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A HISTÓRIA DA IGREJA PRIMITIVA E ANTIGA Karl Josef Romer 2014

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A HISTÓRIA DA IGREJA PRIMITIVA E ANTIGA

Karl Josef Romer – 2014

Tema 5: Perseguições e Martírios

5. Perseguições e Martírios

Já na Bíblia encontramos os primeiros mártires cristãos. A grandiosa figura de Estevão, iluminado em seu discurso e divinamente conduzido ao martírio, morre pela fé em Jesus Cristo, não somente sem medo, mas em uma absoluta certeza de ir ao encontro do divino Mestre (At 7 ,55-60). E Tiago (o Maior, irmão de João), pela Páscoa de 44, morreu, como primeiro dos apóstolos, o martírio sob Herodes Agripa.

A possibilidade e/ou proximidade do martírio parece ser, em muitíssimas situações, o clima característico do apostolado e da pregação do Evangelho. – Paulo está preso no momento em que escreve a carta aos Filipenses. Anima-o a vontade de continuar a levar o Evangelho ao fim do mundo; mas ocupa-o a certeza da proximidade da provável morte: “O meu desejo é partir e ir estar com Cristo, pois isso me é muitíssimo melhor [«muito mais melhor» /pollw/| Îga.rÐ ma/llon krei/sson]” (Fil 1,23). E destarte, Paulo, cristão radical, orienta toda a sua vida para a entrega: “O que para mim era lucro, eu o tive como perda, por amor de Cristo. Mais ainda: tudo eu considero perda, pela excelência do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor. Por ele, eu perdi tudo e tudo tenho como esterco, para ganhar a Cristo e ser achado nele..., para conhecê-lo, conhecer o poder da sua ressurreição e a participação nos seus sofrimentos, conformando-me com ele na sua morte, para ver se alcanço a ressurreição de entre os mortos” (Fil 3,7-11).

Os próprios apóstolos Pedro e Paulo morrem um martírio cruel e glorioso. As perseguições ordenadas pelos Imperadores romanos eram a mais grave prova para a Igreja, mas também a glória do cristianismo nascente.

O Imperador Cláudio (41-54) mandou expulsar de Roma os “judeus”, que estavam causando perpétuos tumultos, provocados por “um tal Cresto”1

. É bem

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possível que a pregação sobre Jesus Cristo provocou na comunidade judia em Roma revoltas e tumultos.

Horrenda foi a perseguição provocada por Nero, após o incêndio de Roma no ano 64. Tácito2, em seus Annales, informa de modo explícito: “Com surpreendente tenacidade mantinham-se no povo romano a suspeita e os rumores de Nero ter provocado e mandado o imenso incêndio”, que no dia 16 de julho de 63 destruiu totalmente vários bairros e outros em parte, da cidade de Roma.” Tácito narra detalhadamente que Nero tentou desviar a suspeita sobre os cristãos. Fez prisões, forçou o surgimento de denúncias falsas. Em seguida, uma ingente multidão (ingens multitudo) foi presa. Jedin cita: “Foram executados como era costume executar incendiários: uns foram colocados em peles (costuradas) de animais e jogados aos cães, outros cobertos com material facilmente inflamável e, durante a noite, serviam de tochas vivas nos jardins de luxo de Nero.” Tácito, embora achando os cristãos culpados de outras coisas ou desordens, achava-os totalmente inocentes quanto ao incêndio. O Papa Clemente (após Linus e Anacletus, terceiro sucessor de Pedro) (92-101), em sua carta aos Coríntios, narra que por Nero foi escolhido grande número de cristãos, também mulheres, e foram submetidos aos mais cruéis tormentos3.

Discute-se se de fato Nero (54-68) chegou a proscrever o nome cristão, aplicando a todos os cristãos a “damnatio memoriae”4. Os argumentos de Tertuliano são pesados.

A segunda grande perseguição deve ter acontecido no tempo de

Domiciano (Domitianus) (81-96), sucessor de Titus (79-81), ambos filhos de Vespasiano (68/69-79). As tensões de Domiciano com o senado, os impostos

gravíssimos sobre os judeus e iniciativas de auto-glorificação (já durante sua vida ele se deixou venerar como “dominus et deus”) levaram ao massacre inúmeros cristãos no dia 18 09 96. O Papa Clemente Romano, em sua carta aos Coríntios (1,1), pede desculpa por não ter tido possibilidade de escrever antes, por causa de perigos e tribulações que tinham caído sobre a Igreja de Roma. De fato, foi

2 Cf. Ibd. Nota 5. 3

Clemente, Ep. ad Cor 6.

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executado também Flávio Clemente, primo do Imperador e Cônsul sob a acusação de “ateísmo” e de “desvio para costumes judaicos”; e sua mulher Flávia Domitila foi exilada. Parece que também Acílio, Cônsul do ano 91, foi morto por Domiciano, por ter confessado a fé cristã.

No tempo do grande Imperador Trajano (98-117), o governador Plínio, da província de Bitínia, dirigiu, após o ano 111, a consulta ao Imperador sobre os procedimentos com cristãos que não renunciavam à sua fé. A resposta pessoal dada pelo Imperador informa-nos detalhadamente. Plínio havia informado que em toda parte surgiam cristãos, não só nas cidades, mas também no campo, e de todas as idades. As denúncias eram às vezes anônimas. Quem, no interrogatório, mantinha sua adesão ao cristianismo, era condenado. Com a ameaça da pena de morte, se tentava primeiro obter a abnegação. Os que eram cidadãos romanos não eram executados diretamente, mas levados a Roma. Não faltavam casos de tortura. Uns acusados declaravam nunca terem pertencido a tal religião e faziam os sacrifícios pagãos. Outros diziam que, já muito tempo, tinham abandonado a religião cristã e, pronunciando blasfêmias contra o Deus cristão, sacrificavam aos deuses romanos. Outros ficavam heroicos e afirmavam a fé. Plínio pergunta ao Imperador se se deve considerar a idade, se se pode perdoar os que se arrependem, deve-se castigar sem mais nem menos o nome cristão, mesmo onde não existam outros crimes?

Tanto as perguntas de Plínio como a resposta do Imperador mostram que não existia ainda uma norma pública e geral contra os cristãos. Trajano não quer ainda formular regras universais. A Plínio ele dá conselhos práticos: Não devem ser buscados os cristãos por investigações positivas. Denúncias anônimas devem ser rechaçadas. Se um acusado negar ser cristão e confirmar a sua negação, invocando os deuses romanos, então não deve ser punido, mesmo se até então tiver sido cristão. Só quem pertinazmente continua confessando-se cristão deve

ser punido, mesmo sem outros crimes. Isto é: o simples ser cristão é crime grave diante do Estado. O mais ilustre mártir de sob Trajano foi Inácio, Bispo

de Antioquia, conduzido a Roma, após o ano 110 e jogado às feras5.

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Seu caminho para o martírio é ao mesmo tempo a mais solene profissão de fé e estímulo de ereção e edificação de Igrejas. – Sofrendo gravemente em sua lenta viagem pelo mar, visitava, sempre que possível, os Bispos das cidades onde o navio atracava. Depois mandava cartas às respectivas comunidades (ao todo foram sete). É de incomparável beleza a carta para a comunidade de Roma, de onde já lhe chegara a notícia de sua libertação. Por um veloz navio mercantil, ele envia sua carta a Roma suplicando que deixem acontecer o martírio.

(2) “Se calardes a meu respeito, serei palavra de Deus; se porém amardes minha carne, não passarei de novo a ser senão uma voz... É maravilhoso o ocaso: vir do ocaso do mundo em direção a Deus, para levantar-me junto a Ele”.

(4) “Suplico-vos, não vos transformeis em benevolência inoportuna para mim. Deixai-me ser comida para as feras, pelas quais Deixai-me é possível encontrar Deus. Sou trigo de Deus e sou moído pelos dentes das feras, para encontrar-me como pão puro de Cristo. Acariciai antes as feras, para que se tornem meu túmulo e não deixem sobrar nada de meu corpo, para que na minha morte não me torne peso para ninguém. Então de fato serei discípulo de Jesus Cristo, quando o mundo nem mais vir meu corpo. Implorai a Cristo em meu favor, para que por estes instrumentos me faça vítima de Deus. Não é como Pedro e Paulo que vos ordeno...”

(6) “Aguarda-me o meu nascimento. Perdoai-me, irmãos: não queirais impedir-me de viver, não queirais que eu morra; ao que quer ser de Deus não o presenteeis ao mundo nem o seduzais com a matéria. Permiti que receba luz pura: quando lá chegar serei homem.”

(7) “Meu amor está crucificado e não há em mim fogo para amar a matéria; pelo contrário, água viva, murmurando dentro de mim, falando-me ao interior: Vamos ao Pai! Não me agradam comida passageira, nem prazeres desta vida... Jesus Cristo,... Ele é Amor incorruptível6”

H. Jedin7 narra também a situação sob Adriano (117-136) e Antonio Pio (136-161). Neste último caso, o apologista Justino narra o martírio de três cristãos, executados pelo prefeito da cidade de Roma. Marco Aurélio (161-180), filósofo e excelente no governo sob muitos aspectos, encontrou no início graves calamidades, peste grassante, fronteiras ameaçadas por inimigos bárbaros poderosos etc. O povo foi excitado contra os cristãos, como culpados. O próprio

6

Cartas de Santo Inácio de Antioquia, Vozes 1978, Edit. Por D. Paulo Ev. Arns, Arcebispo de SP.

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Imperador via na religião cristã nada mais do que “espírito de contradição e estultícia de visionários”. “O célebre retórico Frontão, mestre do Imperador , pronunciou um discurso para atiçar a ira contra os cristãos”8. – Com tanta hostilidade, também intelectualmente formulada (cf. Frontão), nascia entre os cristãos eruditos o desejo, a necessidade, de dar respostas em alto nível. O eminente filósofo e apologista Justino escreveu uma apologia ao Imperador (talvez já a Antonio Pio); pelo ano 165, ele foi decapitado em Roma, com 6 companheiros.

O Imperador Setímio Severo (193-211) mostrou-se inicialmente benévolo com os cristãos. Mas, movido pelos freqüentes motins dos judeus, e por ver um número rapidamente crescente de cristãos em alta posição política, mudou de atitude. Proibiu formalmente a passagem para o judaísmo (201) e para o cristianismo (202). Conseqüentemente, a perseguição atingia, então, especialmente os catecúmenos e neófitos. Em Alexandria morreu Leônidas (202), pai de Orígenes (185-254), e, no anfiteatro de Cartago, as Santas Perpétua e Felicidade.

Caracala9 (211-235) favorece as religiões mistéricas do Oriente, especialmente do “Sol invictus” Mithras. Parece ter sido Caracala a inscrever no culto do Estado romano essas religiões.

Décio (249-251) era Imperador militar, pouco culto, mas muito enérgico.

“Ele queria dar ao Império, quase em ruínas pela corrupção e a invasão sufocante dos costumes orientais, maior força de resistência contra os inimigos externos e internos e recolocá-lo no esplendor de outros tempos; julgava, portanto, seu dever submeter à antiga religião nacional unitária, em primeiro lugar, os cristãos, a seu ver os inimigos mais perigosos do Estado romano . Procedeu com tal decisão e tão sistematicamente que a sua perseguição tem um peso superior a todas as precedentes e inaugurou um novo período na história das mesmas. Um edito do fim de 249 ou do início de 250 ordenava a todos os súditos oferecerem aos deuses, juntamente com mulheres e filhos, um sacrifício solene propiciatório .

8

Bihlmeyer-Tüchle I, 88.

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Contra os hesitantes, devia-se proceder recorrendo a todos os meios próprios de uma justiça cruel: cárcere, confiscação dos bens, exílio, trabalhos forçados;... a tortura e pena de morte. Os bispos eram visados de modo especial... Décio dizia tolerar mais facilmente um rival no império do que um bispo cristão em Roma”10.

Galo, Imperador (251-253): Em época de enorme pestilência em todo o

Império, se faziam sacrifícios expiatórios (holocaustos) a Apolo, para exconjurar o flagelo. Não se conhece grande número de mártires. Até certos apóstatas, arrependidos, repararam nesta ocasião a culpa do seu passado. O Papa Cornélio morreu exilado, também seu sucessor Lúcio.

Valeriano, Imperador (253-260), teve muitos cristãos no palácio

ocupando importantes funções. Após uma fase de paz, quando o Estado se encontrou em “extrema miséria”11, deixou-se convencer pelas insinuações do ministro das finanças, Macriano, da necessidade de uma atitude hostil aos cristãos (Eus. VII,10-12). Um édito de 257 obrigou os Bispos, sacerdotes e diáconos a oferecerem sacrifícios, sob pena de exílio. A visita aos cemitérios e a participação nas reuniões de culto foram proibidas sob pena de morte. Um segundo édito de 258 (Cipr. Ep. 80,1) determinou que os clérigos de grau superior fizessem uma renúncia à fé, os que se negassem fossem executados imediatamente, e que fossem mortos também leigos que não tivessem renunciado à fé. As matronas foram ameaçadas com o exílio e os funcionários imperiais com a pena de trabalhos forçados em condições de escravos. Houve fases muito cruéis de perseguição. O Papa Sixto II (257-258), surpreendido nas catacumbas de S. Calixto ao celebrar o sacrifício, foi decapitado imediatamente juntamente com quatro diáconos (6 de agosto de 258). Quatro dias depois, o seu diácono

Lourenço foi queimado vivo. Na África foram numerosos os mártires. Em

Cartago foi decapitado o grande bispo Cipriano em 14 de set. de 25812.

Diocleciano (284-305), grande estadista e enérgico organizador, fez uma

profunda reorganização do império. Deixou os cristãos inicialmente em paz. Mas transformou o Estado em uma monarquia militar absoluta, sob a graça de Júpiter.

10 Bihlmeyer-Tüchle I, 93. 11

Bihlmeyer-Tüchle I, 94.

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Nomeou, como co-regentes e sucessores no trono (293), com o apelativo de césares, o genro Galério para o Oriente e Constâncio Cloro para o Ocidente (este último tem por esposa Helena, e seu filho é Constantino o Grande ). Desde 260 reinava muita paz. O cristianismo crescia rapidamente. Muitos cristãos ocupavam postos elevadíssimos no exército e na corte imperial.

Mas o co-regente “César” Galério, grande e brutal guerreiro, deixou-se persuadir que a restauração e centralização política exigiam a eliminação dos

inimigos do culto do Estado. Iniciou-se assim a última grande perseguição, a

mais grave e mais longa de todas, “a verdadeira batalha decisiva entre cristianismo e paganismo”13

. Soldados foram colocados diante da alternativa: de sacrificar aos deuses ou de serem expulsos ignominiosamente das suas carreiras militares14.

“A perseguição entrou na fase mais aguda em 303. Em um ano foram publicados quatro editos, que constituíam um autêntico sistema de disposições tendentes a aniquilar, se possível, o cristianismo. Foram destruídas Igrejas... os eclesiásticos foram obrigados a entregar os livros sagrados... A todos os cristãos foi cominada a perda dos direitos civis, aos dignitários a degradação, aos dependentes imperiais a privação da liberdade15”.

Houve muitos mártires, entre os quais o bispo Antimo, numerosos membros do clero e funcionários da corte. – Um quarto decreto, da primavera de 304, obrigou todos os cristãos a sacrificar aos deuses. A despeito de tortura, muitos ficavam fieis. A estes foi infligida a pena de morte, muitas vezes em formas requintadas. Somente na prefeitura da Gália (França, Espanha e Britânia) não houve tal perseguição, porque o “César” Constâncio ateve-se ao primeiro edito.

Na Gália, Constantino foi proclamado “augusto” pelo exército, após a morte de seu pai.

13 Ibd. p. 96. 14

Ibd.

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