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Santa Cruz de La Sierra coração da América do Sul?

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Academic year: 2021

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Santa Cruz de La Sierra – coração da América do Sul?

Emanoelle Martins Guedes de Farias

emanoelle@ufrj.br

Universidade Federal do Rio de Janeiro

INTRODUÇÃO

O presente trabalho constitui-se no resultado de mais de 3 anos de atividades de pesquisa de iniciação científica sob a orientação do professor Dr. Cláudio Egler no LAGET (Laboratório de Gestão do Território) do Departamento de Geografia da UFRJ sobre geografia da América do Sul e esta pesquisa, particularmente, no trabalho de conclusão de curso da presente autora. Este trabalho está inserido no projeto de pesquisa Rede Urbana na América do Sul, apoiado pelo CNPq.

Esta pesquisa pretende fazer uma análise da rede urbana boliviana, com especial atenção à cidade de Santa Cruz de la Sierra, localizada no departamento de Santa Cruz, oriente boliviano. A escolha da cidade se dá pela sua crescente importância econômica em escala nacional, o que a faz exercer cada vez maior centralidade no país. Além de sua importância no contexto nacional, a cidade assume papel estratégico em escala regional devido à sua localização central no continente sulamericano, o que lhe confere um peculiar potencial logístico. O fato de estar situada em um departamento de fronteira com o Brasil é sinal também da existência de uma relação que suplanta as barreiras nacionais, resultado de uma rede que ultrapassa as fronteiras do Estado.

OBJETIVOS

O estudo da rede urbana é de particular importância aos estudos geográficos. A partir de sua análise pode-se compreender como se estruturam os territórios e verificar

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quais são os agentes responsáveis por sua organização. Além disso, o conhecimento da rede de cidades é muito importante para questões de planejamento tanto do estado, quanto de empresas ou mesmo da população que, frequentemente necessita se deslocar. Estes atores, ao mesmo tempo em que dependem destas redes, são os responsáveis por fazê-las existir e constituem, desta forma, uma dinâmica espacial. Da mesma forma, o estudo da rede urbana possibilita também a compreensão da dinâmica regional de um país ou de um continente, o que torna esta pesquisa particularmente importante dentro da linha de pesquisa a que pertence.

Pretende-se, portanto, analisar a configuração de cidades no país de estudo para uma sistematização de sua rede urbana sob uma perspectiva de análise geoeconômica, centralizando os estudos na cidade de Santa Cruz de La Sierra. Parte-se da hipótese de que a cidade em questão exerce centralidade na rede urbana do país como um importante centro de gestão do território nacional e, mais do que isso, por sua importância logística no continente sulamericano – o que lhe confere um papel chave se pensarmos na integração do continente.

METODOLOGIAS

Para tal, inicialmente se fez um levantamento das principais cidades do país através do site do Instituto Nacional de Estadística. O critério de escolha foi o demográfico, tendo sido consideradas as cidades com população urbana superior a 20.000 habitantes, conforme exposto abaixo:

- La Paz: La Paz, El Alto, Viacha - Tarija: Tarija, Bermejo, Yacuiba

- Cochabamba: Cochabamba, Quillacollo, Tiquipava, Cocapirhua, Sacaba - Santa Cruz: Santa Cruz de La Sierra, La Guardia, Warnes, Camiri, Montero - Oruro: Oruro

- Potosí: Potosí, Llallagua, Tupiza, Villazón - Beni: Trinidad, Riberalta, Guayaramerín - Pando: Cobija

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A partir de então, procurou-se identificar qual a relação existente, ou o quanto estas cidades estão efetivamente conectadas, através das redes logísticas existentes (rodoviárias, ferroviárias, hidroviárias), bem como dos fluxos que se dão através delas (pessoas, mercadorias, informação).

Para apoiar a pesquisa, realizou-se um trabalho de campo entre os dias 2 e 7 de maio de 2010 na cidade de Santa Cruz de La Sierra principalmente com recursos do CNPq. A viagem possibilitou a busca de informações e materiais que não são possíveis de ser obtidas aqui, principalmente sobre o setor de serviços das cidades, tais como o setor de telecomunicações, financeiro, transportes, dentre outros.

Além disso, buscou-se o apoio de bibliografia especializada, tanto sobre redes, quanto sobre o país de estudo.

RESULTADOS PRELIMINARES

Através do levantamento de campo, pudemos identificar características da rede urbana crucenha através de alguns dados. São estes: a rede rodoviária, os fluxos rodoviários de passageiros e o fluxo de mercadorias para o exterior.

A rede rodoviária

A rede rodoviária boliviana possui 3 níveis de organização, a red fundamental (federal), a red prefectural (departamental) e os caminos vecinales (municipal). Ao observar o mapa da red fundamental, podemos perceber que o maior adensamento de rodovias, não se encontra na região do oriente boliviano, mas no altiplano andino e na região dos vales centrais. Este fenômeno talvez reflita o fato de ser muito mais recente a ocupação efetiva do oriente boliviano em relação às outras regiões. Esta hipótese pode ser ratificada pelo fato de a rodovia que liga a cidade de Santa Cruz de la Sierra à Quijarro e Puerto Suarez estar sofrendo pavimentação atualmente, restando pouco para sua conclusão.

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Esta rodovia adquire grande importância econômica pois liga a cidade de Santa Cruz de la Sierra à hidrovia Paraguai-Paraná. Esta iniciativa está inserida no projeto de criação do corredor bioceâncio, ligando o Pacífico ao Atlântico.

Mapa 1 – Rede Rodoviária Fundamental

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Mapa 2 – Os 3 níveis da rede viária no departamento de Santa Cruz de la Sierra

Fonte: Servicio Prefectural de Caminos – Governo Departamental de Santa Cruz de la Sierra

Conexões nacionais por transporte rodoviário

Em levantamento de campo, observamos as 45 empresas que faziam o transporte terrestre para as cidades selecionadas para que através da intensidade destes fluxos pudéssemos identificar a hinterlândia de Santa Cruz de la Sierra com base no transporte de pessoas. Pudemos verificar que nem todas as cidades são conectadas pelo setor de transportes coletivos à Santa Cruz, somente Cobija, Riberalta, Tupiza, Villazon, Guayaramerín, Tarija, Oruro, Camiri, Potosi, Sucre, Trinidad, La Paz, Yacuiba e Cochabamba. Dentre estas a hierarquia dos fluxos é a expressa no gráfico a seguir.

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Gráfico 1 – Hierarquia baseada na intensidade de fluxos rodoviários a partir de Santa Cruz de la Sierra

Fonte: Elaboração própria com base em levantamentos de campo

Esta análise foi feita com base no número de empresas que realizam o trajeto entre as cidades. Podemos afirmar através deste dado que muitas das cidades selecionadas para esta pesquisa não fazem parte da hinterlândia de Santa Cruz de la Sierra. Neste ponto, privilegiamos, naturalmente, circulação de pessoas através de transporte coletivo rodoviário. O que não impede que haja outros tipos de interação entre as cidades não conectadas a Santa Cruz por transporte coletivo rodoviário.

Conexões internacionais por transporte rodoviário

A cidade de Santa Cruz de la Sierra também possui um considerável número de empresas que realizam o transporte internacional de passageiros. Os destinos possíveis de serem acessados a partir de lá estão expostos na tabela 1, a seguir:

0 5 10 15 20 25 30 Cochabamba Yacuiba La Paz Trinidad Sucre Potosi Camiri Oruro Tarija Guayaramerín Villazon Tupiza Riberalta Cobija

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Tabela 1

Destinos rodoviários internacionais a partir de Santa Cruz de la Sierra

Argentina Chile Brasil Paraguai Peru Uruguai

Buenos Aires Santiago del Chile São Paulo Ciudad del Este Lima Montevidéu

Retiro Arica Rio de Janeiro Asunción

Liniers Iquiqui Foz do Iguaçu

La Noria Pisiga

Escobar Colchane

Mendoza

Cordoba

Santiago del Estero

Resistencia

Salta

Jujuy

Sam Justo

La Plata

Fonte: elaboração própria com base em levantamento de campo.

Os fluxos rodoviários internacionais de pessoas indicam uma maior proximidade relacional com a Argentina, diferente do que veremos a seguir.

Fluxos de mercadorias para o exterior

Para este levantamento, estivemos limitados pela ausência de dados municipais, visto que a aduana boliviana só produz os dados por departamento. Entretanto, sendo a cidade de Santa Cruz de la Sierra a capital do departamento e um importante centro de gestão do território, cremos que a cidade encontra-se intrinsecamente presente nas atividades econômicas de todo departamento.

Em 2010, até o mês de maio, dos mais de 100 países para o qual o departamento de Santa Cruz exporta seus produtos, 78% do volume de exportação destinou-se ao Brasil. Este fato indica uma orientação econômica natural do departamento para o país vizinho, diferente do que ocorre em todos os outros departamentos, como pode se verificar na tabela 2, a seguir.

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Tabela 2

Fonte: CADEX – Camara de exportadores de Santa Cruz, 2010.

Notamos, a partir do anteriormente exposto, tanto no que diz respeito ao fluxo de pessoas, como de mercadorias e capitais que, definitivamente a rede urbana não se submete a fronteiras, sejam elas intra ou internacionais. Esta, entretanto, se dá devido à atuação de diversos agentes sociais, econômicos, institucionais/legais e geográficos. Neste processo, um agente exerce influência sobre outro e vai constituindo uma dinâmica espacial que se dá de forma cada vez mais dinâmica e ressalta a importância de se fazer leituras e releituras freqüentes do espaço geográfico.

Esta pesquisa não se encerra aqui, mas pretende avançar com análises também do sistema aeroviário nacional boliviano e contextualizá-lo no continente sulamericano.

BIBLIOGRAFIA

ARROYO, Mónica. A vulnerabilidade dos territórios nacionais latino-americanos: o papel das finanças. In: LEMOS, Amalia Inés Geraiges, SILVEIRA, María Laura & ARROYO, Mônica (org.). Questões territoriais na América Latina. Buenos Aires, Ed. Clacso, 2006.

CAMARGO, Alfredo José Cavalcanti de. Bolívia: a criação de um novo país a ascensão do poder político autóctone das civilizações pré - colombianas a Evo Morales. Brasília: Fundação Alexandre de Gusmão, 2006.

CASTRO, Iná Elias de. & GOMES, Paulo César da Costa. & CORRÊA, Roberto Lobato (org.). Geografia: conceitos e temas. 8. ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2006.

CORREA, Roberto Lobato. Estudos sobre a rede urbana. Rio de Janeiro,. Bertrand, 2006.

CORRÊA, Roberto Lobato. A rede urbana. São Paulo: Ática, 1994.

Volume de exportação para o Brasil por departamento em 2010 (até maio)

Beni Chuquisaca Cochabamba La Paz Oruro Pando Potosi Santa Cruz Tarija

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MANZANO, Nelson T. Estructura económica y competitividad metropolitana em Bolivia. Cochabamba, Bolivia: Kipus, 2010.

MAZUREK, Hubert. Desarrollo, território y ordenamiento: replantear La relación local-global. Disponível em: < http://www.pieb.com.bo/blogs/mazurek/articulo3.php> Acesso em maio de 2010.

MISEROR. Desarrollo urbano sostenible em Bolivia. Disponível em: < http://www.misereor.org/fileadmin/user_upload/misereor_org/spanisch/Desarollo-urbano.pdf> Acesso em: abril de 2010.

SPOSITO, Eliseu Savério. Redes e cidades. São Paulo: Editor UNESP, 2008.

Sites de Apoio

- Periodico de investigación sobre Bolivia: http://www.pieb.com.bo/

- Instituto Nacional de Estadística: http://www.pieb.com.bo/

Referências

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