Pequim e os documentos resultantes de suas conferências de revisão

5.a Empreender reformas para dar às mulheres direitos iguais aos recursos econômicos, bem como o acesso a propriedade e controle sobre a terra e outras formas de propriedade, serviços financeiros, herança e os recursos naturais, de acordo com as leis nacionais 5.b Aumentar o uso de tecnologias de base, em particular as tecnologias de informação e comunicação, para promover o empoderamento das mulheres

5.c Adotar e fortalecer políticas sólidas e legislação aplicável para a promoção da igualdade de gênero e o empoderamento de todas as mulheres e meninas, em todos os níveis

Fonte: ONU Brasil (s.d.).

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presente apenas no ODS nº 5 (cinco) que trata da igualdade de gênero, mas também inclui-se em outros 7 (sete) objetivos (Girls not Brides, s.d.):

ODS nº 1 - Acabar com a pobreza em todas as suas formas, em todos os lugares: este item torna-se importante por se referir a um dos fatores que ocasiona o casamento na infância e por ser uma de suas consequências, pois contribui para que perpetue a pobreza;

ODS nº 2 - Acabar com a fome, alcançar a segurança alimentar e melhoria da nutrição e promover a agricultura sustentável: crianças e adolescentes que estão em um relacionamento conjugal geralmente sofrem com taxas mais altas de desnutrição;

ODS nº 3 - Assegurar uma vida saudável e promover o bem-estar para todos, em todas as idades: as crianças e os adolescentes em uniões formais ou informais sofrem com a gravidez precoce, encontram-se mais vulneráveis a doenças sexualmente transmissíveis (saúde sexual e reprodutiva) e até saúde mental comprometida por se sentirem isoladas e em diversos casos, adotarem, inclusive pensamentos suicidas;

ODS nº 4 - Assegurar a educação inclusiva, equitativa e de qualidade, e promover oportunidades de aprendizagem ao longo da vida para todos: a relevância do tema relaciona-se à evasão escolar de meninas envolvidas em casamento infantil;

ODS nº 8 - Promover o crescimento econômico sustentado, inclusivo e sustentável, emprego pleno e produtivo e trabalho decente para todos: verifica-se nítida influência relacionada a esse objetivo em decorrência da falta de qualificação profissional de tais crianças, por não terem frequentado à escola na idade adequada e então, quando atingem a vida adulta ou são dependentes economicamente de seus companheiros/cônjuges ou trabalham em empregos com baixa remuneração, sem se esquecer de que também por causar impacto a fertilidade e a saúde, o casamento infantil afeta a economia do país;

ODS nº 10 - Reduzir a desigualdade dentro dos países e entre eles: nota-se em registros oficiais, os quais serão citados em momento posterior, que o casamento infantil afeta em proporção maior meninas de baixa renda e que não tem participação plena na sociedade;

ODS nº 16 - Promover sociedades pacíficas e inclusivas para o desenvolvimento sustentável, proporcionar o acesso à justiça para todos e construir

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instituições eficazes, responsáveis e inclusivas em todos os níveis: uma das consequências do casamento infantil é a violência doméstica, sexual e psicológica e, que sob amparo legal, necessita de cuidado especial neste contexto.

Diante dessas considerações pode-se confirmar que o casamento infantil é uma das preocupações internacionais, tanto que está presente em 08 (oito) dos 17 (dezessete) objetivos de desenvolvimento sustentável, integrando a agenda de desenvolvimento de todos os 193 (cento e noventa e três) países, demonstrando, portanto, ser um dos problemas mundiais, conforme será ainda melhor tratado a seguir.

1.3 O CASAMENTO INFANTIL NO MUNDO

O casamento infantil é um problema internacional em que os países integrantes da ONU objetivam solucionar. Diante dessa realidade, o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) no ano de 2017 apresentou o relatório anual da Situação Mundial da Infância.

Baseando-se nos resultados de pesquisas relacionados com o casamento infantil, bem como no relatório acima citado, a instituição Girls not Brides – parceria global de mais de mil organizações da sociedade civil de mais de 95 (noventa e cinco) países, com sede em Londres/Inglaterra, que visa erradicar o casamento infantil – apresentou um ranking que consta os países com maiores números absolutos de casamento infantil, uma vez que a pesquisa considerou como relevante a análise sobre mulheres entre 20 (vinte) e 24 (vinte e quatro) anos de idade que se casaram antes dos 18 (dezoito) anos:

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Tabela 3: Os 20 países com maiores números absolutos de Casamento Infantil e Índice de Desenvolvimento Humano (IDH)

Fontes: Adaptada de Girls not Brides (s.d.); de United Nations Development Programme (2018); de G1 (2010).

Nota: IDH de 2010 considera 169 países e o IDH de 2018 considera 189 países.

Observa-se que dos países acima, 09 (nove) estão na linha do baixo desenvolvimento humano (a partir da 152º posição, com IDH a partir de 0,546), 08 (oito) países estão na linha do médio desenvolvimento humano (a partir da 113º posição, com IDH a partir de 0,699) e 03 (três) países estão no grupo de alto desenvolvimento humano (a partir da 60º posição, com IDH a partir de 0,798). Destaque-se ainda que apenas a Tailândia, entre o período de 2010 e 2018, obteve melhora do Índice de Desenvolvimento Humano (UNITED NATIONS DEVELOPMENT PROGRAMME3, 2018).

A instituição Girls not Brides realizou ainda um ranking com os países com as taxas mais altas de casamento infantil, considerando também mulheres entre 20

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Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento.

Classificação Países Número de

Casamentos IDH 2010 IDH 2018 01 Índia 15.509.000 119º 130º 02 Bangladesh 4.451.000 129º 136º 03 Nigéria 3.538.000 142º 157º 04 Brasil 3.034.000 73º 79º 05 Etiópia 2.104.000 157º 173º 06 Paquistão 1.909.000 125º 150º 07 México 1.479.000 56º 74º 08 Indonésia 1.459.000 108º 116º

09 República Democrática do Congo 1.300.000 168º 176º

10 Uganda 787.000 143º 162º 11 Tanzânia 779.000 148º 154º 12 Filipinas 726.000 97º 113º 13 Egito 683.000 101º 115º 14 Níger 676.000 167º 189º 15 Moçambique 649.000 165º 180º 16 Sudão 640.000 154º 167º 17 Nepal 587.000 138º 149º 18 Afeganistão 572.000 155º 168º 19 Tailândia 543.000 92º 83º 20 Quênia 527.000 128º 142º ______________

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(vinte) e 24 (vinte e quatro) anos que se casaram antes dos 18 (dezoito) anos, sendo analisados mais de 100 (cem) países, entre os quais, ocupam as primeiras quatro posições Níger (76%), República Centro-Africana (68%), Chade (67%) e Bangladesh (59%). Nesse ranking o Brasil está na 22º (vigésima segunda) colocação com percentual de 36% de mulheres que se casaram antes dos 18 (dezoito) anos, o maior da América Latina.

Como se pode observar, o Brasil localiza-se em 4º (quarto) lugar no ranking mundial de casamento infantil em números absolutos e em 22º (vigésimo segundo) no ranking que considera as taxas de casamento infantil por população e, em ambos os casos, encontra-se na 1ª (primeira) colocação entre os países da América Latina. Em contraste a isso se identifica a ausência de pesquisas e investimento de políticas públicas sobre o tema no Brasil. Neste sentido, destaca-se o seguinte trecho da obra de Taylor et al (2015, p. 23):

Até agora, o casamento infantil não tem feito parte de pesquisas nacionais e das agendas das políticas públicas que visam proteger os direitos das mulheres e meninas e promover igualdade de gênero no Brasil. Ainda que haja um relevante corpo de pesquisa, assim como um intenso debate sobre políticas públicas sobre campos relacionados ao casamento infantil no Brasil – tais como gravidez na adolescência, abandono escolar, exploração sexual infantil e violência contra mulheres e crianças – nenhum estudo explora diretamente a prática e as consequências do casamento infantil na vida de milhares de mulheres jovens e meninas.

Embora o casamento infantil ocorra tanto com meninos quanto com meninas, estas são as mais atingidas. Segundo o relatório realizado pelo UNICEF no ano de 2014, intitulado “Ending child marriage: progress and prospects4” – fundamentado

em estimativas baseadas em um subconjunto de países com cerca de 50% (cinquenta por cento) da população mundial de mulheres e homens com dezoito anos ou mais de idade –, o número de meninas menores de 18 (dezoito) anos em algum tipo de união (formal ou informal) comportava 720 (setecentos e vinte) milhões e de meninos na mesma situação somavam 156 (cento e cinquenta e seis) milhões.

Segundo a organização não governamental Girls not Brides (s.d.) todos os anos 12 (doze) milhões de meninas se casam antes dos 18 (dezoito) anos, resultando em uma média de 23 (vinte e três) meninas casando-se por minuto. A

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Acabar com o casamento infantil: progresso e perspectivas

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estimativa é de que o número total de casamentos infantis chegará a 1,2 bilhões até o ano de 2050.

Ademais, o relatório “Progress for every child in the SDG era5” publicado pelo

UNICEF em março de 2018 (noticiada pela ONU Brasil logo após sua publicação no portal www.nacoesunidas.org), demonstra que embora esteja ocorrendo redução do número de casamentos infantis, se mantiver o mesmo ritmo, tornar-se-á necessário uma década para eliminar tal prática, não sendo, assim, possível alcançar o objetivo até 2030 (data estipulada pelas Nações Unidas no ODS) para a erradicação total da prática.

As pesquisas realizadas pelos sistemas da ONU fundamentaram o relatório “Fechando a Brecha: Melhorando as Leis de Proteção à Mulher contra a Violência”, realizado pelo projeto Mulheres, Empresas e o Direito do Grupo Banco Mundial (Sakhonchik et al, s.d.), que tem como finalidade demonstrar a necessidade de revogar leis que permitem o casamento para pessoas menores de 18 (dezoito) anos de idade e as consequências que o casamento infantil acarreta a elas. Segundo esse relatório, existem 12 (doze) economias em que a idade legal para menina se casar é abaixo dos 18 (dezoito) anos em contraposição há 05 (cinco) para meninos.

As causas para a ocorrência do casamento infantil variam conforme cada região/país. Em alguns países como na Etiópia (alguns locais do país), por exemplo, o casamento infantil é uma tradição em que uma menina após a sua primeira menstruação e após passar pelo ritual que a insere no mundo adulto, conhecido como Mutilação Genital Feminina (MGF), preparando-as para o casamento, declara-a prontdeclara-a pdeclara-ardeclara-a o mdeclara-atrimônio (WILLIAMS, 2014).

As situações de pobreza também são causas que contribuem para a proliferação do casamento infantil. Segundo a reportagem realizada por Helena Pes no campo de refugiados de Mbera, na Mauritânia (Agência da ONU para Refugiados - ACNUR, 2018, s.p.) “A pobreza e a vulnerabilidade dentro do campo de refugiados de Mbera contribuíram para o fenômeno de casamentos precoces e forçados”.

Diante desses exemplos citados acima, observa-se que o casamento infantil trata-se de questão cultural (tradição, religião), pobreza, desigualdade de gênero. Tavares (2017, s.p.) – especialista em Desenvolvimento do Setor Privado do Banco Mundial e uma das autoras do relatório realizado pelo projeto Mulheres, Empresas e

5

Progresso para todas as crianças na era do ODS

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o Direito – explica de maneira geral em um texto publicado no site Nexo Jornal, as causas do casamento infantil no mundo:

Em muitos lugares, onde as mulheres não têm a perspectiva de contribuir economicamente para a família por meio de seu trabalho, as filhas são vistas como um fardo econômico. O casamento precoce passa a ser assim uma solução por país em situação de pobreza, buscando aliviar o custo de educar e cuidar de uma criança. O casamento pode ser visto ainda como uma forma de dar à menina segurança econômica, ou mesmo ser uma fonte de renda para a família em sociedades onde há o pagamento de dote pela noiva.

O casamento infantil acarreta diversas consequências e não apenas na vida das crianças e dos adolescentes que estão nessa situação, mas também para o país como um todo, em áreas como saúde, maternidade, segurança, educação, economia, entre outras. Como exemplo, destaque-se a seguinte fala de Tavares (2017, s.p.):

As consequências podem ser ainda mais nefastas: meninas casadas antes dos 18 anos respondem pela maioria dos casos de gravidez na adolescência, taxas mais altas de mortalidade materna e infantil, nível educacional mais baixo e menores rendas. Além disso, essas meninas têm maior probabilidade de ser vítimas de violência doméstica e representam até 30% do abandono escolar feminino no ensino médio.

As condições de trabalho de meninas que se casaram precocemente são inferiores economicamente, perpetuando o ciclo de desigualdade, pobreza e violência (TAVARES, 2017). Nesse mesmo sentido, observa-se o seguinte trecho do sumário executivo da obra de Taylor et al (2015, p. 12):

As principais consequências do casamento na infância e adolescência identificadas incluem: (1) gravidez (por vezes é a própria causa do casamento) e subsequentes problemas de saúde maternal, neonatal e infantil que ocasionam um aumento de risco no corpo de uma criança ou adolescente; (2) atrasos e desafios educacionais; (3) limitações à mobilidade e às redes sociais das meninas (principalmente porque as expectativas de independência são frustradas por maiores restrições à mobilidade do que antes do casamento); (4) exposição à violência do parceiro íntimo, incluindo uma gama de comportamentos controladores e não equitativos por parte dos maridos mais velhos. O estudo também constatou oferta inadequada e muitas vezes discriminatória de serviços e de proteção dos direitos de meninas casadas.

Sakhonchik et al (s.d., p. 4) traz que a eliminação do casamento infantil gera ganhos para a economia do país e exemplifica dizendo que no Níger, a eliminação

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dessa prática “[...] pode levar a ganhos estimados de mais de US$ 25 (vinte e cinco) bilhões nos próximos 15 (quinze) anos, com a redução do crescimento populacional e o aumento da escolaridade das meninas [...]”, explica ainda que o Produto Interno Bruno do país é de aproximadamente US$ 8,17 bilhões.

O Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA) realizou um levantamento no ano de 2015 sobre os 10 (dez) fatos pouco conhecidos da população mundial, e entre os pontos destacados, 02 (dois) tratam do casamento infantil: o ponto 4 (quatro) explica que para acabar com essa prática deve-se promover a igualdade de gênero e a erradicação da pobreza, por serem algumas das causas de ocorrência; o ponto 5 (cinco) destaca que complicações na gravidez e no parto são a segunda principal causa de morte de meninas adolescentes nos países em desenvolvimento e que para ocorrer a redução desse problema torna-se necessário eliminar o casamento infantil e promover os direitos das meninas.

O relatório denominado Situação da População Mundial do ano de 2013, realizado pela UNFPA, trata sobre a maternidade precoce e explica que 20 mil meninas com idade inferior a 18 (dezoito) anos dão à luz em países em desenvolvimento e que nove em cada 10 dos nascimentos ocorrem dentro de uma união conjugal (formal ou informal) (UNFPA, 2013).

O Relatório realizado pelo UNICEF da Situação Mundial da Infância do ano de 2011 também destaca que a gravidez precoce e os riscos na maternidade são consequências do casamento infantil, haja vista tais meninas não estarem preparadas fisicamente para a experiência. Além disso, o relatório dispõe que o casamento infantil encontra-se associado à maior risco de meninas contraírem doenças sexualmente transmissíveis como o Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV), bem como a menor frequência ao ensino secundário por elas.

No Brasil, segundo Taylor et al (2015) o casamento infantil ocorre com mais frequência na adolescência (entre 12 (doze) e 18 (dezoito) anos), envolvendo mais meninas do que meninos e na maioria dos casos são uniões informais e consensuais. Ademais, a pesquisa realizada por Taylor et al (2015, p. 11) demonstra que os fatores principais que levam ao casamento infantil são:

(1) o desejo, muitas vezes, de um membro da família, em função de uma gravidez indesejada e para proteger a reputação da menina ou da família e para segurar a responsabilidade do homem de “assumir” ou cuidar da menina e do(a) bebê potencial; (2) o desejo de controlar a sexualidade das meninas e limitar comportamentos percebidos como ‘de risco’ associados à

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vida de solteira, tais como relações sexuais sem parceiros fixos e exposição à rua; (3) o desejo das meninas e/ou membros da família de ter segurança financeira; (4) uma expressão da agência das meninas e um desejo de saírem da casa de seus pais, pautado em uma expectativa de liberdade, ainda que dentro de um contexto limitado de oportunidades educacionais e laborais, além de experiências de abuso ou controle sobre a mobilidade das meninas em suas famílias de origem; (5) o desejo dos futuros maridos de se casarem com meninas mais jovens (consideradas mais atraentes e de mais fácil controle do que as mulheres adultas) e o seu poder decisório desproporcional em decisões maritais.

Além disso, não há divulgação desse problema no Brasil, pelo contrário, a mídia influencia a sociedade, fazendo parecer que a situação é “normal” e não um problema social, tratando crianças e adolescentes como mulheres adultas. Como se pode exemplificar, há uma variação de músicas da cultura brasileira contemporânea nas quais em suas letras a criança/adolescente menina é apresentada como “novinha”, enfatizando sensualidade e práticas sexuais.

Diante ao exposto, verifica-se que em todo o contexto do casamento infantil, faz-se necessária a análise das convenções que tratam sobre os direitos da criança e do adolescente, bem como o ordenamento jurídico brasileiro, os quais serão tratados nos capítulos que seguem.

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2 OS DIREITOS HUMANOS E O PRINCÍPIO DA PROTEÇÃO INTEGRAL

Os Direitos Humanos integram a vida de todas as pessoas, independente de sexo, cor, idade, raça, religião e idade. No âmbito internacional, a base maior dos Direitos Humanos está na Carta Internacional de Direitos Humanos, realizada pelas Nações Unidas em 1945.

No Brasil, uma das consequências que se pode observar dos Direitos Humanos é o Princípio da Proteção Integral, prevista na Constituição Federal de 1988 e regulamentada pelo Estatuto da Criança e do Adolescente

Diante dessas considerações, o presente capítulo abordará os Direitos Humanos, o Princípio da Proteção Integral, fazendo uma breve análise do contexto históricos destes e de suas aplicações nos âmbitos externos e internos e, consequentemente, relacionará ambos os conceitos com o casamento infantil

2.1 OS DIREITOS HUMANOS

A Revolução Francesa do século XVIII deu origem à Declaração Francesa de Direitos do Homem e do Cidadão de 1789, fundamentando-se no lema da revolução, Liberdade, Igualdade e Fraternidade. Fundamentados nesses ideais criou-se, doutrinariamente, divisões dos direitos humanos em três gerações/dimensões (inicialmente), sendo as seguintes: a) primeira dimensão são os direitos civis e políticos; b) segunda dimensão são os direitos sociais, culturais, econômicos e os direitos coletivos; c) terceira dimensão são os direitos de fraternidade ou de solidariedade (BONAVIDES, 1998).

Com o passar dos séculos, existiram críticas com relação às dimensões dos direitos, visto que se tratavam apenas de direitos que, embora fossem naturais e inalienáveis do homem (fundamentado na concepção jusnaturalista), dependiam de sua integração no ordenamento jurídico interno dos Estados para que fossem garantidos (SARLET, 2007).

A partir da Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948 (DUDH) passa-se a ideia de universalidade desses direitos, que, conforme explicação de Bonavides (1998) é a unificação dos direitos de liberdade, de igualdade e de fraternidade sem excluir um ao outro, mas, pelo contrário, trazendo a ideia de complementação de um ao outro.

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Segundo Piovesan (2013), a ideia de internacionalização dos Direitos Humanos surgiu após a Primeira Guerra Mundial, tendo como marco inicial o surgimento do Direito Humanitário, da Liga das Nações e da Organização Mundial do Trabalho (OIT), alterando a ideia de soberania interna dos países, para que os Direitos Humanos fossem matéria de direito internacional.

Entretanto, somente após a Segunda Guerra Mundial que a internacionalização dos Direitos Humanos tivera maior importância, com a criação da ONU por meio da Carta das Nações Unidas, também conhecida como Carta de São Francisco, assinada em 1945.

Ramos (2011, p. 38) explica que a Carta das Nações Unidas é o primeiro tratado universal “[...] que reconhece os direitos fundamentais de todos os seres humanos, impondo o dever dos Estados de assegurar a dignidade e o valor do ser humano [...]” (grifo do autor).

A Carta das Nações Unidas traz em seu artigo 1º os seus objetivos, sendo um deles obter cooperação internacional “[...] para promover e estimular o respeito aos direitos humanos e às liberdades fundamentais para todos [...]” (1945, p. 5).

Como a Carta não especificou quais seriam esses direitos, fez-se necessária a criação da Declaração Universal de Direitos Humanos, criada como uma Resolução da Assembleia Geral da ONU no ano de 1948. Contudo, por não possuir força vinculante, foram elaborados tratados internacionais para implementação da Declaração, sendo os principais deles o Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos e o Pacto Internacional de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais.

Tanto a DUDH quanto o Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos e o Pacto Internacional de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais formam a chamada Carta Internacional de Direitos Humanos, visto que possuem alcance universal (RAMOS, 2011).

Piovesan (2013) aduz que a Declaração Universal de Direitos Humanos de 1948, por se tratar de uma regulamentação da Carta das Nações Unidas possui força vinculante. Além disso, refere-se a um direito costumeiro internacional, pois os países inseriram em seus ordenamentos jurídicos internos os direitos humanos e também por aludir-se a um princípio geral de direito internacional.

Ainda segundo Piovesan (2013), é considerado como Direito Internacional de Direitos Humanos porque deve ser respeitado por todas as nações e não apenas por àquelas que ratificaram a Carta das Nações Unidas e a Declaração. Destaque-se o

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seguinte trecho da obra de Piovesan (2013, p. 208) que defende a ideia de universalidade dos Direitos Humanos:

Seja por fixar a ideia de que os direitos humanos são universais, decorrentes da dignidade humana e não derivados das peculiaridades sociais e culturais de determinada sociedade, seja por incluir em seu elenco não só direitos civis e políticos, mas também sociais, econômicos e culturais, a Declaração de 1948 demarca a concepção contemporânea dos direitos humanos.

A partir da DUDH/1948, surgiram vários documentos (tratados, convenções, etc) que a complementam. Entre os quais se encontram: Convenção sobre a Prevenção e Repressão do Crime de Genocídio (1948), Convenção para Eliminação de todas as Formas de Discriminação Racial (1965), Convenção para Eliminação de todas as Formas de Discriminação contra as Mulheres (1979), Convenção dos Direitos da Criança (1989), Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência (2006), entre outras (ONU, s.d.).

Piovesan (2013, p. 205) explica que o objetivo da Declaração Universal de Direitos Humanos é “[...] delinear uma ordem pública mundial fundada no respeito à dignidade humana, ao consagrar valores básicos universais [...]”. Aduz que para a DUDH o único requisito para ser titular de direitos é a condição de pessoa. Seguindo a mesma semântica, defende Bonavides (1998, p. 527):

A nova universalidade procura, enfim, subjetivar de forma concreta e positiva os direitos da tríplice geração na titularidade de um indivíduo que antes de ser o homem deste ou daquele país, de uma sociedade desenvolvida ou subdesenvolvida, é pela sua condição de pessoa um ente qualificado por sua pertinência ao gênero humano, objeto daquela universalidade.

Ante esse contexto, o que se pode concluir é que a base dos Direitos Humanos é a busca pela defesa e pela garantia da Dignidade da Pessoa Humana que, alicerçado no entendimento de Kant (2007) cada pessoa possui singularidade e individualidade que o torna especial. Toda a humanidade, independente de sua cor, raça, sexo, religião, nacionalidade, é importante para a ordem jurídica, porque o Direito existe em função da pessoa, para ajudar em seu desenvolvimento. José Afonso da Silva (2007, p. 37) explicando a ideia de Kant sobre dignidade, discorre da seguinte forma:

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[...] a dignidade é atributo intrínseco, da essência, da pessoa humana, único ser que compreende um valor interno, superior a qualquer preço, que não admite substituição equivalente. Assim a dignidade entranha e se confunde com a própria natureza do ser humano.

Conforme lecionada Agra (2018, p. 156), a dignidade da pessoa humana é o elemento central da esfera jurídica e nenhuma norma deste pode ferir o seu conteúdo essencial, visto que “[...] o homem é considerado o valor mais importante do ordenamento jurídico, tornando-o vetor paradigmático para a interpretação das demais normas e valores constitucionais”.

A Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 apresenta total destaque para a dignidade da pessoa humana, colocando-a como um dos fundamentos da República, conforme demonstrado em seu artigo 1º, inciso III.

A Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948 trouxe a proteção às crianças em seu artigo 25.2, dispondo que “A maternidade e a infância têm direito a cuidado e assistência especiais. Todas as crianças, nascidas dentro ou fora do matrimônio, gozarão da mesma proteção social”.

Para garantir ainda mais proteção à criança e ao adolescente, a ONU, no ano de 1989 realizou a Convenção dos Direitos da Criança (conforme já tratado no capítulo 1.1 deste trabalho). O principal objetivo da realização desta Convenção respalda-se no fornecimento de tratamento especial às crianças e aos adolescentes em âmbito internacional, sendo que referida proteção especial já se encontrava prevista na DUDH/1948. Ademais, é um dos tratados internacionais de proteção aos direitos humanos com número elevado de ratificações, que em dezembro do ano de 2012 contava com a adesão de 193 (cento e noventa e três) Estados-partes (PIOVESAN, 2013).

O que torna a Convenção dos Direitos da Criança (1989) importante é que esta destaca a importância da cooperação internacional e também, que cada Estado garanta em seu ordenamento jurídico interno os direitos à vida, à saúde, à segurança, à educação, ao convívio familiar, ao desenvolvimento harmonioso, à liberdade (entre outras garantias) a toda criança e adolescente, sem qualquer distinção. Nesse mesmo sentido, Pes (2010, p. 55):

O que torna a questão da Convenção proeminente tem a ver com os preceitos reafirmados por ela, eis que nela se reconhecem, sem distinção de raça, cor, sexo, língua, religião, opinião política, origem nacional ou social, posição econômica e nascimento, que toda a criança tem direito a

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um desenvolvimento harmonioso e sadio em um ambiente familiar repleto de felicidade, amor e compreensão. Firma, ademais, que deverá haver a cooperação internacional, mediante responsabilidade dos Estados-partes, para que este direito efetivamente se realize.

O artigo 4º e o artigo 19 da Convenção de 1989 dispõem que os Estados-partes devem adotar todos os recursos e meios necessários para implementar os direitos reconhecidos na referida Convenção, prezando pela cultura e etnia de cada Estado. Observa-se, diante disso, que do mesmo modo que a Declaração de Direitos Humanos (1948) é universal, a Convenção sobre os Direitos da Criança (1989) também coaduna, no sentido de que toda criança requer proteção especial devido ao seu estágio de desenvolvimento físico e mental. Veronese (2013, p. 49) explica que crianças e adolescentes necessitam de atenção especial:

[...] toda criança e adolescente são merecedores de direitos próprios e especiais que, em razão de sua condição específica de pessoas em desenvolvimento, estão a necessitar de uma proteção especializada, diferenciada e integral.

Nesse mesmo sentido, o artigo 15 do Estatuto da Criança e do Adolescente (1990) dispõe que “A criança e o adolescente têm direito à liberdade, ao respeito e à dignidade como pessoas humanas em processo de desenvolvimento e como sujeitos de direitos civis, humanos e sociais garantidos na Constituição e nas leis”.

Destarte, a Convenção sobre os Direitos da Criança demonstra a previsão do Princípio da Proteção Integral, visto que prevê proteção especial, absoluta e prioritária para crianças e adolescentes.

Como reflexo da Declaração Universal de Direitos Humanos e da Convenção dos Direitos da Criança, o ordenamento jurídico brasileiro, por meio do texto constitucional – Constituição Federal de 1988 dispõe em seu artigo 227 e no Estatuto da Criança e do Adolescente de 1990 (que regulamenta tal disposição constitucional) sobre esta base e norte que é o Princípio da Proteção Integral, o qual passa a ser explicado.

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2.2 O PRINCÍPIO DA PROTEÇÃO INTEGRAL

O Princípio da Proteção Integral substituiu o Princípio da Situação Irregular que estava no ordenamento jurídico brasileiro desde 1926 até a Constituição Federal de 1988 e o Estatuto da Criança e do Adolescente em 1990.

O princípio da Situação Irregular fundava-se no binômio carência/delinquência, em que se pensava que o Estado possuía o dever de proteger os menores (termo utilizado naquele período), entretanto para realizar essa proteção suprimia as suas garantias.

Foram criadas leis que tratavam sobre as situações das crianças e adolescentes durante o período citado: Decreto nº 5.083/1926 (primeiro Código de Menores do Brasil); Decreto nº 17.943-A/1927 (conhecido como Código Mello Mattos); Lei nº 6.697/1979 (Código de Menores). O princípio da situação irregular se consolidou de maneira explícita no Código de Menores de 1979, mas já estava presente nos demais implicitamente.

O princípio da Situação Irregular buscava regular a situação de crianças e adolescentes que estavam em situação de abandono e/ou delinquência, ou seja, as crianças que não estavam em situações regulares. Maciel (2010, p. 13) explica o seguinte sobre esse princípio:

Compreendia o menor privado de condições essenciais à sua subsistência, saúde e instrução obrigatória, em razão da falta, ação ou omissão dos pais ou responsável; as vítimas de maus-tratos; os que estavam em perigo moral por se encontrarem em ambientes ou atividades contrárias aos bons costumes; o autor de infração penal e ainda todos os menores que apresentassem “desvio de conduta, em virtude de grave inadaptação familiar ou comunitária”.

O Princípio da Situação Irregular tratava de maneira restrita aquelas crianças e adolescentes que estavam em situação de delinquência ou carência, fora dos padrões de família estabelecidos, não abrangendo, portanto, todas as crianças e adolescentes. Maciel (2010, p. 13) ainda traz que

Não era uma doutrina garantista, até porque não enunciava direitos, mas apenas pré-definia situações e determinava uma atuação de resultados. Agia-se apenas na conseqüência e não na causa do problema, “apagando-se incêndios”. Era um Direito do Menor, ou “apagando-seja, que agia sobre ele, como objeto de proteção e não como sujeito de direitos. Daí a grande dificuldade de, por exemplo, exigir do poder público construção de escolas, atendimento pré-natal, transporte escolar, direitos fundamentais que, por

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não encontrarem previsão no código menorista, não eram, em princípio, passíveis de tutela jurídica.

O princípio da Proteção Integral no Direito da Criança e do Adolescente no ordenamento jurídico brasileiro teve a sua inclusão, em um primeiro momento, no artigo 227 da Constituição Federal de 1988, trazendo um rol exemplificativo dos direitos e garantias fundamentais das crianças e dos adolescentes, texto este repetido no artigo 4º da Lei nº 8.069/1990, Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA).

Para esse Princípio, a criança e o adolescente deixam de ser objeto do Estado e passam a ser sujeitos de direitos, com aplicação de todos os direitos fundamentais garantidos na Constituição Federal de 1988 e no ECA. Ademais, traz proteção especial e prioritária para crianças e adolescentes, impondo o dever de proteção à família, ao estado e à sociedade, passando a ser um dever social (PES, 2010, p. 59).

O objetivo desse princípio é a aplicação dos direitos e garantias fundamentais a crianças e adolescentes em decorrência da condição pessoal de desenvolvimento físico e mental, bem como que seja aplicada a todos. No Princípio da Proteção Integral estão presentes os princípios da prioridade absoluta, do melhor interesse e da municipalização.

O princípio da prioridade absoluta trata que em todas as esferas (família, sociedade e Estado) o objetivo deve ser priorizar a proteção integral das crianças e dos adolescentes. Maciel (2010) ensina que não importa em qual esfera (judicial, extrajudicial, administrativa, social ou familiar) o interesse das crianças e dos adolescentes deve sempre ser considerado em primeiro lugar. Para melhor análise, a autora cita o seguinte exemplo, sobre o princípio da prioridade absoluta no âmbito administrativo do Poder Executivo (MACIEL, 2010, p. 21):

O mesmo há que se falar do Poder Executivo, palco das maiores violações ao princípio da prioridade absoluta. É comum vermos a inauguração de prédios públicos com os fins mais variados, sem que o Estado cuide, por exemplo, da formação de sua rede de atendimento. Outro fato comum é a demora na liberação de verbas para programas sociais, muitos da área da infância e juventude, enquanto verbas sem primazia constitucional são liberadas dentro do prazo. É o que se pode chamar de “corrupção de prioridades”.

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O princípio do melhor interesse é o norte a ser seguido por todos no sentido de sempre escolher o melhor interesse da criança e do adolescente nas circunstâncias, por exemplo, jurídica e legislativa.

O princípio da municipalização dispõe que o município, por ser o ente mais próximo da criança e do adolescente, é o responsável em buscar a eficácia na prática do princípio da proteção integral.

O artigo 88 do Estatuto da Criança e do Adolescente elenca as diretrizes da política de atendimento, como, por exemplo, a municipalização, o Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente (que é a participação da sociedade civil). Ademais, os municípios organizam o Conselho Tutelar, também responsável pela proteção daqueles.

Em resumo, no campo formal a doutrina da proteção integral está perfeitamente delineada. O desafio é torná-la real, efetiva, palpável. A tarefa não é simples. Exige conhecimento aprofundado da nova ordem, sem esquecermos as lições e experiências do passado. Além disso, e principalmente, exige um comprometimento de todos os agentes – Judiciário, Ministério Público, Executivo, técnicos, sociedade civil, família – em querer mudar e adequar o cotidiano infanto-juvenil a um sistema garantista (MACIEL, 2010, p. 15).

Assim, o princípio da Proteção Integral, bem como todos os princípios que a integram são necessários para a garantia da proteção dos direitos da criança e do adolescente, sujeitos de direitos em condição de desenvolvimento, necessitando de cuidado especial do Estado, da sociedade e da família.

2.3 O CASAMENTO INFANTIL, OS DIREITOS HUMANOS E O PRINCÍPIO DA PROTEÇÃO INTEGRAL

Conforme já tratado anteriormente, tanto o ordenamento jurídico internacional quanto o brasileiro tratam da proteção especial que as crianças e os adolescentes possuem, devendo ser garantido a estes, todos os direitos humanos/fundamentais.

Essa proteção especial se dá em razão da condição de pessoa em fase de desenvolvimento (físico, mental), que ainda não possuem capacidade civil plena (conforme os artigos 3º e 4º do Código Civil Brasileiro). Pes (2010, p. 61) argumenta nesse sentido:

Referências

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